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Informativo 714 – STF


Márcio André Lopes Cavalcante
Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: RE 595168/BA.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Competência legislativa

É CONSTITUCIONAL a lei estadual que autoriza a utilização, pela polícia militar ou pela polícia
civil estadual, de veículos apreendidos e não identificados quanto à procedência e à
propriedade, exclusivamente no trabalho de repressão penal.
Comentários Neste julgado, o STF analisou as Leis 5.717/98 e 6.931/2001, do Estado do Espírito Santo,
que autorizam a utilização, pela polícia militar ou pela polícia civil estadual, de veículos
apreendidos e não identificados quanto à procedência e à propriedade, exclusivamente no
trabalho de repressão penal.

O STF julgou que tais leis são CONSTITUCIONAIS.

Para seis Ministros, que compuseram a maioria, essas leis não tratavam de matéria
relacionada a trânsito (art. 22, XI, da CF/88), sendo normas atinentes à administração
pública, o que estaria na esfera de autonomia do Estado-Membro.

Ressalte-se que ficaram vencidos os Ministros Dias Toffoli (relator), Rosa Weber, Luiz Fux,
Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio, que julgavam o pleito procedente por entenderem
que se tratava de matéria relacionada com trânsito e transporte.
Tema O julgado acima gerou em mim certa perplexidade e dificuldade de explicar o tema a vocês.
polêmico Isso porque, recentemente, o STF julgou inconstitucional uma lei com conteúdo parecido na
ADI 3639/RN, rel. Min. Joaquim Barbosa, 23/5/2013.

Com efeito, nessa ADI, o STF julgou inconstitucional a Lei n. 8.493/2004, do Estado do Rio
Grande do Norte, que determinava que os carros particulares apreendidos e que se
encontrassem nos pátios das delegacias e do DETRAN deveriam ser utilizados em serviços
de inteligência e operações especiais, a critério da Secretaria de Defesa Social, caso os
proprietários não fossem buscá-los após terem sido notificados há mais de 90 dias.
O Min. Relator Joaquim Barbsa afirmou que o Estado-membro, por meio dessa lei, teria
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criado uma hipótese semelhante à requisição administrativa, o que não seria permitido
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fazer, por ser competência da União.

www.dizerodireito.com.br
O Min. Luiz Fux enfatizou que a Constituição estabelece a competência privativa da União
para legislar sobre trânsito e transporte (CF, art. 22, XI). Em acréscimo, afirmou que o
Código de Trânsito Brasileiro – CTB prevê as consequências específicas para a apreensão de
veículos particulares (art. 328).

Fica difícil dizer a vocês qual posição seguir nas provas de concurso. Na dúvida, vocês
deverão buscar os detalhes que diferenciam uma lei da outra e perceber se o enunciado da
questão menciona alguma dessas peculiaridades:

 Lei estadual autoriza a utilização, pela polícia, de veículos apreendidos e não


identificados quanto à procedência e à propriedade, exclusivamente no trabalho de
repressão penal: CONSTITUCIONAL.
 Lei estadual determina que os veículos apreendidos e que se encontrem nos pátios das
delegacias e do DETRAN sejam utilizados em serviços de inteligência e operações
especiais, caso os proprietários, depois de notificados, não os busquem em 90 dias:
INCONSTITUCIONAL.

Obs: a única diferença que visualizo é o fato de que, no primeiro exemplo, não se sabe
quem são os proprietários e no segundo caso eles são identificados.
Processo STF. Plenário. ADI 3327/ES, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, 8/8/2013.

Perda do mandato em caso de condenação criminal de Deputado Federal ou Senador


Se uma pessoa perde ou tem suspensos seus direitos políticos, a consequência disso é que ela
perderá o mandato eletivo que ocupa, já que o pleno exercício dos direitos políticos é uma
condição de elegibilidade (art. 14, § 3º, II, da CF/88).
A CF/88 determina que o indivíduo que sofre condenação criminal transitada em julgado fica
com seus direitos políticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação (art. 15, III).
A condenação criminal transitada em julgado NÃO é suficiente, por si só, para acarretar a
perda do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador.
O STF, ao condenar um Parlamentar federal, NÃO poderá determinar a perda do mandato
eletivo. Ao ocorrer o trânsito em julgado da condenação, se o réu ainda estiver no cargo, o STF
deverá oficiar à Mesa Diretiva da Câmara ou do Senado Federal para que tais Casas deliberem
acerca da perda ou não do mandato, nos termos do § 2º do art. 55 da CF/88.
Comentários O Código Penal prevê que a pessoa condenada criminalmente perderá o cargo, função
pública ou mandato eletivo que ocupe nos seguintes casos:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos
crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração
Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos
nos demais casos.

