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1920
O ensino agrícola em Portugal foi pela pri do Pôrto, devida a iniciativa da C.ados Vinhos
meira vez organizado pelo decreto de 16 de do Alto Douro e creada em 18x5; em numero
Dezembro de 1852, publicado extra-parlamen- sos excerptos espalhados por publicações vá
tarmente (1) no reinado da Senhora D. Maria II- rias e nas Memórias da Academia Real das Sciên-
Esse decreto era referendado pelo Duque de cias, em folhêtos, conferências e pouco mais.
Saldanha, Rodrigo da Fonseca Magalhães, An- Da cadeira anexa á Faculdade de Filosofia
tonio Maria Fontes Pereira de Mélo e Antonio da Universidade de Coimbra foi primeiro pro
Aluizio Jervis d’Athouguia, mais tarde i.° Vis fessor o grande botânico português Felix de
conde d’Athouguia. Os negocios referentes á Avelar Brotéro (1744-1829), que a accupou com
Agricultura corriam pelo Ministério das Obras a sua alta competência, se bem que a organi
Publicas, Comércio e Indústria, recentemente zação universitária o obrigásse a dár ás suas
creado (2) e cuja pasta fôra interinamente en lições uma feição de caracter mais especula
tregue ao ministro da Fazenda Fontes Pereira tivo do que prático.
de Mélo que, pela vez primeira, tomara assento De todo o tempo a Agricultura merecêra en
nos conselhos da Coróa, fazendo parte dêste tre nós uma certa atenção do Estado e das for
ministério. ças vivas da Nação. (1) Os numerosos conventos
Anteriormente a essa data encontraremos o espalhados pelo Reino e usufruindo largos tra-
ensino agrícola numa cadeira de Botânica, ctos de terreno que cultivavam ou faziam valo
anexa á Faculdade de Filosofia da Universidade rizar, contribuíam para divulgação de processos
de Coimbra, creada em 24 de Janeiro de 1791; de cultura que os monges ensaiavam nos seus
numa outra de Agricultura que funcionava na hortos.—Aymeric d’Ebrard, o mestre do Rei
Academia de Marinha e de Comércio da cidade
(1) No principio do sec. XIX um notável homem de Estado
propozera ao príncipe D- João, então regente, o estabeleci
(1) Vidé «Diário do Governo» n.° 300 pag. 1.35+ de ai mento de um ensino filosófico na capital com duas escolas
de Dex.° de 1852. aditas a ele: uma de agricultura e economia rural e outra de
(2) 0 ministério das Obras Publicas, Comércio e Indústria arte veterinária, proposta que foi aceite mas delongada para
foi creado por decreto de 30 de Ag.° de i8;a—Vidé «Diário tempos de menos mingua e cuidados (Vidé «Reforma de
do Governo» n.° 2435, pag. 1127, de 14 de Out.° de 1852. 1864»—Diário de Lisboa n.° 1 1 de 2 de Jan.° de 1865).
8 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Lavrador, que o iniciou na erudição a que eram aos mistéres industriaes a que até então se de
tão estranhos os rudes monarcas dos tempos dicavam; finalmente, porque seria facil nestas
anteriores (i) era um eclesiástico francez.— localidades encontrar granjas e quintas que se
Foram monges que arborizaram a serra do prestassem a campo pratico para os alunos.
Bussaco; quasi toda a região de Alcobaça, o O ensino do 2.0 gráu seria teórico e pratico:
pomar de Portugal, pertencia aos frades cis- o teórico ministrado nas cadeiras das escolas,
tercienses que a agricultavam. —o pratico na quinta exemplar que haveria em
Analizemós sucíntamente o decreto de 16 de cada escola. Ensinar-se-ia não só a agricultura
Dezembro de 3852 que tinha por objecto a or propriamente dita, mas com mais ou menos
ganização do ensino agrícola em Portugal, e desenvolvimento a maior parte das sciências
o seu respectivo regulamento, aprovado em que são auxiliares da sciência da produção
15 de Junho de 1833. (2) vegetal. Os alunos ficavam habilitados a dirigir
Por êste decreto (3) eram estabelecidos três qualquer exploração agrária e a resolver em
graus de ensino agrícola: 0 mecânico,—artís todos os seus pormenores os cálculos de qual
tico,— e o scientifico, considerada a Agricul quer empreza cultural, e saíam diplomados ou
tura como oficio, — arte — e sciência. com o curso de lavradores, no fim de 3 anos
O ensino do i.° gráu ou mecânico, pratico e de frequência, ou com o de abegão que apenas
sem desenvolvimentos scientificos, seria admi exigia 2 anos. Nessas escolas se estabeleceriam
nistrado nas granias ou quintas de ensino culti viveiros experimentaes de plantas agrícolas e
vadas pelos proprietários com os quaes o Go haveria anexa a cada uma delas uma escola de
verno estabelecia um contrato, tendo-lhes re arte veterinária (1) e uma caudelaria.
