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CORPO - E A CRITICA A MODERNIDADE NO PENSAMENTO DE FRIEDRICH NIETZSCHE - Marcio Jose S Lima PDF
CORPO - E A CRITICA A MODERNIDADE NO PENSAMENTO DE FRIEDRICH NIETZSCHE - Marcio Jose S Lima PDF
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RESUMO:
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma abordagem daquilo que o
filósofo alemão Friedrich Nietzsche entende por “Corpo”. A partir de uma crítica
endereçada ao pensamento moderno, sobretudo pelas noções de sujeito e objeto
formuladas por Descartes, Nietzsche elabora sua crítica levando em consideração o
conceito do corpo, não como algo puramente sensível e fisiológico, mas, como um
acontecimento originário da vida, uma afecção, um modo particular de percepção,
capaz de perceber vida em seu próprio processo de constituição. A partir da análise
dos textos foi possível perceber que Nietzsche se contrapõe ao modo como a tradição
filosófica moderna compreendia o corpo. Diferentemente da concepção cartesiana,
sua reflexão parte da noção de Corpo como uma “grande razão”, como uma afecção
originária a partir da qual o homem vem a se constituir como um determinado eu.
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Artigo resultante de análises do projeto de pesquisa “O eu penso cartesiano como uma criação do
Corpo”, apoiado por Bolsa de Estudos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
PIBIC/CNPq/UFPB, sob a orientação do prof. Dr. Robson C. Cordeiro, no período de setembro de
2009 a agosto de 2010. Sendo apresentado no XVIII Encontro de Iniciação Científica da UFPB –
Campus I – João Pessoa - PB em outubro de 2010.
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Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Paraíba – Brasil. E-mail:
marciojsl27@yahoo.com.br
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notice life in her own constitution process. Starting from the analysis of the texts it
was possible to notice that Nietzsche opposes to the way as the modern philosophical
tradition understood the body. Differently of the Cartesian conception, his reflection
leaves of the notion of Body as a "great reason", as an original afecção starting from
the one which the man the comes if it constitutes as a certain one me.
Introdução
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o corpo, um sábio desconhecido, este sim seria a grande razão, o perceber originário
da realidade, na qual se faz presente a vontade de potência.
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É por ser originariamente eu, coisa pensante, que o homem pode representar
aquilo que lhe é exterior, que está fora do eu, da consciência, como sendo objeto.
A confirmação da existência em Descartes parte do critério da
indubitabilidade, determinação da modernidade: posso duvidar de tudo, o duvidar é
um tipo de pensamento, para pensar tem que existir, eu penso, logo... Eu existo. Eu
existo quando penso e tenho a percepção de minha própria existência. Pensar,
portanto é representar. Eu represento, logo existo. Existir é saber que existo,
represento as imagens das coisas para mim que sou o sujeito. “Mas o que sou eu,
então? Uma coisa que pensa. Que é uma coisa que pensa? É uma coisa que duvida,
que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina também e
que sente.” (DESCARTES, 1999, p. 262). O homem para Descartes é portanto,
pensamento.
A partir dessa consideração da natureza do homem como eu, e também da
própria realidade, agora considerada como sendo o mundo externo, ele acaba por
inaugurar a era moderna da filosofia, introduzindo na história ocidental a
contraposição sujeito (eu) e objeto. Esta concepção vai ter enormes implicações no
pensamento moderno, pois na modernidade, o homem enquanto sujeito passa a ser
visto como aquele que determina todas as coisas, ou seja, estabelece a maneira como
o real deve aparecer. (sinônimo de verdade).
Ao refletir desta forma, acredita-se que a realidade se configura dessa
maneira: o eu fundamenta o princípio da realidade, o eu como o sujeito que pode
representar o real. O homem passa então a considerar que a partir da sua razão pode
trazer diante de si o real. Para ele, o real é aquilo que é representado segundo o
sujeito. Ou seja, o homem moderno olha para o real como um reflexo de seu eu, ver e
compreende metafisicamente o real, enquanto o real é imaginado como metafísico.
(inversão do real)
A verdade é aquilo que pode fornecer uma certeza clara e distinta, diz
respeito ao real de acordo com a certeza que o objeto tem de ser quantificado e
mensurado. A verdade do objeto tem caráter matemático, o real não é mais
apresentado pela própria coisa, mas pelo sujeito que representa a coisa. O sujeito
previamente elabora o projeto e o real terá que se adequar ao seu plano. Em outras
palavras, é a adequação do real ou da natureza ao projeto elaborado pelo sujeito, a
exemplo da Ciência e da Física moderna. Pressupõe-se que a natureza se comporta
matematicamente. Na modernidade o homem se julga sujeito, substância que
fundamenta seu ser, uma unidade e não uma possibilidade de vir-a-ser. O homem
enquanto “eu” se dá após o aparecer, o mostrar-se. O real é colocado a partir de uma
forma, de um sentido, de um significado.
