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ENSAIO

Saúde do trabalhador: considerações a partir da


crítica da economia política

Ricardo Lara
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Saúde do trabalhador: considerações a partir da crítica da economia política


Resumo: O presente artigo tem por objetivo abordar a saúde do trabalhador, buscando fundamentação na crítica da economia política.
Procura compreender as causas dos adoecimentos e acidentes dos trabalhadores, como também destacar elementos para pensar as lutas
da classe trabalhadora, no âmbito da saúde, principalmente no que se refere às políticas públicas e à prática sindical. Infere que os
trabalhadores, nas contemporâneas relações de trabalho, adoecem e acidentam-se devido aos ritmos intensificados da produção, seja nas
atividades desenvolvidas no chão da fábrica ou na gerência científica do trabalho.
Palavras-chave: Saúde do trabalhador. Política pública. Crítica da economia política.

Worker’s Health: Considerations Based on a Criticism of Political Economy


Abstract: The purpose of this article is to analyze worker health, based on a criticism of political economy. It seeks to understand the
causes of illnesses and accidents among workers, and to highlight elements to consider the struggles of the working class in the realm of
health, principally concerning public policies and union practices. It infers that under contemporary labor relations, workers get ill and
have accidents due to the intensified pace of production, whether in activities on the factory floor or in scientific management of labor.
Key words: Labor health. Public policy. Critique of political economy.

Recebido em 30.09.2010. Aprovado em 04.01.2011.

R. Katál., Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 78-85, jan./jun. 2011


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Introdução lizações produtivas decorreram de novos patama-


res de centralização e concentração do capital, por
A máquina, que produz em grande escala, meio de fusões, aquisições e diversificações corpo-
tem provocado a escassez. rativas, que implicaram – e ainda implicam – em
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos. demissões em massa). Além disso, são importantes
Nossa inteligência, empedernidos e cruéis. componentes do complexo de reestruturação pro-
Pensamos em demasia e dutiva, dos vários tipos de descentralização, tais
sentimos bem pouco. como a terceirização ou as relocalizações industri-
Mais do que máquinas, ais, que implicam o fechamento de fábricas num
precisamos de humanidade. local e abertura em outro, ou, ainda, a instauração
Charles Chaplin de legislações trabalhistas de cariz flexível, que cri-
am nova regulação institucional do trabalho assala-
A saúde do trabalhador ganha relevância e ur- riado, adaptando-o às necessidades imperiosas do
gência no âmbito das políticas sociais, os sindicatos, capital em fase de mundialização (ALVES, 2000).
empresários, gestores e trabalhadores enfatizam em Esse conjunto de inovações tecnológicas e organi-
suas agendas o importante debate sobre as condi- zacionais ocasionou as diversas desregulamentações
ções de adoecimentos e de doenças do trabalho. das relações de trabalho e atingiu, por consequência,
