Você está na página 1de 10

Introdução

O continente africano, marcado por sua riqueza cultural e diversidade linguística, enfrentou
séculos de influência colonial que moldaram profundamente sua história, sociedade e,
notavelmente, suas línguas. O colonialismo, um fenómeno global que se estendeu por grande
parte do século XIX e início do século XX, deixou um legado complexo nas terras africanas,
impactando não apenas as estruturas políticas e económicas, mas também a identidade linguística
e cultural das populações locais. Este trabalho científico explora a relação intrincada entre o
colonialismo e as línguas africanas, examinando como os poderes coloniais influenciaram,
suprimiram ou até mesmo promoveram essas línguas em suas várias formas.

1
Conceito de Colonialismo

O termo "colonialismo" refere-se a um sistema de dominação política, económica, social e


cultural em que uma nação ou grupo de nações mais poderosas estende sua influência e controle
sobre territórios geograficamente distantes, geralmente em continentes diferentes. O
colonialismo geralmente envolve a conquista, ocupação e exploração desses territórios
colonizados.

A principal característica do colonialismo é a presença de colonizadores, que são geralmente de


uma cultura, nação ou etnia dominante, estabelecendo colónias em terras estrangeiras. Essas
colónias eram frequentemente exploradas para obter recursos naturais, como minerais, alimentos,
matérias-primas e mão-de-obra barata, a fim de enriquecer a metrópole, ou seja, a nação
colonizadora.

O colonialismo tem uma longa história e foi praticado por várias nações europeias, como
Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda, entre outras, durante os séculos XVI a XX. As
consequências do colonialismo foram profundas e variadas para as regiões colonizadas,
incluindo a desestruturação das sociedades indígenas, a exploração económica, a imposição de
sistemas políticos e culturais estrangeiros e, em muitos casos, a violência e a opressão contra os
povos nativos.

O colonialismo também desempenhou um papel importante na formação da geopolítica global e


nas relações internacionais. Muitas nações colonizadas buscaram a independência e a
autodeterminação ao longo do tempo, o que levou a movimentos de descolonização no século
XX, à medida que as antigas colónias lutaram por sua soberania e independência.

É importante notar que o colonialismo é frequentemente criticado por seus impactos negativos,
incluindo o legado de injustiça, desigualdade e conflitos que persistem em muitas partes do
mundo. O estudo do colonialismo é fundamental para entender a história e os desafios
contemporâneos enfrentados por muitas nações antigamente colonizadas.

A história da colonização da África encontra-se documentada desde que os fenícios começaram a


estabelecer colónias na costa africana do Mediterrâneo, por volta do século X a.C. Seguiram-se
os gregos a partir do século VIII a.C., os romanos no século II a.C., os vândalos, que tomaram

2
algumas colónias romanas já no século V da nossa era, seguidos pelo Império Bizantino, no
século seguinte, os árabes, no século VII e, finalmente, os estados modernos da Europa, a partir
do século XIV.

Colonialismo na Africa

O colonialismo europeu na África teve um impacto significativo nas línguas africanas e na sua
situação linguística. Como consequência do colonialismo, muitas línguas africanas foram
afectadas de várias maneiras:

Supressão e Marginalização

Durante o período colonial, as línguas africanas foram frequentemente marginalizadas e


suprimidas em favor das línguas europeias, como o português, o francês, o inglês e outras. Isso
ocorreu nas esferas educacional, administrativa e oficial.

Línguas de Instrução

Nas escolas e instituições educacionais coloniais, as línguas europeias frequentemente se


tornaram as línguas de instrução. Isso resultou na exclusão das línguas africanas do sistema
educacional formal, tornando mais difícil para as gerações mais jovens aprender e falar suas
línguas maternas.

Criação de Línguas Pidgin e Crioulas

Em algumas áreas colonizadas, surgiu uma mistura de línguas africanas e europeias, resultando
na criação de línguas pidgin e crioulas. Essas línguas se desenvolveram como formas
simplificadas de comunicação entre grupos linguisticamente diversos e muitas vezes serviram
como línguas de comércio e contacto interétnico.

