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RESUMO
1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais, Campus Rio Pomba,
Av. Dr. José Sebastião da Paixão, s/n, Bairro Lindo Vale, 36180-000, Rio Pomba, MG, Brasil. E-mail:
aurelia.dornelas@ifsudestemg.edu.br
* Autor para correspondência.
Recebido / Received: 17/11/2015
Aprovado / Approved: 07/07/2016
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ABSTRACT
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para alergênicos, uma vez que o experimen Beloti et al. (1996), analisando leites
to foi conduzido antes dessa exigência. pasteurizados na cidade de Londrina – PR,
Foram utilizados os seguintes parâ verificaram que 15% das amostras estavam
metros: Conteúdo; Nome ou Razão Social; fora dos padrões estabelecidos para a prova
End ereço; CNPJ; Carimbo do Sistema de de acidez, ao contrário deste trabalho.
Inspeção Oficial; Número de Registro no Sis Quanto à análise de lactose, as amostras
tema de Inspeção; Informações sobre cuidado D e A apresentaram menores valores, sendo
e conservação do produto; Lote; Informa que a última não diferiu estatisticamente das
ções Nutricionais; Frase Obrigatória: “Este amostras B, C e F. As amostras B, C, E, F
produto não deve ser usado para alimentar e G, obtiveram um valor significativamente
crianças menores de 1 (um) ano de idade, a (p < 0,05) maior em relação à amostra D.
não ser por indicação expressa do médico ou Esse resultado se relaciona também a fraude
nutricionista. O aleitamento materno evita com água, uma vez que sua adição “dilui” os
infecções e alergias e deve ser mantido até a componentes sólidos do leite.
criança completar 2 (dois) anos de idade ou Cortez et al. (2010) ao analisarem
mais”. amostras de leite pasteurizado fraudadas com
água e soro observaram que o teor de lac
Análise estatística tose foi alterado quando esta passou de 1%
comparado com 4,3% de lactose, constatan
Os resultados obtidos foram submeti do que na adição de água, soro fisiológico
dos às análises de variância e teste de média e glicosado a partir de 1% já caracteriza
(Tukey a 5% de probabilidade) quando neces uma não conformidade. A mesma tendência
sário, utilizando-se o programa computacio de redução da concentração de lactose é
nal estatístico SISVAR (FERREIRA, 2000). observada para a adição de soro de queijo,
porém de forma menos marcante devido à
RESULTADOS E DISCUSSÃO presença de carboidratos nestas soluções. A
legislação brasileira nada cita sobre os teores
Análises físico-químicas de lactose no leite.
As amostras F, A e C não diferiram en
Os resultados obtidos quanto a análises tre si quanto ao teor de gordura, sendo que as
físico-químicas são encontrados na Tabela 1. amostras A e C não diferiram das amostras
As amostras A, B, C e G obtiveram uma B, D, E e G. Esse resultado pode ser justifica
acidez significativamente (p < 0,05) maior que do pela falta de padronização nos processos
a amostra D, provavelmente devido a adição industriais. Das amostras analisadas 71,42%
de água. As amostras A, B, C, E, F e G não (cinco amostras) estão dentro dos padrões
diferiram entre si (p > 0,05), assim como as exigidos pela legislação e 28,57% (duas
amostras D, E e F (p > 0,05). A adição de água amostras) não se adequaram a legislação vi
ao leite pode reduzir sua acidez que, segun gente, estando com teor de gordura abaixo de
do o Regulamento Técnico de Identidade e 3.0%, sem conter no rótulo a especificação
Qualidade de leite Pasteurizado, deve estar semidesnatado ou desnatado.
entre 0,14 e 0,18 g de ácido lático/100 mL Cortez et al. (2010) ao analisarem
(BRASIL, 2011). leite pasteurizado com fraude de água e soro
De acordo com a tabela, somente a perceberam que o teor de gordura apresentou-
amostra D de leite pasteurizado está fora dos se fora do mínimo determinado pela legisla
padrões propostos pela legislação vigente. ção (3,0%).
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Tabela 1 – Valores médios das características físico-químicas das amostras de leite pasteurizado
Amostras Padrão
Análises
A B C D E F G dms Oficial*
Acidez
(g ácido lático/ 0,16b 0,16b 0,17b 0,123a 0,156ab 0,153ab 0,183b 0,38 0,14 a 0,18
100g produto)
Lactose (%) 4,47ab 4,56bc 4,71bc 4,20a 4,78c 4,70bc 4,83c 0,29 NE
Gordura (%) 3,31 3,20 3,25 2,78 3,14 3,87 2,90
ab a ab a a b a
0,66 Mín 3,0
Mín 2,9
Proteína (%) 3,03b 3,08bc 3,17bc 2,83a 3,22c 3,19bc 3,24c 0,17
para leite cru
EST (%) 11,42a 11,40a 12,01a 10,60a 11,88a 12,47a 11,60a 3,0 NE
ESD (%) 8,15 8,32 8,58 7,66 8,70 8,56 8,79
ab bc bc a c bc c
0,52 Mín 8,4
pH 6,75ab 6,75ab 6,66a 7,02b 6,77ab 6,84ab 6,54a 0,32 NE
Densidade 1,03 1,03 1,03 1,03 1,03 1,03 1,03
a a a a a a a
0 NE
Índice
Crioscópico -0,513 -0,524 -0,542 -0,492 -0,550 -0,544 -0,555 - -0,530 a -0,550
** (oH)
Água (%) 0 0 0 4,06 0 0 0 - Não permitido
Médias seguidas de pelo menos uma mesma letra na linha não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Tukey; dms: Diferença mínima significativa; ESD = Extrato Seco Desengordurado; EST = Extrato
Seco Total; *De acordo com a Instrução Normativa nº 62 (BRASIL, 2011); NE: não existe.
