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Rio de Janeiro, 1 de Junho de 2017

Resumo do capítulo 1 do livro ​Seduzidos Pela Memória​ de Andreas Huyssen por Maria
Paganelli

O autor começa o texto re decodificando o passado. Fala sobre os temas do Holocausto e


acontecimentos fascistas do século XX como A história, um lugar-comum ao mundo todo.
Um lugar onde estão os traumas vividos que deram vida às memórias culturais gerais.

Então, ele segue o raciocínio com duas maneiras de lidar com a memória:
ela sendo rejeitada para o indivíduo não ter que lidar com determinados assuntos e nem
precisar se responsabilizar por uma postura assumida OU fazendo intervenções nas suas
ações. Não posturas/intervenções artísticas, necessariamente, mas qualquer postura que
você exponha sua opinião levando em conta o “trauma histórico”.

Huyssen fala sobre o ​paradoxo da globalização​ e dá o exemplo do Holocausto não mais


como memória específica, mas como metáfora para outras histórias e memórias.

Nesse paradoxo, o que pode acontecer é o bloqueio de algumas percepções em histórias


específicas, assim, ignoramos especificidades que são muito importantes para a memória
de um grupo/nação/cultura. Então concluímos que ao mesmo tempo que estamos “focando”
em um olhar de cura ao trauma, não estamos, pois não estamos olhando para a história
específica em questão.

Sobre os ​Futuros-presentes​ e ​Passados-presentes​:

Essa questão de temporalidade é bem abordada no texto.


O que o autor defende é que estamos comercializando a nostalgia, damos muito valor ao
que possui uma história, aos produtos com mais espaço de armazenamento e à tudo que
possa servir de “marco” para nossas vidas. Temos muito medo de sermos esquecidos e de
perder certos momentos.
Sentimos um alívio desse medo com a auto musealização, que acaba acontecendo com
uma frequência cada vez maior na história. A quantidade de literaturas memorialísticas e
confessionais crescem; com a tecnologia, a documentação em massa acontece, nas quais
selfies e perfis virtuais (estes servindo como espaço para armazenamento) estão incluídos
também como alguns exemplos da recordação total.

No texto é abordada a questão do Real x Mito, em que é argumentado que um interfere no


outro. O mito pode vir a virar realidade e vice-versa, uma vez que a memória-não-vivida é a
mesma coisa que uma memória imaginada, ou seja, é muito mais mutável que uma
memória vivida, e isso gera repercussões imensas ao presente e futuro na construção de
uma cultura.

O mundo com capacidades de armazenar (e armazenando!) cada vez mais coisas gera o
aumento de esquecimento também. O autor explica esse efeito padrão: com mais memórias
imaginadas (não vividas), há uma relevância menor ao que consideramos importante e
guardamos.

Uma pergunta é feita:


Como a coesão cultural e social podem ser garantidas sem uma memória em comum?

A hipótese é que estas são formadas por uma cultura servindo como estratégias de
sobrevivência e rememoração pública e privada. A memória é criada com esse desejo de
ancorar na crescente instabilidade e na fratura do tempo vivido.

A cultura contemporânea logo surge em meio aos acontecimentos, descobertas e novo


ritmo empregado no século XX, pela memória dramática e a mídia comercial. Dessa forma,
elas valorizam o passado e comercializam o trauma histórico na estrutura e na formatação
de seus produtos.
“O meio é a mensagem”, relembra o autor por meio de citações.

Agora aprofundamos um pouco a questão da nova percepção de tempo que é criada com o
desejo de privilegiar o passado e a cultura da memória.
A Nova Temporalidade é explicada pelo conjunto-interseção de três forças e tendências do
nosso tempo:
1 - A mudança tecnológica
2 - A mídia de massa
3 - Os novos padrões de consumo, trabalho e mobilidade global.

Com essa nova percepção de tempo reafirmamos o medo enorme do futuro.

Hermann Lübbe se insere um pouco no texto falando sobre a expansão cronológica, que é
o fato de mais coisas acontecerem no momento presente.
Ex: as coisas estão se acelerando, acontecendo num ritmo muito maior e mais rápido, os
produtos que acabam de ser inventados já ficam obsoletos quase que no mesmo momento,
pois é mais vantajoso esperar um pouco para comprar um produto que será lançado num
futuro próximo (por mais que você precise no momento presente). Acaba que ao mesmo
tempo que você vive no passado pelo consumo de memórias e preocupado pela
permanência das mesmas, o futuro também é presente, pois é dado como fato e como certo
os acontecimentos previstos.
E são essas situações que nos permitem a sensação de expansão cronológica do presente.
Trazendo o passado e o futuro para ele.

Voltando à cultura contemporânea em que os assuntos de obsolência/desaparecimento e


memória/musealização estão muito presentes, o tempo e o espaço ficam menores também
por não termos tempo de criar um vínculo com objetos e questões inerentes ao nosso
tempo.
Há uma instabilidade enorme nos assuntos atuais.
O mundo contemporâneo está expondo cada vez mais pontos de vistas, mais “eus”
existindo com suas individualidades e pensamentos. Com isso, há uma perda de tradições
(de um grupo/cultura, do “eu” mais amplo, e não várias consciências individuais).
Os ​lugares de memória​ compensam os ​meios de memória​, assim como a musealização
compensa a perda de tradições.
Com essa mudança toda de pensamento e ação, que levam mais em conta o individual do
que o grupal, há uma instabilidade do senso seguro do passado cada vez maior pelo efeito
da mídia e da indústria cultural-musealizante.

Então, outro paradoxo é percebido quando em meio a tudo isso afirmamos que o passado
não é mais um lugar idealizado e definido, pois existem muitas visões e teorias sobre ele.

O autor ressalta que as memórias são humanas, transitórias e mutáveis: não podem ser
guardadas para sempre. A todo momento elas são revistas quanto ao seu grau de
importância, vemos o que é dispensável e não relevante para nós. O que retemos então
passa pelos nossos valores, ideologias, etc... e como estes são formados pela nossa
educação e cultura, entra de novo a questão da memória cultural, que entra como
pressuposto para novas memórias mais particulares.

Huyssen termina o capítulo com a conclusão que temos um efeito mútuo na atuação da
sociedade x indivíduo, quanto às memórias. Pois assim como a sociedade nos atinge com
atualidades de pensamentos e tendências, quando temos uma memória vivida por nós
mesmos, a mesma atua e se incorpora à sociedade.

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