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CAMPINAS
2018
LARISSA NEGRIS DE SOUZA
ASSINATURA DA ORIENTADORA
______________________________________
CAMPINAS
2018
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E
URBANISMO
O fim de um ciclo, mais uma vez. Mais curto, mais rápido e mais intenso. Dois anos são
muito pouco para serem colocadas em prática todas as ideias que se tem, mas são suficientes
para aprender mais do que todas as ideias que se tinha.
Minha família, pais e irmã, que em um ensino contínuo, novamente me ajudaram a começar,
desenvolver e concluir este processo. Estiveram do meu lado até mesmo quando eu estive a
milhares de quilômetros de distância. E a isso sou eternamente grata.
Minha orientadora, Doris Kowaltowski, me guiou e auxiliou com as mais vivas e estimulantes
orientações que eu poderia receber. Em todos estes momentos, me inspirou para tornar a
minha pesquisa melhor, mas também a mim mesma, como profissional. E não posso
descrever em palavras todo o meu agradecimento.
Minha orientadora no exterior, Pamela Woolner, abriu os braços para me receber desde o
primeiro contato. Nos meses que estive em Newcastle, Inglaterra, se preocupou comigo e com
a pesquisa a cada dia. E agradeço a todo instante a credibilidade que deu ao meu trabalho.
Todas as alegrias alcançadas e desafios superados foram garantidos porque Deus esteve
sempre um passo a frente no meu caminho. E tenho sempre que agradecer a Ele.
Education and its infrastructure are part of one essential system for a country’s social and
economic development. School buildings should be places that stimulate teaching and learning
activities, respecting with pupils’ diversity and individual characters and contributing to
collective creativity and the exchange of knowledge between students and teachers. To
understand what constitutes such spaces and how they are used on a daily-basis is important
to understand how the physical school environment influences teaching and learning activities.
The main goal of this study is to develop insights on quality school architecture. Physical
elements of these buildings are evaluated, as design patterns and their influence on the
activities is measured, as learning modalities. Also the interaction between users
(students/students and students/teachers) and between them and the educational spaces is
analyzed to assess place appropriation. Case studies are presented. “Ensino Fundamental II”
schools with different architectural conformations, in the state of São Paulo are the study
objects. The research has an exploratory/descriptive approach, with qualitative (observations)
and quantitative (graph analysis) results. The concept of Behavior Settings (Barker) will be
used as an observation and mapping method. The design patterns of Nair, Fielding and Lackney
were applied to document spatial architectural aspects. The occurrences of the learning
modalities of Lippman are considered essential to support a quality education and these are
identified. The results were structured through individual (per school and per concept) and
comparative (between schools and concepts) analyses. A panorama of the diverse and
important educational environments was created to contribute to the debate on tendencies in
school architecture. Data analysis discusses and demonstrates the impact of school
architecture (design patterns) on activities found in schools (learning modalities), especially in
terms of their diversity. Contributions are seen as advancing the comprehension of
architectural vocabulary for school building designs, by developing definitions and concepts
for design patterns and learning modalities. Priority is given to their graphic descriptions.
Tools were created to assist the observations of these concepts. Future research can deepen the
analysis on user perception on the relation between architecture and learning activities,
seeking to understand the way students and teachers use school environments, and how its
physical configuration has specific impacts.
1. INTRODUÇÃO _____________________________________________________________________ 15
1. INTRODUÇÃO
Algumas questões relacionam-se aos temas arquitetura escolar bem como ensino e
aprendizagem, tais como: “As tendências em educação indicam novas atividades de ensino e
aprendizagem?”; “Estas impactam projetos de arquitetura escolar?”; “Qual a ação dos espaços
edificados, especificamente no ambiente escolar, sobre o comportamento humano?”; “Há
mudança significativa nas interações dos alunos frente a composições arquitetônicas
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1.1. Justificativa
Uma vez sentindo-se mais parte do local, as pessoas também têm sua participação ampliada.
Um exemplo é o sentimento de controle passado aos usuários, a capacidade de modificar o local
como desejarem, como um espaço pessoal. Essa possibilidade de interação leva a uma sensação
de independência, segurança, liberdade, como indicam Pornin e Peeters (2009).
O modelo tradicional de educação tende a negligenciar estes aspectos da inter-
relação homem x espaço e a arquitetura escolar chamada tradicional é um espelho disso.
Pesquisas questionam este modelo educacional e arquitetônico (KOWALTOWSKI, 2011).
Mesmo sabendo que há variáveis múltiplas, Barrett et al. (2013) mostram um impacto
importante do ambiente escolar sobre aprendizagem de alunos e demonstra que a arquitetura de
qualidade pode melhorar em até 25% o nível educacional da amostra avaliada.
Foucault, nos anos de 1970, comparou as escolas com o que chamou de panóptico
de projetos de prisões, engessadas numa sociedade punitiva, alertando para a necessidade de
abrir uma discussão profunda sobre os sistemas educacionais do mundo (PIRO, 2008). Há 50
anos discute-se maneiras de humanizar os sistemas de educação e de introduzir o conceito da
flexibilidade nas metodologias de ensino e na própria arquitetura que abriga estes conceitos
(KNATZ, 1970; KOWALTOWSKI, 1980). No Brasil, as reflexões sobre o ensino fundamental
são contínuas, com principal abordagem, nas questões curriculares, pedagógicas e de gestão das
escolas (BRASIL, 2009). Resultados dos debates apresentam-se com algumas experiências
práticas como os programas: Projeto Gente (escola pública), no Rio de Janeiro; Lumiar
(particular e pública), em São Paulo; Colégio Oficina (particular), em Salvador.
Outros trabalhos discutem as questões arquitetônicas dos edifícios escolares no
Brasil, seja pela conexão com as pedagogias (interdisciplinaridade), seja relacionados aos
projetos-tipo ou mesmo pelas soluções de conforto ambiental nos projetos (AZEVEDO,
RHEINGANTZ e BASTOS, 2004; ORNSTEIN, 2005; AZEVEDO, BASTOS e BLOWER,
2007; MULLER, 2007; AQUINO et al., 2008; PANOBIANCO, 2014). A qualidade do
ambiente construído (conforto ambiental, funcionalidade, estado de conservação e
manutenção), pode impactar positiva ou negativamente na saúde, interação social,
agressividade, grau de concentração, conforto físico e satisfação dos usuários. Estas questões
podem também interferi diretamente no andamento do método educativo utilizado, bem como
na redução dos custos de operação e dos impactos ambientais do edifício (AZEVEDO, 2002;
MUELLER, 2007).
Pearlman (2011) deixa claro que a discussão sobre escolas preparadas para as
habilidades dos jovens do século XXI é ampla. Estas habilidades não incluem apenas o
conhecimento básico, o qual poderia ser suficiente até o século passado. Estão ligadas ao
18
1
Tradução livre feita pela autora a partir do texto original: “The key is to view the physical environment and its
ambient quality as active and indispensable parts of the learning process. […] Good designs serve people well.
Remember that we human beings exist as part of – and not apart from – the environment. […] The integrated
definition of learning and environment is crucial to educational facilities design. […] Thus, the quality of the
environment affects the quality of learning.”
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Para entender estes ambientes, Nair; Fielding e Lackney (2013) discutem vários patterns, ou
parâmetros, que representam princípios de projetos escolares.
O conceito de patterns foi trabalhado por Alexander como elementos de uma
linguagem que deveria apoiar o processo de projeto, principalmente para o desenvolvimento de
uma arquitetura humanizada (ALEXANDER, ISHIKAWA e SILVERSTEIN, 1977). Cada um
desses patterns – comumente traduzidos para “padrões”, mas que nesta pesquisa serão tratados
como “parâmetros” –, é uma descrição de um problema recorrente ao meio, bem como de sua
solução. Esta poderia ser empregada, sem repetições na maneira de uso, incontáveis vezes.
Taylor (2009) apresenta que os esses parâmetros expressam a essência da ideia que, quando
utilizadas em diferentes contextos, se apresentam de formas diversas, como as palavras de uma
língua que podem formar infinitas frases.
Ao ter como base este conceito estabelecido por Alexander do que seriam
parâmetros, Nair; Fielding e Lackney (2013) delimitam características essenciais – ao
observarem problemas e apresentarem soluções – em um projeto escolar. Estas soluções não se
apresentam de uma forma definitiva a ser sempre copiada, mas de maneira abstrata, para que
seja possível trabalhar de acordo com cada contexto, cada necessidade. Os parâmetros de Nair;
Fielding e Lackney (2013) são divididos em seis subgrupos: partes do todo, qualidade espacial,
com base no cérebro, alta performance, conexão com a comunidade e ordem maior,
considerando propósitos correlatos. Cada uma destas categorias trata de alguma questão
específica do ambiente escolar. Kowaltowski (2011) acrescenta outros parâmetros: o pátio, a
implantação da escola e a adequação dos espaços livres; incorporação da quadra de esportes no
volume da edificação; fechamento da área; integração externa entre os espaços;
dimensionamento e aspectos funcionais; conforto acústico e acessibilidade. Estes foram
elaborados a partir da observação de alguns pontos críticos em projetos escolares no Brasil.
Desta maneira os parâmetros definem a análise de projetos escolares e como, por
exemplo, avaliar a qualidade arquitetônica de salas de aulas ou outros espaços de aprendizagem
e identificar a existência de learning streets (NAIR; FIELDING & LACKNEY, 2013). Estes
são espaços de circulação configurados para contribuir às atividades de ensino e aprendizagem.
Deve-se levantar se estes possuem elementos de transparência que as conectem a outros locais
visualmente, como é a distribuição de luz, que tipos de atividades acontecem e como elas se
desenvolvem.
Todos estes aspectos contribuem para uma maior ou menor interação dos usuários
entre eles e com o ambiente, para o sentimento de conforto e para o desenvolvimento de
habilidades diversas. Os aspectos também contribuirão para a compreensão de características
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1.2. Objetivos
1.2.1. Objetivo Geral
A arquitetura escolar não existe desconectada das atividades que ali ocorrem. Essas,
por sua vez, não são acontecimentos aleatórios, sem objetivos previamente e cuidadosamente
definidos. Para compreender o espaço, primeiro se faz necessário entender o que acontece em
seu interior: a aprendizagem, processo básico e essencial na educação. Conhecer as teorias da
aprendizagem, sua conexão com as pedagogias e essas com as atividades, e compreender, dessa
maneira, sua relação com o espaço é o primeiro passo para entender o impacto que a arquitetura
e seus elementos têm na prática educacional. Para essa discussão, o capítulo se desenvolveu
como o apresentado na Figura 1, organizada no modelo de mapa-mental com os tópicos do se
coloca em discussão. As palavras-chave apresentadas se encontram em inglês por esta ter sido
a língua base das pesquisas em bases de dados, com a consideração de que importantes
referências em língua portuguesa também foram utilizadas. Este padrão de pesquisa pode, da
mesma forma, ser observado nos capítulos subsequentes.
Essa educação, segundo Knatz (1970), é resultado das várias experiências que
ocorrem no ambiente escolar. Na medida em que mais contatos são realizados, seja com
pessoas, com o conhecimento propriamente dito, com pensamentos e pontos de vista que
divergem, as experiências se ampliam. As instituições, por sua vez, se responsabilizam por
delimita-las de acordo com os objetivos específicos que possuem.
Na educação, fundamental e formalmente conectada às escolas desde a Revolução
Industrial do século XVII, há uma variedade de processos de aprendizagem. Esses são
formalizados pela existência de diversas teorias da aprendizagem. A partir delas é possível
compreender o fato de que se pode abordar a criação do conhecimento de múltiplas maneiras,
a partir de atividades realizadas de acordo com a proposta definida para o ensino.
Akinsanmi (2008) sumariza, assim, o significado da aprendizagem da seguinte
forma:
Uma teoria, pura e simples, é elaborada a fim de explicar certo fenômeno dentro de
determinado campo de estudo. As teorias da aprendizagem, por sua vez, trabalhadas
principalmente em Psicologia e em Educação, são modelos que visam explicar o processo de
aprendizagem pelo qual passam os indivíduos (CASTRO, SANTOS e CRUZ, 2013). Ainda
segundo esses autores, as teorias fornecem informações sobre as relações entre estratégias,
contexto e características do aprendiz para uma melhor integração e permitem previsões sobre
a eficácia da estratégia de instrução escolhida.
De acordo com Schunk (2012), dois foram os pesquisadores mais importantes
dentro das teorias da aprendizagem: Wilhelm Wundt (1832-1920) e Hermann Ebbinghaus
(1850-1909). Enquanto Wundt e seu grupo se concentraram em estudos sobre sensações,
percepções, tempos de reação, associações verbais, atenção, sentimentos e emoções,
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Tradução livre feita pela autora a partir do texto original: “[...]It is a necessary ability for survival and can be a
conscious act—like learning to start a fire—or an unconscious act such as breathing. Learning also occurs in
formal settings like schools and conferences, non-formal settings such as hobby groups, and informal settings
such as homes.
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3
Tradução livre feita pela autora a partir do texto original: “[…] Structuralists believed that human consciousness
is a legitimate area of scientific investigation, and they studied the structure or makeup of mental processes. […]”
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Tabela 1 - Teorias da aprendizagem e suas características principais - continuação
Sócio-interacionismo
Humanismo
(Teoria Social Cognitiva)
- Comportamentos, ambiente e pessoas
- Objetivo é o desenvolvimento pessoal
interagem de forma recíproca.
Características do aprendiz, não o controle do
- Pela observação de pessoas se pode
gerais comportamento ou desenvolvimento
adquirir conhecimento, regras, habilidades,
cognitivo.
estratégias, crenças e atitudes.
- A aprendizagem pode acontecer pela
- A aprendizagem ocorre pela
simples observação de outras pessoas, sem
comunicação entre as pessoas envolvidas,
necessidade de o aprendiz realizar a
Como ocorre a numa relação de confiança e aceitação;
atividade no momento que ela ocorre;
aprendizagem - A aprendizagem acontece de maneira
- Aprendizagem e execução diferem, não
individual, de acordo com as necessidades
estão necessariamente associadas como
e interesses de cada aprendiz.
uma sendo condição para outra
- Se tornar plenamente atuante na
- Compreensão da mente como produtora,
sociedade;
criativa, reflexiva, não apenas reativa e,
- Deve aprender a adaptar-se e mudar
por isso, devem estar sempre abertos à
Papel do quando necessário, envolvendo-se com
percepção pelos sentidos, trabalhando com
aprendiz sentimentos e intelecto nas atividades;
a tríade comportamento-pessoa-ambiente;
- Ser autoconfiante, criativo e
- Tem liberdade de escolha para execução;
independente, realizando autocrítica e
elaboram objetivos e avaliam o progresso.
autoavaliação.
- Consideração do aluno como pessoa, e,
- Observação de outras pessoas e interação
por isso, o ensino deve facilitar a
Estratégia ao contexto social, além de estar ligada –
autorrealização deste, além de
principal mesmo que não apenas nem diretamente –
aprendizagem afetiva, cognitiva e
à ação.
psicomotora.
