Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
AGAMBEN, Giorgio. Tempo e história: crítica do instante e do contínuo. In: ______. Infância e
história: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p. 111-128.
2
LLORET, Caterina. As outras idades ou as idades do outro. In: LARROSA, J.; LARA, N. P. (orgs.)
Imagens do outro. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 13-23.
Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
1
Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
chegamos à vida adulta, começamos a tentar não contar o tempo, uma vez que
queremos adiar a velhice, que para alguns traz incertezas e angústia, momento em
que os fios brancos do cabelo e as rugas do rosto são presságios (no imaginário das
pessoas) de decadência, improdutividade, e até inutilidade, culminando na morte 3. A
mudança não nos é bem vinda, não agrada, a tememos, porque o que é imprevisível
nos assusta e desestrutura.
No entanto, há outros que preferem viver o tempo em sua plenitude sem se
martirizar insistentemente com o fim, que é inevitável, porém tentam viver a vida sem
medo de se arriscarem, conseguem experenciar o tempo Cairós. O Soneto de
Fidelidade de Vinicius de Moraes nos ilustra esta reflexão quando diz “que seja
eterno enquanto dure”4.
Pensamos que a forma como vivemos o tempo presente, muito influenciará
nas contribuições que poderemos deixar e nas possibilidades que poderemos
alcançar, pois este presente é uma conexão entre passado e futuro e não um
instante solto e descontextualizado, pois segundo Salgado5 “ o presente faz parte de
uma sucessão temporal que está ligado ao antes e ao depois”.
O passado, especificamente, nos oportuniza escolher o que nos convém dar
continuidade e o que já comprovadamente não interessa ser repetido, ele corporifica
as experiências e vivências de um indivíduo ou de uma sociedade. O passado,
considerado sob a perspectiva apenas do Chronos, normalmente nos remete ao
“velho”, e este, àquilo que é descartável que não tem mais utilidade, isto se
concretiza nas vivências cotidianas principalmente nas sociedades ocidentais, onde
o indivíduo por já ter, na curva de Gauss --- que Lloret6 define como sendo “Uma
curva que começaria da esquerda a partir da baixa estatura da criança pequena, que
continuaria elevando-se até a altura e posição ereta do homem adulto e que
desceria sobre a posição encurvada do velho apoiado num bastão” --- alcançado o
declínio, a descida da curva, é visto e tratado como improdutivo, incapaz,
descartável.
Quando ultrapassado o período do homem adulto, este começa a ser limitado
nas suas ações e a ser desconsiderado de algumas práticas sociais, o velho é o ser
que já foi, que nas sociedades capitalistas já não produz, portanto não colabora para
o desenvolvimento desta sociedade, então é um peso para o Estado. Desconsidera-
se o tempo Cairós do indivíduo, aquele que propicia as experiências e vivências
como subsídios para o desenvolvimento da sociedade, por meio dos saberes
adquiridos, (re) significados e compartilhados, contribuindo para o desenvolvimento
de novos saberes.
Esta realidade também é representada na perspectiva dos documentos, que
muitas vezes são avaliados apenas pelo seu tempo Chronos, não considerando as
contribuições intelectuais, históricas, representantes do imaginário social que
poderão fornecer a uma sociedade.
3
LLORET, Caterina, 1998, p. 13-23.
4
MORAES, Vinícius de. Livro de sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p. 55.
5
Aula proferida no dia 31 de março de 2011 na Universidade Federal de Mato Grosso Campus
Rondonópolis.
6
LLORET, op. Cit., p. 18.
Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
2
Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
7
Palestra do Encontro do Núcleo Gaúcho de História da Mídia, proferida em 2010.
8
REIS, José Carlos. História e teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Brasília:
UNB, 2003. p. 182.
9
PADILHA, Maria Itavra Coelho de Souza; BORENSTEIN, Miriam Susskind. O método de pesquisa
histórica na enfermagem: the ethodology of historic research in the nursing el método de investigación
histórica en la enfermería. Texto Contexto enfermagem, Florianópolis, v. 14, p. 575-584, out./dez.
2005.
Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
3
Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
10
Ibid., p. 575-584.
11
ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 7-32.
12
Ibid., p. 26.
13
REIS, José Carlos, 2003, 246 p.
14
Ibid., p. 156.
15
ELIAS, Norbert, op. cit., p. 15.
Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
4
Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de
ontem é o mesmo de hoje".
