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• Ela e especialmente importante pra

Mundo analisar momentos de crise ou


desordem;
• Ele tem o foco em diagnosticar as
Contemporâneo ordens e desordem no tempo;
Mudanças regimes
Regimes historicidade • 1989 significaria antes o fim (ou pelo
menos uma nítida quebra) do que
denomino o regime moderno de
• O autor do texto e o François Hartog. historicidade (regime d'historicité),
que começou por volta de fins do
O conceito: regimes de século XVIII (Die Neuzeit, segundo
historicidade as análises de R. Koselleck);
• Categoria heristico do tipo ideal, ou • 1789-1989, grosso modo, podem ser
seja, não e uma coisa física e sim selecionadas como duas datas
categoria de análise que existe na simbólicas;
cabeça do historiador e serve para
• Ele não muda do dia para noite e um
comparar a relação de nos com o
presente, passado e futuro em processo dúbio, ou seja, você tem
diferentes momentos históricos; que abraçar ele e no outro você nega
tudo ao mesmo tempo;
• Categoria heurística que deve ser
• Exemplos: Revolução Francesa
instrumentalizada para colocar foco
nas relações com o tempo, em outras apelava a um passado evocando
palavras, formas da experiência com Roma, Plutarco, mas mirava um
o tempo, aqui e lá, ontem e hoje. futuro diferente, livre do modelo de
Maneiras de ser no tempo (HARTOG, sociedade do Antigo Regime.
2019, p. 29); Regime Moderno X Regime
◦ ou seja são a forma como uma Passadista
sociedade as relaciona com o
• A expressão moderno regime
tempo, e como essa relação afeta
significa um período em que o ponto
essas sociedades. Em um regime
de vista do futuro domina. A palavra-
de historicidade, um tempo (que
chave é progresso;
poser o passado, presente ou o
futuro) tem predominância sobre • A História é entendida como
os outros; processo e o tempo passa a ser
direcionando a um fim (ideia de
progressão). Em um regime Algum dia, no futuro, alguém
passadista, o passado serve como estabelecerá uma lei. Ou, para
exemplo, a história do que se passou empregar uma formulação típica de
orienta a vida (Magistra vitae, fins do século XIX, algum dia no
Cícero); futuro virá o dia glorioso da
• Em um regime futurista, o passado
"synthèse";
pode ser um fardo, pois vem dele • O presente não tenta mais imitar o
uma série de problemas enfrentados passado, o futuro que joga no
no presente: passado a própria presença. No
◦ “A tradição de todas as gerações
regime futurista, a expectativa de
mortas oprime como um pesadelo melhora, aprimoramento das
o cérebro dos vivos.”, Karl Marx sociedades não vem mais do passado
em sua obra “18 Brumário”. e sim do futuro;
• No Brasil de 1822, buscava-se romper
• No regime moderno, no lugar de
diversas histórias, a história vem a com o passado colonial e criar um
ser compreendida como um processo futuro livre das amarras vividas em
único: "além das histórias há História", um passado bem presente.
escreveu Droysen; O contexto do Pós-guerra
• A partir de então, os acontecimentos • Palavras-chave entram na ordem do
não ocorrem apenas no tempo, mas dia: reconstrução, modernização,
pelo tempo e a história torna-se planificação, competição, confronto
menos um relato de exemplos, a entre Leste e Oeste, mudanças
disciplina se torna uma narrativa do econômicas e técnicas ou mesmo
unívoco; revoluções tiveram parte importante
• Consequentemente, não há mais na situação da Revolução e do novo
lições diretas da história, mas ganha- mundo socialista;
se cada vez mais ansiedade quanto à • Em suma, o Progresso se
previsão, quanto ao futuro. O tempo apresentava como uma aceleração da
fora tornado acelerado; aceleração anterior. O "Futuro
• Na historia magistra, a exemplaridade radioso" socialista, o "Milagre alemão"
vinculava o passado ao futuro capitalista ou "Os Trinta Anos
enquanto um modelo a ser rivalizado gloriosos" francês foram os
pelo leitor; destaques! De tal conjunção pode-se,
entretanto, constatar que o futuro
• Na moderna concepção de história, a
ocupava cada vez menos lugar
exemplaridade cede lugar ao unívoco. comparado ao presente, que cada vez
mais ganhava o primeiro plano: o • Os regimes servem para
presente e nada além do presente; identificarmos as ordens e desordens
• "Tout, tout de suite" (Tudo, tudo
do tempo, essa categoria serve para
agora) diziam os muros de Paris em apreendermos os momentos de crise;
maio de 1968. E logo depois, apareceu • É uma forma da história dar resposta
a formulação: "Sem Futuro"; para as questões sobre o tempo e de
• Vieram desilusões, o fim das tratar nossa relação com o tempo.
