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Políticas Educacionais - 02 p.

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RELATÓRIO JACQUES DELORS E


PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
DO ENSINO MÉDIO: orientações para o
ensino da educação física
Eduardo Borba Gilioli32
Maria Terezinha Bellanda Galuch33

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar os princípios formativos presentes no
Relatório Jacques Delors e nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio
para a Educação Física e o reflexo da concepção de formação escolar presente nesses
documentos para a organização do ensino da Educação Física. As análises sugerem
princípios formativos comuns aos dois documentos, bem como limites ao ensino da
Educação Física com base nessa perspectiva, pois o que está em jogo é o atendimento
às necessidades do atual modelo produtivo e não a apropriação dos conhecimentos re-
lacionados à cultura corporal.

Palavras-chave: Relatório Jacques Delors. Parâmetros curriculares nacionais. Educação


física.

32
Graduação em Educação Física pela Faculdade Integrada de Fátima do Sul - MS (1999), especialização em
Interdisciplinaridade na Educação Básica pelo IBPEX (2002) e mestrado em Educação pela Universidade Estadual de
Maringá (2013). E-mail: eduardoborbagilioli@hotmail.com
33
Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (1996); Doutorado em Educação: História, Política,
Sociedade, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004); Estágio Pós-Doutoral, pelo Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (2013). Docente do PPGE da Universidade Estadual de Maringá. e-mail: galuch@brturbo.com.br

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JACQUES DELORS REPORT AND BRAZILIAN CURRICULAR


PARAMETERS FOR HIGH SCHOOL: guidelines for
the teaching of physical education

ABSTRACT
The formation principles in the Jacques Delors Report and in the Brazilian Curricular Pa-
rameters for the high school for Physical Education are analyzed. The impact of school for-
mation in the above documents for the organization of the teaching of Physical Education
is further investigated. Above analyses suggest formation principles in the two documents
and the limits to the teaching of Physical Education based on this perspective. The com-
pliance to the requirements of current production model is actually relevant and not the
appropriation of knowledge related to body culture.

Keywords: Jacques Delors report. Brazilian Curricular Parameters. Physical Education.

INTRODUÇÃO consonância com a Constituição Federal,


É consenso entre estudiosos do campo prevê à União a responsabilidade de:
educacional que a década de 1990 foi marca-
IV - estabelecer, em colaboração com os
da por significativas alterações na organiza-
Estados, o Distrito Federal e os Municí- pios,
ção da educação brasileira. Essas mudanças competências e diretrizes para a educação
infantil, o ensino fundamental e o ensino
expressam uma nova concepção de educação
médio, que nortearão os currícu- los e seus
escolar, influenciando a seleção de conteú- conteúdos mínimos, de modo a assegurar
formação básica comum (BRASIL, 1996).
dos, métodos de ensino e de aprendizagem e
as formas de avaliação. Enfim,
Com a intenção de proporcionar uma
[...] a reforma dos anos de 1990, e seu prosse- formação comum pela seleção de conte-
guimento no novo século, atingiu todas as es-
údos mínimos e pelo estabelecimento de
feras da docência: currículo, livro didático, for-
mação inicial e contínua, carreira, certificação, “[...] metas de qualidade que ajudem o alu-
lócus de formação, uso das tecnologias da in-
no a enfrentar o mundo atual como cidadão
formação e comunicação, avaliação e gestão
(EVANGELISTA; SHIROMA, 2007, p.537). participativo, reflexivo e autônomo, conhe-
cedor de seus direitos e deveres” (BRASIL,
O aparato legal da reforma demons- 2001, p.5), são elaborados os Parâmetros
tra a necessidade de atualização do currícu- Curriculares Nacionais (PCNs).
lo frente às demandas sociais. Desse modo,
Conforme o Ministério da Educação, esses
a atual Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
documentos não são modelos curriculares
cação Nacional (LDB), promulgada em

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homogêneos e impositivos, já que, segundo Nesse contexto, um importante do-


a LDB, é facultado aos estados e municípios
elaborarem suas propostas curriculares e pe- cumento se destaca: “[...] o Relatório De-
dagógicas. Todavia, mesmo que sejam ape- lors [...] fundamental para compreender a
nas documentos orientadores, sem a obri-
gatoriedade de serem implantados na sua revisão da política educacional de vários
íntegra; mesmo que esses documentos não países da atualidade” (SHIROMA; MO-
sejam lidos pela totalidade dos professores
e que diretores e coordenadores pedagógi- RAES; EVANGELISTA, 2011, p.55),
cos não os adotem como guia de decisões na com vistas a “[...] nortear todos e
elaboração dos Projetos Político Pedagógicos
das suas escolas; mesmo que Secretarias de quaisquer documentos estruturantes de
Educação não os assumam oficialmente, não uma educação para o século XXI” (RIZO,
há como desconsiderar a força que uma pro-
posta curricular oficial exerce sobre a educa- 2012, p. 58).
ção escolar (GALUCH; SFORNI, 2011, p.47). Pelo exposto, o objetivo do presente
trabalho é analisar os princípios formati-
Mesmo porque, o modelo formativo vos contidos no Relatório Jacques Delors
proposto oficialmente sofre as influências e nos PCNs de Educação Física para o en-
do processo de globalização34 da econo- sino médio (PCNs-EM)35, com a intenção
mia, logo, essa demanda formativa não se de verificar como a concepção de educa-
origina nos documentos oficiais, antes, são ção presente nesses documentos podem in-
reflexo das necessidades sociais mais am- fluenciar a organização do ensino da Edu-
plas. Como forma de adequar a educação cação Física para esse nível de ensino, bem
escolar aos ‛códigos da modernidade’, na como os limites desse tipo de formação.
década de 1990 foi produzida:
O RELATÓRIO JACQUES DELORS E A FOR-
Vasta documentação internacional, emanada
de importantes organismos multilaterais [...] MAÇÃO DO CIDADÃO DO SÉCULO XXI
mediante diagnósticos, análises e propostas “Relatório Jacques Delors” é como
de soluções consideradas cabíveis a todos
os países da América Latina e Caribe, no que ficou conhecido o Relatório para a Orga-
toca tanto à educação quanto à economia. nização das Nações Unidas para a Educa-
Essa documentação exerceu importante pa-
pel na definição das políticas públicas para ção, a Ciência e a Cultura (UNESCO) da
a educação no país (SHIROMA; MORAES; Comissão Internacional sobre a Educação
EVANGELISTA, 2011, p.47).
para o século XXI, intitulado “Educação,
34
De acordo com Castanho (2009), o fenômeno da um tesouro a descobrir”.
globalização deve ser compreendido como um processo Sob a chancela da UNESCO e con-
de internacionalização inerente à expansão das relações
sociais capitalistas. Portanto, “[...] a globalização tem a tando com a participação de intelectuais
mesma idade que o capitalismo, algo como quinhentos
de diversas partes do mundo, presidido por
anos.” (CASTANHO, 2009, p. 14). A interpretação de
35
Castanho (2009) é importante na medida em que se Os PCNs-EM explicitam que o maior problema da
opõe às tentativas de apresentação da globalização Educação Física encontra-se nesse nível de ensino, por
como um processo novo e humanizador. isso a opção em analisar esse documento.

