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Língua náuatle

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O náuatle (português brasileiro) ou nauatle (português europeu) (Nāhuatl, Nāhuatlahtōlli), também chamado
de asteca ou mexicano em sua fase clássica,[2] (pronúncia nativa: [ˈnaːwatɬ] ( escutar (ajuda·info)) é uma
língua pertencente à família uto-asteca, usada pelo povo náuatle e falada no território atualmente
correspondente à região central do México desde pelo menos o século VII.[3] No final do século XX,
era falada por pouco menos de um milhão e meio de pessoas.[1]
Na época da conquista espanhola do México, no início do século XVI, era o idioma dos astecas, que
dominavam o México central durante o fim do período pós-clássico da cronologia mesoamericana. A
expansão e influência do Império Asteca fizeram com que o dialeto falado pelos astecas
de Tenochtitlán se tornasse um dialeto de prestígio na Mesoamérica deste período. Com a introdução
do alfabeto latino, o náuatle também se tornou uma língua literária e muitas crónicas, gramáticas,
obras de poesia, documentos administrativos e códices foram escritos nos séculos XVI e XVII.[4] Esta
língua literária baseada no dialeto de Tenochtitlán foi chamada de náuatle clássico e está entre as
línguas mais estudadas e bem-documentadas das Américas.[5]
Hoje em dia, os dialetos náuatles[6] são falados em comunidades espalhadas na sua maior parte em
áreas rurais. Existem diferenças consideráveis entre cada dialeto e alguns são mutuamente
ininteligíveis. Todas sofreram diferentes graus de influência do castelhano. Nenhum dialeto moderno é
idêntico ao náuatle clássico, mas aqueles que são falados no vale do México e em seus arredores são
geralmente considerados como mais próximos, linguisticamente, a ele[7]. Sob a Ley General de
Derechos Lingüísticos de los Pueblos Indígenas ("Lei Geral de Direitos Linguísticos dos Povos
Indígenas"), promulgada no México em 2003[8], o náuatle, assim como outras línguas indígenas do
México foram reconhecidas como lenguas nacionales ("línguas nacionais") nas regiões onde são
faladas, ostentando o mesmo statu que o castelhano[9].
O náuatle é um idioma com uma morfologia complexa, caracterizado por polissínteses e aglutinações,
que permitem a construção de palavras longas, com significados complexos, a partir de
diversos radicais e afixos. O náuatle foi influenciado por outras línguas mesoamericanas ao longo de
séculos de coexistência, tornando-se parte da área linguística mesoamericana. Muitas palavras do
náuatle foram apropriadas pelos idioma espanhol e passaram para centenas de outras línguas; em sua
grande maioria, são palavras que designam conceitos nativos ao México central, que os espanhóis
ouviram ser mencionados pela primeira vez em seus nomes náuatles, como, por exemplo, "tomate",
"abacate", e "chocolate".

Período moderno
Mapa mostrando as áreas da Mesoamérica onde o náuatle é falado hoje em dia (em branco) e onde se sabe que foi
falado historicamente (cinza).[28]

Ao longo do período moderno a situação das línguas indígenas acabou acabou por ficar
gradativamente precária, ao mesmo tempo que o número de falantes de virtualmente todas as línguas
indígenas foi diminuindo. Embora o número absoluto de falantes do náuatle tenha aumentado no
último século, as populações indígenas tornaram-se cada vez mais marginalizadas na sociedade
mexicana. Em 1895 o náuatle era falado por mais de 5% da população do país; em 2000, esta
proporção havia caído para 1,49%. Dado este processo de marginalização, combinado com a onda de
migrações para as áreas urbanas e para os Estados Unidos, alguns linguistas têm alertado sobre o
perigo de uma morte do idioma.[29] No presente o náuatle é falado majoritariamente nas áreas rurais
por uma classe empobrecida de agricultores de subsistência.[30] Desde o início do século XX e até
recentemente, as políticas educacionais no México se focaram na "hispanificação" das comunidades
indígenas, ensinando-lhes apenas o espanhol e desencorajando o uso do náuatle.[31] O resultado foi
que hoje em dia nenhum grupo de falantes do náuatle é alfabetizado no idioma, [32] enquanto a sua
taxa de alfabetização em espanhol também permanece bem mais baixa do que a média nacional.
[33] Ainda assim, o náuatle continua sendo falado por mais de um milhão de pessoas, dos quais cerca
de 10% são monolíngues. O náuatle como um todo não está em perigo iminente, porém alguns de
seus dialetos estão seriamente ameaçados, e outros já se tornaram extintos nas últimas décadas do
século XX.[34]
Políticas governamentais mais recentes têm encorajado o estabelecimento de escolas bilíngues, onde
pelo menos alguma parte do ensino seja feita em náuatle. Embora ainda existam problemas, como a
falta de livros de ensino no náuatle de determinadas regiões, ou de professores que falam o dialeto
específico de uma região e que são enviados para ensinar o idioma a crianças de outras regiões,
existe pelo menos algum movimento em direção ao aumento da alfabetização em náuatle, e do seu
uso na forma escrita. A Ley General de Derechos Lingüísticos de los Pueblos Indígenas ("Lei Geral de
Direitos Linguísticos dos Povos Indígenas"), promulgada em 13 de março de 2003, reconheceu todos
os idiomas indígenas do México, incluindo o náuatle, como um "idioma nacional", e deu aos povos
indígenas o direito de utilizá-las em todas as esferas das vidas pública e privada. [35] Emissões
patrocinadas pelo governo em náuatle também são realizadas pela estações de rádio da Comissão
Nacional pelo Desenvolvimento dos Povos Indígenas.
Em fevereiro de 2008 o prefeito da Cidade do México, Marcelo Ebrard, lançou um movimento para que
todos os funcionários governamentais aprendessem o náuatle. Ebrard afirmou que continuaria a
institucionalizar o náuatle, e que era importante para o México recordar sua história e sua tradição. [36]

