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Optimização do processo de produção numa indústria de

detergentes

Cláudia Filipa Pinto da Costa

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Química

Orientadores: Profª. Maria das Mercedes Leote Tavares Esquível e Eng. João
Mendes Bruno da Costa

Jurí

Presidente: Prof. Sebastião Manuel Tavares Silva Alves


Orientador: Profª. Maria das Mercedes Leote Tavares Esquível
Vogal: Profª. Maria de Fátima Coelho Rosa

Junho, 2014
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Agradecimentos

Este espaço é dedicado às pessoas que, de alguma maneira, deram a sua contribuição
para que esta tese fosse realizada. A todas elas deixo o meu mais sincero agradecimento.

Em primeiro lugar gostaria de agradecer à Professora Mercedes Esquível por ter tornado este
estágio possível. Desde sempre foi minha intenção realizar um estágio na indústria. Muito
obrigada pelas linhas orientadoras e pela disponibilidade demonstrada durante e após a
realização do estágio.

Gostaria de disponibilizar as próximas linhas para a equipa que encontrei na empresa, em


geral, queria agradecer a todos que se mostraram disponíveis para responder às minhas
necessidades e em particular ao Engenheiro João Bruno da Costa pela oportunidade de
ingressar neste estágio. Ao Engenheiro António Teixeira, por toda a ajuda respeitante ao
processo produtivo. Ao Sr. Ribeiro por todo o apoio e saber que me transmitiu respeitante à
química dos detergentes, e por se ter mostrado, desde o primeiro dia, disponível para me
ajudar. Gostaria de agradecer, também, ao Alexandre e João pelo companheirismo e pela
ajuda em tudo o que necessitei. Às senhoras, Isabel, Mimi e Guiomar, ao Nicolau e Sr.
Condesso pela simpatia e boa disposição.

Não posso deixar escapar a oportunidade de agradecer aos meus pais, por todo o apoio
que me deram para realizar mais uma tese de mestrado, mesmo quando os tempos foram
adversos, a eles deixo o meu mais sincero e especial obrigado. Á minha avó pelo apoio
incondicional que sempre demonstrou. Ao meu namorado agradeço a paciência e a
capacidade de me alegrar nos dias mais complicados. A todos, deixo o meu mais sincero e
especial obrigado.

A todos os outros que alguma vez se cruzaram no meu caminho e de alguma maneira me
ensinaram qualquer coisa.

Muito Obrigada a Todos.

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Resumo

O bom funcionamento de unidades fabris requer o estudo e desenvolvimento dos produtos,


avaliando a sua qualidade e segurança para os consumidores, bem como, a sua
estabilidade, progredindo para a produção industrial.

Este trabalho teve como objectivo a optimização do processo de produção numa indústria
de detergentes, sendo que englobou diversos tópicos inerentes a este tema: Revisão e
alteração de métodos analíticos destinados à determinação de características físicas e
químicas dos produtos; Controlo estatístico do processo de diferentes produtos; Controlo
estatístico dos produtos pré-embalados; Testes de estabilidade de produtos ao longo de um
curto período de tempo, de modo a garantir a qualidade dos mesmos; Melhoria do
detergente de lavagem manual de loiça; Desenvolvimento de um gel abrasivo para
limpeza de mãos; Estudo sobre produtos da concorrência.

A revisão dos métodos analíticos melhorou o controlo de qualidade efectuado aos


produtos, no que respeita às determinações da viscosidade e da densidade. O controlo
estatístico dos produtos pré-embalados possibilitou a determinação dos critérios decisivos
para os sistemas de enchimento presentes na empresa. Com o estudo efectuado aos
produtos da concorrência, quantificaram-se os ingredientes presentes nos mesmos de modo
a perceber melhor o seu funcionamento. Os testes de estabilidade realizados permitiram
detectar instabilidade nos valores de pH no detergente de lavagem manual da loiça. Este
problema foi solucionado adicionando agentes sequestrantes à formulação. Por fim, foi
possível desenvolver um gel abrasivo de lavagem de mãos para os ramos industriais e de
oficinas.

Palavras-Chave: Qualidade, Controlo Estatístico, Estabilidade, Melhoria de produtos,

Detergentes

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Abstract

The operation of industrial plants requires the study and development of products, assessing
their quality and safety for consumers, as well as its stability, progressing into industrial
production.

This work aimed the optimization of the production process in the detergent industry, and
encompassed several topics related to this theme: Revision and amendment of analytical
methods related to the determination of physical and chemical characteristics of the
products; Statistical process control of different products; Statistical control of pre-packaged
products; Stability tests of products throughout a short period of time, to ensure their quality;
Improvement of the manual dishwashing detergent; Development of an abrasive hand
cleaning gel; Study on competitive products.

The revision of the analytical methods improved the quality control performed on products,
regarding the determination of viscosity and density. The statistical control of pre-packaged
products enabled the determination of the main criteria to improve the filling systems of the
company. With the study on competitive products, quantification of the ingredients present
in these products was assessed. Thus, one could better understand its functioning. The stability
tests performed enabled the detection of instability in the pH values of the manual
dishwashing detergent. This problem was solved by adding chelating agents to the
formulation. Finally, it was possible to develop an abrasive hand cleaning gel for use in
industrial fields and workshops.

Keywords: Quality, Statistical Control, Stability, Improvement of products, Detergents.

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Lista de Abreviações

cm Centímetro
cP Centipoise
Cp Capacidade do Processo
Cpk Índice da capacidade do processo
EDTA Ácido Etilenodiamino Tetra-acético
g Grama
KCl Cloreto de Potássio
Kg Quilograma
L Litro
LASNa Dodecil Benzeno Sulfonato de Sódio
LIA Limite Inferior de Aviso
LSA Limite Superior de Aviso
LIC Limite Inferior de Controlo
LSC Limite Superior de Controlo
LESS Lauril Éter Sulfato de Sódio
LIE Limite Inferior de Especificação
LSE Limite Superior de Especificação
m Metro
mL Mililitro
MM Peso molecular
m/m Concentração massa/massa
N Normal
NaCl Cloreto de Sódio
NP Norma Portuguesa
ºC Graus Celsius
pH Potencial de Hidrogénio
R Amplitude
rpm Rotação por minuto
̅ Média Aritmética
 Desvio-padrão

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Índice de Conteúdos

1. Enquadramento ..............................................................................................1

1.1 Objectivos do estágio ............................................................................................... 2

1.2 Actividades realizadas .............................................................................................. 2

2. A Empresa........................................................................................................3

2.1 O Grupo ....................................................................................................................... 4


2.1.1 História do grupo .................................................................................................................... 4
2.1.2 A empresa acolhedora......................................................................................................... 6

3. Introdução Teórica .........................................................................................9

3.1 Detergentes............................................................................................................... 10
3.1.1 Tensoactivos .......................................................................................................................... 10
3.1.2 Modificadores reológicos (Espessantes) ......................................................................... 13
3.1.3 Desinfecção e preservação dos detergentes .............................................................. 14
3.1.4 Corantes ................................................................................................................................. 15
3.1.5 Perfumes ................................................................................................................................. 16

3.2 Controlo Estatístico do Processo ............................................................................ 16


3.2.1 Cartas de Controlo .............................................................................................................. 17
3.2.2 Cartas de controlo por variáveis ...................................................................................... 18
3.2.3 Estudos de Capacidade de Processo ............................................................................. 19

4. Processo Produtivo ........................................................................................ 23

4.1 O Processo Produtivo ............................................................................................... 24


4.1.1 Misturador de sólidos ........................................................................................................... 26
4.1.2 Unidade de desmineralização de água ........................................................................ 26
4.1.3 Zona de Embalamento ....................................................................................................... 27

5. Resultados e Discussão ................................................................................ 29

5.1 Métodos Analíticos de Controlo de Qualidade de Detergentes ..................... 30


5.1.1 Determinação do pH .......................................................................................................... 30
5.1.2 Determinação da densidade de Produtos Líquidos .................................................... 32

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5.1.1 Determinação da densidade aparente (Produtos em Pó) ....................................... 34
5.1.2 Determinação da Viscosidade ......................................................................................... 36
5.1.3 Determinação da Matéria Activa Aniónica .................................................................. 38
5.1.4 Determinação do Cloro Activo ........................................................................................ 40

5.2 Controlo Estatístico do processo ............................................................................ 42


5.2.1 Produto I.................................................................................................................................. 42
5.2.2 Produto L................................................................................................................................. 44
5.2.3 Produto O ............................................................................................................................... 46
5.2.4 Produto C ............................................................................................................................... 48
5.2.5 Produto F................................................................................................................................. 51

5.3 Controlo Estatístico dos Pré-Embalados................................................................ 52


5.3.1 Produto Q de 500mL ............................................................................................................ 53
5.3.2 Produto C de 5L .................................................................................................................... 53
5.3.3 Produto C de 10L .................................................................................................................. 55
5.3.4 Produto I de 5L ...................................................................................................................... 55
5.3.5 Produto I de 10L .................................................................................................................... 57

5.4 Estudo da Estabilidade dos produtos .................................................................... 58


5.4.1 Produto C ............................................................................................................................... 59
5.4.2 Produto O ............................................................................................................................... 62
5.4.3 Produtos Clorados ................................................................................................................ 63

5.5 Desenvolvimento de gel das mãos abrasivo ....................................................... 65

5.6 Análise a produtos da concorrência .................................................................... 67

6. Conclusão e Trabalho Futuro ....................................................................... 71

6.1 Conclusões ................................................................................................................ 72

6.2 Sugestões para Trabalho Futuro ............................................................................. 74

7. Bibliografia ..................................................................................................... 75

8. Anexos ........................................................................................................... 77

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Índice de Figuras

FIGURA 2.1 – A EMPRESA. A) STOCK DE PRODUTO ACABADO; B) TANQUES DE ARMAZENAMENTO DE ÁGUA. ................................ 6
FIGURA 3.1 – ESTRUTURA DE UM AGENTE TENSOACTIVO [3]. .....................................................................................................10
FIGURA 3.2 – FASES DA DETERGÊNCIA. 1- ADIÇÃO DA MOLÉCULA DE TENSOACTIVO AO BANHO DE LAVAGEM; 2- M OLHAGEM DA
SUPERFÍCIE SUJA; 3- REMOÇÃO DA SUJIDADE DA SUPERFÍCIE; 4- INTEGRAÇÃO ESTÁVEL DAS PARTÍCULAS DE SUJIDADE NO

BANHO DE LAVAGEM (I MAGEM ADAPTADA DE [9]). .....................................................................................................11


FIGURA 3.3 – REPRESENTAÇÕES ESQUEMÁTICAS DE DOIS TIPOS DE TENSOACTIVOS USADOS NA INDÚSTRIA DOS DETERGENTES.
IMAGEM 1 REPRESENTA A MOLÉCULA DE LESS [10] E A IMAGEM 2 REPRESENTA A MOLÉCULA DE LASNA [1]. ........................12
FIGURA 3.4 – ESTRUTURA DO CLORETO DE BENZETÓNIO (HYAMINE 1622) [15]. .........................................................................12
FIGURA 3.5 – DEPENDÊNCIA DO PH DOS TENSOACTIVOS ANFOTÉRICOS (I MAGEM ADAPTADA DE [7]). ......................................13
FIGURA 3.6 – CARTA DE CONTROLO TÍPICA (I MAGEM ADAPTADA DE [4]). .............................................................................19
FIGURA 4.1 – REACTOR DE 5M3 DESTINADO À PRODUÇÃO DO PRODUTO C. ...........................................................................24
FIGURA 4.2 – BALANÇAS DE PESAGEM NA ZONA DE PRODUÇÃO. ..........................................................................................25
FIGURA 4.3 – REACTOR DE 2M3 COM CÉLULA DE CARGA E AGITADOR. ...................................................................................25
FIGURA 4.4 – MISTURADOR DE SÓLIDOS VRIECO. .................................................................................................................26
FIGURA 4.5 – UNIDADE DE DESMINERALIZAÇÃO. ...................................................................................................................27
FIGURA 4.6 – PALETE DE 20L COM FILME RETRÁCTIL À DIREITA E PALETE DE 5L SEM FILME RETRÁCTIL À ESQUERDA. .........................27
FIGURA 4.7 – M ÁQUINA DE ENCHIMENTO AUTOMÁTICO. .......................................................................................................28
FIGURA 4.8 – M ÁQUINA DE ENCHIMENTO AUTOMÁTICO. .......................................................................................................28
FIGURA 5.1 – MEDIDOR DE PH............................................................................................................................................30
FIGURA 5.2 – MEDIÇÃO POR UM DENSÍMETRO HIDRÓMETRO NAHITA. .....................................................................................32
FIGURA 5.3 – DETERMINAÇÃO DA DENSIDADE PELO MÉTODO DO PICNÓMETRO. ......................................................................33
FIGURA 5.4 – COMPARAÇÃO DOS VALORES DE DENSIDADE PARA OS TRÊS MÉTODOS USADOS PARA O PRODUTO C. ...................34
FIGURA 5.5 – COMPARAÇÃO DOS VALORES DE DENSIDADE PARA OS TRÊS MÉTODOS USADOS PARA O PRODUTO O. ...................34
FIGURA 5.6 – APARATO EXPERIMENTAL PARA A REALIZAÇÃO DA DETERMINAÇÃO DA DENSIDADE APARENTE. ...............................35
FIGURA 5.7 – DETERMINAÇÃO DA DENSIDADE APARENTE DOS PRODUTOS EM PÓ......................................................................35
FIGURA 5.8 – A)VISCOSÍMETRO SHEEN 480 KREBS; B) VISCOSÍMETRO BROOKFIELD LV DVI-PRIME. ...........................................36
FIGURA 5.9 – MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DA M ATÉRIA ACTIVA ANIÓNICA. .........................................................................40
FIGURA 5.10 – MÉTODO DA DETERMINAÇÃO DO CLORO ACTIVO. ........................................................................................41
FIGURA 5.11 – CARTAS DE CONTROLO X/R DO PH. A) CARTA DAS MÉDIAS B) C ARTA DAS AMPLITUDES. LSC, LIC – LIMITES
SUPERIOR E INFERIOR DE CONTROLO; LSE, LIE - LIMITES SUPERIOR E INFERIOR DE ESPECIFICAÇÃO. .......................................42

FIGURA 5.12 – CARTAS DE CONTROLO X/R DA DENSIDADE. A) CARTA DAS MÉDIAS B) CARTA DAS AMPLITUDES. ........................43
FIGURA 5.13 – CARTAS DE CONTROLO X/R DO CLORO ACTIVO. A) CARTA DAS MÉDIAS B) C ARTA DAS AMPLITUDES. .................44
FIGURA 5.14 – CARTAS DE CONTROLO X/R DO PH. A) CARTA DAS MÉDIAS B) C ARTA DAS AMPLITUDES. LSC, LIC – LIMITES
SUPERIOR E INFERIOR DE CONTROLO; LSA, LIA – LIMITES SUPERIOR E INFERIOR DE ESPECIFICAÇÃO. .....................................45

FIGURA 5.15 – CARTAS DE CONTROLO X/R DA DENSIDADE. A) CARTA DAS MÉDIAS B) CARTA DAS AMPLITUDES. ........................46
FIGURA 5.16 – CARTAS DE CONTROLO X/R DO PH. A) CARTA DAS MÉDIAS B) C ARTA DAS AMPLITUDES. ...................................47
FIGURA 5.17 – CARTAS DE CONTROLO X/R DA DENSIDADE. A) CARTA DAS MÉDIAS B) CARTA DAS AMPLITUDES. ........................48

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FIGURA 5.18 – CARTAS DE CONTROLO X/R DO PH. A) CARTA DAS MÉDIAS B) C ARTA DAS AMPLITUDES. ...................................49
FIGURA 5.19 – CARTAS DE CONTROLO X/R DA DENSIDADE. A) CARTA DAS MÉDIAS B) CARTA DAS AMPLITUDES. ........................50
FIGURA 5.20 – CARTAS DE CONTROLO X/R DA VISCOSIDADE. A) C ARTA DAS MÉDIAS B) CARTA DAS AMPLITUDES. .....................50
FIGURA 5.21 – CARTAS DE CONTROLO X/R DO PH. A) CARTA DAS MÉDIAS B) C ARTA DAS AMPLITUDES. ...................................51
FIGURA 5.22 – CARTAS DE CONTROLO X/R DA DENSIDADE. A) CARTA DAS MÉDIAS B) CARTA DAS AMPLITUDES. ........................52
FIGURA 5.23 – CARTAS DE CONTROLO X/R DO PRODUTO Q. A) CARTA DAS MÉDIAS B) C ARTA DAS AMPLITUDES. ......................53
FIGURA 5.24 – CARTAS DE CONTROLO X/R DO PRODUTO C DE 5L. A) CARTA DAS MÉDIAS B) CARTA DAS AMPLITUDES. .............54
FIGURA 5.25 – CARTAS DE CONTROLO X/R DO PRODUTO C DE 10L. A) CARTA DAS MÉDIAS B) CARTA DAS AMPLITUDES. ...........55
FIGURA 5.26 – M ARCA AUXILIAR PARA ENCHIMENTO MANUAL NAS EMBALAGENS DE 5L. ..........................................................56
FIGURA 5.27 – CARTAS DE CONTROLO X/R DE PRODUTO I DE 5L. A) CARTA DAS MÉDIAS B) C ARTA DAS AMPLITUDES. ................56
FIGURA 5.28 – CARTAS DE CONTROLO X/R DE PRODUTO I DE 10L. A) CARTA DAS MÉDIAS B) C ARTA DAS AMPLITUDES. ..............57
FIGURA 5.29 – PRODUTO C APOS 13 SEMANAS DE ARMAZENAMENTO: A 6ºC (ESQUERDA) À TEMPERATURA AMBIENTE (DIREITA). .59
FIGURA 5.30 – EVOLUÇÃO DOS VALORES DE PH AO LONGO DE 13 SEMANAS PARA AS DIFERENTES CONDIÇÕES DE
ARMAZENAMENTO. ....................................................................................................................................................59
FIGURA 5.31 – EVOLUÇÃO DOS VALORES DE VISCOSIDADE AO LONGO DE 13 SEMANAS PARA AS DIFERENTES CONDIÇÕES DE
ARMAZENAMENTO. ....................................................................................................................................................60
FIGURA 5.32 – EVOLUÇÃO DOS VALORES DE PH AO LONGO DE 3 SEMANAS PARA AS VÁRIAS ETAPAS DO PROCESSO PRODUTIVO DE
PRODUTO C. .............................................................................................................................................................60

