Este trabalho surge a partir do questionamento de como a geografia escolar
pode ser uma ferramenta para a construção de uma educação antirracista no cotidiano escolar. Para compreender essa amálgama, foi necessário analisar as raízes do problema da nossa construção social. A necessidade de uma educação antirracista numa sociedade que é composta por maioria de negros é muito preocupante. Para assegurar o direto do sujeito aluno aprender sobre a história e a cultura afrobrasileira, foi necessária a criação de uma lei – que, apesar de vigente desde 2003, ainda não é implementada corretamente na sua totalidade nem âmbito escolar, nem no âmbito acadêmico. É objetivo desta lei, que o aprofundamento do conhecimento sobre a temática proporcione uma sociedade menos racista. Todavia, nossa sociedade é resultante de uma colonização européia que reproduziu a ideia de subalternização de raças quando escravizou povos africanos e os manteve escravizados por mais de trezentos anos. Para fundamentar a educação antirracista e a prática educacional realizada na pesquisa, o trabalho contém uma análise teórica linear de educação, educação antirracista, raça e identidade negra. A educação, como obrigatoriedade do Estado, deve proporcionar conhecimento do pensamento crítico, a formação do sujeito como cidadão que respeite todas as pluralidades étnicas e sociais, bem como que se preocupe em atender, principalmente, os sujeitos em vulnerabilidade social – que correspondem aos altos índices de evasão escolar. Assim, a educação antirracista visa a práticas pedagógicas que anseiam desconstruir estereótipos para uma sociedade com mais equidade. O racismo social, oriundo do racismo científico, que permitiu a ideia de subalternização das raças, exige a retomada do conceito raça com uma ressignificação nas discussões acadêmicas. O racismo no Brasil ainda é velado por um imaginário de democracia racial, apesar da teoria já ter sido desmistificada. O fim desta teoria proporciona a concepção de uma identidade racial negra, construção difícil em uma sociedade que ainda reproduz o ideal de branqueamento e possui pouca representatividade político-socioeconômica da população afrobrasileira. As amarras desta análise teórica linear respaldam o objetivo principal de analisar como a geografia escolar transforma-se em ferramenta educacional antirracista. Devido à relevância do tema e sua supressão exatamente nos lugares que formam profissionais da educação, que atuarão na formação de sujeitos críticos e cidadãos, é necessário reiterar os deveres da educação básica. Entretanto, para a habilitação de profissionais da educação básica, o ensino superior também deve ser reformulado. Logo, as diretrizes para a formação de professores da educação básica devem estar de acordo com a legislação vigente e atender às exigências das leis 10.6393/03 e 11.645/08. Esse trabalho teve como objetivos específicos: analisar as situações de racismo que o grupo identifica no ambiente escolar e/ou na sociedade através de um diálogo estruturado por problematizações da temática através da análise dos autorretratos elaborados pelos alunos a partir das suas próprias percepções raciais – identificadas pela pintura de suas peles. Fundamentada no referencial teórico desta pesquisa, a prática tem por objetivo entrelaçar a legislação que visa à melhoria das relações interraciais na sociedade dentro do componente curricular geografia.
Referências
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