Ex: se um Prefeito é condenado criminalmente a 2 anos de detenção pela prática de um


crime contra a Administração Pública, no próprio acórdão já deverá constar a
determinação, fundamentada, de que ele perderá o mandato eletivo.
Vale ressaltar que, para Prefeito, por exemplo, não é necessária nenhuma outra providência
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adicional, além da determinação na decisão condenatória.


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Assim, em caso de condenação criminal transitada em julgado, haverá a perda imediata do

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mandato eletivo no caso de Vereadores, Prefeitos, Governadores e Presidente da
República.

Além da previsão expressa no Código Penal, a perda do mandato eletivo encontra


justificativa na CF/88. Isso porque, para a pessoa exercer um mandato eletivo, ela precisa
estar no pleno gozo de seus direitos políticos e o indivíduo condenado criminalmente fica
com seus direitos políticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação. Tal
conclusão está prevista expressamente no art. 15, III c/c art. 14, § 3º, II:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de:
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

Art. 14 (...)
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
II - o pleno exercício dos direitos políticos;

A grande controvérsia que se debate atualmente reside no caso de condenação criminal de


Deputados Federais e Senadores. A discussão jurídica é a seguinte:
A condenação criminal transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar a perda
do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador? O STF, ao condenar um
Parlamentar federal, poderá determinar a perda do mandato eletivo?

1ª corrente: NÃO. 2ª corrente: SIM


Quem decide se haverá a perda A Câmara ou o Senado irá apenas
é a Câmara ou o Senado. formalizar a perda que já foi decretada.
Para a primeira corrente, a regra acima Para a segunda corrente, o § 2º do art. 55
explicada não se aplica no caso de da CF/88 não precisa ser aplicado em todos
Deputados Federais e Senadores. Isso os casos nos quais o Deputado ou Senador
porque, segundo defendem, no caso tenha sido condenado criminalmente, mas
desses parlamentares há uma norma apenas nas hipóteses em que a decisão
específica que excepciona a regra geral. condenatória não tenha decretado a perda
Trata-se do art. 55, VI e § 2º da CF/88: do mandato parlamentar por não estarem
presentes os requisitos legais do art. 92, I,
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou do CP ou se foi proferida anteriormente à
Senador: expedição do diploma, com o trânsito em
VI - que sofrer condenação criminal em julgado em momento posterior.
sentença transitada em julgado.
Em outras palavras:
§ 2º - Nos casos dos incisos I, II e VI, a  Se a decisão condenatória NÃO
perda do mandato será DECIDIDA pela determinou a perda do mandato
Câmara dos Deputados ou pelo Senado eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP:
Federal, por voto secreto e maioria a perda do mandato somente poderá
absoluta, mediante provocação da ocorrer se a maioria absoluta da
respectiva Mesa ou de partido político Câmara ou do Senado assim votar
representado no Congresso Nacional, (aplica-se o art. 55, § 2º da CF/88);
assegurada ampla defesa.
 Se a decisão condenatória
DETERMINOU a perda do mandato
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eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP: a


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perda do mandato ocorrerá sem

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necessidade de votação pela Câmara ou
Senado (não se aplica o art. 55, § 2º).