conhecido competência moral e agrícola. Esses
proprietários receberiam como subvenção O ensino do 3.0 gráu ou sciêntifico, seria
400S0CO réis anuaes. Este ensino tinha por fim dado no «Instituto Agrícola de Lisboa» que ser
dar uma «aprendizagem» facil, adquirida no viria ao mesmo tempo de escola superior e de
meio de operações e trabalhos ruraes, se escola regional.
guindo métodos racionaes e lucrativos. Destas O Instituto era destinado a aperfeiçoar e de
quintas sairiam: abegões—maioraes-e quintei senvolver a Agricultura : pelo ensino— pelo
ros. Era a aspiração instituir uma quinta de exemplo—e pela experiencia. A parte doutri
ensino em cada distrito administrativo. nal seria professada nas cadeiras—a exemplar
O ensino do 2.0 gráu ou artistíco, teórico e nos campos de cultura aperfeiçoada — e a expe
pratico, seria dado nas escolas regiunaes, esta rimental nos campos destinados aos ensaios e
belecendo-se três: uma em Vizeu, outra em experiencias.
Lisbôa e a terceira em Evora, escolhidos estes Havia três cursos no Instituto: curso para
três pontos como centros das très sub-regiões abegões, para lavradores e para agrónomos.
em que se considerava podesse naturalmente O curso de abegão durava dois anos. Cons
ser dividida a região agrícola do País, por se tava de duas partes: uma prática aprendida na
rem focos de uma correspondente população e quinta e outra doutrinal com rudimentos de
por que as Casas-pias e estabelecimentos de agricultura e economia rural. Exigia-se como
caridade existentes em Lisboa e Evora pode habilitações prévias o exame de instrução pri
riam fornecer grande numero de alunos para mária do i.° gráu. Dava preferencia no provi
estas escolas, sendo preferível que estes se en mento dos logares subalternos das escolas
tregassem á profissão da Agricultura do que agrícolas e matas do Estado.
O curso para lavradores durava três anos e 3.0 Botanica e fisiologia vegetal;
■comprehendia, afóra a prática, a frequência 4.0 Agricultura geral;
da i.a, 4.® 5.a, 6a, 7*a cadeiras do Instituto que 5.0 Culturas especiais;
mais abaixo indicaremos. Exigia-se como habi 6.° Zootecnia e princípios de veterinária;
litações prévias: os exámes de instrução primá 7.0 Economia agricola, administração e con
ria do 2.0 gráu e de francês. Dava acesso aos tabilidade rural, artes agrícolas, legislação e
empregos superiores das matas do Estado e às engenharia rural.
•cadeiras de agricultura dos Lyceus.
O curso de agrónomos durava 4 anos e além A i.a era ensináda na aula estabelecida pela
de comprehender todas as cadeiras do Instituto, Academia Real das Sciências no Instituto May-
eram os alunos obrigados a frequentar a i.a nense.
parte da Física e da Química da Escola Polité A 2a e 3A eram professádos na Escola Po
cnica como cadeiras auxiliares, afóra a prática. litécnica.
Exigiam-se como habilitações prévias, além das As quatro restantes eram cursadas no Ins
requeridas aos lavradores: noções elementa tituto Agrícola.
res de lógica e i.° ano de matemática. Dava
habilitações para o provimento das cadeiras A distribuição das disciplinas das cadeiras
das escolas regionais e outras escolas supe era assim feita:
riores do Reino, na direcção dos jardins botâ
nicos e preferencia, em igualdade de circuns Para agrónomos:
tancias, para cargos administrativos.
i.° ano—Química e física elementares, prin
cípios de histeria natural—i.a parte de Física
Nos cursos para lavradores e agrónomos ha
—i.a parte de Química—Botânica e Fisiolo
via no Instituto três classes de alunos: ordiná
gia vegetal—Curso do i.° ano de desenho na
rios, voluntários e livres. Só os primeiros, aos
Escola Politécnica—Exercícios práticos.
