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Apocalipse 9

Primeiro ai/quinta trombeta (9.1-11)

O primeiro dos dois juízos em 9.1-19 Fala de uma invasão particularmente terrível de
gafanhotos sobrenaturais saindo do "poço do inferno" (o abismo), que acumularão
torturas contra os habitantes da terra durante cinco meses. Há duas ênfases: (1) os
demônios se voltam contra as próprias pessoas que os seguem e demonstram seu total
desprezo e sua crueldade incomparável ao torturarem seus adoradores: (2) Deus está
no controle e dirige completamente o evento. Como Kiddle (1940: 158) afirma, "ao
exaurir todas as tentativas de levá-las (as nações) a tomarem consciência de sua
situação, Deus demonstra sua soberania, vindica sua santidade e justifica sua sentença
final de condenação”.

(1) O anjo-estrela que caiu sobre a terra abre o abismo (9.1)

9.1 Depois de soar a quinta trombeta, uma estrela caída do céu na terra recebeu a
chave do poço do abismo. A estrela é um anjo; mesmo caída, ainda permanece um
instrumento para fazer a vontade de Deus (a chave do poço do abismo foi dada pela
autoridade de Deus). O abismo representa o caos das águas; na mitologia do Antigo
Oriente, elas eram personificadas no poder do mal que se opunha aos poderes do céu,
e assim passou a denotar a moradia dos agentes demoníacos. Em 20.1-3, é o lugar em
que Satanás é lançado e aprisionado.

Assim aqui a referência à chave indica que todos os seus habitantes estão firmemente

debaixo do controle de Deus.

2-4 O fato de que subiram nuvens de fumaça do poço como fumaça de grande fornalha
tem a intenção de transmitir a impressão de uma nuvem de gafanhotos em progressão.
A comparação dessas hostes de demônios a gafanhotos ecoa a visão de Joel 2.1-10,
em que o texto diz que os exércitos de gafanhotos parecem cavalos correndo em
batalha, "estrondeando como carros", atacam como homens poderosos, escurecem o
céu e têm presas como leões.

Além dessas características, João declara que os gafanhotos têm o poder para ferir
como os escorpiões da terra (cf. 9.10).

Gafanhotos comem vegetação e não fazem mal algum a seres humanos, mas esses
gafanhotos ignoram a vegetação e atacam as pessoas, mais precisamente aos homens
que não têm o selo de Deus sobre a fronte (eles, ao contrário, têm a marca da besta; cf.
13.16). Cinco meses é o tempo normal de vida de um gafanhoto (primavera e verão),
mas a visitação deles a qualquer lugar específico é mais limitada no tempo.

v11 O seu rei é chamado Abadom em hebraico, mas Apoliom em grego. Aquele denota
as profundezas do sheol no AT e significa "destruição". Este está próximo do verbo
grego apollumi, "destruir", mas pode bem ser compreendido como uma variante de
Apolo, que autores gregos derivaram de apollumi. O culto a Apolo usava (entre outros) o
símbolo do gafanhoto, e os imperadores Calígula, Nero e Domiciano afirmavam ser
encarnações de Apolo. Se isso estava na mente de João, a ironia da quinta trombeta é
surpreendente: a hoste destruidora do inferno tinha como seu rei o imperador de Roma!
(O paralelo efetivo disso está em 17.16-18.)

13,14 Quando é tocada a sexta trombeta, vem uma voz procedente dos quatro ângulos
do altar de ouro que se encontra na presença de Deus. Dessa forma, é associada com
o grito dos mártires debaixo do altar no céu (6.9,10) e as orações dos santos na terra
por libertação (8.4,5), embora deva ser entendida como a voz de Deus que responde às
orações do seu povo. Os quatro anjos que se encontram atados junto ao grande rio
Eufrates devem ser soltos. Esse rio formava, junto com o Nilo, os limites ideais da terra
prometida a Israel (Gn 15.18).

