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Apontamentos da Disciplina de Ética e

Deontologia Profissional

Ilda Hilário, Msc.

2020
Definição de Conceitos

1. Ética

Este termo provém do grego “ethos” a significar carácter ou modo de ser do indivíduo.

Segundo Lima Vaz (1999: 13), ética é o exercício constantedas virtudes morais ou seja, é
exercício de investigação e de reflexão metódica sobre os costumes.

A ética com (ethos)(com eth inicial), designa o conjunto de costumes normativos da vida de um
grupo social (_), enquanto que ética (ethos) com épsilon refere-se à constância do
comportamento do indivíduo cuja vida é regida pelo ethos costume (_).

Para A. Lopes de Sá (2007: 18), ética é entendida como ciência da conduta humana perante o ser
e seus semelhantes.

Para Aristóteles, a ética serve como condução do ser humano à facilidade. A ética ajuda o ser
humano a equilibrar-se.

Para Kant, ética é dever, é um Sistema de regras absolutas ou seja com uma validade universal.

2. Moral

Derivada do latim – morales – costumes, corresponde ao conjunto de costumes, regras, tabus,


convicções estabelecidas por cada sociedade.

Essas regras e costumes orientam cada indivíduo norteando as suas acções e os seus julgamentos
sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.

3. Deontologia

Segundo Monique, na sua obra “O Que Devo Fazer”, o termo foi primeiramente usado por
Jeremy Benthan em 1834, vindo do grego “deo”, caracterizando o que deve ser.
Deon onto logia
+ +
Deve Ser Estudo
Deontologia é o estudo dos deveres ligados ao exercício de uma profissão. Também pode ser
entendida como o conjunto de princípios e regras de conduta ou deveres de uma determinada
profissão.

Cada profissão deve ter sua deontologia, os seus deveres e obrigações de acordo com as
exigências da mesma.

Toda a pessoa em posição de exercer uma profissão, em razão de seu saber ou sua função,
inevitavelmente ocupa uma posição de poder em relação ao usuário que está sob sua
dependência. Disso, resulta a necessidade de regras expressas de modo formal e explícito cuja
transgressão seja passível de advertência e de chamada à ordem, bem como de sanções.

A deontologia ajuda o profissional a corrigir e/ou regular as suas intenções, acções, direitos,
deveres e princípios através do cumprimento das normas estabelecidas.

Immanuel Kant contribuiu significativamente na área da deontologia ao considerar o dever como


a única forma de agir moralmente, tendo dividido a deontologia em duas partes ou áreas: a razão
prática e a liberdade.

A acção é perfeita quando é feita por uma vontade livre. O nosso agir deve ser bom em si mesmo
e não se condicionado.

4. Profissão

Este termo provém do latim “profissione”, empregue por Cícero para representar o trabalho que
o homem prático com habilidade a serviço de terceiros ou seja, é a prática constante de um
ofício.

A palavra profissão possui também uma dimensão lucrativa da qual o homem extrai meios para a
sua subsistência, para a sua qualificação e para o seu aperfeiçoamento moral, técnico e
intelectual. Ou seja, a profissão para além da sua utilidade para o indivíduo, possui também
expressão social e moral.

a) Através do exercício profissional, o homem consegue elevar o seu nível moral.


b) É pela profissão que o indivíduo se destaca e se realiza plenamente, provando sua
capacidade, habilidade, sabedoria e inteligência e, por outro lado, provando sua
personalidade para vencer obstáculos.
c) Pela profissão, o homem torna-se útil à sua comunidade e nela se eleva e se destaca na
prática dessa solidariedade orgânica.

Obs: A prática profissional traz benefícios recíprocos a quem pratica e a quem recebe o fruto do
trabalho, mas também se exige nessas relações a preservação de uma conduta condizente com os
princípios éticos específicos.

Por outro lado, o agrupamento de profissionais que exercem o mesmo ofício acaba criando as
distintas classes profissionais para se estabelecer a conduta pertinente: o conhecimento (saber);
perante o cliente ou colega (saber estar) e perante a sociedade, a pátria e a humanidade (saber
ser).

Portanto, a profissão pode ser entendida com: evidência perante terceiros das capacidades e
virtudes de um indivíduo no exercício de um trabalho habitual.

O trabalho feito por um profissional é ou deve ser qualificado pela conduta do mesmo. Onde o
trabalho do profissional deve-se acompanhar de um valor ético para transmitir uma imagem
integral de qualidade.

5. Ética Profissional

Ética – ciência que ajuda-nos na tomada de decisão em grandes questões da vida, através do
posso, quero e devo.