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Jacques Delors, ex-ministro da Economia e [...] os investimentos em matéria de educa-


ção e de pesquisa constituem uma necessi-
das Finanças e ex-presidente da Comissão dade, e uma das preocupações prioritárias
Europeia (1985-1995) (DELORS, 1998), a da comunidade internacional deve ser o ris-
co de marginalização total dos excluídos do
comissão delineou os princípios formativos progresso, numa economia mundial em rápi-
para o cidadão do século XXI. Esse docu- da transformação. Se não se fizer um grande
esforço para afastar este risco, alguns paí-
mento explicita a concepção de ensino, de ses, incapazes de participar na competição
aprendizagem e de desenvolvimento que tecnológica internacional, estarão prestes a
constituir bolsas de miséria, de desespero e
vem norteando as práticas pedagógicas. de violência impossíveis de reabsorver atra-
A comissão foi formada oficialmente vés da assistência e de ações humanitárias
(DELORS, 1998, p.74).
no ano de 1993. Em 1996, após inúmeras
reuniões, encontros de grupos de estudo e
Na busca pela coesão social, a valori-
várias outras atividades, finalizou os tra-
zação da diversidade se destaca.
balhos e divulgou o Relatório. Nele, fica-
ram expostos princípios educativos válidos Confrontada com a crise das relações sociais,
“[...] tanto em nível nacional como mun- a educação deve, pois, assumir a difícil tare-
fa que consiste em fazer da diversidade um
dial” (DELORS, 1998, p.12). fator positivo de compreensão mútua entre
No prefácio do Relatório, assinado indivíduos e grupos humanos (DELORS, 1998,
p. 52, destaque nosso).
por Jacques Delors, evidenciam-se os ob-
jetivos educacionais do ‛sujeito Delors’
Percebe-se no discurso de valoriza-
(RIZO, 2012), que se pretende formar:
ção da diversidade a necessidade de admi-
Ante os múltiplos desafios do futuro, a edu- nistrar a pobreza, uma vez que o que está
cação surge como um trunfo indispensável à em jogo é o desenvolvimento das forças
humanidade na sua construção dos ideais da
paz, da liberdade e da justiça social. Ao ter- produtivas capitalistas.
minar os seus trabalhos a Comissão faz, pois,
questão de afirmar a sua fé no papel essencial Enquanto se falava em desigualdade social,
da educação [...] que conduza a um desenvol- procuravam-se formas para combatê-la e a
vimento humano mais harmonioso, mais au- forma mais razoável seria a transformação
têntico, de modo a fazer recuar a pobreza, a social. Quando, no lugar da luta contra a de-
exclusão social, as incompreensões, as opres- sigualdade, se instala a defesa da diversida-
sões, as guerras... (DELORS, 1998, p.11). de, instaura-se uma prática do ‘respeito’ às
diferenças. Desigualdade combate-se com
transformação; respeito às diferenças con-
Um dos principais problemas men- quista-se por meio da manutenção da socie-
cionados no Relatório é que, fomentados dade (GALUCH; SFORNI, 2011, p.63).

pela pobreza e pela intolerância, os confli-


tos sociais possam ocorrer em larga escala, O crescimento da desigualdade so-
por isso cial, relacionado ao desemprego e à preca-

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rização do trabalho, é intrínseco ao desen- vales e gargantas do silício, para não falar
da vasta profusão de atividades dos países
volvimento e aplicação de novas tecnolo- recém-industrializados) (HARVEY, 2010, p.
gias à produção capitalista: “[...] o rápido 140, destaques nossos).

aumento do desemprego nos últimos anos


em muitos países constitui, em muitos as- A rigidez da linha de montagem com
pectos, um fenômeno estrutural ligado ao maquinaria pesada, produção em série, em
progresso tecnológico” (DELORS, 1998, larga escala e estocagem de produtos com
p.79). o objetivo de antecipar demandas, também
O desemprego estrutural é uma das conhecida por just in case37, começou a di-
faces da crise atual do capital, juntamente vidir espaço com processos produtivos de
com o esgotamento do modelo de produ- base leve e flexível, nos quais a informáti-
ção taylorista/fordista36 que tinha susten- ca e a microeletrônica tiveram papel funda-
tado “[...] o padrão de acumulação do ca- mental. Isso tornou possível uma produção
pitalismo nos últimos cinquenta anos [...]” automatizada e programável para diversos
(FRIGOTTO, 2010, p.21). fins. Com estoque diminuto ou suprimi-
Sobre o novo modelo produtivo, cujo do, denominado pela expressão just-in-ti-
elemento central é a flexibilidade, Harvey me, a produção é executada no tempo e na
explica: quantidade exata, em pequenos lotes. Esse
padrão favorece uma melhor e mais rápi-
A acumulação flexível, como vou chamá-la, da adaptação das empresas aos riscos e às
é marcada com um confronto direto com a
rigidez do fordismo. Ela se apóia na flexibi- incertezas do mercado.
lidade dos processos de trabalho, dos mer- Nesse padrão produtivo, o emprego
cados de trabalho, dos produtos e padrões
de consumo. Caracteriza-se pelo surgimen- fixo, formal e estável cede espaço ao traba-
to de setores de produção inteiramente lho informal, em tempo parcial, temporá-
novos, novas maneiras de fornecimento de
serviços financeiros, novos mercados e, so- rio, subcontratado, terceirizado, domiciliar,
bretudo, taxas altamente intensificadas de bem como ao setor de serviços. A flexibi-
inovação comercial, tecnológica e organiza-
cional. A acumulação flexível envolve rápi- lização e a desregulamentação do trabalho
das mudanças dos padrões de desenvolvi- contribuem para minimizar as responsabi-
mento desigual, tanto entre setores como
entre regiões geográficas, criando, por 37
Podemos afirmar que as expressões just in case e just in
exemplo, um vasto movimento no emprego time se referem respectivamente a dois modelos opostos
no chamado ‘setor de serviços’, bem como de organização da produção capitalista. O primeiro era
conjuntos industriais completamente novos regido pela demanda, que era superior à oferta, de
em regiões até então subdesenvolvidas (tais forma que, mesmo produzindo em grande quantidade,
como a ‘Terceira Itália’, Flandres, os vários a venda estaria garantida; o segundo baseia-se na oferta,
pois o poder de compra tornou-se inferior à capacidade
produtiva. Nesse contexto, é mais interessante pensar
36
O taylorismo não coincide com o fordismo, mas na qualidade dos produtos e no potencial de marketing
as características essenciais de ambos aglutinam-se, como fator de criação de necessidades cada vez mais
formando os princípios da produção em massa/rígida. efêmeras e fúteis (CORIAT, 1988).

