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Proposta de Exame Final Nacional de História A

Prova Escrita de História A


12.º Ano de Escolaridade
Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos.

GRUPO I

O ALARGAMENTO DO CONHECIMENTO DO MUNDO


A experiência corrige os erros do saber antigo (1506)

Discípulo — É verdade que a torrada zona é inabitável?


Mestre — Os Antigos cuidaram somente serem habitadas as duas temperadas. E parecera-lhes que a tor-
rada, por ser demasiadamente quente, e as frígidas, por serem estranhamente frias, que em nenhuma maneira
se podiam habitar. Mas eles se enganaram nisto como em outras cousas muitas de que não tinham experiência.
5 Esteve todo o mundo neste erro até que os Portugueses, por uma parte, e os outros Espanhóis, por outra,
nevegaram e descobriram o mundo todo e acharam que a torrada zona é habitada e povoada como as outras.
Discípulo — Pois quem pode arrancar do mundo esta opinião dos Antigos?
Mestre — A muita experiência dos Modernos e principalmente a muita navegação de Portugal. Porque,
depois que os Portugueses, pela parte Oriental, e os Espanhóis, para o ocidente, navegaram toda a redondeza
10 do Mundo e descobriram tantas e tão várias terras, nunca desde o princípio do Mundo descobertas, e as deixam
notadas e postas cada uma em seus lugares, vemos que muitas destas novas terras ficam para a banda do Sul
[…] e muitas da banda do Ocidente, e, finalmente, quase por toda a redondeza do mar, se acham novas ilhas e
terras firmes em sítio contrário das antigas. De maneira que nas costas deste nosso hemisfério está descoberto
de água outro novo. […]
15 Discípulo — Todavia saibamos o que Aristóteles sentiu desta matéria.
Mestre — Bem podemos deixar ir a sua opinião de volta com as outras, porque tão pouco atinou ele como os
outros. Disse que os apertos dos lugares em que estava o mar como represado o faziam correr, ora para uma
parte, ora para outra. Assim, ele não alcançou a causa desse segredo.
Mas aqui se há de notar os que deram por causa do curso do mar Oceano os muitos frios e neve e invernadas
20 que continuadamente convertem muita quantidade de ar em água e, por isso, como do lugar onde está sobeja,
corre para os lugares onde falta, por se estar aí continuadamente diminuindo, pelos grandes e excessivos calo-
res, que de contínuo alevantam exalações e vapores. […]
Discípulo — Pois tem-se já achado a verdadeira causa deste maravilhoso movimento?
Mestre — Sim. A causa deste estranho abalo que faz o mar é a lua, com uma virtude secreta e influência
25 natural que tem sobre o mar.[…]
É necessário aqui o sentido obedecer ao entendimento e, como cego, deixar-se guiar por ele, porque certo
está que em muitas cousas nos enganaram os sentidos, se não fossem guiados, examinados pelo entendimento.

1. Quando o mestre se refere ao saber dos Antigos, está a referir-se


(A) ao saber dos autores clássicos greco-latinos.
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(B) aos ensinamentos da escolástica medieval.


(C) aos conhecimentos adquiridos pelos primeiros navegadores portugueses.
(D) aos conhecimentos divulgados por Árabes e Judeus.
Proposta de Exame Final Nacional de História A

2. Quando o mestre diz, no último parágrafo, que “é necessário o sentido obedecer ao entendimento e, como o

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cego, deixar-se guiar por ele”, está a afirmar-se como precursor
(A) do saber empírico.
(B) do saber experiencial.
(C) do saber dogmático.
(D) do saber racional.

3. Pode-se considerar que os intelectuais quinhentistas portugueses deram um grande contributo para a cons-
trução do espírito renascentista europeu por terem
(A) respeitado e seguido fielmente o pensamento clássico greco-latino.
(B) contribuído para o livre exercício do espírito crítico.
(C) considerado a ação do Homem dependente dos desígnios de Deus.
(D) contribuído para a afirmação da mentalidade medieval.

