Você está na página 1de 21

SERVIÇO DE CENSURA DE DIVERSÕES PÚBLICAS / RJ

; ' *. SÉRIE: SERVIÇO DE CENSURA (CENSURA

PRÉVIA)

SUB SÉRIE: PEÇAS TEATRAIS

NOTAÇÃO: fig.fr ^ Tn cçr r - m

TÍTULO: :

CERT. N°: -

ANO:
BRAN.RIOTN.CPR.PTE_ p 3

0 PAÍE DOS i'C J. S E OS tem ume serena, calma peografia, Desdo-

bram-» se as suas terras, infinitamente, campos encadeados, plainos


A
sucessivos, com seus molassos abichornados. Arqueiam-se sobre elas

grandes e belos ceus, alombados e profundos.


f f
Nesses campos espmeos, pardacentos, vagabundeiam alimanas e

cobras. Habitam-nos rudes gentes antigas, afeitas os solicoes .de

corpo e alma. No esplendecencia azul dos espa.ços e tempos.

A forma dos seus cha.neus, do couro do boi e do veado, e a de u


x
ma meia-lua emborcada. Fulguram ao sol do dia, a luz da noite, em

papaceias e cruzetas de ouro e prata.

Nessa diáspora geográfico confinam-se os campos em rutilos oca

sos e amanheceres. Talham-se, nos horizontes, perfis de ossacuras

e arcavouços, de matos garranchentos e de arcanos ensolarados.

É o mundo brasileiro das ardencias recurvas, concavo, convexo,

de puríssimas poalhas em escarlate e azul.

Bandos de negras aves numerosas esculpem rodopios ao acaso dos

ceus, pelo espaço mudo, parado de eternidade.

TERRA PAUPIjR: I’A. E, o que mais impressiona, e o seu silencio.


a
Aquela solidão dardejante, aquele mar de quietude e cinza,onde se
A f
escutam, por vezes, vagos sons cavos e monocordicos.

Horas a fio as solidões se concentram, entre moles de pedra, ,

distendidas em serranias que lembram um cemiterio intempor 1 na

face da terra. É, pois, reino de numeroso silencio, intransfigura

do reino em que as horas se sucedem monotonas e só elas renovam ,

nas cores do dia e da noite, a imutabilidade do ceu e da terra.

Não tendo rios perenes, ali não se conhece, senão no tempo das

chuvas, o murmúrio das águas.

QUANDO 0 INVERNO e bom , fagulham os arco-iris.

Eleva-se do chao molhado, das moitas relentadas,um denso ar de

verdura, impregnando as coisas.

Infiltra,-se a luz sola,r pelo espa.ço toldado, fazendo rebrilhar

gotículas e verdes.

Relincha o jumento, corre o cavalo, empinando no pasto, o gado


:
BR AN.RIOTN.CPR.PTE p. I*

se torna multívago.

Então; os sapos "berram, agachados pelos açudes e barreiros.Ve-

lhos sapos, olhos amortecidos, gordachos cururus, de fole grosso'

nas papadas»

ESTE o país nord.estino» Longas, silenciosas, adormecidas terras

de lápis-lazuli. Geografia, de fulguraçoes. As mesmas fronteiras da

seca e do cangaço. A leste, a chapada da Êorborema que tem, do Rio

Grande do Norte ás■Alagoas,nomes diversos. A oeste, o rebôrgo das

formações sedimentares do Brasil central, norte a sul perlongadasJ

invadindo-o pelo Maranhao e pelo Piauí, através da chapada da Ihia

paba, prosseguindo para o sul e fronteirando Bahia e Goias, com o

altiplano cretáceo do Espigai) Mes re, separador do Tocantins e do

Sao Francisco. Eo norte da Bahia para o sul, vai o pais dos nordes

tinos se estreitando numa ponta de lança que, marginando o rio Sao

Francisco, atinge o setentrião das Minas Gerais.

Os rios maiores, secos, de nomes indígenas, são o Jaquaribe, o

A
Aacarau, o çu, o Mossoro, o Pa.raiba do Norte, alem dos afluentes

são-franciscanos, como os pernambucanos P&jeú, Moxotá, e os baia -

nos Jacaré, Salitre, Vasa Barris, Real e Itapicuru.

0 clima e o tropica.l semi-árido que domina, soberano, o ar das

mudas, quietas, longas caatingas.

