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Mediação
Dialética na Educação Escolar: teoria e prática. São Paulo: Edições Loyola. 2007. ISBN 978-85-15-
03440-6. (p. 119-171)
INTRODUÇÃO
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Realmente, aplicar teoria em aula é algo complexo, em especial, por
tratar da relação de tensão entre pólos distintos, a teoria e a prática (ação
pedagógica do professor com o aluno), envolvendo os processos de ensino e de
aprendizagem. E, é nessa realidade educacional que esse capítulo se insere,
discutindo a aplicação prática do conceito teórico de “Mediação”, oriundo da
ontologia do ser social, uma teoria critica de cunho filosófico. Para isso, explicita a
operacionalização do conceito filosófico da Mediação, por intermédio de uma
proposição teórica de conversão/transformação do conceito científico da área de
atuação, em conteúdo de ensino desta mesma área, para ser desenvolvido em aula.
1. PROPOSIÇÃO DO CAPÍTULO
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âmbito escolar a discussão pedagógica da aula, dando-lhe a importância merecida e
colocando-a como espaço primordial para se trabalhar os conteúdos científicos de
diferentes áreas do saber, um bem cultural relevante que necessita ser compreendido
por todos, em especial, pelos alunos.
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de avaliações mostram que o Brasil vive uma situação, no
mínimo, constrangedora?
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inquestionável. Essa falsa neutralidade colabora para a concepção de
aula com espaço a-político.
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decorrente dos avanços das pesquisas sobre a “Ontologia do ser social” que trata do
ser histórico.
Nessa perspectiva teórica, o homem, organizado em sociedade, tem seu
desenvolvimento condicionado pelas relações que ele estabelece com os fatores
sociais, econômicos, naturais, biológicos, políticos, entre outros, de seu contexto.
Estes fatores relacionam-se entre si e com o próprio contexto, gerando o sujeito
histórico que, simultaneamente, ao transformar a realidade, transforma-se. Nesta
realidade natural, social e humana, nada de isolado tem em si sua própria suficiência,
gerando, assim, a incompletude do ser humano histórico e inserido em uma dada
sociedade, em face de toda produção cultural acumulada até então. Essa
incompletude própria de cada ser humano, em relação à totalidade dos bens culturais
produzidos pelo gênero humano, gera movimento, contradição e superação, ações
dialéticas responsáveis pelo caráter processual do desenvolvimento do sujeito, do
pensamento e do contexto, caracterizando o motor do devir histórico. E, nesse
aspecto, para se compreender a realidade, é necessário que o ser social depreenda o
movimento desta, o qual se expressa nas relações existentes no ambiente natural,
social e humano e, simultaneamente, compreenda sua relação neste contexto,
entendendo que sua compreensão depende de o pensamento depreender o próprio
movimento do real.
Por outro lado, discutir a aula na perspectiva da Mediação Dialética é
um desafio, por inferir possibilidades de transformações para os dois pólos que a
envolvem: (a) o professor, ao ensejar-lhe mudança conceitual, propondo-lhe a aula
como totalidade processual, dinâmica e complexa, formada por relações
contraditórias, as quais precisam ser estudadas e compreendidas, sob a perspectiva
dialética, para que possam ser superadas, na direção de uma aula crítica; (b) o
pesquisador, ao inserir a dimensão teórico-metodológica da “Mediação dialética” na
pesquisa acadêmica voltada ao estudo da “Ontologia do ser social”, área que vem
firmando-se como revolucionária, mas que ainda não compilou dados teóricos
voltados para a operacionalização da Mediação em uma práxis, que pressupõe o devir
como possibilidade de transformação da situação atual.
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Assim, para que essa concepção de Mediação se materialize em uma
aula, torna-se necessário a operacionalização dessa pesquisa teórica que explicite a
relação dialética entre teoria e prática em uma práxis educacional, por intermédio de
uma proposição metodológica. É necessário, para isso, discutir o caráter processual
da aula como práxis, entendendo-a como “Prática educativa”, que se caracteriza
pelas relações de tensão entre o processo de ensino (desenvolvido pelo professor) e
o processo de aprendizagem (desenvolvido pelo aluno), os quais preservam suas
identidades e potencializam aos alunos a elaboração de sínteses cognitivas relativas
ao conteúdo de ensino desenvolvido.
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professor, uma práxis particular, utilizar-se-á a expressão “Prática Educativa”’. Assim,
é possível compreender a complexidade de relações que se estabelecem no interior
das Práticas Educativas, entre elas e delas, com a práxis educacional que geram e,
simultaneamente, são geradas.
Por que usar a palavra práxis que não faz parte do vocabulário
usual da escola básica?
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que pensam e produzem o saber daqueles que o desenvolvem no ensino, também,
gera e preserva a concepção pragmática de ensino.
Por essas razões, é relevante salientar que nesse texto o vocábulo
prática, de uso mais corrente não só na linguagem comum, mas também na literária,
preserva o significado de práxis, um vocábulo filosófico que não envolve
forçosamente as conexões semânticas usuais de prática, como a-teórica. A práxis é
uma categoria filosófica que permite a compreensão da dinâmica do ambiente e
possibilita a ação crítica do ser social, no sentido da transformação. Na práxis pode-
se unir, conscientemente, pensamento e ação: o devir da prática educativa.
