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É comum classificar 12.1-13.8 como o centro do livro de Apocalipse. pois essa seção
estabelece o tema central, a guerra entre Deus/seu povo e o dragão/seu povo, e entre o
Cordeiro e seu antagonista correspondente, a besta. Mol (1981: 131) apropriadamente
rotula isso de "mito internacional", porque as histórias que se assemelham a ela podem
ser encontradas em praticamente todas as religiões do mundo antigo. No Egito, a
deusa-mãe Ísis é perseguida pelo dragão vermelho Sete ou Tifon e foge para uma ilha,
onde ela dá à luz o deus-sol, Hórus. No mito ugarítico, o deus da tempestade Baal
derrota o Leviatã, a serpente de sete cabeças, e estabelece seu reino.
A principal pergunta é por que João contaria a história de modo mítico. Todavia, esse
uso de mitos de outras religiões não é incomum no contexto bíblico. Títulos de outros
deuses são aplicados a Javé no AT, como "o que cavalga sobre as nuvens" (um título
de Baal) de Salmos 68.4, a fim de dizer que Deus venceu os outros deuses e tomou
para si seus títulos. A história de Jesus como o desconhecido que encontra os dois
discípulos no caminho para Emaús, em Lucas 24.13-35, é intencionalmente escrita de
forma semelhante a mais um mito de Apolo.
O propósito disso é evangelístico: dizer que o que os gregos conheciam como mito
havia agora se concretizado na história. Alguém poderia dizer que o NT "
desmitologiza" mitos greco-romanos ao transformá-los em história. Aquilo por que os
pagãos ansiavam em seus mitos agora se tornou verdade em Jesus. Portanto, a forma
é intencional e brilhante, usando o que tem sido chamado em nosso tempo de uma
"analogia redentiva", cujo alvo é apresentar o evangelho de tal forma que aguce o
interesse e os corações dos leitores não cristãos.
Entretanto, como Beale (1999: 624-25) destaca, João vai além disso ao acrescentar
elementos do AT que completam as verdades vinculadas à história. Sweet (1979: 203) e
Minear (1991: 72-74) também defendem que o capítulo 12 deriva-se de uma reflexão
sobre as maldições de Gênesis 3.15-20, concentrando-se na subjugação dessas
maldições pela obra de Cristo (e.g., v. 2 = a maldição de que mulher teria dores de
parto; v. 4 = a inimizade entre a serpente e a descendência da mulher; v. 10 = a vitória
sobre a maldição por meio do martírio).
A mulher está "vestida do sol, com a lua debaixo dos pés, e uma coroa de doze estrelas
sobre a cabeça". Essa descrição tripla de sua majestade origina-se dos sonhos de
José, em Gênesis 37.1-9. No primeiro sonho, os feixes de trigo amarrados por seus
irmãos se prostraram diante dele (37.7) e, no segundo sonho, "o sol, a lua e as onze
estrelas" também se prostraram diante dele (37.9). Há um consenso de que o "sol e a
lua" indicam os pais de José, Jacó e Lia, ao passo que as estrelas representam seus
irmãos (ver Wenham 1994: 352).
Ele já subverteu um terço das hostes angelicais e, agora, tenta destruir o menino, o
Messias, filho de mulher. Porém, como ocorre durante toda a história, Deus intervém e
derrota as intenções perversas do dragão ao arrebatar o Messias para si. Assim, o
dragão volta sua atenção para a mulher, mas ela foge para o deserto, o local da
proteção divina, onde Deus preparou um lugar para ela. Isso é uma indicação da
proteção espiritual que Deus proporciona aos santos, a segurança que ele lhes concede
em meio às tentativas satânicas de "devorá-los" (1Pe 5.8).
A voz no céu celebra a vitória (= "salvação", 12.10) e fala da grande derrota do dragão
imposta pelos santos (12.11), em seguida, relata o furor sentido pelo "diabo" derrotado
(12.12). Youngblood (1998: 26-31) defende que embora Isaías 14.12-15 faça referência
ao rei da Babilônia, a maldade excessiva e a queda do céu fazem desse texto um pano
de fundo natural para Apocalipse 12.7-9.
A guerra no céu entre Deus e Satanás é descrita em 12.7-9, e ela faz referência
principalmente à primeira expulsão do Diabo do céu, como também à sua derrota na
morte e ressurreição de Jesus. Miguel, o líder das hostes do Senhor, luta contra o
dragão e vence. É evidente que Satanás é apenas " deus deste século" (2Co 4.4) e não
tem poder algum na esfera celestial. Ademais, em Apocalipse 12.9, descobrimos a
verdadeira essência do dragão. Ele é a "antiga serpente" do jardim do Éden, o grande
"adversário" ou Satanás, o acusador dos crentes (também em 12.10), que realiza suas
obras por meio do engano em vez de poder. Sua derrota é celebrada no maravilhoso
hino de 12.10-12, em que os santos participam da vitória sobre Satanás, com base em
dois elementos: primeiro, pelo "sangue do Cordeiro", a grande vitória cósmica que
garantiu a derrota final do dragão, e segundo, por seu próprio testemunho fiel e martírio.
Em todo esse livro, fica claro que quando Satanás mata uma pessoa do povo de Deus
(cf. 6.9-11; 11.7,8), isso significa mais uma derrota para ele. Como resultado de suas
inúmeras derrotas (na queda, no nascimento, na morte e na ressurreição de Jesus, na
vida e morte dos santos fiéis), os céus se alegram e a terra chora.
Satanás sabe que o tempo que lhe resta para se opor a Deus e ao seu povo é, de fato,
breve, e por isso ele está furioso.
A ira do dragão (12.12) é retratada de forma mais ampla na guerra sobre a terra
Ao contrário, todos que encontram Cristo também se deparam com a ira de Satanás.
Todavia, alcançamos a vitória quando vivemos em obediência aos mandamentos de
Deus (contidos na Palavra) e mantemos nosso testemunho fiel de Cristo.