O trabalho, no modo de produção capitalista, é a saúde do trabalhador.
determinado pelo processo de produção, no qual aci- As inovações tecnológicas trouxeram consigo a
dentar e adoecer são resul- intensificação do trabalho. A
tantes de relações sociais em Lesão por Esforço Repetitivo
que o trabalhador torna-se As mudanças na esfera (LER), na atualidade, é uma
apêndice da máquina. O tra- das principais doenças do tra-
balho que deveria gerar pra- produtiva intensificaram a balho, nos vários ramos pro-
zer, felicidade, na ordem do exploração da força de dutivos, passando dos tradi-
capital, causa fadiga, doen- cionais, como vestuário e cal-
ças, acidentes, sofrimentos trabalho e o desgaste da saúde çados, aos modernos, como
físicos e mentais. Muitos aci- informática. A utilização de
dentes de trabalho, quando do trabalhador. Poucos máquinas e a robotização, em
não matam, podem deixar alguns casos, aliviaram a car-
mutilações e dependências. esforços foram feitos no ga física do trabalho, mas o
A inquietação e a defesa processo de automação pas-
da saúde do trabalhador de- sentido de minimizar as sou a exigir maior destreza
vem ser encaradas como luta das mãos. Agora, o esforço
da classe trabalhadora, que condições de sofrimento no físico demandado é de outra
busca avançar nas conquistas trabalho; em contrapartida, natureza. É um esforço leve
de melhorias nas políticas pú- e, por isso, capaz de ser re-
blicas, voltadas para atender muito se pensou no avanço da petido em alta velocidade pe-
a saúde do trabalhador, como las mãos e pelos dedos por
condição emergencial. Nos produtividade do capital. várias vezes, e cobra, ao mes-
mais diversos espaços produ- mo tempo, uma postura está-
tivos, notamos que a saúde do tica e a sobrecarga dos seg-
trabalhador padece de todos os castigos impostos à mentos do corpo (SANTOS, 2005).
força de trabalho – reduzida não só à condição de As mudanças na esfera produtiva intensificaram
mercadoria, mas de principal mercadoria do modo de a exploração da força de trabalho e o desgaste da
produção capitalista –, pois é da extração do saúde do trabalhador. Poucos esforços foram feitos
sobretrabalho intensivo, da mais-valia, que as condi- no sentido de minimizar as condições de sofrimento
ções são propícias para acumulação de capital. no trabalho; em contrapartida, muito se pensou no
A produção capitalista, nos últimos 40 anos, in- avanço da produtividade do capital. No âmbito das
tensificou mudanças no espaço produtivo. O pro- políticas sociais, o Estado, pautado no ideário
cesso de reestruturação produtiva trouxe inovações neoliberal, abandonou os mecanismos de seguridade
como a robótica e a automação microeletrônica apli- social: muitos trabalhadores adoecidos e acidentados
cadas à produção; as novas modalidades de gestão encontram dificuldades para serem atendidos pela
de produção, tais como os Círculos de Controle de política pública, ou mesmo para ter o simples reco-
Qualidade e Programas de Qualidade Total; a série nhecimento de suas condições de adoecimento como
de racionalização da produção, tais como os doença ocupacional. Em muitos casos, a situação de
downsizing e a reengenharia (muitas das raciona- acidentado ou adoecido pode levar ao desemprego.