É o país natal do Capitão Virgulino Ferreira da Silva Lampiao,


A
onde ele viveu e morreu.
BRAN.RIOTN.CPR.PTE p Ç

FEIRA "OE CABEÇAS:


‘•A noite fecho-se. Era horas assim, seriam menos feroz-os os pen
1
sarnentos dc lampiao. 0 seu olhar se voltaria, enternecido para ía
ria Bonita. Que será feito dos corpos dissociados dessas cabeoas?
0 rosto de Maria Bonita, esbranquiçado por lhe haver caído a eoi-
d.erme, está sinistro. Onde andará o corno da amada de Lanoiao ?
A cara arre;oiadora, que mal entrevejo à luz nobre do crescente ,
nao me responde nada. E Lampiao ? Sereno, grave, trágico. 0 olho
cego, velado pela pálpebra, fita-me.

BEATO
- Daqui a cinquenta anos, um temente bandoleiro, varando pela.
caatinga, varando no tabuleiro, semeará morte e lenda no Mordeste
brasileiro.

FEIRA DO POVO
CAÍÍTADOR: Menina vou te contar
a história de un cangaceiro,
bicho bom do pe ligeiro,
lobisomem do sertão.
Comia moça donzela.,
rena.rr.va a injustiça,
estrangulava menino
por ato de diversão,
entrava nos povoados
e deixava em petição
de miséria o prepotente
vergado na punição.

De s ocupado, e rradio,
vagueou como um papao
por muitos anos a fio
nao buscou a salvaçao,
tinha grande protetor
o Padre Cícero Romao,
no lugar onde chegava
era vigário e juiz,
amancebado casava
e livrava o infeliz
que nas grades da cadeia
vivia curtindo peia,
delegado de polícia
escapava por um triz.

Nos doze pares de França


foi buscar inspiração,
BRAN.RIU rh. Ci-ft-PTÉ ^ p. ^

seu chapéu era igualzinho


ao do rei Napoleao,
o imperador Carlos Magno
houvera de ter paixão
valente como 01ive'rio,
"brigava como Roldão,
dos tempos mais recuados,
só Osório e Cipiao
podiam ser comparados
ao guerreiro lam pi ao.

"0 PERFIL"
POETA - Nestes autos vou narrar a vida de Lampiao, quem tiver oi-
ças , escute e faça- do coraçao a via- do entendimento,pois
nada vale a razao, sangue e terra se misturam em perpetua
comunhão, na linguagem do mistério dou a minha tracLuçao,
o demônio sobrevive no descendente de Adao, quem de si
nao o afugenta a-podrece na prisão, o homem nao nasce bom,
já nasce na expiaçao, se o anjo prevalecesse, já teria
morto o Cao.
CANTADOR - Marina se me dessem
o mundo para optar,
as riquezas do rei-sol
as arcas de Bagdá
as mulheres do Sultão
as caravelas do mar,
Oropa, França e Bahia:
pobre de mim, ô menina,
que nao posso governar
sequer o próprio destino,
minha alma comandar,
pelo dia, pela noite,
nas rede as do deus-dará,
ao sôpro desses poderes
que germinam pelo ar.
CEGO — Menina, esta dura rima foi sina que Deus rne deu, nao entoo
como dama fina de camafeu, meus versos sao oprimidos e nas
cem do peito meu, nao possuo luz dos olhos, mas conheço o
próprio eu, e nem por isso renego esta existência, de breu.
Por acaso nao sou um filho da solidão ? Sei que me falta o
olhar, mas não me falta a visão para entender e contar a vi
da de um capitao, que preferiu ser bandido a ser um grande
poltrao, a mesma alma atrevida de Alexandre e Cipiao, que
reviveu em Davi, o vencedor de Samsao.
MULHER- No entanto sua vida, podia ter sido outra, não era ele
cristão alimentado na fé, nao ora ele rebento de Maria g c,e
Jose, nao foi criança, inocente nos campos de Nazaré, homem
gerado no ventre e nascido de mulher ? Só não teve a paciên-
. cia do cego de Siloé.
HOMEM - Os que o viram de perto tinham lá sua razão, a gente
olha prá ele, nao vê cara e coraçao, a memória não re
siste e queda logo em confusão, e a gente se pergunta
se êle existiu ou nao, se teve começo e fim, ou foi sò
mente visagem, pode atá ser que retome sob forte in-
vocação, o grande mal assombrado, o duende do sertão
que tinha, o corpo fechado, ponteado de tostão.
MULHER - Nao era aranha de teia para findar na cadeia, condu-
zido numa rede aos sete palmos do chao. Nao foi
pássaro cativo, foi ave da solidão. Cometa de aço e
praia em céu de desolaçao, labareda de mistério, cha
ma de assombraçao, candieiro de pavio aceso na escu-
ridão.
HOMEM - Dormia de olho aceso chamegando a escuridão, piava co
mo coruja, rugia como lcao, pereira de vôo sereno ar-
ribava de manha, caiivo da passarada de campo de ja-
çana, nao era alto nem baixo, mas de estatura media.
CANTADOR : Menina vou te contar
a história de um cangaceiro
bicho bom do pé ligeiro
lobisomem do se ri ao.
Comia moça donzela,
reparava a injustiça,
estrangulava menino
por ato de di ve rs 0,0,
entrava nos povoados
e deixava em petição
de miséria 0 prepotente
vergado na punição.
Ainda vi no navio
0 velho Joao Vagalume
vivia, pedindo lume,
para acender o ca,chirabo.
Conheceu o Yirgulino
quando ainda era, menino
e dizia muito grave;
HOMEM - 0 amarelo foi chocado como se fosse uma ave, vai aca
bar no cangaço. 0 diabo comete entrave, magro, tinho
ao, arteiro, só usa ponta, de faca até prá tirar ar -
gueiro, Termina no formigueiro trespassado a, lambedei
BRAN,RÍOTN.CPR.PTE__- p. g