O embasamento teórico, de cunho filosófico - a ontologia do ser social -
permite compreender o professor no contexto da práxis educacional: um ser social e
histórico, que se encontra imbricado em uma rede de relações sociais e enraizado em
um determinado terreno histórico que sintetiza as relações de tensão entre diversos
fatores que o compõem, de ordem social, econômica, política etc. Assim, a
cotidianidade escolar de professor está condicionada, histórica e socialmente, pelo
contexto ambiental (natural e social), e isso influencia sobremaneira a visão que ele
tem da própria atividade, a Prática Educativa, e o leva a adotar, inconscientemente,
os pontos de vista parciais, surgidos originariamente sobre o fato prático. Em relação
à aula:
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Em primeiro lugar, implica abandonar a improvisação, uma ação que
corrói a autonomia de qualquer profissional e, em especial, a do professor,
colaborando sobremaneira para a alienação. A improvisação, na docência, torna o
professor um mero executor de atividades pensadas e programadas por outrem.
Pensar a aula implica a concepção de aula como práxis, a prática
educativa, explicitando que a ação de pensar a prática não pode ser realizada
exclusivamente durante o desenvolvimento da própria ação prática. Observa-se que
esse entendimento equivocado tem provocado diferentes reações no professor, desde
a recusa de realizar tal tarefa, até fazê-la por intermédio de um relato de aula,
listando as atividades realizadas ou as ações comportamentais dos alunos, ambas as
situações inadequadas para a educação.
Seguramente, para o professor “pensar a aula durante seu
desenvolvimento” é necessário que ele estabeleça, de forma consciente, a relação
entre a prática que está desenvolvendo e a teoria selecionada para orientar essa
prática, caracterizando a práxis. O desenvolvimento da práxis exige a seleção de
formas de se relacionar a teoria e a prática que precisam ser planejadas “a priori”,
por tratar-se de uma ação intencional. Essa asserção assegura ao professor a
possibilidade de ele planejar uma prática educativa que articule conscientemente a
teoria e a prática, os dois pólos contraditórios que estabelecem uma relação de
tensão entre si. E, ainda mais, como existem diferentes estados de práxis, toda
prática (práxis) pode ser superada, transformando-se em uma mais articulada e
qualitativamente superior a anterior.
Salientando, também, que um dos motivos que inviabiliza o professor-
em-ação de pensar sobre sua aula, exclusivamente durante seu desenvolvimento, é a
intencionalidade do ato educativo que exige do professor a compreensão teórica de
suas ações práticas em relação ao processo de ensino que potencializa ao aluno a
aprendizagem do conteúdo. Entretanto, é interessante ressaltar que, mesmo não
tendo essa concepção teórica sobre a intencionalidade da aula, a ação do professor
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não é a-teórica, ela está relacionada, de forma inconsciente, às concepções de
educação que ele elaborou em sua caminhada histórica.
Portanto, a consciência do professor não está descarregada por
completo de certa bagagem teórica, ainda que desarticulada, porém essa teoria não
lhe permite desenvolver uma atitude propriamente teórica diante da aula (prática
educativa), a de dialetizar teoria e prática, as duas dimensões da práxis. Com isso, há
a redução do conceito de prática educativa (práxis particular), a apenas uma das
dimensões da práxis, a de prático-utilitária, ou melhor, da prática pragmática e
empírica que fala por si mesma, sem o caráter problemático da contradição que se
estabelece entre as dimensões teórica e prática da práxis. Nesse aspecto, a atividade
teórica, quanto mais afastada das necessidades imediatas das práticas educativas,
apresenta-se ao professor como uma atividade dispensável. E disso decorre que o
professor estuda as teorias, sabe verbalizá-las e, muitas vezes, a partir delas,
interpreta a realidade da sala de aula, porém não consegue transformar seu cotidiano
escolar, permanecendo o hiato entre teoria e prática e, até mesmo, reforçando o
caráter pragmático da aula.
É muito preocupante o fato de o professor conceber/dar esse sentido
utilitário, individual e auto-suficiente à sua própria prática educativa, entendendo-a
como uma ação sem teoria, que se repete cotidianamente. Essa concepção de prática
a-teórica gera a alienação do professor, causando-lhe a sensação de inoperância
diante do trabalho pedagógico, convalidando a cisão entre teoria e prática e levando-
o a executar mecanicamente as propostas oficiais ou dos livros didáticos.
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independentes. E, assim, para o observador ingênuo, o mundo parece constituído de
coisas independentes umas das outras e indiferentes à consciência.
Segundo essa concepção, é possível supor que, no trabalho
pedagógico, a alienação se processa no modo de o professor produzir e conduzir o
plano da escola (de curso, de disciplina e de aula), por exemplo. O plano escolar é o
registro de um planejamento, de um projeto que, a partir do estudo da realidade da
escola, o professor elabora idéias de ações para frente (projeta), ações pretendidas
para transformar a realidade atual da referida escola. Transformar aspectos
indesejáveis da realidade escolar é a intencionalidade das ações educativas pensadas
pelo professor e transcritas em metas e objetivos do plano escolar, que articulam, de
forma consciente, a ação pretendida e a consciência dessa ação. A possibilidade de
se manter presente a intencionalidade registrada no plano é o desafio que se coloca
para a comunidade escolar, o de operacionalizá-la diariamente, entendendo a tensão
dialética que se estabelece entre a intencionalidade presente nas metas e objetivos e
a realidade escolar (teoria e prática).