- O professor deve se apresentar como - O uso de modelos para garantir
uma pessoa “real”, saindo do papel influência social, com passagem, aos
Métodos de tradicional para se tornar mais um poucos, para autoinfluências, à medida que
ensino facilitador; os alunos adquirem as habilidades;
- O estudando é compreendido, não - Atividades não afetam apenas o aprendiz,
avaliado ou julgado. mas sua eficácia no alcance dos objetivos.
Carl Rogers (1902-1987); Lev Vygotsky (1896 – 1934);
Principais nomes Abraham Maslow (1908 – 1970). Albert Bandura (1925 – ).
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Tabela 1 - Teorias da aprendizagem e suas características principais - continuação
Experiencialismo Conectivismo
- Combinação de experiências, - Decisões baseadas nas informações
Características percepções, cognição e comportamento – constantemente recebidas;
gerais visão holística da aprendizagem, mas - O aprendizado e o conhecimento
ainda assim com foco na experiência. apoiam-se na diversidade de opiniões.
- A aprendizagem ocorre pela conexão de
informações de diferentes fontes;
- A aprendizagem ocorre pela reflexão, processo de exploração; conhecimento
Como ocorre a sozinho ou de modo colaborativo, sobre pode ser armazenado em dispositivos
aprendizagem as experiências externos ao ser humano.
- O indivíduo absorve o conhecimento e
compartilha com o grupo do qual é parte.
- Distinguir as informações importantes;
- Habilidade de perceber e reconhecer
- Papel ativo na integração de quando novas informações alteram o
Papel do experiências com conceitos, observações conhecimento e decisões anteriores.
aprendiz e ações; as interpretações ocorrem de - Habilidade de fazer conexões entre
acordo com a experiência de cada um. campos, ideias e conceitos e utiliza-los de
acordo com seus objetivos, tornando-se
geradores de informações.
- Estimular a atualização do
- Realização atividades para a aquisição conhecimento e ferramentas tecnológicas;
Estratégia de habilidades como autorreflexão, - O aprendiz é colocado em contato com
principal resolução de problemas, controle de informações de diversas naturezas e
emoções, teste de limites e comunicação. problemas da vida real, o que os fará
buscar ajuda e respostas.
- Utilizar espaços internos e externos de - Atividades que estimulam e mantenham
criação de experiência, com desafios – conexões para facilitar a aprendizagem;
Métodos de mentais e físicos – que podem estar - Respeita-se as diferentes maneiras de
ensino relacionados a construção de algo, uma uso das ferramentas e conteúdos.
viagem/passeio para reconhecimento - O professor possui maior número de
geográfico, cronológico, etc... conexões e ajuda e direciona o aluno.
- George Siemens (1964 - )
Principais nomes John Dewey (1859 – 1952). - Stephen Downes (1959 - )
Fonte: Autora, a partir de: Bandura (2001); Siemens (2005); Beard e Wilson (2006); Akinsanmi (2008); Ostermann e Cavalcanti (2010); Guney et al (2012); Kolb (2014),
Meirelles e Oliveira (2013), Aldahdouh, Osório e Caires (2015); Khalil e Elkhider (2016).
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Em 1983, Howard Gardner apresentou em seu livro “Frames of mind: The theory
of Multiple Intelligences”, sete inteligências – com acréscimo de outras duas alguns anos
depois. A teoria das múltiplas inteligências (MI) passou por contínuas revisões, segundo o
próprio autor. Em 1993, foi publicado o livro “Multiple Intelligences: The Theory in Practice”,
no qual são relatadas as experiências práticas realizadas a partir da base teórica. Em 1999,
Gardner publicou “Intelligence Reframed”, quando atualizou a teoria e respondeu a algumas
questões e críticas levantadas, além de explorar outros assuntos como liderança, criatividade e
moralismo (GARDNER, 2006).
Gardner descreve as MI como uma crítica sobre a visão psicológica padrão sobre o
intelecto, a qual acredita que existe uma única inteligência que pode ser medida por testes de
QI, ou outra forma de avaliação simples, como se estivesse medindo a altura do indivíduo, por
exemplo e cujos resultados classificam as pessoas como mais ou menos inteligentes. O autor
expõe que essa forma unidimensional de se entender inteligência se encaixa em uma única
maneira de ver a própria escola. “[...] Uma escola uniforme apresenta um currículo central –
um conjunto de assuntos que todos devem saber – e poucas disciplinas eletivas. […] Na escola
uniforme, existem avaliações regulares, utilizando papel e lápis como instrumento [...]4
(GARDNER, 2006, p.4).
Gardner (2006) acrescenta que apesar de essa escola “uniforme”, ou padrão, passar
a sensação de justiça, uma vez que todos são tratados da mesma forma, o que se tem é
exatamente o contrário, já que não é justo que se coloque todos os alunos como iguais, sendo
que cada um é único em tantos aspectos. Esse tipo de escola é moldado para um “tipo de mente”
muito específico. Se o estudante possui as características exigidas, ele se encaixa e terá,
provavelmente, um bom desempenho, caso contrário, se sua mente funciona de uma maneira
diferente, a escola não vai parecer justa e o estudante não apresentará o desenvolvimento
adequado às suas necessidades.
Isso acontece porque a mente, e, por consequência, as formas de aprender, são
plurais, assim como os sujeitos. Por esse motivo, Gardner (2006) acredita no conceito de uma
escola centrada no indivíduo (algo que algumas das teorias da aprendizagem trabalham). Além
4
Tradução livre feita pela autora a partir do texto original: “[…] A uniform school features a core curriculum – a
set of facts that everyone should know – and very few electives. […] In the uniform school, there are regular
assessments, using paper and pencil instruments […]”
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disso, Jung e Kim (2005), Gardner (2006) e Armstrong (2009) consideram que todos os
indivíduos possuem cada uma das inteligências de alguma forma (em maior ou menor grau), e
essas se combinam umas às outras, o que causa a grande diferenciação entre cada pessoa, e é
por isso que entender esse fato é essencial no processo educacional.
inteligência nos demais assuntos. Um aluno com dificuldades em matemática pode mostrar a
inteligência naturalista muito apurada, por exemplo, o que salienta a necessidade de a escola
fornecer possibilidades para que esse aspecto seja otimizado.
Jung e Kim (2005) acreditam que a teoria das MI transformou algumas crenças
fundamentais relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem. Para eles, os estudos sobre
inteligência passaram a considerá-la como individual e específica dentro de um contexto (como
foi ressaltado nas considerações do próprio Gardner), e não apenas relacionado ao desempenho
acadêmico. Os conceitos clássicos de inteligências, tomavam como principais – ou mesmo
únicas – aquelas relacionadas as habilidades nomeadas por Gardner como verbal-linguística e
lógico-matemática, negligenciando as demais, que apenas posteriormente ganharam, e tem
ainda lutado por ampliar, seu valor no mundo.
Esse panorama tem, aos poucos, se modificado pelas demandas do século XXI no
sentido de habilidades de estudo e trabalho. Nesse sentido, são valorizados a criatividade, o
trabalho colaborativo, a capacidade de expandir o foco de abordagem para atingir uma
infinidade de possibilidades na resolução de problemas, pontos que se relacionam a todas as
áreas. Essas mudanças não significam diminuir a importância, ou necessidade, das inteligências
verbal-linguística e lógico-matemática, mas o crescimento destas passa a estar em sintonia com
as demais.
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Por sua vez, dentro desse panorama curricular e atividades relacionadas, Lippman (2003)
elabora 18 Modalidades de Aprendizagem (MAs) (Tabela 4).
No contexto da elaboração das MAs, o autor estabeleceu que um bom projeto
escolar deveria acomodar tantas modalidades quanto possível, substituindo os antigos espaços
que atendem a propósitos reduzidos por aqueles que atendem a vários, reiterando necessidade
da diversidade. Cada atividade exige uma organização diferente do espaço ou, em alguns casos,
até mesmo espaços voltados exclusivamente para elas. Desse modo, percebe-se que além de
diferentes estilos de aprendizagem e MIs, as MAs estão intrinsicamente ligadas ao projeto do
espaço.
Armstrong (2009) desenvolve uma tabela na qual especifica oito estilos de
aprendizagem, de acordo com as oito MI (considerando que a nona ainda não está totalmente
inserida na teoria). A Tabela 5 é uma adaptação daquela de Armstrong onde são inseridas, pela
autora, possíveis relações das MI com as MAs – mas com liberdade para modificações e
rearranjos destas, de acordo com a visão que se tem da forma como as atividades realizadas
podem enquadrar as inteligências. Ao contrapor características de estilos de aprendizagem com
as MA, é possível estabelecer ligações claras entre ambas, sendo que uma característica – ou
possibilidade construída – pode se relacionar a mais de uma modalidade e vice-versa, criando
inúmeras combinações, que refletem nas variadas formas de aprendizado dos alunos.
Todo sistema vivo desenvolve novas características para se adaptar às novas
circunstâncias, e com o sistema educacional não deveria ser diferente. As escolas ainda têm
apresentado algumas dificuldades em ensinar de forma holística as habilidades que se
manifestam de tantas formas. Essa realidade pode ser modificada ao trabalhar no sentido de
inserir cada vez mais as MI, englobando variados estilos de aprendizagem e MAs de maneira
igualitária (ROBINSON, 2015).
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4. A PERCEPÇÃO DO ESPAÇO
Para Okamoto (1996), existem dois universos que compõe o ser humano: o exterior
e o interior. O primeiro está em constante processo de adaptação ao meio e o segundo em
contínua exteriorização através das ações-resposta aos estímulos recebidos do ambiente, como
uma interpretação da realidade. Mahmoud (2015) nomeia esses dois aspectos como “físico” e
o da “natureza humana”, que, apesar de distintos, devem ser considerados como inseparáveis.
Esses universos, modificados continuamente pelo contato com o espaço externo ao ser humano,
estabelecem a relação ambiente construído/sujeito que a Psicologia Ambiental tem se proposto
a estudar.
Dentro desse campo, Moser (1998), Günther, Elali e Pinheiro (2008) e Cavalcanti
e Elali (2011) deixam claro que a pessoa – em seu contexto – e ambiente – social e físico – não
apenas se relacionam, mas se inter-relacionam, influenciando-se reciprocamente. Apesar da
importância da compreensão dessa duplicidade, o ser humano é colocado no centro da
investigação pelo fato de a Psicologia Ambiental estar ligada à Psicologia. O que se pretende
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compreender, assim, é a forma com que o indivíduo percebe e avalia o meio ambiente, o
processo de cognição pelo qual ele passa, os elementos que influenciam determinados
comportamentos e quais são esses comportamentos gerados pelos estímulos ambientais.
Os indivíduos agem sobre o ambiente, modificando-o, ajustando-o, mas o ambiente
também modifica os indivíduos, influenciando condutas, comportamentos, ações, pelos
estímulos gerados a partir deste contato. Essa inter-relação crucial é também dinâmica, e
acontece tanto em ambientes naturais quanto em construídos (MOSER, 1998; GIFFORD, 2014;
SÖRQVIST, 2016). Para a realização de pesquisas com esse caráter, Cavalcanti e Elali (2011)
apresentam que uma visão multidimensional é necessária na busca de compreender os
componentes físicos da situação (arquitetura e suas nuances como acústica, iluminação,
temperatura, mobiliário e objetos em geral, etc.); componentes não-físicos relacionados aos
aspectos psicológicos ou pessoais do(s) indivíduo(s) envolvido(s) (expectativas, experiências
vividas, motivações, padrões de comportamento, crenças, etc.) e aspectos sociais, culturais,
econômicos e políticos também envolvidos.
Moser (1998) cita que interessa saber “[...] como o indivíduo reage às condições
constringentes do ambiente [...]” (p.122), destacando que determinadas especificidades
ambientais inibem ou estimulam alguns comportamentos, o que justifica o fato de as pessoas
se comportarem de diferentes maneiras em espaços distintos. Por trabalhar necessariamente
com o entorno, conceito “espaço físico” se torna importante ao se estudar Psicologia Ambiental.
Além do espaço físico, entretanto, a dimensão temporal também é um conceito
importante, bem como a questão de as memórias serem levadas em consideração. Elas
compõem um dos focos da dimensão temporal, mas as previsões comportamentais futuras e
projeções futuras são tão significativas quanto referências ao passado. A história vivida por
cada indivíduo traz à tona um terceiro conceito levantado por Moser (1998): o de place-identity,
que está ligado ao que Cavalcanti e Elali (2011) chamam de place-attatchment, e que diz
respeito às ligações simbólico-afetivas inerentes ao relacionamento pessoa-ambiente.
A Psicologia Ambiental pertence à área do conhecimento da Psicologia mas pode
ser considerada multidisciplinar com contribuições e aplicações de outras áreas (HEIMSTRA
e MCFARLING, 1978; CANTER e CRAIK, 1981; RAPOPORT, 1990; GÜNTHER, ELALI e
PINHEIRO, 2008), o que inclui arquitetura. As primeiras discussões sobre o assunto
começaram anda na década de 1940, mas apenas nas décadas de 1960 e 1970 a Psicologia
Ambiental ganhou mais destaque, com ampliação na década de 1980, a partir da criação do
“Journal of Environmental Psychology”, um dos grandes responsáveis pela difusão
internacional do conhecimento nesse campo de estudo. A partir de seu momento de expansão,
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Cavalcanti e Elali (2011) expõem que estratégias e ferramentas metodológicas para as análises
necessárias começaram a ser desenvolvidas.
Nota-se que a Psicologia Ambiental inclui teoria, pesquisa e prática, na intenção de
primeiro compreender, e posteriormente melhorar as relações humanas com o ambiente natural,
bem como fazer com que o ambiente construído seja mais humanizado (GIFFORD, 2014). Para
tanto, ainda segundo este autor, os psicólogos ambientais estudam e estabelecem diversos
conceitos, como percepção ambiental, cognição espacial, espaço social, desenvolvimento
humano e personalidade, podendo-se acrescentar outros como: comportamento e behavior
settings, place-attachment, apropriação, espaço e lugar, etc. De modo geral, Proshansky,
Ittelson e Rivlin (1976) ressaltam que essa área investiga o processo psicológico e permite
entender o sentido, para as pessoas – individualmente ou em grupo –, do que acontece no
ambiente e como eles são criados e utilizados.
Fatores ambientais como ruído, temperatura e iluminação, em tipologias específicas
(escolas, escritórios, hospitais, por exemplo), são levados em consideração ao se analisar o
comportamento humano, sua mente e a relação com o ambiente físico-social. As condições que
influenciam as reações geradas com relação ao ambiente construído são (ou ao menos podem
ser) determinadas pelos arquitetos e designers do espaço: Formas, cores, sons, temperatura,
iluminação, complexidade, possibilidade de interação com outras pessoas, way-finding são
desses fatores (PHILIP, 2001). No processo de compreensão dessa relação são incluídas
observações sobre a cognição e percepção, emoção, estresse e fadiga mental, tomada de
decisões e interações sociais (SÖRQVIST, 2016).