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lidades e os compromissos das empresas tabilidade do mercado exige a polivalência


sobre os funcionários e, assim, fortalecer o do indivíduo e que ele saiba aproveitar as
capital e intensificar a exploração de mais possibilidades de subsistência, adaptando-
valia. Com isso, tanto a admissão dos tra- se aos imperativos do mercado
balhadores em períodos de aquecimento do (GALUCH; PALANGANA, 2008).
mercado quanto o seu descarte em momen- Ao mesmo tempo, a lida com o apa-
tos de arrefecimento podem ser executados rato tecnológico de ponta imprime em al-
com o mínimo de prejuízo aos contratan- guns indivíduos uma sensação de evolução
tes. Dessa forma, o controle sobre o traba- do trabalho. Todavia, ocorre o inverso.
lhador torna-se cada vez mais intenso. Para a grande maioria dos trabalhadores,
Em decorrência da diversificação e as operações que realizam prescindem do
do requinte do instrumental de trabalho e entendimento da estrutura e do funciona-
dos produtos, os trabalhadores, que antes mento do instrumental que utilizam, pois a
eram submetidos a tarefas parcializadas e própria elaboração desses instrumentos já
repetitivas nas linhas de montagem, pas- foi feita com o objetivo de valorizar o ca-
sam a realizar várias operações e até a con- pital e não o trabalhador. Para tal objetivo,
trolar a qualidade dos objetos, trabalhando o saber fazer e o próprio treinamento em
em equipe para resolver tanto os problemas serviço bastam.
apresentados nas ilhas de produção quanto Diante das incertezas dos indivíduos
os do próprio mercado. com relação às ocupações futuras, emba-
sado no princípio de Jomtien, o Relatório
No que diz respeito ao pessoal de execução a
reforça o conceito de educação ao longo
justa posição de trabalhos prescritos e parce-
lados deu lugar à organização em ‛coletivos da vida (RIZO, 2012), em que cada pessoa
de trabalho’ ou ‛grupos de projeto’, a exem-
deve aprender a aprender, adaptando-se
plo do que se faz nas empresas japonesas:
uma espécie de taylorismo ao contrário (DE- continuamente às novas exigências sociais.
LORS, 1998, p. 94, destaques nossos).

Por todas estas razões, parece impor-se, cada


vez mais, o conceito de educação ao longo de
Aparentemente, a demanda por um
toda a vida, dadas as vantagens que ofere-
trabalhador polivalente, criativo, flexível, ce em matéria de flexibilidade, diversidade
e acessibilidade no tempo e no espaço. É a
cooperativo e inovador poderia ser consi-
idéia de educação permanente que deve ser
derada como uma valorização do desen- repensada e ampliada (DELORS, 1998, p.18).
volvimento humano do indivíduo; ou seja,
estaria ocorrendo a ‛recuperação’ da sub- O aumento da incerteza com relação às
jetividade que se encontrava embrutecida futuras ocupações e a crescente variação das
na produção em massa. Na verdade, a ins- atividades desempenhadas pelos indivíduos

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ao longo da vida contribui para a obsoles- indivíduos, instrumentalizados pelo co-


cência dos conteúdos curriculares clássicos, nhecimento científico, a criatividade cor-
ou seja, do próprio conhecimento científico. responde à elaboração original de produ-
Pois, “[...] como ensinar o aluno a pôr em tos materiais e ideais, ao passo que, para a
prática os seus conhecimentos e, também, massa dos trabalhadores, a criatividade se
como adaptar a educação ao trabalho futuro encontra no limite da adaptação às precá-
quando não se pode prever qual será a sua rias condições de trabalho para a manuten-
evolução?” (DELORS, 1998, p. 93). ção da vida. O termo ‛criatividade’, apesar
Por conseguinte, deve-se falar “[...] de aparecer com frequência no Relatório,
mais de uma qualificação social do que de não tem sempre o mesmo sentido: quando
uma qualificação profissional” (DELORS, se refere à educação dos futuros dirigentes,
1998, p. 96), considerada uma ‛pesada o conteúdo é um; quando trata da formação
bagagem’ escolar desnecessária e inapro- da massa trabalhadora, o conteúdo é outro.
priada, especialmente para um mundo em Em conclusão, “[...] identidade de têrmos
constante mudança. não significa identidade de conceitos”
O ensino fundado na transmissão de (GRAMSCI, 1978, p. 180).
conteúdos sistematizados só se torna uma Como forma de demonstrar o ana-
‛pesada bagagem’ se o fim proposto for a cronismo da educação escolar, os relatores
adaptação do indivíduo ao trabalho sim- afirmam: “A observação da economia in-
plificado. No que se refere ao ensino dos formal nos países em desenvolvimento e
‛mais talentosos’, “[...] dos alunos mais da inovação tecnológica nos países desen-
dotados, os ‘dirigentes de amanhã’” (DE- volvidos prova que os mais criadores não
LORS, 1998, p. 213), a ‛pesada bagagem’ são, necessariamente, os que obtêm suces-
é pressuposto da ‛criação’. so na escola formal” (DELORS, 1998, p.
Pela utilização de termos com cono- 84). Portanto, a escola deve se atualizar
tação positiva, mas de intenções veladas, e pensar em uma formação de “[...] base
a linguagem do Relatório expressa a ten- mais comportamental do que intelectual”
tativa de obtenção de consenso. Quando (DELORS, 1998, p. 95).
se fala de criatividade, é comum pensar na Se a desvalorização do conhecimen-
elaboração humana de novos instrumen- to sistematizado como conteúdo do ensino
tos materiais e simbólicos; portanto, nin- escolar se intensifica, devido ao processo
guém se oporá a essa defesa. No entanto, de simplificação do trabalho, a escola tor-
se abstraídos de sua relação com o trabalho na-se mais uma instância educativa, e não
concreto, os pressupostos da criatividade o principal espaço de formação, sobretudo
tornam-se obscuros. Assim, para alguns porque: “A intuição, o jeito, a capacidade