esperanças revolucionárias, a crise A crítica
econômica de 1974, e com eles várias
respostas, mais ou menos • Zoltán Simon acredita que o
desesperadas ou, por vezes, cínicas: o presentismo teria se inciado logo
presente, e nada além (diferente do após o fim da Segunda Guerra
humanista carpe diem.); Mundial, pois houve, em alguns
aspectos, um esgotamento de
• Presentismo: iniciado nos anos 1980, determinadas ideologias e utopias
com uma série de discussões sobre desde então, e o futurismo estaria na
memórias vindo à tona por causa do crença de que o avanço tecnológico
fim de ditaduras, queda do Muro de nos salvaria de problemas vindouros;
Berlin e outras transformações ao
redor do mundo, o regime de • O modelo de regime presentista
historicidade teria se transformado apresentado por Hartog a partir de
mais uma vez.; uma perspectiva eurocêntrica e que
tenta universalizar a experiência
• Para Hartog, o presente teria um fim francesa para o restante do mundo;
em si mesmo, e quando se utilizava
um dos tempos (futuro ou passado), • Regime de historicidade não daria
fazia-se em relação ao presente, de conta, para alguns críticos, de
forma utilitarista (parte do presente explicar dimensões individuais e
e retorna a ele), sendo o passado um coletivas ao mesmo tempo, pois a
lugar mítico, idealizado e o futuro, primeira seria subjetiva e a segunda,
uma promessa catastrófica; sociológica e está acima de como se
vive a relação com o tempo a partir
• O passado é usado para legitimar o de uma lógica pessoal;
presente e o futuro é imaginado de
uma forma apocalíptica. A esperança • Daí, mesmo que tentemos articular
é no aqui e agora. as duas noções, um conceito que
tenta uniformizar as duas dimensões
Por que/para que formular essa não abarca toda a complexidade da
categoria de análise? realidade.
como o globo terrestre foi unificado
pela primeira vez pela sociedade
burguesa, a crise atual também se
desenrola no horizonte de um auto-
Mundo entendimento histórico-filosófico,
predominantemente utópico (.. ) A
tecnologia de comunicação sobre a
Contemporâneo superfície ilimitada do globo
conduziu à onipresença de forças que
submetem tudo a cada um e cada
A patogênese do mundo burguês um a tudo. Ao mesmo tempo, além
dos espaços e dos tempos históricos,
e o fenômeno da despolitização explora-se o espaço planetário, ainda
que seja apenas para fazer com que
na Europa contemporânea a humanidade vá pelos ares no
• O autor do texto e Reinhart Koselleck processo em que ela mesma se
(1923-2009), alemão, um dos empenhou”;
historiadores mais importantes do • “A crise política (que, um a vez
século XX; deflagrada, exige uma decisão) e as
• Ele realizou contribuições pioneiras respectivas filosofias da história (em
para a história conceitual; cujo nome tenta-se antecipar esta
decisão, influenciá-la, orientá-la ou,
• Ficou conhecido pela sua tese de em caso de catástrofe, evitá-la)
doutorado Críse e Crise (1954), formam um único fenômeno
fortemente influenciada pelo histórico, cuja raiz deve ser
pensamento de Carl Schmitt; procurada no século XVIII”
Introdução: Koselleck e a crise (Koselleck, Crítica e Crise, p. 9).