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A competitividade entre os próprios trabalhado- Diante dessa observação, notamos que o modo
res por um posto de trabalho gera angústia e ansie- de produção capitalista tem uma lógica própria. Com
dade, o que faz aumentar as tensões psicológicas e os progressos dos meios de produção – no caso os
pode acarretar distúrbios mentais e lesões. No setor “instrumentos de trabalho”, que se convertem em
de serviços, por exemplo, ganham destaque as doen- “trabalho morto” –, há uma possível “vitória” da
ças do trabalho que exigem alta capacidade cognitiva. máquina sobre a força de trabalho. “Triunfo” que, se
O trabalho resume-se em números, cálculos, sinais fosse adequado pela “lógica do trabalho”, facilitaria
luminosos, mostradores, teclados e monitores em que a vida do trabalhador, pois ele teria mais “tempo li-
o erro do trabalhador implica repercussões com res- vre”, já que a máquina realiza o trabalho de vários
ponsabilidades excessivas. Somam-se a esses fato- homens. Pela “lógica do trabalho”, o “instrumental
res o trabalho sentado, repetitivo, monótono e uma de trabalho” (máquina) pode oferecer ao trabalha-
vida sedentária fora do trabalho (SANTOS, 2005). dor uma vida repleta de liberdade, bem distante do
As novas tendências do mundo do trabalho com- “trabalho alienado” que degenera, adoece e acidenta.
provam a velha afirmação de que o instrumental de Na lógica do capital, o “instrumental” utiliza-se
trabalho utiliza-se do trabalhador e não o trabalhador do trabalhador, tornando-o supérfluo e/ou apêndice
do instrumental. Na atualidade, as mudanças no es- da produção. O trabalhador deve adequar-se à pro-
paço produtivo ao mesmo tempo em que realizam dução, o maquinário determina as condições e ritmos
inovações tecnológicas e organizacionais agravam a do processo produtivo. O aperfeiçoamento das má-
saúde do trabalhador. Há um conjunto de inseguran- quinas e instrumentos de trabalho não objetiva redu-
ças nas relações de trabalho que provocam mal-es- zir o esforço do trabalhador, a principal finalidade é
tar físico e mental à classe trabalhadora. aprimorar o processo de trabalho para produzir mais
É por causa deste contexto do mundo do trabalho em menos tempo e, por conseguinte, ter o menor gasto
que as organizações de luta da classe trabalhadora possível com a força de trabalho.
devem ficar atentas e vigilantes com a saúde e os Seria equivocado pensar que, com o desenvolvi-
processos causadores de doenças nos mais diversos mento da máquina, a força de trabalho seria, neces-
ambientes de trabalho. sariamente, eliminada da produção. Há diminuição
do número de trabalhadores diretamente emprega-
dos na produção, mas o desemprego não é simples-
1 Os fundamentos da crítica do sofrimento do mente resultado do desenvolvimento das forças pro-
trabalhador dutivas. A substituição de trabalhadores por máqui-
nas é resultado das relações sociais de produção, de
O trabalho como criador de “valor-de-uso é indis- uma condição de produção “especificamente capita-
pensável à existência da sociedade humana” (MARX, lista”, da “subsunção real” do trabalho ao capital.
2002, p. 60). O homem em “quaisquer que sejam as Para Marx (1985, p. 105),
formas de sociedade” recorrerá ao trabalho, ativida-
de mediadora entre ele e natureza, para suprir sua Na subsunção real ao capital [...] desenvolvem-se
sobrevivência. O ser humano transforma a natureza as forças produtivas sociais do trabalho e, graças
pelo trabalho. Ao modificar a natureza, coloca em ao trabalho em grande escala, chega-se à aplicação
movimento as capacidades do seu próprio corpo que, da ciência e da maquinaria à produção imediata.
ao atuar no processo de trabalho no modo de produ- Por um lado, o modo de produção capitalista, que
ção capitalista, encontram “instrumentos de traba- agora se estrutura como um modo de produção sui
lho” altamente desenvolvidos. generis, origina uma forma modificada de produ-
Facilitar ou diminuir o esforço do trabalhador no ção material. Por outro lado, essa modificação da
processo de trabalho deveria ser o principal objetivo forma material constitui a base para o desenvolvi-
do desenvolvimento dos “instrumentos de trabalho”, mento da relação capitalista, cuja forma adequada
mas, no modo de produção capitalista, inverte-se a corresponde, por consequência, a determinado grau
lógica, o trabalhador torna-se apêndice da máquina, de desenvolvimento alcançado pelas forças pro-
pois é ele que deve se ajustar ao aparato produtivo. dutivas do trabalho.
Segundo Marx (2002, p. 748):
Apenas quando as formas de trabalho enfrentam
Graças ao progresso da produtividade do trabalho o trabalhador como coisa e dele não mais dependem
social, quantidade sempre crescente de meios de é que o capital subsume realmente o trabalho. O
produção pode ser mobilizada com um dispêndio “modo de produção especificamente capitalista” é
progressivamente menor de força humana. Este aquele no qual o trabalho é subsumido realmente, atra-
enunciado é uma lei na sociedade capitalista, onde vés de um desenvolvimento do próprio trabalho soci-
o instrumental de trabalho emprega o trabalhador, al em conjunto com a aplicação da ciência, tornando
e não este o instrumental [...]. os trabalhadores supérfluos, estranhos à relação de