Divisões Arbitrárias

As fronteiras coloniais frequentemente dividiam grupos étnicos e linguísticos, criando países


com populações linguisticamente diversas. Isso, por sua vez, muitas vezes levava a tensões
linguísticas e étnicas após a independência.

3
Perda de Fluência

A supressão e marginalização das línguas africanas resultaram na perda de fluência e no declínio


de muitas línguas indígenas. Algumas línguas africanas enfrentaram a ameaça de extinção ou o
status de línguas minoritárias em seus próprios países.

Línguas Oficiais

Após a independência, muitos países africanos mantiveram as línguas europeias como línguas
oficiais de governo e administração, o que continuou a limitar o uso e o desenvolvimento das
línguas africanas.

Esforços de Revitalização

Nos últimos anos, tem havido esforços para revitalizar e promover as línguas africanas. Isso
inclui a reintrodução do ensino de línguas africanas nas escolas, o estabelecimento de programas
de promoção cultural e linguística, e a valorização das línguas como parte importante da herança
cultural africana.

Em resumo, o colonialismo europeu na África teve um impacto complexo nas línguas africanas.
Embora muitas línguas tenham sido afectadas negativamente, as comunidades africanas
continuam a se esforçar para preservar e revitalizar suas línguas, reconhecendo a importância
dessas línguas para sua identidade cultural e coesão social.

Conceito de Línguas

O termo "línguas" refere-se ao sistema de comunicação verbal utilizado por grupos de seres
humanos para se comunicarem entre si. As línguas são um componente fundamental da cultura e
da sociedade, e desempenham um papel crucial na transmissão de informações, ideias, valores e
tradições.

Línguas Africanas

Existem várias línguas que pertencem a família de línguas não africanas, como o malgaxe que é
uma língua austronésia e o africâner (que se pode considerar uma língua "nativa") que pertence a
família das línguas indo-europeias.

4
O continente africano impressiona por sua imensidão; extensão geográfica, alta densidade
demográfica, com uma população que ultrapassa a marca de um bilhão de pessoas, distribuídas
em cinquenta e quatro países, e uma enormidade de desigualdades sociais, étnicas; económicas e
políticas, além de magníficas riquezas naturais e um tesouro ainda maior quando se trata de
cultura.

Em termos linguísticos, a África é um continente muito rico, em todo seu território são falados
mais de dois mil idiomas, que corresponde a 30% dos idiomas de todo o planeta, (Afreaka) é
possível mesmo em áreas onde haja a prevalência de um idioma, pois ali também é possível a
ocorrência de regiões onde se fale outro idioma ou dialecto. Até mesmo grupos vizinhos podem
falar línguas distintas. (Geledés), tornando “o multilinguismo uma característica medular do
continente” (Afreaka). Porém, vale ressaltar que o número de línguas pode variar até quase duas
mil e quinhentas linguas, dependendo das diferentes regiões e de diferentes estimativas, além dos
quase oito mil dialetos. Em estudos divulgados pela UNESCO constatou-se a inexistência de
estados monolínguistas na África, havendo países com duas ou três línguas e outros com mais de
quatrocentas, como é o caso da Nigéria, o que aponta para uma realidade muito complexa do
ponto de vista do plurilínguismo, onde quase metade dos países da África subsaariana possui
uma língua que é tida como materna por mais de cinquenta por cento da população e considerada
segunda língua por outra parte dessa mesma população. (UNESCO)

Ainda nesse contexto de multilinguismo, 56 línguas africanas são utilizadas pela administração
pública e outras 63, pelo menos, no sistema judiciário, uma vez que 26 dos países da África
Subsaariana autorizam o uso das línguas africanas em suas legislações. Na área comercial
duzentas e quarenta e duas línguas são utilizadas pelos meios de comunicação. Por não possuir
alfabeto próprio, algumas línguas africanas acabam sendo consideradas como dialectos e outras
se utilizam do alfabeto árabe, como é o caso do haussa e das línguas faladas na África do Sul e
no Zimbábue, cujo ensino fundamental é realizado em suas línguas nacionais e utilizam o
alfabeto latino, usado na Língua Inglesa.