política do pós-guerra • "Situando as origens dessa verdadeira
“patologia” moderna na Europa do
• Contesto pós-guerra;
século XVIII, o historiador se
• “De um ponto de vista histórico, a concentrava em desvelar os
atual crise mundial resulta da contornos daquela que teria sido a
história europeia. A história europeia pretensão burguesa em criar uma
expandiu-se em história mundial e lógica utópica totalizante para as
cumpriu-se nela, ao fazer com que o suas filosofias do progresso em
mundo inteiro ingressasse em um consonância com o ideário iluminista.
estado de crise permanente. Assim Alijada do poder pelo Estado
absolutista no contexto das guerras fato de que se viam destituídos ou
civis religiosas, a intelectualidade privados de qualquer liberdade de
burguesa teria sedimentado o decisão política no Estado moderno,
terreno de um tipo específico de representado apenas pela pessoa do
crítica moral ao tatus quo político monarca absoluto. Nesta situação
europeu do período. inicial estava o desafio comum que, a
• Distante da práxis política, a
princípio, tornou-se o elemento de
burguesia ascendente teria ligação da nova sociedade".
construído aquilo que Koselleck • "Um grupo diametralmente oposto (à
denominava como uma espécie de nobreza), mas poderoso, da nova
mundo moral que, a partir de uma sociedade desenvolveu-se sob a
nascente – livre de responsabilidades Regência. Era formado por
e cada vez mais influente – esfera negociantes, banqueiros, coletores de
privada burguesa, começava a erigir impostos e homens de negócios.
críticas racionalmente orientadas aos Eram burgueses que trabalhavam e
fundamentos do Estado absolutista" especulavam, alcançavam riqueza e
(Marcelo Durão & Julia Perini, “Crítica prestígio social e frequentemente
à utopia/crítica à modernidade”, p. compravam títulos de nobreza;
314). desempenhavam um papel de
• Burgueses do século 18 pro 19
liderança na economia, mas de modo
querem unificar o tempo; algum na política" (Koselleck, Crítica
e Crise, p. 57).
• Mundo moral = parte da esfera
privada; A dialética entre moral e política
• Moral oposta a politica;
nas sociedades secretas da
burguesia
A compreensão que os iluministas
• "A tensão entre a crescente
tinham de si mesmos e a resposta importância social, de um lado, e a
à sua situação dentro do impossibilidade de ter expressão
Estado absolutista política, de outro, determinava a
situação histórica em que se
• "O apogeu do poder absolutista, a construía a nova sociedade. Esta
época de Luís XIV, pertence na situação seria decisiva para o seu
França à constelação em que nasceu caráter e desenvolvimento. A
a nova elite, composta por grupos segmentação crítica entre moral e
diversos, até mesmo heterogêneos, política, invocada pela inteligência
cuja característica comum residia no
burguesa, resultava desta diferença e, posição moral, alcançada no âmbito
ao mesmo tempo, a acentuava". das lojas — “A prática do que
• "Os homens da sociedade, excluídos
comumente chamamos lei natural faz
da política, reuniam-se em locais três quartos e meio do maçom” — , a
“apolíticos” — na bolsa de valores, nos ausência da política, em nome da
cafés ou nas academias — onde se moral, revela-se como uma presença
praticavam as novas ciências, sem política indireta (Koselleck, Crítica e
sucumbir à autoridade eclesiástico- Crise, p. 74).
estatal de uma Sorbonne, ou então O caráter utópico da crítica
nos clubes, onde não podiam iluminista
estabelecer o direito mas, pelo
menos, podiam discutir o direito • “O crítico está acima dos partidos.
vigente; nos salões, onde o espírito Sua tarefa não é “destruir”, mas
podia reinar livremente, sem o “estabelecer” a verdade. Entra em
caráter oficial das cátedras e das concorrência com o Estado da razão,
chancelarias, ou ainda nas bibliotecas que se ergue acima dos partidos
e sociedades literárias, onde se religiosos. Mas ele não cria um a
dedicavam à arte e à ciência, mas nova ordem hic et nunc. Ao contrário,
não à política estatal" (Koselleck, o reino da crítica só se evidencia por
Crítica e Crise, p.60). cima dos partidos, em um processo
que se renova infinitamente. Assim,
• "Ao rejeitar a política, os maçons
em Bayle, o crítico só tem uma
estabelecem-se, ao mesmo tempo,
obrigação: a obrigação em relação ao
como consciência da política. A
futuro”.