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produção, que agora independe deles quanto mais se está muito longe de representar aquele momento de
autonomiza através do desenvolvimento da maqui- realização humana, de produção de respostas às suas
naria. Isso ocorre quando a “aplicação tecnológica carências autênticas. O trabalho transforma-se numa
da ciência transforma forças naturais em maquina- atividade prática negativa, alienada, isto é, numa forma
ria, a qual substitui o trabalhador e o subjuga, tornan- particular de atividade que degenera o homem. Na so-
do-o supérfluo” (TRISTÃO, 2008, p. 8-9). ciedade do trabalho produtivo, o capital é o maior re-
A produção capitalista é produção e reprodução gente, reduzindo-o a mero produtor de valor-de-troca, o
social. As relações sociais estabelecem-se sobre o “trabalho abstrato”. Nessa particular relação social, sur-
antagonismo de classes e de sua principal estrutura, gem inúmeras formas de desumanização, destacando-
a “propriedade privada dos meios fundamentais de se: a divisão social do trabalho, o domínio dos instru-
produção”, que sempre são aprimorados com a apli- mentos de trabalho sobre a força de trabalho2, o que
cação da ciência. O trabalho assalariado e o capital ocasiona o adoecimento, o sofrimento no trabalho.
pressupõem existências sociais conflitantes que se No processo de produção e reprodução da vida
condicionam e reproduzem em todos os aspectos da social, orientado pelo trabalho criador de valores-de-
vida social. Disso resulta que: troca, que é impulsionado pela produção industrial,
os indivíduos realizam suas atividades práticas nas
Quanto maiores a riqueza social, o capital em fun- organizações industriais, ambientes de total “estra-
ção, a dimensão e energia de seu crescimento e, nhamento” entre trabalhador e produto de seu traba-
consequentemente, a magnitude absoluta do pro- lho. Com o advento do trabalho abstrato, assegurado
letariado e da força produtiva do seu trabalho, tan- com a “grande indústria e a maquinaria”, o trabalho
to maior o exército industrial de reserva [...]. Esta é não é concebido como atividade prática criativa, na
a lei geral, absoluta, da acumulação capitalista qual o homem exterioriza a sua capacidade inventi-
[...] (MARX, 2002, p. 748). va, o homem não se reconhece como criador do ob-
jeto. O intercâmbio com a natureza é realizado nas
Quanto maior for o “capital constante”, que mais organizações industriais sob a forma de “trabalho
facilmente proporciona a produção da riqueza mate- assalariado do capital”, produtor de mercadoria e
rial, menor se torna o “capital variável”, ou seja, quan- gerador de riqueza para os proprietários dos meios
to mais desenvolvidos estiverem os “meios de produ- de produção, seguido de miséria para a força de tra-
ção”, menos espaço terá à força de trabalho empre- balho. O trabalho na sociedade capitalista é causa de
gada na produção. Esse processo é desencadeado toda degeneração intelectual, de toda deformação
com a “autonomização do instrumental de trabalho”, orgânica. Os homens são embrutecidos pelo proces-
que se confronta com o trabalhador como capital – é so de produção. O trabalho alienado é, pois, neces-
o “trabalho morto” que passa a dominar a força de sariamente fonte de acidentes e adoecimentos.
trabalho viva. A separação entre as forças intelectu- Adoecer e acidentar no trabalho são fatores pre-
ais do processo de produção e o trabalho manual e, sentes na vida do trabalhador, pois o mote da acumu-
por conseguinte, a transformação delas em poderes lação capitalista é o uso da força de trabalho pela
de domínio do capital sobre o trabalho, torna-se uma máquina. Distante está o alívio do trabalhador das
realidade consumada na grande indústria protofor- atividades árduas. O tempo livre que o desenvolvi-
mada na maquinaria. mento da maquinaria e a aplicação da ciência na pro-
A crítica da economia política desvendou que o dução poderia e pode oferecer ao trabalhador está
trabalho, no modo de produção capitalista, interessa longe dos objetivos da acumulação capitalista, pelo
como trabalho produtivo, criador de valores de troca. menos até quando pairar os domínios da burguesia
O trabalhador é possuidor da força de trabalho e o sobre as forças produtivas.
capitalista é dono dos meios de produção, mas a
mercadoria especial é a força de trabalho que, ao ser
explorada, gera a mais-valia1. É possível acumular 2 A política de saúde do trabalhador
capital somente a partir do momento em que há con-
dições para explorar força de trabalho. A produção O modo de produção capitalista possibilitou as
capitalista não é simplesmente produção de merca- condições técnicas para uma vida emancipada do tra-
dorias, é essencialmente produção de mais-valia. O balho alienado, que penaliza, degrada e adoece o ho-
trabalhador produz não para si, mas para o capital. mem. Entretanto, as relações sociais da ordem do
Apenas é produtivo o trabalhador que produz mais- capital, que se nutrem na propriedade privada dos
valia para o capitalista ou serve à autovalorização do meios de produção, colocam obstáculos para os tra-
capital (MARX, 1984, p. 105). balhadores terem acesso a uma vida cheia de senti-
O trabalho produtivo, que objetiva unicamente o ex- do dentro e fora do trabalho.
cedente, encontra-se enraizado na sociedade capitalis- Analisar a saúde do trabalhador, na sociedade ca-
ta e, a partir da concretização de tal vivência, o trabalho pitalista, é uma tarefa, no mínimo, muito difícil para