O procedimento estabelecido no art. 55 da


CF disciplinaria circunstâncias em que a
perda de mandato eletivo parlamentar
poderia ser decretada com base em juízo
político. No entanto, esse procedimento
não é aplicável quando a aludida perda foi
determinada em decisão do Poder
Judiciário como efeito irreversível da
sentença condenatória.
A deliberação da Casa Legislativa, prevista
no art. 55, § 2º, da CF, possui efeito
meramente declaratório, sem que possa
ser revista ou tornada sem efeito a decisão
condenatória final proferida pelo STF.
Logo, para esta primeira corrente, mesmo Logo, para esta segunda corrente, se o
o Deputado Federal ou o Senador tendo Deputado Federal ou o Senador foi
sido condenado criminalmente, com condenado criminalmente, com sentença
sentença judicial transitada em julgado, ele judicial transitada em julgado, o STF
somente perderá o mandato se assim poderá determinar a perda do mandato
DECIDIR a maioria absoluta da Câmara dos eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP.
Deputados ou do Senado Federal, por meio Nessa hipótese, não será necessária
de votação secreta, assegurada ampla votação pela respectiva Casa (não se aplica
defesa. o art. 55, § 2º da CF/88).
A condenação já tem o condão de
acarretar a perda do mandato.
Tese defendida por: Defendida por:
Min. Ricardo Lewandowski Min. Joaquim Barbosa
Min. Rosa Weber Min. Luiz Fux
Min. Dias Toffoli Min. Gilmar Mendes
Min. Cármen Lúcia Min. Marco Aurélio
Min. Teori Zavaski Min. Celso de Mello
Min. Roberto Barroso
O STF adotou esta corrente no julgamento O STF adotou esta corrente no julgamento
do Senador Ivo Cassol (AP 565/RO, rel. do “Mensalão” (AP 470/MG, rel. Min.
Min. Cármen Lúcia, 7 e 8.8.2013). Joaquim Barbosa, 10 e 13.12.2012).

Obs1: como se observa acima, houve uma mudança de entendimento do STF. Isso ocorreu
em virtude do ingresso de dois novos Ministros na Corte (Teori Zavaski e Luis Roberto
Barroso) que votaram no sentido de que não há perda automática, devendo haver
deliberação da Câmara ou do Senado.

Obs2: o tema ainda não está consolidado porque o próprio Min. Luis Roberto Barroso (que
havia adotado a primeira corrente acima) proferiu, em 02/09/2013, decisão monocrática
recente na qual acena com a possibilidade de ser construída uma terceira posição (MS
32.326/DF). Segundo essa decisão liminar, que ainda não foi submetida ao Plenário, em caso
de condenação de Deputado Federal ou Senador, a Casa Legislativa irá decidir sobre a perda
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ou não do mandato, nos termos do § 2º do art. 55 da CF/88. No entanto, para o Min. Barroso,
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se o regime de cumprimento da pena for o fechado e a quantidade da pena superior ao

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mandato, a Casa Legislativa, obrigatoriamente, deverá determinar a perda desse mandato,
considerando que as condições do regime fechado são logicamente incompatíveis com o
exercício do mandato parlamentar. Veja a ementa da decisão do Min. Barroso:
(...) 1. A Constituição prevê, como regra geral, que cabe a cada uma das Casas do Congresso
Nacional, respectivamente, a decisão sobre a perda do mandato de Deputado ou Senador
que sofrer condenação criminal transitada em julgado.
2. Esta regra geral, no entanto, não se aplica em caso de condenação em regime inicial
fechado, que deva perdurar por tempo superior ao prazo remanescente do mandato
parlamentar. Em tal situação, a perda do mandato se dá automaticamente, por força da
impossibilidade jurídica e fática de seu exercício.
3. Como consequência, quando se tratar de Deputado cujo prazo de prisão em regime
fechado exceda o período que falta para a conclusão de seu mandato, a perda se dá como
resultado direto e inexorável da condenação, sendo a decisão da Câmara dos Deputados
vinculada e declaratória. (...)

Obs3: existe uma PEC tramitando para alterar o § 2º do art. 55 da CF/88 (determinando a
perda automática em caso de determinadas condenações criminais), tendo ela já sido
aprovada no Senado e encaminhada à apreciação da Câmara dos Deputados (PEC 18/2013).
Caso Vejamos agora o caso concreto julgado pelo STF na AP 565/RO, noticiada neste Informativo.
concreto
O STF condenou o Senador Ivo Cassol (RO) pela prática do crime descrito no art. 90 da Lei
8.666/93 à pena de 4 anos, 8 meses e 26 dias de detenção em regime inicial semiaberto.
Discutiu-se se o STF poderia determinar expressamente a perda do cargo quanto ao
réu/Senador. A maioria dos Ministros entendeu que NÃO.
Decidiu-se que compete ao Senado Federal deliberar sobre a eventual perda do mandato
parlamentar do Senador, nos termos do art. 55, VI e §2º da CF/88.
Ao ocorrer o trânsito em julgado da condenação, se o réu ainda estiver no cargo, o STF
deverá oficiar à Mesa Diretiva da Câmara ou do Senado Federal para que tais Casas
deliberem acerca da perda ou não do mandato.
Processo STF. Plenário. AP 565/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 7 e 8/8/2013.