FIGURA 5.33 – TESTE DE DUREZA TOTAL DA AQUAM ERCK® [12]. .............................................................................................62


FIGURA 5.34 – EVOLUÇÃO DOS VALORES DE PH AO LONGO DE 3 SEMANAS PARA DIFERENTES TIPOS DE AGENTES SEQUESTRANTES. 62
FIGURA 5.35 – EVOLUÇÃO DOS VALORES DE PH AO LONGO DE 13 SEMANAS PARA AS DIFERENTES CONDIÇÕES DE
ARMAZENAMENTO. ....................................................................................................................................................62
FIGURA 5.36 – EVOLUÇÃO DOS VALORES DE VISCOSIDADE AO LONGO DE 13 SEMANAS PARA AS DIFERENTES CONDIÇÕES DE
ARMAZENAMENTO. ....................................................................................................................................................63
FIGURA 5.37 – EVOLUÇÃO DA PERDA DE CLORO (%) DOS DIFERENTES PRODUTOS AO LONGO DE 13 SEMANAS A 6ºC. ...............64
FIGURA 5.38 – EVOLUÇÃO DA PERDA DE CLORO (%) DOS DIFERENTES PRODUTOS AO LONGO DE 13 SEMANAS NO CASO DE
EXPOSIÇÃO À LUZ SOLAR. ...........................................................................................................................................64
FIGURA 5.39 – EVOLUÇÃO DA PERDA DE CLORO (%) DOS DIFERENTES PRODUTOS AO LONGO DE 13 SEMANAS NO CASO DE
EXPOSIÇÃO À TEMPERATURA AMBIENTE. ........................................................................................................................64

FIGURA 5.40 – DECANTAÇÃO DOS DOIS ABRASIVOS USADOS NA FORMULAÇÃO DO NOVO PRODUTO. ......................................65
FIGURA 5.41 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA MOLÉCULA DE GOMA XANTANA [11]. .........................................................66
FIGURA 5.42 – GEL DAS MÃOS SEM ABRASIVO ONDE SE PODE OBSERVAR A CONSISTÊNCIA “GELATINOSA” DO PRODUTO DEVIDO AO
POLISSACÁRIDO. ........................................................................................................................................................66

FIGURA 5.43 – DETERMINAÇÃO DA ALTURA DE ESPUMA FORMADA ATRAVÉS DA DIFERENÇA ENTRE A MÉDIA DO PONTO 1 E O
PONTO 2. .................................................................................................................................................................68
FIGURA 5.44 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO MECANISMO DE ESPESSAMENTO DO DETERGENTE COM SAIS [3]. .....................69

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Índice de Tabelas

TABELA 2.1 – LISTAGEM DE ALGUNS DOS PRODUTOS DISPONÍVEIS NA EMPRESA. .......................................................................... 7


TABELA 3.1 – APLICAÇÕES, VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS CARTAS POR VARIÁVEIS E DE CARTAS POR ATRIBUTOS. .................17
TABELA 3.2 – INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DE CAPACIDADE, RELAÇÃO CP E CPK [4]. .......................................................21
TABELA 3.3 – NÚMERO MÍNIMO DE MEDIÇÕES POR PEÇA QUE DEVEM SER EFECTUADAS CONSOANTE O NÚMERO DE OPERADORES E
DE EQUIPAMENTOS [4]. ................................................................................................................................................22

TABELA 5.1 – COMPARAÇÃO ENTRE OS DADOS DA EMPRESA E DO LABORATÓRIO EXTERNO REFERENTE AOS TRÊS TIPOS DE
REACTORES PRESENTES NA FÁBRICA (DESVIO (%) = VALOR MÉDIA EMPRESA – VALOR MÉDIA LABORATÓRIO EXTERNO)........31
TABELA 5.2 – PARÂMETROS PARA A DETERMINAÇÃO DA VISCOSIDADE DE PRODUTOS. ..............................................................37
TABELA 5.3 – PARÂMETROS REFERENTES À DETERMINAÇÃO DA VISCOSIDADE EM SETE PRODUTOS. ...............................................38
TABELA 5.4 – M ASSA DA TOMA PARA ANÁLISE PARA OS PRODUTOS CONTENDO MATÉRIA ACTIVA ANIÓNICA. ..............................39
TABELA 5.5 – REAGENTES E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA DETERMINAÇÃO DA M ATÉRIA ACTIVA ANIÓNICA..............................40
TABELA 5.6 – REAGENTES E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA DETERMINAÇÃO DO CLORO ACTIVO. ..............................................41
TABELA 5.7 – PARÂMETROS DE CONTROLO ESTATÍSTICO DO PROCESSO PARA O PRODUTO I. ......................................................44
TABELA 5.8 – PARÂMETROS DE CONTROLO ESTATÍSTICO DO PROCESSO PARA O PRODUTO L. .....................................................46
TABELA 5.9 – PARÂMETROS DE CONTROLO ESTATÍSTICO DO PROCESSO PARA O PRODUTO O. ....................................................48
TABELA 5.10 – PARÂMETROS DE CONTROLO ESTATÍSTICO DO PROCESSO PARA O PRODUTO C. ..................................................50
TABELA 5.11 – PARÂMETROS DE CONTROLO ESTATÍSTICO DO PROCESSO PARA O PRODUTO F. ...................................................52
TABELA 5.12 – ÍNDICES DE CAPACIDADE E FUNCIONAMENTO REFERENTES AO ENCHIMENTO DE PRODUTO Q. ...............................53
TABELA 5.13 – ÍNDICES DE CAPACIDADE E FUNCIONAMENTO REFERENTES AO ENCHIMENTO DE PRODUTO C 5L. ..........................54
TABELA 5.14 – ÍNDICES DE CAPACIDADE E FUNCIONAMENTO REFERENTES AO ENCHIMENTO DE PRODUTO C 10L. ........................55
TABELA 5.15 – ÍNDICES DE CAPACIDADE E FUNCIONAMENTO REFERENTES AO ENCHIMENTO DE PRODUTO I 5L..............................57
TABELA 5.16 – ÍNDICES DE CAPACIDADE E FUNCIONAMENTO REFERENTES AO ENCHIMENTO DE PRODUTO I DE 10L. ......................58
TABELA 5.17 – M ASSA DE TOMA PARA ANÁLISE PARA OS VÁRIOS PRODUTOS DA CONCORRÊNCIA. ............................................68
TABELA 5.18 – ANÁLISE DE DIFERENTES PARÂMETROS A PRODUTOS DA CONCORRÊNCIA DE LAVAGEM MANUAL DA LOIÇA. ..........69

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1. ENQUADRAMENTO

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1.1 Objectivos do estágio

O estágio realizado abrangeu a realização de diversas tarefas intrínsecas à produção e


comercialização de produtos desinfectantes e detergentes líquidos destinados aos sectores
da restauração e hospitalar. O estágio decorreu num período de seis meses e envolveu
aspectos ligados ao processo produtivo, ao controlo de qualidade de produtos e pré-
embalados, bem como, ao desenvolvimento de novos produtos. Deste modo, tratou-se de
um trabalho de carácter geral e abrangente.

1.2 Actividades realizadas

Ao longo do estágio foi necessário implementar procedimentos, inseridos em vários


projectos, dos quais se salientam os seguintes:

 Realização de testes de armazenamento de produtos, de modo a averiguar a


estabilidade dos mesmos;
 Controlo estatístico do processo relativamente a um ano de produção;
 Actualização do método de controlo metrológico efectuado aos produtos pré-
embalados;
 Análise de cargas laboratoriais e acompanhamento do processo produtivo;
 Desenvolvimento de uma nova fórmula de gel abrasivo para limpeza de mãos.

As actividades desenvolvidas foram as seguintes:

 Tomar conhecimento de metodologias laboratoriais e da sua aplicação em


procedimentos de controlo de qualidade de detergentes;
 Estudar a evolução da estabilidade de armazenamento de produtos ao longo do
tempo (Testes de Estabilidade);
 Revisão e alteração de formulação relativa ao detergente de lavagem manual de
loiça;
 Controlo estatístico do processo de determinados produtos referente a um ano de
produção e posterior verificação dos parâmetros de especificação dos produtos;
 Verificação das linhas de enchimento manuais e automáticas e controlo metrológico
de diversos produtos pré-embalados;
 Estudo sobre produtos da concorrência;
 Colaboração com o departamento da Produção na procura de soluções para os
problemas surgidos durante a produção.

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2. A EMPRESA

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2.1 O Grupo

O grupo constitui uma empresa holding de um grupo de empresas portuguesas que actuam
no segmento de Business Services, nas seguintes áreas: Restauração social e pública,
emissão e gestão de tickets de serviços, comercialização e logística de produtos
alimentares, limpezas, desinfestações, exploração de máquinas de venda automática de
produtos alimentares, banquetes e eventos, gestão documental, segurança estática e
electrónica, importação e comercialização de embarcações náuticas de recreio e outros
serviços complementares.

Os seus serviços destinam-se a empresas e instituições tais como, governo, hospitais, escolas,
prisões, forças armadas e militarizadas. Os seus serviços salvaguardam os mais elevados
padrões de segurança e higiene alimentar e a elevada expectativa de satisfação dos seus
clientes, através do recurso às mais modernas técnicas de segurança e higiene, aplicadas
por todos os seus colaboradores e supervisionadas por equipas permanentes de inspectores
e técnicos de qualidade [18].

2.1.1 História do grupo

O grupo constituiu-se em 1989, iniciando a sua actividade no sector alimentar. Nesse mesmo
ano, deu-se a integração de várias empresas que constituem actualmente o grupo,
nomeadamente:

 Empresas com serviços na área da restauração;


 Empresa que compra, vende e distribui, com alta qualidade, uma gama alargada e
segmentada de produtos alimentares;
 Empresa que desenvolve em Portugal a actividade de emissão, comercialização e
gestão de tickets de serviço;
 Empresa que produz e distribui refeições prontas a consumir.

Em 1999, dá-se a constituição de uma empresa totalmente especializada na gestão de


concessões de restauração pública, serviços de catering e gestão de eventos. Em 2000, o
grupo adquire uma empresa que actua no mercado das limpezas técnicas e em 2002 a
empresa que apresentando soluções integradas de segurança, é constituída.

Já mais tarde, em 2010, é constituída uma empresa de serviços partilhados, prestando


serviços às diversas empresas de holding e também a empresas externas ao grupo.

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Por fim, nos anos de 2011 e 2012, respectivamente, a empresa adquiriu uma empresa que
actua no mercado das limpezas técnicas e outra que presta serviços de manutenção
industrial e assistência técnica, bem como fornecimento e montagem de equipamentos.

A oferta do grupo, que actua no sector de alimentação há mais de 25 anos, evoluiu nos
últimos anos para uma oferta multisserviços, quer através da constituição de novas
empresas, quer através da aquisição de outras, quer ainda pelo estabelecimento de
parcerias em áreas muito específicas visando as soluções mais adequadas às necessidades
de cada um dos seus clientes. Com vendas consolidadas de mais de 590 milhões de euros, é
uma empresa que conta com mais de 18 500 trabalhadores distribuídos por 14 empresas e é
responsável, anualmente, pela confecção de 110 milhões de refeições servidas em mais de
3600 locais.

De modo a garantir a confiança e a fidelidade dos consumidores, é necessário servi-los com


produtos e marcas de qualidade. Ao serem aplicados os mais elevados padrões de
qualidade, o grupo coloca-se na posição de conseguir fazer bem e à primeira, diminuindo
os desperdícios e reduzindo custos [18].

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2.1.2 A empresa acolhedora

A empresa onde foi realizado o estágio situa-se em Carnaxide e destina-se à produção,


comércio e embalamento de detergentes e produtos de higienização e limpeza para a
indústria e instituições (Figura 2.1). Inserida no Grupo, tem como objectivo, garantir a
eficiência e competitividade dos produtos de desinfecção e higiene. A empresa possui
produtos líquidos e em pó. Comercializa mais de 40 produtos, detergentes e desinfectantes,
para as seguintes categorias:

 Lavagem de Loiça: manual e mecânica;


 Desinfecção;
 Desengorduramento;
 Limpeza de Superfícies;
 Higiene de Mãos;
 Limpeza de instalações sanitárias.

A empresa iniciou a sua actividade em 2013. A produção nesse mesmo ano rondou as 1500
toneladas, com médias mensais de 125 toneladas. A produção é feita em descontínuo,
onde cada carga efectuada corresponde a um lote de produto [2].

Na Tabela 2.1 encontra-se uma breve listagem dos produtos fabricados na empresa [2].

a) b)

Figura 2.1 – A empresa. a) Stock de produto acabado; b) Tanques de armazenamento de


água.

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Categoria Produto Descrição das funcionalidades
Desinfectante para as mãos à base de álcool. A sua
utilização é recomendada em situações de médio e alto
A
risco de contaminação, tais como indústria alimentar,
Higiene das restauração, clínicas e hospitais.
mãos
Sabonete creme para lavagem das mãos com

B dermoprotector e efeito bactericida. Pode ser utilizado na


lavagem especial de mãos em hospitais, clínicas.
Detergente líquido para a lavagem manual da loiça e
C
utensílios de cozinha, na indústria hoteleira e restauração.
Lavagem manual Detergente em pó alcalino, que permite a remoção de
da Loiça
D qualquer tipo de sujidade ressequida ou de difícil remoção
e branqueamento da loiça.
Detergente líquido clorado para a lavagem de loiça em
E
águas macias em máquinas industriais de hotelaria.
Secante abrilhantador de loiças, copos e utensílios de
Lavagem F
mecânica da cozinha.
Loiça Desincrustrante ácido utilizado na remoção de incrustações

G calcárias em superfícies e equipamentos resistentes a


ácidos.
Produto clorado usado na desinfecção de instalações,
equipamentos e superfícies laváveis. Pode também ser
I
usado na desinfecção de saladas e frutas em doses
apropriadas.
Lava-tudo amoniacal indicado para a limpeza e

J desinfecção de cozinhas, oficinas e escritórios. Lavagem de


pavimentos, azulejos, superfícies laváveis, etc.
Detergente multiusos neutro, com álcool, para limpeza
Desinfecção
L universal. É indicado para todo o tipo de superfícies
laváveis, nomeadamente plásticas e pintadas.
Produto líquido indicado para a limpeza de vidros, espelhos,

M cristais e superfícies duras, tais como, azulejos e cerâmicas


não porosas.
Desengordurante especial com capacidades decapantes

N para a limpeza de fornos, fritadeiras, chapas, exaustores e


filtros.

Tabela 2.1 – Listagem de alguns dos produtos disponíveis na empresa.

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3. INTRODUÇÃO TEÓRICA

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3.1 Detergentes

Um detergente é um produto criado para impulsionar o fenómeno de detergência. De uma


forma geral, um detergente é composto por um solvente, um composto básico activo –
tensoactivo – e componentes complementares, como por exemplo, aditivos, reguladores de
reologia, perfumes, conservantes, entre outros.

3.1.1 Tensoactivos

Os tensoactivos estão presentes em quase todos os produtos de limpeza ou de cuidados de


higiene. Os tensoactivos são moléculas anfipáticas que consistem numa parte hidrofóbica
(não polar), geralmente uma cadeia linear ou ramificada de hidrocarbonetos, contendo
entre 8 a 18 átomos de carbono. Esta cadeia encontra-se ligada a uma parte hidrofílica
(polar) de carácter iónico (Figura 3.1). Como resultado, estas moléculas concentram-se nas
interfaces de duas fases imiscíveis, diminuindo a sua tensão superficial [7],[8].

Figura 3.1 – Estrutura de um agente tensoactivo [3].

Este tipo de moléculas possui um conjunto de propriedades físico-químicas de grande


interesse. Entre estas podem salientar-se:

 Poder molhante;
 Poder emulsionante (de líquidos não miscíveis);
 Poder espumante;
 Poder dispersante e suspensivo (de insolúveis);
 Poder detergente.