Conhecem-se mais de 1000 línguas africanas, que estão, actualmente, divididas nas seguintes
quatro famílias de línguas:

 línguas afro-asiáticas;

5
 línguas khoisan;
 línguas nigero-congolesas;
 línguas nilo-saarianas.

As Nigero-congolesas, considerada a maior por conta do número de falantes e de línguas,


abrange grande parte da África ao sul do Saara, e tem o bantu entre suas numerosas famílias
linguísticas. A família afro-asiática ou Camito-semítica, predominante no norte da África e
estendendo-se até o sudoeste da Ásia e que abriga 240 línguas e 285 milhões de falantes. A Nilo-
Saariana, que surgiu no deserto do Saara antes da desertificação “No oeste africano, a maior
ramificação é a songai (que abrange diferentes línguas), com mais de três milhões de falantes,
presente na Argélia, Benim, Burkina Faso, Mali, Níger e Nigéria”. No leste africano, os Maassai,
que hoje habitam entre o Quênia e a Tanzânia, representam a ramificação de nome homônimo e
uma que pretende abranger os povos não negroides – os pigmeus, estes são do grupo Coisan
(khoi-Khoi e san, mais conhecidos como bosquímanos e hotentotes). (Geledés), possui cinco
ramificações. Os bosquímanos, um dos primeiros grupos habitantes do planeta, atualmente estão
localizados no sudoeste da África, na região do deserto de Kalahari, nos países Botsuana,
Namíbia e África do Sul; e pequenos territórios de Angola e Zâmbia. (Afreaka).

Línguas não-africanas Faladas na África

Os grupos acima são as famílias de línguas originárias de África. No entanto, existem várias
línguas que pertencem a famílias de línguas não africanas, como o malgaxe que é uma língua
austronésia e o africâner (que se pode considerar uma língua "nativa", embora seja uma língua
germânica) que pertence à família das línguas indo-europeias, assim como o são, no léxico, a
maioria das línguas crioulas de África.

Para além disso, a maior parte dos países africanos adoptou como, pelo menos uma das suas
línguas oficiais, uma língua europeia - o português nas ex-colónias portuguesas, o francês nas
francesas, o espanhol nas espanholas e o inglês nas inglesas - e, neste momento, estas línguas são
faladas pela população urbana desses países e, em geral, por todas as pessoas com uma
escolaridade significativa. A língua alemã e a língua italiana são ainda faladas por minorias
respectivamente na Namíbia e Camarões, que foram colónias alemãs, e na Somália, da qual uma
parte foi colónia italiana.

6
Já no Norte da África, há uma grande predominância do idioma árabe como língua primária da
população (devido a influência de exploradores muçulmanos e árabes que colonizaram a região
originalmente), embora em alguns desses países, pelo menos uma língua de origem europeia
também seja falada, como por exemplo o francês na Argélia e o italiano na Líbia. Na Somália,
Eritréia e Etiópia, cada um dos seus respectivos idiomas oficiais são línguas semíticas.

Dos processos de colonização pelos quais passaram a maioria dos países africanos, os longos
períodos de exploração das nações invasoras se consolidaram em sua dominação por meio da
comunicação. Idiomas como o Francês, o Inglês, o Espanhol e o Português figuraram como base
para a adoção de idiomas oficiais, em parte considerável do continente.

Diante disso, temos que de todos os 55 países africanos, 27 países apresentam apenas línguas
europeias como oficiais, enquanto que os outros 18 apresentam pelo menos uma língua europeia
como oficial. Alguns países como: Argélia, Líbia, Egipto, Etiópia, Marrocos, Mauritânia, Saara
Ocidental, Somália e Tunísia apresentam uma presença linguística europeia praticamente nula
(visto que todos os países citados acima tem como idioma nativo línguas semíticas, tais como o
árabe e amárico).