v. o
ra. Se vingar vai dar ruim, tirano c raparigueiro,
(Música: Incelença)
HOMEM - Orieundo do Pageií, foi morar em Nazaré', quando um clie
fe da volante matou o velho Jose', o nome de sua mãe era o da
Virgem Maria e foi tanto o seu pesar que morreu no mesmo dia.
MULHER : - Ferreira de Vila Bela era bom filho e irmão, teve
gado, teve terra, teve cerca de melão, burro, garrote, novi-
lho, sabiá e azulao, galo de crista vermelha, arapuá e alça-
pao, mestre de escola, oratório e santos da devoção, o meni-
no Virgulino, pegador de barbaiao.
HOMEM - Amansador de coragem reputava a profissão, seleiro
de fino gosto, soveleiro, sovelao, fazia como ninguém uma
pemeira, um gibao, tocava de oito baixos, sanfoneiro do
emoção.
HOMEM - O sargento Joao Maurício enterrou os dois velhinhos.
Lampiao pegou o rifle e armou-se pelos caminhos.

LAMPIÃO — No meio deste mundo, e deste mato rasteiro, a alma,


ficou liberta e o peito mais ligeiro no seu fundo respirar.
Sebastiao Pereira, e hora de caminhar. Nao haja mais um No-
gueira, sou aberto uma ferida toda ela consumida, como pasto
de bicheira.
MULHER - Sebastiao, qual e mesmo o que se chama Lampião ?
HOMEM - E este escuro, mulher, mas não alumia, não.
HOMEM - Sob a luz do candieiro apareceu Lampiao, o olho cego
varado no meio da escuridão, o fumaceiro escondeu a caro, do
Capitao.
LAMPIÃO - Eu me chamo Lampiao, mas e sd de brincadeira, quem
alumia é o tiro que eu dou na escuridão. Espoleta de macaco
e faísca de fogão, estala no meu punhal como traque de rojas.
Maria, me passa a brasa, vou aconder meu facao, com tiro de
bacamarte vou promover um festao, se me pegam vivo ou morto
querem ganhar promoção. Soldado, rosa vermelha, foi bala, no
coraçao. Acende a trempe, Maria, na umburama de cambas.
Tenho casa, tenho fome, bolandeira no Salgueiro, na. Serra da
Cana Brava o Coronel e coiteiro, na serra, do logradouro, o
compztdre e fazendeiro, nas furnas da Serra, Negra viro bicho
maloqueiro, no Limão, no Caninde, tenho cavalo estradeiro.
Suspiro pelo descanso no viver de cangaceiro, quero moça dc
janela em Custódia, e Tabuleiro.
CANTADOR: Foi peixe em Poço do Negro
graúna em Pelo Sinal,
foi onça na Camatuba,
RR AN.RÍQ TN.CPR.PTE " * / D. Cf