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de julgar, a capacidade de manter unida gos e suas Tecnologias; volume 3 – Ciên-


uma equipe não são de fato qualidades, cias da Natureza, Matemática e suas Tec-
necessariamente reservadas a pessoas com nologias; volume 4 – Ciências Humanas e
altos estudos” (DELORS, 1998, p. 95). suas Tecnologias (BRASIL, 1999).
A formação pretendida pelo Relatório O volume 2, intitulado Linguagens,
Delors impõe ao indivíduo ser o ‘dono de Códigos e suas Tecnologias, é compos-
seu próprio destino’, manter sua emprega- to por: 1- Apresentação; 2- O sentido do
bilidade, ser criativo e flexível para suprir aprendizado na área; 3- Competências e
suas necessidades básicas de subsistência, habilidades, subdividida nos conhecimen-
além de responsabilizar-se pela resolução tos de Língua Portuguesa (3a), de Língua
dos problemas de seu contexto social. Por Estrangeira Moderna (3b), de Educação
sua vez, o ensino escolar coloca em segun- Física (3c), de Arte (3d) e de Informática
do plano a transmissão de conhecimento (3e); 4- Rumos e desafios e 5- Bibliografia.
sistematizado, pois o que mais importa é Nossa análise será pautada nos conhe-
alterar o comportamento do indivíduo para cimentos de Educação Física e em sua relação
a resolução de problemas imediatos e não com questões presentes nos itens, 1, 2 e 4.
o prover de instrumentos que possibilitam Na apresentação do documento, fica
uma análise mais acurada da realidade. claro que o objetivo é criar uma identida-
Tendo detectado no Relatório Delors de para o Ensino Médio de modo a alinhar
o esvaziamento do conteúdo sistematizado a formação dos alunos às necessidades do
na formação escolar requerida ao cidadão mundo contemporâneo, tomando o respei-
do século XXI, para atender às demandas to à diversidade como eixo estruturante da
sociais imediatas, passamos à análise dos proposta (BRASIL, 1999), assim como no
PCNs-EM com a intenção de verificar uma Relatório Delors: “No alvorecer do século
possível sintonia entre ambos os documen- XXI a proteção da diversidade cultural deve
tos e como esse tipo de formação influen- tornar-se um elemento essencial de todos os
cia o ensino da Educação Física. programas de educação ao longo de toda a
vida” (DELORS, 1998, p.237-238).
PARÂMETROS CURRICULARES NACIO- Já no item 2, afirma-se que, em vir-
NAIS DO ENSINO MÉDIO PARA A EDU- tude do ‛bombardeio’ de informações que
CAÇÃO FÍSICA: PRESSUPOSTOS PARA A atinge os indivíduos na contemporaneida-
ORGANIZAÇÃO DO ENSINO de, é necessário refletir sobre os códigos
Os PCNs do Ensino Médio são for- linguísticos. Essa reflexão passa pela “[...]
mados por quatro volumes: volume 1 – Ba- preservação da identidade de grupos so-
ses Legais; volume 2 – Linguagens, Códi- ciais menos institucionalizados e uma

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possibilidade de direito às representações A formação de cidadãos críticos é de-


desses frente a outros que têm a seu favor fendida tanto pelo Relatório Delors como
as instituições que autorizam a autorizar” pelos PCNs-EM; no entanto, percebemos
(BRASIL, 1999, p. 21, grifos nossos). que o conceito de ‛crítica’, no caso em
Em Delors (1998), o respeito à va- questão, sofreu reformulações. A crítica
riedade linguística também se constitui em pressupõe profundo conhecimento do que
fator de coesão social e reflete a expressão se critica, mas a escola, ao responder às
da diversidade cultural da humanidade. necessidades do mercado, secundariza o
Todavia, preservar a identidade de pessoas conhecimento sistematizado que possibili-
que tiveram menos possibilidade de acesso taria a formação do pensamento crítico.
a um ensino institucionalizado, e, portan- Por sua vez, o indivíduo, tendo cada
to, menos possibilidade de se apropriar do vez menos arcabouço teórico para analisar a
conhecimento objetivado pelo gênero hu- realidade, sente-se ‛livre’e valorizado por po-
mano, não necessariamente auxilia esses der expressar sua opinião, pobre em conheci-
sujeitos a compreender e a intervir na re- mento elaborado e rica em senso comum.
alidade. Pelo exposto, a educação deverá atu-
A ênfase dada à linguagem com seus ar como receita e remédio para a solução
códigos e tecnologias e a sua utilização dos problemas da sociedade. Como re-
como instrumento ‛transdiciplinar’ na or- ceita, deve desenvolver nos indivíduos as
ganização curricular do Ensino Médio co- competências e habilidades necessárias à
aduna-se com os princípios de formação empregabilidade, tal como é exigido pelas
requeridos pelo processo de globalização, metamorfoses do mercado; como remé-
tal como se encontram expressos no Rela- dio, deve formar os “[...] valores e atitudes
tório Delors. frente às novas formas de sociabilidade que
Tal organização curricular atuaria emergem do contexto da sociedade globa-
em duas frentes: uma, no sentido de “[...] lizada” (GALUCH; SFORNI, 2011,
promover o desenvolvimento tecnológico p.64).
do país com vistas à competição política Ou seja, a finalidade da educação é formar
e internacional” (BRASIL, 1999, p. 26); indivíduos capazes de se adaptar à socie-
outra, no sentido de “[...] desenvolver uma dade e não formar uma consciência crítica,
consciência crítica sobre as possibilida- apesar do discurso propalado.
des existentes para a solução de problemas Quanto à parte que trata dos conheci-
pessoais, sociais ou políticos, utilizando- mentos específicos da Educação Física, os
se dos instrumentos existentes para esses PCNs-EM não propõem um único caminho
fins” (BRASIL, 1999, p. 26, grifo nosso). aos professores, mas “[...] formas de atua-
ção que proporcionarão o desenvolvimento