No entanto, essa intencionalidade pode diluir-se, quando o plano
escolar se torna um documento meramente burocrático que se presta,
exclusivamente, ao atendimento dos prazos e aos interesses dos gestores (os que
pensam), separando-se dos interesses dos docentes (que executam).
A práxis tem como par dialético a alienação e a criticidade da ação
humano-social. E, como neste texto, utiliza-se a prática educativa como práxis
particular, pode-se analisá-la por essas categorias, compreendendo, neste aspecto,
que, para o professor ascender de uma prática educativa alienada (comum), é
necessário que ele próprio a supere, transformando-a em uma práxis crítica, na qual
as relações entre as questões teóricas e as práticas são conscientes.
Em uma prática educativa crítica, a teoria é o guia da ação, orientando,
assim, a atividade do professor, e a ação é o critério de verdade da referida teoria, na
medida em que expressa o influxo/influência da teoria, é uma ação consciente,
pensada pelo sujeito que a pratica. Para as conseqüentes práticas inovadoras, é
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necessário enfrentar o desafio de se aplicar na prática, de forma consciente, as idéias
pensadas a partir da própria prática, segundo um referencial teórico transformador.
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(a) O sujeito entende a realidade como um agregado ou conjunto de
fatos/acontecimentos/fatores singulares, entende, também, que essa pode
ser estudada de forma compartimentalizada, segmentada por partes
indepententes;
(b) O sujeito entende a realidade como um todo articulado, que se desenvolve e
se cria, entende, também, que, para estudá-la, necessita de um “olhar”
dialético, pois, conhecer um objeto vem a ser compreendê-lo como
totalidade que, simultaneamente, articula-se a outras e com o todo.
A. Sistema respiratório
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compreensão da relação entre áreas distintas do saber: anatomia, fisiologia
e o corpo humano como totalidade dinâmica.
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- O aluno tira dez na prova de gramática e zero na redação de um
bilhete (texto), em relação ao uso das mesmas regras gramaticais;
- O aluno sabe aplicar a fórmula matemática de área em um exercício
avulso que apresenta as medidas de uma sala de aula, e não sabe
encontrar a área de sua própria sala.
B. Ascaris lumbricoides
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Enquanto aguardava, a professora olhava insistentemente para a lousa
colorida, os cartazes e os vidros com os bichinhos, como querendo induzi-los à
resposta esperada. Rapidamente, a Mariazinha levantou a mão e com firmeza
verbalizou:
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exclusivamente, no saber científico, em detrimento ao saber que o aluno já havia
elaborado sobre o mesmo assunto. Ela se resume em uma sala, um espaço físico,
que reúne elementos distintos – conceito científico, explanação do professor,
presença do aluno - como partes desarticuladas, ao invés de ser considerada uma
totalidade dinâmica, da qual, o saber científico, o saber do aluno, o professor, o aluno
e a escola são elementos constitutivos que, simultaneamente, influenciam-na e são
por ela influenciados.
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3. ETAPAS DA PRÁTICA EDUCATIVA ou AULA: TRABALHO PEDAGÓGICO DE
PROFESSOR
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momentos de desenvolvimento do conteúdo de ensino em uma “Prática Educativa”
representam o movimento centrífugo (que se afasta ou procura afastar-se do centro).
O conteúdo de ensino representa a categoria de análise da “Prática Educativa”
(comum à crítica), por indicar o grau de consciência com que o professor estabelece
a relação entre os fundamentos teóricos e prática realizada, expressando, assim, a
intencionalidade com a qual essa se desenvolve.
Colocar as questões que envolvem o ensino como dimensões da
pesquisa acadêmica e, em especial, tendo o conteúdo de ensino como objeto desta,
demonstra que a proposição metodológica é tão teórica quanto os fundamentos
(teóricos) que lhes deram origem.
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3.2.1. SELEÇÃO dos fundamentos teóricos que se articulam e subsidiam o preparo
da aula, envolvendo: (a) área de atuação do professor; (b) área filosófica (Mediação)
e (c) área teórico-metodológica, os princípios filosóficos da organização metodológica
do conteúdo de ensino.
A aula – “Prática Educativa” –, pelo caráter processual que a
caracteriza, exige do professor o conhecimento das três áreas de pesquisa
anteriormente citadas, para que, de forma consciente, possa articulá-las no preparo,
desenvolvimento e avaliação da própria prática educativa, em especial, no que se
refere aos processos que ela envolve, o de ensino e o de aprendizagem. Relevante,
também, é compreender que os saberes dessas diferentes áreas de pesquisa não são
tratados de forma hierarquizada, por serem todos imprescindíveis à “Prática
Educativa”.
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3.2.1.2. Área de fundamentos teóricos: princípios filosóficos da Mediação
Dialética.