foi ema nas Aroeiras,


foi tatu no Pau de Porro
gato em cipó de Gato
e raposa nas Caieiras,
camaleao nos Serrotes,
coruja nas Cabaceiras/cabrito nas Roças Velhas
barbatao nas Cajàzeiras.
LAMPIÃO - Quero prata reluzente e sinos dc Salomao, quero tor-
nai enfeitado, argola, trinco, totão, quero prata, quero ouro,
quero cruzado e tostão, quero cantil areado, coter-
tao e patacao, medalhas do <Juiizeiro, da Virgem da Conceição,tu
do que trilha e retrilha nrá compor o neu trazao.
CANTADOR; Seu cavalo era um fidalgo
com narinas de trovão,
rufava como um tambor
na frente de um batalhao,
una pancada do casco
fendia a terra do chao,/nas cores de meio dia
era cinzento e eardao,
oro, de prata azulada,/era, vermelho alazao,
ancas de ouro c negro
rompe-nuvem do algodao.
mulher - Couro, b.ndo, papaceia,
o chao imemorial,
homem - 0 homem,caça dileta, refletido no punhal
mu lhe r A monte escura de bicho, ruminante e animal»
homem Cio ono, rifle, moedas, brilhantes dc minorai»
.mulher 0 punhado de farinha carne seca no tornai.

cena IX
Músico, - cantiga
Nos arcabouços do azul,
nos vermelho dos poehtes,
o sangue do inocentes
afogava o capitao,
0 a rc o- i ri s t ri lhavo»
no meio da imensidão
a chuva desceu do ceu
o milho subiu do chao,
os mortos dormiam em paz
nos campos da solidão.
Mais a parca ia no encalço,
no rastro d.e Lampiao.
BR AN,RIO TN.CPR.PTE Jíi£
—p- io

Homem - Pelos cê: linhos da noite, pelos caminhos do dia, as alperco-


tas de couro batiam no duro chao, e os rolos de pocira subiam
da imensida.0,
Mulher - As rodes avermelhadas entre selas e ,cangalhas e o cheiro sua-

rento dc alimárias exaustas.


homem - E na frente do comboio, reluzindo entro punh: is, o capitao
meio -dia, governador das gerais,
ócu - óculos., aneis, cinto lenço, rutilantes minorais, nomes de
guerra, afamados, inscritos nestes anais
Ezequiel o Livino
Fiapo,
J oao Game le i ro,
Juriti c Vitorino
Juiz Pedro,
Pitombeiro
Pinto Cego,
Come Cru,
Os quatro irmãos Marinheiro,
Jurema , Vicente Gago,
Serra Verde,
Lavandeiro
Antônio Quelc,
Bom de Ve lho,
Luiz Tor uato,
Pe rrciro
Ventania,
Tiri rica,
SUSpCit : .,
Tetóio,
Coqueiro,
Cobre. Verde,
Jararaca,
Cr vo Roxo,
Beija - Flor
Carrapic ho, Mao Fovei ro
B: reoín a,
Trcs Melão
Marrec o,
Ze da Lagoa,
Vela Branca,
Mergulha o
Malagueta,
Moita Brava,
Serra d’ Uma,
BRAN.RIQTN.CPR.PTE X

- Azulão
- Fumaça,
- Gato,
- Corisco
- Salino,
- Pela,Trovão
- Pedro do Ingá,
- Asa Branca

* - Tanto ressoar de vozes e mugidos desiguais, tantas centelhas


de sol, longínquas, duras, gerais, tanta paisagem de cinza,
serpentários vegetais,
verde brejo, verde várzeas^ do magros canaviais, no escuro
das queimadas mansos ventos nordestinos povoam de sombra o
mundo das cancelas e currais
tema de lampi ao
homem - Capitao, ostao dizendo lá embaixo no arruado, que vosmicc c
corcunda, mulatos, desajeitado, bota um arco na cabeça, anda
de como emborcado, tem medo dc papa-ôvo, preá e de veado, sá
briga com anao de circo, cego, menino e aleijado.
Lampi ao - Esbarra aí, mao de grelha, sai prá lá com teu fuxico, eu posso
nao ser bonito, pore'm corcunda,, considero um desacato - vou arra-
zar essa peste1 Nao sou zebu nem camelo, nao sou toco de tioao,
sou Virgulino Ferreira,, o çapitão do sertão, sempre aceso neste
mundo de terror e me„ldiçao. 3&l me chamo laxipiao, ma,s e só de
brineaxLeira, acaba com essa besteira, deixe dc vadiaçao, quem
alumia e o tiro que eu dou na escuridão, mato andorinha voando,
quanto mais o gaviao, mato sargento, tenente, coronel e capitao,
caba frouxo da tua marca mato atá com bofetao.
musica de galope
estouro na cidade
incelença - cena das três redes)
Sentinela , irmão das almas,
o morto nao tem caixao»
seu corneteiro zambeta
toca clarim, chama o cao,
os meninos se arrepiam
com medo na escuridão,
apodreço nos carrascos
sem teto, água, sem pão,
fome nudez e dinheiro,
rosário bento e tostão,
o defunto dessa rede
quem matou foi Lampião
“fcAN.RiOTN.CHK.Kit
2Ü 14,

