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Jornalismo online e o jornalista contemporâneo ¹

Bárbara Demetrio ²
Marlene Branca Solio ³
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS.

Resumo: Neste texto discutimos a questão “até que ponto é preciso tratar o
jornalismo online de forma diferente do jornalismo adaptado para as outras formas
de mídia ou multimídia para ser difundido”. Defendemos que o jornalista na
sociedade contemporânea deve desenvolver a habilidade de escrever para os
diversos meios com ética e postura de um profissional que tem consciência da sua
influência na sociedade. Acreditamos que se o texto estiver bem escrito, adequado
ao leitor, a leitura terá resultados satisfatórios. Quando o texto é mal escrito, o leitor
tem uma dificuldade maior de se identificar, ou até mesmo de criar um vínculo com o
que está sendo proposto pelo jornalista. Portanto, enquanto acadêmicos de
jornalismo, temos que buscar nos qualificar para este mercado de trabalho. Assim,
teremos uma possibilidade maior de sermos considerados profissionais capacitados
e fundamentais na busca constante por um jornalismo de qualidade.
Palavras chaves: Jornalismo online; Webjornalismo; ética.

1. Introdução

Com o presente artigo pretendemos verificar até que ponto temos


necessidade de pensar o jornalismo online diferente do jornalismo adaptado para as
outras formas de mídia e multimídia. Analisando a postura ética do jornalista diante
do exercício jornalístico.
Anteriormente não tínhamos essa noção tão grande sobre a crise do jornal
impresso, com as elucidações do livro escrito por Luciano Borges, entendemos de
forma mais abrangente a crise pela qual o jornal impresso passa. Atualmente, com a
disponibilização dos jornais impressos na Internet, de forma gratuita e de fácil
acesso.
Após um semestre com constante aprendizado e conteúdo sobre a dinâmica
da rede telemática e o exercício do jornalismo neste meio, percebemos o jornalismo
como uma área carente de profissionais éticos e cientes de suas responsabilidades.
Então, resolvemos falar um pouco mais sobre estes temas que são de fundamental
importância para um exercício consciente do papel que temos enquanto formadores
de opinião.
¹ Artigo realizado para a disciplina de jornalismo online. Período: 2010/4.
² Estudante de Graduação 6º. semestre do Curso de Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo,
da UCS, email: bdemetrio@ucs.br
³ Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social da UCS, email:
mbsolio@ucs.br
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Para elaboração deste artigo foi necessária a citação de páginas segundo a


autora Pollyana Ferrari, do livro Jornalismo Digital; José Marques de Melo e
Osvando J. de Morais (organizadores) do livro Mercado Comunicação na Sociedade
Digital; Juliano Borges do livro Webjornalismo: política e jornalismo em tempo real; E
um artigo de Alex Gonçalves, chamado Ética na comunicação.
Este trabalho é consequência das discussões das aulas de jornalismo online,
disciplina ministrada pela professora Branca, em troca mútua com os colegas
através dos seminários e das leituras dos livros solicitados.

