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O tempo certamente é um dos conceitos abstratos mais difíceis de ser compreendido e definido.
Afinal, o que é o tempo? O tempo realmente existe ou é só uma concepção humana que pode,
um dia, perder-se? O documentário Quanto tempo o tempo tem (2015) — narrado e dirigido
por Adriana Dutra — busca, entrevistando e ouvindo especialistas das mais variadas áreas e dos
mais diversos países, as respostas para estas e outras questões que permeiam esse tema de suma
importância para existência humana. Inicialmente, a diretora busca entender o que aconteceu
com o tempo que, na sua perspectiva, parece estar mais curto e escasso a cada instante. Com a
ajuda dos entrevistados, delimita o tempo como passado, presente e futuro; em seguida, é
realizada uma reflexão sobre passado e futuro, através da imaginação e abstração humana,
existirem em conjunto no presente; por último, busca compreender o que seria o agora, ele é
real ou um instante imaginário, um presente que não existe. Em concordância com o que foi
analisado no documentário, Canella (2022), ao referir-se a Santo Agostinho, diz,
"Agostinho, em especial, foi um pioneiro nas reflexões sobre o tempo. Segundo o filósofo, o
passado não existe, o futuro, da mesma forma, também não existe – ainda – e o presente se
torna pretérito continuamente. Ou seja, o próprio do tempo não é o ser, e sim o não ser."
Atualmente, o tempo é tratado como a moeda de troca mais valiosa, por consequência da
grande quantidade de estímulos e exigências que o imediatismo impõe. O sistema capitalista,
por exemplo, se alimenta de todo o tempo das pessoas, em primeiro plano, forçando-as a
gastarem seu o tempo de trabalho na produção que se encontra cada vez mais exigente, em um
segundo plano, usando do seu tempo livre gastos em redes sociais com estímulos constantes
que carregam anúncios comerciais que fomentam o consumismo. A subjetividade e identidade
humana se encontram fragmentadas e, portanto, fragilizadas. Os seres humanos buscam definir-
se através do consumo, do engajamento em redes sociais e do sentimento de pertencimento a
alguma tendência que, muito provavelmente, durará uma semana. As crenças e valores se
perdem em meio a tantos estímulos e opções que são proporcionadas a esses indivíduos,
exigindo do mais preparo do sujeito, como afirma Clóvis de Barros (2022),
O mundo está, a todo instante, mais frenético; não somente na produção não só de materiais,
mas também de sentidos e significados, que se expande aceleradamente, e, em meio a tudo isso,
se encontra a individualidade humana, na busca por suas pertenças e formas de ser. O ser
humano se encontra numa constante oscilação, entre a memória melancólica do passado e o
projeção ansiosa do futuro, mas se esquece de viver o presente e desprezar o presente é
desprezar a vida (DE BARROS, 2022). O tempo nunca lhe foi curto à humanidade, ele foi
sempre foi justo o que lhe era necessário, o equívoco está na percepção humana e no seu trato
com o tempo, que insiste em querer viver o antes e o depois, porém nunca o agora, que, além
disso, ousa querer ter um tempo infinito. A conclusão que se pode ter sobre a pergunta inicial
dessa dissertação é somente uma: que nunca se perca tempo buscando entender o próprio tempo,
ele existe não para ser compreendido, e sim, para ser aproveitado. O tempo é o que dá sentido
cada pequeno instante único, assim como a morte dá sentido à vida. O tempo é o que mostra a
preciosidade de cada momento, a fragilidade da vida e a finitude humana, e como diria Clóvis
de Barros (2022), "a felicidade está alinhada com a finitude"
REFERÊNCIAS