quais eram exigidas as habilitações da lei, po
diam obter prémios e diploma (carta de curso) 2.0 ano—Agricultura geral — 2.a parte da
no fim do tirocinio. Os voluntários não preci Química—Zoologia, anatomia e fisiologia com
savam de preparatórios, eram obrigados á fre paradas— Uma parte das artes agrícolas —
quência, ás lições, repetições, exames e exercí Contabilidade moral —Exercícios práticos.
cios práticos. Não podiam obter prémios nem
tirar diploma no fim do tirocinio sem passarem 3.0 ano—Uma parte das culturas especiaes
a ordinários, cumpridas certas formalidades.— —Economia agrícola, legislação, contabilidade
Os livres não precisavam de preparatórios, não e administração rural — Engenharia rural e
eram obrigados a lições, repetições, exames, outra parte das artes agrícolas - Exercícios
exercícios práticos, mas sómente à frequên práticos.
cia. Não podiam obter prémios e apenas ates
tado de frequência, mas podiam pedir exame 4.0 ano—A outra parte das culturas espe
em qualquer cadeira e dêle obter certificado ciaes—Zootecnia e princípios de veteriná
e passarem a alunos ordinários cumpridas as ria—Repetição da agricultura geral. Exercí
formalidades exigidas. Estes alunos livres só cios práticos.
seriam admitidos nos quatro primeiros unos
9. datar da instituição. Para lavradores:
Cada professor, em cada cadeira não daria Em 7 de Janeiro de 1853 foram nomeados:
mais*de3, nem menos de 2 aulas por semana,
durando cada uma, hora e meia, sendo chama Divector geral do Instituto Agrícola e escola
dos os alunos à lição todos os dias durante regional de Lisboa: José Maria Grande, lente
meia hora. Havia duas repetições por mez e de botânica da Escola Politécnica de Lisboa. (1)
dois exames parciaes, por escrito, por ano: o Lente da 4.« cadeira (Agricultura geral): Cae
i.° depois dos Reis, o segundo depois da Pas- tano Maria Ferreira da Silva Beirão, lente da
coa.—As aulas eram publicas.—Não compare Escola médico-cirurgica de Lisboa. (1)
cendo às repetições os alunos tinham 2 faltas. Lente da5.a cadeira (Culturas especiaes): Joa
Perdia o ano o aluno que excedesse em faltas quim Estevão Rodrigues de Oliveira, lente da
a décima parte do numero total de lições e Escola médico-cirurgica de Lisboa. (1)
repetições.—Em cada aula havia um exame Lente da 6.a cadeira (Zootécnica): José Vi
final de ano, sendo este exame oral, sobre cente Barbosa du Bocage, lente da Escola Poli
ponto tirado com 24 horas de antecedencia e técnica de Lisboa. (1)
durante 20 a 30 minutos. No fim do respetivo Lente da y.a cadeira (2) (Economia e legisla
curso os agrónomos fariam uma exame de ção agrícola, administração e contabilidade
habilitação sem o qual não poderiam obter o rural): Antonio Joaquim de Figueiredo e Silva,,
competente diploma; chamava-se-lhe «acto doutor em medicina e bacharal formado em
grande» apresentando o aluno uma dissertação Filosofia. (1)
sobre qualquer matéria do curso. Para lente proprietário da cadeira especial de
Havia prémios e «accessit» para os melho artes agrícolas e engenharia rural, em que se
res estudantes, em cada curso do Instituto e um desdobrára a 7.“ cadeira, foi nomeado em 24
«prémio grande» para os agrónomos ordinários de Novembro de 1853: João de Andrade Côrvo
que tivéssem concluído o 4.°ano. Este prémio que, como veremos, era já lente substituto do
era conferido por concurso entre os diferen Instituto.
tes candidatos que tivéssem apresentádo uma Lentes substitutos; João de Andrade Côrvo, (1 >
dissertação sobre um unico e determinado lente substituto da Escola Politécnica — Tho-
ponto. Este prémio consistia em livros, ins maz de Carvalho (1) lente substituto da Escola
trumentos agrários e medalha de ouro. médico-cirurgica de Lisboa (3)—Lucas José de
O ano létivo começava a 15 de Setembro Sá e Vasconcelos, (1) bacharel formado em
terminando em 15 de Julho.—O ano escolar medicina pela Escola de Coimbra.
