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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIOS DE ANANINDEUA

FACULDADE DE HISTÓRIA

Prova
Responda à questão elencada

Disciplina: HA01027 - HISTÓRIA, NOÇÕES DE TEMPO E ENSINO DE HISTÓRIA


(2023 .2 - T01)

Ministrante: Profa. Dra. Anna Linhares

Aluno: Carlos Angelo Oliveira Coelho Junior

ANANINDEUA – PA

2022
1) Para você o que significa o tempo, tendo em vista a discussão feita em sala de aula ao
longo do curso e como “Uma História dos conceitos” de Koselleck pode nos ajudar a
pensar o conceito de tempo nas aulas de História?

Singelamente, uma concepção preconcebida de tempo existe em todos que se percebem


enquanto humanos, enquanto marionetes de uma sociedade capitalista. Tida como grandeza
física, de medição e cronometragem das alterações e “andar da carruagem” dos seres vivos na
história, no seu espaço, o tempo sempre foi, para maior parte dos que se mantem longe dos
debates a respeito, apenas isto, uma grandeza incontrolável, que passa sem que ninguém precise
passa-la, que voa sem que precisem lhe dar asas. Benjamin Franklin já dissera que “tempo é
dinheiro”, e isto circula a vida como um todo, uma vez que o homem gasta seu tempo em prol
do dinheiro, na maioria das vezes para se manter, em casos minoritários, mas visíveis, para
explorar.

Perecível e podridão, o tempo corrosivo atual vindo de uma sociedade pela qual mata o que
pode para ter mais dinheiro, perde tempo, ganha tempo, mas de formas que gestam o caos, a
guerra e principalmente a exploração e invasão — para eclodirmos ao contexto. Vladimir Lenin,
afirma em seu livro “Imperialismo: estágio superior do capitalismo”, publicado pela primeira
vez em 1917, que a expansão das nações capitalistas, com o desenvolvimento do capital, uma
vez que se molda para ser um capital financeiro, tornam-se imperialistas, pelo fato do
monopólios de poder, descrito em sua teoria1. Este capital, agora expandido, transporta também
a ideologia dominante, o poder dominante, a burguesia se molda através deste. Ou seja, o
neocolonialismo em sua mais visível progressão, seja com violências, sequestros, imposições
etc. aparece como forma de subjugação, controle das ideias (as de tempo também) e repressão
pelos instrumentos estatais, uma vez que o Estado é subordinado a esta classe. “As ideias da
classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes[...]” (ENGELS, F; MARX, K.)2.

O autor Igor Scaramuzzi evidencia o como essas “ideias dominantes”, citadas por mim,
afetam não somente a forma de produção de bens de uso de uma sociedade, mas também as
estruturas sociais, como as formas de (re)produção de cultura, formas de se pensar o tempo etc.
Autores indígenas e não indígenas, na produção de seus materiais em colaboração, demonstram
o como a noção de tempo começa a ser “adaptada” para se adaptar a sociedade fora de suas
comunidades, uma vez que esses textos, se houver uma linguagem que foge dos ditames que a

1
Ler LENIN, V. I. O Imperialismo: etapa superior do capitalismo, Ed. 2021, p. 36
2
Trecho retirado de A ideologia alemã, 2007. p.72
sociedade não indígena impõe, podem ficar tempos sem saírem da prateleira. A problemática é
que os autores não indígenas que corroboraram para a conclusão do material mitificam “mitos”,
por não haver o registro deste tempo remoto, os quais em cultura e seguimento são as histórias
daquele povo, sendo os mitos levados como um continuum da história. Os “mitos”, em alguns
povos é tido como passagem de tempo, mas permanência histórica, por ser histórias da
ancestralidade destes, “o tempo dos antigos”3. Como é exemplo dos escritos de autores do povo
Tupinikim e Guarani, onde tornam estes “mitos” em histórias4.

Por uma questão que vai além do saber empírico, partindo rumo ao teórico, em uma
discussão que se alonga no tempo, Koselleck nos faz questionar se de fato o “tempo” é tempo.
O que pode ser tempo para meus familiares, em outras regiões do mundo, ou até mesmo na
distância de bairros, o tempo pode ser visto de forma diferente. Para as nações Iorubás, o tempo
é tempo quando se o faz5. O tempo nada mais é que uma construção, de repetições, cíclica, onde
o tempo é feito pelo social, construindo memorias que preservem o coletivo e perpetuem o
passado no presente. Tudo é repetição, o novo assusta, o repetido é presente6. A experiência
que constitui o que é tempo, para os Iorubás. O aprendizado forma, amadurece.

A diversidade de perspectivas de tempo surpreende, e Koselleck nos ajuda a se questionar


mais vezes o como pensar o tempo pode embrionar a diversidade de tempos, temporalidades e
de formações temporais que compõem a experiência humana. O que o autor nos permite pensar
é que quando falarmos de determinadas histórias, estas se tornam mitos pela nossa
preconcepção cognitiva? Uma vez imbuídos dessa contextualização inconsciente da sociedade
em que vivemos, seria possível desassociar-se de uma perspectiva preconceituosa que cerca os
estudos acadêmicos e a sociedade como um todo etc? O tempo passa a ser algo a se pensar antes
mesmo de se tê-lo. Gerando questões a serem discutidas e debatidas, podendo levar sempre a
sala de aula esta ideia de questionar-se se aquele tempo, tempo presente, formato de se ver o
tempo passar, é o único que existe.

3
É interessante dizer que estas narrativas míticas, como citada pelo autor, conduzem a forma o como aquela
sociedade se conduz. Uma vez que rege seu povo conforme tais “mitos”. SCARAMUZZI, 2010, p. 86
4
SCARAMUZZI, Igor, 2010, p. 83-84
5
PRANDI, Reginaldo, 2001, p. 46
6
PRANDI, Reginaldo, 2001, p. 52
REFERÊNCIAS:

KOSELLECK, Reinhart. UMA HISTÓRIA DOS CONCEITOS: problemas teóricos e


práticos. v. 5 n. 10 (1992): Teoria e História.

PRANDI, Reginaldo. O CANDOMBLÉ E O TEMPO: Concepções de tempo, saber e


autoridade da África para as religiões afro-brasileiras. Ed. RBCS, 2001.

LENIN, Vladimir Ilyich. O IMPERIALISMO: etapa superior do capitalismo. Ed. Boitempo,


2021.

SCARAMUZZI, Igor. Os tempos da história: temporalidades, mito e história em matérias


didáticos de autores indígenas. Soc. E Cult. Goiânia, v. 13, n 1, p. 79-89, 2010.

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