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CENTRO UNIVERSITÁRIO CAMPO LIMPO PAULISTA

DISCIPLINA: Leitura e Produção de Textos em Língua Portuguesa


CURSO: Licenciatura em Letras, 2º Semestre
ALUNO: Luan Matheus Tavares Nunes – RA:33504

RESENHA CRÍTICA SOBRE O DOCUMENTÁRIO “QUANTO TEMPO O TEMPO TEM”

O tempo certamente é um dos conceitos abstratos mais difíceis de ser compreendido e definido.
Afinal, o que é o tempo? O tempo realmente existe ou é só uma concepção humana que pode,
um dia, perder-se? O documentário Quanto tempo o tempo tem (2015) — narrado e dirigido
por Adriana Dutra — busca, entrevistando e ouvindo especialistas das mais variadas áreas e dos
mais diversos países, as respostas para estas e outras questões que permeiam esse tema de suma
importância para existência humana. Inicialmente, a diretora busca entender o que aconteceu
com o tempo que, na sua perspectiva, parece estar mais curto e escasso a cada instante. Com a
ajuda dos entrevistados, delimita o tempo como passado, presente e futuro; em seguida, é
realizada uma reflexão sobre passado e futuro, através da imaginação e abstração humana,
existirem em conjunto no presente; por último, busca compreender o que seria o agora, ele é
real ou um instante imaginário, um presente que não existe. Em concordância com o que foi
analisado no documentário, Canella (2022), ao referir-se a Santo Agostinho, diz,

"Agostinho, em especial, foi um pioneiro nas reflexões sobre o tempo. Segundo o filósofo, o
passado não existe, o futuro, da mesma forma, também não existe – ainda – e o presente se
torna pretérito continuamente. Ou seja, o próprio do tempo não é o ser, e sim o não ser."

Após a discussão sobre a definição do tempo, a narradora e os demais especialistas buscaram


analisar, historicamente, como o tempo se tornou relevante para o ser humano, desde as
primeiras marcações de tempo, com a oscilação do sol e das estrelas no céu, até os relógios
mais precisos e modernos, desenvolvidos durante a Revolução Industrial sob a necessidade de
se produzir mais e em menos tempo. A percepção humana do tempo condicionou sua evolução
como espécie dominante do mundo, pois, graças a ela, foi possível desenvolver-se sistemas
mais complexos — como a agricultura e agropecuária — que possibilitaram ao ser humano um
maior controle do ambiente, assim como a construção e surgimento de civilizações que
evoluíram para as sociedades atuais. Mesmo com toda a evolução do mundo atual, com
ferramentas e tecnologias que permitem aos seres humanos um melhor manejo e controle do
tempo, a humanidade parece querer ainda mais tempo. Em decorrência do encurtamento das
distâncias, que hoje são praticamente nulas, e a massiva quantidade de informações que chegam
aos celulares em questão de segundos, as pessoas tendem a uma busca imediatista por
felicidade, que tende a também ser instantânea em sua duração, gerando nesses indivíduos um
sentimento de eterna incompletude, o que acaba afetando suas saúdes mental e emocional.
Graças a esse anelo e essa necessidade por mais tempo, algumas áreas da ciência e filosofia
contemporânea buscam fórmulas e tecnologias que permitam que o ser humano viva mais ou,
quase que oniricamente, alcance algum tipo de amortalidade. Baseado nessas ideias e crenças
que surge o Transhumanismo, uma filosofia criada para aqueles que querem superar seu estado
biológico e adquirir cada vez mais tempo. A ciência, medicina, tecnologia e, até mesmo,
conceitos filosóficos, muitas vezes tentam buscar meios de romper as limitações do tempo sobre
os seres humanos e transcender sua existência, sempre em busca de ter mais tempo de vida,
mais tempo de fazer e produzir.

Atualmente, o tempo é tratado como a moeda de troca mais valiosa, por consequência da
grande quantidade de estímulos e exigências que o imediatismo impõe. O sistema capitalista,
por exemplo, se alimenta de todo o tempo das pessoas, em primeiro plano, forçando-as a
gastarem seu o tempo de trabalho na produção que se encontra cada vez mais exigente, em um
segundo plano, usando do seu tempo livre gastos em redes sociais com estímulos constantes
que carregam anúncios comerciais que fomentam o consumismo. A subjetividade e identidade
humana se encontram fragmentadas e, portanto, fragilizadas. Os seres humanos buscam definir-
se através do consumo, do engajamento em redes sociais e do sentimento de pertencimento a
alguma tendência que, muito provavelmente, durará uma semana. As crenças e valores se
perdem em meio a tantos estímulos e opções que são proporcionadas a esses indivíduos,
exigindo do mais preparo do sujeito, como afirma Clóvis de Barros (2022),

"Depende das nossas escolhas e do quanto as nossas escolhas depende da


nossa inteligência e do quanto nossa inteligência não dá conta das escolhas
que precisamos fazer [...] o que sobra, então, é a necessidade de desenvolver
competências para atribuir valor às múltiplas e infinitas possibilidades de
estímulo que você recebe ao longo da vida"

O mundo está, a todo instante, mais frenético; não somente na produção não só de materiais,
mas também de sentidos e significados, que se expande aceleradamente, e, em meio a tudo isso,
se encontra a individualidade humana, na busca por suas pertenças e formas de ser. O ser
humano se encontra numa constante oscilação, entre a memória melancólica do passado e o
projeção ansiosa do futuro, mas se esquece de viver o presente e desprezar o presente é
desprezar a vida (DE BARROS, 2022). O tempo nunca lhe foi curto à humanidade, ele foi
sempre foi justo o que lhe era necessário, o equívoco está na percepção humana e no seu trato
com o tempo, que insiste em querer viver o antes e o depois, porém nunca o agora, que, além
disso, ousa querer ter um tempo infinito. A conclusão que se pode ter sobre a pergunta inicial
dessa dissertação é somente uma: que nunca se perca tempo buscando entender o próprio tempo,
ele existe não para ser compreendido, e sim, para ser aproveitado. O tempo é o que dá sentido
cada pequeno instante único, assim como a morte dá sentido à vida. O tempo é o que mostra a
preciosidade de cada momento, a fragilidade da vida e a finitude humana, e como diria Clóvis
de Barros (2022), "a felicidade está alinhada com a finitude"

REFERÊNCIAS

CANELLA, Aline. Quanto tempo o tempo tem. Associação Nacional de Pós-Graduação em


Filosofia, 21 de julho 2022. Disponível
em:<https://www.anpof.org.br/comunicacoes/coluna-anpof/o-que-e-o-
tempo#:~:text=Segundo%20o%20fil%C3%B3sofo%2C%20o%20passado,e%20sim%20o%2
0n%C3%A3o%20ser > Acesso em: 25 de novembro de 2023
DE BARROS, Clóvis. Clóvis de Barros – Inteligência LTDA. Youtube, 28 de junho de 2022.
Disponível em:< https://www.youtube.com/live/TJ65QimtO7Y?si=vUlY20Pt37OWbZRd >
Acesso em: 27 de novembro de 2023
Dutra, A. (Diretor). (2015). Quanto tempo o tempo tem [Filme Cinematográfico].

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