CENA X
"o assalto " - música - rumo sul
Lampiao — Viajante, tiro a venta do fundo desse malao, abra esse frasco
de cheiro, o elixir de alcatrao, quero pente, sabonete, toalha de
enxugar mão, quero relógio de ouro, o morim e o fustao, toda a
seda e o magote de vela branca e sabao
viajante - Capitao não tenho módo dessa, sua pabulagem, me õ.eixe seguir
viagem que tenho filho e mulher. Preciso ganhar a vida, nao sou
de vadiaçao, o setóior podo mc dar um tiro no coraçao, mas falo
a santa verdade,, nao sou de tapeaçao, só me meti nestes lados
£i ado no ca.pitao.
Lampiao- Va embora, viajante, que vou noutra direção, de lembranças ao
oceano que é da terra grande irmão, de adeus aos marinheiros
que fazem navegaçao, tambe'm eles como eu vivem na solidão, diga,
ao governador que nao largo este torrão, pode mandar a vontade
metralhadora e canhao.
cantador - Tangedord, lá vão as nuvens
nos rumos do Piauí,
carneirinhos de Jesus,
eu quero todas aqui.
Vaqueiro solte um aboio
que eu solto tres assobios,
chamo cobra, chamo vento,
apago a luz dos pavios,
atiro de baladeira,
de bodoque, de espingarda,,
minha pedra vai ccrt. ira
no rastro dessa manada.

CENA XI - O AMOR
música,— tema, de amor
lua, lua,, meia lua
sol, soleira, solidam,
luares de mortas luas
o luas do solidão,
na pisada, da caatinga,
no compasso do pilão.
mulher- Minha mae mc de uma lua, , vou atrás de Lampiao, o chapou de
virgulino e uma lua no chao.
mulher - Quero ser lua,marido, nos braços do Ca„pita,o, esquentar a, sua
rede nos invernos do sertao.
amor
BRAN.RIOTN.CPR.PTE -1 P-

Donzela
- Meu pai fiquei aluada com a luâ do sertão, vinha ou pela. estrada, espie
vi Lampião, corniboquc prateado, cheiro de mange jdjc ao, levou-me pela cin-
tura c me deitou no grotao, acordei desfalecida, lua nua em sua mao,
deixou-me marcas no ventre de revólver e cinturão. Vi quando ólo sumiu,
rasga mortalha piou, na cerca desse curral o anu preto pousou, quando
passei no barreiro, um grÉlo doido cantou, lavei meu corpo ferido , um
cururu se espantou. Sou um figo da figueira, passarinho mc bcsliscou.
Guriatã de coqueiro que bateu asa e voou.

a criança - música

tema de amor
donzela
- Capitao de muitas luas, de muito sol abrazado no amor do descampado
foi avo de arribaçao. Sua cabe$a era alada nos ventos do chapade.o.
Voa seu chapéu de couro em noite de apariçao, o filho do sua carne,
gerado na escuridão, passarinho de seu sonho, bateu asa em minha mao.
- gritos - Menino morto no açude - música
tema da incelcnça ( música)
mulher -
-Menino morto no açude, chuva levou paredão. Vela acesa na cabaça desliza
na escuridão. Galinha d'agua, fugiu, corisco, raio trovão, atras da
serra Vermelha houve um enorme clarao. Fui ver de perto a, cabaça em
águas de solidão, boiava na superfície, a cara de Lampião.

cabaça desliza no açude - fim aa la parte -

II PARTE
cena- encontro com Maria Bonita.
contador- tarde ele chegou
numa vila franeisenna,
a mulher do sapateiro
era muito leviana
largou os filhos pequenos
na casa de uma avó
e açoitou o cavalo
com um garrancho de cipó
e animal parecia,
coberto de ouro em pó,
sumiu na curva da estrada,
sem piedade nem dó.
homem - Capitão , tenha piedade dos meus filhos pequeninos. A mac deles
endoidotL, são doi coitados meninos. Maria, não vai emborr , tenha pena
da. crianças, tire esc. s granpos do dente. Desenrole estas trançe.s.
BR AN, RIO TN.CPR.PTE Q.