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A detergência é um processo que consiste na remoção de uma substância indesejável,
como a sujidade, de uma superfície sólida, geralmente, com a aplicação de uma força
mecânica, na presença de uma substância química. Esta substância química tem o poder
de diminuir a tensão entre a sujidade e a superfície, denominada por tensão superficial. Às
substâncias, como os tensoactivos, que conseguem promover este processo, diz-se que
possuem poder detergente e designam-se por detergentes.

O mecanismo de detergência envolve três fases (Figura 3.2). A primeira fase consiste na
molhagem da superfície a limpar. Se existirem sujidades hidrofóbicas na superfície do
substrato, a molhagem fica dificultada. Deste modo, a adsorção do tensoactivo na
interface da sujidade/superfície, permite a molhagem das superfícies pela água. A remoção
da sujidade, segundo passo do processo de detergência, consegue-se por acção
mecânica de agitação, que leva a que o tensoactivo arraste consigo as partículas de
sujidade para o interior do banho de lavagem. Finalmente a partícula de sujidade, mesmo
sendo hidrofóbica, poderá ser mantida de forma estável dentro do banho de lavagem no
interior de uma micela cujas paredes são constituídas por moléculas de tensoactivo com as
extremidades lipofílicas orientadas para o interior e as hidrofílicas orientadas para o meio
exterior aquoso [8].

Dependendo da natureza da parte hidrofílica, quatro classes principais podem ser


distinguidas, nomeadamente aniónica, catiónica, não iónica ou anfotérica.

Figura 3.2 – Fases da detergência. 1- Adição da molécula de tensoactivo ao banho de


lavagem; 2- Molhagem da superfície suja; 3- Remoção da sujidade da superfície; 4-
Integração estável das partículas de sujidade no banho de lavagem (Imagem adaptada de
[9]).

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3.1.1.1 Tensoactivos aniónicos

Estes tensoactivos são constituídos por uma cadeia lipolífica, ligada a uma parte hidrofílica
de natureza aniónica em solução aquosa. São os agentes tensoactivos mais usados em
aplicações industriais. Os grupos hidrofílicos mais comuns são carboxilatos, sulfatos,
sulfonatos e fosfatos. Na Figura 3.3 estão representados os dois tensoactivos aniónicos mais
usados na empresa, o lauril éter sulfato de sódio (LESS), um surfactante com uma cadeia
alquílica simples e linear, e o dodecil benzeno sulfonato de sódio (LASNa), surfactante
aniónico mais utilizado, comumente denominado por ácido sulfónico [8].

Imagem 2

Imagem 1

Figura 3.3 – Representações esquemáticas de dois tipos de tensoactivos usados na indústria


dos detergentes. Imagem 1 representa a molécula de LESS [10] e a Imagem 2 representa a
molécula de LASNa [1].

3.1.1.2 Tensoactivos catiónicos

Estes tensoactivos são constituídos por uma cadeia lipolífica, ligada a uma parte hidrofílica
de natureza catiónica em solução aquosa. Os tensoactivos catiónicos mais comuns são os
compostos de quaternário de amónio, como por exemplo o cloreto de benzetónio,
comercialmente denominado por Hyamine 1622, um tensoactivo catiónico usado na
determinação da matéria activa aniónica de detergentes (Figura 3.4). Estes compostos têm
a fórmula geral de , onde geralmente corresponde ao ião Cl- e R
representa grupos alquilícos.

Figura 3.4 – Estrutura do cloreto de benzetónio (Hyamine 1622) [15].

3.1.1.3 Tensoactivos não-iónicos

Estes tensoactivos são constituídos por uma parte hidrofílica e lipofílica, que não têm
carácter iónico. Os tensoactivos não-iónicos mais comuns são os baseados em moléculas de
óxido de etileno, sendo denominados por tensoactivos etoxilados. Os mais conhecidos são
os álcoois gordos etoxilados, que são produzidos pela etoxilação de uma cadeia de álcool
gordo, como o dodecanol.

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3.1.1.4 Tensoactivos anfotéricos

Estes tensoactivos contêm na mesma molécula grupos hidrofílicos aniónicos e catiónicos


ligados a uma cadeia lipofílica. A principal característica dos tensoactivos anfotéricos é a
sua dependência quanto ao pH da solução em que estão dissolvidos. Em soluções ácidas
(pH<3), a molécula adquire uma carga positiva e comporta-se como um tensoactivo
catiónico, enquanto que em soluções alcalinas (pH>6), a molécula torna-se carregada
negativamente e comporta-se como um tensoactivo aniónico. Os tensoactivos desta
categoria são geralmente betaínas n-alquílicas [7], como a cocoamidopropil betaína.

Figura 3.5 – Dependência do pH dos tensoactivos anfotéricos (Imagem adaptada de [7]).

A cocoamidopropil betaína tem sido utilizada como tensoactivo secundário em diversos


produtos de higiene e limpeza, devido, principalmente, às suas características toxicológicas.
Estes tensoactivos são usados para melhorar as propriedades do tensoactivo principal e
optimizar o desempenho do produto final com relação à capacidade espumante, de
espessamento, detergência e redução da irritação da pele. A betaína é estável na
presença de dureza de água, produtos alcalinos e ácidos, possibilitando um maior número
de aplicações devido à grande eficiência de limpeza que proporciona às formulações de
que faz parte.

3.1.2 Modificadores reológicos (Espessantes)

Os espessantes são usados para modificar as propriedades reológicas de fluidos,


nomeadamente líquidos, suspensões, emulsões, etc. As razões mais importantes para o uso
destes espessantes, é em primeiro lugar o factor marketing, onde um produto mais espesso,
significa um produto mais concentrado e em segundo lugar para estabilização de
suspensões. Em suspensões, estes aditivos dificultam e retardam a separação das partículas
sólidas em suspensão.

Existem dois grupos de espessantes, orgânicos e inorgânicos. No caso de espessantes


orgânicos, estes são maioritariamente compostos por polímeros. Os espessantes inorgânicos
são geralmente sais (NaCl), que possuem um custo mais baixo que os espessantes
poliméricos.

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3.1.2.1 Viscosidade

A viscosidade intrínseca de soluções de polímeros é obtida em soluções diluídas, onde


indica o volume hidrodinâmico de uma cadeia isolada de polímero em solução a uma
dada temperatura. Em soluções semi-diluídas ou concentradas, as cadeias poliméricas não
se encontram isoladas. Acima de uma concentração crítica, interacções moleculares
ocorrem, que proporcionam o aumento de valores da viscosidade aparente. Esta é a
viscosidade de fluidos Não-Newtonianos de acordo com uma determinada tensão de corte.
Os fluidos podem ser classificados como Newtonianos ou Não-Newtonianos, dependendo
do seu comportamento de escoamento.

A viscosidade, definida por Newton, é o rácio entre a tensão de corte (Pa) e a taxa de corte
(s-1), expresso em unidade de Pa.s ou centipoise (cP). Fluidos Newtonianos possuem uma
viscosidade que é independente da taxa de corte a que é medida, tendo como exemplos,
a água, leite, vinho, etc. A medição da viscosidade é feita em viscosímetros, que usam um
spindle e um copo medidor com uma geometria conhecida.

3.1.3 Desinfecção e preservação dos detergentes

Os químicos desinfectantes adicionados aos produtos têm de ter em consideração tanto a


toxicidade para a pele, como o grau de desinfecção conseguido. A preservação consiste
na protecção do produto contra microrganismos durante o tempo de vida útil do produto.
De um modo geral, os produtos de limpeza possuem formulações extremas garantindo
baixo nível de contaminação. No entanto devido às preocupações ambientais, há,
actualmente a necessidade de produtos biodegradáveis, que no entanto são mais
susceptíveis de contaminações [8].

3.1.3.1 Compostos quaternários de amónia

Cloreto de benzalcónio ou cloreto de benzetónio são alguns exemplos. Induzem o


rompimento da membrana plasmática de bactérias. São eficazes contra bactérias gram-
positivas e vírus lipofílicos. As gram-negativas e alguns membros de pseudomonas são
capazes de resistir em quantidades reduzidas deste composto, formando um
exopolissacárido para protecção. Para remoção de gram-negativas pode ser usado
contiguamente EDTA que por ligação aos iões magnésio da parede externa e posterior
destruição, possibilitam a entrada dos compostos quaternários de amónia.

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3.1.3.2 Agentes lixiviantes

Hipoclorito é o desinfectante mais eficaz conhecido. Necessita de estar em solução com


pH’s elevados para estabilizar o hipoclorito, embora o seu pH de funcionamento seja entre
6-8. É activo contra todos os tipos de bactérias, fungos, vírus, leveduras e esporos (em baixas
concentrações). O hipoclorito é inibido com proteínas e gorduras, sendo somente usado na
limpeza de superfícies limpas. O peróxido de hidrogénio não é tão eficaz como a lixívia, pois
não actua em vírus nem em esporos. Os perácidos, como o ácido peracético quando
combinado com o peróxido de hidrogénio actuam em bactérias gram-positivas e
negativas, vírus, fungos, etc.

3.1.3.3 Produtos Antibacterianos e conservantes

Em sabonetes líquidos, o ingrediente bacteriano mais usado é o triclosan. Para lava-loiças


podem ser usados hipoclorito, peróxido de hidrogénio, associação de surfactantes não
iónicos e catiónicos. O formaldeído é o conservante mais usado actualmente, actua como
um componente bacteriostático. Este não elimina as bactérias, apenas inibe a sua
reprodução.

3.1.4 Corantes

Podem ser ácidos, caracterizando-se pela presença de um grupo carboxílico ou grupos de


ácido sulfónico, possuindo boa solubilidade em água. Podem ser básicos, onde o grupo
cromogéneo está carregado positivamente. Não são muito usados na indústria dos
detergentes por falta de estabilidade em pH básico [8].

As principais características dos corantes são:


 Solubilidade: Uma das mais importantes características. Os melhores corantes para
este efeito são os corantes ácidos.
 Compatibilidade: Alguns corantes ácidos podem formar complexos insolúveis com
iões de quaternário de amónia.
 Estabilidade com pH: Existem corantes que podem variar a sua coloração consoante
a concentração de iões H+ em solução.
 Estabilidade térmica: Os produtos corados podem sofrer alterações de temperatura
ao longo do seu carregamento e armazenamento.
 Resistência à luz solar: Dependente do tipo de embalagem. Quanto mais opaco,
mais protegido estará o produto.

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3.1.5 Perfumes

É necessário garantir a estabilidade do perfume, para não degradar o produto final. Existe
grande complexidade na fórmula de um produto, sendo constituído maioritariamente por
compostos orgânicos voláteis. É necessário prevenir a autoxidação dos terpenos presentes
nas fragâncias. Para produtos com uma gama de pH entre 4,5 e 8, há maior variedade de
fragâncias a ser usadas. Quando o pH se encontra nas gamas 8-10 e 2,5-4,5, é necessário ter
em atenção a reacções químicas secundárias [8].

3.2 Controlo Estatístico do Processo

O Controlo Estatístico do Processo é um sistema de controlo que pode ser descrito como um
sistema de feedback, ou seja, permite a actuação sobre o processo de forma preventiva. A
filosofia do controlo estatístico do processo assenta na identificação de fontes de não-
conformidades e na actuação preventiva sobre as mesmas. Deste modo garante-se que os
produtos obtidos estão conformes com a especificação, com o nível de confiança
requerido e ao mais baixo custo [4].

O estudo do processo permite obter informações sobre o conjunto de elementos que o


constituem, sejam os produtos, fases de produção, alterações de materiais, etc. O
tratamento dos dados provenientes deste estudo permitirão detectar as causas, comuns ou
especiais que influenciam o processo e indicar se são necessárias correcções ao nível do
processo, produção ou até mesmo nas especificações do produto.

Alguns dos objectivos da aplicação de técnicas estatísticas de controlo são:

 Verificar as características dos produtos;


 Verificar a capacidade do processo de fabrico;
 Estabelecer parâmetros;
 Estudos de fiabilidade;
 Redução da variabilidade;
 Estudar a variabilidade de uma característica da qualidade;
 Ajustar as metodologias de controlo implementadas na organização;
 Implementar na organização, uma prática de gestão baseada na prevenção.

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3.2.1 Cartas de Controlo

As cartas de controlo são uma técnica estatística correntemente aplicada, simples mas
poderosa, uma vez que separa as causas comuns das especiais, permitindo assim detectar
as causas especiais de variação ou tendências. Funcionam como um sistema de
diagnóstico dos problemas de produção.

As cartas de controlo têm como objectivo verificar o cumprimento dos limites de


especificação. Mas processo “sob controlo” não significa produto dentro das
especificações, bem como, processo “fora de controlo” não significa produto fora das
especificações. Existem dois grandes grupos de cartas de controlo: As cartas por variáveis
ou as cartas por atributos. As diferentes características dos tipos de cartas comuns mais
utilizadas estão descritas na tabela seguinte [4].

Tipo de carta Carta por variáveis Carta por atributos


Tipo de dados Variáveis Atributos
,R ou ,S
Parâmetros Amplitude móvel; Soma % de defeituosos p
estatísticos acumulada; Média móvel n.º de defeituosos pn
ponderada exponencialmente
Controlo de características de Controlo dos defeituosos no
Aplicação Típica
forma individualizada processo
 Informação facilmente
 Melhor utilização da disponível;
informação;  Cartas fáceis de
Vantagens  Informação detalhada entender:
sobre a média e a variação  Imagem global da
do processo. qualidade do processo.

 Cartas difíceis de entender  Não fornece


(necessidade de informação detalhada
qualificação); para controlo das
Desvantagens  Tendência para a confusão características de forma
entre limites de controlo e individualizada,
limites de especificação.  Não distingue diferentes
graus de deficiência.
Tabela 3.1 – Aplicações, vantagens e desvantagens das cartas por variáveis e de cartas por
atributos.

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3.2.2 Cartas de controlo por variáveis

Quando se está a tratar de uma variável como característica de controlo de qualidade, é


necessário avaliar não só o valor médio, mas também a sua variabilidade. O controlo da
média do processo é feito com uma carta de controlo das médias- , enquanto que a
variabilidade pode ser monitorizada com uma carta de desvio-padrão, ou amplitudes,
sendo esta última a mais usada, denominado por carta de controlo das amplitudes-R. As
cartas -R são das técnicas de controlo estatístico do processo mais usadas [4],[6].

3.2.2.1 Bases estatísticas das cartas de controlo

De modo a construir as cartas de controlo, é necessário o conhecimento dos parâmetros


necessários, nomeadamente, os limites de controlo, a média do processo e amplitude dos
dados. Estes parâmetros têm de ser estimados com base em amostras preliminares ou
subgrupos aquando do processo controlado. Estas estimativas devem ser baseadas, no
mínimo em 25 amostras [4], onde cada amostra é composta por 4,5 ou 6 observações da
característica a controlar. Se , ,…, , forem as médias de cada amostra, então a média
do processo é representada pela seguinte equação:

̅̅̅ ̅̅̅ ̅̅̅̅


̿ Equação 3.1

Deste modo, ̿ deve ser usada como a linha central do gráfico das médias- . Para a
construção dos limites de controlo, é necessário estimar as amplitudes. Se
representam uma amostra de tamanho , então a amplitude da amostra ( ) é diferença
entre o máximo ( ) e o mínimo ( ) dos valores observados.

Equação 3.2

Se forem as amplitudes das amostras, então a amplitude média do processo é


representador por:

̅ Equação 3.3

Os limites de controlo Superior (LSC) e Inferior (LIC) podem ser construídos com base nas
seguintes equações:

̿ ̅ Equação 3.4

̿ Equação 3.5

̿ ̅ Equação 3.6

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A variabilidade do processo pode ser monitorizada através dos valores de amplitudes da
carta de controlo. Os limites de controlo e a linha central para a carta das amplitudes
podem ser construídos com base nas seguintes equações:

̅ Equação 3.7

̅ Equação 3.8

̅ Equação 3.9

As contantes e são função do tamanho da amostra e encontram-se tabeladas no


Anexo A. A Figura 3.6 representa uma carta de controlo típica, onde se podem observar os
Limites superior e inferior de controlo, bem como a linha central do processo.

Figura 3.6 – Carta de Controlo típica (Imagem adaptada de [4]).

3.2.3 Estudos de Capacidade de Processo

Os estudos de capacidade determinam, para um dado processo, se o sistema de medição


(método/procedimento de inspecção, equipamento de medição e operador) produz
resultados aceitáveis ou não [6]. São feitos para:

 Avaliar novos equipamentos;


 Comparar um ou mais equipamentos;
 Comparar métodos de medição.

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Uma vez obtida a indicação de que o processo está sob controlo estatístico, é necessário
avaliar se o processo é capaz de satisfazer as especificações. Para tal utilizam-se os índices
de capacidade Cp e Cpk. O Cp representa a capacidade inerente ao processo, ou seja, a
razão entre a especificação para a característica da qualidade/parâmetro do processo e a
variabilidade desse mesmo processo. Este indicador não tem em conta o centramento do
processo, por isso se denomina inerente [4],[16]. Este indicador é calculado segundo a
Equação 3.10.

Equação 3.10

onde LSE e LIE correspondem aos Limites de Especificação Superior e Inferior


respectivamente e é o desvio padrão. Por outro lado o indicador Cp k representa a
proximidade da distribuição do limite mais próximo da especificação. Este indicador não é,
em si mesmo, uma medida de descentramento de processo, mas quando analisado em
conjunto com o Cp é, no essencial, um indicador daquele descentramento. Este indicador é
calculado segundo a Equação 3.11.