O conhecimento histórico, portanto, vem acompanhado da experiência do
tempo que carrega consigo a ideia de mudança. Todo historiador se apropria do
tempo para contemplar, conhecer o que está obscuro, e este tempo, o tempo
histórico é produzido por meio da articulação dos tempos Chronos e Cairós. 16
O tempo histórico, para alguns pensadores, é o terceiro tempo, que se
concretiza a partir do conceito de “longa duração” --- idealizada pelos Annales ---
que inclui e explica o evento, considerando a simultaneidade (apagamento da
diferença entre passado e futuro), sem desconsiderar a mudança qualitativa.
O tempo histórico considera a regularidade, homogeneidade, uniformidade do
tempo Chronos, juntamente com a concepção das mudanças humanas do Cairós.
Porém, o tempo histórico é um tempo original que difere do primeiro e do segundo
mas que os reune.17 O tempo histórico, segundo este autor é a descrição, análise e
acompanhamento dos homens e suas mudanças. A mediação dos dois primeiros
tempos para a consideração do tempo histórico se dá: “porque o tempo da
consciência, que é mudança permanente, não teria condições de se autocoordenar
e se conhecer sem uma certa relação com o tempo natural que é permanência.”18
O historiador se apropria do tempo histórico, ou seja, o acompanhamento dos
homens e suas mudanças --- para resgatar „o que é‟ no tempo, pois não se pode
recuperar „o que não é mais‟ --- para isto utiliza-se de subsídios que lhe propriciem
“manter a continuidade da consciência, preservando sua memória, protegendo-a
contra as suas rupturas, esquecimento, defasagem.”19 , tendo como resultado a
produção de material documental, que poderá se tornar fontes históricas.
O pesquisador que se envereda pelos caminhos da pesquisa histórica possui
uma problemática singular, ele não estava presente durante os acontecimentos, ele
apenas tem no seu presente a pretensão de por meio de vestígios “apreender o
mundo dos homens através do estudo de suas experiências do passado” 20, enfim,
resgatar parte do passado. Para isto, deve estar atento às mensagens internas
(conteúdos) dos vestígios e fontes e ter sensibilidade para “conceber, sentir e
receber todas as paixões humanas sem tê-la provado”21
Por estar o pesquisador em uma dimensão temporal diversa daquela em que
seu objeto de estudo está contextualizado, a pesquisa histórica exige do
pesquisador um novo olhar, um pensamento reflexivo, interpretativo, de
problematização, necessitando uma capacidade de distanciamento de seus “pré-
conceitos”, para que possa olhar para as fontes de forma a questioná-las,
considerando o tempo em que foram produzidas. O caminho na pesquisa histórica é
construído no caminhar. Então, o pesquisador histórico deve ter extremamente
aguçada a curiosidade para vasculhar, mesmo nos lugares improváveis, à procura
de informações que respondam aos seus questionamentos, a capacidade de
16
REIS, José Carlos, op. cit. 246 p.
17
Ibid., 246 p.
18
Ibid., p. 202.
19
REIS, José Carlos, 2003, p. 148
20
REIS, José Carlos, 2003, p. 241.
21
Ibid., p. 217.
Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
5
Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
22
GUNTHER, Hartmut. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão?.
Psicologia: teoria e pesquisa, n. 2, v. 22, p. 201-209, maio/ago., 2006.
23
CARDOSO, Cancionila Janzkovski. Relatório da Pesquisa de Pós-Doutorado: Cartilha Ada e
Edu: produção, difusão e circulação: (1977-1985), 2009. Relatório (pós-doutorado) Universidade
Federal de Mato Grosso, Universidade Federal do Paraná, 2009. p. 8.
24
TAKAMATSU, Sônia Midori. A biblioteca César Bierrenbach: o centro de ciências, letras e artes e
a utopia do conhecimento. Campinas, 2011. Dissertação (mestrado) Universidade Estadual de
Campinas. Campinas: UNICAMP, 2011. 152 p.
25
REIS, José Carlos, op. cit.
26
DILTHEY, 1984 apud REIS, 2003.
27
PADILHA, Maria Itavra Coelho de Souza, 2005, p. 576
Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
6
Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
28
GATTI, Bernardete A. Estudos quantitativos em educação. Educação e pesquisa, São Paulo, n. 1,
v. 30, p. 11-30, jan./abr., 2004.
29
FLICK; VON KARDORFF; STEINKE, [19--?] apud GUNTHER 2006, p. 202.
30
GATTI, Bernardete A., op. cit., p. 13.
Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
7
Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
REFERÊNCIAS
3 MORAES, Vinícius de. Livro de sonetos. São Paulo: Companhia das Letras,
1991. 165 p.
31
CERTEAU, 2002 apud CARDOSO, 2009, p. 8.
Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
8
Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
8 ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 7-32.
Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
9