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da totalidade dos alunos e não só dos mais alunos, sem levar em conta os condicio-
habilidosos” (BRASIL, 1999, p. 65). Essa nantes de ordem social.
afirmação se alinha ao terceiro princípio Os PCNs-EM tratam a Educação Fí-
destacado na Lei de Diretrizes e Bases da sica de forma marginal em relação às ou-
Educação Nacional (LDB), qual seja o da tras disciplinas pelo fato de o professor não
exigência de se basear o ensino no “[...] inovar em suas aulas, como expresso no
pluralismo de idéias e de concepções peda- trecho a seguir:
gógicas” (BRASIL, 1996, p.1).
Enquanto as demais áreas de estudo dedi-
De acordo com os PCNs-EM, a Edu-
cam-se a aprofundar os conhecimentos dos
cação Física encontra-se desprestigiada, o alunos, através de metodologias diversifica-
das, estudos do meio, exposição de vídeos,
que pode ser observado pela evasão dos
apreciação de obras de diversos autores, lei-
alunos das aulas e pela procura por expe- turas de textos, solução de problemas, discus-
são de assuntos atuais e concretos, as aulas
riências corporais extraescolares que lhes
do ‘mais atraente’ dos componentes limita-se
trazem satisfação. Todavia, não há referên- aos já conhecidos fundamentos do esporte e
jogo (BRASIL, 1999, p.67, grifos nossos).
cias a pesquisas que atestem a vinculação
entre a evasão dos alunos das aulas e a prá-
tica de atividade física em outros locais por Segundo os PCNs-EM, ao contrário
esses mesmos alunos, mesmo porque, em da Educação Física, as demais disciplinas
certo ponto do texto, contraditoriamente, se preocupam em aprofundar os conheci-
afirma-se que a Educação Física “[...] tem mentos dos alunos, o que é explicado, em
fabricado espectadores e não praticantes de grande medida, pela quantidade de recur-
atividade física” (BRASIL, 1999, p. 69). sos utilizados pelo professor em aula.
O descrédito da Educação Física é Inferimos que a compreensão de conhe-
justificado em grande medida pelos PC- cimento contida nos PCNs-EM esteja atrela-
Ns-EM pelo fato de as aulas terem como da à diversidade de vivências que ocorrem no
conteúdo principal, quando não exclusivo, limite da experiência imediata. Dessa forma,
o esporte com a ênfase na repetição de ges- cabe ao professor elaborar um planejamento
tos e aprofundamento tático, o que propor- envolvente que venha “[...] ao encontro do in-
ciona a exclusão dos alunos menos habili- teresse e necessidade dos alunos” (BRASIL,
dosos pela insatisfação em não alcançarem 1999, p.70), pois “[...] o professor ao se man-
a performance esperada. Essa crítica não é ter rígido em atividades desinteressantes aos
nova na Educação Física; já em meados de alunos, termina por afastá-los da disciplina”
1980 havia autores que combatiam o ensi- (BRASIL, 1999, p.80).
no tecnicista da área e o objetivo de formar Valorizar o interesse e a necessidade
atletas e desenvolver a aptidão física dos dos alunos como ponto de partida do pro-

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cesso de ensino e como tentativa de mo- sicionamento numérico, do que a realiza-


bilizar sua atenção para o objeto de estu- ção dos gestos esportivos com ‛perfeição’
do é um aspecto importante e necessário. pelos alunos: os primeiros possibilitam
No entanto, no documento em questão, níveis mais complexos de pensamento e
isso faz parte de um planejamento pauta- extrapolam o fazer destituído de sistema-
do na necessidade empírica do aluno como tização.
início e fim dos processos de ensino e de Diante das questões tratadas cabe um
aprendizagem, o que não contribui para a questionamento: em que medida os alunos
superação do estágio de desenvolvimento conhecem os fundamentos do esporte e do
cognitivo inicial. jogo, como afirmam os PCNs-EM?
O conhecimento limitado à execução Para os PCNs-EM há um paradoxo
de movimentos corporais fica evidencia- entre o aparato legal e a realidade educa-
do na citação a seguir: “Não conseguimos cional, pois a Educação Física não tem
imaginar um sistema 4x2 no voleibol, se os dado conta de cumprir com os objetivos
alunos não internalizaram a recepção, o previstos pela LDB ao Ensino Médio, que
levantamento e a cortada” (BRASIL, 1999, é contribuir para
p. 66, grifos nossos); uma vez que não há a
[...] o desenvolvimento de habilidades
vinculação direta entre a execução do gesto
como continuar a aprender e capacidade
esportivo e a compreensão tática do espor- de se adaptar com flexibilidade às novas
condições de ocupação e aperfeiçoamento;
te é possível aos alunos que não dominam
o aprimoramento do educando como pes-
a técnica dos movimentos do voleibol en- soa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual
tender o sistema 4x2.
e do pensamento crítico (BRASIL apud BRA-
Supomos que a noção de ‛internali- SIL, 1999, p.66).
zação’, conforme destaque na citação, re-
meta ao domínio das operações motoras Reportando-se à Conferência de
necessárias à execução dos movimentos Jomtien, o Relatório Delors valoriza a
com certa perfeição técnica pelos alunos. capacidade de continuar a aprender como
A técnica e a tática devem ser trabalhadas uma forma de o indivíduo ‘conduzir o
nas aulas de Educação Física, não apenas seu próprio destino’ para alcançar “[...]
como movimentos corporais, mas como um equilíbrio mais perfeito entre traba-
conceitos sistematizados a serem apreendi- lho e aprendizagem bem como ao exer-
dos pelos alunos. cício de uma cidadania ativa” (DELORS,
Para o desenvolvimento humano é 1998, p. 105).
mais importante a apropriação dos concei- Quando a habilidade de ‛aprender
tos do voleibol, inclusive das regras de po- a aprender’ é desenvolvida no aluno para

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que ele se adapte ao trabalho, a autonomia gramas de condicionamento físico, pois o