Distribuição geográfica
Ver artigos principais: Náuatles e Dialetos náuatles
Falantes com mais de 5 anos de idade nos dez estados com mais falantes (censo de 2000). Números
absolutos e relativos.[37]
Região Totais Porcentagens
Distrito Federal 37,450 0.44%
Guerrero 136,681 4.44%
Hidalgo 221,684 9.92%
México (estado) 55,802 0.43%
Morelos 18,656 1.20%
Oaxaca 10,979 0.32%
Puebla 416,968 8.21%
San Luis Potosí 138,523 6.02%
Tlaxcala 23,737 2.47%
Veracruz 338,324 4.90%
Resto do México 50,132 0.10%
Total: 1,448,937 1.49%
Uma gama de dialetos náuatles são falados atualmente na área que se estende do estado do norte do
México de Durango até Veracruz, no sul. O pipil (também conhecido como nawat),[38] a língua náuatle
localizada mais ao sul, é falada em El Salvador por um pequeno número de indivíduos.[39] Outro
idioma náuatle, o pochuteca, foi falado na costa de Oaxaca até cerca de 1930.[40]
Baseado nos números acumulados pelo Instituto Nacional de Estatística, Geografia e
Informática (INEGI) no censo nacional realizado em 2000, estima-se que o náuatle seja falado por 1,45
milhões de pessoas, dos quais cerca de 198.000 (14,9%) são monolíngues.[41] Há uma disparidade no
monolinguismo entre os homens e as mulheres, com as mulheres representando quase dois-terços do
total. Os estados de Guerrero e Hidalgo têm as taxas mais altas de falantes monolíngues do náuatle,
estimados em 24,2% e 22,6%, respectivamente. A proporção de monolíngues na maioria dos outros
estados é de menos de 5%.[42]
As maiores concentrações de falantes do náuatle podem ser encontradas nos estados de Puebla,
Veracruz, Hidalgo, San Luis Potosí e Guerrero. Populações significantes também podem ser
encontradas nos estados do México, Morelos, e no Distrito Federal Mexicano, com comunidades
menores em Michoacán e Durango. O náuatle foi falado anteriormente nos estados
de Jalisco e Colima, onde se tornou extinto durante o século XX. Como resultado das migrações
internas pelo país, todos os estados mexicanos têm, hoje em dia, bolsões isolados onde o idioma é
falado. O influxo atual de trabalhadores e famílias mexicanas para os Estados Unidos resultou no
estabelecimento de pequenas comunidades de falantes do náuatle no país, especialmente nos
estados de Nova Iorque e Califórnia.[43]