durava de 1 de Outubro a 1 de Maio. Director chefe dos trabalhos: João Gagliar-
Por decreto de 7 de Janeiro de 1853 a 7.a di. (1)
cadeira foi desdobrada em duas: (1) a) Econo Sub-director chefe dos trabalhos; Higino Ga-
mia e legislação agrícola, administração e con gliardi. (1)
tabilidade rural—b) Artes agrícolas e enge
nharia rural. Ao Instituto atribuir-se ía uma «quinta exem
plar» para nela se estabelecerem os sistemas de
O primeiro provimento das cadeiras do Ins cultura cuja imitação merecesse ser recomen
tituto Agrícola seria feito pelo Ministério das dada—um horto para viveiro—um estabeleci
Obras Publicas, Comércio e Industria, recaindo mento de sericicultura—oficina de construção1 2 3
sobre indivíduos habilitados com cursos supe
riores de sciências naturaes ou que tivéssem
publicado trabalhos sciêntificos de valôr, ou (1) Vidé «Diário do Governo» n.° 8 pag. 43 de Janeiro de
que tivéssem exercido o magistério em alguma 1853.
(2) Esta cadeira fôra desdobrada como dissemos.
(3) Exonerado a seu pedido em 14 de Novembro de 1855.—
(1) Vidé «Diário do Governo» n.° 8 pag. 42 de 10 de Ja Vidé «Diário do Governo» n.° 281 pag. 1452 de 28 de Novem
neiro de 1853. bro de 1855.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA ii
Esta reforma resultou do reconhecimento mais atendendo à diversidade das regiões agrí
de que a organização de 1852 não correspon colas de Portugal e não seriam de menos por
dera aos resultados esperados. que deficiência, se a houvesse, seria suprida
Para as quintas de ensino do i.° grau houve pelas quintas especiais que no decreto se esta
algumas tentativas em vão, porque vieram beleciam e cujo número era indefinido. Êste
logo os resultados patentear que lhes faltava ensino elementar seria essencialmente prático
a base da sua conveniente sustentação. Nem havendo alunos particulares e 15 subvenciona
se tinham obtido terrenos próprios, nem se dos pelo Govêrno que não poderiam nelas
havia oferecido quem soubesse ensinar e me passar nem mais de 6 anos nem menos de 3.
nos ainda quem quizesse aprender. O ensino superior seria dado no Instituto
As escolas regionais, do 2.0 grau, nem ao me Geral de Agricultura constando de cursos
nos chegavam a revestir as formas da sua de sciências preparatórias e técnicas e de
existência material. Quanto à de Évora, estabe exercícios práticos nos estabelecimentos ane
lecida na quinta da Cartuxa, é que apenas ve xos.
getava, as outras duas não se chegaram a es As disciplinas professadas dívidiam-se em
tabelecer definitivamente. A de Vizeu, antes duas secções:
do se instalar, era transferida para Coimbra,
onde não chegava a nascer, por carta de lei de
23 de Fevereiro de 1855. (1) A de Lisboa, pode- a) Sciências preparatórias com aplicação à
se dizer, apenas existia na papelada oficial que agricultura:
ao titulo de «Instituto Agrícola» não esquecia •
Engenheiros-agricolas, com o curso de enge organização que então vigorava. Não resultou
nharia civil e 2 anos no Instituto. esta reforma do facto de se julgar acertado al
Agrónomos com 3 anos de teoria no Insti terar essencialmente o sistema de ensino esta
tuto e 1 de prática na quinta regional de Sintra, belecido pelo decreto de 1864, sem tempo ainda
Silvicultores com 3 anos de teoria no Insti de aprender em novas experiências a refórma
tuto e mais o tempo de prática que se deter que o podia melhorar. Eram as dificultosas
minasse na quinta florestal. circunstâncias do Erário que a exigiam.