2. Jornalismo online e quebra do paradigma (um-todos)

A Internet é uma ferramenta que veio para ficar, e isto já se sabe. Tamanha
sua facilidade de assimilação de conteúdo, integrando texto, som, imagem,
interatividade.
BORGES (2009) e FERRARI (2003) falam da interação com a rede, a
mudança de um jornalismo monólogo (um-todos), para um jornalismo que permite a
forma (todos-todos). Uma vez que os receptores também podem ser emissores.
Acreditamos que a obra dos os autores citados se complementam, isto pelo
fato de FERRARI fazer uma narrativa entrelaçando a evolução da Internet com a sua
bagagem profissional de quatorze anos de trabalho na época da edição. Enquanto
que o jornalista e doutor em ciências políticas Juliano Borges, fala sobre esta
evolução do jornalismo dando um olhar mais abrangente e mais esclarecedor sobre
aspectos do dia a dia do profissional das redações tanto impressa, quanto online.
Chamou-nos a atenção a reflexão de BORGES, quando ele diz que com as
novas tecnologias de transmissão de dados a longa distância, juntamente com a
velocidade utilizando da multimídia e da multimodalidade auxiliaram em novas
formas de comunicação com impacto muito grande na produção de capital. Pois
possibilitam o capitalismo sem fronteiras, como ele mesmo diz.
Mostra que o viés anterior dos jornais impressos era a publicação de notícias
e análise crítica. Passaram a fazer uso dos produtos segmentados, dirigidos para
entretenimento e a prestação de serviços de utilidade pública. A produção
segmentada, dividida em caderno e seções voltadas para os nichos de consumo,
tem o objetivo de alcançar públicos com perfis e interesses diversos.
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O leitor, agora é visto como cliente. Acaba recebendo muito mais informação,
entretenimento que notícias. Então o jornal se torna menos denso, mais colorido,
atraente, para aumentar o mercado potencial. Com essa mudança de foco, de leitor
para cliente o jornal tem uma perda na independência e na qualidade jornalísticas.
BORGES (2009): “O resultado desta política de bajulação leitor/consumidor
representou o surgimento das notícias mais superficiais, numa redução de conteúdo
à lógica empresarial.”
Ambos, FERRARI e BORGES, falam da capacidade ampliada de divulgação,
o que propicia a uma atualização constante de informações, diferente do impresso
que tem um limite de tempo.
Será que a facilidade do digital, extinguiria o impresso? O editor do Pioneiro
Online, convidado pela professora para falar sobre seu trabalho, também nos fez
este questionamento, abordado nos dois livros. Mediante a questão ele disse que
ainda haverá pessoas que vão preferir o impresso, mas que o crescimento do online
é muito grande, cada vez mais dinâmico e aliado com as novas mídias.
Já havia uma crise no jornal impresso, mas com o surgimento do
webjornalismo a situação fica cada vez mais complicada. Quem vai querer assinar
um jornal, se pode muito bem ter acesso ao jornal na integra pela Internet? Nas
aulas de outras disciplinas, os alunos, quando solicitados, narram a tentativa dos
telemarketings de vender desesperadamente o jornal impresso.

Jornalismo online no futuro e a interatividade

É complexo refletir sobre o futuro de um meio massivo como o webjonalismo


que está em constante mudança e se adaptando para os diferentes tipos de
tecnologias desenvolvidas. Quando perguntado sobre o futuro deste meio, lembro
que pessoas foram ouvidas, a partir do surgimento da televisão, e disseram que o
impresso acabaria. O que se vê hoje é uma diminuição na compra, mas ainda existe
o impresso, mesmo com todos os problemas que ele se depara. De acordo com
FERRARI (2003):
“Por mais de cinqüenta anos, a TV tradicional reinou
absoluta com sinônimo de mídia de massa. Os
telespectadores consumiam passivamente os programas
exibidos. Não havia troca, como hoje acontece em
programas como o Big-brother, da TV Globo, em que o
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final é decidido pelos telespectadores.” (FERRARI, 2003,


p. 37)

A interatividade é um ponto muito forte em uma ferramenta como a Internet.


As formas de interatividade ainda são limitadas, como percebemos em aula. Nos
vários seminários que tivemos de apresentações de livros, fica evidente que a
interatividade atual é um tanto relativa. Optando só pelo sim ou não, ou pelo
candidato do Big brother, como citado acima, não estamos interagindo na verdade,
porque são opções pré-estabelecidas. Na época que existia o Você decide,
programa da Globo, podemos perceber que não podíamos escolher além daquelas
opções que estavam gravadas.
Em nossas aulas, neste semestre na disciplina de jornalismo online,
conversamos muito sobre a interatividade. Certo dia, abordávamos a questão da
interatividade nos blogs. Falando da mediação, colegas relatavam que o jornal não
aprovaria um comentário maldoso sobre o que estaria sendo dito, aprovando
somente as ideias de que a matéria estaria satisfatória ao internauta. Podemos
então, fazer a comparação da interação que temos nas palestras que somos
convidados.
Grande parte das palestras promovidas para nós estudantes tem uma
interação do palestrante conosco promovidas através de questões que podem ser
levantadas de forma escrita. Assim, também ocorre uma moderação, pois quem
seleciona as perguntas ou as descarta, está qualificando o que pode ou o que não
ser perguntado no momento.
Atualmente o rádio, a TV e o impresso utilizam a rede telemática como aliada
para fazerem uma mediação com o público que os prestigia. Tentando fazer esta
combinação da mídia antiga com a mídia nova, que ao mesmo tempo que se
complementam, competem entre si.
No artigo: Os efeitos da tecnologia na formação profissional e no mercado da
comunicação, Sonia Virgínia Moreira (UERJ) no livro Mercado e Comunicação na
Sociedade Digital, fala para pensar sobre o futuro. Sugere:
 Que o profissional conheça o contexto histórico, tecnológico, cultural e
econômico da profissão;
 Reinvente o ensino de comunicação, pois o processo de construção de
uma identidade acadêmica ainda encontra obstáculos;
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 Permita uma educação variada, inclusiva e global. Fala que a