Para Nietzsche, a experiência do real não é esta, pois agindo assim, o homem
coloca o resultado como começo. O homem deixa de ver o processo de constituição
das coisas. O eu é um acontecimento secundário, pois o ser aparece como uma
perspectiva, um modo de ser do real. Dionísio não aparece como uma parte de
Apolo! É o homem que vê apenas Apolo. Segundo Nietzsche, originalmente o real
acontece numa unidade, quando ocorre esse acontecimento, ocorre à unidade corpo-
alma, Dionísio-Apolo.
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A realidade não visa sentido algum para além do seu aparecer, não visa,
portanto, atingir fim algum. O homem é quem cria valores se colocando como o
centro dos acontecimentos. Ele é algo aberto por uma possibilidade de ser, quando é
tomado e tocado pelo acontecimento originário é que ele se entende como homem.
Ao lançar-se nesta abertura, ele já se constitui como vida.
O homem vê categorias de sua subjetividade e a impõe como se fosse
realidade, projetando-a na realidade. Para Nietzsche, ver o real é deixar ele se
mostrar como Corpo, o modo de aparecer do real (o próprio). Ver isso é ser tocado
pelo próprio e não por aquilo que se está como real. Nietzsche aponta para uma
percepção imediata, o homem já tomado e tocado pela coisa, o cérebro é um
instrumento para isso, é uma afecção tanto sensível quanto inteligível. Não há,
portanto, intermediação entre o sujeito e o objeto, ou melhor, não há relação entre o
sujeito e o objeto, tudo é afecção, pathos.
Esta questão é trabalhada no parágrafo 481 da obra “A Vontade de Poder”
quando o filósofo alemão afirma que não podemos verificar os fatos, apenas
interpretá-los, pois, o fato em si é inexistente e verificá-los seria absurdo. Só há
interpretação (NIETZSCHE, 2008, p. 260). A interpretação é determinada por nossas
necessidades que são pulsões querendo se impor sobre outras pulsões. São pulsões
originárias da vontade de vida. Desta forma, é uma crença perceber o sujeito como a
causa de uma ação. “Isso já é poesia, hipótese.”. Compreendemos (ou mal
Compreendemos), que por traz do atuar há um sujeito que atua, porém segundo
Nietzsche, não existe um atuante por traz da ação, pois a ação é tudo. Não existe um
agente determinando a ação, pensar assim é uma ficção, é duplicar a ação lhe
acrescentando outra ação.
Nosso mau costume de tomar como essência um símbolo da memória
uma fórmula abreviada, e, finalmente tomá-lo como causa, por exemplo,
dizer do relâmpago: “ele brilha”. Ou a palavrinha “eu”. Estabelecer uma
espécie de perspectiva no ver, por sua vez, como causa do próprio ver:
esse foi o passe de mágica na invenção do “sujeito”, do “eu”!
(NIETZSCHE, 2008, p. 284).
Quando dizemos que o sol brilha, interpretando o sol como agente causador
do brilhar, estamos acrescentando uma ação a ação. Aquilo que é ação, separamos e
definimos como causa e efeito, ignorando que a ação é tudo, um conjunto formado
por causa e efeito. A ciência moderna encontra-se sob esta forma de pensar,
atribuindo causa e efeito a tudo aquilo que é observado.
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da concepção cartesiana, sua reflexão parte da noção de Corpo como uma “grande
razão”, como uma afecção originária, a partir da qual, ele vem a se constituir como
sujeito.
O Corpo é a verdadeira razão, o único e autêntico fundamento originário da
vida (FOGEL, 2002). Não se trata aqui de perceber o corpo como uma mera parte
sensível, pois, tanto o sensível quanto o inteligível são instrumentos do Corpo. Isto é
revelado claramente no discurso “Dos desprezadores do corpo”: “instrumentos e
brinquedos, são os sentidos e o espírito; atrás deles acha-se, ainda, o ser próprio”
(NIETZSCHE, 1995, p. 51). O ser próprio, no caso, é o corpo. Dessa forma, o
homem só é constituído como “eu” a partir dessa afecção, pois, o Corpo é um
acontecimento mais originário que o “eu”, é ele quem determina o próprio “eu”.
Zaratustra fala do “próprio”, um sábio desconhecido querendo se manifestar,
que habita o corpo, pois é o próprio corpo. Encontra-se por traz dos pensamentos e
sentimentos, por onde ver com os olhos dos sentidos e escuta com os ouvidos do
espírito. O Corpo escuta e procura, domina e também é dominador do “eu”.