̿ ̿
Equação 3.11

onde ̿ é a média do processo. Quando os estudos da capacidade são realizados com


base nas cartas de controlo (X,R), o valor estimado da média do processo ̿ é a linha central
da carta X e do desvio padrão do processo pode ser estimado segundo a Equação 3.12.

( ⁄ ) ̅ Equação 3.12

onde é uma constante função do tamanho da amostra (Anexo A) e ̅ é a amplitude


média das amostras.

Quanto maior os valores dos dois indicadores, mais capaz se apresenta o processo. A Tabela
3.2 apresenta os vários cenários possíveis para os indicadores de capacidade do processo.

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Cp / Cpk Conclusão Acções correctivas Gráficos representativos

Implementar cartas de
>1,33 / Boa
controlo
=1,33 capacidade (Pré-controlo é
recomendado)

Corrigir o
descentramento;
>1,33 / Processo
Se houver degradação
<1,0 Descentrado do processo, rever a
especificação ou
melhorar o processo.

Investigar causas de
variabilidade;
Processo
=1 / =1 Melhorar Cp e Cpk até
Marginal Crítico 1,33;
Implementar Cartas X,R
até melhoria confirmada.

Problemas Investigar causas de


<1 / <1 variabilidade;
Graves
Melhorar o processo.

Tabela 3.2 – Interpretação dos resultados de capacidade, relação Cp e Cpk [4].

3.2.3.1 Tipos de variação no Sistema de Medição

Os tipos de variações que podem ser encontradas nos sistemas de medição podem ser do
tipo:
 Erros sistemáticos, que representam a diferença entre a média das medições
observadas e o valor de referência;
 A repetibilidade, que representa a variação na medição obtida através de um
equipamento de medição quando utilizado várias vezes pelo mesmo operador na
medição de uma característica de um produto;
 A reprodutibilidade, que representa a média das medições gerada por diferentes
operadores utilizando o mesmo equipamento na medição de uma característica de
um produto;

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 A estabilidade, que representa a variação total nas medições obtidas com um
sistema de medição na mesma peça e mesma característica ao longo do tempo;
 A linearidade é a diferença entre os erros sistemáticos obtidos ao longo da escala do
equipamento de medição.

A identificação do número mínimo de itens e de medições a efectuar para testes de


repetibilidade e reprodutibilidade consoante o número de operadores e de equipamentos,
encontra-se descrito na Tabela 3.3.

Nº de Nº de Nº mínimo de Nº de mínimo de medições por


operadores Equipamentos peças peça
1 1 10 5
1 2
2 1 15 3
2 2
Tabela 3.3 – Número mínimo de medições por peça que devem ser efectuadas consoante o
número de operadores e de equipamentos [4].

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4. PROCESSO PRODUTIVO

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4.1 O Processo Produtivo

A empresa está capacitada para a produção de detergentes líquidos e em pó, sendo estes
últimos produzidos em menor quantidade. A produção de detergentes líquidos realiza-se em
reactores de diferentes capacidades, adequados às quantidades necessárias de cada
produto.

O maior reactor presente na fábrica é o de 5m 3 usado exclusivamente para a produção do


detergente de lavagem manual de loiça (Produto C). Este reactor tem admissão directa de
água de rede e de algumas das matérias-primas necessárias ao processo. As restantes
matérias-primas são pesadas nas balanças presentes na zona de produção, com excepção
do corante, que é pesado na balança do laboratório. Tem recirculação e dois agitadores,
garantindo mistura de um produto com média viscosidade (~500cP). O reactor está
equipado com uma célula de carga. Na Figura 4.1 é possível ver o reactor e o mostrador da
célula de carga.

As balanças usadas na zona de produção estão representadas na Figura 4.2. A balança no


lado esquerdo é uma balança de 200g a 3000g, com divisão de 10g. A balança do lado
direito é uma balança de 2Kg a 300Kg, com divisão de 100g.

Existe também na fábrica, um reactor de 2m3 para produção de vários produtos líquidos de
naturezas alcalina e neutra. Este reactor possui uma camisa de aquecimento/arrefecimento
e está equipado com uma célula de carga funcionando em dosagem por adição dupla de
peso. A matéria-prima com admissão directa para este reactor é a água (desmineralizada
ou da rede), sendo as restantes matérias-primas pesadas nas balanças da zona de
produção. Na Figura 4.3 é possível ver o reactor e a célula de carga.

Figura 4.1 – Reactor de 5m3 destinado à produção do produto C.

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Figura 4.2 – Balanças de pesagem na Zona de Produção.

Figura 4.3 – Reactor de 2m3 com célula de carga e agitador.

Para além dos dois reactores mencionados, existem outros equipamentos disponíveis, na
fábrica, para produção. Estes equipamentos podem ser contentores plásticos de 1m3
(cubas) onde são produzidos maioritariamente os produtos clorados, como Produtos E e I.
Estes produtos devido ao seu poder corrosivo contra o inox têm necessariamente de ser
fabricados nestes contentores. Também neste tipo de contentores se fabricam os sabonetes
líquidos para as mãos, de sua característica, viscosos (~2200cP). Existem dois contentores em
inox de 500Kg e 400Kg usados para produtos que não necessitam de grandes quantidades
mensais de produção. A agitação neste tipo de equipamentos é feita com um agitador
externo colocado num suporte.

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4.1.1 Misturador de sólidos

Para além dos produtos líquidos, a fábrica também possui na sua lista de produtos,
detergentes em pó. A sua produção é feita num misturador de sólidos, como se pode
observar na Figura 4.4. As matérias-primas em pó, pesadas previamente, são introduzidas
alternadamente pelo topo do misturador. O misturador é composto por um parafuso sem-
fim, que envolve a mistura aquando da introdução de uma matéria-prima. Pelo fundo do
misturador, escoa o produto pronto a embalar.

Figura 4.4 – Misturador de Sólidos Vrieco.

4.1.2 Unidade de desmineralização de água

A fábrica possui uma unidade de desmineralização de água, uma vez que a maioria dos
seus produtos necessitam de água desprovida de iões para não afectar a sua estabilidade.
Esta unidade funciona com duas colunas de permuta iónica (Figura 4.5), a do lado
esquerdo para a permuta catiónica e a do lado direito para a permuta aniónica. A
regeneração das colunas é feita através de ácido clorídrico para a coluna catiónica e com
hidróxido de sódio para a coluna aniónica. Quando o desmineralizador está em
funcionamento, a condutividade e a resistividade da água desmineralizada são
monitorizadas, através do mostrador, como se pode observar na figura seguinte. A água
desmineralizada é posteriormente armazenada num tanque de 25m 3.

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Figura 4.5 – Unidade de desmineralização.

4.1.3 Zona de Embalamento

Contiguamente à zona de produção encontra-se a zona de embalamento. O


embalamento dos produtos é maioritariamente manual. Não obstante, existem duas
máquinas de enchimento automático presentes na fábrica. Os produtos podem ser
embalados em formatos de 500mL até 20L, consoante as necessidades mensais do
consumidor. Os produtos embalados são paletizados e protegidos com filme retráctil (shrink
film) como se pode observar na Figura 4.6. Os produtos embalados em formatos de 500mL,
750mL e 1L são colocados em caixas de cartão canelado.

Figura 4.6 – Palete de 20L com filme retráctil à direita e palete de 5L sem filme retráctil à
esquerda.

4.1.3.1 Máquina de enchimento automático de Produto C

O detergente para a lavagem manual da loiça é dos produtos com maior produção mensal
e por essa razão, o seu embalamento é realizado numa máquina de enchimento
automático. Este produto é comercializado em embalagens de 5L, 10L e 20L.

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A máquina de enchimento tem capacidade para os três tipos de embalagens, possuindo
duas saídas de enchimento e dois contentores de 1 tonelada para armazenamento de
produto. A Figura 4.7 mostra a máquina de enchimento com duas embalagens de 5L de
capacidade posicionadas nas saídas de enchimento.

Figura 4.7 – Máquina de Enchimento automático.

4.1.3.2 Máquina de enchimento automático de Produto Q

O sabonete neutro bactericida é embalado na máquina de enchimento, visível na Figura


4.8. Por ser um produto com abundante formação de espuma, instaurou-se na fábrica o uso
exclusivo desta máquina para este produto, pois a sua limpeza a cada diferente carga
implicaria significativos custos operatórios. Este produto é comercializado em embalagens
de 500mL. A máquina de enchimento tem capacidade para formatos de 500mL e 1L,
possuindo uma saída de enchimento e um contentor de 1 tonelada de armazenamento de
produto.

Figura 4.8 – Máquina de Enchimento automático.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

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5.1 Métodos Analíticos de Controlo de Qualidade
de Detergentes

5.1.1 Determinação do pH

A determinação do pH é feita pelo método potenciométrico e é realizado a todos os


produtos líquidos e em pó. Nos líquidos a leitura é feita tal e qual e no caso dos produtos em
pó, é necessário fazer uma solução de 1% com água desmineralizada. O método consiste
em passar o eléctrodo de pH por água desmineralizada, para remover a solução de KCl,
onde o eléctrodo se encontra mergulhado e não contaminar a amostra. Seguidamente
seca-se o eléctrodo com papel absorvente e introduz-se na amostra de produto a analisar.
Deixa-se estabilizar e regista-se o valor. A figura seguinte mostra o equipamento para a
determinação do pH.

Figura 5.1 – Medidor de pH.

5.1.1.1 Precisão dos ensaios de pH

Para garantir que os resultados analíticos são válidos o equipamento de medição deve ser
ajustado ou verificado quando necessário. Desse modo, foram feitos estudos de
reprodutibilidade nas condições de processo que se consideram ser os mais críticos para o
controlo do pH dos produtos, bem como, a validação das medições por comparação com
os valores de um laboratório externo certificado.

Para avaliar a precisão do método, realizaram-se ensaios a diferentes tipos de produtos


fazendo variar as condições de amostragem nos vários reactores. As amostras eram

Página | 30
recolhidas em dois locais específicos, para os reactores de 5m3 e 2m3, nomeadamente pelo
fundo e pelo topo dos reactores. Para o caso do reactor de 1m3 não se considerou
necessária a amostragem pelo fundo do reactor, por este ser de menores dimensões. Para o
caso do reactor de 5m3 o único produto amostrado foi um produto neutro de média
viscosidade (~500cP), para o reactor de 2m3 foram amostrados três tipos de produtos
líquidos diferentes, um de natureza neutra e outros dois de natureza alcalina, com valores de
pH situados entre 12-13 e 13-14, e por fim, para o reactor de 1m3 o único produto amostrado
foi um produto neutro de alta viscosidade (~2200cP).

Da Tabela 5.1 é possível observar que os dados relativos ao reactor de 5m 3 apresentam um


desvio maior relativamente aos valores do laboratório externo. O método é menos preciso
para este produto de média viscosidade e conclui-se que as amostras retiradas no fundo do
reactor, apresentam um menor desvio-padrão. Para o caso dos líquidos neutros fabricados
no reactor de 2m3, o seu desvio é baixo, sendo este método preciso para este tipo de
produtos. Para o caso dos líquidos de natureza alcalina, o desvio observado aumentou,
sendo que leituras efectuadas para pH acima de 12, poderão ter um erro associado. O
aparelho é calibrado com duas soluções padrão de pH=4 e pH=7, deste modo, o declive é
calculado a partir destes dois valores, tornando-se mais incerto para valores alcalinos. Por
fim, para o produto de alta viscosidade fabricado no reactor de 1m 3 são apresentados
resultados bastante parecidos aos produtos neutros do reactor de 2m3, tornando a agitação
deste reactor bastante eficiente, não havendo risco de grandes erros associados às leituras
de pH.

Laboratório
Dados da empresa
externo
Amplitude Desvio-
Reactor Local Produto Média Média Desvio(%)
Média padrão
5m3 Cima 6,76 0,23 0,10 - -
Neutro
Baixo 6,74 0,14 0,06 6,51 3,40
Cima 6,62 0,08 0,03 - -
Neutro
Baixo 6,69 0,05 0,02 6,63 0,90
2m3 Cima Alcalino 12,72 0,08 0,03 - -
Baixo (pH:12-13) 12,74 0,05 0,02 12,94 1,50
Cima Alcalino 13,39 0,07 0,03 - -
Baixo (pH:13-14) 13,29 0,13 0,05 13,08 1,60
1m3 Cima Neutro 6,23 0,08 0,03 6,16 1,10

Tabela 5.1 – Comparação entre os dados da empresa e do laboratório externo referente


aos três tipos de reactores presentes na fábrica (Desvio (%) = Valor média Empresa – Valor
média laboratório externo).

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5.1.2 Determinação da densidade de Produtos Líquidos

Para a determinação da densidade de líquidos foram utilizados dois métodos diferentes. O


primeiro método é usado para líquidos não viscosos e recorre ao uso de um
densímetro/hidrómetro. O método consiste em deitar 500mL do produto a analisar para uma
proveta plástica de 500mL. O produto deve estar a 20ºC, pois os densímetros estão
calibrados para trabalhar a esta temperatura. De seguida, escolher a gama de densidades
que se pretende trabalhar, escolhendo assim o densímetro mais adequado e colocar na
amostra dentro da proveta. Deixar estabilizar e ler o valor que se encontra na superfície do
líquido, como mostra a Figura 5.2. A escala encontra-se graduada em g/cm3 com uma
divisão de 0,001g/cm3.

Figura 5.2 – Medição por um densímetro hidrómetro Nahita.

O segundo método é usado para líquidos de médias e altas viscosidades. Para determinar a
densidade por este método é necessário utilizar um picnómetro da Elcometer® 1800, como
mostra a figura seguinte. Depois de limpo e seco, deve-se encher com a amostra de
produto a analisar, colocando-se a tampa. A amostra deve ser suficiente para encher todo
o copo e caso haja amostra excedente, esta sairá pelo orifício no centro do picnómetro,
como mostra a imagem do centro (Figura 5.3). Depois de retirado o excedente, regista-se o
peso lido e calcula-se a densidade da amostra através da Equação 5.1:

Equação 5.1

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Figura 5.3 – Determinação da densidade pelo método do picnómetro.

5.1.2.1 Testes de Densidade

A determinação da densidade de todos os produtos era feita através de


densímetros/hidrómetros, como descrito previamente no método de determinação da
densidade de Produtos Líquidos. Do mesmo modo, do pH, os resultados das amostras
enviadas para o laboratório externo acreditado (CTV), mostravam que para os produtos
viscosos, a densidade apresentava valores diferentes comparativamente ao laboratório da
empresa. De seguida fizeram-se testes com o picnómetro da Elcometer® para os produtos
viscosos. Nas Figura 5.4 e Figura 5.5 estão representadas comparações entre os dois
métodos presentes no laboratório, o densímetro e o picnómetro e os resultados do
laboratório externo. É possível observar que os dados do picnómetro e do laboratório
externo são os mais próximos para ambos os casos. O método do densímetro apresenta
valores por excesso, ou seja, superiores aos dados da empresa e do laboratório externo.

Este desvio nas leituras de massa específica deve-se à viscosidade apresentada pelos fluidos
que quando mergulhados no densímetro apresentam uma resistência à deformação
elevada em relação aos líquidos não viscosos. Como o Produto C é um produto de média
viscosidade, a resistência não será muito elevada, contudo a leitura da densidade através
do picnómetro é uma melhor alternativa. Para o caso do Produto O é ainda mais crítico o
uso do densímetro para a determinação da densidade. Este produto é de alta viscosidade,
sendo altamente resistente à deformação. Os dados presentes na Figura 5.5 corroboram
esta afirmação, sendo o uso do picnómetro o mais correcto neste caso e em todos os
líquidos de viscosidade semelhante.

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Média viscosidade
Valor Máx.

Densidade (g/cm3)

Densímetro
Picnómetro
CTV

Valor Mín.

Figura 5.4 – Comparação dos valores de densidade para os três métodos usados para o
produto C.

Alta viscosidade
Valor Máx.
Densidade (g/cm3)

Densímetro
Picnómetro
CTV

Valor Mín.

Figura 5.5 – Comparação dos valores de densidade para os três métodos usados para o
produto O.

5.1.1 Determinação da densidade aparente (Produtos


em Pó)

Para a determinação da densidade dos produtos em pó, usa-se o método representado na


Figura 5.7. A densidade dos produtos em pó é um parâmetro importante no embalamento,
pois condiciona a capacidade que as embalagens necessitam de ter, para o
acondicionamento de uma determinada quantidade do produto. Assim sendo, é necessário
determinar a densidade aparente dos produtos, que corresponde à densidade que o
produto tem a granel, ou seja, com incorporação de ar e espaços vazios no conteúdo. Os
equipamentos necessários à realização deste método estão representados na Figura 5.6 e
consistem numa balança Mettler Toledo Spider SW, num copo graduado de plástico com
capacidade conhecida e num funil para colocação da amostra a analisar.

