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O TEMPO DO DIREITO

FRANÇOIS OST
FRANÇOIS OST
• Nasceu em 17 de fevereiro de 1957
(62 anos) em Bruxelas, Bélgica;
• Jurista e filósofo;
• Especialista dos direitos humanos e
do meio ambiente;
• Leciona na Faculdade universitária Saint Louis,
Bruxelas;
• Dirige a academia européia de teoria do direito;
Publicações
O Tempo do direito
• O objetivo principal do livro é estudo da relação entre direito
e o tempo;
• Começa com um relato da história de Kronos;
• Esta história é caracterizada tanto pela violência quanto pela
negação do tempo;
• Em suma, assinala a verdadeira tirania do tempo: negação do
passado (quando Kronos corta os genitais de seu pai Urano) e
não desenvolvimento futuro (quando Kronos devorava seus
próprios filhos).
• Diante esta perspectiva, torna-se completamente estéril o
presente, ou seja, o presente fica sem memória e sem ter um
projeto.
• As manifestações deste não tempo
(sem memória e sem projeto),
podem ser percebidas em países
como Ruanda onde o passado nunca passa

• Todavia, em outros países, como por exemplo, os


países satélites da ex-União Soviética o presente
se eterniza sem projeto.
• Existem, também, situações em que o direito se
torna efêmero, não duradouro, como por
exemplo, as medidas urgentes e provisórias.
AS horais
• Em Atenas, contrapondo a figura
De Kronos, criam-se as Horais;
• 03 filhas de Zeus;
• Desempenhavam dupla função: personificavam
as estações ao passo que representavam as
virtudes cívicas;
• Estações: Tallhô (empurrar), Auxô (crescer) e
Carpô (fortalecer);
• Virtude cívicas: Eunomia (disciplina), Diké
(Justiça) e Eirénê (paz).
• As horas representam , ao contrário de tempo
monolítico e violento de Kronos, a pluralidade
das durações, a alternância bem-vinda dos
períodos, a medida bem equilibrada dos dias e
das cidades;
• Incitação de um tempo dialético, aberto e
neguentrópico (função que representa o grau de
ordem e de previsibilidade existente num
sistema);
• Desde os gregos é questionada a relação entre o
tempo e o justo.
Questões levantadas
• Que relação existe entre a Temperança (sabedoria do tempo) e a
Justiça (sabedoria do direito)?
• Qual a contribuição para o bom governo?
• Debate acerca de três teses principais:
1-A primeira tese se refere ao tempo: o tempo é uma instituição
social antes de ser um fenômeno físico e uma experiência
psíquica; Quer dizer que o tempo é uma construção social, é uma
questão de poder, uma exigência ética e um objeto jurídico.
2-A segunda tese diz respeito ao direito: a função precípua do
jurídico é contribuir para a instituição do social;
3- A terceira tese que resulta de uma interação dialética entre as
duas primeiras teses, pois será devidamente demonstrado a
ligação entre a temporalização do social do tempo e a instituição
jurídica da sociedade.
• François Ost utiliza um exemplo de “Política”, de
Aristóteles, para concluir que o tempo é a
própria substância da lei, a condição do seu
poder, pois a força da lei é conquistada com o
hábito.
• É oportuno mudar frequentemente as leis? Não,
segundo Aristóteles, não é a mesma coisa mudar
uma técnica e uma lei; a lei para fazer-se
obedecer só tem a força do hábito, a qual só se
manifesta “depois de muito tempo”: o tempo vê-
se é a própria substância da lei, condição do seu
poderio.
Destemporalização – a saída do tempo como
instituinte
• Instituição social do tempo (temporalização)
pelo direito é uma obra frágil, ameaçada pela
destemporalização;
• 4 formas de fuga :
1. recusa do entendimento do tempo como mudança, evolução, finitude e, por conseguinte,
mortalidade.
2. abandono ao curso do tempo físico, cujo movimento irreversível conduz todas as coisas à
destruição. (função entrópica)
3. pensamento determinista que gera a representação de um tempo homogêneo, contínuo e sem
ruptura.
4. Policronia - é a falta de coordenação dos ritmos temporais, falta de instrumentos de
solidariedade temporal.
Um compasso de quatro tempos
• E é nesse contexto que a instituição jurídica de
um tempo social portador de sentido ganha sua
acuidade, sua perspicácia.
• Ost explica que a memória, o perdão, a promessa
e o requestionamento são categorias normativas
e temporais que traduzem as dimensões da
temporalização normativa.
• Cada uma exprime uma faceta da instituição
jurídica de um tempo portador de sentido.
Medir, experenciar e temporalizar o tempo