dificuldade das universidades públicas é juntar a pesquisa ao processo
da graduação. Enquanto que nas universidades particulares fazem um
descarte dos docentes com título de doutor, para que tenham um custo
menor na folha de pagamento. Ressalta isto, como fator preocupante
nos últimos anos;
 Uso da tecnologia para o desenvolvimento, estimulando iniciativas de
comunicação que contribuam para o desenvolvimento do país, através
da Tecnologia da Informação e da Comunicação;
 Servir ao público, não à indústria.
“Se conseguirmos aliar o ensino e a tecnologia
às ações que pressupõe esses verbos – conhecer,
reinventar, permitir, incorporar, testar, usar, servir –
poderemos finalmente dizer que, na sociedade digital,
fazemos uso da tecnologia para formar profissionais que,
por sua vez, podem incorporar outro verbo, que é
transformar o mercado e, assim, a vida das pessoas
para melhor.” (MELO, José Marques. MORAIS, Osvando
J. de. 2007, p. 74)

3. O tempo no jornalismo online, a responsabilidade jornalística

Discutimos bastante em aula sobre a questão da temporalidade, o jornalista


no online tem vinte e quatro horas de atualização de informações. A pressa em
noticiar primeiro, se torna uma grande disputa de egos jornalísticos. FERRARI diz
que o leitor não se interessa em quem posta primeiro uma notícia, ressalta que
muitas vezes ele nem sabe quem postou primeiro, dado ao empacotamento e a
quantidade de informações são despejadas dia-a-dia.
“Achar que o mais importante é oferecer as últimas notícias o
mais rápido possível é um grande equívoco do meio. Os
leitores raramente percebem quem foi o primeiro a dar a notícia
– e, na verdade, nem se importam com isso. Uma notícia
superficial, incompleta ou descontextualizada causa péssima
impressão. É sempre melhor colocá-la no ar com qualidade,
ainda que dez minutos depois dos concorrentes.” (FERRARI
2003, p. 49)
“O leitor nem sequer consegue assimilar tanta informação.
Essa busca incansável pela quantidade de notícias soa mais
como competição de egos entre concorrentes do que como
manifestação de respeito pelo internauta. É uma cobertura
jornalística voltada para o próprio umbigo – jornalista que
escreve para outro jornalista.” (FERRARI, 2003, p. 50)
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FERRARI e BORGES dizem que é preferível perder o furo, do que a


credibilidade. Quem está navegando quer informações corretas, caso aquela
informação que foi buscada for equivocada aquela fonte já começa a perder credito
do leitor, o que pode motivar o internauta a não acessar mais aquela página.
Quando temos a possibilidade da atualização constante de informações, que
no impresso não ocorre por suas limitações, o jornalista deve ter um esforço de
recolhimento, de encontrar notícias, tem que informar muito mais que no impresso,
cuidados com a deficiência de apuração, fenômenos que não são notícias e
compulsão de informações.
O fato de que possamos fazer atualização a qualquer momento, não obriga
ninguém a atualizar a qualquer momento. Mas as empresas levam isto de uma
forma mais exagerada.
Importante que façamos uma reflexão sobre nosso papel quanto jornalistas,
ambição é aquilo que você almeja, são seus sonhos e desejos. Ética é aquilo que
você não faria para alcançar tais objetivos. Acreditamos que se encontrássemos um
equilíbrio entre ambição e ética teríamos um profissional, não só jornalista, mas em
todos os âmbitos profissionais, com capacidade de encarar não apenas o mercado,
que sabemos, hoje em dia tão competitivo, mas as universidades estariam formando
pessoas capazes de encarar suas vidas.
O desrespeito que muitos jornalistas tem para com seu público alvo através
de publicações constante sem o menor cuidado, vem da própria falta de relação com
a intensidade da participação que ele tem no processo de informação. Acredito que
quando o profissional se dá conta disto, ele busca se mobilizar.
Não podemos, enquanto jornalistas, ficarmos preocupados apenas em
criticar, mas também em darmos alternativas, buscarmos soluções. O jornalista deve
ter em mente que se não procurar influenciar sabendo, acabará fazendo sem saber.
Numa era de sensacionalismo, o jornalista é tendenciado a
divulgar notícias custe o que custar. Seja a desgraça de um ou
de vários, o que importa é chocar. Isso implica, muitas vezes
no sacrifício das "fontes". Se o jornalista não tiver credibilidade
com as fontes, até onde sua profissão subsistirá? Ao dizer para
uma "fonte" que o nome ou imagem dela será preservado, isso
tem que acontecer. O jornalista tem que ter palavra, porque
isso não é modismo, mas necessidade da profissão.
A globalização alavancou um viver imediatista, que chegou às
redações. É priorizada a busca quantitativa de notícias, numa
dinâmica que precisa ser rápida. Isso tem abalado o jornalismo
investigativo sério, que prima pela integridade da notícia. Se os
veículos de comunicação em massa não gozarem da
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credibilidade da população, estão num perigoso jogo de roleta


russa, em que a qualquer momento o tiro será disparado contra
si. (GONÇALVES)