DIREITO PENAL
Responsabilidade penal da pessoa jurídica e teoria da dupla imputação

STF entendeu que é admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime
ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas que figuravam na ação penal.
ATENÇÃO Comentários No Brasil, existe a responsabilidade penal das pessoas jurídicas por crimes ambientais?

O art. 225, § 3º, CF/88 prevê o seguinte:


Art. 225 (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

A Lei n. 9.605/98, regulamentando o dispositivo constitucional, estabeleceu:


Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente
conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de
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seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício


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da sua entidade.

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Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

Mesmo com essa previsão expressa na CF/88 e na Lei n. 9.605/98, surgiram quatro correntes
para explicar a possibilidade (ou não) de responsabilização penal da pessoa jurídica:

1ª CORRENTE:
NÃO. A CF/88 não previu a responsabilidade penal da pessoa jurídica, mas apenas sua
responsabilidade administrativa.
É a corrente minoritária.
Os defensores desta primeira corrente fazem a seguinte interpretação do § 3º do art. 225
da CF/88: os infratores pessoas físicas estão sujeitos a sanções penais e os infratores
pessoas jurídicas a sanções administrativas.
Assim, quando o dispositivo constitucional fala em sanções penais ele está apenas se
referindo às pessoas físicas.
Adotam essa corrente: Miguel Reale Jr., Cézar Roberto Bitencourt, José Cretela Jr.
É minoritária.

2ª CORRENTE:
NÃO. A ideia de responsabilidade da pessoa jurídica é incompatível com a teoria do
crime adotada no Brasil.
É a posição majoritária na doutrina.
Conforme explica Silvio Maciel, esta segunda corrente baseia-se na Teoria da ficção
jurídica, de Savigny, segundo a qual as pessoas jurídicas são puras abstrações,
desprovidas de consciência e vontade (societas delinquere non potest). Logo, “são
desprovidas de consciência, vontade e finalidade e, portanto, não podem praticar condutas
tipicamente humanas, como as condutas criminosas.” (Meio Ambiente. Lei 9.605,
12.02.1998. In: GOMES, Luiz Flávio; CUNHA, Rogério Sanches (Coord.). Legislação Criminal
Especial. São Paulo: RT, 2009, p. 691).

As pessoas jurídicas não podem ser responsabilizadas criminalmente porque não têm
capacidade de conduta (não têm dolo ou culpa) nem agem com culpabilidade (não têm
imputabilidade nem potencial consciência da ilicitude).

Além disso, “é inútil a aplicação de pena às pessoas jurídicas. As penas têm por
finalidades prevenir crimes e reeducar o infrator (prevenção geral e especial, positiva e
negativa), impossíveis de serem alcançadas em relação às pessoas jurídicas, que são
entes fictícios, incapazes de assimilar tais efeitos da sanção penal.” (idem, p. 692).

Adotam essa corrente: Pierangelli, Zafaroni, René Ariel Dotti, Luiz Regis Prado, Alberto
Silva Franco, Fernando da Costa Tourinho Filho, Roberto Delmanto, LFG, entre outros.

3ª CORRENTE:
SIM. É plenamente possível a responsabilização penal da pessoa jurídica no caso de
crimes ambientais porque assim determinou o § 3º do art. 225 da CF/88.
A pessoa jurídica pode ser punida penalmente por crimes ambientais ainda que não
haja responsabilização de pessoas físicas.
O principal argumento desta corrente é pragmático e normativo: pode haver
responsabilidade penal porque a CF/88 assim determinou.
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Vale ressaltar que o § 3º do art. 225 da CF/88 não exige, para que haja responsabilidade
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penal da pessoa jurídica, que pessoas físicas sejam também, obrigatoriamente,


denunciadas.
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Esta corrente é defendida, dentre outros, por Vladimir e Gilberto Passos de Freitas:
“(...) a denúncia poderá ser dirigida apenas contra a pessoa jurídica, caso não se descubra a
autoria das pessoas naturais, e poderá, também, ser direcionada contra todos. Foi
exatamente para isto que elas, as pessoas jurídicas, passaram a ser responsabilizadas. Na
maioria absoluta dos casos, não se descobria a autoria do delito. Com isto, a punição
findava por ser na pessoa de um empregado, de regra o último elo da hierarquia da
corporação. E quanto mais poderosa a pessoa jurídica, mais difícil se tornava identificar os
causadores reais do dano. No caso de multinacionais, a dificuldade torna-se maior, e o
agente, por vezes, nem reside no Brasil. Pois bem, agora o Ministério Púbico poderá
imputar o crime às pessoas naturais e à pessoa jurídica, juntos ou separadamente. A opção
dependerá do caso concreto.” (Crimes Contra a Natureza. São Paulo: RT, 2006, p. 70).