IOHEM - Capitão, essa rtulher tem parte com o demônio, alvoroça o imundo
inteiro. Vai lhe perder nas andanças. Nao e femea. que resista aos coe.
"bodes e matanças,
CANTADOR - A mulher do sapateiro
açoitou o sou cavalo
com um garranchv de cipó
o animal parecia
coberto de ouro cm pó
sumiu na, curva da estrada,
sem piedade nem dó

Re uma feita vinho, o bando


acossado pelo frio,
depa,rou com um casebre
abandonado e sombrio,
ô de casa, ô de dentro
ninguém respondeu, vazio.
A muito custo uma voz
s aiu d Cac[ue le s e pu lc ro
e no alpendre a,po,receu
um homem coig um capuz,
levantou o candieiro
Lampiao retrocedeu.
HOKEM - Capitão, morri em vida, já nao posso trabalhar, fui c-
rido da, cidade, escollii esto lugar. Estou leproso e doente, des
te mundo vivo ausente, ate nnnha hora chegar. Pcdjria ao Cart-
que tivesse compaixa,o, pois tenho filho e mulher tue nao me qro
renegar. Nao entre, seu Capitao, me deixe em paz, no sossego r
restos de solidem.
MUIHER - Todos haviam fugido com medo da, apa,riça,o; só Virgulizc
ficou ali na escuridão,
CANTADOR - Todos haviam fugido
com medo da a,pariça,o
só Virgulino ficou
ali na, escurida,o,
sob o capuz do leproso
a carne da podrida,o
n a p a.rt e di 1 a,c eraâa
dolorosa, expressão
Ele voltou a fadar:
na,o ent re , seu c apitao,
me deixe em paz, nosossêgo
meus restos do solidão.
BRAN.RIOTN.CPR.PTE >7,..

LAMPIÃO - Sete luas, setestrêlo, sctc volantes no chao, ceu azul


faço vermelho como ponta de tiçao, no Razo da Catarina sete ra_s
tros de leão, sete pe's de ventania prá fazer assomhraçao, meu
padrinho decretou patente de Capitao, sete dias demorei a beijar
a sua mao.
CENA - PADRE ClCERO
CANTADOR - Arribou do Araripe
em noite de escuridão,
* foi bater no Juazeiro
receber o seu galao,
ajoelhado no pó
fez ato de contrição,
quando avistou a cidade
do amor e do perdão.

MtfSICA - TEMA SACRO ( PENITENTES)


® PADRE CfCERO - A mãe do Cóu tc proteja, Virgulino Lampiao.
LAMPIÃO - Vim pedir a benção, padrinho do coraçao.
Padrinho, sou um ovelha que a vingança desgarrou, cumprindo o
fado cruel, pois o Ceu me desterrou, venho aqui como afilhado
pedir benção c o perdão, ando tao necessitado da, santa absolvi-
ção. Perseguido dia, e noite, torturado de afliçao, expulse- de
1
nòs , padrinho, esta grande maldiçao.
MNSICA : Houve um silencio e o padre
fazendo o sino,l-da-cruz
mandou que se ajoelhassem.
PADRE CÍCERO - Vai com Jesus, com Maria e com Jose'. Com a Senho
ra, das Dores e a. Virgem de Nazaré. Também o Cristo morreu pela,
^ nossa salvaçao e quando expirou no lenho, entre tontos sofrimen
tos legou-nos o seu perdão, Meus filhos, nao roubem mais, res -
peitem a mulher do próximo. Na,o furtes nem matarás, dizem as
Santa,s Escrituras, e nas lições destas puras lembrança,s de Nos-
so Senhor peço que cada um sofra calado a sua dor.
MUSICA: E erguendo as maos ao ce'u
novamente abençoou
apoiado num bastao.
0 grupo todo chorou.
PADRE CÍCERO - Comoveu-se o patriarca naquela situaçao dizendo;
ao terceiro dia subiu na ressurreição, dos cimos desceu o anjo
para guardar o sepulcro e quando a. Virgem chegou caiu em pranto
e chorou. 0 anjo, então, explicou que Deus havia chamado ao tro
no de suo, glória o seu filho bem-amado. Como ele, nós tambóm, lo
vantaremos do pó. Benta, cumprir o preceito de Deus, o Salvador
que redimiu cada um, carregando sua dor. Pelos séculos afora,
BRAN.RIOTN.CPR.PTE. -Pí Ç

PADRE CÍCERO - no vale de Josafá, quando descer o anjo c a trom-


beta tocar estarei ao vosso lado para o Cristo louvar.
( ENTRAM OS PENITENTES)
PENITENTES: No grande incêndio de Deus
na. terra sem pastores
os chocalhos renitentes
badalam■ nos corredores
em veredas pacientes.
Desconhecemos as flôros,
somos todos penitentes,
cantamos no esquecimento
benditos de pieda.de:
- Dar-nos chuva, bom Jesus,
salvar-nos da lniqttida.de
protegei-nos da. maldade.