Também formava o limite oriental do Império Romano, e além dele estava o Império
Parta (ou Persa), a única potência militar do mundo que tinha derrotado Roma
decisivamente e que Roma tinha razão para temer. Os judeus olhavam para essa região
à espera de exércitos do Norte para invadir a Palestina.

Os quatro anjos, no entanto, não controlam nenhum exército humano, mas uma força
demoníaca terrível, invadindo não a terra prometida, mas o mundo ímpio sem Deus

15 Nada no programa de Deus é acidental. O momento preciso dessa invasão é


estabelecido. 16 O número dos exércitos da cavalaria é apresentado como sendo de
vinte mil vezes dez milhares, ou seja, 200 milhões. Esses e outros cálculos semelhantes
são inspirados por Salmos 68.17 (o número dos carros de Deus quando ele veio do
Sinai) e Daniel 7.10 (o número de anjos que vêm com Deus para o julgamento). O
exército demoníaco serve ao propósito de Deus tão verdadeiramente quanto as hostes
angelicais.

17-19 A destruição dos cavalos e cavaleiros é aterrorizante, inconcebível e revoltante.


Estranhamente são os cavalos que aterrorizam e destroem; os cavaleiros e cavalos
parecem se fundir em uma unidade, mas o seu poder destrutivo (que vem do fogo,
fumaça e enxofre) sai da boca dos cavalos. Essas criaturas não são da terra; fogo e
enxofre pertencem ao inferno (19.20; 21.8), assim como a fumaça é característica do
abismo (9.2).
20,21 A praga não consegue produzir um efeito “positivo” no mundo hostil a Deus; as
pessoas persistem na idolatria, com os seus males resultantes, e não chegam ao
arrependimento. Como devemos interpretar essas representações tão extraordinárias
dos primeiros dois "ais"?

G. B.Caird sugere que "neles há uma declaração teológica das mais importantes: que
as forças do mal têm um imenso exército de reserva, do qual podem ser reforçadas
constantemente, assim que nenhuma ordem terrena pode encontrar segurança dos
ataques dalém da fronteira, a não ser na vitória final de Deus.

Num mundo em que o mal é mortal e persistente, não se deve esperar que o programa
do evangelho produza um definhamento progressivo do poder de Satanás, até que seja
reduzido à impotência, mas antes um endurecimento constante da sua resistência, que
conduz à ultima grande batalha"

A quinta e a sexta trombetas estão dizendo, principalmente, o que Deus está prestes a
fazer no período que antecede o escaton (fim do mundo). Esses são os juízos que Deus
derramará sobre o mundo não salvo, cujos propósitos são vários como já dito aqui. O
mais importante é que eles demonstrarão, uma vez mais, a soberania absoluta de Deus
sobre todas as criaturas e todos os eventos de sua criação.

Até as forças demoníacas só podem agir se o Senhor lhes der permissão para isso.
Todavia, quando elas agem, sempre o fazem para causar danos a todos que são
criados à imagem de Deus, inclusive aos próprios seguidores. De acordo com o quadro
da possessão demoníaca nos Evangelhos, os demônios torturarão e matarão os
habitantes da terra. Ainda assim, tudo isso faz parte do plano maior divino, e tal plano é
redentor.

Mediante as terríveis ações dos demônios, Deus está chamando as nações ao


arrependimento. Na praga dos gafanhotos, assim como nas pragas no Egito, Deus
revela aos descrentes a impotência total de seus deuses terrenos. Mais do que isso, ele
mostra a verdadeira natureza desses seres malignos: eles odeiam e desejam torturar os
homens! A natureza decaída desses seres é óbvia: a passagem está enquadrada pelos
seres do "abismo" (9.1,11), e os gafanhotos sobem como fumaça do poço do abismo.
A mensagem é clara: os poderes demoníacos estão por trás de toda a idolatria e o
propósito deles é destruir, não edificar.

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