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O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO
PATRIMONIAL UFRGS-APERS E O
ENSINO DE TEMAS
CONTROVERSOS:
CONSIDERAÇÕES DE UM
OFICINEIRO
RESUMO
O presente texto busca refletir sobre o ensino de história e a educação patrimonial, tendo como eixo
temático a presença de temas controversos e da sensibilidade no processo de ensino-aprendizagem.
Dispondo das atividades de um bolsista do PEP UFRGS-APERS para análise, levanta-se reflexões
sobre experiências de ensino, com alunos da Educação Básica, que apresentaram como temáticas os
temas: escravidão, Ditadura civil-militar e relações de gênero na história.
* Licenciando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: deinerlucian@hotmail.com
O Programa de Educação Patrimonial UFRGS-APERS ..., p. 94-106
Introdução
1 Sabe-se que a nomenclatura para o período ditatorial brasileiro está longe do consenso. Daniel Aarão Reis
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comentou sobre o assunto, em artigo publicado em 2012 intitulado A ditadura civil-militar, atestando que o uso do
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BARILI, D.L.
Desenvolvimento
Temas Controversos
termo “Ditadura Militar”, para se referir ao período 1964-1979, trata-se de um exercício de memória que possui
como consequência a transferência da responsabilidade do período para os militares, absolvendo a sociedade civil
que teve participação tanto no golpe como no período ditatorial. Por isso, o autor acha mais adequado o termo
“ditadura civil-militar”. Renato Luís do Couto Neto e Lemos insere-se no debate, através de artigo intitulado A
“ditadura civil-militar” e a reinvenção da roda historiográfica publicado em 2012, reconhecendo o avanço na substituição
do termo “Ditadura Militar” por “Ditadura Civil-Militar”, porém, pensa que o segundo termo também seja
problemático. Para o autor, a utilização do termo “Civil” é muito vago uma vez que ignora o caráter classista da
sociedade civil. Em suas palavras o golpe tratou-se de “uma operação política de uma parte da sociedade – que
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incluía civis e militares – contra outra – que, igualmente, envolvia civis e militares.” (LEMOS, 2012).
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escola configura-se como palco dessa disputa, é imprescindível que temas dessa
natureza sejam abordados pelos professores, porém, exigem um rigor metodológico
para que o ensino de história não perca espaço para a simples transmissão de memórias
(ALBERTI, 2015, p. 287).
Com isso, levando em consideração que todas as três oficinas do Programa de
Educação Patrimonial UFRGS-APERS tratam de temas controversos, apresento como
objetivo deste artigo identificar as proximidades entre as sugestões de metodologia para
a abordagem de temas desta natureza, presentes na bibliografia estudada, com as
práticas exercidas por mim ao longo desse semestre, na posição de bolsista e estagiário
do programa, e tecer reflexões acerca de seus resultados na prática. Além disso, avaliar
qual a relevância do programa para o ensino de história a partir de duas facetas, como
ele contribui para a formação cidadã dos alunos de Educação Básica e de que maneira
ele contribui para a formação dos futuros professores de história. Com isso, busco
trazer detalhes de uma experiência de educação patrimonial para poder evidenciar suas
potencialidades de educação, servir de inspiração para outras práticas e ser comparada
com atividades já existentes.
A Metodologia
BARILI, D.L.
BARILI, D.L.
BARILI, D.L.
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Conclusão
Dessa forma, acredito que o PEP UFRGS-APERS pode ser considerado uma
rica experiência de educação patrimonial por permitir aos alunos um contato com “a
cidade e com suas marcas do tempo” – evidenciadas, principalmente, a partir dos
prédios e da documentação armazenada no Arquivo – e, através de uma operação
didática, fazer emergir memórias e narrativas que não constavam no objetivo inicial
desses registros: a resistência dos escravizados, a inserção das mulheres na história e
sua luta a partir das relações de gênero e a repressão das vítimas da Ditadura Civil-
Militar.2
Com isso, o programa contribui para a formação e aprimoramento de futuros
professores de história, uma vez que possibilita a seus participantes entrar em contato
2Se levarmos em consideração a construção do APERS com o objetivo de preservar documentos que contassem
a história de grandes homens a partir de uma ideologia positivista e o objetivo inicial de registro da maioria dos
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documentos – processos-crime, inventários, habilitação de casamento, etc – pouco tinham a ver com o desejo de
demonstrar a resistência dos grupos sociais que aparecem nas oficinas.
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Referências
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Educação Patrimonial UFRGS-APERS. Porto Alegre: UFRGS: APERS, 2015.
FALAIZE, Benoit. O ensino de temas controversos na escola francesa: os novos fundamentos da
história escolar na França? Florianópolis: Revista Tempo e Argumento, 2014. V. 6, n. 11. p. 224-253.
Tradução de Fabrício Coelho. Disponível em:
http://www.revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180306112014224/3066
ALBERTI, Verena. História e Memória na sala de aula e o ensino de temas controversos. In:
QUADRAT, Samantha V. e ROLLEMBERG, Denise (orgs). História e Memória das Ditaduras do Século
XX – Vol. 2. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.
MIRANDA, Sonia Regina; PAGÈS, Joan. Miradas sobre uma questão sensível: A cidade e suas
potencialidades educativas. Fóruns Contemporâneos de Ensino de História no Brasil; 8º Encontro
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REIS, Daniel Aarão. A ditadura civil-militar. O Globo, 31 mar. 2012. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2012/03/31/a-ditadura-civil-militar-438355.asp
LEMOS, Renato. A “ditadura civil-militar” e a reinvenção da roda historiográfica. Blog Convergência, 9
out. 2012. Disponível em: http://blog.esquerdaonline.com/?p=239
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