4ª CORRENTE:
SIM. É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica, desde que em conjunto
com uma pessoa física.
É a posição do STJ.
O STJ possui o entendimento de que é possível a responsabilidade penal da pessoa
jurídica em crimes ambientais, desde que haja a imputação simultânea do ente moral e
da pessoa natural que atua em seu nome ou em seu benefício.
Nesse sentido: EDcl no REsp 865.864/PR, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu
(Desembargador Convocado do TJ/RJ), Quinta Turma, julgado em 20/10/2011)

Assim, para o STJ, o Ministério Público não poderá formular a denúncia apenas contra a
pessoa jurídica, devendo, obrigatoriamente, identificar e apontar as pessoas físicas que,
atuando em nome e proveito da pessoa jurídica, participaram do evento delituoso, sob
pena da exordial não ser recebida (REsp 610.114/RN).

Este entendimento baseia-se na redação do art. 3º da Lei n. 9.605/98:


Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente
conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de
seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou
benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

Veja o que explica Silvio Maciel:


“Pelo referido dispositivo é possível punir apenas a pessoa física, ou a pessoa física e a
pessoa jurídica concomitantemente. Não é possível, entretanto, punir apenas a pessoa
jurídica, já que o caput do art. 3º somente permite a responsabilização do ente moral se
identificado o ato do representante legal ou contratual ou do órgão colegiado que
ensejou a decisão da prática infracional. Assim, conforme já expusemos acima, não é
possível denunciar, isoladamente, a pessoa jurídica já que sempre haverá uma pessoa
física (ou diversas) co-responsável pela infração. Em relação aos entes morais, os crimes
ambientais são, portanto, delitos plurissubjetivos ou de concurso necessário (crimes de
encontro).” (ob. cit., p. 702-703).

Essa é a posição, dentre outros, de Édis Milaré e da jurisprudência do STJ.

Qual é a posição do STF sobre o tema?


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A 1ª Turma do STF, em julgado recente, adotou a 3ª corrente.


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O STF entendeu que é admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime
ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de
direção do órgão responsável pela prática criminosa.

O caso concreto foi o seguinte:


O MPF formulou denúncia por crime ambiental contra a pessoa jurídica Petrobrás e também
contra “H” (então Presidente da companhia) e “L” (superintendente de uma refinaria).
A denúncia foi recebida. No entanto, os acusados pessoas físicas conseguiram ser excluídos
da ação penal, durante a sua tramitação, por meio de habeas corpus.
Como as pessoas físicas foram afastadas da ação penal, o STJ decidiu que a pessoa jurídica
deveria também ser, obrigatoriamente, excluída do processo, que foi, portanto, extinto.
O MPF recorreu e a 1ª Turma do STF, por maioria, cassou o acórdão do STJ.

Para o STF, a tese do STJ (4ª corrente, acima exposta) viola a Constituição Federal. Isso
porque o art. 225, § 3º, da CF/88 não condiciona a responsabilização da pessoa jurídica a
uma identificação, e manutenção na relação jurídico-processual, da pessoa física ou natural.

Em outras palavras, a Constituição não faz a exigência de que a pessoa jurídica seja,
obrigatoriamente, denunciada em conjunto com pessoas físicas.

Para o STF, ao se condicionar a imputabilidade da pessoa jurídica à da pessoa humana,


estar-se-ia quase que a subordinar a responsabilização jurídico-criminal do ente moral à
efetiva condenação da pessoa física.

Mesmo que se conclua que o legislador ordinário ainda não estabeleceu por completo os
critérios de imputação da pessoa jurídica por crimes ambientais, não há como deixar de
reconhecer a possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica sem necessidade
de punição conjunta com a pessoa física.