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utilitária ou espontânea, em que o pragmatismo reduz o prático ao utilitário, na
medida em que acaba por dissolver o teórico no útil. O processo de superação da
prática comum (práxis) gera no sujeito a possibilidade de ele de ser capaz de
ascender a um estado mais qualitativo da práxis.
A qualidade da “Prática Educativa” crítica é seu caráter mediato e inovador,
com finalidades vinculadas conscientemente à prática: um instrumento teórico de
transformação da realidade. Nela, a unidade entre teoria e prática pressupõe o
conhecimento: a) da realidade do objeto da transformação; b) dos meios e sua
utilização para conseguir a transformação; c) da história teórico-prático na qual se
insere a práxis atual; d) da antecipação dos resultados que se pretende atingir, sob a
forma de finalidades. Enfim, a prática educativa crítica (práxis) é uma ação
consciente, a atividade prático-teórica humana.
Durante todo processo de elaboração da práxis crítica, o ponto de partida deve
ser o mesmo que o de chegada. O fluir teórico, nesse processo, propicia uma
ampliação/transformação qualitativa do conhecimento inicial e, portanto, o retorno ao
ponto de partida não mais se constitui em um conhecimento comum (caráter
imediato) e, sim, em um conhecimento crítico e dialético (caráter mediato). A práxis
crítica trabalha as contradições entre o ponto de partida e o de chegada,
considerando este (o de chegada) como um novo ponto de partida.
Resumindo, a “Prática Educativa” é o conceito filosófico da atividade teórico-
prática do homem, a práxis, entendida como a relação teoria/prática do ser social e,
dependendo do grau de consciência que o homem tem desta relação (teoria X
prática), a ela se apresenta em estados comuns (repetitivos) e críticos
(transformadores). Assim, a Mediação, exposta no capítulo anterior, explicita para o
professor a intencionalidade da “Prática Educativa”.
A Mediação Dialética constitui o pressuposto teórico-filosófico que
possibilita compreender as relações de tensão que se estabelecem no processo de
ensino e no de aprendizagem. É entendida como uma relação dialética (força de
tensão) que tem por referência a diferença, a heterogeneidade, a repulsão e o
desequilíbrio entre seus termos: o saber imediato e o saber mediato. Esses termos
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divergentes da mediação geram a contradição entre ambos, provocando a superação
do imediato no mediato e possibilitando a elaboração de sínteses (aprendizagem).
Assim, a mediação permite que o imediato seja superado no mediato, sem, no
entanto, que o primeiro seja anulado ou suprimido pelo segundo; ao contrário, o
imediato está presente no mediato. Sob essa ótica, a Mediação pedagógica é uma
relação dialética - Mediação pedagógico-dialética - que caracteriza o processo de
ensino e o de aprendizagem, uma vez que, em ambos, os sujeitos envolvidos lidam
com saberes, o mediato e o imediato.
Como já foi discutido anteriormente, a palavra mediação é normalmente
utilizada para indicar uma intervenção com a qual se busca produzir um acordo, com
o sentido de igualar ou homogeneizar termos. Todavia, quando entendida em uma
perspectiva dialética, a mediação significa uma relação de tensão entre termos
diferentes: o imediato e o mediato. Para não provocar equívocos conceituais em
relação ao vocábulo mediação, optou-se pelo uso do termo Mediação Dialética. Com
ele, explicita-se a origem filosófica da mediação e, mesmo incorrendo em
redundância, utilizou-se o predicado dialética para reforçar o conceito de mediação
aqui presente. As relações pedagógicas do trabalho educativo são compreendidas
como Mediação Dialética e, a partir delas, torna-se possível discutir o processo de
ensino e de aprendizagem.
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A metodologia constitui uma postura, um enfrentamento da realidade
na busca de compreendê-la em sua totalidade (concretude), isto é, no próprio
movimento dialético do real. A questão metodológica apresenta-se mais complexa do
que aparenta ser e reveste-se de significado político por realizar a articulação de uma
teoria de compreensão da realidade com uma prática específica, tendo em vista o
contexto histórico e social que as gerou.
Outro aspecto relevante nessa discussão é a concepção de ensino e a
de aprendizagem como processos distintos: ensino refere-se à relação do professor
com o saber; e aprendizagem, à relação do aluno com o saber. Segundo essas
concepções e os pressupostos teóricos da Mediação Dialética, foi elaborada uma
proposição metodológica para processo de ensino, buscando articulá-lo com o
processo de aprendizagem e com ênfase especial na ação do professor. Esta
proposição se realiza por intermédio dos processos: (a) a organização do conteúdo
de ensino e (b) a proposição da “Metodologia da Mediação Dialética”. (doravante,
indicada, também, por M.M.D.)
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ao conceito científico que pretende trabalhar e opta pelo saber imediato como ponto
de partida e pelo saber mediato como ponto de chegada do referido processo. Na
perspectiva da Mediação Dialética, a “proximidade” desses pólos contraditórios do
saber (imediato e mediato) gera, no pensamento, um campo de tensão entre ambos,
a contradição, que possibilita a superação do imediato no mediato e a elaboração de
sínteses pelo sujeito que a realizou.