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Em primeiro lugar é necessário colocar a amostra do produto a analisar no funil, que se
encontra a 2cm de altura em relação à superfície do copo (Figura 5.7-Imagem 1). O funil
terá de estar obstruído para que a amostra escoe pelo funil somente no momento da
realização do método. Destapa-se o funil, deixando o produto escoar para dentro do copo
até este chegar ao topo do copo numa forma cónica (Figura 5.7-Imagem 2). Retirar o
excedente de produto com um espátula num ângulo de 45º para evitar retirar produto
necessário à pesagem (Figura 5.7-Imagem 3). Por fim registar o peso lido (Figura 5.7-Imagem
4) e calcular a densidade aparente através da Equação 5.2:

⁄ Equação 5.2

Em que 118,3 cm3 é o volume do copo determinado.

Figura 5.6 – Aparato experimental para a realização da determinação da densidade


aparente.

Imagem 1 Imagem 2 Imagem 3 Imagem 4

Figura 5.7 – Determinação da densidade aparente dos produtos em pó.

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5.1.2 Determinação da Viscosidade

A viscosidade é um dos parâmetros a partir dos quais se controla a estabilidade dos


produtos. A determinação da viscosidade foi feita inicialmente com um Viscosímetro Krebs
[Figura 5.8 a)]. Para este método, usa-se o mesmo eixo (spindle) e velocidade para todos os
diferentes produtos. Primeiro coloca-se no recipiente de 500mL a amostra a analisar. De
seguida mergulha-se o spindle na amostra, até ao limite máximo do braço do viscosímetro.
O spindle vai rodar durante 10 segundos à velocidade constante de 200 rpm e no final desse
tempo regista-se o valor de viscosidade lido.

Actualmente, a determinação da viscosidade é feita com um Viscosímetro Brookfield pelas


razões descritas no ponto 5.1.2.1. Consoante o produto a analisar, utiliza-se o “spindle”
apresentado na Tabela 5.2. Primeiro coloca-se, no recipiente de 500mL, a amostra a
analisar. Este recipiente vai ser usado para todos os produtos e possui um diâmetro
conhecido de 0,81cm, muito parecido com o recipiente padrão do fornecedor. De seguida
mergulha-se o spindle na amostra, até à marca de leitura. Inicia-se a rotação do rotor à
velocidade definida na Tabela 5.2. Após estabilização da temperatura efectuam-se as
leituras. Na Figura 5.8 b) apresenta-se o viscosímetro utilizado.

a) b)

Figura 5.8 – a)Viscosímetro Sheen 480 Krebs; b) Viscosímetro Brookfield LV DVI-Prime.

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Produto Spindle Velocidade (rpm) Temperatura (ºC)
C S61 6 20
O S63 30 20
B S63 30 20
Q S63 20 20
S S61 4 20
A S62 12 19

Tabela 5.2 – Parâmetros para a determinação da viscosidade de produtos.

5.1.2.1 Testes de Viscosidade

Para avaliar se o viscosímetro presente na fábrica era adequado para os produtos


fabricados na empresa, foram feitos testes de viscosidade a alguns dos produtos mais
fabricados, recorrendo ao uso de dois métodos diferentes.

Foram feitas leituras de viscosidade com um viscosímetro Brookfield Dial Reading LVT no
Instituto Superior Técnico, usando como spindle, um small sample adapter SC4 18/13R de
8mL, como se pode observar na figura do Anexo D. De acordo com os valores apresentados
na tabela do Anexo C chegou-se à conclusão que seria necessário adquirir um viscosímetro
mais adequado à leitura dos produtos fabricados na empresa, a empresa adquiriu um
viscosímetro Brookfield LV DVI-Prime.

Com a aquisição deste novo viscosímetro, foi necessário determinar qual as condições de
utilização, bem como, os spindles e velocidades mais adequadas às diferentes viscosidades
dos produtos. Deste modo, fez-se um estudo para todos os produtos que requerem o
controlo de viscosidade, determinando para cada um quais os parâmetros mais
adequados. Essa escolha baseia-se na percentagem de torque, ou seja, na tendência de
uma força para rodar um determinado objecto sobre um eixo. A percentagem de torque
ideal para a leitura da viscosidade é de 50%. Deste modo, quanto mais próxima uma
velocidade de rotação se aproximar deste valor de torque, mais preciso será o valor de
viscosidade lido.

A Tabela 5.3 apresenta os resultados obtidos da determinação dos parâmetros de leitura de


viscosidade para sete produtos. Para cada produto foram realizadas três leituras para duas
velocidades diferentes, estando esses dados representados nos Anexos C. Na tabela
também estão representados os valores médios das leituras provenientes do laboratório
externo acreditado para as mesmas amostras. É possível observar que os novos valores de
viscosidade apresentam um desvio bastante baixo quando comparados com os valores do

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laboratório externo. Os valores de leitura do laboratório externo que apresentam o valor N/A
(Não Avaliado) são referentes a produtos que alteraram as suas especificações de
viscosidade ao longo dos seis meses de estágio. Os únicos dados disponíveis do laboratório
externo referem-se a especificações de viscosidade antigas e desactualizadas. Deste modo,
seria necessário efectuar análises destes dois produtos a fim de corroborar os valores de
viscosidade lidos na empresa.

Leitura
Velocidade Leitura Torque
Produto Spindle Laboratório Desvio (%)
(rpm) média (cP) médio (%)
externo (cP)
12 1222 49
A S62 N/A -
20 911 61
20 2451 41
B S63 2200 3
30 2140 54
20 2441 41
O S63 2380 7
30 2209 55
4 728 49
S S61 615 16
5 725 60
12 3719 37
Q S63 N/A -
20 2945 49
5 526 44
C S61 520 1
6 526 53
12 1077 43
P S62 1320 18
20 1068 71
Tabela 5.3 – Parâmetros referentes à determinação da viscosidade em sete produtos.

5.1.3 Determinação da Matéria Activa Aniónica

A determinação da matéria activa aniónica faz-se por titulação directa em duas fases de
acordo com o método descrito na norma NP-1204. Este método aplica-se à análise de
sulfonatos de alquilbenzeno, alquilsulfonatos, sulfatos e hidroxissulfatos, sulfatos de alquilfenol,
etoxissulfatos de álcool gordo e dialquilsulfosuccinatos e na determinação do teor de
matérias activas contendo um grupo hidrófilo por molécula. Os sulfanatos de baixa massa
molecular presentes sob a forma de hidrótropo (tolueno, xileno) não interferem se a sua
concentração, em relação ao teor de matérias activas, for inferior ou igual a 15% (m/m).
Para uma concentração superior, a sua influência deve ser estudada em cada caso
particular. Os sais dos ácidos gordos (sabão), a ureia e os sais de ácido
etilenodiaminotetracético não interferem. Os constituintes minerais típicos dos detergentes,
tais como cloreto de sódio, sulfato, borato, tripolifosfato, perborato, silicato, etc., não
interferem, mas outros agentes branqueadores, além do perborato, devem ser destruídos
antes da análise.

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A matéria activa aniónica forma com o corante catiónico um sal que se dissolve no
clorofórmio, ao qual confere uma coloração rósea (Figura 5.9-Imagem 2). Durante a
titulação, o cloreto de benzetónio (Hyamine) desloca, deste sal, o brometo de dimidio que
passa para a fase aquosa, deixando a fase clorofórmica que perde a sua coloração
rosada. Um excesso de Hyamine® provoca a formação com o corante aniónico, de um sal
que se dissolve no clorofórmio ao qual dá coloração azul (Figura 5.9-Imagem 4).

Primeiro pesa-se uma toma para análise contendo 4 miliequivalente de matéria activa
aniónica. Foram feitos os cálculos da massa da toma para a análise segundo os pesos
moleculares dos tensoactivos aniónicos presentes nos diferentes produtos da empresa
(Tabela 5.4).

Produto a analisar Massa da toma para análise (g)


C 32
B/O 27
Q/S 37
P 12

Tabela 5.4 – Massa da toma para análise para os produtos contendo matéria activa
aniónica.

De seguida dissolve-se a toma para análise em água desmineralizada. Transfere-se para um


balão volumétrico de 1000 ml. Adicionam-se algumas gotas de fenolftaleína (4 a 5) e
neutraliza-se até obtenção de coloração rósea pálida, quer pelo hidróxido de sódio 1,0 N,
quer pelo ácido sulfúrico 1,0 N, conforme o caso, perfaz-se o volume com água
desmineralizada e homogeneiza-se.

De seguida medem-se 25 ml da solução acima preparada para uma proveta graduada de


100 ml. Adicionam-se 10 ml de água desmineralizada, 15 ml de clorofórmio e 10 ml de
solução ácida de indicador misto. Por fim titula-se com a solução de cloreto de benzetónio.
O Cálculo do teor expresso em % em massa, da matéria activa aniónica é feito pela
Equação 5.3:

Equação 5.3

sendo a massa da toma para análise (g); o peso molecular médio da matéria activa
aniónica; a molaridade da solução de cloreto de benzetónio e o volume, da solução
de cloreto de benzetónio utilizada para a titulação(ml).

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Reagentes utilizados Equipamento utilizado
Matéria Activa Aniónica Hyamine® 1622 solution 0,004
mol/L
Clorofórmio AnaLaR Normapur
99,2%
Equipamento corrente de
BDH Brometo de dimidio/dissulfina
laboratório
azul
Fenolftaleína Carlo Erba RPA
Hidróxido de sódio 1,0N Panreac
Ácido sulfúrico 95-97% Merck

Tabela 5.5 – Reagentes e equipamentos utilizados na determinação da Matéria Activa


Aniónica.

Imagem 1 Imagem 2 Imagem 3 Imagem 4

Figura 5.9 – Método de determinação da Matéria Activa Aniónica.

5.1.4 Determinação do Cloro Activo

Para a determinação do cloro activo numa amostra de produto a analisar, começa-se por
pipetar 25 ml da amostra para um balão volumétrico de 250 ml contendo 150 ml de água
desmineralizada. De seguida completa-se o volume com água e homogeneiza-se. De
seguida pipetam-se 10 ml desta solução para um Erlenmeyer de 250 ml contendo 1 g de
iodeto de potássio dissolvidos em 100 ml de água desmineralizada. Homogeneiza-se a
mistura e adiciona-se 1 ml de ácido acético glacial.

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De seguida titula-se esta mistura com uma solução de tiossulfato de sódio 0,1 N até ficar
com cor amarelo palha, como se pode observar na Figura 5.10-Imagem 2. Adicionam-se
nesta altura 10 ml de cozimento de amido, ficando a solução azul (Figura 5.10-Imagem 3) e
finaliza-se a titulação até mudança da cor azul para incolor (Figura 5.10-Imagem 4). Regista-
se o volume gasto de tiossulfato de sódio e calcula-se a concentração de cloro activo
através da Equação 5.4:

Equação 5.4

Sendo o volume, em ml, de tiossulfato de sódio 0,1 N gastos na titulação e a


Normalidade do Tiossulfato de sódio.

Caso se esteja a determinar o cloro activo na matéria-prima (hipoclorito de sódio), faz-se


uma toma de 25 ml para um balão volumétrico de 1000 ml. O resto do procedimento é
igual. Para calcular o cloro activo, usa-se a Equação 5.5:

Equação 5.5

Imagem 1 Imagem 2 Imagem 3 Imagem 4

Figura 5.10 – Método da determinação do Cloro Activo.

Reagentes utilizados Equipamento utilizado


Cloro Activo Tiossufato de Sódio Convol Normadose 0,1N
Iodeto de Potássio AnaLar Normapur Equipamento corrente de
Ácido Acético Glacial 100% Merck laboratório
Amido de batata solúvel PA
Tabela 5.6 – Reagentes e equipamentos utilizados na determinação do Cloro Activo.

Página | 41
5.2 Controlo Estatístico do processo

Fez-se um estudo estatístico do processo para alguns dos produtos da empresa para
averiguar a estabilidade do processo produtivo referente a um ano de produção
(2013/2014). Este estudo foi feito para cinco produtos com diferentes finalidades comerciais
e diferentes características físicas e químicas, de modo a verificar se estas diferenças
assumem um papel preponderante na estabilidade do processo. O estudo foi feito por
cartas de controlo do tipo ̅ -R, nomeadamente carta de médias e de amplitudes para pH,
densidade, viscosidade e cloro activo cada produto. A avaliação da capacidade do
processo para cada produto é feita através dos critérios presentes na Tabela 3.2 do Capítulo
3.

5.2.1 Produto I

Este produto é fabricado em contentores de 1m3 com introdução manual de todas as


matérias-primas, pesadas individualmente nas balanças da zona de produção. É um
produto clorado e de natureza alcalina. Na Figura 5.11 estão representadas as cartas de
controlo referentes aos valores de pH lidos. O processo encontra-se controlado, verificando-
se uma tendência no futuro, para estabilizar junto do valor médio, como se pode observar
pela carta das amplitudes que tem vindo a reduzir valores.
Valores médios

Valor Máx.
de pH

Valor Mín.
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82
a) Nº de Amostras
Dados LSC/LIC Média LSE/LIE

0,8
Amplitudes do pH

0,6
0,4
0,2
0,0
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82
b) Nº de amostras

Figura 5.11 – Cartas de controlo X/R do pH. a) Carta das médias b) Carta das amplitudes.
LSC, LIC – Limites superior e inferior de controlo; LSE, LIE - Limites superior e inferior de
especificação.

Página | 42
Na Figura 5.12 encontram-se representadas as cartas de controlo referentes às leituras de
densidade pelo método do densímetro/hidrómetro. Como se pode observar pela carta de
controlo das médias, o processo encontra-se bastante controlado. Os limites de
especificação encontram-se bem definidos, uma vez que todos os dados se encontram
dentro dos limites de controlo (LSC/LIC). Da carta das amplitudes é possível observar que
não existem grandes oscilações de amplitudes entre leituras consecutivas.

Valor Máx.
Valores médios
da densidade
(g/cm3)

Valor Mín.
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82
a) Nº de Amostras
Dados LSC/LIC Média LSE/LIE

0,004
Amplitude da
Densidade

0,003

0,002

0,001

0,000
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82
b)
Nº de Amostras

Figura 5.12 – Cartas de controlo X/R da densidade. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Na Figura 5.13 estão representadas as cartas de controlo referentes à percentagem de cloro


activo presente no produto. É possível observar que existe alguma oscilação nos valores
médios lidos. Este facto deve-se maioritariamente à percentagem de cloro activo presente
na matéria-prima. Devido a esta variação, a percentagem de cloro activo nos produtos
clorados vai obrigatoriamente variar. De modo, a prevenir estes desvios, podia-se modificar
a quantidade de hipoclorito de sódio a introduzir na formulação consoante os resultados
efectuados à matéria-prima. Embora esta solução fosse a mais adequada, é inviável, pois o
armazenamento do hipoclorito de sódio faz-se em contentores de 1tonelada, usando-se
somente um contentor à vez durante a produção. Dependendo do escoamento do
produto, este armazenamento pode durar até uma semana. Seria um processo moroso e
nada prático, fazendo a avaliação a cada contentor de matéria-prima, reformular o
processo de fabrico todas as semanas. Não obstante, os dados do processo encontram-se
dentro dos limites de especificação impostos pela empresa.

Página | 43
de Cloro Activo
Valores médios Valor Máx.

Valor Mín.
1 10 19 28 37 46 55 64 73 82
a) Nº de Amostras
Dados LSC/LIC Média LSE/LIE

0,5
Amplitude do
Cloro Activo

0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
b) 1 10 19 28 37 46 55 64 73 82
Nº de Amostras

Figura 5.13 – Cartas de controlo X/R do cloro activo. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Da tabela seguinte é possível observar que todos os parâmetros possuem valores em ambos
índices de capacidade do processo superiores a 1,33, sendo por isso o processo de fabrico
considerado capaz de cumprir com as especificações e centrado.

Parâmetro Cp Cpk
pH 2,0 2,0
Densidade 1,9 1,8
Cloro
1,9 1,6
Activo
Tabela 5.7 – Parâmetros de controlo estatístico do processo para o produto I.

5.2.2 Produto L

Este produto é fabricado no reactor de 2m3 com introdução manual de todas as matérias-
primas, pesadas individualmente nas balanças da zona de produção, com excepção da
água desmineralizada. É um produto neutro, multiusos, usado para limpeza de todas as
superfícies. A grande condicionante deste produto é precisar de efectuar uma
neutralização manual no final do seu processo produtivo.

Na Figura 5.14 estão representadas as cartas de controlo referentes aos valores médios de
pH. É possível observar na carta das médias de pH, uma zona onde não estão apresentados
limites de aviso, uma vez que a empresa ainda não tinha estabelecido estes limites para o
produto.

Página | 44
Após estabelecimento dos limites de aviso, verificou-se a estabilização do processo dentro
destes valores. Devido às grandes amplitudes entre leituras consecutivas de dados, os limites
de controlo do processo são bastante maiores que os de aviso. Caso se pretenda
estabelecer os limites de aviso existentes como limites de especificação do produto é
necessário automatizar o processo de neutralização, ou a curto prazo, aquando da
neutralização manual estabelecer, um valor médio de pH final. Deste modo evitam-se
grandes amplitudes de dados, tornando este processo o mais estável possível.

Valor Máx.
Valores médios
de pH

Valor Mín.
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59
a) Nº de amostras
Dados LSC/LIC Média LSA/LIA

2,0
Amplitude do pH

1,5
1,0
0,5
0,0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59
b) Nº de amostras

Figura 5.14 – Cartas de controlo X/R do pH. a) Carta das médias b) Carta das amplitudes.
LSC, LIC – Limites superior e inferior de controlo; LSA, LIA – Limites superior e inferior de
especificação.