MCSICA - (TEMA DE LAMPIÃO)


LAMPIÃO: Sou agora Capitão patriota do Ceará, tenho tanta muni-
ção como peixes tem o mar. Dona., arreio o vestido, vamos beber e
exhíxx dançar, bota. bra.sa., Cobra.-Verde, neste, ferro de engomar,
bicos de peito donzelo esta. noite vou queimar.
CANTADOR - Pensou no largo do Cra.to,
em terras do Coriri
nao tocou nessa, cidade
muito orgulhosa, de si,
comeu e bebeu h farta
gara.pa, mel e prqui,
paçoca., leite .alfanim,
graviola e murici
tomou água no Lameiro
cachaça do Buriti
nunca viu tanta, opulência
de Sergipe ao Piauí
Cumpria o santo preceito
com toda. o, vencra.çan,
no domingo ele a.campa.va
rm causas de devoça.o,
quantan pedras foram aras
da Virgem da. Conceição .'
Puxa.va. têrço c novena,
com humilda.de c contriça.o,
* das almas do outro mundo
fazia a enconenda.ça.o,
vivia, soiiprc pensando no pai morto
e no irmão.
BRAN.RIOTN.CPR.PTE " qJ -P-

CANTADOR - Capitam nao arre faça


no canto da siriema,
nao apegue a luz da morte,
Vi rgulin o Lrxipi ao.
LAMPIÃO - Sao bodes ou cqo profetas que andam polos cemados ?
HOMEM - Capitao, na.o a.rrefaça. no canto da, siriema,, nao apague a,
luz da, morto, Virgulino Lampiao.
LAMPIÃO - Salino, nossos destinos sao como rios seca,dos, seixos
f nessas planucas, cacimba, dc ama,igura.s, tristes, va,zios, nirra,dos.
Sao macacos da coluna,, ou cabritos de sg amados ?
HOMEM - Sao ma,cacos da. coluna,,
LAMPIÃO - Nao vou gantar muniça,o com ta,o pobres dosgra,ça,dos.
CANTADOR - Capitao, na,o a,rrcfa.ça
no canto da, siriema,
nao a,paguc a luz da, morte
Vi rgu lin o Lampião
LAMPIÃO - Almocreve, de notícia, do Benjamim Abrao.o, o turco do
Juazeiro que se meteu no serta.o e veio Axx famer a, fita do bando
do Lampi ao.
HOMEM - Capitao, nao vi o gringo, man soube que no Ria.chão ondo
cie pernoitou, inchado como um pava.o, levava, muito retrato dos
homens do Capitam.
CANTADOR- Velha, ca.ta. gra.vcto
pa.ra, a.ccnder o axEfcmhM foga.o,
rendeira canta, cantiga,
costurando em solidã.o,
geme a, negra, sua.rcnta.
no batidum do pilã.o,
no estalido do rolho
burro anda em procissão.

Nao narro perversidades


que foram tanta,s, nao sei,
lembro o caso de Jor.o Nunes,
coronel pernambucano
que viajou amarrado
na ma.o, no pc, no tutwio,
na. barriga, de uma. besta,
a.tú perto do Tucano
Da. morte livrou-se ôle
por causa, dc um soldado
que la.rgou a, sãa túnica,
depois de haver dcserta.do
se despojando da. farda
pela. vida. dosregra,da,
BRAN.R10 TN.CPR.PTF
P-IS

CANTADOR - Atacou a baronesa


levou j óias, pe drarias,
todo gado do curral
e toda a cavalaria.
A nobre de igu a.-Branca
ficou pobre num só dia,,
o a,to de ma.lv ade z a
acabou com a baronia.
0 fato repercutiu
do Ceará à Bahia,
pouco depois do assalto
Antônio Porre ira morria

No cerco de Mossoró
recuou cojjp grande espanto,
o sino repicou tanto,
de ódio verteu o pranto
mais pr,recia um encanto
das forjas de sntan as
Nesta cidade maJxilt a/sofreu reves e desdita
de que nunc a se curou.
Picou mais ensimesmado
no seu silencio trancado
e nunca, mais se animou,
as unhas foram srcsccndo,
a ca.bcleira. aumentando.

