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Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central –

FECLESC

DISCIPLINA: Oficina de Instrumentos didáticos


EQUIPE: Diones Souza Braz, Luiz Henrique de Oliveira Filho
PROFESSORA: Camila Imaculada Silveira Lima
CURSO: Lic. Plena em História

QUIXADÁ – CE
2020
DEBATE TEÓRICO E METODOLÓGICO

Para a confecção desse instrumento didático, decidimos abordar a temática das


relações étnico-raciais no Brasil, tendo como pano de fundo a canção ‘racismo é
burrice’ do Rapper Gabriel o pensador. É notório que a canção “Racismo é burrice é
uma crítica a prática de comportamentos racistas, preconceituosos e discriminatórios
em geral na nossa sociedade.

Sabemos que preconceito e discriminação racial no Brasil não são coisas existentes
apenas na nossa contemporaneidade. Apesar de termos hoje em dia grande
ascensão dos movimentos sociais, negros, lutas por classes e igualdade de direitos.

Não seria de admirar enxergar os alarmantes índices de desigualdade existentes em


nosso país. Para onde olhamos podemos perceber frutos dessa desigualdade.
Apesar da conquista de espaço das minorias, que diga-se de passagem vem
crescendo gradativamente graças a expansão dos movimentos sociais e da luta de
classe, o negro ainda assim ocupa uma posição de desprezo: são a minoria nas
universidades, os menos remunerados, a maioria da população carcerária e os que
mais são mortos pela polícia.

Sem dúvidas, tais mazelas citadas acima, são frutos do extenso período
escravagista no Brasil que perdurou por mais de 300 anos. Ainda que por meio da
Lei Áurea o direito a liberdade fosse assegurados aos nossos irmãos escravizados,
ainda hoje a população negra, pra ser mais enfático; o Brasil, vive acorrentado a
uma sociedade extremamente racista e preconceituosa na qual o negro, como
desde os primórdios da colonização, foi posto em um lugar de inferioridade ao
homem branco.

As práticas discriminatórias citadas pelo rapper na música, é considerada como falta


de inteligência por parte da população. Tal afirmação pode ser percebida em
diversas frases na composição: ‘racismo é burrice”, “se você é mais um burro não
me leve a mal”, “burrice coletiva”, etc.
METODOLOGIA

Pretendo através deste material didático aprofundar os conhecimentos sobre a


importância da discussão das relações étnico-raciais no ensino e na construção da
sociedade bem como entender as consequências que a omissão desta temática
pode trazer a nossa sociedade.

Para aprofundar o conhecimento e deixar a aula mais interativa farei uso da referida
música dialogando com alguns autores contemporâneos que abordam a temática
das relações étnico-raciais e a partir deste dialogo falar da implantação da Lei
10.639 e bem como da importância da referida lei nos estabelecimentos de ensino
do Brasil.

Além disso, pretendo evidenciar alguns dados no que se diz respeito a população
negra e evidenciar a realidade da população negra no contexto na qual esta está
inserida, fazendo uma análise simultânea com as informações repassadas através
da música.
ROTEIRO

1. QUANDO TUDO COMEÇOU?


Acredita-se que por volta de 1538 os primeiros ou o primeiro navio
carregado de escravos atracava em terras brasileiras, mas precisamente na
Bahia, dando assim, início ao tráfico negreiro no Brasil. Lucrativo e de
“investimento” barato, a escravidão no Brasil perdurou por incríveis 300 anos.
Isso mesmo, 300 anos. Durante três séculos a população africana e afro-
brasileira foram sendo dizimadas pelo maior regime escravagista da américa.
Durante todo o período escravagista brasileiro, acredita-se que cerca de
4,8 milhões de africanos foram forçados a deixarem suas terras e serem
escravizados no Brasil. Número que poderia ser ainda maior se não fosse a
grande quantidade de óbitos registrados durante as travessias do atlântico. É
o que afirma o Prof. Vítor Hugo Garaeis em um editorial na internet:

Eles eram capturados nas terras onde viviam na África e


trazidos à força para a América, em grandes navios, em
condições miseráveis e desumanas. Muitos morriam durante
a viagem através do oceano Atlântico, vítimas de doenças, de
maus tratos e da fome.
Disponível em: https://www.geledes.org.br/historia-da-escravidao-negra-
brasil/

Hoje, o Brasil tem a segunda maior população negra do mundo e maior fora da
África. Apesar da grande miscigenação presente em nosso país, da maioria da
população ser negra, ainda assim a discriminação racial é uma das grandes mazelas
do nosso país. Discriminação que está presente em todas as camadas da sociedade
e que afetam diretamente todos os setores da sociedade.
Após longos anos de escravidão, o tráfico negreiro para o Brasil, enfim parecia
chegar ao fim. No decorrer de décadas que antecediam a criação da Lei Áurea,
diversas medidas já vinham sido adotadas com o intuito de pôr fim de vez a
escravidão: Lei Eusébio de Queiroz promulgada em 1850 e que proibia o trafico
negreiro para o Brasil e em seguida, já no ano de 1871 a Lei do Ventre livre que
garantia liberdade aos filhos de escravos que nascerem a partir da data de
promulgação da Lei.

2. LIBERTOS E...

Em 1888 a Lei Áurea é finalmente assinada, pondo fim a escravidão no Brasil. Em


meio a abolição da escravidão um outro problema passaria a existir no Brasil: o que
fazer com as centenas de milhares de negros que outrora eram escravos? Sem
renda, sem lar, o que seriam destes?

Diante de condições sub humanas na qual foram submetidas mesmo após a


“libertação” a população negra passou a ocupar as ruas das grandes cidades
brasileiras, em especial o Rio de Janeiro. Estavam libertos, mas famintos, sem lar,
sem dinheiro. Para não morrer de fome, a solução era roubar alimentos para
sobreviver.

Como podemos perceber, não bastava libertar os escravos, era necessário criar
políticas que inserissem o negro na sociedade. Mesmo após a abolição, grande
parte dos libertos decidiram se sujeitarem a trabalhos em condições análogas ao
trabalho escravo. Quase sempre trocava mão de obra em troca de alimento. Mesmo
após a promulgação da Lei Áurea, a atividade escravista perdurou ainda por alguns
anos no Brasil.

A falta de política de inserção do negro, reflete o que vemos hoje em nossa


sociedade, embora que a largos passos as coisas vem caminhando para uma
melhoria e uma maior inserção da população negra no acesso aos diversos meios
na sociedade.

Publicada em 29 de agosto de 2012, a Lei 12.711 mais conhecida como Lei de


cotas, assegura um percentual das vagas ofertadas nas universidades federais
brasileiras a pessoas declaradas negros, pardos e indígenas. Tal ação resultou em
um elevado numero da população negra e de baixa renda no acesso a universidade.
No ano de 2014, pra ser mais preciso, em 9 de junho de 2014 a Lei 12.990 é
sancionada pela então presidente da república Dilma Rousseff, reservando aos
negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas em concursos públicos para
provimentos de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração
pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e
das sociedades de economia mista controladas pela União.