intelectual e o pensamento crítico ficam “[...] jovem de hoje, atuante, crítico, co-
restritos ao saber espontâneo. Por supos- nhecedor de seus direitos [...]” (BRASIL,
to, a defesa de uma crítica e de uma au- 1999, p. 69) exige uma proposta de traba-
tonomia sustentadas predominantemente lho comprometida com o trabalho coletivo
pela empiria torna-se discurso vazio, pois da escola, bem elaborada e envolvente, o
o conhecimento sistematizado é pressu- que contribuiria para elevar a autoestima
posto de ambas. do professor e recuperar o prestígio da dis-
De acordo com os PCNs-EM, a di- ciplina (BRASIL, 1999).
ficuldade de a Educação Física cumprir os Além de realizar exercícios físicos,
objetivos apresentados pela LDB pode ser o aluno deve saber quais os efeitos desses
diminuída pela “[...] vinculação das com- exercícios sobre o organismo humano, pois,
petências da área com os objetivos do En- para os PCNs-EM “[...] o desconhecimento
sino Médio e [...] pela aproximação desses dos benefícios fisiológicos das atividades
com o ensino de Educação Física” (BRA- aeróbicas ocasionam o não envolvimento
SIL, 1999, p.66). dos alunos com trabalhos de baixa intensi-
Por conseguinte, a Educação Física dade e longa duração” (BRASIL, 1999, p.
precisa buscar sua identidade e isso pode 81), além do mais, esse encaminhamento
ser alcançado com a retomada da perspec- da aula valoriza os conhecimentos adquiri-
tiva da aptidão física e da saúde38, a qual dos na formação inicial do professor.
poderia “[...] contribuir para uma vida pro- Não nos opomos ao ensino dos co-
dutiva, criativa e bem-sucedida” (BRASIL, nhecimentos relacionados à aptidão física
1999, p.68-69) dos alunos. Além do mais, e saúde, mas sim à desconsideração, pelos
o aumento da incidência de adolescentes e PCNs-EM, dos condicionantes de ordem
de jovens com problemas de saúde relacio- social que influenciam a saúde e a qualida-
nados ao sedentarismo contribui para que a de de vida dos indivíduos. Esse debate não
Educação Física tenha como preocupação é suscitado no documento.
central a educação para a saúde (BRASIL, Segundo os PCNs-EM, a LDB al-
1999). terou a dinâmica escolar, proporcionando
No entanto, o documento indica que maior iniciativa às escolas e maior exi-
as aulas não podem restringir-se a pro- gência de qualificação ao professor de
Educação Física. Tanto que o Regimento
38
Castellani Filho (1999) critica a defesa da ‛retomada’
da vertente da aptidão física e da saúde pelos PCNs- escolar das escolas pode “[...] ampliar a
EM, pois, segundo o autor, a história da Educação Física carga horária de determinado componen-
sempre esteve pautada, em maior ou menor grau, por
essa perspectiva. te, inseri-lo dentro do horário de aulas,

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prestigiá-lo ou, simplesmente, diminuí-lo, Enfim, “[...] o professor de Educação


caso nenhuma ação seja implementada” Física deve perceber-se como membro de
(BRASIL, 1999, p.70). uma equipe que está envolvida com um tra-
O documento enfatiza que o traba- balho grandioso: Educar o cidadão do pró-
lho com projetos de atividades físicas es- ximo século” (BRASIL, 1999, p. 73).
peciais, podendo reunir alunos de várias Ao relegar para segundo plano o con-
turmas e por interesse, é uma opção para teúdo sistematizado em favor da formação
legitimar a Educação Física. Por exemplo: para a cidadania, toda a dinâmica escolar
“[...] os alunos trabalhadores podem com- torna-se mais flexível. As aulas tradicio-
por um grupo que desenvolva atividades nais devem ceder espaço para atividades
voltadas à restituição de energias, estí- que congreguem os vários componentes
mulos de compensação e redução de car- da comunidade escolar, como a execução
gas resultantes do cotidiano profissional.” de projetos comuns. É o que se defende no
(BRASIL, 1999, p.71). Também poderão Relatório Delors: “Os professores, por seu
ser organizadas turmas de treinamento es- lado, devem trabalhar em equipe, princi-
portivo no contraturno escolar, mas duran- palmente no secundário, de modo a contri-
te as aulas o esporte deve ser trabalhado de buírem para a indispensável flexibilidade
forma a garantir a participação de todos os dos cursos. O que levará à diminuição do
alunos e não só dos mais habilidosos. insucesso [...]” (DELORS, 1998, p.27).
O desenvolvimento de projetos co- A diminuição do insucesso é repre-
letivos pode contribuir também para in- sentada em maior medida pelo aumento do
tegrar o professor de Educação Física ao tempo que o aluno permanece na escola, que
trabalho desenvolvido na escola, pois os contribui para a melhoria dos índices de esco-
PCNs-EM afirmam que, via de regra, esse laridade e para a convivência com os demais.
professor tem uma postura individualista Educar o cidadão do século XXI é
e não participa das reuniões e decisões uma tarefa que demanda um trabalho co-
que afetam todo o ambiente escolar. Para letivo. Por isso, a participação da comu-
superar essa situação, o professor pode nidade escolar em eventos esportivos e
orientar os alunos recreativos torna possível a efetivação de
“[...] um elo [...] preso pela sensibilidade”
[...] na apresentação de trabalhos na Feira de
(BRASIL, 1999, p.75).
Ciências da escola, exibição de conceitos ad-
quiridos nas aulas, através de painéis e car- O comportamento humano para os PCNs
tazes, e até a criação de eventos exclusivos
da área: semana da saúde, sábados recreati-
-EM é também uma forma de linguagem, por sua
vos, torneios envolvendo a comunidade etc. vez: “A comunicação corporal entre os
(BRASIL, 1999, p.72).
indivíduos tende a acontecer quando estes têm a
consciência

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de seus corpos sensíveis, repletos de vontade e de sentando-o como aquele que constrói seu pró-
intencionalidade” (BRASIL, 1999, p.77). prio saber39.
A formação da subjetividade tra- Em decorrência dessa concepção de
tada nos PCNs-EM limita-se às relações aprendizagem, a função atribuída ao professor
interpessoais pautadas nas emoções e nos é de desafiar os alunos e provocar desequilí-
sentimentos. Neles não se discute a impor- brios “[...] que precisam ser resolvidos e é
tância da apropriação dos conceitos siste- nessa necessidade de voltar ao equilíbrio que
matizados para a formação das faculdades ocorre a construção40 de pensamento” (BRA-
psíquicas superiores e para a elevação dos SIL, 1999, p.79).
níveis de generalização e de abstração da Enfatiza-se nos PCNs-EM que não
realidade, até porque esse não é o objeti- basta a busca pela saúde individual neces-
vo da formação requerida. Nesse contex- sária à criação, à produção e ao bem-estar
to, a Educação Física assume os mesmos de cada sujeito: é indispensável também
contornos demandados para a educação de formar as competências sociais necessárias
forma geral. ao cidadão contemporâneo. Com efeito,
A formação da sensibilidade e das para esse fim, “A Educação Física, arti-
emoções, características propriamente culada pelos jogos construídos no social
humanas, não ocorre separadamente da com esquemas corporais próprios para fins
aquisição das demais funções psíquicas de convivência harmoniosa, amplia o co-
(PALANGANA; GALUCH; GOULART, nhecimento do corpo e a possibilidade de
2006). compreensão das regras sociais” (BRA-
Sendo assim, toda a “[...] constitui- SIL, 1999, p. 126).
ção do indivíduo em ser humano decor-
re da internalização dos signos sociais”
(BRASIL, 1999, p.77). Nesse sentido “[...]
39
[...] no Brasil, na elaboração dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, foi necessário o diálogo com
processos cerebrais sofrerão mudanças; ór- as pedagogias críticas que buscaram orientar a prática
educativa na década de 1980, como a Pedagogia Crítico-
gãos funcionais serão criados no cérebro Social dos Conteúdos e a Pedagogia Histórico-Crítica.
em correspondência a essas mudanças; e a Essas pedagogias que se fundamentam em pressupostos
do materialismo histórico estavam fortemente presentes
conduta motora será profundamente altera- nos cursos de formação de professores e nos debates
acadêmicos desse período. Assim, alguns termos
da” (BRASIL, 1999, p. 77). dessas teorias foram apropriados pelos Parâmetros
Ao tratar da formação da sensibilidade Curriculares Nacionais, mas os seus significados foram
reconfigurados, adaptando-se às políticas internacionais.
e da emotividade, os PCNs-EM acentuam o Isso gera dificuldade para a compreensão da perspectiva
de formação presente (GALUCH; SFORNI, 2011, p. 61).
aspecto coletivo e interpessoal e, ao tratar do 40
A utilização do conceito de ‛construção’ do
processo de apropriação de conhecimentos, conhecimento como sinônimo de aprendizagem remete
a concepções de desenvolvimento humano radicadas em
enfatizam a autoformação do indivíduo, apre- métodos avessos ao materialismo histórico-dialético.