• Ost começa afirmando não saber o que é o tempo, nem qual a sua verdadeira medida. O

tempo não se reconduz a medida quantitativa de um tempo físico exterior e homogêneo,

nem à experiência subjetiva de uma experiência individual.

• Ele determina que a medida que se serve da materialidade do tempo dado e da

experiência do tempo sentido simultaneamente é o tempo social-histórico., é o tempo

produto das construções coletivas da história.

• A história dos instrumentos de medida do tempo revela a dependência das necessidades

sociais e das configurações culturais. E a elaboração cultural do tempo resulta do avanço

das técnicas e de uma questão de poder.

• Ost conclui que a medida do tempo social nunca vai se impor por si mesma, mas terá que

ser eficaz contra as formas de destemporalização.


Destemporalização – nostalgia da
eternidade
• Recusa de entendimento do tempo como mudança;

• Para Ost, independente que se projetando para o futuro ou para o


passado, a nostalgia da eternidade sempre se trata do “fim dos
tempos”.
• É ela que alimenta a ordem plena da “comunidade identitária” e
gera o integrismo, “povo único”.
• Ost afirma que a nostalgia da eternidade acaba por gerar regimes
totalitários, como exemplo o de Hitler, que, segundo ele, queria
fechar a humanidade num rigoroso determinismo biológico.

• Ele afirma que o direito, ao renunciar às margens da eternidade,


escreve-se ao traçar da história.
Vertigem a entropia
• A sociedade estaria condenada a viver no instante da atualidade,
ignorando seu passado e seu futuro.
• Estaria, então, órfã de história e demasiadamente preocupada com o
presente, esquecendo-se  que, desde já, constrói-se um futuro.

• A possibilidade de uma construção neguentrópica (as Horais;


temperança) de tempo social vem do contrário exposto acima. 
• Ou seja, da propriedade humana de reflexão do tempo que, ainda
passado, não esgotou suas promessas e de um futuro que, ainda
indeterminado, não é totalmente aleatório.

• O que se vê com a vertigem a entropia é fragilidade da aliança passado-


futuro.
• Gera uma crise cultural.  Um presente reduzido aos acessos de
instantaneidade, aos sobressaltos da urgência e à insignificância do dia
a dia.
Tentação do determinismo
• O determinismo representa um tempo homogêneo e uniforme, pleno e
contínuo.
• No entanto, paradoxalmente, o determinismo assume agora a forma
da mudança radicalizada: uma mudança valorizada para si mesma, que
acarreta uma prodigiosa aceleração dos ritmos temporais e se traduz
pela imposição da urgência como temporalidade vulgar.
• O paradoxo consiste em que o determinismo, apesar de comandar esse
processo de mudança, abafa qualquer capacidade de verdadeira iniciativa.

• No entanto, o tempo de uma sociedade aberta não é regular e uniforme, mas


percorrido de hesitações, atravessado de incertezas, empurrado por
acontecimentos imprevistos.
• Sendo assim, entre o acaso e o determinismo, vislumbra-se uma terceira via
denominada "Kairos", justa  medida.