Identificação da fonte
João de Castro, “O Tratado da Esfera por Perguntas e Respostas a Modo de Diálogo”, in Obras Completas de D. João de Castro, vol. I, edição de
Armando Cortesão e Luís de Albuquerque, Coimbra, 1968-82 (adaptado)

GRUPO II

A HEGEMONIA ECONÓMICA BRITÂNICA NA SEGUNDA METADE


DO SÉCULO XVIII

Documento 1

Opinião de um viajante francês sobre uma quinta inglesa (1784)

O proprietário emprega anualmente catorze camponeses residentes na propriedade, três criados para o ser-
viço doméstico, além de trinta jornaleiros com trabalho regular; no tempo das colheitas, que dura cinco semanas,
chega a ter setenta trabalhadores, que o proprietário se vê obrigado a alimentar, além de lhes pagar um salário.
[...] Trabalham setenta cavalos nesta quinta, coisa nunca vista em França. Disseram-nos que a área que o pro-
prietário mantém efetivamente cultivada é de 3000 acres*. As diferentes partes da propriedade distam três
milhas** entre si [...]. Esta quinta rende 1660 libras esterlinas. Devo acrescentar que, há 30 anos, as mesmas
terras, no seu conjunto, não rendiam mais do que 400. Isto justifica-se porque o proprietário fez melhoramentos
inacreditáveis. Antes, aqueles campos [...] não estavam vedados [...]; a maioria era deixada em pousio e não
produzia quase nada [...]. Agora todos estão a ser arroteados e vedados. As terras nunca ficam em pousio. [...]
Há nesta quinta 2000 carneiros que se alimentam no inverno com os nabos e com o trevo. Engordam-se [para
abate] 520 por ano.

* Medida de área (1 acre é equivalente a 0,40 hectares).


** Medida de comprimento (1 milha terrestre é equivalente a 1,61 km).
Prova-modelo

Documento 2

A Inglaterra no comércio triangular (cerca de 1770)

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1. Explicite, duas das transformações associadas à revolução agrícola, em Inglaterra, no final do século XVIII.
Articule as transformações referidas com informação contida no documento 1.

2. Refira o nome da técnica agrícola praticada nas quintas a que o documento 1 faz referência, para que ne-
nhuma terra ficasse “em pousio”.

3. Associe cada elemento relativo à hegemonia económica britânica na segunda metade do século XVIII apre-
sentado na coluna A à ideia correspondente, que consta na coluna B.

COLUNA A COLUNA B

(1) Domínio das rotas do Atlântico


(a) Atos de Navegação (2) Regulação da atividade produtiva pelo Estado
(b) Comércio triangular (3) Exclusivo comercial em determinadas zonas europeias e coloniais

(c) Companhias monopolistas (4) Hegemonia da marinha mercante inglesa


(5) Fundação das 13 colónias na América do Norte
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Identificação das fontes


Doc. 1 – François de La Rochefoucauld, in Denis, Michel e Blayan, Noel, Le XVIII e siècle, Paris, Armand Colin, 1970 (adaptado)
Doc. 2 – In Jeremy Black (Ed.), World History Atlas, Mapping the Human Journey, Dorling Kindersley, Londres, 2005
Proposta de Exame Final Nacional de História A

GRUPO III

O MUNDO CAPITALISTA OCIDENTAL DA DÉCADA


DE 30 DO SÉCULO XX À ATUALIDADE

Documento 1

Prioridades do Estado no mundo socialista


(Declaração do XIX Congresso da Internacional Socialista, Berlim, 1992)

Os sociais-democratas* foram a força motriz da construção das estruturas de segurança social. Hoje, todavia,

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não nos podemos dar por satisfeitos, considerando as forças ultraliberais que ameaçam destruir as conquistas
históricas do movimento laboral. Os efeitos da desregulação dos mercados têm provocado uma distribuição
ainda mais injusta dos rendimentos e das oportunidades de emprego, assim como uma maior concentração do
capital. […] Os mercados são indispensáveis como fontes eficazes de recursos económicos, mas exigem uma re-
gulação para que a concorrência seja justa […] e não se pode prescindir de uma política social, já que nos merca-
dos desregulados não há uma «mão invisível» que assegure a igualdade de oportunidades e a justiça social.
Também é necessário […] o apoio do governo para construir uma sociedade equilibrada. […]
Sabemos que as altas taxas de juro desencorajam os investidores, causando níveis elevados de desemprego,
que provocam falhas na «rede» garantida pela Segurança Social a trabalhadores, desempregados, doentes e ido-
sos. O investimento em recursos humanos através de programas para a saúde, serviços sociais e salários justos é
mais produtivo do que uma política monetarista e de curto prazo. […] O esforço dos indivíduos para se adapta-
rem aos mercados laborais tem de ser acompanhado por um esforço de investimento público para criar novos
empregos. […] Tanto a qualidade e a sustentabilidade do crescimento como a distribuição equitativa dos benefí-
cios são características de uma sociedade moderna.
* Também designados por Socialistas ou Trabalhistas.