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Percebemos que, na vertente da ap- por sua saúde, bem como se comprometer
tidão física e da saúde defendida nos PCN com a resolução tanto de seus problemas
-EM, a ideia é que as funções do professor pessoais como dos problemas sociais, se-
de Educação Física são desenvolver proje- cundarizando os conhecimentos específi-
tos de atividades físicas especiais, mediar cos da dança, do esporte, da ginástica, dos
o relacionamento entre os alunos durante jogos e das lutas, o que implica a limitação
a execução dos projetos e demais ativida- da apropriação pelo gênero humano da cul-
des escolares, além de coordenar debates. tura corporal elaborada historicamente pe-
Dessa forma, a especificidade dos conteú- los homens.
dos da cultura corporal é diluída pela cen-
tralidade da educação para a saúde e nas CONSIDERAÇÕES FINAIS
atividades de socialização. Constatamos a sintonia entre os PC-
O quadro de competências e habili- Ns-EM e o Relatório Delors no que concer-
dades a serem desenvolvidas nos alunos do ne às exigências formativas do atual con-
Ensino Médio pelas aulas de Educação Fí- texto social. Nesse sentido, a criatividade
sica pode ser sintetizado da seguinte forma: e a flexibilidade se tornam palavras de or-
dem da sociabilidade demandada pela rees-
1- Autogerenciar as atividades corpo- truturação produtiva. Concomitantemente,
rais com vistas à aquisição ou ma- o aumento da interdependência planetária
nutenção da saúde; coloca em riscos a ordem mundial e a pró-
2- Compreender as diferentes ma- pria sobrevivência da humanidade, requi-
nifestações da cultura corporal, sitando o desenvolvimento da tolerância, o
respeitando e valorizando toda e respeito e a valorização da diversidade cul-
qualquer diferença corporal; tural que, no limite, corresponde à admi-
3- Conviver em grupo contribuindo nistração da pobreza para a coesão social.
para o alcance dos objetivos co- No que se refere às influências das no-
letivos, respeitando os diferentes vas necessidades educacionais da atualidade
pontos de vistas postos em debate; para o ensino da Educação Física, percebe-
4- Ter autonomia para elaborar e mos nos PCNs-EM ruptura e continuidade
modificar regras de diversas ati- com as orientações oficiais anteriores.
vidades corporais A subordinação da Educação Física à
instituição esportiva é combatida pelos PC-
Em suma, a proposição dos PCNs Ns-EM, em oposição às orientações do pe-
-EM destaca a contribuição da área para ríodo ditatorial, como indica a Lei n. 6.251
que o aluno seja o principal responsável de 08 de outubro de 1975, que instituiu as
normas gerais sobre os desportos:

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Entende-se a educação física escolar como vimos, a legislação anterior também assu-
causa e o desporto de alto nível como
efeito, tendo o desporto de massa como mia essa perspectiva.
intermediário. Nestas circunstân- cias, o Levantamos a hipótese de que os PC-
ideal de relacionamento entre os três
elementos é o de possibilitar o cres- Ns-EM necessitam ‘retomar’ a perspectiva
cimento progressivo da escala e da qua- da aptidão física e saúde para se contrapor
lidade das atividades físicas, organizadas de
acordo com as potencialidades do país à produção acadêmica da década de 1980 e
(BRASIL, 1976, p.53). 1990, que propunha a superação do para-
digma da aptidão física pela reflexão sobre
Os PCNs-EM criticam a organização a cultura corporal, uma vez que entendiam
das aulas nesse modelo: repetição de movi- que a primeira vertente estava atrelada aos
mentos; exigência técnica dos gestos; ex- interesses da classe dominante, porque in-
cesso de competição. Segundo o documen- tentava melhorar a saúde dos indivíduos
to, essa condução tem contribuído para a basicamente pela alteração dos hábitos e
evasão dos alunos das aulas, pois a maioria comportamentos (SOARES et al., 2005).
não consegue obter a performance espera- O processo de elaboração da atual
da, o que contribui para o desprestígio da LDB revela que houve conflito entre os
área. Por suposto, a ruptura ocorre com re- legisladores e os representantes da área
lação ao predomínio do esporte nas aulas. para que o texto final da Lei mencionas-
A continuidade acontece devido ao se a Educação Física como componente
fato de os PCNs-EM assumirem que a Edu- curricular (CASTELLANI FILHO, 1999),
cação Física pode encontrar “[...] no traba- e, em 2001, incluísse a obrigatoriedade
lho com a Aptidão Física e Saúde uma al- da disciplina na Educação Básica41 (NO-
ternativa viável e educacional para as suas ZAKI, 2004).
aulas” (BRASIL, 1999, p.68), assim como Nozaki (2004) defende a tese de que
prevê o Decreto-Lei n. 69.450 de 1º de no- a dificuldade sofrida pelos grupos repre-
vembro de 1971: “A aptidão física consti- sentantes da Educação Física em mantê-la
tui a referência fundamental para orientar como componente curricular obrigatório
o planejamento, controle e avaliação da da Educação Básica na atual LDB expressa
educação física, desportiva e recreativa, a incapacidade de a Educação Física aten-
no nível dos estabelecimentos de ensino” der diretamente aos novos requisitos de
(BRASIL, 1972, p.59). formação dominantes, tendo em vista
Os PCNs-EM argumentam que é ne- 41
Castellani Filho afirma que a redação final da LDB
cessário ‘retomar’ a referência da aptidão retira “[...] a camisa de força que a aprisionava aos
limites próprios do famigerado eixo paradigmático da
física e saúde. Essa ‘retomada’, à primeira aptidão física [...]” (CASTELLANI FILHO, 1999, p. 114),
porém, nas orientações dos PCNs-EM o paradigma da
vista, revela-se contraditória, pois, como saúde permanece.