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manter a coerência das análises, pois, conforme lem- revolução do trabalho. Instala-se a crise do trabalho
bramos na seção anterior, o instrumento de trabalho abstrato. Sinteticamente, podemos dizer que há uma
utiliza-se do trabalhador e não o trabalhador usufrui do crise do “trabalho abstrato”, produtor de valor-de-tro-
instrumento de trabalho. No entanto, a inquietação ca e jamais uma superação ou crise do “trabalho con-
sobre as relações de trabalho deve ser perene, pois creto”, produtor de valor-de-uso, meio necessário e
não podemos considerá-las como relações naturais e indispensável para sobrevivência do homem.
eternas da sociedade humana3. A sociabilidade capi- Perante o movimento do capital e sua forma es-
talista oculta as relações sociais de produção e as pecífica de explorar a força de trabalho para obter a
valorização e acumulação, cabe a nós desenvolver-
[...] fórmulas que pertencem, claramente, a uma for- mos algumas considerações sobre a relação trabalho
mação em que o processo de produção domina o e saúde na contemporaneidade. Hoje, apesar dos
homem, e não o homem o processo de produção, avanços significativos no campo conceitual que apon-
[assim,] são consideradas pela consciência burgue- tam um novo enfoque e novas práticas para lidar com
sa uma necessidade tão natural quanto o próprio a relação trabalho e saúde, consubstanciados sob a
trabalho produtivo (MARX, 2002, p. 102). denominação de “saúde do trabalhador”, depara-se,
no cotidiano das lutas sociais do trabalho, com as
A vida material e espiritual dos homens, no capi- hegemonias da Medicina do Trabalho e da Saúde
talismo, é condicionada à vivência reificada, nutrida Ocupacional. Tal fato coloca em questão a já
de complexos sociais fetichizantes que impõem valo- identificada distância entre os interesses antagôni-
res, costumes e formas de ser e existir que carregam cos da sociedade capitalista, sobretudo num campo
a negação da emancipação do trabalho. O trabalho potencialmente ameaçador, em que a busca de solu-
alienado é a negação da condição humana como ções quase sempre se confronta com interesses eco-
vivência emancipada. nômicos arraigados e imediatistas, que não contem-
Tomando esses pressupostos de análise, compre- plam os investimentos indispensáveis à garantia de
endemos, portanto, que a discussão sobre saúde do uma política em defesa do trabalho (MINAYO-GOMEZ;
trabalhador torna-se pertinente quando a realizamos THEDIM-COSTA, 1997, p. 23).
de forma crítica e com o objetivo de desenvolver ar- O debate sobre saúde do trabalhador, a partir de
gumentos para a classe trabalhadora projetar “mu- 1980, década em que o país passa por um processo
danças sociais”, que neguem radicalmente as condi- de redemocratização, vem se desenvolvendo com
ções vigentes de vida dentro e fora do trabalho. práticas no âmbito da Saúde Pública, com atuações
Nos últimos 40 anos, vivenciamos momentos críti- importantes dos sindicatos e avanços significativos
cos para aqueles que sobrevivem da venda da sua for- no âmbito acadêmico, o que possibilitou a denomina-
ça de trabalho. Emergiram, simultaneamente, as cri- ção de saúde do trabalhador, quando o assunto em
ses da “materialidade” e da “espiritualidade” da clas- questão é trabalho e saúde daqueles que produzem a
se trabalhadora. A primeira atingiu a “objetividade” da riqueza material.
classe trabalhadora, acarretando metamorfoses agu- Lacaz (2002, p. 1) relembra que:
das no processo de trabalho, e a segunda alcançou o
plano da “subjetividade do trabalho”. Para Antunes [...] o ‘movimento’ da Saúde do Trabalhador como
(2000, 2001) a primeira crise que atingiu a campo de práticas e conhecimentos surge com a
“materialidade do trabalho” ocorreu principalmente consolidação do operariado industrial urbano nos
com o avanço tecnológico. A revolução técnica da países da América Latina e, no caso do Brasil, avan-
segunda metade do século 20, como a automação, a ça na conjuntura de redemocratização do país, em
robótica, a microeletrônica e as novas formas de or- que o movimento social dos trabalhadores retorna
ganização da produção, como a terceirização, o que à cena política, estabelecendo uma outra relação
provocou mudanças substantivas na esfera produtiva. entre Estado e Sociedade [...]. Não é errôneo afir-
A segunda crise, como resultante da primeira, atingiu mar que a luta da sociedade civil brasileira pela
a “subjetividade da classe trabalhadora”, sua consci- redemocratização é consagrada na Constituição
ência de classe, a “consciência de constituir-se como Federal de 1988 e seus reflexos para a saúde pú-
ser que vive do trabalho”. As mudanças na base ma- blica consubstanciam-se na proposta do Sistema
terial repercutem na espiritualidade da classe traba- Único de Saúde (SUS), conforme prescreve o Tí-
lhadora que, no final do século 20 e no início do 21, tulo VII, Capítulo II, Secção II, artigos 196 a 200.
apresenta-se “complexificada, heterogeneizada e frag- Frise-se que ao SUS cabe a atuação em Saúde do
mentada”. Nesse contexto adverso, cobra-se, portan- Trabalhador, através de ações e serviços de saú-
to, maior esforço das lutas sociais do trabalho diante de públicos que busquem a promoção e proteção
da exploração do capital. A precarização do trabalho e da saúde dos que trabalham e de medidas que
os abalos nas estruturas clássicas de organização po- coloquem sob seu controle os Serviços de Medi-
lítica dos trabalhadores desafiam a possibilidade da cina do Trabalho das empresas.