Segundo A. Franqueira (_), a ética profissional corresponde à decisão livre do agir do homem
perante o bem e o mal, na medida em que somos seres racionais e livres.

A ética profissional representa o conjunto de normas éticas que formam a consciência do


profissional e constituem um imperativo ou obrigação de sua conduta, observado pelo seu
caráter, pelo cumprimento dos valores estabelecidos pela sociedade e/ou pela entidade
empregadora.

Existem elementos éticos universais que podem ser exercidos em todas as profissões e os
particulares, que correspondem a cada profissão, estes últimos que ficam patentes nos
respectivos códigos profissionais.

Para o funcionário público, existem normas de conduta que os funcionários devem observar na
sua actividade profissional, estas incluem aquilo que o indivíduo “é”. O ser ou o carácter do
indivíduo aumenta a sua credibilidade.

Por exemplo: Dentre vários pintores, podemos escolher “um” não porque os outros não possam
fazer o mesmo trabalho, mas sim, por exemplo, porque o mesmo pintor transmita maior
credibilidade pelo seu ser.

Antiguidade Clássica

1. Ética segundo Sócrates (Sócrates 470 – 399 AC, em Atenas)

O pensamento ético Socrático tem a sua génese na crítica feita por Sócrates aos sofistas em
relação à moral tradicional.

Sofistas – eram considerados mestres professores da retórica e da oratória. Estes acreditavam


que a verdade era múltipla, relativa e mutável. A própria palavra sofistas, originalmente
significava (sábios), mas depois passou a ser considerada desonestidade intelectual.

Os ensinamentos dos sofistas visavam introduzir o cidadão na vida política. Ensinavam a tecer
argumentos válidos para vencer, uma vez que para eles a verdade é relativa de acordo com o
lugar e tempo em que o sujeito está inserido, bem como com o interesse que se tem.

Protágoras é considerado um dos grandes representantes deste movimento, a ele atribui-se a


seguinte frase: “O homem é a medida de todas as coisas. das que são como são e das que não são
como são.”

Esta frase significa que a verdade é subjectiva e relativa, não objectiva e absoluta.

Sócrates, não concordava com os sofistas quanto ao ponto de vista dos seus ensinamentos. É
importante considerarmos que Sócrates nada deixou por escrito, o que há sobre ele foi escrito
pelos seus discípulos: Platão, “Xenofeno”, socráticos menores, contudo, a partir de Sócrates
trazido por Platão, Aristóteles reconheceu-o como iniciador da ética.

Sócrates nos traz três temas muito importantes:

1. O homem interior
2. O tema da verdadeira sabedoria
3. O tema da virtude (Arete)

1º - O tema do homem interior (alma)

Trazido por Sócrates, assinalou uma profunda revolução em relação ao pensamento


antropológico grego. Sócrates procurou mostrar o povo grego que “O verdadeiro valor do
homem reside no único bem intangível pela inconstância da fortuna, a incerteza do futuro, a
precaridade do sucesso, as vicissitudes da vida” (Lima vaz, 1999: 96).

Ora, o cuidado do homem interior exige, antes de mais nada, o conhecimento de si mesmo, ou
seja, o exercício de uma razão voltada propriamente para o próprio homem e para as coisas
humanas.

2º - O tema da verdadeira sabedoria

Sócrates dava início ao seu pensamento ético com o “conhece-te a ti mesmo”.

Esta ideia obriga o homem ou nos obriga a desfazer-se da falsa imagem que cada um constrói de
si mesmo, a evidência da própria ignorância a respeito do mais importa para a vida que é saber
como devemos viver.

O autoconhecimento ajuda o homem a saber como deve viver.

O reconhecimento da ignorância sobre si mesmo torna-se uma douta ignorância, sabedoria


verdadeira, e é essa ignorância que constitui, paradoxalmente, o primeiro momento da
ciência socrática e torna possível o aprendizado da verdadeira virtude (Arete)[3º Tema].

Para Sócrates, o homem sábio é necessariamente bom e o homem malvado é necessariamente


ignorante. O sábio nunca faz o mal voluntariamente e somente o homem virtuoso é
verdadeiramente feliz.
Sócrates identifica a virtude como o saber, com o conhecimento e o vício com a ignorância.

Olhar a virtude como ciência é admitir que o sábio é que pode ser virtuoso, ou seja, a virtude
resulta do uso da razão.

Esta afirmação, dá início à História de Ética como ciência do ethos, ou seja, da moral. Sócrates
foi morto acusado de corromper a juventude.