5
No conceito de place-identity (onde se insere a ideia de identidade) especificamente, o que se considera é o
sentimento de incorporação ao espaço, à medida em que se integram, no interior de cada indivíduo, conceitos do
local que passam a defini-lo também como pessoa. O “espaço” se torna “lugar” pela extensão do próprio ser, pelo
sentimento de pertencimento e conexão com memória, pensamentos, valores e preferências que fazem parte da
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A percepção ambiental, que tem caráter imediato e ativo, não sendo simples
contemplação, é a maneira com que as pessoas experienciam os espaços que as cercam, tanto
seus aspectos físicos quanto sociais, culturais ou históricos, relacionados aos valores de um
grupo, por exemplo (RAPOPORT, 1977; CAVALCANTI e ELALI, 2011). Perceber, segundo
Okamoto (1996) e Cavalcanti e Elali (2011) requer atuação e interação no e com o mundo, é
sentir – ver, ouvir, tocar, provar, cheirar (HILL, 2011) – e reagir a essa informação. “O corpo
participa ativamente no processo de conhecimento, principalmente pela constante adaptação ao
meio em que vive e com o qual interage.” (OKAMOTO, 1996, p.84).
Cada um dos cinco sentidos são mecanismos de interface com a realidade que
percebem extraem e interpretam informações dos estímulos externos. Tudo o que se percebe é
experimentado pelos sentidos de maneira individual e sua interpretação e significado depende
do contexto e estímulos recebidos, dos estímulos guardados na memória (que agem nas próprias
características da pessoa e experiências pelas quais passou), bem como suas crenças, ambições,
medos e desejos (RAPOPORT, 1977; CAVALCANTI e ELALI, 2011), em um processo
chamado “cognição”, que é posterior à percepção. De acordo com Cavalcanti e Elali, Piaget
considerava a percepção “[...] um instrumento essencial no processo cognitivo, pois ela nos
permite tomar consciência do mundo, principalmente pela visão.” (CAVALCANTI e ELALI,
2011, p.252).
Okamoto (1996) considera que simplesmente estar com os olhos abertos não
significa ver a realidade, pois essa é percebida através de conceitos, símbolos e mitos, o que
compõe o processo cognitivo, o qual depende do universo de pensamentos de cada um, dos seus
interesses. A cognição espacial é, pois, complementar à percepção, como esclarecem Reis e
Lay (2006). Estes autores demonstram que é pela cognição que as sensações percebidas
adquirem valores e significados de fato, com formação de uma imagem no universo de
conhecimento do indivíduo, o que envolve reconhecimento, memória e pensamento e gera
expectativas traduzidas em atitudes e comportamentos. O processo cognitivo está ligado a
capacidade que o ser humano tem de conhecer, armazenar e extrair informações do ambiente
físico e social, criando uma consciência sobre o espaço e englobando o conceito de percepção,
por sua vez ligado à imagem que se cria.
bagagem que a pessoa carrega. (GIFFORD, 2014). Para este autor, existe, porém, uma relação entre place-
attatchement e place-identity, onde o primeiro evolui, com o tempo, para o segundo.
49
4.2.3. Reação
6
Tradução livre feita pela autora a partir do texto original: “In short, the places where we spend our time affect
the people we are and can become”.
7
Tradução livre feita pela autora a partir do texto original: “People typically act in accordance with their reading
of environmental cues. […] these settings somehow communicate expected behavior if the cues can be understood.
It follows that the “language” used in these environmental cues must be understood; the code needs to be read
[…]. If the design of the environment is seen partly as a process of encoding information, then the users can be
seen as decoding it. If the code is not shared or understood, the environment does nor communicate”.
50
4.2.4. Apropriação
dispostos de maneira uniforme criando, geralmente, edifícios simétricos. Destacava-se com eles
a importância para ordem, hierarquização de funções e controle (FOUCAULT, 1987).
Posteriormente, outros elementos foram adicionados ao programa de necessidades na medida
em que os espaços se tornavam mais específicos.
O que faz com que esse tipo não se torne um modelo, são variações no momento de
unir as partes. Em cada caso é possível perceber certa preocupação na adaptabilidade ao
contexto inserido – dimensão, posicionamento na implantação, disposição interna, entre outros.
Como estabelecem Grannäs e Frelin (2017), os ideais arquitetônicos são modificados pela
época da qual fazem parte (associados também à pedagogia). Entretanto, houve manutenção da
ideia principal desenvolvida primordialmente na era industrial, e esse caráter industrial, como
nomeia Robinson (2015), é o que ainda se observa usualmente nas edificações escolares.
Compreende-se, portanto, que apesar de algumas de suas partes terem sido
modificadas ao longo de sua existência, seja pela modificação dos objetivos da educação,
estrutura e conteúdo do ensino como aponta Knatz (1970), ou por modificação de métodos
construtivos e adaptações do programa para questões distintas, o básico – ou o esquema geral
da tipologia escolar –, é essencialmente o mesmo. Essa tipologia – carregada de conteúdo
simbólico – representa uma ideologia, e nela há certa definição de regras. Essas regras incluem
as conexões promovidas ou relacionamento entre funções, por exemplo, que vão ser refletidas
na elaboração de um projeto.
Figura 9 - Planta original do pavimento térreo Figura 10 - Planta primeiro pavimento da Grupo
(1894) da Escola Normal São Paulo – Ramos de Escolar Prudente de Moraes (1895) – São Paulo.
Azevedo.
(Marcações das circulações feitas pela autora a (Marcações das circulações feitas pela autora a partir
partir das imagens originais). das imagens originais).
FONTE: Disponível em: FONTE: Disponível em:
<https://ieccmemorias.files.wordpress.com/2013/02/plan <https://germinai.wordpress.com/textos-classicos-sobre-
ta-da-iecc.jpg>. Acesso em 8 jun. 2016 educacao/linha-historica-da-arquitetura-escolar-do-brasil/>.
Acesso em 8 jun. 2016
Até este ponto, percebe-se algumas variações nas configurações dos edifícios
ligadas a variações na compreensão do espaço. Ainda assim, os elementos básicos se
mostravam – em grande parte – inalterados, bem como a maneira de conectá-los. De modo a
acompanhar a expansão das demandas socioeconômicas como reflexo de uma maior
industrialização (particularmente em São Paulo), a construção de novas escolas era imperativa
para atender a uma maior parcela da população.
No período de 1960 a 1990 o Brasil passou por uma situação que exigia nova
concepção arquitetônica, como defendeu o arquiteto Villanova Artigas, começando a utilizar,
por exemplo, elementos pré-fabricados (KOWALTOWSKI, 2011), usados ainda hoje nos
projetos da FDE. Os pátios continuavam a ser um dos elementos de composição importantes na
tipologia escolar. Artigas se destacou ao apresentar novos elementos de arquitetura em seus
projetos, antes não utilizados para este fim: cobertura única para construções lineares e
apropriação dos desníveis (Figuras 14 e 15). Esse fato pode ser tratado, como anteriormente o
foi a arquitetura das escolas-parque e escolas-classe, um gerador de certa ramificação na
tipologia escolar, pois criou novos espaços, com outras disposições e conexões internas e
externas.
Vidler (1998) postula que no processo de projeto o arquiteto toma decisões que
dizem respeito às soluções formais e o faz a partir de uma escolha dentre tipos, o que é explicado
por sua posição ideológica, ou a um contexto ideológico no qual se insere. Da mesma forma,
pode-se dizer que a escolha voluntária, fora dos tipos pré-existentes, que corresponde à criação
de novas conexões e funções, também é reflexo de um posicionamento e gera formas que
divergem do que já existe. Como exemplo, nota-se que algumas das escolhas dos arquitetos
referentes aos elementos que a serem trabalhados dizem respeito, principalmente em escolas
públicas, à diretrizes muito específicas e um tempo de projeto curto. Este é o caso dos projetos
da FDE, que partem de um programa arquitetônico moldado pela padronização em função de
salas de aula e dimensões mínimas, exigências ambientais, instalações e componentes (como
janelas e portas) básicos (GRAÇA, 2002), restringindo as escolhas às especificações pré-
estabelecidas de maneira relativamente rígida.
Contudo, o que se espera dos edifícios baseados nas características de uma
“tipologia” escolar do século XXI é, em linhas gerais, que estes tenham foco na atividade de
aprendizagem considerando as múltiplas inteligências humanas. Ao mesmo tempo é importante
que a escola – como um espaço projetado – valorize as aspirações humanas, como coloca Marin
(2008), os relacionamentos, o crescimento individual, juntamente com o crescimento de forma
67
colaborativa. Por este motivo, os parâmetros de projeto escolar definidos por Nair; Fielding &
Lackney (2013) vêm a auxiliar o projeto tendo em vista essas características (Tabela 7).
conceitos clássicos de salas de aulas e pátios abertos, mas sim relacionados às diversas
modalidades de aprendizagem.
Ao trabalhar com os novos parâmetros de projeto, leva-se em consideração a
importância de ambientes de ensino mais flexíveis e adaptáveis para usos que poderiam ser em
um momento para aula tradicional/palestra e em outros para conversas em grupos ou prática de
expressões corporais. Os espaços também podem ser reformulados a partir do conceito de
parâmetros de projeto criando-se áreas casuais de alimentação (além do refeitório); espaços
com tecnologia distribuída; locais para estudo individual ou introspecção como em cave spaces;
elementos de assinatura local para cada edifício projetado, que façam dele único; learning
streets como substituição dos corredores passagem, entre diversos outros aspectos (Figuras 18
e 19). Este seria, talvez, a expressão de ideologia do século XXI.
Tratar essa tipologia do século XXI como algo inteiramente novo, porém, é
inadequado. Muitos elementos, princípios, ou parâmetros aqui considerados vêm sendo
utilizados há muito tempo na arquitetura escolar, e não deveriam desaparecer. Recomenda-se,
porém, que estes precisam estar em constante modificação/renovação e adaptação de tal forma
que respondam aos problemas da geração em que se encontram. Esse pensamento é o que os
faz diferentes em essência e, por isso, parte de uma nova tipologia. Ornstein et al. (2009)
acreditam que, por a escola ser um elemento de grande importância para a comunidade na qual
está inserida, suas considerações e necessidades devem ser tomadas em conta para criar
soluções adequadas ao contexto.
69
Ao entender que “[...] a arquitetura é realizada por e para pessoas [...]” (UNWIN,
2013, p.24) é possível perceber a importância da influência dos usuários. Nesse sentido, para
fortalecer a conexão entre as decisões de projeto, objetivos educacionais e resultados reais
alcançados, tem-se buscado levantar a satisfação dos usuários nos ambientes escolares
construídos de modo a propor recomendações para intervenção, manutenção ou diretrizes para
projetos futuros (ORNSTEIN et al., 2009). O objetivo, nesse caso, é realizar projetos escolares
cada vez mais próximos às demandas da geração que utiliza as escolas no século XXI.
70
algo que pode acontecer em diversos lugares, que não apenas em salas de aula padronizadas, e
a todo momento e não em períodos pré-determinados. Todas essas modificações estão
relacionadas, primeiramente, às características da geração do século XXI. Estes tópicos serão
trabalhados ao longo do capítulo da forma apresentada pela Figura 20.
Um dos desafios das escolas do século XXI é dar suporte e estimular seus usuários
na realização de atividades ligadas aos novos paradigmas deste século. Sua função também é a
de promover a aquisição de conhecimento e habilidades pelos alunos (MAXWELL, 2016).
Dentro dessas questões estão incluídas a nova postura e visão da sociedade (AZEVEDO,
BASTOS E BLOWER, 2007), que é dinâmica e que exige formação baseada em experiências
colaborativas e valorização das diferenças. Romero, Usart e Ott (2015) pontuam que a
passagem do século XX para o XXI foi uma transição que alterou a forma de se comunicar, de
comprar e vender, de procurar informações e socializar. Além da característica explícita
relacionada à tecnologia, esse novo século demanda comunicação, colaboração, habilidades
sociais e culturais, criatividade, pensamento crítico, resolução de problemas, flexibilidade,
capacidade de tomar riscos, entre outras.
Para Taylor (2009), as qualidades necessárias no mundo no século XXI são
pensamento crítico, racional, ação de modo humano, apreciação da complexidade, abrangência
de novas formas de conhecimento, criatividade, respostas baseadas em ética, busca de
aprendizado durante toda a vida e compartilhamento desse com outros. Para ela, essas
características devem ser vistas como a maior missão da escola, mais do que garantir bom
72
desempenho dos alunos em suas disciplinas. IZZO et al. (2010) também apontam que os
estudantes devem estar preparados, desenvolvendo as habilidades do século XXI para serem
bem-sucedidos na escola, carreira e na vida em geral, o que inclui habilidades em tecnologia e
informação (como buscar, manter, analisar e usar os dados), saber lidar com questões sociais e
que envolvem diferentes culturas.
Por sua vez, Pearlman (2011) e Lemley, Schumacher e Vesey (2014) consideram
as habilidades do século XXI como sendo: criatividade, inovação, comunicação, colaboração,
trabalho em equipe, pensamento crítico, tomada de decisões, naturalidade em pesquisa e
resolução de problemas. Para eles, perante esses requisitos, o professor também passa a ter um
diferente papel, trabalhando em conjunto com o aluno para solucionar problemas e alcançar
resultados apropriados. Robinson (2015) apresenta oito “competências” centrais que deveriam
ser incentivadas pelas escolas para que os alunos sejam mais bem-sucedidos no século XXI:
Curiosidade, criatividade, crítica, comunicação, colaboração, compaixão, compostura e
cidadania. Cada uma delas possuiu um significado e um papel dentro da sociedade, o que
significa dizer que não funcionam apenas dentro do ambiente escolar, mas também fora deste.
Por outro lado, Hilt (2016) apresenta as considerações da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que se preocupa muito mais com a
formação de capital humano, onde a ideia principal está situada no desenvolvimento de
habilidades e competências na população para que sejam supridas as demandas de
conhecimento do mercado. Essa organização considera as novas habilidades como a nova
moeda do século XXI e pede que sejam feitas alterações escolares como resposta a essa
demanda. Nesse novo currículo, a OCDE considera como principais atributos a adaptabilidade,
persistência, resiliência, habilidade de aprender a aprender, interdisciplinaridade,
autogerenciamento e metacognição (que é a ação de pensar e refletir sobre pensamentos futuros
ou sobre sua própria atividade mental) (HILL, 2016). Assim, os alunos deveriam ser criativos,
responsáveis, independentes e proativos, enquanto os professores seriam facilitadores desse
processo de aprendizagem individual. Entretanto, por mais que o sistema educacional seja uma
forma de potencializar cidadãos preparados para o desenvolvimento político e do mercado,
considerar as habilidades como fatores para suprir essas demandas é reduzir o papel da
educação na formação de pessoas verdadeiramente humanas, que contribuam com essas
características para a sociedade. (HILT, 2016).