De uma forma semelhante, ao considerar a aprendizagem como a
relação do aluno com o saber, o conteúdo de ensino torna-se metodologicamente
assimilável, quando, pela sua dinamicidade, é capaz de gerar necessidades cognitivas
nos alunos. Essa propriedade configura-se quando o processo de ensino estimula e
motiva o aluno a buscar informações científicas em relação ao conteúdo de ensino
trabalhado. O professor, por intermédio de situações de ensino problematizadoras,
possibilita ao aluno tomar consciência de seu saber imediato sobre o assunto em
questão, como, também, leva-o a perceber a insuficiência desse saber na elaboração
das respostas solicitadas pela situação. Esse enfrentamento cognitivo gera no
pensamento a tensão entre o saber imediato e o saber mediato pretendido. Essa
contradição potencializa a superação do saber imediato no mediato, ocasionando a
elaboração de sínteses que, internalizadas pelo sujeito, passam a operar no interior
da própria estrutura orgânica.
Ensinável e assimilável são propriedades metodológicas que o
conteúdo científico vem a ter, quando organizado na perspectiva da Mediação
Dialética; porém, para tornar-se um conteúdo de ensino, deve, também, preservar o
saber científico que lhe deu origem.
O conteúdo de ensino é a unidade de dois processos diversos, o de
ensino e o de aprendizagem, sendo dinâmico pela tensão dialética que ele estabelece
entre o saber imediato e o mediato, gerando, consequentemente, a contradição entre
ambos, a superação do imediato no mediato e a síntese cognitiva. Tensão,
contradição, superação e síntese são movimentos do pensamento, e o professor, ao
propiciar situações de ensino capaz de gerá-los, torna o conteúdo de ensino ensinável
(ensino) e permite a aprendizagem.
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3.2.1.3.2. Proposição teórico-metodológica da “Metodologia da Mediação
Dialética”
1º Momento - Resgatando/Registrando
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trabalhado, e o aluno, ao desenvolvê-las, representa suas idéias iniciais sobre o
referido conteúdo.
O registro dessa produção, ainda que de forma confusa, representa a
objetivação do saber subjetivo do aluno, e o professor, de posse dessas informações,
delimita o saber que o aluno possui do objeto em estudo e, ao compará-lo com o
saber pretendido, depreende a tensão entre ambos e elabora a problematização.
2º Momento – Problematizando
3º Momento - Sistematizando
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discussão do saber científico a eles relacionado, potencializa que o pensamento gere
a superação do imediato no mediato, a elaboração de sínteses cognitivas e a
internalização do saber aprendido.
4º Momento - Produzindo
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que o professor planeja o desenvolvimento do conteúdo de ensino em uma “Prática
Educativa”, sob a orientação da “MMD”, e compreende os “Momentos” do movimento
desta. No sentido de explicitar o processo de conversão, seguem algumas
informações relevantes.
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como síntese cognitiva. Dependendo da qualidade da relação entre a teoria e prática,
ela pode representar a superação do imediato no mediato pretendido: a práxis crítica
e transformadora.
Esse caminho teórico, na perspectiva da mediação, é o método
dialético, o percurso a ser percorrido para a compreensão da realidade. O método é
teórico e direciona teoricamente o pensamento do homem na busca do entendimento
do real e, por ser teórico, a sua explanação pode ensejar a interpretação dessa
realidade, a descrição sistematizada da mesma, ao invés de promover compreensão
da mesma.
31
permanecem os problemas, agravados com rotina escolar que se depara com teorias
que não se operacionalizam ou com o pragmatismo, atividades para a prática, sem
fundamentação teórica.
Observa-se, nesse caso, que tanto o discurso de teorias críticas quanto
as indicações pragmáticas permanecem em um dos pólos da prática educativa,
respectivamente, o da teoria e o da prática. Ambos, inoperantes, o pólo da teoria,
por não apresentar uma proposição metodológica que expressa o influxo da teoria na
prática, e o da prática, por conter atividades fragmentas. Daí a necessidade de uma
proposição teórico-metodológica que expresse o influxo do método dialético para a
prática educativa, segundo os pressupostos filosóficos da Mediação Dialética, a teoria
que deu origem ao método.
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governam são, também, conscientes. Pelo fato de se propor objetivos, o homem
nega uma realidade efetiva, afirma outra que ainda não se conseguiu alcançar e,
para alcançá-la, ele seleciona meios para a materialização dos objetivos.
Portanto, a operacionalidade da teoria sobre a mediação vincula-se à
sua aplicação prática por intermédio da proposição da “M.M.D.”, que considera a
pratica como critério da verdade, por afirmar ou negar a referida teoria.
33
“M.M.D.”. Caso a contradição entre eles fosse resolvida, um dos pólos
(ensino/professor e aprendizagem/aluno) seria superado no outro e isso
impossibilitaria a conversação e permitiria o monólogo.