Obras/textos

1. H. L. Vaz, Introdução à Ética Filosófica 1, 1999: 93-99

2. Vazquez, 2007

3. Platão, Apologia de Sócrates 4 Edição, 2003.

Platão (427-347 A.N.E)

Discípulo de Sócrates, nasceu na Grécia em 427 e morreu em 347 A.N.E. Platão viu a morte do
seu mestre acusado de corromper a juventude.

A ética platónica encontra-se integrada à ideia da “ordem”. Ordem no indivíduo, ordem na


cidade (polis) que implica justiça na alma e justiça na política.

Portanto, a ética em Platão é uma ética política, uma vez que o homem só se pode realizar dentro
de uma comunidade. O homem é bom enquanto bom cidadão.

Em que é que consiste a ordem?

A ordem consiste em cada uma das partes cumprir com o que lhe é próprio, de modo que no todo
assim ordenado possa transluzir a presença do bem. Tudo isto em vista da busca da justiça, uma
vez que o lugar antropológico da justiça é a práxis individual e social (Vaz, 1999: 10).

Para Platão, a vida ética não é um dom da natureza embora por ela condicionada, mas é fruto de
um longo, difícil e por vezes doloroso processo educativo.

Para isso, Platão traçando o seu estado ideal (utópico), propõe a retirada das crianças das suas
famílias para os colégios de estado onde poderiam receber a educação (concebida pelo estado
para formar o tipo de cidadão que se pretende) e cada uma iria desenvolver as suas próprias
virtudes e habilidades de acordo com as etapas.
Virtudes | Classes sociais

1ª Sabedoria – filósofo – Governantes

2ª Coragem – guardiões – Defensores da polis

3ª Temperança – artesão, comerciantes – movimentam a polis

4ª Justiça – é a maior de todas as virtudes, na medida em que deve reinar em todas as classes
sociais de modo a fazer prevalecer a harmonia social.

Só os sábios é que podem governar a cidade. Os que comtemplam o mundo das ideias.

“Investigar no logos como devem viver”

Articulação

Para Platão, a ética implica a ordem no interior do Homem que se reflete na ordem da cidade. A
ordem individual contribui para a ordem social.

Coloca-nos Platão a questão das virtudes: se são dádiva da natureza ou para adquirirmos
precisamos da educação?

Respondendo, o nosso autor assegura-nos que a educação é que cria a ordem no indivíduo e na
sociedade, faz a pessoa desenvolver e descobrir as suas próprias virtudes ou vocação. Nisto, a
pessoa fazendo o que gosta, o fará com maior perfeição e será feliz.

A ordem dentro da cidade consistirá em cada um desempenhar bem a sua função. O mesmo se
diz da empresa, cada um deve desempenhar com dedicação e zelo a sua tarefa.

A liberdade de escolha é fundamentada pelas virtudes e na ordem do destino.

Obras/textos

1. A República de Platão.
Ética segundo Aristóteles

Nasceu em Estagira, Macedónia em 384 AC.

Obras/textos

1. Ética A Nicómaco

Aristóteles organizou de uma forma sistemática os conteúdos éticos, por isso é considerado o
fundador da ética. Sua obra magna é denominada Ética a Nicómaco, uma obra composta por 10
livros.

Logo no primeiro livro, Aristóteles, aborda a questão do fim (teleológica), trata do bem, o fim
último que todo o ser humano guiado pela razão aspira que é a eudaimonia (felicidade).

Para Aristóteles, a Ética deve responder às seguintes questões:

1. Quais são os verdadeiros bens da vida humana? Como classifica-los hierarquicamente?

Estas questões se enquadram na investigação feita pelo Aristóteles sobre o bem supremo ao qual
todos os outros bens se ordenam. Na sua investigação, Aristóteles concluiu que a “Bem” maior
que se busca é a eudaimonia, ou seja, a felicidade.

Resposta:

Os verdadeiros bens da vida humana são os que lhe trazem a verdadeira felicidade – o bem
supremo.

Palavras textuais:

“O fim em si mesmo é o “bem” ou o bem é o fim, pois o bem é o fim a que todo o ser aspira”
(Vaz, 1999: 118).

Felicidade – Designa o estado de autorrealização ou autossatisfação, a eudaimonia.

2. Como alcançar este bem supremo?

Para Aristóteles, o bem supremo ou a felicidade alcança-se pela prática da virtude.

3. Como se adquire a virtude?


Segundo Aristóteles (visto em Vaz, 1999: 123) as virtudes são de dois tipos e se adquirem de
maneiras diferentes.