De todo modo, o que se percebe é que, apesar de não haver uma “lista padronizada”
– e citada igualmente por todos os pesquisadores do assunto – das características a serem
desenvolvidas nos alunos do século XXI, coincidem importantes conceitos. A valorização da
73
criação de ideias; de se comunicar e interagir com outras pessoas, com opiniões que divergem,
de modo colaborativo; da capacidade de atualização quanto a tecnologias e informação e
pensamento crítico na filtragem dessas informações para resolução de problemas são alguns
deles. À escola é designada a responsabilidade de introduzir e desenvolver esses conceitos nos
alunos.
O programa arquitetônico, por sua vez, tem como objetivo a descrição do contexto
onde o projeto vai operar, sendo uma etapa analítica do processo de projeto (MOREIRA, 2007).
Como uma das primeiras fases desse processo, ele precede o projeto propriamente dito e
estabelece o problema que será respondido pela forma ao dividir o contexto em partes. Com a
preocupação de evitar sugerir ou impor soluções, o programa “[...] deve se ater à descrição do
contexto ou dos aspectos gerais da forma [...]” (KOWALTOWSKI e MOREIRA, 2011).
No desenvolvimento do programa, o usuário é visto como elemento ativo e nele
deve-se focar com objetivo de estabelecer as necessidades, metas e diretrizes que a forma
cumprirá. Dessa maneira são identificadas não apenas as características físicas, mas também
psicológicas e culturais, bem como as atividades que serão realizadas e os valores desse usuário.
Segundo Deliberador (2016), quanto mais completa essa etapa, a chance de retrabalho em fases
posteriores diminui em caráter inversamente proporcional.
Existem vários métodos usados para elaborar o programa arquitetônico, que variam
pelo formato que possuem, abordagem e nível de participação dos usuários/clientes. De modo
geral, o objetivo central deles é estimular um pensamento qualitativo para o planejamento, que
será a base do projeto (TAYLOR, 2009). Um dos modelos é o participativo ou consultivo, que
mesmo com seus desafios inerentes, como a necessidade de os participantes terem real
compreensão do tipo de problema tratado e que este demandará uma mudança de cultura e
abordagem para ser solucionado (WOOLNER et al., 2012), é considerado uma das formas de
implementação real e efetiva de mudanças em práticas educacionais juntamente com o espaço
físico.
Taylor (2009), França (2011), Kowaltowski (2011), Leiringer e Cardellino (2011),
Woolner (2014), Deliberador (2016) acreditam que é necessária a comunicação com a
comunidade usuária do edifício, tornando-os participantes ativos do projeto, seja ele de
construção ou reforma, e não apenas receptores das mudanças às quais terão que se adaptar.
Dessa maneira, é facilitada a compreensão de como será o uso do ambiente educacional e sua
correlação com as práticas de ensino-aprendizagem adotadas, preparando os atores para as
novas soluções e criando um maior senso de pertencimento. Os atores consultados podem ser
os estudantes, professores, diretores e outros funcionários, pais dos alunos e demais membros
da comunidade, mas também investidores e representantes políticos. A escolha dependerá do
foco, dos objetivos e resultados esperados. Flutter (2006) defende que a discussão com estes
atores, mas de modo especial com os estudantes, é essencial para permitir que os arquitetos
criem edifícios com soluções apropriadas para expectativas diversas.
75
Por este motivo, Bergsagel et al. (2007), Nair, Fielding e Lackney (2013) e Taylor
(2009) discutem parâmetros que forneçam soluções abertas, adaptáveis de acordo com cada
projeto, em seu contexto. Ao mesmo tempo, ao lançar mão dessa linguagem de parâmetros, há
uma expressão clara de características específicas necessárias e desejadas para as escolas do
século XXI. Construídas, reconstruídas ou reformadas, os projetos escolares serão
influenciados por uma série de fatores: considerações práticas e tecnológicas, tendências de
projeto relacionados às políticas públicas, disponibilidade de materiais e técnicas (WOOLNER,
2007). Dudek (2000) e Taylor (2009) criticam as edificações educacionais quem incorporam,
principalmente, considerações técnicas – normas, metragem quadrada, eficiência energética –,
deixando em segundo plano as questões estéticas e outras discussões mais complexas que
incluem também criatividade e imaginação.
No Brasil, há órgãos estaduais ou secretarias municipais que administram o
processo de projeto de escolas públicas. Esse processo é essencialmente linear e algumas etapas
consideradas essenciais na literatura, como o problem seeking, são pouco valorizadas
(DELIBERADOR, 2016) na tentativa de economizar tempo e dinheiro (TAYLOR, 2009).
Geralmente há preocupação muito grande em atender a demanda de vagas, nem sempre
priorizando a qualidade dos edifícios, o que pode levar à replicação de soluções sem evidência
da sua eficiência e as vezes pouco compatíveis com o contexto: acesso, vizinhança, bem como
forma e característica do terreno. Apesar dessa realidade, não se pode negar a tentativa de
implementação de algumas melhorias decorrentes da experiência de alguns órgãos
centralizadores da produção da arquitetura escolar, como a FDE, no estado de São Paulo, e a
FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), em âmbito nacional. A FDE
especificamente é responsável pela construção e manutenção dos espaços de mais de 5000
escolas no estado de São Paulo e consegue promover a realimentação do processo seguinte a
partir de informações sobre o anterior. (KOWALTOWSKI, 2011)
A realimentação é conseguida a partir da Avaliação de Pós-Ocupação (APO), que
é uma metodologia de avaliação aplicada durante a fase de uso do edifício. Em seus resultados
são levantadas características positivas e negativas, sucesso e falhas, com relação à aspectos
funcionais, sistemas construtivos, manutenção, conforto ambiental e relações entre o ambiente
construído e comportamento humano (ORNSTEIN, 2005; ORNSTEIN et al., 2009; TAYLOR,
2009). Acredita-se, contudo, que o processo de projeto escolar, possa ser aprimorado para
atender às demandas atuais da educação, alcançando uma melhor qualidade e eficiência do
ambiente construído, não apenas em termos de desempenho energético ou em termos de
conforto.
76
Para Taylor (2009), os padrões qualitativos para uma arquitetura que dê suporte ao
funcionamento escolar e aprendizagem que nela ocorre não são necessariamente relacionados
aos códigos e especificações. A preocupação deve estar voltada para outras decisões projetuais,
como pontua Deliberador (2016): identidade e contexto, implantação, considerações sobre o
terreno e seu exterior, organização e funcionamento do edifício, características associadas ao
conceito de aprendizagem e à pedagogia escolhidas, temporalidade e durabilidade do edifício,
entre outros critérios que fornecerão respostas coerentes às demandas dos usuários. Woolner
(2012) aponta que as interações entre currículo, aluno, professor e o contexto social em que se
encontram deve ser levado em consideração. Kowaltowski (2011) acrescenta que ao longo de
todo o processo, obra e manutenção, bem como no uso condizente com as funções
estabelecidas, é necessário que se reflita sobre os objetivos do edifício em termos de
experiências espaciais de impacto estético, ser convidativo e confortável, adaptação ao
contexto, e às escolhas pedagógicas, entre outras.
8
Tradução livre feita pela autora a partir do texto original: “[…] An intelligently designed, attractive,
ecologically responsive learning environment is not a waste of taxpayer money or an unrealistic dream,
but rather a vital, concrete endorsement of our better nature and our professed concern for children and
the future of the world.”
77
Discute-se “[...] que o sucesso de um projeto diz respeito a quão bem ele auxilia
determinado programa educativo. Se existe um bom encaixe entre o projeto e programa, então
o projeto tende a facilitar e reforçar à prática educacional [...]” (GISLASON, 2010, p. 128)9.
Apesar disso, essa boa combinação só vai garantir sucesso efetivamente no processo de ensino-
aprendizado se outros fatores relacionados à organização, como a cultura e dinâmica dos
funcionários e alunos, estiverem também alinhados (Figura 21). Para este autor, ainda há pouca
pesquisa que leve em consideração a maneira com que a arquitetura escolar molda a prática
educacional e que geralmente se considera o processo de ensino-aprendizagem como algo
separado do ambiente construído. Assim, nota-se a relevância de se compreender todo o clima
escolar como a compilação de vários pontos específicos que formam algo intrinsicamente
conectado, auxiliando arquitetos e educadores a tomar decisões que conectem o projeto e o uso
dos espaços da escola.
9
Tradução feita pela autora a partir do texto original: “[…] It is argued that a design’s success rests
largely on how well it supports a given educational program. If there is a good program-design fit,
then a design will tend to facilitate and reinforce educational practice. […]”
78
de escolha pela sua flexibilidade e permeabilidade, gerando autonomia aos atores por permitir
liberdade de práticas educacionais variadas (LEIRINGER e CARDELLINO, 2011; DEED e
LESKO, 2015; SIGURDARDÓTTIR e HIJARTARSON, 2016). Para esses autores, essa é a
solução que prevalece em escolas do século XXI, mesmo com as dificuldades de privacidade
relacionada à tal conformação arquitetônica. Entretanto, as plantas livres não são imperativas
para uma escola O fundamental é que a arquitetura facilite as diversas modalidades de
aprendizagem, corroborando para que os estudantes se tornem responsáveis pelo seu
aprendizado, e professores sejam criadores de novas experiências (IMMS, CLEVELAND e
FISHER, 2016) em espaços que enquadrem tanto o trabalho individual e em pequenos grupos,
até performances, música e ensino colaborativo.
De forma geral, Pearlman (2011) aponta que podem ser acomodados, em um
mesmo local, projetos colaborativos, seminários, workshops para alguns alunos enquanto
outros continuam trabalhando. Para tanto, ambientes versáteis, capazes de atender a mais de
uma atividade, formando um conjunto de espaços – studios, plazas, salas multiuso, home bases
ou breakout áreas – que serão usados em sua totalidade, é o caminho para se pensar em
soluções. Por outro lado, algumas atividades demandam ambientes com características
específicas, como um laboratório para prática de experimentos, ou uma sala acusticamente
tratada para trabalhos com gravações, ou ensaios de música e teatro, por exemplo. Entretanto,
essa especificidade não tira o caráter da multiplicidade da escola, mas corrobora para a
diversidade desejada.
O significado de plantas livres pode, portanto, ser transposto para outra
interpretação: a criação de ambientes visualmente acessíveis, fazendo uso da transparência ou
por paredes móveis e deixando livre para que todos tenham acesso (ao menos visual) às
atividades que ocorrem na escola. Essa característica não deixa apenas à mostra a atividade e
seus participantes, mas tem a função de compartilhar o conhecimento. Assim, a solução para as
escolas do século XXI não são necessariamente plantas-livres da arquitetura em stricto sensu,
mas sim ambientes que apresentam dinamicidade e adaptabilidade, alinhados com demandas
tecnológicas.
Uduku (2015) observa que a própria escala do edifício passa por alterações, na
busca de torná-lo mais próximo aos estudantes, incorporando características que lembrem suas
acomodações residenciais. Essas modificações se enquadram no que Kowaltowski (1980)
apresenta como humanização da arquitetura, mostrando que essas demandas específicas
existem desde anos anteriores ao século XXI. Esse pensamento enquadra tanto a escala humana
do edifício, na busca da proximidade residencial e redução no tamanho propriamente dito, a
79
10
Tradução livre feita pela autora a partir do texto original: “[...] architecture is not a vacuous space
but a learning tool.”
80
especificidade de cada parâmetro é apresentada pela forma que estes elementos são
harmonizados, bem como o destaque que se coloca a cada um deles, a depender do que se deseja
transmitir. Estes aspectos podem ser percebidos na Tabela 8.
Deliberador (2016) apresenta uma maneira de trabalhar com os vários parâmetros
de projeto no processo de projeto ao criar um baralho que inclui 15 naipes, cada um abordando
um aspecto dentro da arquitetura escolar: aspectos pedagógicos, modalidades de aprendizagem
(chamadas por ela de modalidades de ensino), inserção urbana, público alvo, espaços, pátio,
entre outros. Dessa maneira, é possível compreender particularidades locais. Assim, na medida
em que se busca inserir o projeto da melhor maneira em um contexto específico, outros
parâmetros podem – e devem – surgir como resposta (KOWALTOWSKI, 2011). França (2011)
também destaca esse como um dos aspectos importantes para projetos escolares: que o partido
arquitetônico seja desenvolvido com vistas ao microclima e entorno, considerando-os desde as
etapas inicial do processo de projeto.
81
- Identidade própria;
-Cobertura ampla;
- Espaço de transição amplo;
2. Entrada
- Área de entrada com
convidativa
exposição de trabalhos ou
vista para locais de atividade
dos alunos.
- Atividades em espaços
7. Área de internos;
educação física - Áreas tradicionais de
esportes para usos variados.
- Refeições em cafés
menores, com horários
8. Áreas casuais flexíveis;
de alimentação - Refeitórios menores;
- Áreas com vistas para
jardins.
- Generosidade no
dimensionamento;
- Modulações inteligentes;
- Redes de infraestrutura
integrada;
-Infraestrutura generosa;
14. Espaços
- Paredes suficientes;
flexíveis - Divisórias;
- Móveis de fácil
movimentação;
- Zoneamento;
- Fechamento separado da
estrutura.
- Área do especialista em
local elevado (ou de
15. Campfire
destaque);
Space - Acústica compatível;
- Equipamentos de projeção.
- Aprendizados informais e
colaborativos;
16. Watering Hole
- Nichos em espaços de
Space circulação para trabalhos em
grupo.
- Troca de ar – ventilação
20. Ventilação cruzada;
natural - Janelas possíveis de serem
manipuladas.
21. Iluminação,
- Iluminação de acordo com
cor e as atividades e funções.
aprendizagem
- Redução do impacto da
construção;
- Materiais recicláveis –
reaproveitamento;
- Minimizar consumo de
22. Elementos de
água;
sustentabilidade - Aproveitar a energia solar
passiva;
- Pensar na forma e
orientação mais
convenientes;
- Expressão da pedagogia e
23. Assinatura valores da escola;
local - Elementos simbólicos
internos ou externos.
85
- Localização próxima ao
centro da comunidade;
24. Conexão com a - Relação com comércio e
comunidade infraestrutura locais;
- Abertura para uso da
comunidade.
- Associado a um ambiente
não institucional;
- Superar caráter impessoal;
- Supervisionados, mas
garantindo privacidade dos
25. Banheiros
alunos;
como os de casa - Espaço adjacente a outros
de supervisão constante;
- Acesso permitindo
supervisão passiva, a partir
de áreas comuns.
- Escritórios e locais de
armazenamento;
26. Professores - Espaços para reuniões de
como profissionais grupo;
- Espaços para preparação de
aula e descanso.
27. Recursos de
aprendizado - Recursos acessíveis a
compartilhados e todos;
biblioteca
- Espaços externos
protegidos para segurança
interior-exterior do sítio da
28. Proteção e
escola;
segurança
- Epaços internos protegidos
para segurança interior-
exterior da escola.
* A tabela construída tem base nas informações levantadas pelos seguintes autores: Nair, Fielding e Lackney
(2013); Kowaltowski (2011) e Deliberador (2016).