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Relatório Jacques Delors e Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio: Orientações para o Ensino da Educação Física 75

[...] que, historicamente, ela era ligada, sob de raciocinar logicamente e de criar. To-
o ponto de vista dominante, a uma forma-
ção de um corpo disciplinado para obedecer davia, de acordo com a lógica do capital,
subordinadamente, adestrado a repetições o conhecimento mais elaborado, pressu-
de exercícios e visando à aptidão física, fun-
cional ao fordismo, percebemos que esta posto da abstração, da crítica e da criativi-
caracterização não é mais central para a de- dade, não é apropriado pela maior parcela
manda de formação do trabalhador de novo
tipo para o capital, já que este precisa de um dos trabalhadores.
conteúdo no campo cognitivo e interacio- Entendemos que o discurso da for-
nal, a fim de trabalhar com a capacidade de
abstração, raciocínio lógico, crítica, interati- mação crítica e criativa, principalmente o
vidade, decisão, trabalho em equipe, com- propalado pelos documentos oficiais, faz
petitividade, comunicabilidade, criatividade,
entre outros42 (NOZAKI, 2004, p. 143-144, parte da investida ideológica dos grupos
grifos nossos). dirigentes para apresentar uma sociedade
compromissada com o desenvolvimento
Não resta dúvida de que o modelo humano de todos.
produtivo atual difere substancialmente Ainda que a repetição de movimentos,
do padrão de acumulação fordista. Tam- característica da produção em massa, seja
bém é ponto comum, em algumas pesqui- menos requisitada pelo padrão de acumula-
sas, que essa alteração resulta em novas ção flexível, a conduta da maioria dos tra-
exigências formativas, tal como indicam balhadores, como não poderia ser diferente,
galuch e Palangana (2008) e galuch e continua circunscrita aos limites da empiria.
Sforni (2011). Nesse caso, a defesa de No- Apesar de se falar em valorização da subje-
zaki (2004) sobre a falta de capacidade da tividade, esta se apresenta destituída de co-
Educação Física, sob o ponto de vista do- nhecimento teórico, mas valorizada no que
minante, em não atender imediatamente tange ao relacionamento interpessoal.
aos novos requisitos formativos, parece- Pelo exposto, inferimos que a crítica
nos válida. No entanto, a forma de o autor efetuada pelos PCNs-EM analisados, em
expressar as características requeridas do relação à forma como a Educação Física
trabalhador atual, destacadas na passagem vem sendo realizada na maioria das esco-
citada, pode levar ao entendimento de que las, reflete a necessidade de “[...] transfor-
a organização atual do trabalho pressupõe mar a Educação Física em uma disciplina
o desenvolvimento humano, pois ele se necessária” (MELLO, 2009, p.264). Para
refere à capacidade de abstrair, de criticar, isso, é preciso superar o modelo de aula
pautado na racionalidade técnica e no ex-
42
Nozaki (2004) deixa claro que a Educação Física
pode atuar para formar as referidas competências, cesso de competição (MELLO, 2009).
mas, historicamente, de acordo com o projeto social Em suma, mantém-se o paradigma da
dominante, essa disciplina sempre esteve atrelada à
repetição de movimentos. saúde e combatem-se os excessos do esporte.

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76 Eduardo Borba Gilioli, Maria Terezinha Bellanda Galuch

Por sua vez, há menção nos PCNs REFERÊNCIAS


-EM sobre a importância do conhecimento BRASIL. Decreto-Lei n. 69.450, de 01
sistematizado relacionado à aptidão física e de novembro de 1971. Regulamenta o art.
saúde, até porque um dos objetivos da Edu- 22 da Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de
cação Física é capacitar o aluno para auto- 1961, e a alínea “c” do art. 40 da Lei n.
gerenciar sua atividade física, responsabi- 5.540, de 28 de novembro de 1968, e dá
lizando-o pela sua saúde. Para esse fim, os outras providências. In: BRASIL. MEC.
projetos de atividades físicas especiais po- Departamento de Educação Física e Des-
dem contribuir. Em outro sentido, a relação portos. Revista Brasileira de Educação
interpessoal nas aulas de Educação Física Física. Brasília, 1972. p.57-62.
são valorizadas como forma de habilitar os
BRASIL. Lei n. 9.394 (Lei de Diretrizes
indivíduos para o trabalho em equipe na
e Bases), de 20 de dezembro de 1996. Es-
consecução de projetos comuns.
tabelece as diretrizes e bases da educação
Constata-se nos PCNs-EM a dilui-
nacional. Brasília, 20 dez. 1996. Dispo-
ção dos conteúdos da Educação Física
nível em: <http://www.planalto.gov.br/
pela exacerbação dos conhecimentos de
ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 20
anatomia, de biologia e de fisiologia. Não
mar. 2013.
que esses conteúdos sejam irrelevantes
para a formação dos alunos, no entanto, os BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacio-
conhecimentos específicos da dança, do nais: Educação física. Secretaria de educação
esporte, da ginástica, do jogo e da luta são fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
mencionados de forma esparsa e bastante BRASIL. Parâmetros Curriculares Na-
genérica, o que indica sua subordinação cionais. Ensino Médio. Linguagens, códi-
à orientação para a saúde. Portanto, mais gos e suas tecnologias. volume II. Brasília:
importante do que pensar no desenvolvi- Ministério da Educação/Secretaria de Edu-
mento cultural dos alunos pela apropria- cação Média e Tecnológica, 1999.
ção do conhecimento sistematizado dos CASTANHO, S. globalização, Redefini-
elementos da cultura corporal é provê-los ção do Estado Nacional e Seus Impactos.
de meios para se responsabilizarem por In: LOMBARDI, J. C. (Org.) Globaliza-
sua saúde e pela capacidade de conviver ção, pós-modernidade e educação. His-
e de resolver tanto os problemas pessoais tória, filosofia e temas transversais. Cam-
como os coletivos. pinas: Autores Associados, 2009. p.13-37.
CASTELLANI, F. L. A Educação Física
Recebido em: Setembro de 2013 no sistema educacional brasileiro. Per-
Aceito em: Novembro de 2013

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