1. Virtudes morais ou éticas – estas adquirem-se pela prática e localizam-se na mediana, no meio
entre o excesso e falta. Onde o excesso é um vício bem como a falta.

Por Exemplo: Temerário  Coragem  Cobardia


Excesso Virtude Falta

2. Virtudes dianoéticas ou intelectuais – Este tipo de Virtude adquire-se por meio de educação.
São exemplos disso a sabedoria, prudência, entendimento, juízo, etc.

Por tanto, a ética é uma investigação sobre a virtude, como actividade fonte da eudaimonia (Vaz,
1999: 121).

Ou seja, ética é uma ciência que investiga sobre as virtudes como meios para alcançar a
felicidade. É um conjunto de acções que conduzem o homem a alcançar o bem supremo.

As Virtudes – A mediana

Para este autor, o homem acima de tudo busca ser feliz e para isso precisa cultivar a prática do
bem. Ser virtuoso fazendo o bem será considerado homem bom.

A questão do homem interior foi de grande importância para os antigos. Aristóteles, diz que o
homem possui 3 tendências ou almas:

1. Alma vegetativa – O homem como qualquer animal luta pela sua sobrevivência como
indivíduo e como espécie, se alimentando. Esta alma está presente nas plantas.

2. Alma sensitiva – o homem possui a necessidade de satisfazer os seus sentidos, também os


animais possuem esta alma. Por exemplo: quando vamos a uma discoteca.

3. Alma racional – presente apenas no homem, torna o homem não só capaz de captar-se a si
mesmo como também captar o exterior.

Todas estas almas devem estar equilibradas, nem o excesso e nem a falta; aí sim, encontramos a
virtude fonte da eudaimonia.
Aristóteles demonstra a importância da mediana como a principal virtude. A virtude encontra-se
na mediana, nem o excesso e nem a falta. Só um homem equilibrado pode ser feliz.

Tabela das virtudes morais

A ética trazida por Aristóteles é uma ética teleológica que visa alcançar um determinado fim.

Ética Empresarial VS Moral Empresarial

A ética nos negócios ou simplesmente ética empresarial é um campo vasto de reflexão sobre
questões nos níveis individual, social e económica ou organizacional e sistemática, incluíndo a
tomada de decisão.

A ética a nível económico, é aplicada para a moralidade dos indivíduos, bem como para a
aquisição do lucro.

Na gestão financeira e empresarial, o indivíduo é prioritário tanto como a produção e a


organização no seu todo. A ética neste âmbito, visa a boa gestão dos negócios.

Organização dentro da empresa

Dentro de uma instituição ou empresa, a organização é um elemento fundamental para que se


alcance os objectivos, sem excluir a questão sistémica e individual.

A questão individual e sistémica é importante e deve ser regulada. A corrupção generalizada e o


poder das empresas multinacionais tornam-se, de forma evidente, por vezes sufocam as médias
empresas, diferentes áreas do Governo também caem em corrupções. A ética empresarial torna-
se necessária.

Na verdade, a ética empresarial não pode reduzir-se apenas à questões de reduzir apenas as
desigualdades sociais.

Segundo Patrus (2010: 7), ética empresarial é um conjunto de princípios e padrões que orientam
comportamentos no mundo empresarial ou dos negócios.
A ética empresarial deve garantir a produção de lucro na empresa. Deve haver equilíbrio entre o
desejo de lucro com as necessidades e desejos da sociedade para não prejudicar, nem os
indivíduos, nem a sociedade como um todo.

Moral Empresarial

É o conjunto dos valores e das normas que no interior de uma empresa são reconhecidos como
vinculadas, o que quer dizer, são produtos das acções e decisões que promovem a vida em todas
as dimensões das pessoas (emocional, social, produtiva, religiosa, moral, intelectual, musical,
etc).

A ética empresarial pode ser vista como reflexão sobre a moral empresarial, na medida em que
se reflecte sobre as normas, valores efectivamente dominantes em uma empresa, buscando
factores qualitativos que fazem com que determinada acção seja boa.

Objectivos da Ética Empresarial

Visa reduzir efeitos conflituantes entre o princípio dos benefícios económicos (lucro) com a
direcção das actividades empresariais concretas.

1.LEITURA DA SEMANA 29- 03 DE ABRIL( Apresentar a sua síntese depois da litura,


PROBLEMATIZA O PORQUE QUE O ETICO NÃO FAZ NOTICIA. 1. Pag. )

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