86
7. MÉTODO E MATERIAIS
O registro das observações nas escolas do estudo de caso foi feito por meio de fichas
de parâmetros de projeto (tabela para anotações), e modalidades de aprendizagem (tabela de
observação). Foram utilizados também mapas comportamentais, instrumento que possibilita
sistematizar observações do comportamento de usuários de um determinado ambiente. Esse
instrumento representa graficamente os comportamentos, atividades pessoais, layouts e demais
interações nos espaços analisados.
O formato das ferramentas de apoio – fichas de parâmetros, fichas de modalidades
e mapas comportamentais – tem como objetivo levantar os dados relativos à configuração
arquitetônica, atividades realizadas e ocupação do espaço. Estas também direcionam a análise
destes elementos pelas cores e formas utilizadas. Assim sendo, buscou-se ferramentas com
características simples para facilitar seu preenchimento durante os percursos nas escolas e sua
compreensão posterior, acrescentando, sempre que possível, técnicas de geração de gráficos
simultâneo ao preenchimento. Dessa maneira, as tabelas do tipo Excel ou Google Planilhas
foram utilizadas, o que contribuiu para a utilização de smartphone (que poderia ser substituído
por tablet) durante a coleta, e a inclusão das funções para criação de gráficos a partir dos dados
da observação.
A ficha de observação dos parâmetros de projeto das escolas (Figura 22) foi criada
como tabela de levantamento. Criou-se uma legenda de cores para o registro deste
levantamento: verde para a presença total dos parâmetros, amarelo para presença parcial e
laranja para a não existência destes. Estas classificações foram estabelecidas de acordo com as
definições dos autores-base para tal análise: Nair, Fielding e Lackney (2013). A Figura 1,
preenchida como exemplo, apresenta uma tabela modelo de observação dos parâmetros, com
nome e número de referência de cada parâmetro e respectiva observação sobre o grau de
inserção do mesmo, possibilitando a criação de registro detalhado sobre as observações do
ambiente. Com esta ficha, associada à análise por mapa comportamental da maneira
exemplificada pela Figura 23, quando foram representados elementos físicos por meio de
planta de vários locais da escola, completa-se a análise, através de ferramentas, da configuração
arquitetônica. O objetivo maior das ferramentas descritas é proporcionar um panorama da
variedade de espaços existentes em relação às suas funções, compreendendo a configuração de
ambientes formais e informais, bem como elementos de conexão entre os espaços.
88
locais. Além disso, decidiu-se ampliar o destaque para alguns dos elementos físicos. Paredes
opacas, abertura de janelas e portas, paredes baixas, divisórias e conexões físicas diretas foram
os elementos criados em legenda, de acordo com as possibilidades do que poderia ser
encontrado como organização física. Formatos e cores diferentes para cada elemento foram
estabelecidos. O termo “Parede envidraçada” foi utilizado para casos de elementos
arquitetônicos que garantissem transparência entre ambientes. Ele foi definido de acordo com
a descrição indicada por Ching (2010, p. 158): “Parede não estrutural composta basicamente
por peças horizontais e verticais de armação e que contém uma combinação de luzes fixas e
caixilhos móveis”. Para que fossem enquadradas maiores possibilidades de soluções
arquitetônicas de transparência este conceito foi adaptado incluindo painel de vidro único ou
caixilhos em sequência que proporcionem visibilidade interna/externa. Da mesma maneira que
para as MAs, observações sobre outras características físicas relevantes foram colocadas:
abertura das cortinas e portas, janelas altas, entre outras.
Durante o desenvolvimento desse estudo e das fichas, foram retirados
questionários, a princípio considerados. Aprofundou-se, dessa forma, na análise de ambientes
de ensino. Considerou-se que a relação modalidade de aprendizagem/parâmetro de projeto um
dos objetivos essenciais da pesquisa. A percepção dos usuários desta relação é considerada
importante, mas deve ser tratada separadamente para alcançar resultados de valor para o
processo de projeto. O projeto de pesquisa foi submetido à Plataforma Brasil e aprovado
(Anexo 111) permitindo o desenvolvimento do estudo12.
11
Foram ocultados os nomes das escolas do estudo na tabela com a relação dos documentos enviados à
Plataforma Brasil.
12
A inscrição de pesquisas na Plataforma Brasil apesar de importantes para a sua oficialização e
posicionamento ético ainda não facilita pesquisas em escolas, como foi demonstrado neste estudo.
92
projeto - uma ficha para cada caso. A duração da visita não foi estabelecida, variando conforme
tamanho da escola e tempo que se leva para percorrê-la. Além disso, como regra em um
walkthrough, este deveria ser realizado acompanhado de um membro do corpo de funcionários
local, para facilitar a compreensão da utilização e composição dos espaços.
Na segunda visita, por seu turno, deveriam ser preenchidos a ficha de modalidades
de aprendizagem em conjunto com os mapas comportamentais. Para tanto, seria necessário
estabelecer o tempo de permanência na escola para que pudessem ser divididos, em intervalos
iguais, cada ciclo de coleta, bem como definir o tempo de permanência por ambiente. O tempo
total para cada coleta teve por base a duração das aulas em cada escola, nos casos em que esta
duração era pré-estabelecida. No caso da não existência de aulas consideradas formais, o tempo
de percurso teria por base o período máximo de permanência (um turno), com divisão em três
coletas). O tempo de permanência em cada ambiente também foi pré-estabelecido (com duração
de 3, 5, 8 ou 10 minutos, a depender das atividades realizadas), de modo que fosse possível
preencher a tabela e os mapas comportamentais, uma vez que os desenhos em planta também
foram feitos durante visita.
Para serem definidos os espaços visitados e observados na segunda visita, estes ter
sido reconhecidos anteriormente. A partir daí, a coluna de ambientes da ficha de MA seria
preenchida com nome e número de referência dos ambientes (pela ordem da visita). Para o
desenho dos mapas a mesma ordem numérica do estabelecido na tabela de MA foi seguida.
Dessa maneira, em cada escola os ambientes foram observados três vezes (pela repetição do
percurso) em um dia e turno determinado. Nestas análises foi possível observar as atividades
realizadas, o local de realização, a frequência que estas ocorriam (pela repetição dos percursos)
e os participantes.
A partir da coleta dos dados pelas ferramentas indicadas, estes são analisados
individual e comparativamente. A princípio, as escolas são discutidas individualmente, por
análises internas dos parâmetros de projeto e modalidades de aprendizagem de cada um dos
casos. Estas análises discutem a forma como os PPs e MAs foram encontrados (conformação
física e atividades desenvolvidas), estabelecendo relação de existência entre estes, quando
possível. Posteriormente, há análise comparativa entre os resultados das escolas. São
correlacionados os parâmetros e modalidades, pelos tipos e quantidades encontradas, de escolas
de configuração tradicional e não-tradicional. Nos casos em que os dados foram coletados de
forma completa de acordo com o protocolo, sugestões de modificações arquitetônicas foram
93
à necessidade de uma das escolas seguir o modelo FDE e a outra apresentar características
diferentes de organização arquitetônica. Duas escolas foram selecionadas, ambas na cidade de
Campinas. A Escola C, privada, representa o modelo encontrado com características
diferenciadas, estando na lista de escolas inovadoras do MEC, enquanto a Escola D é pública,
construída pela FDE.
Ao todo, contabilizando os contatos iniciais e após a decisão de se ampliar o número
de estudos de caso, foi necessário contatar 15 escolas, dentre tradicionais e não-tradicionais,
para que fossem escolhidas quatro. Este fato aponta as dificuldades que este tipo de pesquisa
possui. As razões das dificuldades deste tipo de pesquisa são em relação aos sistemas de
gerenciamento e administrativos de instituições de ensino e as suas responsabilidades formais
do ensino e de segurança das crianças e jovens.
96
8. ESTUDOS DE CASO
8.1. Escola A
CORTE AA’
CORTE BB’
foi possível aplica-lo por completo. Durante a primeira visita foram observados os parâmetros
de projeto. As modalidades de aprendizagem e mapas comportamentais, que deveriam ser
observadas e desenhados, respectivamente, não puderam ser feitos pelas dificuldades
existentes.
relacionados ao PP#23, de assinatura local, são existentes. Contudo, falta maior conexão com
a comunidade local, tanto uma conexão física ao centro da comunidade, como social, com as
características e necessidades do bairro onde está inserida.
Dentre esses, os de maior destaque para uma arquitetura escolar do século XXI são
PPs 9 e 12, que trabalham com conexões, sejam visuais ou por aberturas diretas a espaços
internos e externos, o que significa conectar mais do que espaços físicos, mas conhecimento,
permitindo um processo de ensino-aprendizagem fluido e transparente ao longo de toda a
escola, bem como garantindo maior segurança pelo controle visual. Esses aspectos não foram
encontrados na escola A, uma vez que esta possui área administrativa fechada em si, com baixa
visibilidade para demais áreas da escola e salas divididas entre si e para corredores por paredes
opacas. Além disso, a presença da natureza é baixa para garantir uma conexão de espaços
internos-externos. Apesar da existência de pátio aberto, este não garante conexão fluida com
outros ambientes da escola, especialmente com áreas de estudo.
Entre os parâmetros não existentes destaca-se o PP#18, que diz respeito ao projeto
para inteligências múltiplas, o que pode ser observado pela baixa variedade de salas de aula,
com falta de áreas de estudo informal. Além disso, espaços que poderiam garantir uma
variedade relacionada às múltiplas inteligências têm baixa utilização. Dentre eles se encontram:
laboratórios de ciências, que poderiam ser utilizados também como laboratórios de artes;
biblioteca, que ao ter utilização ampliada auxiliaria no compartilhamento de recursos. A sala
de computação, existente no edifício, também poderia auxiliar no desenvolvimento das
múltiplas inteligências, entretanto a direção da escola ainda encontra dificuldades para sua
102
inauguração oficial. Outros espaços poderiam ter sido projetados para garantir ainda maior
diversidade, como salas de música e mídia. A falta de tecnologia distribuída na escola também
impacta no desenvolvimento de algumas das habilidades do século XXI relacionada as MIs.
8.2. Escola B
CORTE AA’
CORTE BB’
Por se tratar de uma escola com grande demanda de visitação, foi estabelecido um
único dia por semana de abertura para estas atividades. Dessa maneira, o walkthrough inicial
para reconhecimento e percepção geral de parâmetros foi condensado em uma única visita ao
mesmo tempo que eram observadas e coletadas as modalidades de aprendizagem. A visita,
considerando o percurso e conversa final durou aproximadamente 3h. A dificuldade de seguir
o protocolo neste caso ocorreu por ter sido pré-estabelecido, pela administração da escola, o
horário de visitação, o tempo de permanência total e por ambiente e o percurso. Assim, coletou-
se observações sobre os parâmetros de projeto e anotou-se as modalidades observadas, mas com
apenas um percurso. Os mapas comportamentais não puderam ser desenvolvidos, já que para a
completa realização deles, o percurso deveria ter sido realizado ao menos duas vezes.
Na visita à escola B percebeu-se maior variedade nos espaços existentes, bem como
na sua disposição. Estes apresentam funções distintas, seja para estudos em grupo, para estudos
individuais ou atividades de artes, variando também em ambientes mais fechados ou abertos,
em contato direto com a natureza. Entretanto, poucos parâmetros foram observados em sua
totalidade de acordo com as descrições de Nair, Fielding e Lackney (2013), o que significa que
estes espaços ainda devem ser melhor adequados para abrigarem corretamente os parâmetros
106
de projeto, buscando que um maior número destes esteja presente. A análise dos PPs pode ser
encontrada na Figura 30, onde se destacam quatro parâmetros totalmente presentes, 20
parâmetros parcialmente existentes e cinco não existentes. Apesar de o total de parâmetros
existentes e parcialmente existentes corresponder a mais de 80% deles, ainda é necessária a
evolução no sentido de proporcionar maior qualidade arquitetônica.
2) Entrada convidativa;
3) Espaço de exposição dos trabalhos dos alunos;
5) Laboratórios de Ciências e Artes;
6) Arte, música e atuação;
8) Áreas casuais de alimentação;
9) Transparência;
10) Vistas interiores e exteriores;
11) Tecnologia distribuída;
13) Mobiliários confortáveis;
14) Espaços flexíveis;
15) Campfire Space;
16) Watering Hole Space;
17) Cave Space;
18) Projeto para múltiplas inteligências;
19) Iluminação natural;
20) Ventilação natural;
24) Conexão com a comunidade;
27) Recursos de aprendizado compartilhado e biblioteca;
28) Proteção e segurança;
29) Síntese dos parâmetros.
A partir da análise dos elementos não existentes e buscando analisar aqueles com
maior conexão com a pedagogia aplicada, acredita-se que aqueles que poderiam ser focados, a
curto prazo, seriam os parâmetros 22 e 25. Esforços em direção ao desenvolvimento PP#22
estão foram percebidos a partir de parceria externa com outras escolas que já possuem
conhecimento da inclusão da sustentabilidade na escola, associando a atividades educativas. O
desenvolvimento do segundo ampliaria a valorização, já existente, com relação aos professores
do colégio.
Com relação aos parâmetros 15, 16 e 17 (Campfire, Watering Hole e Cave Space,
respectivamente), destaca-se o fato que estes não foram encontrados totalmente, apesar da
arquitetura escolar menos tradicional e o sistema educacional aplicado que proporciona
liberdade de uso dos espaços e livre caminhar dos alunos. Percebeu-se que um possível espaço
para Campfire, na área central da escola, pode ser traçado, mas sua infraestrutura ainda é
insuficiente para ampliação das atividades, como para uso de equipamentos de projeção. Os
alunos se organizam em atividades em grupos que possuem as características de Watering Hole,
mas este parâmetro propriamente não foi encontrado no formato de nichos criados para este
fim, o que também acontece com o Cave Space.
1. Estudos independentes
2. Tutoria entre alunos
3. Trabalho em grupos de tamanho médio e grande
4. Aprendizado individual com o professor
5. Palestras com professor ou especialista
6. Aprendizado por projeto
7. Aprendizado por tecnologia, com notebooks
8. Ensino à distância
9. Pesquisas na Internet
10. Apresentações
11. Aprendizado por performances e música
12. Aprendizado por seminários
13. Ensino colaborativo
14. Aprendizado pela natureza
15. Aprendizado social/emocional
16. Aprendizado pela arte
17. Storytelling
18. Aprendizado por projetos manuais
Figura 31 – Gráfico das Modalidades de Aprendizagem – Escola B
1) Estudos independentes;
2) Tutoria entre alunos;
3) Trabalho em grupos de tamanho médio e grande;
4) Aprendizado individual com o professor;
5) Palestras com professor ou especialista;
7) Aprendizado por tecnologia, com notebooks;
11) Aprendizado por performances e música;
15) Aprendizado social/emocional;
16) Aprendizado pela arte;
18) Aprendizado por projetos manuais.
alunos (eles se auxiliam dentro de seus projetos individuais, os quais também incluem
atividades em duplas e grupos), enquanto a MA#4 diz respeito ao aprendizado com o professor.