Na Figura 5.15 estão representadas as cartas de controlo referentes aos valores da


densidade. É possível observar que embora os limites de controlo tenham uma amplitude
semelhante aos limites de aviso, como os valores medidos não se encontram centrados,
existe um desfasamento entre os dois tipos de limites. Este desfasamento acontece pela
média da densidade estar abaixo do pressuposto e as amplitudes de dados consecutivos
serem elevadas. Esta gama de amplitudes deve-se a erros de leitura do operador. O
método usado para a determinação da densidade deste produto é por
densímetro/hidrómetro. Não obstante, é um processo bastante controlado.

Página | 45
Valores médios Valor Máx.
de Densidade

Valor Mín.
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59
Nº de amostras
a)
Dados LSC/LIC Média LSA/LIA

0,008
Amplitude da
densidade

0,006
0,004
0,002
0,000
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59

b) Nº de amostras

Figura 5.15 – Cartas de controlo X/R da densidade. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Para o cálculo dos índices de capacidade do pH, foram usados os valores das amostras a
partir da amostra 25, para a densidade usaram-se as 59 amostras. Da tabela seguinte
podemos observar que para o parâmetro do pH, o processo embora esteja centrado nos
limites de aviso internos, este não é um processo capaz, sendo os limites de aviso bastante
inferiores aos limites de controlo. Deste modo, como dito anteriormente, será necessário
alargar os limites de aviso e continuar a fazer um controlo estatístico do processo. Para o
caso da densidade, o processo apresenta um valor de Cp perto da unidade, o que indica
que o processo é satisfatório, mas encontra-se descentrado.

Parâmetro Cp Cpk
pH 0,6 0,5
Densidade 1,1 0,8
Tabela 5.8 – Parâmetros de controlo estatístico do processo para o produto L.

5.2.3 Produto O

Este produto é fabricado no contentor de 1m3 com introdução manual de todas as


matérias-primas, pesadas individualmente nas balanças da zona de produção, com
excepção da água desmineralizada. É um produto neutro, usado para higienização das
mãos. Na Figura 5.16 estão representadas as cartas de controlo referentes aos valores
médios de pH. É possível observar na carta das médias de pH, uma zona onde não estão
apresentados limites de aviso, uma vez que a empresa ainda não tinha estabelecido estes
limites para o produto. Após estabelecimento dos limites de aviso, verificou-se a

Página | 46
estabilização do processo dentro destes valores. Como a média dos valores do processo
não se encontra centrada, os limites de controlo não se encontram centrados com os limites
de aviso impostos pela empresa. Como se pode observar na carta das médias, os valores de
pH tendem a situar-se abaixo da média, pelo que será necessária a revisão dos limites de
aviso, para posteriormente definir os limites de especificação do produto. Com o
estabelecimento dos limites de aviso, as amplitudes das leituras de pH também sofreram
uma redução, o que significa que o processo tende a ser estável.
Valores médios

Valor Máx.
de pH

Valor Mín.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
a) Nº de amostras

Dados LSC/LIC Média LSA/LIA


Amplitude do pH

1,5

1,0

0,5

0,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

b) Nº de amostras

Figura 5.16 – Cartas de controlo X/R do pH. a) Carta das médias b) Carta das amplitudes.

Na Figura 5.17 estão representadas as cartas de controlo referentes aos valores médios de
densidade do processo. É possível observar que o processo se encontra bastante estável, à
excepção dos dados iniciais da carta. Estes dados aleatórios devem-se a erros de leitura do
operador. Este é um produto que aquando do final do seu processo produtivo apresenta
bastante incorporação de ar no seu interior. Se as medições de densidade forem feitas
imediatamente após a sua produção, o ar introduzido provocará erros grandes na leitura da
densidade, geralmente reduzindo o seu valor. Deste modo, foi instaurado que a leitura da
densidade deste produto é sempre feita após umas horas de repouso, ou até mesmo
verificada somente no dia seguinte. Por consequência, os dados lidos a partir desta
alteração encontram-se bastante mais definidos. O método de determinação da
densidade durante o controlo estatístico baseou-se no método de densímetro/hidrómetro.
Assim sendo, no futuro o controlo estatístico para este produto terá de ser feito com dados
do picnómetro, uma vez que é o método mais correcto. Os limites de especificação terão
de ser posteriormente revistos para se enquadrarem com os valores resultantes do
picnómetro.

Página | 47
Valores médios Valor Máx.
de densidade

Valor Mín.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Nº de amostras
a)
Dados LSC/LIC Média LSE/LIE

0,012
Amplitude da
densidade

0,008

0,004

0,000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
b) Nº de amostras

Figura 5.17 – Cartas de controlo X/R da densidade. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Para o cálculo dos índices de capacidade do pH e da densidade, foram usados os valores


das amostras a partir da amostra 10. Da tabela seguinte é possível observar que os valores
dos índices de capacidade do processo estão acima de 1, pelo que o processo é capaz
em ambos os parâmetros medidos, sendo bastante mais capaz no caso da densidade. Os
valores do pH necessitam de ser centrados, como mostra o valor de Cp k para este
parâmetro.

Parâmetro Cp Cpk
pH 1,1 0,7
Densidade 6,6 6,0
Tabela 5.9 – Parâmetros de controlo estatístico do processo para o produto O.

5.2.4 Produto C

Este produto é fabricado no reactor de 5m3 com introdução manual de todas as matérias-
primas, pesadas individualmente nas balanças da zona de produção, com excepção da
água. É um produto neutro e de média viscosidade, usado para lavagem manual da loiça.
Na Figura 5.18 estão representadas as cartas de controlo referentes aos valores médios lidos
de pH. É possível observar que o processo se encontra acima do valor médio de pH,
estando os limites de controlo um pouco desfasados dos limites de aviso. Produção de
produto C é feita com uma neutralização inicial. Tal como no caso do produto L esta
neutralização é feita manualmente, oscilando o pH final de neutralização. Caso se pretenda
estabelecer os limites de aviso existentes como limites de especificação do produto é
necessário, ou automatizar o processo de neutralização, ou a curto prazo, aquando da

Página | 48
neutralização manual estabelecer, um valor médio de pH final. Deste modo evitam-se
grandes amplitudes de dados, tornando este processo o mais estável possível.
Valores médios

Valor Máx.
de pH

Valor Mín.

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89 93 97 101105
Nº de Amostras
a)
Dados LSC/LIC Média LSA/LIA

0,8
Amplitude dos
valores de pH

0,6
0,4
0,2
0
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89 93 97 101 105
b) Nº de Amostras

Figura 5.18 – Cartas de controlo X/R do pH. a) Carta das médias b) Carta das amplitudes.

Na Figura 5.19 encontram-se representadas as cartas de controlo referentes aos valores


médios de densidade. É possível observar que este parâmetro se encontra controlado. No
entanto, este produto também incorpora ar aquando do seu processo produtivo, pelo que é
imperativo fazer-se a medição da densidade após algum tempo de repouso. Os dados para
o controlo estatístico apresentado foram feitos com o método do densímetro, pelo que no
futuro, é necessário fazer o controlo estatístico deste produto com os dados provenientes do
picnómetro.

Na Figura 5.20 estão representadas as cartas de controlo referentes à viscosidade. Os dados


apresentados foram obtidos com o viscosímetro que se encontrava na fábrica, pelo que
não estavam estabelecidos limites de aviso para este produto. No entanto, o processo
encontrava-se estável com alguma amplitude de dados. Estas amplitudes devem-se
maioritariamente à qualidade dos electrólitos introduzidos na formulação. De modo, a
estabelecer a viscosidade do produto no final da produção, é necessária a adição de
NaCl. Se esta matéria-prima apresentar humidade elevada, como no período de Inverno,
esta “contaminação” vai prejudicar a viscosidade que se obtém no final da produção. No
último mês de estágio, quando se teve acesso ao viscosímetro Brookfield, conseguiram-se
ainda estabelecer limites de aviso para este produto, obtendo-se uma amplitude de valores
muito menor, apresentando, tendência para estabilizar ao longo do tempo.

Página | 49
Valores médios Valor Máx.
de Densidade

Valor Mín.
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89 93 97 101105
Nº de Amostras
a)
Dados LSC/LIC Média LSE/LIE

0,005
Amplitude da

0,004
densidade

0,003
0,002
0,001
0
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89 93 97 101105

b) Nº de Amostras

Figura 5.19 – Cartas de controlo X/R da densidade. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.
da Viscosidade
Valores médios

Valor Máx.

Valor Mín.
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89 93 97 101105
Nº de Amostras
a)
Dados LSC/LIC Média LSA/LIA

80
Amplitude da
Viscosidade

60
40
20
0
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89 93 97 101 105

b) Nº de Amostras

Figura 5.20 – Cartas de controlo X/R da viscosidade. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Da Tabela seguinte é possível observar que tanto a densidade como a viscosidade com os
novos valores definidos, são capazes de cumprir com as especificações e se encontram
bastante centrados. No entanto, os valores de pH, embora satisfatoriamente capazes de
cumprir com as especificações têm tendência a estar acima da média e a deslocar os
limites de controlo para cima, descentrando o processo.

Parâmetro Cp Cpk
pH 1,0 0,7
Densidade 1,8 1,7
Viscosidade 2,9 1,3
Tabela 5.10 – Parâmetros de controlo estatístico do processo para o produto C.

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5.2.5 Produto F

Este produto é fabricado no reactor de 2m3 com introdução manual de todas as matérias-
primas, pesadas individualmente nas balanças da zona de produção, com excepção da
água desmineralizada. Na Figura 5.21 estão representadas as cartas de controlo referentes
ao pH. A carta de controlo apresenta sinais de instabilidade consequência de uma
alteração de uma das matérias-primas, vindo a ser necessário uma neutralização manual no
final do processo produtivo. Devido a essa neutralização, as amplitudes nas leituras
consecutivas são grandes, aumentando os limites de controlo impostos pelo processo.
Como se pode observar nos dados finais da carta, tende a não ser necessária neutralização
e a estabilizar com valores de pH acima da média. Deste modo, no futuro será necessário
rever os limites de aviso do produto e transformá-los em limites de especificação.
Valores médios

Valor Máx.
de pH

Valor Mín.
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49
a) Nº de amostras

Dados LSC/LIC Média LSA/LIA

0,9
Amplitude de

0,6
pH

0,3
0
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49

b) Nº de amostras

Figura 5.21 – Cartas de controlo X/R do pH. a) Carta das médias b) Carta das amplitudes.

Na Figura 5.22 encontram-se representadas as cartas de controlo referentes aos valores


médios de densidade. É possível observar que embora os limites de controlo tenham uma
amplitude semelhante aos limites de aviso, como os valores medidos não se encontram
centrados, existe um desfasamento entre os dois tipos de limites. Este desfasamento
acontece pelas grandes amplitudes dos valores de leituras consecutivas devidas a erros de
leitura tal como no caso do produto L. Não obstante, é um processo que tende para
estabilizar para valores de densidade abaixo da média, como se pode observar pelos
últimos dados presentes na carta de controlo.

Página | 51
Valores médios
de densidade
Valor Máx.

Valor Mín.
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49
a) Nº de amostras

Dados LSC/LIC Média LSA/LIA


Amplitude de

0,006
densidade

0,003

0
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49
b) Nº de amostras

Figura 5.22 – Cartas de controlo X/R da densidade. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Da tabela seguinte é possível observar que para este produto são necessárias implementar
medidas para diminuir a variabilidade e centrar o processo.

Parâmetro Cp Cpk
pH 1,0 1,0
Densidade 1,1 0,6

Tabela 5.11 – Parâmetros de controlo estatístico do processo para o produto F.

5.3 Controlo Estatístico dos Pré-Embalados

Foi realizado um controlo metrológico dos produtos pré-embalados de modo a garantir o


cumprimento dos requisitos impostos por lei para este tipo de produtos [5]. Foram feitos
controlos para três tipos de produtos diferentes. Dois dos produtos são embalados
automaticamente e o outro embalado manualmente. O estudo foi feito por cartas de
controlo do tipo ̅-R, nomeadamente carta de médias e de amplitudes dos pesos medidos.
Os limites de especificação inferiores foram baseados no Quadro N.º 1 da Portaria N.º
1198/91 (Anexo B) para a determinação dos erros admissíveis por defeito nos conteúdos
efectivos [5]. O Limite Superior de Especificação (LSE) encontra-se representado nas cartas a
tracejado por não ser um limite legal, mas sim imposto pela empresa.

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5.3.1 Produto Q de 500mL

Este produto é embalado numa máquina de embalamento automática, como descrito no


Capítulo 4.1 referente ao Processo Produtivo. O produto é comercializado em embalagens
de 500mL de material translúcido e resistente. A Figura 5.23 representa as duas cartas de
controlo, uma para as médias de pesos e a outra para as amplitudes dos pesos. Da carta
das médias é possível observar que se trata de um processo bastante controlado. Embora
haja oscilações nas amplitudes dos pesos, o valor máximo é de 0,015, ou seja, reduzido. O
processo está um pouco acima da quantidade nominal com tara, não ultrapassando os
limites impostos pela empresa. Pelos dados dos índices de capacidade presentes na Tabela
5.12, estamos perante um processo capaz, que se encontra dentro dos limites de
especificação e é capaz de cumprir com os mesmos, pois tanto o índice de capacidade,
como o de funcionamento se encontram acima de 1,33.
Pesos Médios (Kg)

Valor Máx.

Valor Mín.

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Nº de amostras
a)
Dados LSE LIE Média LSC/LIC Quantidade nominal + tara

0,015
Amplitudes dos

0,010
pesos

0,005
0,000
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25

b) Nº de amostras

Figura 5.23 – Cartas de controlo X/R do produto Q. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Parâmetros Valores
Cp 2,2
Cpk 1,5

Tabela 5.12 – Índices de capacidade e funcionamento referentes ao enchimento de


produto Q.

5.3.2 Produto C de 5L

Este produto, também é embalado de forma automática, como referido no ponto 4.1 do
Capitulo 4. Para o caso da comercialização do produto no formato de 5L, podemos

Página | 53
observar as cartas de controlo presentes na Figura 5.24. Aquando da implementação do
sistema de controlo, observou-se que os pesos medidos se encontravam abaixo do
estabelecido por lei (amostras 1 a 6) o que necessitou de rápida actualização da
velocidade de enchimento da máquina. Depois desta actualização, os pesos ficaram
dentro da especificação, mas um pouco abaixo da quantidade nominal. Para não actuar
novamente na velocidade de enchimento da máquina, pois isso acarretaria atrasos no
embalamento, melhorou-se a viscosidade do produto, de modo, a observar se seria um
parâmetro relevante. Chegou-se à conclusão que é um parâmetro bastante importante e
não pode apresentar grandes oscilações. Deste modo, conseguiram-se pesos dentro da
especificação em linha com a quantidade nominal necessária. A variabilidade do processo
diminuiu com este melhoramento do processo de enchimento. Através dos valores
representados na Tabela 5.13 é possível observar que se trata de um processo centrado
capaz de cumprir com as especificações. Quando os valores dos dois índices de
capacidade são muito semelhantes, o processo encontra-se centrado e dentro dos limites
de especificações.
Pesos Médios (Kg)

Valor Máx.

Valor Mín.

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29
a) Nº de amostras
Dados LSE LIE Média LSC/LIC Quantidade nominal + tara
Amplitudes dos

0,20
0,15
pesos

0,10
0,05
0,00
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28
b) Nº de amostras

Figura 5.24 – Cartas de controlo X/R do produto C de 5L. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Parâmetros Valores
Cp 1,4
Cpk 1,3
Tabela 5.13 – Índices de capacidade e funcionamento referentes ao enchimento de
produto C 5L.

Página | 54
5.3.3 Produto C de 10L

Para o caso da comercialização deste produto num formato maior, de 10L, as cartas de
controlo do processo encontram-se representadas na Figura 5.25. Este processo, embora
funcionando com a mesma máquina de enchimento que o anterior, sempre se apresentou
controlado. Pela carta das amplitudes, é possível observar que é processo mais estável que
o anterior, não havendo nenhum valor medido fora do limite superior de controlo (LSC).
Pelos índices de capacidade representados na Tabela 5.14 é possível observar que se trata
de um processo capaz de cumprir com os limites de especificação, embora um pouco
descentrado relativamente à quantidade nominal. No geral é um processo bastante capaz.
Pesos Médios (Kg)

Valor Máx.

Valor Mín.

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Nº de amostras
a)
Dados LSE LIE Média LSC/LIC Quantidade nominal + tara
Amplitudes dos

0,15
0,10
pesos

0,05
0,00
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
b) Nº de amostras

Figura 5.25 – Cartas de controlo X/R do produto C de 10L. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Parâmetros Valores
Cp 1,7
Cpk 1,6
Tabela 5.14 – Índices de capacidade e funcionamento referentes ao enchimento de
produto C 10L.

