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APOSTILA

POR
IGOR CELESTINO
INTRODUÇÃO
A presente apostila visa oferecer aos ouvintes

do mare liberum um resumo escrito do que foi

abordado no episódio, bem como algumas

observações que o autor julgue pertinente e que,

pelo formato próprio do podcast tenha passado

em branco.

Hoje nossa apostila abordará o capítulo 2 do

Livro III de Cristianismo Puro e Simples, de

C. S. Lewis, onde ele trata do tema as virtudes

cardeais.

Não estranhe estarmos começando mais ou

menos do meio do livro. Decidi fazer assim

para unir o útil ao agradável. Tenho pouco

tempo disponível para gravar os podcasts do

mare liberum, por isso resolvi aproveitar um

momento semanal de estudos que acontece em

minha casa para alimentar o pod e, aproveitar,

ter esse compromisso de fazer os textos para até

mesmo me ajudar a compreender melhor cada

capítulo.

Você verá que, assim como quase todos os

livros de Lewis, a simplicidade com que os

argumentos são apresentados só aumentam a

profundidade com que o autor nos faz entender

os temas abordados.

Boa Leitura.

PS.: Quem quiser adquirir o livro, compre pelo

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MARE LIBERUM - As Virtudes Cardeais

Introdução

▪ O cristianismo reconhece 7 virtudes principais: Prudência, Temperança, Justiça, Fortaleza,


Fé, Esperança e Amor. As quatro primeiras são chamadas de virtudes cardeais, as três
últimas, virtudes teologais.
▪ O termo cardeal não é empregado em referência ao cardeal da Igreja Católica, mas ao sentido
mesmo da palavra latina cardinalis, adjetivo que deriva do termo cardo, que pode ser
entendido como algo que serve como apoio a outra, por exemplo, a dobradiça de uma porta,
que fixa na parede permitindo que a porta gire.
▪ A idéia é exatamente essa: essas virtudes são qualidades humanas fundamentais,
indispensáveis para o desenvolvimento de todas as outras.
▪ Podemos dizer que elas são exigíveis de qualquer pessoa que pretenda se dizer minimamente
civilizada, ao passo que as teologais são exigíveis apenas dos cristãos.
o Porém, é importante ressaltar: não há chance de você manifestar as virtudes teologais
sem que antes, tenha presente em seu ser as virtudes cardeais. Dessa forma, o
desenvolvimento destas faz parte da salvação da sua alma. Antes de te salvar, Deus
quer que você vire gente.

Prudência

▪ Tem a ver com o “bom senso”, com o desenvolvimento mesmo da inteligência.


▪ Não é a prudência do modo como a conhecemos por parte dos liberais brasileiros. Aqui a
palavra foi deturpada para significar um termo auto elogioso que muitos trocam entre si para
esconder sua covardia.
▪ Veremos adiante a importância da virtude da fortaleza (coragem), por ora, entenda que
prudência não é ser “isentão”, nem nada que remeta a isso. Usando termos bíblicos, isso é
mornidão, algo que te fará ser vomitado naquele dia (Apocalipse 3:15,16).
▪ A indicação do real significado de prudência como virtude pode ser encontrado no conselho
de Cristo aos seus discípulos: “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois,
prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas (Mateus 10:16).”
o Atente-se a um detalhe: O Senhor usa como exemplo de prudência a serpente. Deus
não escolhe as palavras em vão, nem as usa de forma desatenta. Não é curioso que o
modelo de prudência dado a nós por Nosso Senhor tenha sido justamente a serpente, o
animal que, na narrativa do Gênesis, tentou a humanidade, levando-a ao pecado
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original? O que se diz sobre a serpente é que ela era "mais astuta que todos os animais
selvagens que o Senhor Deus tinha feito". Isso é revelador. Primeiramente, indica o
quê, exatamente, Cristo quis dizer ao nos dizer para sermos prudentes e qual o real
significado dessa virtude cardeal: astúcia, sagacidade, agudeza de mente. O mero
acúmulo de informações não pode dar isso - fato cotidianamente comprovado pelos
nossos liberais. Isso também ajuda a ignorar as críticas de nossos opositores, de que
para ser conservador é preciso ser um pacifista inofensivo. Serpentes não são animais
pacíficos.
▪ Sem coragem (sem fortaleza) não há como desenvolver a prudência. Especificamente nesse
caso, há um agravante, essa pseudo prudência gera um certo reconforto psicológico, devido
ao fato de que aquilo que a pessoa sempre experimentou como medo, de repente assume a
forma de uma qualidade digna de admiração. Não é sem razão que esse engano seja tão difícil
de se abandonar, e que seus adeptos pareçam estar cada vez mais irremediavelmente
convencidos: para admitir o engano também é preciso ter coragem. Eis aí a genealogia
psíquica do liberal brasileiro: fruto do casamento entre a covardia e a degradação da
linguagem.
▪ A busca de sabedoria precisa ser encarada por nós como um dever. Ninguém é obrigado a ser
intelectual, mas todos temos a obrigação desenvolvermos nossa inteligência, de acordo com
nossas capacidades. Não fazer isso é tão somente demonstração de um vício: a preguiça. E
não se engane, a preguiça intelectual é tão errada e reprovável quanto qualquer outra
modalidade de preguiça.
▪ Por óbvio, um alto nível intelectual não é requisito para ser cristão. Inclusive, Lewis vai
apontar para o fato de que o cristianismo é, em si, uma educação. Converter-se é, em certo
sentido, educar-se. Afinal, o bê-a-bá de uma rotina de vida cristã piedosa inclui a leitura
frequente do maior clássico de todos os tempos: a Bíblia. Por isso, diz ele, é possível que uma
pessoa com pouca escolaridade como Jhon Bunyan pode ter escrito um livro (O peregrino)
que conquistou o mundo.