No raso da Catarina,,
quarentas léguas de cha,o,
desceu um bicho do ceu,
envolto nco combusta.o,
trouxe água., trouxe pão,
foi assim que ele varou/aquele grande sertã.o
Êste e um feito de gênio
na história, do Capitao
sao os mistérios que cercam
a humana, condigas.
INCELENÇA ( MtfSICA) PÜNERAL
HOMEM - Antônio Ferreira morreu, Ezequicl Ponto—Pino, foram todos
a.o divino corapa.o do Redentor.
MULHER - 0 Ca.pitao Virgulino, sofrendo a imensa, dor, com sua, asa
de morcego sabia, que no esplendor â os irmã.os nã.o entrariam, nas
no reino do horror , onde o anjo decaído vivo no etemo torpor.
HOMEM : Cumpria o santo preceito com toda. a veneraçã.o.
BRAN.RIOTN.CPR.PTE p
-

MULHER : No domingo ele acampava cm cens as do devoção, quantas


pedras foram aras da Virgem da Conceição
HOMEM - puxava terço e novena com humildade e contrição
MULHER - Das almas do outro mundo fazia a encomondaçao. Vivia
sempre pensando no pai morto c no irmão.
CANTADOR Alvores da madrugada,
nos ermos da solidão
estrela bela cadente
tombando no ceu luzente
MULHER - Mas a grota dos Angicos foi a sua perdição. Maria bem
\ que dizia: aquilo tem maldiçao. Estava tao reduzido, em tao ruim
situação, tao deprimido e doente, era ta.o grande a aflição que
na,o mais se separava do um frasco de veneno do tamanho de un
breve pendurado junto ao peito, na altura, do coração.
PÁRA A MtfSICH S I L *E N C I 0 (tiroteio)
MUSICA: Existiu na natureza
como o ar na amplidao,
como xgux o lume e o braseiro
como a água c o clarão,
do pá da terra, oriundo
ficou sòzinho no mundo,
perdido na criaçao.

MULHER - Cavalgando nas auroras, en remotos inccndidos, no vi-


ver dos perseguidos, nos calcanhares do dia, o olho fundo vaza-
do, sen retençoc dos outroras, capitar do meio-dia,, governador
dos gerais, foi Virgulino Ferreira, de alcunha, Lampião, que
nasceu cm Vila Bela,, prá varar a solidar.
CANTADOR- Poí esse o último dia
que viveu por essa, terra
quando a noite terminou
logo o fogoc começou,
c aindo ens anguent ado
a, mulher se e.joclhou
e foi suplicando
a, Deus do Cáu o perder.
AÍ nar se viu mais nada
foi completa, a cscuridar
Maria, ®cia. morreu
ar lado de Lampiar.
TEMA - INCELENÇA
HOMEM - 0 sol tinia, na lamina, do faraó, quando o tcn&nte curvou-
1 se prá, deccpar Lampião, tem piedade de nos, Senhora, da Conceição,'
BR AN.RIO TN.CPR.PTE H l p

x MULHER : Urubus for® chegando, era grande a multidão, começou a


trajetória em cima do caminhas, o circo mais esquisito que já pas
sou no Sertão.
HOMEM - Onde está Mania. Bonita com seu porte de pa.vao ?
MULHER - É agora, uma serpente nas profundezas do chão, Eva. do in-
ferno sombrio, rainha da, tcnta.ça.o, onrosca.de, nos cabelos, no rosto
do Oapitao, que noste inundo de Deus alisaste com o, não, quom nesta,
claridade se lembre. da csÊuride.o ?
HOMEM - Corpo agora, sen cabeça, virou a.Iria do outro mundo, medusa
de um profundo sono sen amanhecer
V
- No pe.ís dos Nordestinos
- de agouros infinitos
- a.inda. se ouvem os gritos dc seu feroz combater
- na. toada das rendeiras
- na voz do cego das feiras
- n peito quente do povo
- espera, o seu renascer
CANTADOR - No país dos nordestinos
dc agouros infinitos
ainda, sc ouvem os gritos
de seu feroz combater
na toada, das rendeiras
na voz do ccgo das feiras
o peito quente do povo
espera o sou renascer.

Você também pode gostar