Manter esse movimento “sem superação da contradição” na
operacionalização da Metodologia é um dos desafios que o professor precisa
enfrentar, pois dele depende a Mediação Dialética, outro movimento dialético
relacionado, especificamente, ao conteúdo de ensino, em que a contradição precisa
ser resolvida para gerar superação e elaboração de sínteses. Para isso, o professor,
por intermédio do processo de ensino, realiza intervenções pedagógicas no processo
de aprendizagem, intervenções capazes de provocar no aluno a explicitação da
contradição entre as suas idéias iniciais sobre o conceito estudado (saber imediato) e
o conceito científico implícito no conteúdo de ensino (saber mediato). A contradição
de ambos gera a relação de tensão entre eles, promovendo a superação do imediato
no mediato e intentando a elaboração de sínteses pelos alunos.
Para a “Prática Educativa” potencializar aos alunos a elaboração de
ações conscientes e críticas, torna-se necessário que os processos de ensino e de
aprendizagem se desenvolvam por intermédio da Mediação pedagógica capaz de
criar, gerar ou elaborar situações de ensino que permitam ao aluno pensar ou
estabelecer relações dinâmicas entre os elementos do ambiente natural e social.
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(a) A “entrada” dos elementos do ambiente no pensamento, enquanto
abstração, ou seja, sua dimensão interna,
(b) A “saída” do material elaborado pelo pensamento sobre o ambiente, a
dimensão externa. Essas duas dimensões da ação do ser social,
distintas e articuladas, assim se realizam:
Conceito de expressão
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[...] tudo aquilo que, tendo se formado e determinado de alguma
maneira no psiquismo do indivíduo, exterioriza-se objetivamente para
outrem com a ajuda de algum código de signos exteriores.
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Por que linguagem?
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contradição que se estabelece entre os dois pólos contraditórios, a linguagem
enquanto sistema (no sentido saussuriano) e a linguagem enquanto discurso
(funcionamento da linguagem) significado dinâmico e provisório, social e histórico
(acepção bakhtiniana). A escolha da palavra, portanto, constitui uma ação dialética
do sujeito movida pelo sentido, a intencionalidade da linguagem. No momento do
uso, o sentido desejado pelo interlocutor confere à palavra um sentido estável, ou
seja, a dimensão de unidade na diversidade (pluralidade) de suas significações.
Uma das asserções oriundas da pesquisa que subsidia este texto
(ARNONI, 2004) é considerar a linguagem como a possibilidade de materializar a
teoria da mediação na prática, tornando-se, assim, o elemento mediante na
“M.M.D.”, o que a faz existir, por atualizá-la (colocá-la em prática).
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Palavra compreendida pelos interlocutores da prática
educativa: professor e aluno.
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contradição entre o imediato e o mediato, a superação do imediato no mediato e a
elaboração de sínteses cognitivas (a aprendizagem).
Nessa perspectiva, a linguagem do conteúdo de ensino torna-se
pedagógica, quando se constitui no elemento mediante que permite e provoca a
mediação (tensão dialética) em diferentes situações, tanto no processo de ensino
como no de aprendizagem; para o professor, no planejamento da prática educativa e
na operacionalização do plano e, para o aluno, na vivência das atividades que
potencializam o desenvolvimento das relações dialéticas entre suas representações
do imediato e as do mediato (saber científico da disciplina), gerando a contradição
entre ambas, a superação e a elaboração de sínteses. Por esses motivos, em uma
prática educativa desenvolvida segundo a “M.M.D.”, ocorre a mediação pedagógico-
dialética que orienta o processo de ensino e o de aprendizagem no devir educacional.
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Essa fase de reestudo é imprescindível para o professor organizar o conteúdo
de ensino e operacionalizar a “M.M.D.”, pois, ao permanecer preso exclusivamente ao
conceito científico, terá a dimensão de uma das partes do todo, algo a-histórico e
desgarrado da dinâmica da natureza. No entanto, ao “devolver” (inserir novamente)
o conceito científico no todo ao qual pertence, tem dele uma nova compreensão, a de
totalidade dinâmica, elaborando, assim, o conteúdo de ensino.
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dirigidos aos alunos, cuja vivência potencializa-lhes a superação das representações
imediatas no conceito científico, mediato.
Legenda:
(a) Círculo externo – método dialético;
(b) Círculo interno – metodologia dialética.
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que este, o [processo] de ensino, inicia-se com o planejamento da Prática Educativa,
descrito no item 3.2.
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compreensão do conceito científico a ser ensinado. Ela pode ser desenvolvida com
toda a sala (discussão/conversação), mas tem por objetivo despertar em cada aluno,
individualmente, a consciência das duas dimensões do saber trabalhadas na Prática
Educativa: a subjetiva (seu saber inicial – a representação do imediato) e a objetiva
(conceito científico – a representação do mediato).
A discussão, na problematização, caracteriza-se por trocas verbais ou
escritas entre alunos e destes com o professor, incitadas pelo professor, nas quais se
coloca em questão um problema sobre o conteúdo de ensino. Essa discussão gera
conflitos de opiniões, exigindo que o aluno argumente em favor de suas próprias
idéias (ou de colegas), estimulando, assim, sua capacidade de explicação, exigindo
elaboração de argumentos (organização do saber atual).
