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REGIMES DE HISTORICIDADE

O que é um regime de historicidade:

Não é um conceito êmico ou ético concreto, ele é uma categoria heurística

Mas o que são esses conceitos?

Os conceitos êmicos seriam conceitos que pertencem ao outro, são conceitos que achamos
nas fontes e que são bem explorados na história dos conceitos para entender como os
conceitos mudam ao longo do tempo. Isso é feito por meio de índices de instabilidades
semânticas que são historicamente situados. Como por exemplo os dicionários e enciclopédias
que ajudam a entender como os conceitos mudam de significado no passar do tempo. Quando
você para pra entender esses conceitos a partir de como eles eram entendidos no passado
pelas sociedades aos quais você está estudando, você começa a entender um pouco melhor as
culturas do passado através dos olhos dessas próprias culturas.

Conceitos éticos estão relacionados as abstrações que nós historiadores fazemos no presente
para interpretar e lidar com os conceitos no presente. Podemos dividir os conceitos éticos em
dois tipos: os concretos e os ideais. Com eles, fazemos perguntas ao outro, e esse outro pode
ser desde as fontes antigas até comunidades do presente nas quais a gente estuda e das quais
a gente tenta manter um distanciamento cientifico durante o desenvolvimento da pesquisa. O
outro sempre responde sobre ele mesmo no modo êmico, porque lembrando, é como uma
sociedade ou grupo ou até uma fonte enxerga a si mesmo e a sua sociedade, o seu tempo.
Então, o outro sempre responde no modo êmico, pelo entendimento que ele tem, pela sua
própria interpretação de si e do mundo.

O conceito concreto seria a descrição realista dos fenômenos. E alguns conceitos do


materialismo histórico tentam se colocar como conceitos concretos, como um modo de
produção, classe social, entre outras. Você parte da realidade pra pensar nesses conceitos.
Você faz uma abstração pra pensar esse conceito e depois você volta ao real para analisar o
conceito em relação ao objeto ou a sociedade. E então você cria uma reflexão usando esse
conceito como ferramenta. Existe um debate se alguns conceitos concretos são de fato
concretos, ou seriam conceitos ideais. Alguns historiadores da antiguidade, por exemplo,
rejeitam, conceitos do marxismo ortodoxo como modo de produção escravista em Roma,
modo de produção asiático. Porque eles entendem que esse conceitos não fariam sentido
sendo aplicados nesses momentos históricos. Pelo menos não como um conceito concreto.
Mas isso é só pra sabermos que há uma discordância entre certos conceitos sobre se eles
seriam concretos ou não. Mas a divisão de conceitos entre ideais e concretos existe.

Além dos conceitos concretos, temos os ideais, as categorias heurísticas. As categorias


heurísticas não se referem a coisas que existiram na realidade passado, pelo menos não no
modo puro como a gente constrói, não é uma coisa. O valor heurístico do conceito é definido
pela capacidade que ele tem de realizar descobertas cientifica. Por exemplo, em uma banca de
mestrado uma aluna desenvolveu o conceito de tolerância pra falar de políticas de conversões
forçadas que eram impostas pelos mulçumanos aos judeus na península ibérica entre os
séculos XII e XIII. Nesse trabalho não estava em questão o conceito de tolerância como ele era
entendido na idade média desses séculos na península ibérica, esses conceitos eram
entendidos de um jeito. O que a aluna tentou fazer, foi construir uma categoria de tolerância a
partir de referências modernas, que ajudem a entender e explicar o passado. Não é um
trabalho e historia dos conceitos, é um trabalho que problematiza o que a gente entende por
tolerância, aplicando ao passado, entendendo o distanciamento e entendendo que você não
deve cometer anacronismos (atribuir a uma época ou a um personagem ideias e sentimentos
que são de outra época), mas usando essa categoria como uma ferramenta para entender
melhor o passado, ou seja, o que a gente entende por tolerância vira um modelo, uma
categoria heurística pra se fazer descobertas em cima do objeto que está sendo estudado.
Consequentemente, regime de historicidade é uma categoria heurística do tipo ideal (uma
ferramenta intelectual de compreensão da nossa relação com o tempo e não uma coisa). Ela
não tem uma existência como uma coisa (você não olha pela janela e vê um regime de
historicidade estacionado na frente da sua casa). Ele não é uma coisa física, e sim uma
categoria de analise que existe na cabeça do historiador e serve pra comparar a relação que
nós fazemos com o passado, presente e futuro nos diferentes momentos da história.

Conceitos históricos são ferramentas de compreensão da história, do mundo, das relações


humanas e tal.

A categoria de regimes de historicidade foi desenvolvida por François Hartog a partir de duas
principais influências, o historiador Reinhart Koselleck e o antropólogo Marshall Sahlins.

REGIME DE HISTORICIDADE seria a forma como uma sociedade se relaciona com o tempo e
como essa relação com o tempo afeta essas sociedades.

Num regime de historicidade, um tempo (que pode ser passado, presente e futuro) tem
predominância sobre os outros tempos.

Essa ferramenta (regime de historicidade) seria especialmente útil pra analisar momentos de
crise ou desordem no tempo. Exemplo: em um contexto histórico onde o passado é
considerado dominante, essa sociedade teria um regime de historicidade passadista, numa
sociedade onde o presente predomina o regime de historicidade dominante seria o presentista
e por aí vai...

Fica mais fácil de entender quando você aplica essa noção de regime de historicidade a
diferentes momentos da história.

Hartog chama essa forma de se relacionar com o tempo que as sociedades tem de
EXPERIENCIA DO TEMPO.

Experiência do tempo diz respeito a um fenômeno que é subjetivo, mas também concreto.
Como os seres humanos ao longo do tempo sentiram e expressaram e agiram de acordo com
as suas relações entre o passado, o presente e o futuro.

É subjetivo porque cada pessoal se relaciona de um jeito, mas é concreto porque essa relação
existe e afeta diretamente a nossa vida. Não só como indivíduos, mas também como
sociedade.
Hartog argumenta que no mundo antigo o regime de historicidade era passadista, ou seja,
focado no passado. Porque? Cicero definia a história como ”testemunha dos tempos, luz da
verdade, vida da memória, mestra da vida, mensageira do passado”. A história era mestra da
vida, ou seja, a sociedade aprenderia com a história. E é mais ou menos dessa forma de se
pensar história que vem aquela ideia de que você tem que aprender com os erros do passado
pra não repetir esses erros.

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