Votos vencidos:
Os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux ficaram vencidos porque se filiavam a primeira
corrente, ou seja, defenderam que o art. 225, § 3º, da CF/88 criou a responsabilidade penal
da pessoa jurídica, mas apenas impôs sanções administrativas.
Processo STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Denúncia (ação penal) formulada com base em inquérito civil
É possível o oferecimento de ação penal (denúncia) com base em provas colhidas no âmbito de
inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público.
Comentários Esse é também o entendimento do STJ:
(...) 3. O inquérito civil público, previsto como função institucional do Ministério Público,
nos termos do art. 129, inciso III, da Constituição de República, pode ser utilizado como
elemento probatório hábil para embasar a propositura de ação penal.
4. Muito embora não possa o membro do Parquet presidir o inquérito policial, é conferido,
ao Ministério Público, o poder de investigar, como já fora decidido em habeas corpus
julgados pelo Supremo Tribunal Federal e por esta Quinta Turma. (...)
(HC 179.223/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 20/08/2013)
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(...) Mostra-se cabível o oferecimento de denúncia com escólio em inquérito civil público.
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(APn .530/MT, Rel. Min. Eliana Calmon, Corte Especial, julgado em 17/04/2013)
Processo STF. Plenário. AP 565/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 7 e 8/8/2013.

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Empate em votação e decisão mais favorável ao réu

Em julgamento ocorrido no STF, havendo empate quanto à decisão de condenar ou absolver o


acusado, deverá prevalecer o entendimento mais favorável ao réu.
Semelhante Se houver empate na votação de um habeas corpus em julgamento no STJ ou STF, deverá
a esse prevalecer a decisão mais favorável ao paciente, não sendo necessária a convocação de
magistrado de outra Turma para fins de desempate. (STF. 2ª Turma. HC 113518/GO, rel.
Min. Teori Zavascki, 26.2.2013).
Processo STF. Plenário. AP 565/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 7 e 8/8/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

Imunidade tributária e imóvel vago

O art. 150, VI, “c”, da CF/88 prevê que as instituições de educação e de assistência social, sem
fins lucrativos, gozam de imunidade tributária quanto aos impostos, desde que atendidos os
requisitos previstos na lei.
A imunidade somente incide sobre o patrimônio, a renda e os serviços da instituição de ensino
que estejam relacionados com as suas finalidades essenciais (art. 150, § 4º da CF/88).
Neste julgado, a 1ª Turma do STF decidiu que o fato de o imóvel estar vago ou sem edificação
não é suficiente, por si só, para retirar a garantia constitucional da imunidade tributária. Não é
possível considerar que determinado imóvel está voltado a finalidade diversa da exigida pelo
interesse público apenas pelo fato de, momentaneamente, estar sem edificação ou ocupação.
Vale ressaltar, no entanto, que há precedente recente em sentido contrário.
Comentários Imunidade tributária
Imunidade tributária consiste na determinação de que certas atividades, rendas, bens ou
pessoas não poderão sofrer a incidência de tributos.
Trata-se de uma dispensa constitucional de tributo.
A imunidade é uma limitação ao poder de tributar, sendo sempre prevista na própria CF.

O art. 150, VI, c, da CF/88 prevê que as “instituições de educação e de assistência social,
sem fins lucrativos” gozam de imunidade tributária quanto aos impostos, desde que
atendidos os requisitos previstos na lei. Vejamos a redação do dispositivo constitucional:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI - instituir impostos sobre:
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das
entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social,
sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

Vamos estudar um pouco mais sobre essa imunidade:

Atendidos os requisitos da lei:


A lei mencionada pela alínea c do inciso VI é uma lei ordinária ou complementar?
Lei complementar, por força do art. 146, II, da CF/88:
Art. 146. Cabe à lei complementar:
II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;
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Obs: a imunidade é uma forma de limitar o poder de tributar; logo, a imunidade é sempre
regulada por lei complementar.

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Requisitos da imunidade: a LC estabelecerá os requisitos para a fruição da imunidade.

Imunidade condicionada: percebe-se que a imunidade do inciso c não é autoaplicável,


dependendo de lei complementar para que sejam definidos os requisitos necessários à
concessão da imunidade. Por essa razão, ela é chamada de “imunidade condicionada”.

Que lei complementar é esta?


Ainda não foi editada uma lei para tratar de forma específica sobre este tema.
Desse modo, a doutrina e a jurisprudência aplicam o CTN (art. 14).