Na escola B, o aprendizado por tecnologia é uma modalidade encontrada com baixa
frequência, mesmo, mesmo ao observar que os alunos possuem acesso a notebooks ou tablets
individuais. Esta modalidade foi marcada pouco mais de 5,0% das vezes. Outro ponto de
destaque é a escola apresentar horta para aprendizagem dos alunos. Entretanto, esta se encontrar
em condições pouco ativas e, assim, a modalidade 14 (aprendizado pela natureza) não foi
contabilizada. Da mesma forma, a modalidade 13, de ensino colaborativo, também não foi vista,
apesar de se ter conhecimento que os projetos realizados pelos estudantes envolvem diferentes
abordagens de um mesmo problema. Na visita realizada, porém, os atendimentos com os tutores
de cada área se mostraram mais individualizados.
Por fim, apesar de não ter sido possível aplicar a metodologia como consta em sua
descrição, a coleta de dados realizada é representativa do que pode ser encontrado na escola B
no que diz respeito às MAs. Todavia, pelo conhecimento prévio que se tinha sobre a pedagogia
utilizada na escola e, assim, o processo educacional envolvido, esperava-se encontrar ainda
mais modalidades do que foram vistas, o que significaria uma variedade maior de estilos de
aprendizagem e atividades desenvolvidas. Apesar de a expectativa ter se mostrado diferente na
realidade, é interessante observar que mais da metade das MAs foram observadas, com destaque
para o maior enfoque no estudo individual, o que significa maior valorização das diferenças,
ponto recomendável na educação no século XXI, que trabalha com o respeito às necessidades
e ritmo de cada aluno.
8.3. Escola C
CORTE AA’
CORTE BB’
De acordo com a Figura 34, apresentada a seguir, na escola C são encontrados cinco parâmetros
de projeto (correspondentes a pouco mais que 17% do total) de acordo com os pontos
destacados por parâmetros por Nair, Fielding e Lackney (2013). A junção destes com os
parcialmente existentes, 19 deles, compõe um total de quase 83% de parâmetros. Aqueles não
encontrados totalizam também 17% (cinco parâmetros).
As salas de aula, com formato em modelo tradicional, têm seus móveis (cadeiras e
mesas dos alunos) reorganizados com frequência de modo a acompanhar a atividade realizada.
Os alunos possuem certo nível de liberdade para decidirem o modo que preferem trabalhar.
Dessa maneira, são desenvolvidas atividades capazes de utilizar toda a área fornecida, seja por
organização individual, em duplas, grupos grandes ou pequenos, além de ser possível organizar
o espaço para aulas expositivas. As salas de aula possuem janelas em ambos os lados, gerando
ventilação cruzada, e também garantindo conexão visual entre espaços internos e externos,
apesar do baixo uso do vidro. Além desse ponto, a escola valoriza os trabalhos realizados pelos
alunos, o que também se torna contribui para a existência do parâmetro de assinatura local. Esta
cultura deu origem ao totem, criado pelos alunos, próximo ao pátio coberto principal. Os
trabalhos expostos se encontram majoritariamente, entretanto, em orientação vertical.
115
2) Entrada convidativa;
5) Laboratórios de Ciências e Artes;
6) Arte, música e atuação;
7) Área de educação física;
8) Áreas casuais de alimentação;
9) Transparência;
10) Vistas interiores e exteriores;
11) Tecnologia distribuída;
12) Conexão entre espaços externos e internos;
14) Espaços flexíveis;
15) Campfire Space;
16) Watering Hole Space;
17) Cave Space;
18) Projeto para múltiplas inteligências;
19) Iluminação natural;
20) Ventilação natural;
25) Banheiros como os de casa;
27) Recursos de aprendizado compartilhado e biblioteca;
29) Síntese dos parâmetros.
conectado também ao dimensionamentos pouco generosos das salas de aula, em especial nas
de ensino fundamental II. A distribuição de tecnologia, referente ao parâmetro 11, foi pouco
percebida, constatando-se em ambas as visitas que a sala de informática se encontrava fechada.
Apesar disso, as salas de aula e demais ambientes apresentam uso de equipamento tecnológico,
mesmo que ainda com baixa frequência e quantidade, sendo encontrados o equipamento de
Datashow com notebook. A escola possui espaços com algumas possibilidades de atender o
PP#18, de múltiplas inteligências. Há certa variedade de ambientes para diferentes atividades
(ou um mesmo ambiente com diferentes funções). Entretanto, este parâmetro não foi totalmente
encontrado como descrito em sua definição.
Em referência aos PPs não encontrados, estes são:
Constata-se que mesmo sendo poucos, existem questões importantes que a escola
poderia desenvolver, como a conexão com a comunidade, aspecto essencial na educação do
século XXI, uma vez que a conexão amplia o significado de educação, entendendo que esta
parte de todo lugar e que a escola é um ambiente aberto a todos. A escola se encontra em local
afastado da centralidade local, o que dificulta a inserção natural desta. Ademais, ainda faltam
elementos de sustentabilidade na escola, com práticas de sustentabilidade que envolvam todos
os alunos, e que seja de conhecimento destes.
Campfire, Watering Hole e Cave Space, como parâmetros principais, foram
incluídos na seção de parâmetros parcialmente existentes. O Campfire existe pelo fato de serem
encontradas áreas que possuem ponto de destaque, como o palco, do pátio coberto principal, ou
a quadra com suas escadas que formam arquibancadas. Ainda assim, equipamentos de projeção
não são permanentes nestes pontos, o que dificulta seu uso para essa função. O Watering Hole
foi visto por existir aprendizado informal e colaborativo no espaço escolar, mas que acontecem
em espaços que até o momento não possuem as características definidas por Nair, Fielding e
Lackney (2013). Da mesma forma ocorre o Cave Space, que não possui os nichos mencionados
pelos autores.
118
1. Estudos independentes
2. Tutoria entre alunos
3. Trabalho em grupos de tamanho médio e grande
4. Aprendizado individual com o professor
5. Palestras com professor ou especialista
6. Aprendizado por projeto
7. Aprendizado por tecnologia, com notebooks
8. Ensino à distância
9. Pesquisas na Internet
10. Apresentações
11. Aprendizado por performances e música
12. Aprendizado por seminários
13. Ensino colaborativo
14. Aprendizado pela natureza
15. Aprendizado social/emocional
16. Aprendizado pela arte
17. Storytelling
18. Aprendizado por projetos manuais
Figura 35 - Gráfico das Modalidades de Aprendizagem – Escola C
Foram feitos 120 registros de MAs, na tabela, das quais a maior porcentagem é a
de aprendizado social/emocional, com marcação de mais de 14% das vezes. Esse resultado foi
devido, por exemplo, ao entendimento da realização das atividades em grupo, ou duplas,
observadas como uma forma de aprendizado social/emocional. Nesses momentos, os alunos
trabalhavam em projetos de mão-na-massa nos quais era necessário tomar decisões, seja sobre
materiais a utilizar ou como representar o que gostariam, o que é, mesmo que indiretamente,
um aprendizado social. Pelo trabalho que estava sendo realizado na escola, a segunda
119
8) Ensino à distância;
12) Aprendizado por seminário;
14) Aprendizado pela natureza.
O PP#8 não faz, de fato, parte do programa pedagógico da escola. O parâmetro 12,
de aprendizado por seminário pode não ter sido visto uma vez que as atividades sendo realizadas
no dia da visita tinham outro foco. E, apesar de a escola ter forte presença da natureza, quando
comparado a área total da escola e áreas verdes, além do terraço com jardim, atividades nesse
sentido não foram vistas atividades em andamento.
O ambiente onde mais modalidades foram observadas foi a sala de 9º ano (foram
duas no EFII, 6º e 9º anos), com 26 análises ao longo dos três percursos. Estas podem ser vistas
na Figura 36 e correspondem a aproximadamente 25% do total. A variedade de MAs é
destacada pela presença de 11 das 18 modalidades existentes. Neste espaço os alunos se
encontravam reunidos em duplas ou trios para realizar seus trabalhos, ou, ainda, fazendo as
tarefas individualmente. Entre as coletas, a sala passou por rearranjos (não manteve organização
fixa). Estes aspectos de variação de organização e o local de realização das atividades podem
ser vistos na Figura 37, relativa ao mapa comportamental desta sala. Nos mapas feitos a partir
das três visitas, pode-se perceber que as atividades individuais ocorrem ao mesmo tempo que
as em dupla e em grupos pequenos. Isto corrobora com a afirmação de que no projeto em
andamento na escola no período da visita (o qual envolvia todas as classes) os alunos tiveram
liberdade para decidir a melhor forma de realizar as atividades. A modalidade 15 corresponde
ao fato de que, para trabalhar com um colega ou em grupos é necessário desenvolver o lado
social, que corresponde a essa MA.
120
1. Estudos independentes
2. Tutoria entre alunos
3. Trabalho em grupos de tamanho médio e grande
4. Aprendizado individual com o professor
5. Palestras com professor ou especialista
6. Aprendizado por projeto
7. Aprendizado por tecnologia, com notebooks
8. Ensino à distância
9. Pesquisas na Internet
10. Apresentações
11. Aprendizado por performances e música
12. Aprendizado por seminários
13. Ensino colaborativo
14. Aprendizado pela natureza
15. Aprendizado social/emocional
16. Aprendizado pela arte
17. Storytelling
18. Aprendizado por projetos manuais
Figura 36 – Gráfico das Modalidades de Aprendizagem – Sala 9º ano da Escola C
movimentavam livremente no interior da sala, o mesmo ocorria entre o interior desta e o espaço
externo. A dinâmica percebida pode ser vista pelos espaços ocupados pelos alunos nos mapas
comportamentais das Figuras 38 a 40.
8.4. Escola D
CORTE AA’
CORTE BB’
O PP#1 foi assim classificado pela baixa movimentação dos alunos, e do layout
interno das salas, para realização de atividades de ensino-aprendizagem. Estas são ações
percebidas como possíveis, mas que estão relacionadas à também baixa variação de tipos de
atividades, que estão na maior parte do tempo focadas em aula expositiva e exercícios
individuais. Dessa forma, observa-se que o espaço também proporciona poucas opções de
mudança. As áreas de circulação são grandes quando comparadas à quantidade de uso efetivo
do local, o qual passa maior parte do tempo sem utilização.
A entrada do edifício é pouco convidativa aos usuários da escola e à comunidade,
já que o espaço não possui cobertura nem espaço de transição entre área externa ao sítio da
escola e interna. As atividades de arte, música e atuação, relativas ao PP#6, são passíveis de
realização em espaços como o anfiteatro ou na quadra de esportes, contudo, as possibilidades
para realização de atividades de mídia e rádio são restritas, com acesso limitado (como a sala
de informática e de vídeo) ou com baixa infraestrutura que possibilite estas atividades. A escola
possui assinatura local (parâmetro 23) correspondente ao sistema tradicional que apresenta, mas
faltam elementos arquitetônicos simbólicos de fato, relacionados a particularidades da escola.
A segunda visita à escola D teve como um dos objetivos a coleta das modalidades
de aprendizagem presentes. O resultado dos 36 registros realizados é apontado no gráfico da
Figura 52. O período da manhã, das 7h às 12h20, foi utilizado para distribuir a repetição do
percurso estabelecido três vezes. Este percurso possuiu 10 ambientes da escola para visita e
permanência de 5 a 10 minutos, a depender do uso do local. Selecionou-se quatro salas de aula
para visita, sala de vídeo, sala de informática, espaço externo com pátio coberto, incluindo o
espaço de refeitório e anfiteatro, quadra poliesportiva, laboratório de ciências e biblioteca, com
visitas nessa ordem. A divisão do percurso acompanhou o tempo de duração das aulas, de 50
minutos. A primeira coleta foi feita nos dois primeiros horários, entre 7h10 e 8h30, a segunda
entre 8h50 e 10h30 (com pausa no intervalo, entre 9h30 e 9h50), e a terceira coleta entre 10h50
e 12h10.
1. Estudos independentes
2. Tutoria entre alunos
3. Trabalho em grupos de tamanho médio e grande
4. Aprendizado individual com o professor
5. Palestras com professor ou especialista
6. Aprendizado por projeto
7. Aprendizado por tecnologia, com notebooks
8. Ensino à distância
9. Pesquisas na Internet
10. Apresentações
11. Aprendizado por performances e música
12. Aprendizado por seminários
13. Ensino colaborativo
14. Aprendizado pela natureza
15. Aprendizado social/emocional
16. Aprendizado pela arte
17. Storytelling
18. Aprendizado por projetos manuais
Figura 52 – Gráfico das Modalidades de Aprendizagem – Escola D
destas, outras cinco MAs foram encontradas, dentre as quais está a MA#10, com 8,3% das
marcações. Esta correspondeu a apresentações breves de um grupo de alunas sobre um projeto
em andamento na escola. A MA#16 marcada está relacionada as aulas com vídeo nesta sala,
sendo o cinema considerado uma forma de arte. As duas modalidades menos marcadas foram
a 3 e 5. A MA#5 é muito utilizada, mas como a visita ocorreu em um número de salas limitada
e apenas em um dia, esta não possuiu tanta expressão. Além disso, percebeu-se que muitas
atividades em andamento no dia da visita tiveram como base aulas ministradas em dias
anteriores.
Dentre as modalidades não encontradas, ainda que seja importante a presença de
todas nas escolas, acredita-se que aquela que poderia ser priorizada para resultado a curto prazo
na escola D é o aprendizado por projeto e por projetos manuais. Essa proposta parte do princípio
de que existe infraestrutura de laboratório e espaços amplos de pátio onde estas atividades
poderiam ser desenvolvidas, mas que atualmente são subutilizadas. De acordo com as análises,
o ambiente que apresentou maior registro de modalidades (11/36), apresentando as modalidades
1, 2, 4, 10 e 15 (ou seja, 5 das 18), foi uma das salas do 8º ano visitadas (Figura 53). Estas são
resultado das atividades propostas pelos professores no momento da observação, com
combinação de trabalho individual e em duplas, bem como de instruções para atividades
individuais e a presença do grupo de alunas explicando seu projeto. As modalidades e
organização da sala podem ser vistos no mapa comportamental da sala na Figura 54.