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A partir dessa constatação, cabe aproximar o de- gestão, contabilidade, compras, serviços gerais),
bate sobre as alterações nas condições e relações de totalizando 14,1%. Os acidentes de trajeto são mais
trabalho que intensificaram as doenças do trabalho, frequentes com os trabalhadores dos serviços, 18,6%.
na contemporaneidade. De uma forma geral, as prin- Em relação às doenças do trabalho, os escriturários
cipais doenças do trabalho são: lesão por esforço respondem por 13,7%. De acordo com o Código In-
repetitivo (LER), os distúrbios mentais provocados ternacional de Doenças (CID), as 50 ocorrências de
pelo estresse, as lombalgias, as perdas auditivas, os maior incidência nos acidentes de trabalho foram
problemas oculares. ferimento do punho e da mão, dorsalgia e fratura ao
As “novas” gestões da força de trabalho, a nível do punho ou da mão. Nas doenças do trabalho,
desregulamentação e a precarização das relações sob as mais incidentes foram sinovite e tenossinovite, le-
a reestruturação produtiva e o neoliberalismo, estão sões no ombro e dorsalgia. Nos acidentes típicos e
limitando os trabalhadores pelo medo do desempre- nos de trajetos, a faixa etária decenal com maior in-
go. A competitividade é acirrada por um posto de cidência foi a constituída por pessoas de 20 a 29 anos
trabalho, o que interfere na constituição da “consci- com, respectivamente, 39,8% e 41,5% do total de
ência de classe” e no reconhecimento que constrói acidentes registrados. Nas doenças de trabalho, a
as subjetividades que se nutrem pela lógica do traba- faixa de maior incidência foi a de 30 a 39 anos, com
lho. Diante desse quadro, a intensificação do traba- 31,9% do total de acidentes registrados. Benefícios
lho, a polivalência e a submissão impõem-se de for- devido a acidentes e doenças do trabalho mais o pa-
ma ululante, o que origina uma situação propícia a gamento das aposentadorias especiais decorrentes
mudanças do perfil patológico dos trabalhadores. Ao das condições ambientais do trabalho somaram 11,60
mesmo tempo em que é anunciado o “fim do traba- bilhões de reais/ano. Despesas como o custo
lho”, observa-se o surgimento de patologias decor- operacional do Instituto Nacional do Seguro Social
rentes da cada vez maior sobrecarga: burnout4, as (INSS) mais as despesas na área da saúde e afins
LER, as alterações cognitivas, as tentativas de suicí- atingem, anualmente, 46,40 bilhões de reais.
dio nos locais de trabalho, os indicadores de estresse Diante da abordagem feita e dos dados obtidos,
no trabalho (LACAZ, 2002, p. 11). percebemos que a relação saúde e trabalho expres-
Os principais fatores geradores de acidentes e sa as várias causas e os vários fatores que desenca-
doenças ocupacionais estão relacionados aos salári- deiam os acidentes e as doenças, tanto no âmbito da
os e aos benefícios inadequados; maquinários e ins- produção, como também nos espaços externos que
talações impróprios, principalmente em setores da envolvem a vida do trabalhador.
produção que se utilizam dos recursos da tercei-
rização, quarteirização; descumprimento da legisla-
ção de saúde e segurança do trabalho; programas de Considerações finais
prevenção e controle de riscos desconectado da rea-
lidade das empresas; cultura do Equipamento de Pro- A saúde do trabalhador sofre todos os castigos
teção Individual (EPI) e de mudanças de comporta- impostos à força de trabalho. É nesse contexto, incô-
mento humano. A lógica conservadora que paira em modo ao trabalho, que as organizações de luta em de-
relação ao EPI, julga que os acidentes resultam, so- fesa dos direitos da classe trabalhadora devem estar
bretudo, de comportamentos “inadequados” dos aci- atentas à saúde e aos processos causadores das do-
dentados, isto é, da prática de atos inseguros pelos enças e dos acidentes de trabalho, pois as “leis ten-
trabalhadores, em especial pelo não uso do EPI. Essa dências” da lógica do capital, quando tomadas de for-
concepção advoga que o EPI proporciona uma vida ma natural e eterna, não possibilitam a crítica e a rei-
sem acidentes no trabalho. Mas, ao tratar o EPI como vindicação em defesa da saúde do trabalhador. Mas
panaceia, desconsidera os outros fatores que envol- quando há possibilidades de entender as “leis tendên-
vem a saúde do trabalhador. cias como relações históricas e transitórias”5, encon-
Segundo dados oferecidos por Freitas (2010), em tramos caminhos que podem protagonizar novas con-
2008 foram registrados cerca de 750 mil acidentes quistas para a classe trabalhadora.
de trabalho no Brasil. Comparado com 2007, o nú- Parafraseando Lacaz (2002, p.17-18), as lutas no
mero de acidentes de trabalho aumentou 13,4%. O âmbito da saúde do trabalhador, principalmente nas
maior impacto deste aumento (69,5%) deveu-se aos políticas públicas e na prática sindical, devem criar
acidentes sem Comunicação de Acidente de Traba- estratégias que ampliem o controle social sobre os
lho (CAT) registrada, oriunda da nova sistemática de serviços e as ações de saúde. E, incorporar na ativi-
concessão dos benefícios acidentários. Os subgrupos dade dos serviços, em toda a sua rede, ações de as-
da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) sistência e vigilância que partam do conhecimento
com maior número de acidentes típicos foram os tra- do território e das necessidades da população, consi-
balhadores de funções transversais (recursos huma- derando as áreas de risco e o parque produtivo, para
nos, marketing, comunicação, auditoria, controle de que a intervenção sobre os fatos geradores de agra-