Requisitos previstos no art. 14 do CTN:


Para gozarem da imunidade, as entidades devem obedecer aos seguintes requisitos:
a) não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer
título;
b) aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos
institucionais;
c) manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de
formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

Falta de cumprimento: na falta de cumprimento do disposto neste artigo, ou no § 1º do art.


9º (obrigações acessórias), a autoridade competente pode suspender a aplicação do
benefício.

Sem fins lucrativos: tais entidades podem e devem ter superávit, até para que consigam se
manter e ampliar o atendimento dos fins sociais propugnados. O que não podem é visar ao
lucro. Se houver resultado positivo (superávit), este deverá ser reaplicado na própria
instituição e em suas finalidades institucionais.
Não se pode confundir também a apropriação particular do lucro (o que é proibido) com a
permitida e natural remuneração dos diretores e administradores da entidade imune, como
contraprestação pelos seus trabalhos.
A remuneração não pode ser proibida, desde que ela represente com fidelidade e coerência
a contraprestação dos serviços profissionais executados, por meio de pagamento razoável
ao diretor ou administrador da entidade, sem dar azo a uma distribuição disfarçada de
lucros. Portanto, admite-se salário, desde que a preço de mercado e sem benefícios
indiretos.

Restrição quanto à imunidade:


A imunidade somente incide sobre o patrimônio, a renda e os serviços da instituição de ensino
que estejam relacionados com as suas finalidades essenciais (art. 150, § 4º da CF/88).

A instituição de ensino pagará imposto sobre o imóvel caso ele esteja alugado a terceiros?
NÃO. Persiste a imunidade, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades
essenciais de tais entidades. É o que afirma a jurisprudência do STF:
Súmula 724-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição, desde
que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades.
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E se o imóvel da instituição de ensino estiver vago ou não edificado, ele mesmo assim
gozará da imunidade?
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A 1ª Turma do STF possui julgados nos dois sentidos. Veja:

INFORMATIVO esquematizado
SIM NÃO
O fato de o imóvel estar vago ou sem Consoante dispõe o art. 150, § 4º, da CF, as
edificação não é suficiente, por si só, para instituições de educação apenas gozam de
retirar a garantia constitucional da imunidade quando o patrimônio, a renda e
imunidade tributária. os serviços estão relacionados a finalidades
Não é possível considerar que determinado essenciais da entidade.
imóvel está voltado a finalidade diversa da Assim, imóveis locados e lotes não
exigida pelo interesse público apenas pelo edificados ficam sujeitos ao Imposto
fato de, momentaneamente, estar sem Predial e Territorial Urbano – IPTU.
edificação ou ocupação.
1ª Turma. RE 385091/DF, rel. Min. Dias 1ª Turma. AI 661713 AgR, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 6/8/2013. Toffoli, Rel. p/ Acórdão: Min. Marco
Aurélio, julgado em 19/03/2013.

Processo STF. 1ª Turma. RE 385091/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 6/8/2013.

JULGADO QUE NÃO FOI COMENTADO POR SER DE POUCA


RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

Título da dívida agrária e inadimplemento


Exaurido o período vintenário para resgate de títulos da dívida agrária, o pagamento complementar de
indenização fixada em decisão final em ação expropriatória deve ser efetuado na forma do art. 100 da CF, e
não em títulos da dívida agrária complementares. Com base nessa orientação, a 2ª Turma conheceu, em
parte, de recurso extraordinário e, nesta, negou-lhe provimento. No caso, por decisão judicial, fora
determinado o pagamento de indenização complementar em expropriação para fins de reforma agrária.
Decorrido o lapso temporal de vinte anos, teria sido exigido que a referida complementação fosse feita por
precatório, à vista e em dinheiro, e não por meio de título da dívida agrária. Preliminarmente, a Turma não
conheceu das assertivas de inclusão de juros compensatórios na aludida complementação e de não
cabimento de indenização em relação à cobertura florestal, porquanto ambas as alegações não teriam sido
suscitadas na decisão recorrida. No mérito, reputou-se que o pagamento por título da dívida agrária, após o
mencionado período, violaria o princípio da prévia e justa indenização. Aduziu-se que se fosse atendida a
pretensão da recorrente, passados vinte anos, postergar-se-ia ad aeternum o pagamento da indenização.
RE 595168/BA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 6.8.2013.
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INFORMATIVO esquematizado

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