Veterinários com 5 anos no Instituto. Reduzia-se o número de lentes e de profes
sores, concentrávam-se um pouco mais as ma
O govêrno prestacionaria com subsídio térias de ensino superior das duas secções,
anual de 12.000 réis dez alunos: 6 do curso agrícola e veterinária, e que diziam respeito
de Veterinária e 4 do de Agronomia, e dis âs cadeiras de engenharia rural e anatomia e
tribuiria doze prémios de 50.000 réis cada um cirurgia veterinária—Suprimia-se o logar de
para os alunos que mais se distinguissem. professor de desenho.—Reduzia-se o pessoal
Segundo êste decreto organizavam-se mis da quinta regional de Sintra e das outras esco
sões de estudo às diferentes regiões do País, las agrícolas.—Deixava de funcionar a quinta
dirigidas pelos professores do Instituto com o agrícola da Cartuxa, em Evora, por lhe falta
fim de estudar e determinar a flora agrícola e rem condições de espaço e outras, não satisfa
florestal, a fauna, o solo, tudo emfim que se zendo aos fins da sua creação e comprometen
relacionasse com a produção agrícola. Eram do a causa do ensino agrícola em tentativas
instituídas exposições agrícolas gerais, pro acanhadas e estéreis.—Cortava as verbas para
vinciais e especiais. O govêrno poderia pres- missões, exposições, concursos e subsídios a
tacionar 2 indivíduos para irem frequentar no estudantes para irem estudar ao estrangeiro.
estrangeiro cursos análogos ao do nosso Ins Ficava sem efeito o que estava decretado
tituto. Criaram-se quatro lugares de inspecto- sobre creação de quintas especiaes de ensino
res: 1 para florestas, 1 para pecuária e 2 para agrícola, limitando-se o Governo a prometer o
agricultura. seu auxilio para a escolas agrícolas que se fun
dassem devido à iniciativa das juntas gerais
No «Diário de Lisboa», folha oficial, de 17 dos distritos, das camaras municipais, das cor
de Julho de 1865 vem publicada a lista do pes porações administrativas, das sociedades agrí
soal docente que por brevidade omitimos. colas e até por empreendimento de particulares.
Éram, segundo o decreto estabelecera, 10 len Criáva-se a classe de «alunos voluntários»
tes proprietários ou de i.a classe, e 5 substitu admitidos à matricula em cada cadeira e que
tos ou de 2.a classe, competindo a estes, con querendo podiam ser sujeitos a exame obtendo
forme 0 nome indicava, substituir os de i.a o respétivo certificado. Tendo obtido aprova
classe nos seus impedimentos e reger as ca ção em todas as cadeiras que constituíam o
deiras auxiliares.—Alêm destes haveria um curso podiam requerer e obterá respétiva carta.
professor de desenho com o seu ajudante e A economia resultante da execução deste
cinco chefes de serviço. decreto ascendia a mais de 34 contos de réis,
e esta redução não teve os funestos resulta
3.° REFORMA, 1869
dos que da simples enumeração se possa de
Decretada em 8 de Abril de 1869(1) sendo preender porque recaiu sobre serviços decre
Ministro das Obras Públicas Sebastião Lopes tados mas não executados,
Calheiros de Menezes, tinha por fim reduzir
os encargos do tezouro como o exigiam as pre O decreto de 2 de Dezembro de 1869 com
sentes circunstâncias financeiras, mas sem al pletou esta reforma procurando vulgarizar o
terar os planos de ensino nem retrair o desen ensino agrícola por meio de missões e confe
volvimento dos conhecimentos agronómicos e rencias que com efeito se realizáram em Bra
das artes correlativas a que podia chegar a ga, Visêu, Santarém e Portalegre, mas que em
breve tempo se não tornáram a repetir.—Por
(ij Vidé «Diário do Governo»'n.° 8o pag. 447 de 12 de este decreto eram creadas cadeiras de agricul
Abril de 1809. tura nos liceus: poucas abriram e logo se en-
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 15
cerraram por falta de alunos.—Também eram o desenho linear dava-se nos liceus e o de má
estabelecidas estações agronómicas, uma em quinas e topografia passava a ser professado
cada distrito, dirigidas por agrónomos oficiais nas cadeiras das respectivas especialidades.
ou, na sua falta, pelos inspectores de serviços O curso de agronomia e de silvicultura, ten
veterinários. do-se desenvolvido, passa de 4 a 5 anos.
Pelas leis de 14 de Junho de 1871 (1) e 7 de Suprimiu-se o curso de engenheiro-agrícola
Abril de 1876(1) eram criados os logares de que em 22 anos de existência não tivera uma
agrónomos de distrito com o fim de propagar única matrícula.
e difundir directamente o ensino agrícola, o que Os agrónomos e silvicultores deviam sair
até aí, as anteriores reformas não tinham cabal- suficientemente habilitados na parte de enge
mente alcançado. nharia, pelo maior desenvolvimento dado às ca
deiras de mecânica aplicada e porque ficava
4.» REFORMA, 1886 organizado convenientemente o ensino de topo
grafia, mecânica, construções e hidráulica.