5.3.4 Produto I de 5L

Este produto representa a título exemplificativo, o processo de embalamento manual na


fábrica. A Figura 5.27 representa as cartas de controlo para o caso do formato de
embalagem de 5L. É possível observar, assim como para o caso do produto C de 5L, que
este processo se encontrava abaixo do limite inferior de especificação imposto por Lei

Página | 55
(amostras 1 a 6). Deste modo, averiguou-se, para a quantidade nominal com tara, se
haveria alguma marca na embalagem que pudesse auxiliar o enchimento. Efectivamente,
como mostra a Figura 5.26, se a quantidade de produto presente na embalagem estiver
acima das setas marcadas a preto, este encontra-se no nível da quantidade nominal, ou
seja, na média dos limites de especificação. Após consciencialização dos operadores para
o procedimento segundo a marcação da embalagem, obteve-se uma média de processo
contígua à quantidade nominal com tara. O processo considera-se estável com uma
amplitude na ordem dos 0,1. Contudo, quando observamos os valores da Tabela 5.15,
deparamo-nos com índices de capacidade e de funcionamento iguais a 1. Neste caso, a
amplitude natural do processo, ou seja o valor 6 e a gama de valores de especificação
(LSE-LIE) são iguais: diz-se que o processo é marginalmente capaz de cumprir os limites da
especificação. Não obstante, o processo encontra-se centrado na média.

Figura 5.26 – Marca auxiliar para enchimento manual nas embalagens de 5L.
Pesos Médios (Kg)

Valor Máx.

Valor Mín.

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
a) Nº de amostras
Dados LSE LIE Média LSC/LIC Quantidade nominal + tara
Amplitudes dos

0,45
0,30
pesos

0,15
0,00
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
b) Nº de amostras

Figura 5.27 – Cartas de controlo X/R de produto I de 5L. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Página | 56
Parâmetros Valores
Cp 1,0
Cpk 1,0

Tabela 5.15 – Índices de capacidade e funcionamento referentes ao enchimento de


produto I 5L.

5.3.5 Produto I de 10L

O enchimento deste produto no formato de 10L é feito manualmente, pelo que também
representa um processo difícil de ser controlado. A Figura 5.28 mostra as cartas de controlo
deste processo. É possível observar que os valores médios dos pesos se encontram acima da
quantidade nominal com tara, estando o Limite Superior (LSC) fora dos limites de
especificação. Estes dados são corroborados com os valores dos índices de capacidade e
funcionamento presentes na Tabela 5.16, onde ambos se encontram abaixo da unidade.
Embora os dados se refiram a um processo que não é capaz de cumprir com os limites de
especificação, este somente não é capaz de cumprir com o limite superior. O Limite superior
de especificação, como referido anteriormente, é definido pela empresa não sendo
requisito legal. Este limite é imposto para salvaguarda de desperdício de produto, não
acarretando, deste modo, prejuízo para o cliente, mas sim para a empresa.

Assim sendo, o processo de embalamento poderia ser melhorado de modo, a centrar o


processo, mas ao contrário do que acontece com as embalagens de 5L que possuem
marcação, o controlo visual nas embalagens de 10L é difícil, uma vez que não existe
marcação.
Pesos Médios (Kg)

Valor Máx.

Valor Mín.

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25

a) Nº de amostras
Dados LSE LIE Média LSC/LIC Quantidade nominal + tara
Amplitudes dos

0,30
0,20
pesos

0,10
0,00
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25

b) Nº de amostras

Figura 5.28 – Cartas de controlo X/R de produto I de 10L. a) Carta das médias b) Carta das
amplitudes.

Página | 57
Parâmetros Valores
Cp 0,8
Cpk 0,5
Tabela 5.16 – Índices de capacidade e funcionamento referentes ao enchimento de
produto I de 10L.

5.4 Estudo da Estabilidade dos produtos

O estudo da Estabilidade dos Produtos é feita através de testes periódicos que se realizam a
vários tipos de produtos, sejam estes produtos já em produção ou produtos experimentais,
avaliando-se a estabilidade do produto sob várias condições que simulam o ambiente onde
os produtos poderão estar inseridos. Os produtos escolhidos foram o produto C, detergente
lava-loiça, e o produto O, o sabonete líquido para as mãos por serem produtos bastante
produzidos e comercializados. Os produtos clorados foram escolhidos por apresentarem
volatilidade do seu princípio activo, o hipoclorito de sódio. Por fim, escolheu-se um produto
em desenvolvimento, para desinfecção de saladas e frutas, para verificar a sua estabilidade
ao longo do tempo antes de começar a ser comercializado.

Os testes foram efectuados sob diversas condições, nomeadamente:

 Frigorífico a 6ºC;
 Temperatura Ambiente ao abrigo da luz;
 Estufa a 40ºC;
 Luz Solar.

O frigorífico representa a estabilidade do produto ao longo de 4 meses em ambientes frios


(cerca de 6ºC). É analisada também a evolução da estabilidade do produto à temperatura
ambiente ao abrigo da luz (armário), sendo este, o padrão de comparação do produto. A
estufa a 40ºC é utilizada para determinar a estabilidade do produto quando o ambiente
que o rodeia é um ambiente quente. Ao se expor os produtos em contacto directo com a
luz solar, pretende-se verificar a influência dos raios solares no produto, representando a
forma com os produtos poderão extar expostos nos locais de consumo.

Após serem colocados os produtos em teste, realizaram-se testes todas as semanas durante
13 semanas registando-se as alterações (caso as haja) ao nível de: Aspecto, cor, perfume e
separação. Além destas características organolépticas, verificaram-se os parâmetros
químicos como o pH, a viscosidade e o teor em cloro activo.

Página | 58
5.4.1 Produto C

A Figura 5.30 mostra a evolução dos valores de pH ao longo das 13 semanas para o produto
C. É possível observar que na estufa a 40ºC e no frio a 6ºC, o pH se mantém constante ao
longo do tempo, contudo à temperatura ambiente, o pH vai diminuindo, o que se traduz
numa instabilidade significativa do produto. Em termos de características organolépticas, é
possível observar pela Figura 5.29, que o produto no frio se encontra turvo e com depósitos,
ao contrário da limpidez característica à temperatura ambiente. A utilização de hidrótopos
nestes casos elimina problemas de separação de fases, potencializa a acção do sistema
tensoactivo nas formulações, aumenta a solubilização dos mesmos em água diminuindo o
ponto de turvação. Entre os hidrótopos mais usados temos: Ureia, cumeno sulfonato de
sódio, tolueno sulfonato de sódio e xileno sulfonato de sódio [3].

Figura 5.29 – Produto C apos 13 semanas de armazenamento: a 6ºC (esquerda) à


temperatura ambiente (direita).

Valor Máx.
Valores de pH

Valor Mín.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tempo, Semanas

Frio Estufa Luz solar Armário

Figura 5.30 – Evolução dos valores de pH ao longo de 13 semanas para as diferentes


condições de armazenamento.

Na Figura 5.31 é possível observar a evolução dos valores de viscosidade ao longo das 13
semanas. A 40ºC, a viscosidade atinge valores baixos de cerca de 60cP, o que seria de
esperar, pois com o aumento da temperatura, dá-se uma diminuição na viscosidade. Para
as restantes condições, a viscosidade mantem-se aproximadamente constante e da ordem
dos 420cP.

Página | 59
Valor Máx.

viscosidade
Valores de

Valor Mín.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tempo, Semanas
Frio Estufa Luz Solar Armário

Figura 5.31 – Evolução dos valores de viscosidade ao longo de 13 semanas para as


diferentes condições de armazenamento.

5.4.1.1 Melhoria do detergente de lavagem manual loiça

Durante a realização do estudo de estabilidade, detectou-se que o produto C apresentava


ao longo do tempo um abaixamento do valor de pH. Fez-se um estudo, em que se avaliou a
estabilidade dos produtos intermédios correspondentes a seis fases do processo produtivo.

A primeira fase é a da “neutralização” composta pela adição de água de rede, de ácido e


de base de acordo com a formulação. A fase seguinte, denominada por “simples”,
corresponde à adição de tensoactivos e “builders”. A 3ª fase denominada “com corante”
corresponde à adição de corante à fase simples, assim como, as fases “com essência” e
“com NaCl” correspondem, respectivamente, à adição de perfume limão e electrólito. Por
fim, temos o produto completo.

Como se pode observar na Figura 5.32, a fase de neutralização não sofre alteração de pH
ao longo das três semanas de teste. Não obstante, todas as outras fases sofrem alteração e
perda significativa dos valores de pH. É possível observar que as fases simples, com corante
e com perfume, ao fim das três semanas reduzem o seu pH até 5,5, enquanto as fases com
NaCl e completo, sofrem alteração do pH até um valor mínimo de 4,5. Por consequência
concluiu-se que é aquando da adição dos tensoactivos aniónicos que se observa uma
instabilidade nos valores de pH do produto final.

Valor Máx.
Valores de pH

Valor Mín.

0 1 2 3
Tempo, Semanas
Neutralização Simples Com corante
Com essência Com NaCl Completo

Figura 5.32 – Evolução dos valores de pH ao longo de 3 semanas para as várias etapas do
processo produtivo de produto C.

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Os dois tensoactivos aniónicos usados na formulação de produto C estão representados na
Figura 3.3 no Capítulo 3. Devido às cadeias alquílicas lineares, os tensoactivos aniónicos aqui
apresentados podem estar susceptíveis à acção dos sais responsáveis pela dureza total da
água e posterior libertação de iões H+ para o meio. O tensoactivo LASNa é o principal
constituinte na neutralização no processo produtivo deste produto e é bastante resistente à
presença de sais de cálcio e magnésio, o que corrobora o facto dos valores de pH da
neutralização se manterem estáveis. O LESS é introduzido na fase denominada por simples,
continuando presente em todas as restante fases do processo produtivo. Por consequência
é nestas fases que se dá a presença de iões livres H +, que provocam uma redução no pH do
meio. Aquando da adição de electrólitos ao produto, este dissociam-se em Na+ e Cl-,
havendo uma ligação do ião cloro, com o ião livre H +, formando HCl, provocando uma
maior acidificação do meio, chegando os valores de pH a 4,5.

Para evitar a acção da dureza total da água sobre o tensoactivo aniónico LESS foram
seleccionados alguns agentes sequestrantes para os estudos de estabilidade a efectuar ao
produto. Os agentes sequestrantes têm a função de complexar iões responsáveis pela
dureza da água, principalmente os iões cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+) e ferro (Fe3+). São
responsáveis portanto, pelo aumento da estabilidade dos sistemas onde estão inseridos.
Entre os principais sequestrantes utilizados na formulação de um detergente lava-louça,
destaca-se o EDTA. O sequestrante também exerce outro papel muito importante, que é o
da potencialização do sistema conservante devido à eliminação dos iões do meio,
essenciais ao crescimento das bactérias dificultando o seu aparecimento. Além do EDTA,
existem ácidos que podem funcionar como complexantes da dureza total presente na
água, tais como o ácido fosfórico (H3PO4) ou o ácido cítrico, um ácido orgânico fraco [3].

Os testes de estabilidade foram feitos com ácido fosfórico, ácido cítrico, água
desmineralizada em detrimento da água de rede e por fim com duas concentrações
diferentes de EDTA. A escolha das concentrações de cada agente prende-se com razões
económicas. É possível observar na Figura 5.34 que o uso do complexante EDTA nas duas
diferentes concentrações surtiu o efeito desejado, tendo estabilizado o pH do produto ao
longo das três semanas de teste. Comparativamente aos dois ácidos usados visualiza-se a
redução dos valores de pH, embora para valores mais altos. Por fim, o uso da água
desmineralizada em detrimento da água de rede não apresenta quaisquer resultados
positivos. A dureza total da água desmineralizada foi determinada recorrendo a um teste da
AquaMerck® titrimétrico, que calcula a dureza total em mg/L de CaCO 3. O resultado para a
água desmineralizada da fábrica foi 0mg/L de CaCO3. Contudo não se pode concluir que a
água estará totalmente livre de outros iões que possam afectar os resultados de
estabilização.

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Figura 5.33 – Teste de dureza total da AquaMerck® [12].

Valor Máx.
Valores de pH

Valor Mín.

0 1 2 3
Tempo, Semanas

Ácido Fosfórico Água Desmineralizada Ácido Cítrico 1ª Conc. EDTA 2ª Conc. EDTA

Figura 5.34 – Evolução dos valores de pH ao longo de 3 semanas para diferentes tipos de
agentes sequestrantes.

5.4.2 Produto O

Para o caso do produto O, podemos observar na figura seguinte, que para os valores de pH
é de constatar que estes se mantêm constantes ao longo do tempo, não havendo
instabilidade do produto. Em termos das características organolépticas, estas também se
mantiveram constantes ao longo de todo o tempo do estudo e para todas as condições de
teste. Na Figura 5.36 podem-se observar as curvas da evolução da viscosidade para as
diferentes condições de teste, sendo a viscosidade na estufa a mais baixa, o que seria de
esperar. Refira-se que a viscosidade no frio apresenta um valor mais baixo que à
temperatura ambiente ao contrário do esperado. Este facto deve-se à existência de
glicerina na sua formulação, que a temperaturas baixas funciona como um anticongelante,
tornando a solução menos viscosa a temperaturas baixas. Em condições ambiente e luz
solar a viscosidade apresenta o valor padrão esperado.

Valor Máx.
Valores de pH

Valor Mín.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tempo, Semanas
Frio Estufa Luz Solar Armário

Figura 5.35 – Evolução dos valores de pH ao longo de 13 semanas para as diferentes


condições de armazenamento.

Página | 62
Valor Máx.

viscosidade
Valores de

Valor Mín.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tempo, Semanas
Frio Estufa Luz Solar Armário

Figura 5.36 – Evolução dos valores de viscosidade ao longo de 13 semanas para as


diferentes condições de armazenamento.

5.4.3 Produtos Clorados

Para o caso dos produtos clorados estudou-se a perda de cloro activo ao longo do tempo
para estabelecer um prazo de vida útil do produto. Como já foi referido, as soluções de
hipoclorito de sódio têm estabilidade de armazenamento limitada. A decomposição ocorre
devido às duas reacções seguintes:

1. Formação de clorato de sódio:


2. Libertação de oxigénio:

Numa solução de hipoclorito de sódio de boa qualidade, ou seja, sem contaminantes e


pouco carbonato de sódio, a decomposição por formação de clorato representa cerca de
90% do total de decomposição. Com o aumento da temperatura, a concentração de
hipoclorito e a força iónica (causada pelo NaCl) potenciam ambas as reacções. A
radiação ultravioleta proveniente da luz solar também catalisa as duas reacções de
decomposição [17].

Para a condição de exposição ao frio, temos uma perda máxima de 2% durante os três
meses de teste. O produto I teve uma perda máxima de 0,5%. Este é o produto mais estável,
pois a sua formulação além do hipoclorito de sódio possui hidróxido de sódio, que estabiliza
o produto, elevando o pH da solução acima de 13. Os produtos T e em desenvolvimento
perderam 1,3% do cloro activo. Os produtos são bastante semelhantes na sua formulação,
portanto este resultado era esperado. O produto E foi o produto mais instável, pois a
formulação deste produto é um pouco diferente das anteriores. Os resultados para a
exposição ao frio encontram-se na Figura 5.37.

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Figura 5.37 – Evolução da perda de cloro (%) dos diferentes produtos ao longo de 13
semanas a 6ºC.

Como se pode ver na Figura 5.38 a exposição à radiação da luz solar, provoca uma perda
de cloro activo na ordem dos 70%. O produto com perda mais acentuada foi novamente o
produto E. É possível afirmar que o armazenamento deste tipo de produtos tem de ser feito
na ausência de luz solar para prolongar o tempo de vida útil.

Figura 5.38 – Evolução da perda de cloro (%) dos diferentes produtos ao longo de 13
semanas no caso de exposição à luz solar.

Em condições normais de armazenamento, ou seja, guardadas num armário à temperatura


ambiente (aproximadamente 16ºC), os resultados situam-se numa perda de cloro activo da
ordem dos 5%, máximo (Figura 5.39). O produto mais estável continua a ser o produto I, com
uma perda máxima de 2%. Deste modo, se o armazenamento for feito nestas condições,
durante 3 meses, o produto perde entre 2 a 5% de cloro activo, estando ainda garantido o
seu tempo de vida útil.

Figura 5.39 – Evolução da perda de cloro (%) dos diferentes produtos ao longo de 13
semanas no caso de exposição à temperatura ambiente.

Página | 64
5.5 Desenvolvimento de gel das mãos abrasivo

Para aumentar e expandir o mercado da empresa, foi pensado o desenvolvimento de um


gel das mãos abrasivo para ser usado em oficinas, indústrias pesadas, etc. As empresas de
prestação de serviços de limpeza, actualmente possuem no mercado produtos com o fim
de remoção de óleos das mãos de variadas naturezas.

O desenvolvimento deste produto foi realizado em quatro etapas. A primeira consistiu na


adição de dois abrasivos distintos: o carbonato de cálcio e serradura a um gel das mãos já
produzido pela empresa. A serradura usada foi peneirada previamente para evitar o
aparecimento de farpas aquando da fabricação do gel. O carbonato de cálcio foi o
existente na fábrica. O carbonato de cálcio não só confere poder abrasivo ao gel, como
também provoca um aclaramento da cor dada pelo uso da serradura.

Desta primeira formulação, detectaram-se alguns inconvenientes, sendo de salientar:

 Decantação dos dois abrasivos usados (Figura 5.40);


 A serradura necessária a esta formulação teria de ser peneirada, o que implicaria a
aquisição de equipamento extra somente para a fabricação deste produto;
 O carbonato de cálcio usado não é próprio para produtos destinados à higiene das
mãos.