1. Estudos independentes
2. Tutoria entre alunos
3. Trabalho em grupos de tamanho médio e grande
4. Aprendizado individual com o professor
5. Palestras com professor ou especialista
6. Aprendizado por projeto
7. Aprendizado por tecnologia, com notebooks
8. Ensino à distância
9. Pesquisas na Internet
10. Apresentações
11. Aprendizado por performances e música
12. Aprendizado por seminários
13. Ensino colaborativo
14. Aprendizado pela natureza
15. Aprendizado social/emocional
16. Aprendizado pela arte
17. Storytelling
18. Aprendizado por projetos manuais
Figura 53 – Gráfico das Modalidades de Aprendizagem – Sala 8º ano da Escola D
135
A partir da observação dos esquemas de planta baixa do caso A (Figura 26), nota-
se variedade de ambientes (destacados pelas cores utilizadas). Ainda assim, o parâmetro 18, de
Projetos para inteligências múltiplas (que diz respeito à existência de ambientes que atendam
às variadas inteligências), foi registrado como não existente. Isto ocorreu uma vez que as áreas
funcionais correspondentes a estes ambientes são segregadas (há separação física – por paredes
opacas - das áreas de laboratório, biblioteca, computação, salas de aula, e assim por diante). Ao
mesmo tempo, percebe-se a distribuição homogênea, ao longo do corredor lateral, das salas de
aula no pavimento superior. Sua distribuição, dimensionamento e formato, considerando os
elementos de fechamento entre as salas de aula, e entre estas e a área de circulação, contribui,
em grande parte, para o registro do parâmetro 1 (Salas de aula, ambientes de ensino e pequenas
comunidades de aprendizagem) como parcialmente existente. A presença parcial deste
parâmetro deveu-se, igualmente, ao fato de que o layout é essencialmente o mesmo em todas
as salas visitadas. As observações das salas de aula, laboratórios, biblioteca e sala de
computação, ainda que não tenha sido aplicado o protocolo completo, levaram ao registro do
parâmetro de Espaços Flexíveis (14) como não existente, uma vez que este parâmetro é definido
também pela presença de dimensionamentos generosos, com possibilidade de variação nos
fechamentos dos ambientes e posicionamento do mobiliário.
A existência de pátio interno aberto se mostra como um potencial do projeto da
escola A tanto para iluminação natural (PP#19) como para ventilação cruzada (PP#20) das salas
141
de aula e laboratórios. Estes espaços são conectados ao pátio pelos corredores, os quais possuem
paredes opacas (com alguns tijolos de vidro), configuração que se torna obstáculo para a
presença dos parâmetros 19 e 20, bem como o fechamento opaco e sem abertura que conecta
as salas de aula aos corredores. O sistema geotérmico instalado foi a opção oferecida para
aumentar o conforto térmico, mas este apresentou dificuldades em seu funcionamento desde o
período de inauguração do edifício, o que interferiu negativamente nos parâmetros 20 e 22, este
último relacionado a elementos de sustentabilidade. As janelas das salas de aula possuem brises
para controle da luz direta, o que auxilia no parâmetro de iluminação natural, mas a escola não
apresenta placas solares, o que impactaria na presença deste parâmetro e do 22.
Os corredores possuem, todavia, localização privilegiada uma vez que se voltam
tanto para as salas de aula quanto para os pátios internos e externos. Nota-se, porém, que são
fechados, assim como os demais ambientes, o que inclui a área administrativa, o que ocasiona
o registro da não existência dos parâmetros 9 e 10 (Transparência e Vistas interiores e
exteriores, respectivamente). O uso do espaço de circulação e pátios como locais de passagem,
majoritariamente, unido à ausência de elementos de nichos para realização de atividades (com
observação de poucos bancos no pátio aberto), contribui para a existência apenas parcial do
PP#16 e não existência do PP#17 (Watering Hole e Cave Space). Os corredores superiores e
inferiores da forma como projetados e construídos auxiliam, contudo, nas questões acústicas,
garantindo menos ruídos nas salas de aula, uma vez que a quadra de esportes se encontra em
posição central do edifício.
A existência de salas de laboratório não garante a presença do parâmetro 5
(Laboratórios de Ciências e Artes), uma vez que este possui características específicas, como a
questão da flexibilidade para atividades distintas e conexão física interna-externa,
principalmente para momentos de trabalhos sujos. Além disso, pelas informações coletadas
durante o walkthrough foi informado que este espaço é pouco utilizado. Situação similar ocorre
com o espaço destinado à biblioteca, ligado ao PP#27 (Recursos de aprendizado compartilhado
e biblioteca), que permanece fechada na maior parte do tempo, também por dificuldades no
número de funcionários. Neste ambiente não há conexão física ou visual com as adjacências
internas à escola.
música, mas em especial para performances, sendo parte dos ambientes informais de ensino e
aprendizagem da escola. Este local é um dos promotores da existência do parâmetro 23, de
assinatura local, pois se tornou um símbolo escolar, além de refletir parte importante da
pedagogia da escola, de formação integral do ser humano. Apesar disso, porém, elementos de
sustentabilidade (PP#22), parte desta formação integral, ainda não estão incluídos no sítio e/ou
edifício escolar. A relação do número de parâmetros de projeto encontrados e de registros de
modalidades de aprendizagem presentes na escola B podem ser vistas no gráfico da Figura 61.
A escola C tem suas áreas funcionas distribuídas por todo o terreno no qual está
implantado, como pode-se notar pela Figura 32. A maior parte destes ambientes possui funções
de ensino-aprendizagem, com exceção do setor administrativo e da cozinha da cantina. Este
fato contribui para a presença do parâmetro de projeto 1, de salas de aula, ambientes de ensino
e pequenas comunidades de aprendizagem, garantido também pela livre circulação dos alunos,
estimulada por atividades propostas pelos professores. Associado à movimentação dos alunos
na realização dos trabalhos, está o layout interno às salas em constante modificação para
trabalhos individuais, duplas e grupos (modalidades de 1 a 3), com a presença do auxílio e
interação com o professor (MA#4). Contudo, a atual conformação física da escola ainda pouco
viabiliza a condução das modalidades 1, 2 e 3 em nichos específicos (parâmetros 16 e 17 –
144
Watering Hole e Cave Space), os quais dariam melhor suporte à execução de atividades dessa
natureza.
As atividades de caráter artístico observadas na escola (modalidade 16), incluem,
além do aprendizado pelas MAs 1, 2, 3 e 4, também aquelas correspondentes ao aprendizado
por projetos e por projetos manuais, 6 e 18. A realização destas atividades é apoiada, no caso
da escola C, pelo parâmetro 12, de conexões internas e externas. Este parâmetro, apesar de
parcialmente presente, foi observado pela conexão física facilitada entre as áreas cobertas dos
pátios e demais ambientes ao ar livre, ainda que as salas de aula tenham fechamentos mais
tradicionais. Não obstante, as salas de aula conseguem aproveitar a iluminação e ventilação
natural (PP#19 e 20), uma vez que possuem aberturas por janelas de ambos os lados: as salas
do EFI se conectam com espaço de circulação aberto e as de EFII são adjacentes ao espaço de
circulação amplo e sem conexão física para áreas externas (Figura 39), usado também como
ambiente informal de ensino-aprendizagem.
O aprendizado informal poderia ainda ser facilitado pela ampla utilização da área
de biblioteca, o que se relaciona ao parâmetro 27. Neste ambiente, associado à sala de
computação, onde não foram feitas observações de atividades, trabalhos de aprendizado por
tecnologia e pesquisas na Internet (MAs 7 e 9) poderiam ocorrer, fortalecidas pelo parâmetro
11, de Tecnologia distribuída. O aprendido informal foi presenciado, contudo, pela execução
de atividades artísticas, como citado, o que contribui, como cultura escolar, para a presença do
parâmetro 23, de Assinatura local, com presença de elementos que reforçam a identidade da
escola. A relação do número de parâmetros de projeto encontrados e de registros de
modalidades de aprendizagem presentes na escola B podem ser vistas no gráfico da Figura 62.
Nos quatro estudos de caso foram feitas anotações referentes aos parâmetros de
projeto. (Figura 64). Dessa maneira, é possível analisar comparativamente os dados relativos
aos parâmetros de duas escolas da FDE, com características arquitetônicas tradicionais (A e D)
e duas com propostas diferenciadas (B e C). A princípio, é necessário que seja destacado o
número de alunos atendidos por estas instituições. As escolas A e D possuem, respectivamente,
1646 e 750 alunos. As escolas B e C, por sua vez, têm 200 e 440 alunos, respectivamente. Este
fato influencia as decisões de projeto relacionadas à infraestrutura (quantidade de ambientes e
sua variedade), o que impacta também no uso e atividades desenvolvidas.
147
geralmente coberta (exceto no caso C), para realização de atividades físicas. Além disso, são
acrescidas áreas externas que possibilitam utilização para tais fins.
Um parâmetro não encontrado nas escolas é o “Elementos de sustentabilidade”
(22). Na atualidade, a sustentabilidade é, todavia, um conceito exigido na arquitetura, o que
inclui edifícios escolares. A educação ambiental é considerada essencial e deve ter um apoio na
infraestrutura educacional. A FDE possui algumas exigências nesse sentido, entretanto o pleno
funcionamento dos sistemas propostos e o reflexo desse conceito na configuração das escolas
ainda é pouco percebida. Estes elementos não são importantes apenas para redução de gastos
na construção, na redução de consumo de água e energia no período pós-ocupação, ou na
reciclagem de lixo. Este parâmetro valoriza, além destes pontos, o estímulo ao potencial de
aprendizagem que os alunos têm ao frequentarem edifícios com estas características. O local
passa a ser um instrumento vivo de ensino-aprendizagem, com questões que podem ser vistas
e apreendidas na prática. Dessa maneira, há disseminação de um conhecimento que, de outro
modo, fica em sua maior parte na teoria.
Percebeu-se também desafios que as escolas apresentam para proporcionar aos
alunos elementos de Cave Space (principalmente), mas também Watering Hole e Campfire.
Estes últimos não foram encontrados em nenhum dos casos com todas as características
esperadas. Acredita-se que a presença destes parâmetros pode valorizar as múltiplas
inteligências e os diferentes modos de aprendizagem. Sua existência significa variedade de
espaços também, possibilitando que os alunos se reúnam de diversas maneiras, com fins
distintos, o que possivelmente estimulará a existência de mais modalidades, contanto que a
pedagogia seja, ao mesmo tempo que a arquitetura, estimulada. A proposta é que estes três
parâmetros funcionem em paralelo por serem os mais significantes para o ensino-aprendizagem.
uma vez que na escola C os alunos realizam diversos trabalhos artísticos (como observado),
existem grandes murais em uma parede de cada sala para exposição interna dos resultados
dessas atividades. O mobiliário das salas na primeira escola passa por mais modificações no
layout quando comparado aquele da segunda escola. Essa característica foi ressaltada pela
observação de que em cada sala de aula da escola C os alunos se organizam de forma diferente
com maior frequência, seja por proposta de professores ou pela necessidade dos estudantes para
a realização de algum exercício. Na escola D, apesar de ser possível observar modificações
nesse sentido, elas geralmente são feitas por solicitação do professor e menos por decisão dos
alunos. Ao mesmo tempo, na escola D, o padrão de fileiras/colunas foi mantido em todas as
salas visitadas.
As escolas do estudo de caso se diferenciam no que diz respeito ao uso diverso dos
espaços que possui, o que se reflete na variedade de MAs encontradas (Figura 65). As áreas
externas de ambas as escolas (pátios abertos ou cobertos) exemplificam este aspecto de usos
diversos. Enquanto na escola C os alunos fazem grande utilização desses ambientes, como
mostrados nos mapas comportamentais relativos (Figuras 39, 40 e 46), na escola D a maior
parte destes locais tem baixa utilização (Figura 57), uma vez que as aulas são realizadas
majoritariamente dentro de salas de aula. Contudo, em ambas as escolas foram encontrados
ambientes fechados (sem utilização), como a sala de dança/música, sala de informática e
biblioteca (na terceira visita) na escola C e o laboratório, sala de vídeo, sala de informática e
biblioteca na escola D. Este fato, apesar de em alguns casos significar falta de número suficiente
de funcionários para gerenciar e garantir a permanência dos espaços abertos e em
funcionamento, também pode estar ligado ao menor foco que as escolas possuem em atividades
desenvolvidas nesses ambientes, o que pode comprometer o desenvolvimento de todos os tipos
de inteligências nos alunos.
150
essenciais onde estas atividades podem ocorrer por serem espaços mais utilizados pelos alunos.
Ademais, o empréstimo de dispositivos móveis, como tablets, pode abrir possibilidades no
sentido de ampliar o uso da tecnologia e de proporcionar abertura de outros ambientes que os
estudantes possam ocupar enquanto realizam atividades nessas ferramentas.
9.3.1. Escola C
motivo acredita-se ser possível modificar os espaços para que o processo de ensino-
aprendizagem seja enriquecido.
A escola possui ambientes que se apresentam como continuidade de outros, sendo
ponto positivo para a configuração arquitetônica de escolas, de acordo com os parâmetros de
Nair, Fielding e Lackney (2013). A partir da área de entrada, é possível ter acesso livre para a
cantina, a partir de onde tem início a ala de salas de aula e pátios, os quais são utilizados em
período de intervalo para lanches, mas também como possibilidade para realização de
atividades educacionais fora de salas de aula. As salas de EFII são conectadas por área coberta
(Figura 67), o que substitui a necessidade de corredores de circulação. Essa área favorece
atividades fora de sala, como foi observado e destacado no mapa comportamental respectivo
(Figura 39). Acredita-se, entretanto, que uma maior conexão física (transparência) entre estes
ambientes pode ser garantida pela utilização de maiores portas e paredes de ligação entre as
salas e o pátio com elementos móveis e envidraçados, que garantem transparência. Dessa
maneira, seria possível maior visibilidade, mantendo a ventilação cruzada atualmente existente.
O objetivo dessa proposta seria possibilitar a separação de salas quando necessária (ao fechar
as paredes móveis), mas também sua abertura, conjugando os espaços e criando um grande
laboratório de ensino-aprendizagem conectando espaços internos e externos. Estas paredes
envidraçadas, estariam ampliando não apenas o parâmetro 12, de conexões entre espaços
externos e internos, mas também o 9 e o 10, de transparência e vistas, o que enriquece o PP#1,
de salas de aula e espaços de aprendizagem.
Figura 67 – Esquema do local atual (planta) e proposta de modificação (planta e croqui) – Pátio coberto
EFII e Salas EFII – Escola C
154
As salas do EFI funcionam em cima de uma área de pilotis no qual existe um dos
pátios cobertos (Figura 32). Apesar de não existir acesso direto como no caso das salas de EFII,
o aumento da transparência e vistas pode ser feito com facilidade, uma vez que o corredor que
conecta as salas desta faixa etária é aberto, com visibilidade para a área externa e as salas de
aula atualmente possuem janelas para estes corredores (Figuras 41 e 42). Ao utilizar a mesma
técnica de paredes envidraçadas utilizadas nas salas de EFII, amplia-se o contato com o externo
já existente, favorecendo os parâmetros 9 e 10 (Figura 68). Outro aspecto de modificação é a
própria apropriação dos corredores como extensão das salas. Atualmente, o espaço é utilizado
apenas como passagem, mas pode se tornar extensão das salas, favorecendo o parâmetro 1. Em
outra perspectiva, o espaço pode passar por modificações para garantir a existência do
parâmetro 16 (Watering Hole), bem como do PP#17 (Cave Space). Dessa forma, as salas de
aula teriam vistas também para os nichos de estudo individual e/ou em grupo, algo que poderia
ser acrescentado no espaço de EFII apresentado.
Figura 68 - Esquema do local atual (planta) e proposta de modificação (planta e croqui) – Corredor EFI e
Salas EFI – Escola C
Outros espaços que podem ser valorizados por alterações na configuração física da
escola é a sala de música/dança e o terraço com jardim. Há acesso único para estes locais (Figura
32), o qual pode se tornar mais convidativo, de forma a inserir o conceito de humanização.