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fraudes com água ou reconstituintes fazendo vários estados do Brasil, sendo considerado
assim o ponto crioscópico se aproximar de um fator limitante, principalmente, da maté
0ºH, ponto de congelamento da água. ria-prima utilizada para fabricação do leite
Segundo Castanheira (2010) resulta UHT, o qual representa 74% do mercado de
dos acima de -0,530 ºH significam adição leite fluido do Brasil. O tratamento térmico
de água, já resultados abaixo de -0,560 ºH, do leite visa garantir a segurança do consu
podem indicar problema de congelamento do midor e aumentar o tempo de conservação, o
leite no tanque de expansão. De acordo com que é obtido por meio da redução de micror
os mesmos autores, resultados de crioscopia ganismos patogênicos e deterioradores, assim
baixa também podem indicar adulteração do como da atividade enzimática (FONSECA;
leite por reconstituintes. SANTOS, 2007).
Das sete amostras avaliadas uma apre Alguns fatores afetam a estabilidade
sentou presença de água nos três lotes dis térmica do leite, dentre elas, as alterações
tintos analisados em uma proporção média físico-químicas indesejáveis no leite que po
de 4,06%. Segundo a legislação vigente não dem ocorrer com o tratamento térmico, como:
é permitida à adição de água ao leite, carac deslocamento de cálcio e fosfato solúv eis
terizando assim falha no processamento ou na fase coloidal (precipitação de fosfato tri
fraude (BRASIL, 2011). cálcio), diminuição da solubilidade da pro-
Zooche et al. (2002) constataram 6 teína do soro e desdobramento da lactose em
(37,5%) amostras em desacordo com a le ácidos orgânicos, entre outras (FONSECA;
gislação vigente para crioscopia. Barbosa SANTOS, 2007).
et al., (2007) estudando as características
físico-químicas do leite cru e pasteurizado Análises microbiológicas
consumido no município de Queimadas – PB,
observaram que o leite cru não apresentou
A média dos resultados das análises mi
valores aceitáveis para os parâmetros ana
crobiológicas está representada na Tabela 2.
lisados de acordo com a legislação, exceto para
A contagem padrão em placas ou con
a acidez titulável e densidade. Desta forma,
tagem de aeróbios mesófilos em um produto
os autores concluíram que há necessidade
alimentício reflete a qualidade da matéria-
de adoção de medidas que visem melhorar
a qualidade do leite cru antes e depois de -prima, bem como as condições de proces-
submetê-lo a qualquer tratamento térmico. samento, manuseio e estocagem, permitindo
Das sete amostras analisadas duas apre estimar a vida de prateleira do alimento em
sentaram coagulação fina quando submetidas questão.
ao teste de cocção. A estabilidade térm ica A legislação brasileira preconiza para
do leite refere-se á capacidade de proces leite pasteurizado contagem padrão em pla
samento do leite para suportar altas tempe cas de, no máximo, 8,0 x 10 4 UFC/mL
raturas sem visível coagulação ou geleificação (BRASIL, 2011). Desta forma, todas as
(SINGH, 2004), em determinado pH e tem amostras analisadas encontravam-se dentro
peratura. Essa estabilidade está relacionada dos padrões. A baixa temperatura a qual
à capacidade do leite de resistir à coagulação o leite é armazenado e transportado é de
pelo calor e, portanto, interfere diretamente grande importância para o controle de multi
no processamento industrial (FONSECA; plicação destes microrganismos. Os valores
SANTOS, 2007). encontrados podem aumentar se o consumidor
A baixa estabilidade térmica do leite é não armazenar o produto na temperatura
um problema encontrado com frequência em adequada.
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Tabela 2 – Média dos resultados das análises microbiológicas de mesófilos aeróbios e colifor
mes 30ºC e 45ºC do leite pasteurizado
Microrganismos avaliados
Amostras Repetições
Mesófilos aeróbios 2Coliformes 30ºC 2Coliformes 45ºC
1
Salvador et al., (2012), ao analisarem no leite cru e encontraram valores entre 1,2
seis amostras de leite tipo B e C comer x 106 e 3,0 x 106 UFC/mL, acima dos valores
cializados em Apucarana e região observaram recomendados pela legislação vigente.
que todas as amostras estavam de acordo com A análise de coliformes nos alimen
os parâmetros para contagem de mesófilos tos é de grande importância para a indica
aeróbios, resultado semelhante ao do pre ção de contaminação durante o processo
sente estudo. Oliveira Filho et al. (2014) de de fabricação ou mesmo pós-processamen
terminaram contagens de mesófilos aeróbios to. Segundo Franco e Landgraf (2005), os
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Marcas dos
Item verificado
rótulos inadequados
Conteúdo nenhuma
Nome ou razão social FeG
Endereço F
CNPJ, Carimbo do Sistema de Inspeção Oficial, Número de registro C, F e G
Informações sobre cuidado e conservação do produto FeG
Lote FeG
Informações nutricionais A, B, F e G
Frase obrigatória FeG
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no Município de Seropédica – RJ. Revista Queimadas, PB. In: 1., Congresso Norte-
Higiene Alimentar, v. 16, n. 94. p. 58-61, Nordeste de Química, 2007, Natal. Anais...
2002. Natal, 2007.
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