As atividades de problematização provocam a contraposição dos pontos
de vista sobre um mesmo conteúdo de ensino e desempenham ações distintas na
discussão, objetivando explicitar para o aluno a relação de tensão entre seu saber
inicial (imediato) e o conceito científico (mediato). Por este motivo, a
“Problematização” não deve ser confundida com a estrutura usual das conversações
em sala de aula, nas quais ocorrem a típica seqüência de pergunta do professor,
resposta do aluno, comentário do professor, que não envolve tensão.
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pedagógicas que envolvem o conteúdo de ensino e dialetizam as representações
iniciais dos alunos, contrapondo-as com o conceito científico em questão. A vivência
dessas atividades problematizadoras permite que o aluno perceba a relação de
tensão entre seu saber inicial e o estudado, depreendendo a contradição entre
ambos.
A proposição dessa Etapa é suscitar no aluno a percepção de que seus
registros iniciais são incompletos (“a parte é, por si só, incompleta”) e o desejo de
relacionar seus registros iniciais com o conteúdo ensinado (“estabelecer vínculos
entre a parte com outras partes e com o todo que as abarca”).
No “Problematizando”, a discussão da atividade problematizadora com o
aluno possibilita-lhe a identificação e a compreensão da contradição entre seu saber
inicial e o científico ensinado e, também, potencializa que ele supere o imediato no
mediato pretendido e, assim, elabore sínteses que expressem o conceito científico
estudado, a “Sistematização”.
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expressar o pensamento, em situações de conversação com os colegas e com o
professor, ou por intermédio de registros/anotações do mesmo.
Nas situações pedagógicas desses dois Momentos iniciais, o professor
seleciona recursos didáticos diversificados, e o aluno escolhe a linguagem que achar
conveniente para comunicar-se, gerando, assim, um ambiente descontraído. Como
explicado no item 3223, a linguagem é o elemento mediante que permite materializar
a intencionalidade dos “Momentos da Metodologia” e propiciar um ambiente de aula
descontraído e repleto de diferentes recursos lingüísticos, mantendo, no entanto, em
evidência para alunos e professor, a intencionalidade dos “Momentos”, em particular,
e da “M.M.D.”, em geral. Manter a transparência das intenções da aula é fator que
gera comprometimento do professor e do aluno com a Prática Educativa pretendida.
Em síntese, a intencionalidade da aula dirige o seu planejamento, seu
desenvolvimento e sua avaliação e, por isso, a dinâmica de intensa participação
coletiva dos dois primeiros Momentos, de forma assistemática, é uma ação
organizada em função do que se planejou para elas.
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Neste “Momento”, o professor retoma e discute as questões-problema
com a sala, trabalhando as informações científicas do conceito estudado e
propiciando ao aluno a compreensão das mesmas, e não apenas sua memorização.
Portanto, não se trata de o professor, simplesmente, declamar o conceito científico,
lê-lo no texto didático ou escrevê-lo na lousa, e, sim, de estabelecer uma
conversação sobre o saber científico que “resolve” a problematização, para que o
aluno possa superar a contradição, a ela (problematização) inerente.
Assim, juntos, professor e aluno, organizam as informações científicas
referentes ao conteúdo de ensino, ou os alunos realizam essa tarefa individualmente
ou em grupos, e o professor revisa o trabalho, discutindo os pontos não
compreendidos. De posse dessas informações organizadas, o aluno pode, então,
consultar fontes de pesquisas, ler textos didáticos e paradidáticos, pontos na lousa,
folhas mimeografadas etc, que complementem seu estudo.
Nesse “Momento”, o professor explora as dimensões da linguagem,
propondo aos alunos atividades de expressão oral, discussão do significado de textos,
produção de textos etc sobre o conteúdo de ensino estudado, estimulando, assim, o
aluno a participar desse processo interativo de elaborar e expressar idéias. Essas
dimensões da linguagem constituem critérios para a escolha dos procedimentos de
avaliação que caracterizam o “Momento” posterior.
A escola (Educação Básica e Superior) trabalha o conceito científico em
uma outra dimensão, a do conteúdo de ensino, embasado em uma proposição
metodológica oriunda da pesquisa científica sobre a aplicação de pressupostos
teóricos em uma situação de aula.
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linguagem por eles produzidos. A escolha da tarefa deste “Momento”, selecionada
pelo professor e discutida com o aluno desde o início do trabalho, explicita o fim
almejado pela Prática Educativa. Isso exige que o professor, na dependência da
turma, delimite aspectos relevantes e basais do conteúdo, os quais possibilitam a
compreensão do mesmo, como também oferecem condições de aprofundamento de
estudo. A discussão sobre a delimitação dos aspectos conceituais e os tipos de
linguagens selecionados para o desenvolvimento da “M.M.D.” são retomados no
decorrer do trabalho, para avivar o plano inicialmente acordado entre professor e
alunos.
Aprender, em seu sentido lato, significa elaborar sínteses cognitivas
(pensamento) e operacionalizá-las em situações intelectuais e/ou práticas. Portanto,
a aplicação do saber aprendido é ilimitada e ocorre em instâncias das quais o
professor não tem controle. Porém a avaliação que se pretende nesta proposição é a
que permite ao professor e ao aluno depreenderem a situação atual de compreensão
do conteúdo de ensino desenvolvido.