Documento 2

Prioridades do Estado no mundo capitalista


(Manifesto do 48.° Congresso da Internacional Liberal, Oxford,1997)

A questão central no alívio da pobreza consiste em fornecer às pessoas meios para que elas próprias comba-
tam a sua pobreza, para que saiam elas mesmas da pobreza. As instituições públicas e os sistemas de promoção
do bem-estar devem ser tão flexíveis e administrados a um nível tão local quanto possível, almejando promover
a responsabilidade individual e dar resposta às circunstâncias individuais. […]
Em todo o mundo, está a entrar em crise, senão mesmo a colapsar, a velha mas errada ideia de que é tarefa do
Governo organizar as coisas para que as pessoas sejam felizes. Na maior parte dos países industrializados, siste-
mas de segurança social e de redistribuição exagerados e mal direcionados ameaçam ruir, e os orçamentos de
Estado ameaçam legar às gerações futuras pesadas dívidas. Nos países em desenvolvimento, estão condenadas
ao falhanço as tentativas de promover o desenvolvimento exclusivamente ou predominantemente através da
ação governamental, uma vez que elas sobrecarregam o governo e abafam a iniciativa privada – a única que
pode gerar um desenvolvimento realmente sustentável. Os liberais reconhecem que a capacidade governamen-
tal é limitada, que um governo abrangente e o crescimento das despesas do Estado constituem em si mesmos
sérias ameaças a uma sociedade livre, e que, portanto, deve ser prioritário limitar o âmbito do governo e reduzir
as despesas do Estado.
Uma vez que mercados globais abertos são mais eficazes na promoção da prosperidade, […] os Liberais de-
verão […] pôr em prática a sua firme convicção de que o comércio livre, ao dar as melhores oportunidades aos
economicamente mais fracos, constitui a melhor forma de ultrapassar a pobreza no mundo.

1. Transcreva um excerto do documento 2 que demonstre o repúdio das políticas intervencionistas do Estado na
regulação da economia.
Prova-modelo

2. A social-democracia a que o doc. 1 faz referência teve origem


(A) nas posições dos socialistas utópicos contra os excessos do liberalismo individualista, na primeira metade
do século XIX.
(B) nas teses marxistas que presidiram à convocação da I Internacional, em 1864.
(C) nas conceções revisionistas de Bernstein na II Internacional, em 1889.
(D) na denúncia dos males do capitalismo pelo movimento operário reorganizado na III Internacional, em
1919.

3. Ordene cronologicamente os seguintes momentos relativos à afirmação das políticas neoliberais.


(A) Governo de Margaret Thatcher no Reino Unido
(B) Afirmação do Estado-Providência
(C) Surgimento das doutrinas keynesianas (keinesianismo)
(D) Os “Trinta Gloriosos”
(E) Primeiro “choque petrolífero”

4. Apresente duas características do liberalismo económico.


As duas características devem ser articuladas com excertos relevantes do documento 2.

5. Compare as duas perspetivas acerca do papel do Estado nas sociedades capitalistas, expressas nos documen-
tos 1 e 2, quanto a dois dos aspetos em que se opõem.
Na sua resposta, deve integrar excertos relevantes dos dois documentos.