Tem a data de 2 de Dezembro de 1886(3) e Criavam-se gabinetes e laboratórios vários
é devida ao Ministro das Obras Públicas, Emy- para o ensino prático dos alunos.
gdio Júlio Navarro. qs alunos de agronomia e silvicultura teriam
Teve por fim, satisfazendo os desejos mani de fazer no final do curso teórico, um tirocí
festados pelo corpo docente, desenvolver o nio prático durante 8 meses junto dos funcio
ensino, tanto teórico como prático, quer por nários técnicos do Ministério das Obras Públi
meio de análises e ensaios feitos nos labora cos: os agrónomos nas escolas práticas de agri
tórios do Instituto, quer por meio de excursões cultura e nas estações agronómicas; os silvicul
às fábricas e oficinas de indústrias rurais, tais tores fariam tirocínio na circunscrição florestal
como as de distilação, vinificação, extracção de do centro. Durante o tirocínio uns e outros
óleos, lacticínios, moagem e panificação, quer deveriam elaborar uma memória sôbre econo
emfim por meio de visitas aos jardins e hortos mia agrícola ou florestal da região em que
botânicos, museus e explorações agrícolas e tinham estacionado, defendendo essa memória
florestais. perante um júri, fazendo assim acto grande
Para auxiliar esta instrução prática, criaram- e final do curso, posto o que tirariam carta de
-se 6 professores substitutos, 3 para a secção curso.
agronómica e 3 para a veterinária. Estabeleciam-se 3 graus de ensino: primário,
O ensino passava a ter maior desenvolvi secundário e superior tal qual o decreto de
mento, passando o número de cadeiras, de 19 1852.
que eram, a 21. O ensino primário ou elementar seria profes
Suprimiam-se as cadeiras auxiliares em que sado nas escolas práticas de agricultura, espe
se professavam doutrinas próprias dos liceus, cialmente adaptáveis às regiões características
evitando-se uma duplicação que nenhuma ra do país, e largamente disseminadas pelo Reino
zão justificava e que apenas amesquinhava o e obedecendo mais ou menos à orientação que
Instituto, que gosava, de há muito, os fóros de presidiu em 1852 e cujo número e organização
estabelecimento de ensino superior. Para isto o Govêrno decretaria.
se exigia que os preparatórios para matrícula O ensino secundário, destinado a formar che
compreendessem, como era justo e se achava fes de cultura, era professado numa escola es
decretado para todas as outras escolas supe pecial estabelecida em Coimbra com uma quinta
riores, as disciplinas da i.a 2,a e 3.“ classe e área suficiente, tendo sido instalada provisó
(secção de sciências) e de desenho dos liceus. riamente na quinta regional de Sintra, para os
Suprimiu-se a cadeira de desenho por inútil:1 * 3 trabalhos práticos e com dotação suficiente
para a instrução teórica.
O ensino superior era, como vimos, muito
melhorado. Os cursos professados no Instituto,
(1) Vidé «Diário do Governo» n.° 135 pag. 707 de 19 de
que passava a ter a denominação de «Instituto
Junho de 18,1.
(a) Idem n.° 92 pag. 763 de 26 de Abril de 1876. de Agronomia e Veterinária», tinham a duração
(3) Idem n.° 276 pag. 3513 de 3 de Dezembro de iSSá. de 5 anos, e eram três: agronómico, flores
i6 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
tal e veterinário, habilitado respectivamente: para veterinária, sendo as pensões cedidas por
agrónomos, silvicultores e médicos-veteriná concurso documental.
rios. Estabeleciam-se 4 prémios de 50.000 réis cada
As cadeiras em número de 21 eram as se um: dois para alunos de agronomia ou silvicul
guintes : tura e 2 para os de medicina veterinária. Heve-
ria prémios honoríficos e «accessit» para os
alunos distintos.
1. ° Física e meteorologia, mineralogia e geo A dotação para efectuar esta organização-
logia. sextuplicou, lembrando-se o autor de que, coma
2.° Química geral e análise química. disse Ferreira Lapa, «se o dinheiro não é o que
3.0 Botânica e fisiologia vegetal. constituía o esqueleto da Sciência é contudo a
4.0 Zoologia e exterior dos animais domés sangue que pelo seu calor a faz prosperar e vi
ticos. ver». (1)
5.0 Química agrícola, análise de terras, adu 5a REFORMA, 1891
bos e plantas.