O fundamental nesse “Momento da Metodologia”, já comentado
anteriormente, é articular a intencionalidade da Prática Educativa (da práxis comum à
crítica), o desenvolvimento do conteúdo de ensino (superação do imediato no
mediato) com a intenção comunicativa da tarefa solicitada ao aluno (expressão do
saber que ele elaborou, em relação ao conteúdo ensinado).
É interessante atentar para o fato de que todos os Momentos da
“M.M.D.” exigem alguma modalidade de produção do aluno e, no entanto, este,
especificamente, é nominado de “Produzindo”: é nele que a linguagem se vincula, de
forma explicita, à avaliação, no sentido de qualificação da produção do aluno.
Observa-se, também, que o professor, desde o “Momento inicial” da
Metodologia vem trabalhando atividades de linguagem para desenvolver o conteúdo
de ensino e materializar a proposição metodológica. Assim, após a opção por algum
tipo de recurso de linguagem, como, por exemplo, o texto (argumentativo, narrativo,
informativo, poético, publicitário etc), o professor proporciona situações que
possibilitam ao aluno familiarizar-se com a ação de produzir textos, antes de
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conceder-lhe o aspecto avaliativo. Esse procedimento é mantido com todo tipo de
linguagem selecionado para o desenvolvimento do conteúdo de ensino.
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Como avaliar por intermédio do texto?
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Na perspectiva dialética, o texto é uma totalidade dinâmica e com
sentido. Produzir textos é uma atividade criadora, que vai além dos aspectos
ortográficos: a ortografia ocupa um espaço importante no ato de escrever, mas não
ocupa o espaço todo.
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Levantamento dos aspectos prioritários do conteúdo de ensino, que
deveriam ser compreendidos pelos alunos;
Levantamento dos aspectos conceituais presentes nas diferentes formas
de o aluno expressar suas idéias sobre o conteúdo de ensino
desenvolvido, em especial, a partir da comparação dos registros que ele
produziu no “Resgatando/Registrando” (iniciais) e no “Produzindo”
(finais);
Levantamento dos fatores externos à aula, que prejudicaram o
desenvolvimento do conteúdo de ensino;
Levantamento dos fatores internos à aula, que prejudicaram o
desenvolvimento do conteúdo de ensino.
4. CONCLUSÕES:
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- Na passagem do imediato (Resgatando/Registrando) ao mediato
(Produzindo), não se estabelece o equilíbrio entre as contradições e
nem se criam contradições insolúveis, mas procura-se a unidade entre
estes pólos contraditórios, gerando superação. Nesse processo, o
conteúdo de ensino é a categoria que permite compreender a
contradição e a superação que se estabelece entre o imediato e
mediato.
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(b) O desenvolvimento do conteúdo de ensino centra-se na
problematização de situações capazes de gerar contradições, provocar superação e
possibilitar a elaboração de sínteses (aprendizagem);
(c) Os registros/anotações do saber inicial do aluno expressam suas
idéias atuais, consideradas partes, aparentemente, independentes do todo;
(d) As atividades problematizadoras situam-se entre os registros dos
alunos (imediato) e o conceito científico reestudado (mediato);
(e) No desenvolvimento da aula pela aplicação da “M.M.D.”, o
professor, inicialmente, depreende a contradição entre as representações dos alunos
(Resgatando/Registrando) e o conteúdo de ensino e, em seguida, transforma esta
contradição em atividades problematizadoras (Problematizando) para proporcionar ao
aluno a oportunidade de ele perceber a contradição, e, assim, superá-la;
(f) As atividades problematizadoras ensejam a necessidade de serem
“resolvidas” e, assim, motivam o aluno a participar da sistematização do conteúdo de
ensino;
(g) As atividades sistematizadoras, por utilizarem a função
informativa da linguagem e serem organizadas em função do conteúdo de ensino,
oferecem ao aluno a oportunidade de ele organizar e sistematizar suas informações;
(h) As atividades do “Produzindo”, formais ou informais, possibilitam
ao professor e ao aluno discutirem os aspectos do conteúdo de ensino
compreendidos ou não, facilitando a retomada do processo de ensino;
De uma forma geral, este capítulo pretende “retirar a aula da vala comum”,
discutindo-a em toda sua COMPLEXIDADE E ESPECIFICIDADE, a de uma totalidade
dinâmica, em processo de desenvolvimento. Este movimento processual da aula,
como “Prática Educativa” (práxis), expressa, na ação do professor, os diferentes
graus de consciência que ele tem da relação teoria & prática. Espera-se que o re-
olhar a aula possa identificar seus pólos - Teoria e Prática - distintos que estabelecem
entre si uma relação de tensão dialética, cuja superação gera a práxis crítica,
transformadora do real.
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Referências:
BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIANS, Joseph M. A arte da pesquisa.
[trad] Henrique A.Rego Monteiro. São Paulo: Martins Fontes. 2000. ISBN: 85 336
1222-2.
FONTANA, Roseli Ap. Cação. Mediação pedagógica na sala de aula. 3. ed. Campinas,
SP: Autores Associados, 2000. ISBN: 85-85701-14-5.
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