Nesse sentido se desenvolve a proposta arquitetônica (Figura 69). A criação de atrativos ao
longo do caminho de acesso, como jardins verticais, ou uso de elementos com cores, exposição
de trabalho dos alunos, provavelmente faria da transição do térreo para o pavimento superior
mais atrativa. Quando possível, a ampliação dos caminhos de passagens para criar mais espaço,
que podem ser transformados em pontos de permanência, também é altamente recomendada.
Com o aumento do fluxo e usos destes espaços haveria sua supervisão natural, e, portanto,
maior segurança. Dessa forma, o parâmetro 28, de proteção e segurança, também seria
impactado positivamente.
Figura 69 - Esquema do local atual (planta) e proposta de modificação (planta e croqui) – Acesso jardim e
sala de música e dança – Escola C
A biblioteca, por sua vez, poderia passar a ter acesso mais amplo, com a criação de
cobertura em seu acesso principal (ou com este elemento em toda área externa de acesso a ela),
ampliando a possibilidade de usar este recurso de aprendizado ao ar livre (Figura 70). Assim,
é proporcionado a melhora do parâmetro de projeto 27. Ao ser coberta a parte externa, é
facilitada a conexão da sala de informática para a biblioteca, o que é positivo para tornar ambos
os espaços mais conectados. Estas modificações e as propostas nos ambientes que incluem as
salas e áreas externas do EFI e II auxiliam também no desenvolvimento do parâmetro de projeto
14, espaços flexíveis.
156
Figura 70 - Esquema do local atual (planta) e proposta de modificação (planta e croqui) – Área externa
biblioteca – Escola C
Uma vez que a escola C possui a tradição de exposição dos trabalhos dos alunos,
poderia ser desenvolvido, em um dos projetos anuais, um elemento artístico para a entrada da
escola (Figura 71), como um painel, uma estrutura vertical, entre outros. Este elemento teria
como função favorecer o parâmetro de assinatura local (23), além da entrada convidativa (2),
proporcionando também ampliação no espaço para exposição. O enriquecimento da utilização
do parâmetro de arte, música e atuação (6) também seria beneficiado por esta ação e, como
complemento a esta, a todo corredor de entrada propõe-se a adição de outros elementos de
exposição. Nessa escola, atualmente é possível encontrar um elemento em posição central que
incorpora os aspectos de identidade e exposição de atividades artísticas dos alunos. A sugestão
para elaboração de outro item na entrada tem por base uma atividade já existente de projetos
anuais, e por isso, permanece dentro da intenção de indicar alterações no nível da configuração
física que apoia a pedagogia e os modos de ensino-aprendizagem.
157
Figura 71 - Esquema do local atual (planta) e proposta de modificação (planta e croqui) – Entrada e
corredor de acesso principal – Escola C
9.3.2. Escola D
grande parte do tempo, fechados. É compreensível que, atualmente, estas salas (como a de
computadores e de vídeo) permanecem fechadas por questões de segurança, contudo é possível
que estas sejam modificadas para que, durante seu uso, estimulem o aprendizado dos alunos.
Nos casos destes espaços com utilização reduzida, propõe-se a ampliação das opções de ensino-
aprendizado que oferecem. O laboratório de ciências pode se tornar, por exemplo, também
laboratório de artes com a abertura – conexão física - para um espaço externo para trabalhos
sujos.
O ambiente reservado atualmente para biblioteca, por sua vez, é mais afastado da
escola e o edifício principal tem pouca visibilidade para este. Entre ambas as construções se
encontra o estacionamento da escola. A propostas para estes espaços tem por base a ampliação
da utilização dos parâmetros de salas de aula e aprendizado informal (PP#1) e o de recursos de
aprendizado compartilhados e biblioteca (PP#27) (Figura 72). Além deste, porém, acredita-se
ser possível, ao modificar a área de estacionamento, transformar a área para local aberto de uso
tanto interno da escola como da comunidade. Nessa situação, a proposta vai além da ideia de
biblioteca para trabalhos essencialmente individuais, ampliando para trabalhos em grupo, mas
mantendo o caráter de uso mais silencioso. Propõe-se nichos para tais atividades, em conjunto
com outros espaços para trabalhos que necessitam ensaios de apresentações e discussão. Dessa
forma o espaço também se torna mais flexível, favorecendo o parâmetro 14. Há importância,
ademais, da distribuição de tecnologia no espaço de biblioteca.
Próximo à biblioteca existe uma sala ao ar livre (coberta), mas que ainda é pouco
utilizada. Esta poderia ser conecta à biblioteca por caminho convidativo ao mesmo tempo que
fosse associado à natureza ao redor, o que atenderia parte do parâmetro 12, de conexões físicas
internas/externas. Na área do estacionamento atual poderia ser trabalhada uma praça, que
permaneceria aberta em outros horários, bem como a infraestrutura da biblioteca, para a
comunidade, com a preocupação necessária em segurança. Estas propostas têm como função
demonstrar o valor da arquitetura de qualidade como suporte à educação – desenvolvendo as
modalidades de aprendizagem e múltiplas inteligências –, e o bem-estar dos usuários.
159
Figura 72 - Esquema do local atual (planta) e proposta de modificação (planta e croqui) – Biblioteca*, sala
de aula externa e estacionamento – Escola D
*Uma vez que não foi possível ter acesso à Biblioteca, o desenho em planta, base também para proposta, foi
retirado dos desenhos técnicos fornecidos pela escola.
Figura 73 - Esquema do local atual (planta) e proposta de modificação (planta e croqui) – Acesso à quadra
de esportes – Escola D
160
Figura 74 - Esquema do local atual (planta) e proposta de modificação (planta e croqui) – Sala de vídeo e
de computadores – Escola D
da lista de MAs pela observação de uma maior variedade de atividades do que as apresentadas
ao longo da pesquisa.
esteja presente na escola. Nas circunstâncias que ele esteja posicionado em outro local que não
a entrada, por exemplo, o parâmetro de “Assinatura Local” tem um de seus itens atendidos, o
que não ocorre com o de “Entrada Convidativa”. A relação que se obtém entre os parâmetros é
apresentada na Figura 77: Observando-se o parâmetro 23 por completo em visitas à edifícios
escolares, o parâmetro 2 pode existir, existir parcialmente ou não existir, enquanto a presença
total do parâmetro 2 implica na presença completa ou parcial do parâmetro 23.
um indicativo de não existência do parâmetro, assim como salas de aula tradicionais com
janelas apenas para áreas externas da escola também não se adequam ao especificado neste
parâmetro. Por outro lado, caso as salas de aula possuam, por exemplo, aberturas que garantam
visibilidade para áreas adjacentes e sejam distribuídas ao redor de uma circulação para estudos
informais, significa que um dos itens da descrição do parâmetro 9 foi encontrado.
Enquanto no parâmetro 9 são observados alguns ambientes específicos, para as
considerações do parâmetro 10 foram considerados a existência de elementos arquitetônicos
(janelas/portas/paredes) que propiciam vistas. De acordo com as definições deste parâmetro, a
conexão pode ser unicamente visual, sem que os espaços estejam conectados fisicamente (pela
ausência de barreiras, como paredes). As vistas para descansar a visão e o uso de vidro são os
elementos básicos observados e, por isso, deve-se considerar o alcance da vista. Assim, em um
caso onde as únicas janelas da sala têm visual para a parte a parte externa da escola, mas interna
do sítio com alcance para os muros, este parâmetro fica comprometido. Da mesma forma, se
existem janelas tanto para o exterior, quanto para o interior, mas estas são janelas com peitoril
maior do que o ideal para garantir vistas (1,10 a 1,20m), também significa falha neste parâmetro,
já que os horizontes de visão são restritos. Em alternativa, ao existir grande janela de um
ambiente estudo para outro adjacente, o parâmetro pode ser percebido, enquanto no caso de esta
janela se voltar para um corredor usado apenas como passagem, a conexão é falha, e, por isso,
o parâmetro 10 é registrado como encontrado parcialmente (o elemento arquitetônico existe,
mas o ponto de conexão não proporciona vistas de interesse).
No que diz respeito ao parâmetro 12, há outra abordagem para as observações. As
considerações dizem respeito a alguns ambientes específicos, como no parâmetro 9, mas com
relação a ambientes externos e sua conexão aos internos. Nesse parâmetro deve ser possível o
contato (conexão física, acesso) a elementos naturais, seja hortas, jardins, áreas arborizadas,
entre outras. Recomenda-se que toda a implantação da escola tenha como base um projeto
paisagístico com áreas livres com vegetação. Além disso, deve haver conexão física direta (sem
paredes) e, por consequência, visual entre áreas internas e externas (como uma sala que se abre
para um jardim, um terraço, varanda, por meio de abertura generosa, ou pela criação de salas
ao ar livre, em espaços abertos. Essas conexões físicas devem ser facilitadas, sem barreiras,
como portas permanentemente fechadas ou contato apenas por janelas. A relação entre os três
parâmetros (9, 10 e 12) pode ser vista na Figura 78.
167
especialista pode ocorrer com participação dos alunos quando estes realizam atividades
propostas pelo professor, como pequenas pesquisas para o assunto abordado, ou projeto manual
de curta duração para o momento da aula.
Notou-se a ausência de modalidades de aprendizagem voltadas especificamente a
atividades físicas (como nas aulas de Educação Física) ou relacionadas a jogos. No momento
das observações, estas atividades foram consideradas inseridas nas modalidades 2 ou 3, a
depender do exercício e em aprendizado social/emocional, MA#15. Em alguns casos, também
houve registro destas como performance, da modalidade 11. Entretanto, notou-se que uma nova
modalidade para enquadrar as atividades físicas e jogos melhor descreve o que de fato ocorre
nesses casos.
Há duas modalidades cujos conceitos demandam melhor definição de significado:
“Aprendizado por performances e música” e o “Aprendizado por arte”, correspondentes às
modalidades 11 e 16 respectivamente. Na primeira, considerou-se também as questões de
atividades físicas. Além disso, considerou-se performance toda expressão artística similar a
teatro ou dança. Para os trabalhos de arte da MA#16, ampliou-se seu entendimento para além
de pinturas (quaisquer tipos de pintura, com tintas, giz de cera, lápis, entre outros). Entendeu-
se arte também como o contato e produção de esculturas, cerâmicas, trabalhos com tecidos,
vídeos, filmes, entre outros. Apesar de se considerar música e performance como parte de
expressões artísticas, aqui elas permaneceram separadas, consideradas apenas na MA#11, a fim
de seguir o raciocínio do autor-base (LIPPMAN, 2003).
Pelas observações e reflexões feitas as modalidades de aprendizagem, considerou-
se também ampliação de conceito da modalidade 15. A princípio, entendia-se o “Aprendizado
Social/Emocional” como algo que seria visto especificamente neste contexto, em atividades de
descanso, conexão interior, ou dinâmicas de cooperação. Entretanto, ao serem observados os
alunos em suas atividades em casos reais, percebeu-se que o aprendizado social está presente
em toda relação com o próximo, seja por trabalhos em dupla ou grupos e em contextos variados:
tocando instrumentos juntos, resolvendo um problema de matemática, construindo uma
maquete, etc. Por este motivo, o aprendizado social teve presença forte nos casos em que foram
observados trabalhos em grupo.
Outros desafios foram percebidos na classificação e registro das atividades como
MA#7 ou MA#9. A forma que estas acontecem é muito próxima, o que causa dificuldades em
sua diferenciação pela observação dos alunos ao realiza-las. Para sua distinção, é necessário o
posicionamento do pesquisador ao lado do aluno, para que seja possível contato visual do
equipamento utilizado e sua destinação. Outra maneira de ter ciência da atividade realizada
170
4.1 Aprendizado individual 4.2 Aprendizado em dupla com 4.3 Aprendizado em grupos
com professor professor com professor
5.1 Palestras com professor 5.2 Palestras com professor ou 5.3 Palestras com professor
ou especialista especialista com participação ou especialista com
dos alunos participação dos alunos e
atividades
18. Aprendizado por 19. Aprendizado por atividades 20. Aprendizado por atividades
projetos manuais interdisciplinares físicas e jogos
173
10. CONCLUSÃO
maneiras que os espaços podem ser utilizados. Juntas, estas representações têm como objetivo
dar suporte, ao principalmente ao arquiteto, no desenvolvimento de seu processo de projeto,
uma vez que esta é a linguagem do seu cotidiano. Nesse contexto, da busca por facilitar o uso
dos PPs e MAs, sua caracterização também foi aprimorada ao longo da pesquisa, o que impacta
tanto em sua aplicação na prática de projeto como em pesquisas dessa natureza (de análise de
edifícios educacionais e sua configuração arquitetônica). A análise mais a fundo dos conceitos
de parâmetros e modalidades, juntamente com as propostas de projeto citadas anteriormente,
são as grandes contribuições da pesquisa.
Dentro dos resultados e discussões levantadas sobre parâmetros de projeto foi
possível identificar aqueles essenciais para uma arquitetura escolar de qualidade e adequada ao
século XXI, bem como aqueles com grande impacto para a existência de maior variedade de
modalidades de aprendizagem. Os parâmetros 15, 16 e 17 (Campfire Space, Watering Hole
Space e Cave Space) facilitam, quando existentes, grande número de modalidades: estudos
individuais, em duplas ou grupos, ou atividades artísticas, para citar algumas. Além destes, os
parâmetros relacionados a conexão de diferentes áreas da escola são importantes para garantir
a comunicação entre os usuários que utilizam estes ambientes. Os parâmetros 9 e 12
(Transparência e Conexão entre espaços externos e internos) valorizam o uso de conexões tanto
físicas quanto visuais. O PP#14 (Espaços Flexíveis) auxilia na incorporação dos conceitos de
abertura e inclusão ao mesmo tempo que promove a possibilidade de utilização de um mesmo
espaço para diversas funções, o que facilita o uso da escola por completo.
Para valorizar a realização de diferentes atividades em um mesmo espaço, também
é importante que o parâmetro 1 (Salas de aula, ambientes de ensino e comunidades pequenas
de aprendizado) seja considerado como um ponto-chave do projeto. Trabalhar com esse
parâmetro significa criar espaços que atendem à dinâmica de uso de um ambiente de ensino-
aprendizagem, a movimentação dos usuários e as atividades propostas, incorporando
características do parâmetro 18 (Projetos para múltiplas inteligências). Além destes, na
arquitetura escolar contemporânea, conceitos de sustentabilidade são inerentes, o que é atendido
aos serem utilizados os parâmetros 19 e 20 (Iluminação e Ventilação natural). A Tecnologia
(parâmetro 11), por sua vez, é essencial no auxílio do desenvolvimento da educação do século
XXI e, por este motivo, o ambiente deve estar preparado para recebe-la, com a maior variedade
possível. Dessa forma, 11 dentre os 29 parâmetros apresentados têm destaque quando o objetivo
é desenvolver um projeto escolar que apresente condições adequadas para atender, com
qualidade, as diferenças inerentes de cada um dos usuários no processo de ensino-
aprendizagem.
175
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ANEXO I
188
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