6.° Culturas arvenses e hortícolas. Decretada em 8 de Outubro de 4891, (2) senda
7.0 Mecânica geral e suas aplicações às má Ministro das Obras Públicas João Ferreira
quinas agrícolas. Topografia. Franco Pinto de Castelo Branco, a quem fica
8.° Construções rurais e hidráulica agrí ligada esta reforma.
cola. A carta de lei de 30 de Junho de 1891 auto
9.0 Economia, direito administrativo, legisla rizou o Governo a decretar no pessoal e mate
ção e contabilidade rurais e florestais. rial dos serviços das secretarias do Estado e
io.° Microscopia, nosologia vegetal e ento nos serviços públicos dependentes de todos os
mologia. ministérios, as modificações e reduções compa
ir.° Técnologia rural e florestal; análise dos tíveis com o regular funcionamento dos mes
produtos tecnológicos. mos serviços.
12.0 Silvicultura. «Essa redução era não sómente imposta pelas
13.0 Viticultura e arboricultura. circunstâncias financeiras do tezouro, mas pela
14.0 Zootecnia geral e especial, higiene pe missão educativa que aos governos incumbe
cuária. desempenhar. Só é verdadeiramente forte o
povo que sabe trabalhar e economizar.»
Assim falava João Franco no relatorio que
As sete cadeiras restantes eram privativas precedia e tentava justificar o decreto e, sem
ao ensino veterinário. comentários, veremos o que o então Ministro
Às três carreiras eram comuns as cadeiras das Obras Públicas entendia pela palavra
i.a até á 4a e a 14a. «economizar».
Para o curso de agrónomos e silvicultores Sensatamente continuava:
era exigida a freqtiência das cadeiras i.a a 14.®
distribuídas por quatro anos, findos os quais «Em todos os serviços públicos existe uma
havia o tirocínio prático, a que antecipadamente certa tradição, um espirito de continuidade que
aludimos. importa não cortar nem perder quando se
Os agrónomos e silvicultores no 3.0 e 4.0 ano busca aperfeiçoá-los e modificá-los ou ainda
faziam excursões e visitas de estudo, para ins- gradual e sucessivamente dirigi-los e encami
trucção prática que, além disso, recebiam nas nhá-los num sentido e para uma orientação
diversas instalações, gabinetes, laboratórios, diversa. As chamadas reformas radicais, por
salas, museus, campos de experiência etc., que via de regra, não compensam pelos seus efeitos
por êste decreto eram estabelecidas. Essas visi salutares, a destruição e perdas que operam. A
tas far-se-iam a fábricas e oficinas rurais, espe esse pensamento procurarei atender, bem como
rando-se que dariam o melhor resultado na
educação técnica.
(1) Discurso inaugural do ano 18S7-1888, Ferreira Lapa.
O Govêrno subsidiaria 4 alunos para o curso (a) Vidé «Diário do Governo» n." 337, pag. 3400, de 9 de
agrícola ou florestal com 15.000 réis mensais, e 6 Outubro de 1891.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
se preocupar com a supressãs de serviços in ao sr. dr. Bernardino Machado, professor na Fa
dispensáveis ao ensino agrícola e nascidos dos culdade de Filosofia da Universidade de Coim
progressos da sciência e das exigências do en bra. Em data de 6 de Outuhro de 1893, era publi
sino moderno. A separação do hospital veteri cado um decreto reformando novamente o Insti
nário e a sua autonomia era fortemente com tuto. Êste decreto vinha dar satisfação a muitas
batida e propunha-se a sua reintegração no das reclamações do corpo docente, mas res
Instituto a que ficava novamente subordinado. sentia-se da preocupação de se não aumenta
O conselho escolar reconhecendo que as cir rem as despezas. Por isso, quando em 1897, o
cunstâncias financeiras do tesouro não permi sr. Augusto José da Cunha, lente do Instituto,
tiam dar à instrução agrícola o desenvolvimento sobraçou a pasta das Obras Públicas, não tar
requerido, reclamava para que ao menos êsse dou em levar a efeito uma nova reorganização.
ensino se mantivesse quanto possível no pé em
que estava antes de 1891. 7-a REFORMA, 1897
Propunha o restabelecimento da cadeira de
Silvicultura para os agrónomos e a da Patolo Esta reforma decretada pelo prof. Augusto
gia das doenças contagiosas para os veteriná José da Cunha, tendia no possível, a reconsti
rios. A Silvicultura, sciência complexa, recla tuir a organização de 1866, atendendo às más
mava uma cadeira especial e não podia ser circunstâncias financeiras do presente e corri
estudada conjuntamente com a de arboricul gir erros indicados pelo Conselho Escolar e
tura e viticultura no curto espaço de um ano. que a experiência tinha confirmado.