Classificação
A terminologia utilizada para se descrever as diversas variedades do náuatle falado é aplicada
inconsistentemente. Muitos termos são utilizados por diferentes significados, ou então os mesmos
grupos recebem nomes diferentes. Por vezes termos mais antigos são substituídos por novos termos,
ou pelos termos utilizados no próprio idioma, para designar determinada variedade específica. A
própria palavra nahuatl é uma palavra náuatle, derivada de nāwatlahtolli ("língua clara"). O idioma
também é chamado de "asteca", por ter sido falado pelos astecas, que, no entanto, não chamavam a si
mesmos de astecas e sim de mexica, e ao seu idioma de mexicacopa.[44] Hoje em dia o termo é pouco
usado para descrever os idiomas náuatles modernos, porém o termo é utilizado para descer as línguas
e dialetos náuatles quando descritos como a segunda parte constituinte da família linguística uto-
asteca. (O grupo também é chamado de "nauano"). O termo "asteca geral" é utilizado por alguns
linguistas para se referir às línguas astecas, com a exceção do pochuteca.[45]
Os próprios falantes do náuatle frequentemente se referem à sua língua como mexicano[46] ou uma
palavra derivada de mācehualli, o termo em náuatle para "plebeu". Um exemplo é o caso do náuatle
falado em Tetelcingo, no estado de Morelos, cujos falantes chamam de mösiehuali.[47] O pipil de El
Salvador não é chamado por seus falantes de "pipil", como é feito pela maioria dos linguistas, mas sim
de nawat.[48] Os náuatles de Durango chamam o seu idioma de mexicanero.[49] Já os falantes do
náuatle no istmo de Tehuantepec chamam seu idioma de mela'tajtol ("a língua direita").[50] Algumas
comunidades de falantes também usam o termo nahuatl como o nome de seu idioma, embora esta
pareça ser uma inovação recente. Alguns linguistas identificam comumente os dialetos mais
específicos do náuatle adicionando palavras que qualifiquem o nome da vila ou área onde aquela
variedade é falada (por exemplo, "náuatle de Acaxochitlán").[51]

Genealogia
Ver artigos principais: Línguas uto-astecas e Dialetos náuatles
As línguas náuatles pertencem à família linguística uto-asteca, que é uma das maiores e mais bem
estudadas famílias linguísticas das Américas. Os idiomas náuatles (incluindo o pipil e o pochuteca são
os únicos membros do subgrupo "asteca" ou "nauano" do uto-asteca. A divisão em subgrupos dos
dialetos e línguas náuatles tem sido tema de discussões entre linguistas nos últimos cinquenta anos.
As primeiras classificações se baseavam na suposição de que a divisão básica das línguas náuatles
estaria entre os idiomas que tinham o som /tl/ e os que o trocavam por /t/ .[7] Esta suposição foi
refutada por Lyle Campbell e Ronald Langacker em 1978, que mostrou que todos os idiomas astecas
compartilhavam o desenvolvimento de */t/ para /tl/, mas que subsequentemente alguns dialetos
mudaram o /tl/ de volta para /t/ ou /l/ .[52]
As classificações acadêmicas mais recentes das línguas náuatles foram feitas por Yolanda Lastra de
Suárez e Una Canger.[53] Ambos estes enfoques basearam-se em pesquisas dialectológicas que
priorizaram o delineamento de isoglossas, ou fronteiras linguísticas, baseadas nas diferenças
na fonologia, gramática e vocabulário. Ambas classificações definem a divisão básica como sendo
entre os dialetos centrais e periféricos. A hipótese apresentada é a de que os falantes dos dialetos
periféricos foram os primeiros indivíduos a falar o náuatle que chegaram na Mesoamérica, e que por
isso mesmo estes dialetos mantiveram certos aspectos mais arcaicos. Já os falantes dos dialetos
centrais, que chegaram posteriormente, entre eles os astecas, introduziram inovações linguísticas que
acabaram se espalhando para fora do vale do México com a expansão do prestígio e da hegemonia
asteca.[7] As duas classificações são amplamente similares, porém diferem no seu tratamento dos
dialetos da região de La Huasteca: enquanto Canger classifica estes dialetos no grupo central, Lastra
de Suárez coloca-os em um grupo separado. A classificação abaixo basea-se na de Lastra de Suárez,
combinada com a classificação de Lyle Campbell para os grupos "superiores"

• Uto-asteca 3000 a.C.*
• Shoshoneano (mais conhecido como uto-asteca do norte)
• Sonorenho**
• Asteca Século I d.C. (também conhecido como Naua)
• Pochuteca † Costa de Oaxaca
• Asteca geral (conhecido como náuatle)
• Periferia ocidental Dialetos de Durango (mexicanero), Michoacán, estado ocidental Mexico,
dialetos extintos de Colima e Nayarit
• Periferia oriental Línguas e dialetos pipil e dialetos da serra de Puebla, sul de Veracruz e
Tabasco (dialetos do istmo)
• Huasteca Dialetos do norte de Puebla, Hidalgo, San Luis Potosí and norte de Veracruz
• Central Dialetos do centro de Puebla, Tlaxcala, centro de Veracruz, Morelos, Estado do México,
sul e centro de Guerrero

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