3. DISCUTINDO AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS POR MEIO DA MÚSICA

Racismo É Burrice branco


Gabriel O Pensador Aliás, branco no Brasil é difícil, porque no
Brasil somos todos mestiços
Salve, meus irmãos africanos e lusitanos, do Se você discorda, então olhe para trás
outro lado do oceano Olhe a nossa história, os nossos ancestrais
O Atlântico é pequeno pra nos separar O Brasil colonial não era igual a Portugal
Porque o sangue é mais forte que a água do A raiz do meu país era multirracial
mar Tinha índio, branco, amarelo, preto
Racismo, preconceito e discriminação em Nascemos da mistura, então por que o
geral preconceito?
É uma burrice coletiva sem explicação Barrigas cresceram, o tempo passou
Afinal, que justificativa você me dá para um Nasceram os brasileiros, cada um com a sua
povo que precisa de união cor
Mas demonstra claramente Uns com a pele clara, outros mais escura
Infelizmente Mas todos viemos da mesma mistura
Preconceitos mil Então presta atenção nessa sua babaquice
De naturezas diferentes Pois como eu já disse racismo é burrice
Mostrando que essa gente Dê a ignorância um ponto final
Essa gente do Brasil é muito burra Faça uma lavagem cerebral
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria
agido de forma mais consciente Racismo é burrice
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no Negro e nordestino constroem seu chão
peito Trabalhador da construção civil conhecido
A elite que devia dar um bom exemplo como peão
É a primeira a demonstrar esse tipo de No Brasil, o mesmo negro que constrói o seu
sentimento apartamento ou o que lava o chão de uma
Num complexo de superioridade infantil delegacia
Ou justificando um sistema de relação servil É revistado e humilhado por um guarda
E o povão vai como um bundão na onda do nojento
racismo e da discriminação Que ainda recebe o salário e o pão de cada
Não tem a união e não vê a solução da dia graças ao negro, ao nordestino e a todos
questão nós
Que por incrível que pareça está em nossas Pagamos homens que pensam que ser
mãos humilhado não dói
Só precisamos de uma reformulação geral O preconceito é uma coisa sem sentido
Uma espécie de lavagem cerebral Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
Me responda se você discriminaria
Racismo é burrice O Juiz Lalau ou o PC Farias
Não, você não faria isso não
Você aprendeu que preto é ladrão
Não seja um imbecil Muitos negros roubam, mas muitos são
Não seja um ignorante roubados
Não se importe com a origem ou a cor do seu E cuidado com esse branco aí parado do seu
semelhante lado
O quê que importa se ele é nordestino e você Porque se ele passa fome, sabe como é
não? Ele rouba e mata um homem
O quê que importa se ele é preto e você é
Seja você ou seja o Pelé

Você e o Pelé morreriam igual Transmitindo a discriminação desde a infância


Então que morra o preconceito e viva a união E o que as crianças aprendem brincando
racial É nada mais nada menos do que a estupidez
Quero ver essa música você aprender e fazer se propagando
A lavagem cerebral Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo
de racismo - se justifica
Ninguém explica
Racismo é burrice Precisamos da lavagem cerebral pra acabar
com esse lixo que é uma herança cultural
O racismo é burrice mas o mais burro não é o Todo mundo que é racista não sabe a razão
racista Então eu digo meu irmão
É o que pensa que o racismo não existe Seja do povão ou da elite
O pior cego é o que não quer ver Não participe
E o racismo está dentro de você Pois como eu já disse racismo é burrice
Porque o racista na verdade é um tremendo Como eu já disse racismo é burrice
babaca
Que assimila os preconceitos porque tem Racismo é burrice
cabeça fraca
E desde sempre não para pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe E se você é mais um burro, não me leve a mal
ensinar É hora de fazer uma lavagem cerebral
E de pai pra filho o racismo passa Mas isso é compromisso seu
Em forma de piadas que teriam bem mais Eu nem vou me meter
graça Quem vai lavar a sua mente não sou eu
Se não fossem o retrato da nossa ignorância É voce

REFERÊNCIAS

MENDES, Henrique. Sancionada há cinco anos, lei federal de cotas muda a cara do ensino superior.

G1 BA, 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/bahia/noticia/sancionada-ha-cinco-anos-lei-federal-de-cotas-

muda-a-cara-do-ensino-superior-era-muito-limitado.ghtm l. Acesso em: 13/04/2020

Lei n° 12.900 – Planalto. Planalto, 2014. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12990.htm. Acesso em: 14/04/2020

HUGO, Vítor. A História da Escravidão Negra no Brasil. Geledes, 2012. Disponível em:
https://www.geledes.org.br/historia-da-escravidao-negra-brasil/. Acesso em: 14/04/2020

SILVEIRA, Renato da. OS SELVAGENS E A MASSA PAPEL DO RACISMO CIENTÍFICO NA MONTAGEM DA


HEGEMONIA OCIDENTAL. Afro-Ásia, Salvador, p. 87-144, 2000. Disponível em:
https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/20980/13582. Acesso em: 16 abr. 2020.

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