Quando da independência dos países africanos, muitos optaram pela manutenção do uso dos
idiomas dos países colonizadores, com “a manutenção da memória das línguas originárias da
África” e das influências locais, que acabaram por formar novas línguas como o “crioulo”, em
Maurício no Cabo Verde e o “Pingin”, da Nigéria (Afreaka).

O Estudo das Línguas Africanas

Na Europa, existe um projecto em curso no sentido de criar um currículo comum em línguas e


linguística africana chamado EEQUALL (European Equivalences In African Languages And
Linguistics), que se pretende permitir que os estudantes tenham créditos de diferentes
universidades.

Nos Estados Unidos o ensino de línguas africanas atraem estudantes de herança africana e outros
que buscam uma educação multicultural. Infelizmente, muitos desses programas não têm os
requisitos básicos para funcionarem, pois faltam professores qualificados, instalações,
financiamento público ou privado, livros didácticos que por muitas vezes é o próprio professor

7
que produz, além de aulas regulares. As línguas africanas raramente fazem parte das ofertas
regulares de línguas estrangeiras institucionalizadas. Em algumas cidades, no entanto, os
professores incentivam o ensino de idiomas africanos e mobilizaram o apoio da comunidade, o
envolvimento dos pais e os directores das escolas.

Línguas Oficiais

Além das antigas línguas coloniais do Inglês, Francês, Português, e Espanhol, apenas algumas
línguas são oficiais a nível nacional. Estas são:

 Árabe, na Argélia, Comores, Chade, Djibouti, Egito, Eritreia, Líbia, Mauritânia,


Marrocos, Somália, Sudão, e Tunísia;
 Suaíli na Tanzânia, Quénia, Uganda, Burundi, e Ruanda;
 Nianja no Maláui;
 Amárica na Etiópia;
 Somali na Somália;
 Tigrínia na Eritreia (tecnicamente, uma língua de trabalho);
 Quiniaruanda no Ruanda e intimamente relacionado ao Quirundi em Burundi;
 Sango na CAR;
 Suázi na África do Sul e Essuatíni;
 Malgaxe no Madagáscar;
 Crioulo de Seychelles nas Seicheles;
 Xona no Zimbábue;
 Afrikaans, Ndebele, Xossa, Zulu, Pedi, Soto, Tsuana, suázi, Venda, e Tsonga na África
do Sul, o único país multilíngue com estatuto oficial difundido para as suas línguas
nativas, além do Inglês.

8
Conclusão

Este estudo investigou as complexas interacções entre o colonialismo e as línguas africanas,


revelando um legado que ecoa através das gerações e continua a moldar o presente e o futuro do
continente. À medida que revisamos os principais achados e conclusões deste trabalho, torna-se
evidente que o colonialismo deixou uma marca profunda e multifacetada nas línguas africanas e
nas sociedades que as utilizam.

Uma das descobertas mais notáveis é a resiliência demonstrada pelas línguas africanas ao longo
do tempo. Apesar das tentativas de supressão e imposição de línguas coloniais, muitas línguas
indígenas sobreviveram e, em alguns casos, até floresceram. Essa resiliência é testemunho da
riqueza e vitalidade das culturas africanas, bem como da determinação das comunidades locais
em manter suas identidades linguísticas.

Além disso, este estudo destaca a importância da preservação e revitalização das línguas
africanas no contexto contemporâneo. À medida que as nações africanas buscam consolidar sua
independência e forjar identidades nacionais sólidas, as línguas indígenas desempenham um
papel fundamental na construção de uma base cultural sólida e na promoção da diversidade
linguística como um activo valioso.

9
Bibliografia

CIA - The World Factbook (https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/


mr.html).

(https://web.archive.org/web/20110304001836/http://www.southafrica.info/about/people/
language.htm#). Consultado em 23 de novembro de 2010. Arquivado do original (http://
www.southafrica.info/about/people/language.htm#) em 4 de março de 2011.

10

Você também pode gostar