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vos à saúde, oriundos dos processos de trabalho, te- como protagonista, e, no contexto atual, exigir um
nham a eficácia e a abrangência necessárias. Trata- sindicalismo que vá além do sindicalismo tradicional.
se também, de elevar a consciência sanitária tanto Pensamos o sindicalismo como um dos principais es-
da população que mora e trabalha na área de ação paços de luta social em defesa de uma sociedade
das Unidades de Saúde, como dos próprios servido- emancipada sendo, portanto, necessário perquirir im-
res públicos, numa aliança que permita elevar a cida- penitentemente um projeto social potencializador da
dania a patamares que deem autonomia aos projetos lógica do trabalho. Sem esse pressuposto não
populares de participação e maior grau de interfe- visualizamos a menor relevância em analisar a saúde
rência sobre as decisões relativas às políticas públi- do trabalhador. Quando enunciamos lutas sociais do
cas. Para tal, é mister pensar na possibilidade de trans- trabalho, remetemo-nos diretamente à desejada con-
formar propostas tímidas e conservadoras como o quista da emancipação do trabalho e, simultaneamen-
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) te, convocamos a perspectiva revolucionária que ob-
e o Programa de Saúde da Família (PSF) em espa- jetiva “transcender” a sociedade de classes sociais
ços criativos e aglutinadores das demandas de saú- antagônicas.
de, procurando, por exemplo, diante da cada vez maior Diante dos desafios colocados em relação à saú-
incidência do trabalho domiciliar, articular o momen- de do trabalhador, advertimos ser necessário pensar
to da (re)produção social (consumo mais produção), as possíveis configurações de organização política da
com o momento da produção (locais de trabalho). classe trabalhadora. Emerge como tarefa do dia for-
Tal meta poderia ser alcançada através da realiza- talecer o sindicalismo. Aquele sindicalismo que pro-
ção de censos de morbidade e cadastramentos porcione formação e clareza política aos trabalhado-
populacionais que permitam uma maior aderência da res. Um sindicalismo de corte classista, com seus
população aos Serviços de Saúde locais, na perspec- dirigentes e trabalhadores conscientes, que ofereça
tiva de implantação do Distrito Sanitário, construído condição política para promover uma classe operária
como um processo social que dê conta dos proble- instruída e não submetida à degradação material e
mas individuais e coletivos de saúde. Essa estratégia espiritual (ALVES, 2006).
deve ocorrer baseada na efetiva participação dos tra- Devemos buscar, ininterruptamente, o espaço
balhadores e no envolvimento dos setores organiza- para fortalecer o debate que objetive a organização
dos da comunidade tais como os sindicatos, as asso- de uma classe trabalhadora capaz e articulada em
ciações de moradores, as comunidades de base, as suas tarefas de construção de uma nova sociedade
organizações não governamentais. É através da par- em que a saúde do trabalhador seja plena em todas
ticipação e da organização que se poderá superar os as suas dimensões.
obstáculos que se antepõem à conquista da saúde e
à melhoria das condições de trabalho, transforman-
do-o em algo prazeroso e potencializador das capa- Referências
cidades humanas.
As reivindicações em defesa da saúde do trabalha- ALVES, G. Trabalho e sindicalismo no Brasil dos anos 2000:
dor devem ser encaradas como principal agenda das dilemas da era neoliberal. In: ANTUNES, R. Riqueza e
lutas dos trabalhadores, dos profissionais e dos gestores miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006.
das políticas sociais voltadas para a saúde. Atender à p. 461-474.
demanda saúde do trabalhador é uma condição
emergencial no processo de construção de uma socie- ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as
dade, para que, no futuro, os trabalhadores tenham saú- metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São
de para o trabalho e para a vida. Uma vida repleta de Paulo: Cortez, 2000.
sentido que transcenda as amarras da exploração do
trabalho como condição do desenvolvimento social. ______. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação
Um fator que ganha destaque em relação à saú- e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2001.
de do trabalhador, diz respeito aos cursos de forma-
ção de profissionais (em Direito, Medicina, Enfer- FREITAS, M. Política e saúde do trabalhador no contexto
magem, Serviço Social, Engenharia) que irão atuar sindical. Seminário de Saúde do Trabalhador de Franca,
nas políticas de atenção à saúde do trabalhador. Nes- IV e Seminário, V - O Trabalho em Debate. Mini-Curso.
ses cursos, deve ser privilegiada uma formação inte- Fundacentro, 2010.
lectual que reconheça a tensa relação entre capital e
trabalho, para evitar intervenções que possam julgar LACAZ, F. A. C. Saúde do trabalhador: cenários e
culpado e punir o trabalhador em sua condição de perspectivas numa conjuntura privatista. Informe União
acidentado ou adoecido. Internacional dos Trabalhadores na Alimentação,
Outra questão de suma importância, ao analisar a Montevideo-Uruguai, 2002. (digitado).
saúde do trabalhador, é colocar o movimento sindical