Identificação das fontes


Doc. 1 – In www.internacionalsocialista.org (jan/2012) (adaptado para a prova de exame de 2012, 2.ª fase)
Doc. 2 – In www.liberal-social.org (jan/2012) (adaptado para a prova de exame de 2012, 2.ª fase)

GRUPO IV

A POLÍTICA COLONIAL DO ESTADO NOVO


Documento 1 Documento 2

Propaganda colonialista Apoios aos movimentos de libertação


das colónias portuguesas

O nosso Movimento pode orgulhar-se de se ter estruturado


do Norte ao Sul do País, englobando todas as classes e todas
as camadas sociais, numa união fraternal de luta pela indepen-
dência e pela dignidade. […]
O apoio do exterior é um fator importante na nossa luta.
Nos últimos anos a base de apoio internacional à luta do nosso
povo alargou-se consideravelmente. Praticando uma política
independente, o nosso movimento não se subordina à política
de um ou outro país ou bloco. […]
Assim, a manutenção de relações de amizade com a União
Soviética, a China, a Jugoslávia, a Suécia ou a Holanda não
significa que o MPLA alinha mecanicamente a sua política ou a
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sua ideologia com um destes países […]. Não podemos deixar


de considerar como propaganda para enganar o nosso povo a
campanha do inimigo e dos seus lacaios, pretendendo que o
MPLA seja uma organização comunista, e apresentando-a
umas vezes ligada à União Soviética e outras à China.
Proposta de Exame Final Nacional de História A

Documento 3

Comunicado distribuído à imprensa pelo Comando Distrital da Polícia


de Segurança Pública de Lisboa (1973)

O Comando da PSP de Lisboa esclarece que não pode ser utilizado abusivamente este período pré-eleitoral

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para a ação de agitação social de organizações clandestinas, comprometidas com os movimentos terroristas
que combatemos no Ultramar.
Mesmo depois de haver candidaturas aprovadas e de ter sido iniciada a campanha eleitoral, as instruções
recebidas não permitem que sejam consentidas aos próprios candidatos e suas comissões eleitorais quaisquer
manifestações ou reuniões na via pública, para que possa ser garantida a liberdade e a tranquilidade de todos
os cidadãos.

Documento 4

Efetivos militares portugueses na Guerra Colonial na Guiné

35 000

30 000

25 000

20 000
Efetivos

15 000

10 000

5 000

0
1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973
Anos

1. Esclareça dois princípios adotados pelo Estado Novo na sua justificação internacional da legitimidade da
colonização portuguesa.
Um dos princípios deve ser articulado com o conteúdo do documento 1.

2. Explicite duas condições favoráveis à afirmação do MPLA na luta pela independência de Angola.
As duas condições devem ser articuladas com excertos relevantes do documento 2.

3. Apresente duas razões invocadas pelas autoridades públicas para restringirem os direitos fundamentais dos
cidadãos, em 1973.
As duas razões devem ser articuladas com o conteúdo do documento 3.

4. Segundo a tese do luso-tropicalismo desenvolvida pelo sociólogo brasileiro Gilberto Freyre,


(A) nas suas relações com as colónias ultramarinas, Portugal tinha em vista a sua exploração económica para re-
solução das dificuldades financeiras internas.
(B) Portugal devia aceitar a progressiva autonomia das províncias ultramarinas de modo a salvaguardar os inte-
resses da população branca residente.
(C) na sua presença em África, Portugal revelou sempre uma particular capacidade de adaptação visível nas polí-
ticas de miscigenação e na ação civilizadora.
(D) Portugal devia recorrer a todos os meios, mesmo à luta armada, para garantir a soberania política nos terri-
tórios tropicais sob sua tutela político-administrativa.
Prova-modelo

5. Desenvolva o tema A política colonial portuguesa e a evolução do regime, abordando os tópicos de orientação
seguintes:
• a política colonial do Estado Novo;
• o condicionamento da situação política pela eclosão da luta armada.
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Na sua resposta,
– a nalise os dois tópicos de orientação, apresentando três elementos para cada tópico
– e videncie a relação dos elementos apresentados com o tema;
– integre, pelo menos, uma informação relevante de cada um dos documentos de 1 a 4.

COTAÇÕES

Questão
Grupo
Cotação (em pontos)

1. 2. 3.
I
10 10 10 30
1. 2. 3.
II
15 10 10 35
1. 2. 3. 4. 5.
III
10 10 10 15 15 60
1. 2. 3. 4. 5.
IV
15 15 15 10 20 75
TOTAL 200

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