Temperança

▪ O sentido original da palavra é moderação, o controle dos impulsos e o cuidado para que
nada do que façamos nos consuma ao ponto de perdermos o controle de nós mesmos, para
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que não tenhamos vícios (aqui entendido não como oposição à virtude, mas no seu termo
corrente: o estar viciado em algo).
▪ No entanto, Lewis afirma que tal sentido foi deturpado, passando a significar abstinência,
especificamente de bebidas alcoólicas. Mas, alerta o autor, não é o Cristianismo que prega a
abstinência de álcool, mas sim o islamismo.
▪ Isso não quer dizer que o cristão não possa, e mesmo deva, se abster em algumas situações,
mesmo de coisas que lhes são lícitas. Isso acontece, no entanto, quando tal ação se faz
necessária para o bem de um irmão a quem o Apóstolo Paula chama de “mais fraco”. O que
não pode acontecer é a ditadura do mais fraco, quando, por exemplo, aquele que não bebe
exige que os que bebem parem de fazê-lo. Não faz parte da conduta cristã o exigir que todos
se abstenham das mesmas coisas que você, ou mesmo o esnobar daqueles que não seguem
suas regras de abstinência.
o Num certo sentido, essa postura não é apenas não-cristã, mas também anti-cristão. Tal
atitude não passa de uma tentativa de exercer controle sobre as demais pessoas. É, no
fundo, aquele velho desejo de “mudar o mundo”, que não tem nada de cristão.
▪ Outro problema dessa redução é o fato de que, focando nessa externalidade, as pessoas se
esquecem completamente de que elas podem não estar sendo intemperantes com diversas
coisas como o carro, a carreira, etc.

Justiça

▪ Aqui o autor não se alonga muito, por isso também não falarei muitas coisas.
▪ Essa virtude não tem relação com o que acontece nos tribunais (principalmente hoje em dia).
A justiça remete ao bom e velho jogo limpo, ao desejo de ser honesto. Também remete à
veracidade e ao cumprimento das promessas

Fortaleza

▪ Essa é a principal virtude cardeal. Sem ela as outras são impossíveis (tanto as cardeais quanto
as teologais).
▪ Lewis identifica coragem (fortaleza) com a palavra em inglês guts, que indica tanto a
coragem de encarar um perigo iminente, quanto aquela que se dispõe a suportar até o fim.
▪ Sem fortaleza, todas as virtudes podem se transmutar em vício.
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▪ Essa é a virtude, também, mais exigida por Deus de seus servos e santos: “seja forte e
corajoso”. E a base para nossa coragem é uma só: no meio da tempestade, ouvimos a voz
dAquele que diz: “coragem, sou Eu. Não tenhais medo”.

Considerações finais

▪ Ter virtudes é diferente de simplesmente praticar ações virtuosas. Se fosse assim,


admitiríamos que a intenção do coração simplesmente não importa, o que não é verdade.
▪ No entanto, a assimilação das virtudes vem exatamente da sua longa prática. O autor dá o
exemplo do jogador de tênis. Mesmo que ele seja um jogador medíocre, ele pode acertar,
eventualmente, uma jogada genial. Porém, ele continua sendo medíocre. Só quando ele
treinar o suficiente seus músculos, seus reflexos etc. ele será um bom jogador, quando aquilo
que foi um golpe de sorte se torne o normal para ele. Assim também é com as virtudes,
devemos praticá-las até que elas se tornem um movimento natural de nosso ser.
▪ Deus não quer simplesmente a obedeçamos a uma lista de regras. Isso não é moralidade de
forma alguma, é apenas uma fábrica de moralistas. O que ele quer, de fato, são pessoas
dotadas de um determinado caráter.
▪ A última orientação de Lewis é fantástica e assustadora. Vale a pena a transcrição:
o É verdade que provavelmente não haverá ocasião para praticar a justiça ou a coragem
na outra vida, mas haverá uma abundância de ocasiões para sermos o tipo de pessoa
que nos tornamos ao praticar esses atos aqui. A questão não é que Deus vá negar
nossa entrada na vida eterna se não tivermos certas qualidades de caráter, mas que, se
as pessoas não tiverem pelo menos os rudimentos dessas qualidades dentro de si,
nenhuma condição exterior poderá ser um "Paraíso" para elas - em outras palavras,
nenhuma condição exterior poderá dar-lhes a forte, profunda e inabalável alegria que
Deus tencionou para nós.

Até a próxima!

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