R. Katál., Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 78-85, jan./jun. 2011


Saúde do trabalhador: considerações a partir da crítica da economia política 85

MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Tradução de da propriedade privada, da troca, da divisão do trabalho.
José Carlos Brunni e Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Segundo Mészáros (2006, p. 78), “O que Marx combate como
Hucitec, 1999. alienação não é a mediação em geral, mas uma série de
mediações de segunda ordem (propriedade privada –
MARX, K. O capital: crítica da economia política. São intercâmbio – divisão do trabalho), uma ‘mediação da
Paulo: Abril Cultural, 1984. Livro primeiro, tomo 2. mediação’, isto é, uma mediação ‘historicamente específica’
de automediação ‘ontologicamente fundamental’ do homem
______. Capítulo VI, Inédito de O capital: resultados do com a natureza. Essa ‘mediação de segunda ordem’ só pode
processo de produção imediata. São Paulo: Moraes, 1985. nascer com base na ontologicamente necessária ‘mediação
de primeira ordem’ – como a ‘forma específica’, ‘alienada’,
______. O capital: crítica da economia política. Tradução desta última. Mas a própria ‘mediação de primeira ordem’ – a
de Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização atividade produtiva como tal – é um fator ontológico absoluto
Brasileira, 2002a. Livro I, v. 1e v. 2. da condição humana.”

MASLACH, C.; SCHAUFELI, W. B.; LEITER, M. P. Job 3 Observe a afirmação de Marx (2002, p. 199): “A natureza não
Burnout. Annual Review of Psychology, n. 52, p. 397-422, produz, de um lado, possuidores de dinheiro ou de
2001. mercadorias e, de outro, meros possuidores das próprias
forças de trabalho. Esta relação não tem sua origem na
MÉSZÁROS, I. A teoria da alienação em Marx. Tradução natureza, nem é mesmo uma relação social que fosse comum
de Isa Tavares. São Paulo: Boitempo, 2006. a todos os períodos históricos. Ela é, evidentemente, o
resultado de um desenvolvimento histórico anterior, o
MINAYO-GOMEZ, C.; THEDIM-COSTA, S. M. F. O campo produto de muitas revoluções econômicas, do
da saúde do trabalhador – percursos e dilemas. Cadernos desaparecimento de toda uma série de antigas formações da
de Saúde Publica, v. III, n. 3, p. 21-32, 1997. produção social.”

SANTOS, M. A. A reestruturação produtiva e seus impactos 4 Burnout é uma síndrome psicológica resultante de estresses
na saúde do trabalhador. Serviço Social & Sociedade, interpessoais crônicos no trabalho (MASLACH;
São Paulo, ano 26, n. 82, p. 73-85, jul. 2005. SCHAUFELI; LEITER, 2001).

TRISTÃO, E. L. Práxis humana e subsunção do trabalho 5 O mundo não é algo dado imediatamente por toda a
ao capital. In: SEMINÁRIO DO TRABALHO, VI. Trabalho, eternidade, uma coisa sempre igual a si mesma, mas o produto
economia e educação no século XXI. Anais... Marília, do estágio social, ou seja, a sociedade é “um produto histórico,
Unesp, 2008. o resultado da atividade de toda uma série de gerações, cada
uma das quais se alcança aos ombros da precedente,
desenvolvendo sua indústria e seu comércio, modificando a
Notas ordem social de acordo com as necessidades alteradas”
(MARX; ENGELS, 1999, p. 67).
1 “A produção da mais-valia absoluta se realiza com o
prolongamento da jornada de trabalho além do ponto em
que o trabalhador produz apenas um equivalente ao valor de Ricardo Lara
sua força de trabalho e com a apropriação pelo capital desse ricbrotas@ig.com.br
trabalho excedente. Ela constitui o fundamento do sistema Doutor em Serviço Social pela Universidade Estadu-
capitalista e o ponto de partida da produção da mais-valia al Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp)
relativa. Esta pressupõe que a jornada de trabalho já esteja Professor do Departamento de Serviço Social e do
em duas partes: trabalho necessário e trabalho excedente. Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da
Para prolongar o trabalho excedente, encurta-se o trabalho Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
necessário com métodos que permitem produzir-se em menos
tempo o equivalente ao salário. A produção da mais-valia
absoluta guia exclusivamente em torno da duração da jornada UFSC – Programa de Pós-Graduação em Servi-
de trabalho; a produção da mais-valia relativa revoluciona ço Social
totalmente os processos técnicos de trabalho e as Campus Universitário Reitor João David Ferreira
combinações sociais” (MARX, 2002, p. 578). Lima
Bairro Trindade
2 Mészáros (2006) formula os conceitos de “mediação de Florianópolis – Santa Catarina
primeira ordem” – atividade produtiva como tal, fator CEP: 88040-970
ontológico da condição humana e “mediação de segunda
ordem” – ou “mediação da mediação” alienada, decorrente

R. Katál., Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 78-85, jan./jun. 2011

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