Nietzsche aqui despreza a racionalidade moderna afirmando que há mais razão no
Corpo do que na melhor “sabedoria”. O conhecimento aqui sofre uma
transvaloração, aquele conhecimento proveniente da técnica e da ciência moderna,
perde o seu sentido, a verdadeira razão encontra-se no Corpo.
Em sua crítica, Nietzsche procura mostrar que há mais razão no Corpo do que
na melhor sabedoria. Isto porque, segundo ele, não há uma pura razão, uma atividade
puramente inteligível, visto que a razão, no final das contas, executa aquilo que já foi
previamente ordenado pelo Corpo, leva a cabo, realiza a possibilidade de poder ser já
aberta. Este acontecimento revela que o homem é originariamente afeto, pois é
essencialmente uma possibilidade de poder vir a ser tomado e tocado por uma
determinada possibilidade de vida (FOGEL, 2002). A compreensão metafísica do
homem enquanto um eu previamente constituído sofre uma transvaloração quando
ele percebe, se dá conta de que aquilo que fundamentalmente o constitui é Corpo. O
Corpo não é um fenômeno meramente fisiológico ou biológico, pois é algo diferente
da pura sensação. Quando se sente é porque já aconteceu à coisa originária que é
Corpo, ou seja, já se foi tomado por um sentido. Portanto, o homem originariamente
é abertura, vazio, nada, ser algum previamente constituído. Ele é poder, força, afeto,
vontade, corpo. Isto significa dizer que ele é um ente cujo ser não lhe é pré-existente,
mas que está sempre vindo a ser. Vindo a ser a partir do poder ser que ele é. (Cf.
HEIDEGGER, 2010).
Conclusão
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procura desconstruí-la. O Corpo para ele é fundamento, mas não como aquilo que se
opõe ao eu. É fundamento como aquilo que é o acontecimento mais originário,
arcaico, como aquilo que é começo, princípio, “arché”. É nesse sentido que
Zaratustra afirma que o corpo é a andadeira do eu e o insuflador dos seus conceitos
(NIETZSCHE, 1995, p. 51). Isto porque o eu é um produto do Corpo, nele se escora
como uma criança aprendendo a andar em sua andadeira.
Por isso é que o corpo enquanto “grande razão” não diz eu, mas faz o eu. Isto
significa dizer que só é possível para o homem vir a se constituir como um
determinado eu particular porque ele se encontra perpassado por uma afecção
originária, que o assalta e determina o destinar-se de sua história. Nesse sentido, o ser
do homem, a sua essência, revela-se como não sendo essência alguma pré-
constituída, como não sendo eu algum, anterior ao seu fazer e à sua história. Existir
para o homem, desse modo, é vir a constituir o seu próprio ser que originariamente é
nada, coisa nenhuma, mas não no sentido de uma pura negatividade, mas sim
enquanto afeto, Corpo, abertura para ser tomado e tocado por uma determinada
possibilidade de vida. A partir desse afeto originário (Corpo), o homem vem a
constituir a sua própria história, constituindo-se, consequentemente, como um
determinado eu.
Na medida em que o homem age, a partir da sua história, do seu fazer, do seu
esforço, ele vem a se constituir. Existir é esforçar-se para vir-a-ser, é tarefa, ação.
Neste sentido, esforçar-se implica entregar-se, lançar-se no aberto que é vida, é
deixar-se tomar por afeto (afecção), por Corpo. Corpo é afeto, perspectiva de ser que
se abre, é possibilidade de ser, poder ser. A partir da análise dos textos até aqui
citados, podemos perceber o corpo como o fundamento originário da vida, pois vida
é auto-superação, é a eterna retomada do poder que ela mesma é, é abertura, afecção,
vontade, corpo. Vida é vontade de poder poder-se que eternamente retorna. Nesse
sentido, é Corpo, que não cessa de fluir, fundamentando todo pensar, supostamente
atribuído ao eu como causa.
Desta forma, o pensamento de Nietzsche acaba sendo de fundamental
importância para a compreensão da filosofia moderna e contemporânea. Sua extensa
obra, ao mesmo tempo em que constitui uma apresentação filosófica diferente da
iniciada com a filosofia grega e que se estendeu pela cultura ocidental durante mais
de dois mil anos, representa também um retorno às origens gregas do pensar, retorno
esse que implica poder pensar o ser como o “um diferenciado em si mesmo”, como
aquilo que se diferencia de si mesmo através de uma multiplicidade de modos de ser.
Isto implica poder pensar a unidade entre ser e vir a ser. Sua filosofia marca então,
uma ruptura com a metafísica tradicional e elabora uma nova ordem na investigação
filosófica, principalmente naquilo que concerne à abordagem sobre o corpo, bem
como suas relações entre sujeito e objeto na Modernidade.
Referências bibliográficas:
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