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03/01/2018 Rousseau, Voltaire, Montesquieu e Diderot: “Nos bastidores da Filosofia” (e da Ciência Política).

| Direito e Divagações

Direito e Divagações
ABRIL 4, 2013 · 8:05 PM

Rousseau, Voltaire, Montesquieu e Diderot: “Nos


bastidores da Filosofia” (e da Ciência Política).
No passado mencionei o site oJardim.net, que tinha uma seção divertidíssima: “Nos bastidores da filosofia”, abordando fatos
interessantes e inusitados relacionados aos grandes nomes da Filosofia.

Pois bem, via WayBackMachine estou resgatando mais um dos excelentes posts de lá. A autoria do texto, evidentemente, não
é minha, e se o autor não gostar da repostagem aqui no direitos e divagações, é só falar que eu retiro. Mas vamos ao texto:

Quando a gente estuda o Iluminismo e a Revolução Francesa na escola, a impressão que se tem é de que Rousseau,
Voltaire, Montesquieu e Diderot formavam um time de intelectuais unidos contra o regime absolutista. De fato, eles
tinham em comum a crítica ao antigo regime, mas, na verdade, não eram tão unidos assim.

Voltaire e Rousseau, em especial, não gostavam muito um do outro. Para ser exato, Voltaire – o mais desbocado e
irreverente deles – vivia esculhambando Rousseau, e este último – o mais inseguro e insidioso deles – odiava Voltaire,
mas não conseguia deixar de admirá-lo.

Um dos livros mais famosos de Rousseau se chama Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os
homens, no qual ele sustenta que o homem primitivo, em seu estado selvagem, era bom e sem malícia, vivia sua vida
apenas tentando sobreviver um dia após o outro como um animal qualquer, mas sem destruir os seus semelhantes; com o
passar do tempo, todavia, a partir do surgimento da propriedade privada e das sociedades complexas, tornou-se mau e
egoísta, explorando aqueles que considerava inferiores a si. Para Rousseau, portanto, a vida selvagem era
substancialmente melhor que a vida na modernidade. Em 1755, Rousseau enviou uma cópia dessa obra a Voltaire, e este
respondeu em carta:

“Recebi seu novo livro contra a raça humana, e agradeço-lhe por isso. Nunca se
empregou tanta inteligência com o fim de nos tornar a todos estúpidos. Lendo seu livro tenho vontade de andar em
quatro patas. Mas como já perdi esse hábito há mais de sessenta anos, vejo-me, infelizmente, na impossibilidade de
readquiri-lo. Tampouco posso dedicar-me à busca dos selvagens do Canadá, porque as doenças a que estou condenado
me tornam necessário um médico europeu; porque a guerra continua nessas regiões; e porque o exemplo de nossas
ações tornou os selvagens tão maus quanto nós.”

https://direitoedivagacoes.wordpress.com/2013/04/04/rousseau-voltaire-montesquieu-e-diderot-nos-bastidores-da-filosofia-e-da-ciencia-politica/ 1/4
03/01/2018 Rousseau, Voltaire, Montesquieu e Diderot: “Nos bastidores da Filosofia” (e da Ciência Política). | Direito e Divagações

No mesmo ano, houve um terrível terremoto em Lisboa, que matou milhares de pessoas. Alguns segmentos cristãos
passaram a afirmar publicamente que o evento desastroso era uma punição de Deus diante da iniqüidade daquele povo.
Voltaire ficou indignado e publicou um texto acusando o Deus cristão de ser vingativo e opressor, sempre preocupado em
castigar os homens. Queria, na verdade, ridicularizar a visão de que o mundo era governado por um Deus bom e
misericordioso. Rousseau parece não ter entendido bem a ironia (ou quis jogar com a platéia), e rebateu:

“Voltaire, parecendo sempre acreditar em Deus, na realidade não acreditou nunca senão
no diabo, já que o seu pretenso Deus é um ser maligno que, segundo ele, encontra todo o seu prazer na prática do mal.
O absurdo desta doutrina é espacialmente revoltante num homem que desfruta de toda a sorte de coisas boas e que, do
meio de sua própria felicidade, procura encher de desespero os seus semelhantes, por meio da cruel e terrível imagem
das graves calamidades das quais ele próprio está livre.”

Rousseau ainda afirmou que eventos naturais desse tipo nem eram tão desastrosos assim. Fazem parte da natureza,
segundo ele. E, lembrando a sua tese de que a vida selvagem é superior à moderna, Rousseau afirmou que se homens
vivessem nos bosques, e não em prédios e casas, não teria havido tantas mortes.

Quando Rousseau voltou à sua cidade natal (Genebra), soube que Voltaire estava morando por lá. Voltaire era também
escritor de peças de teatro e levava esse ofício com muito entusiasmo, mas, por questões religiosas, as peças dramáticas
passaram a ser proibidas em Genebra. Rousseau não perdeu a oportunidade de atingir Voltaire e ficou do lado dos
puritanos, o que o tornou um herói da decência e da virtude cristãs.

Apesar disso tudo, quando Voltaire soube que as autoridades suíças estavam mandando queimar livros de Rousseau,
disse sua famosa frase: “Posso não concordar com uma palavra do que você diz, mas defenderei até a morte o direito de
dizê-las”.

Mas os atritos não pararam. Ao contrário, aumentaram cada vez mais. Voltaire dizia que Rousseau era um louco
perverso. Rousseau dizia que Voltaire era uma trombeta da impiedade, um gênio fino de alma baixa.

Em 1760, Rousseau escreveu a Voltaire, dizendo:

“Odeio você, certamente, já que você quis que fosse assim; mas odeio você como a um
homem ainda digno de ser amado, se você tivesse permitido. De todos os sentimentos de que meu coração está cheio
com relação a você, resta somente admiração que não posso negar a seu gênio formidável e a seus escritos. Se não há
nada em você que eu possa enaltecer, exceto seu talento, não é minha culpa.”

https://direitoedivagacoes.wordpress.com/2013/04/04/rousseau-voltaire-montesquieu-e-diderot-nos-bastidores-da-filosofia-e-da-ciencia-politica/ 2/4
03/01/2018 Rousseau, Voltaire, Montesquieu e Diderot: “Nos bastidores da Filosofia” (e da Ciência Política). | Direito e Divagações

Voltaire morreu em maio de 1778. Rousseau morreu pouco mais de um mês depois, em julho do mesmo ano. Dizem as
más línguas que Rousseau morreu de desgosto, alguns afirmam até que foi suicídio, porque não suportou a vida sem
Voltaire.

Diz-se que a gravura acima estava no bolso do casaco de Rousseau


quando seu corpo foi encontrado. No verso, em letras tremidas, os
seguintes dizeres: “Seu, eternamente…”

https://direitoedivagacoes.wordpress.com/2013/04/04/rousseau-voltaire-montesquieu-e-diderot-nos-bastidores-da-filosofia-e-da-ciencia-politica/ 3/4
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