Figura 5.40 – Decantação dos dois abrasivos usados na formulação do novo produto.

A segunda etapa centrou-se no tipo de abrasivo a usar. Deste modo, em alternativa à


serradura e ao carbonato de cálcio, foram escolhidos três tipos de abrasivos. Sendo estes:

 Polietileno de baixa densidade;


 Casca de Noz;
 Pedra-pomes em pó.

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Das primeiras formulações realizadas com os novos abrasivos sem alteração na formulação
do sabonete líquido usado, revelaram decantação no caso da casca de noz e flutuação
do polietileno de baixa densidade.

A terceira etapa consistiu na reformulação do sabonete líquido a usar com a incorporação


de um componente estabilizador da solução. Incorporou-se um polissacárido, denominado
por Goma Xantana, representado na Figura 5.41. Este polissacárido é secretado pela
bactéria Xanthomonas campestris e é usado como modificador reológico. Funciona como
estabilizador, prevenindo os vários constituintes de uma solução de se separarem. A
molécula é composta por unidade repetidas de pentassacáridos, como a glucose, a
manose e o ácido glucurónico.

Figura 5.41 – Representação esquemática da molécula de Goma Xantana [11].

Com a concentração determinada, os resultados de suspensão foram os esperados. Não se


verificou decantação, nem flutuação de nenhum abrasivo. Na figura seguinte é possível
observar a consistência do gel depois da fabricação. Possui um aspecto “gelatinoso” que
lhe confere as propriedades de sustentabilidade da solução, necessárias.

Figura 5.42 – Gel das mãos sem abrasivo onde se pode observar a consistência “gelatinosa”
do produto devido ao polissacárido.

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Finalmente, a quarta etapa consistiu na optimização da concentração de abrasivo e
selecção do corante e essência.

Para uma eficiente remoção das sujidades das mãos, fizeram-se alguns testes quanto à
concentração a usar de abrasivo. Foram testadas várias concentrações, tendo-se optado
por a concentração que surtiu o efeito desejado de abrasão. Relacionado com as
características organolépticas do produto, optou-se por adicionar à formulação do gel, cor
laranja e correspondente essência a laranja. A concentração de essência a utilizar prendeu-
se com dados do fornecedor de essências. Uma concentração maior poderia provocar
também o rompimento da goma e tornar o produto menos viscoso. Deste modo após a
lavagem das mãos perdura um agradável aroma a laranja.

5.6 Análise a produtos da concorrência

De maneira a ter uma ideia do mercado envolvente, efectuou-se um estudo a alguns


produtos de lavagem manual da loiça, de modo a avaliar a sua composição de uma
maneira quantitativa e qualitativa.

Esta análise teve como objectivo a determinação de vários parâmetros em diferentes


produtos da concorrência, nomeadamente:
 1;
Produtos de venda directa ao consumidor
 2;
 3;
Produtos para serviços de limpeza
 4.

Os parâmetros estudados foram os seguintes:


 pH;
 Densidade;
 Viscosidade;
 Extracto seco;
 Teor em matéria activa aniónica;
 Formação de espuma.

A determinação dos parâmetros pH, densidade e viscosidade foi feita com base nos
métodos descritos no Capítulo 4.2 Métodos de Ensaio. Para a determinação do extracto
seco das amostras, o método usado foi: Pesagem de 1g de amostra numa caixa de Petri;
Homogeneização da amostra por toda a superfície da caixa; colocação na estufa a 105ºC
durante 24h ou até peso constante da amostra.

Página | 67
A determinação da matéria activa aniónica foi feita de acordo com base nos métodos
descritos no Capítulo 4.2 Métodos de Ensaio. A quantidade de massa a tomar para efectuar
a análise aos vários produtos encontra-se descrita na Tabela 5.17.

Produto Massa da toma para Pesos Moleculares


análise (g) Médios (MM)
1 5,6 352
2 16,9 360
3 11,0 358
4 32,2 363

Tabela 5.17 – Massa de toma para análise para os vários produtos da concorrência.

Para a determinação de formação de espuma, foi usado o método seguinte: Pesam-se 5g


de produto a analisar e transferem-se para um balão volumétrico de 1000mL; Dessa solução
retiram-se 25mL para uma proveta graduada de 100mL. Agita-se cinco vezes, inclinando a
proveta para baixo e para cima e fazem-se leituras a 30segundos, 3minutos, 5minutos,
registando-se o valor da altura da espuma na proveta. A Figura 5.43 mostra o método para
a leitura da altura de espuma. O cálculo da altura de espuma é feito, pela média dos
valores lidos no Ponto 1 e a diferença desta média com o valor lido na superfície entre o
líquido e a espuma, que corresponde ao Ponto 2.

1
2

Figura 5.43 – Determinação da altura de espuma formada através da diferença entre a


média do Ponto 1 e o Ponto 2.

A Tabela 5.18 mostra os resultados do estudo para os diferentes produtos. Como se pode
observar, cada um dos produtos analisados apresenta características diferentes e que os
produtos da empresa se enquadram na gama de variações dos produtos analisados. Temos
que para os produtos que apresentam maior teor em matéria activa aniónica, existe maior
altura de espuma formada. Logo, num detergente lava-louça, parece existir uma relação

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entre a formação de espuma e a quantidade de tensoactivos. Por outro lado, não se pode
afirmar que exista uma relação directa entre a viscosidade e o teor em matéria activa
aniónica. O aumento da viscosidade pode ser feito pelo aumento da concentração de
tensoactivos ou misturas de diferentes tensoactivos, ou então, pelo aumento da quantidade
de electrólitos (sais) a utilizar. É possível observar pelos valores de densidade apresentados
que valores altos de densidade se traduzem em viscosidade maior, por aumento da adição
de sais a um detergente. No caso do produto 2 essa quantidade é excessiva, tendo
acontecido que em caso de sais em excesso dá-se o rompimento das ligações (Figura 5.44),
baixando a viscosidade significativamente.

Para o caso das diferenças entre os valores obtidos por extracto seco e os valores do teor
em matéria activa aniónica, a justificação prende-se com os seguintes factores:

1. Para o caso dos detergentes 1 e 2 a existência de tensoactivos não iónicos que não
são contabilizados pelo método de determinação da matéria-activa aniónica.
2. Para o caso dos restantes detergentes a presença de matérias-primas, como sais,
conservantes, entre outras que não são voláteis.

Figura 5.44 – Representação esquemática do mecanismo de espessamento do detergente


com sais [3].

Mat.
Densidade Viscosidade Extrato Espuma30’’ Espuma5’
Produto pH Ativa
(g/cm3) (cP) seco (%) (mL) (mL)
(%)
1 8,5 1,018 830 25,1 14,3 58 56
2 5,3 1,017 620 8,5 4,5 42 39
3 8,8 1,050 575 13 8,3 42 41
4 7,5 1,020 293 6,6 5,6 34 34
C 6,5 1,022 520 6,8 4,8 36 36
P 6,5 1,026 1075 13,5 12,3 43 42
Tabela 5.18 – Análise de diferentes parâmetros a produtos da concorrência de lavagem
manual da loiça.

Página | 69
Página | 70
6. C
ONCLUSÃO E TRABALHO FUTURO

Página | 71
6.1 Conclusões

Como referido anteriormente, esta tese de mestrado abrangeu várias temáticas inerentes à
empresa onde foi realizada, sendo que as conclusões englobam diversos temas.

A revisão do método analítico de pH revelou que o aparelho de medição desta


característica apresenta diferentes precisões consoante o tipo de produto a analisar. Assim
sendo, para produtos de média viscosidade, a precisão é mais baixa podendo ocorrer erros
de leitura, bem como, para produtos alcalinos.

A revisão do método de determinação da viscosidade revelou que o viscosímetro Krebs da


Sheen, que se encontrava disponível na empresa, não era o mais adequado à medição das
viscosidades dos produtos. Do estudo realizado ao viscosímetro Brookfield LV DVI-Prime
concluiu-se que este era, de facto, mais preciso para os produtos fabricados. Por fim
determinaram-se a velocidade e o spindler adequados a cada um dos produtos que
requeriam a medição desta característica.

A revisão do método de determinação da densidade revelou que era necessário usar


métodos diferentes para produtos com propriedades reológicas diferentes. Para produtos
com média e alta viscosidade, o uso do densímetro torna-se inviável, devido à resistência
que estes produtos apresentam à deformação. Deste modo, o uso do picnómetro torna-se o
mais indicado para produtos viscosos para a determinação da densidade.

A análise à capacidade do processo através de cartas de controlo X/R e para cinco


produtos diferentes permitiu averiguar como se encontrava o processo de fabrico. Conclui-
se que para os processos que necessitam de neutralização manual, o processo revela-se
pouco capaz de cumprir com as especificações, sendo necessário restabelecer a
especificação de aviso de neutralização do produto, ou automatizar o processo, com
adição automática e controlada de matérias-primas. Para o caso de produtos mais simples,
o processo encontra-se capaz e centrado, podendo os limites de aviso impostos pela
empresa, ser estabelecidos como especificação do produto.

A introdução do controlo estatístico dos produtos pré-embalados permitiu a averiguação


dos parâmetros mais importantes ao embalamento dos produtos. Alguns procedimentos
que eram usados foram corrigidos. Ao nível do embalamento automático, ajustou-se a
viscosidade dos produtos de modo a centrar, dentro dos limites impostos por Lei e pela
Empresa, os valores metrológicos. Quanto ao embalamento manual, foi possível ajustar o
nível de enchimento recorrendo ao uso de uma marca presente nas embalagens (5L) e
consciencializar os operadores quanto à importância dos limites inferiores impostos pela Lei.

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O estudo de estabilidade realizado aos diferentes produtos permitiu avaliar o modo como as
condições ambientais em que os produtos são armazenados, influenciam as suas
características físicas e químicas. Permitiu, também, estabelecer prazos de utilização dos
produtos clorados. Com a detecção da instabilidade do detergente de lavagem manual
da loiça, foi possível determinar as causas e as soluções para esta instabilidade. Deste
modo, se na formulação do detergente for adicionado um agente sequestrante, como o
EDTA, este pode captar os iões que conferem dureza à água, permitindo uma maior
estabilização dos tensoactivos usados no detergente. Para o caso dos produtos clorados foi
possível estimar a perda de cloro sofrida em cada uma das condições ambientais de teste e
pôde-se concluir que para armazenamentos a temperaturas abaixo dos 20ºC, ao abrigo da
luz, os produtos têm perdas muito pequenas de cloro. Deste modo, a eficácia dos produtos
clorados comprova-se mesmo ao fim de três meses de vida útil.

O estudo efectuado aos diferentes produtos da concorrência permitiu avaliar as


características físicas e químicas, bem como, quantificar a altura de espuma formada pelos
produtos, indicativo da presença de tensoactivos aniónicos e não iónicos nos produtos, que
por consequência se traduz em eficácia dos produtos respeitante a remoção de gorduras.
Deste modo, conclui-se que o produto da concorrência 1 apresenta uma espuma com
maior volume e mais estável ao longo do tempo, estando ao mesmo tempo esta
característica relacionada com o alto teor em matéria activa aniónica. Os produtos
fabricados na empresa, C e P, diferem entre si em matéria activa aniónica e isso verifica-se
na quantidade e qualidade da espuma formada. O detergente concentrado P, ao
aumentar a sua matéria activa, apresenta um maior poder espumante.

Por fim, o desenvolvimento de um novo produto, o gel abrasivo para mãos para remoção
de óleos de oficinas e indústrias pesadas não ficou concluído. Foi possível proceder a
alterações na formulação do gel, de modo, a garantir uma melhor estabilidade do produto.
Essa estabilidade deveu-se ao uso de um polissacárido, denominado por Goma Xantana,
que conferiu ao produto a sustentabilidade necessária para incorporação dos abrasivos
desejados.

Com o decorrer do estágio, tomou-se conhecimento do funcionamento de uma unidade


fabril, da importância dos vários departamentos e da ligação entre os mesmos. Percebeu-se
a importância do apoio dado pelo departamento da qualidade ao da produção nas suas
rotinas diárias, bem como na procura de soluções para os problemas que surgiram.

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6.2 Sugestões para Trabalho Futuro

Apesar de todas as tarefas propostas para este trabalho terem sido realizadas e concluídas,
caso o estágio fosse reiniciado, algumas abordagens poderiam ser repensadas. Deste
modo, aqui ficam algumas sugestões sobre o trabalho que desenvolvi e que pode ainda ser
melhorado.

Em relação ao desenvolvimento do gel abrasivo de mãos, seria de valor acrescentado


realizar mais testes, adicionando um solvente (isoparafina L) e um composto para alteração
de cor, como o óxido de titânio. Caso estas adições se confirmassem suficientes e de
comum agrado, seria necessário realizar uma matriz da qualidade, para averiguar num
largo grupo de usuários, quais as características relevantes do produto, de modo a
prosseguir para uma produção piloto.

Voltar a avaliar a melhoria do detergente de lavagem manual da loiça, de modo a reduzir


ao máximo a quantidade de agente sequestrante a usar e estimar os custos operatórios
necessários com a adição de EDTA. Caso estes se revelassem elevados, recorrer a um
estudo de mercado de matérias-primas para determinar um produto mais económico.

Considero ser necessário a realização de testes de estabilidade a um maior número de


produtos, pois detectou-se que alguns dos produtos se encontravam instáveis em termos de
características organolépticas, nomeadamente cor e odor.

Página | 74
7. BIBLIOGRAFIA

Página | 75
[1] LAS, Human and Environmental Risk Assessment on ingredients of Household
Cleaning Products, revised HERA Report, April 2013

[2] Literatura facultada pela empresa, Carnaxide, 2013.

[3] Misíril G. M. , Formulando Detergente Lava-louça, Household e Cosméticos.

[4] Montgomery D.C., “Introduction to Statistical Quality Control”, 6th edition.

[5] Portaria n.º 1198/91 de 18 de Dezembro, Ministério da indústria e energia, Diário da


República – 1 Série-B; Nº291 de 18-12-1991.

[6] Pulido R. A., Rodríguez A. M., Jiménez M. O., “Control Esadístico de la Calidad”,
Grupo Editorial Universitario, 2005.

[7] Tadros T. F., “ Applied Surfactants – Principles and Applications”, Wiley-VCH Verlag
GmbH & Co., 2005

[8] Zoller U. e Broze G., “Handbook of detergents- Part A”, New York-Basel, 1999.

Websites:

[9] http://biory.com/biorf_formula.html

[10] http://en.wikipedia.org/wiki/File:Sodium_laureth_sulfate_structure.png

[11] http://en.wikipedia.org/wiki/Xanthan_gum

[12] http://www.acquasolution.com/

[13] http://www.brookfieldengineering.com/index.asp

[14] http://www.macler.com.br/produtos/367/coco-amido-propil-betaina-30

[15] https://www.medicinescomplete.com

[16] http://www.pmtech.com.br

[17] http://www.solvaychemicals.com

[18] Website do Grupo

Página | 76
8. ANEXOS

Página | 77
Anexo A: Tabela de Constantes das Cartas de Controlo

Página | 78
Anexo B: Portaria N.º 1198/91

1. Quadro N.º 1

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Anexo C: Dados dos testes de Viscosidade no Instituto Superior
Técnico

1. Viscosímetro Brookfield Dial Reading LVT e o small sample adapter

2. Valores de viscosidade lidos nos três diferentes laboratórios


Produto Empresa Média (cP) CTV Média (cP) IST Média (cP)

810 2090 2650


B 830 832 1950 2095 3000 3317
856 2245 4300
783 2093 3250
796 2246 3100
O 763 794 2386 2366 2750 3310
823 2395 3925
803 2707 3525
288 483 585
308 524 522
C 314 311 548 539 545 557
294 537 530
348 602 600

3. Parâmetros referentes à determinação da viscosidade em sete produtos diferentes.

Velocidade Leitura Torque Leitura Torque Leitura Torque Leitura Torque


Produto Spindle média médio
(rpm) (cP) (%) (cP) (%) (cP) (%)
(cP) (%)
12 1215 48,6 1222 48,9 1230 49,2 1222 48,9
A S62
20 907,3 60,5 910,3 60,7 914,8 61 911 60,7
20 2453 40,9 2453 40,9 2447 40,8 2451 40,9
B S63
30 2140 53,5 2140 53,5 2140 53,5 2140 53,5
20 2429 40,5 2447 40,8 2447 40,8 2441 40,7
O S63
30 2204 55,1 2204 55,1 2218 55,3 2209 55,2
4 728,8 48,6 728,8 48,6 727,3 48,5 728 48,6
S S61
5 723,4 60,3 725,8 60,5 725,8 60,5 725 60,4
12 3719 37,2 3719 37,2 3719 37,2 3719 37,2
Q S63
20 2945 49,1 2951 49,2 2939 49 2945 49,1
5 525,5 43,8 526,7 43,9 525,5 43,8 526 43,8
C S61
6 525,9 52,6 526,9 52,7 525,9 52,6 526 52,6
12 1082 43,3 1075 43 1075 43 1077 43,1
P S62
20 1068 71,2 1069 71,3 1068 71,2 1068 71,2

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