separação entre política e moral
implicava um veredito moral sobre a • “Cada erro descoberto, cada
política vigente. Enquanto a política obstáculo superado faz aflorar novos
dos príncipes absolutistas reinou, o obstáculos, e assim a obstinação
segredo encobria os maçons com o humana de esmiuçar tudo inventa
manto da inocência moral e da métodos cada vez mais sutis para
ausência política. Eles pensavam, dominar os males e eliminar a
iluminavam-se, representavam o desordem que se instaura
espírito, eram portadores da luz. Ao continuamente. Não havia mais nada
lado da ordem política vigente, as que pudesse contentar a razão. A
lojas estabelecem um sistema de crítica transformou o futuro em uma
valores inteiramente novo. Mas, como ressaca, que arrasta o presente sob
a realidade política é apreciada os pés do crítico. Nessas
justamente como a negação de um a circunstâncias, só restava ao crítico
descobrir no progresso a estrutura Crítica, dualismo e eliminação da
temporal correspondente ao seu diferença
modo de ser” (Koselleck, Crítica e
Crise, p. 74). • "No início, a crítica funda-se nesse
dualismo para mover seu processo
apolítico, dos prós e dos contras,
primeiramente contra as religiões.
Em seguida, envolveu cada vez mais
o Estado nesse processo, mas ao
Neutralidade e crítica ao poder no mesmo tempo acentuou o dualismo
pensamento iluminista para transformar-se, de modo
aparentemente apolítico, em crítica
• "Ao crítico, preso às suas posições
política.
dualistas, escapa o significado
histórico do processo que • “A hipocrisia era o véu que o
desencadeou. O crítico, diz a Iluminismo, sempre ocupado em
Enciclopédie, é um guia que sabe tecê-lo, portava e nunca foi capaz de
distinguir a verdade e a opinião, o rasgar”
direito e a autoridade, o dever e o • "As distinções dualistas usadas pelo
interesse, a virtude e a fama. Em sua crítico revelaram-se paradoxais:
formulação dualista, todos estes serviram de fermento para eliminar
conceitos deixam de lado a todas as diferenças e contradições,
problemática política que lhes é isto é, para abolir as tensões,
inerente. A verdade, o dever, a construídas de maneira dualista, que
virtude e o direito situam-se, de conferiam ao Iluminismo a sua
antemão, de um único lado." evidência" (Koselleck, Crítica e Crise,
• "Julgar criticamente é nivelar tudo, p. 108-109).
reduzir até mesmo o rei; é, “em um a
Conclusão: o apagamento da
palavra, reduzir o homem, seja quem
for, à condição de cidadão”. Os politica pela filosofia da história
iluministas desmascaram, reduzem, • "Coube à filosofia burguesa da
revelam, sem perceber, contudo, que história fazer com que o
o conteúdo do que é desmascarado encobrimento deste politicum
se dissolve. Aos olhos do iluminista permanecesse oculto enquanto tal.
hipócrita, poder é sempre abuso de Mesmo quando a guerra civil se
poder" (Koselleck, Crítica e Crise, p. torna uma ameaça iminente, a crise
105). é conjurada pelo tribunal moral que
representa o desfecho histórico
dotado de sentido, como se fosse o
fim somente do processo crítico que
a burguesia moveu contra o Estado"
(Koselleck, Crítica e Crise, p. 110).
• "O fato de que a conexão entre a
crítica praticada e a crise emergente
tenha escapado ao século XVIII (…)
conduziu à presente tese: o processo
crítico do iluminismo conjurou a crise
na medida em que o sentido político
dessa crise permaneceu encoberto. A
crise se agravava na mesma medida
em que a filosofia da história a
obscurecia. A crise não era concebida
politicamente, mas, ao contrário,
permanecia oculta pelas imagens
histórico-filosóficas do futuro, diante
das quais os eventos cotidianos
esmoreciam" (Koselleck, Crítica e
Crise, p. 17).

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