• A democracia, segundo o autor, faz parte desse contexto, pois é marcada pela
indeterminação de suas certezas e empurrada por acontecimentos imprevistos.
Risco de discronia
• Enquanto certas esferas ganham velocidade e o seu
ritmo se acelera formalmente, outras, pelo contrário,
parecem abrandar e mesmo parar.
• Trata-se da fragmentação do tempo contemporâneo, ou
seja, a sociedade avança em várias velocidades e não há
um mecanismo regulador dessas diversas forças.
• Nesse contexto, uma tentativa de retemporalização
seria o "direito ao tempo" ou " direito ao seu tempo", ao
"seu ritmo".
• Isso significa que cada sociedade deveria descobrir sua
diagonal inédita entre duração e momento e reconstruir
um passado segundo suas experiências e um futuro
segundo suas expectativas.
• François Ost afirma que há inúmeras escalas temporais que se
sobrepõem sem que tenham necessariamente os mesmos princípios
de encadeamento.
• o tempo é policrónico e híbrido.
• Basta comparar o tempo estagnado de centenas de milhões de seres
humanos que vivem abaixo do limiar de pobreza com o tempo das
trocas comerciais entre países industrializados, e sobretudo o
tempo das trocas financeiras que operam em (tempo real) na bula
especulativa de praças bolsistas interligadas 24 horas por dia.
• Para o Autor é evidente que a sincronização dos ritmos sociais se
tornou uma das maiores apostas da regulação: quer se trate de
partilhar o tempo de trabalho, de redistribuir o tempo livre e o
tempo profissional, de repensar a solidariedade entre jovens, ativos
e pessoas de idade, de regular as velocidades do crescimento entre
regiões do globo, ou ainda de impor as condições de um
desenvolvimento durável, em todos os casos de sincronia que se
trata, afirma François.
As quatros figuras da retemporalização
• Memória: Liga o passado assegurando-lhe um registro, uma fundação e uma
transmissão. Surge como a projeção da promessa no passado. O respeito à
memória constitui a própria condição de um perdão sensato. É pela memória que
a sociedade mergulha nas suas raízes, que lhe asseguram identidade e
estabilidade.

• Perdão: Entendido como a capacidade da sociedade em "saldar o passado":


ultrapassá-lo, destruindo o ciclo da vingança e do ressentimento
(kronos).  Desliga o passado imprimindo-lhe um sentido novo, portador de futuro

• Promessa: A capacidade da sociedade em "creditar o futuro", comprometer-se


em relação a ele e dele se apropriar, garantindo-o contra o imprevisível radical,
conferindo-lhe de alguma forma um passado. Ou seja,  liga o futuro através
de compromissos normativos.

• Requestionamento: Este é considerado a antecipação do perdão.  Em tempo


útil, desliga o futuro com vista a operar as revisões que se impõem para que na
hora das mudanças as promessas sobrevivam.
• François Ost sublinha que os dois pólos essenciais da
regulação jurídica do tempo social são:
1. o perdão, entendido em sentido amplo, como essa
capacidade da sociedade para saldar o passado:
ultrapassá-lo ao estabelecê-lo, libertá-lo destruindo
o ciclo sem fim da vingança e do ressentimento;
2. já a promessa, por outro lado, entendida em
sentido amplo, como essa capacidade da sociedade
para (creditar o futuro), comprometer-se em
relação a ele por meio de antecipações normativas
que balizarão doravante o seu desenrolar.
• Mas, segundo ele, o perdão e promessa não bastam ainda
para fazer uma instituição jurídica do tempo social.
• Por sua vez, cada um dos dois termos se desdobra,
relançando a dialética no campo do passado e no campo do
futuro.
• E por isso que ao perdão associamos a memória,
• A promessa o requestionamento.
• A memória surge como a projeção da promessa no passado;
• O requestionamento, ele será a antecipação do perdão.
• De forma mais abrangente, é possível entrever uma escansão
em quatro tempos: ligar e desligar o passado, ligar e desligar
o futuro.
• Parece ser esse o ritmo necessário a uma produção
significante do tempo social.
Conclusão
• Afirma que sem memória, uma sociedade não conseguiria ter uma
identidade nem aspirar a qualquer espécie de perenidade;

• Sem perdão, expor-se-ia ao risco da repetição compulsiva dos seus


dogmas e dos seus fantasmas.

• Em compensação, o perdão sem memória remete-nos ao caos


inicial dos cálculos interesseiros ou reconduz-nos ao confuso abismo
do esquecimento.  

• Finaliza, o autor com a síntese: “Libertar a história das suas


nostalgias de eternidade, virar a ampulheta para produzir extensões
de tempo neguentrópico, apreender o kairos entre acaso e
necessidade, conciliar ritmos Sociais sempre ameaçados de
discronia.Estas são as apostas do compasso de quatro tempos que
nos preparamos agora para tocar.”
OBRIGADA!
Izabella Viana

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