Gonçalves segue o artigo incentivando os jornalistas a buscarem e


questionarem sua própria ética, de seus colegas para que assim, se consiga chegar
na sociedade. Ainda segundo GONÇALVES: “Um pensar ético não é uma alternativa
profissional, é uma necessidade social. Se o descaso com a moralidade não for
modificado na mídia, a sociedade continuará caminhando para o caos”.
Então, temos que analisar como profissionais que qualquer publicação
merece nossa atenção, nosso empenho, para que não caiamos no descrédito.
O editor chefe do Pioneiro Online chamou a atenção de nós acadêmicos de
jornalismo, dizendo que o jornal é processado inúmeras vezes por um descuido dos
jornalistas. Ele falou que muitas vezes os jornalistas que não tem o devido cuidado
com as fontes “matam a pessoa errada”, ou quando cita a participação de uma
pessoa equivocadamente na página policial.
Esses descuidos constantes nos fazem refletir sobre uma questão: Não é por
todos estes motivos que o profissional do jornalismo por vezes é desvalorizado?
Quem vai pagar um salário digno para um profissional que não checa fontes,
não vai atrás de sua matéria sem empacotamento das outras editorias, mata a
pessoa errada, e põe a pessoa que não tinha nada com a situação na página
policial?
Temos que fazer diferente, caso não concordemos com a forma de retratar as
notícias. Se o profissional for capaz, e decidir ir em busca de um aperfeiçoamento,
ele vai ser valorizado.
E se este for valorizado, outros vão seguir o seu exemplo. Assim, de exemplo
em exemplo já causaremos uma transformação social. Transformação esta que se
faz necessária e urgente. Porque na sociedade aquele que mais influencia é o que
transforma.
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4. Considerações finais

O jornalismo tem um papel na sociedade muito grande. A influência que


exerce no cotidiano das pessoas tem enormes proporções. Desde a repetição de
conceitos, de tendências do mercado ao comportamento social dos indivíduos que
fazem dos meios midiáticos o seu norte.
Portanto, devemos atentar para que nossa profissão não seja ridicularizada
com ou sem o uso do diploma. Acreditamos que o importante é saber fazer, se o
jornalista for capaz de realizar um bom trabalho ele também encontrará espaço no
mercado mesmo não sendo graduado, pois no âmbito universitário, nos deparamos
muitas vezes com pessoas que sabem de cor e salteado a teoria, mas na prática
não sabem fazer as especificidades que o trabalho no meio jornalístico exige, ou
seja, dominam a teoria e negligenciam a prática.
O jornalismo digital é fascinante. Mas é preciso ter cuidado com o
empacotamento de notícias e a verificação de fontes, levando em conta o contrato
de leitura, como a professora Marlene Branca Solio, da disciplina de jornalismo
online, mesmo chama. O leitor se acostuma com a forma de trabalho proposta, por
isso não podemos mudar sempre. Layout limpo, fácil de se localizar e encontrar o
que procuramos é o mais indicado.
Nas aulas da disciplina de jornalismo online, através das atividades
propostas, como: criação de matérias, notícias, onde fossemos os autores dos
nossos próprios conhecimentos, houveram acréscimos profissionais para que a
teoria e a prática pudessem se comunicar, fazendo com que as relações entre essas
práticas ficassem mais esclarecedoras. Assim, o professor pode e deve ser o
facilitador para que este processo de busca profissional ocorra.
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REFERÊNCIAS

GONÇALVES, ALEX. Artigo: Ética na comunicação.


www.canaldaimprensa.com.br/canalant/debate/dquartedicao/debate08.htm -
acessado 22 de novembro de 2010, às 10h.

BORGES, Juliano. Webjornalismo: política e jornalismo em tempo real.


Editora: Apicuri. Ano: 2009

FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital.


Editora Contexto. Ano: 2003. II série.

MELO, José Marques. MORAIS, Osvando J. de.


Editora: Intercom - 1ª edição.

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