O princípio em que sobretudo se inspirava o O ministro começou por mandar fazer im
Conselho Escolar 11a elaboração dêste projecto, portantes obras no edifício da Escola, restau
era o de fazer ^desenvolver o ensino teórico rando e reedificando instalações e dependências
completando-o com as lições práticas, e pro completamente abandonadas e construindo ou
punha a créação de 3 repetidores, 2 para os tras que nesta reforma eram preceituadas.
cursos de agronomia e silvicultura e 1 para o Conservava-se a organização das cadeiras
de veterinária, especialmente encarregados do conforme o decreto de 1893, havendo além
ensino prático sob a direcção dos lentes cate destas os seguintes cursos auxiliares cuja fre
dráticos. Seria até de desejar que em circuns quência era obrigatória: Química geral, Zoolo
tâncias mais desafogadas o número dêstes repe gia, Microscópia e Matemática, restabelecidos
tidores fôsse aumentado! Para desenvolver éste os dois primeiros e criados os dois últimos, o
ensino prático obrigavam-se os alunos a excur que vinha aliviar grandemente o ensino das
sões fora da escola, acompanhados e sob a di cadeiras respectivas. Os lentes prestavam-se a
recção dos professores. reger gratuitamente êstes quatro cursos auxi
A economia resultava da supressão de luga liares para cujo funcionamento não havia verba
res que por esta organização era possível rea- disponível.
lisar, e da supressão de subsídio a alunos. As habilitações exigidas para matrícula cons
Segundo êste plano o Conselho Escolar jul tavam do curso completo dos liceus.
gava que o ensino superior agrícola era, apesar Os 4 anos do Instituto eram destinados ao
das economias, grandemente melhorado. ensino técnico acompanhado por trabalhos prá
ticos, visitas, excursões, quanto possível nas
proximidades de Lisboa, trabalhos de labora
6.a REFORMA, 1893 tório, etc. Para esta prática, além das instala
ções apropriadas ao Instituto, criadas por esta
O projecto de organização do Instituto de lei e efectivadas com verba própria, tinham os
Agronomia e Veterinária aprovado em Conse lentes Sertório do Monte Pereira e D. Luiz de
lho Escolar e que acabámos de analisar não Castro conseguido, com a sua intervenção par
chegou a ter efectividade, devido em grande ticular, que um abastado e inteligente proprie
parte, à falta do pessoal auxiliar indispensável tário Carlos Pecquet Ferreira dos Anjos ofe
para o ensino prático. O ensino continuava a ser recesse ao Conselho Escolar, a sua quinta de
deficiente e lutava-se com grandes dificuldades, Montalegre, situada a 3 km. de; Lisboa, para
quando a pasta das Obras Públicas foi entregue aí, onde havia grande variedade de culturas e
20 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
de oficinas agrícolas, sempre a par dos últimos Por portaria do Ministro das Obras Públicas
progressos da sciência, os alunos se exercitarem. Comercio e Indústria, o sr. António Ferreira
Nessa quinta encontrariam êles um vasto campo Cabral Pais do Amaral, em 21 de Janeiro de 1906
para experiências e demonstrações, durante os foi ordenado que estas cadeiras coloniais, se
4 anos que frequentassem o Instituto. instalassem e funcionassem nolnstituto de Agro
Eram criados lugares de chefes de serviço, nomia e Veterinária e que o Conselho elaborasse
encarregados, conjuntamente com os prepara o regulamento do ensino colonial (1).
dores, de auxiliarem os lentes nos serviços de
laboratório. O INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Reorganizava-se por completo o laboratório
de Fermentações e de Tecnologia rural. Em j911, sendo ministro do Fomento noGo-
A cadeira de Silvicultura que um decreto vêrno provisório da República, o sr. Dr. Ma
anterior tornára facultativa aos alunos de agro nuel de Brito Camacho, fez-se uma nova orga
nomia, passou para êstes a ser também obriga nização de todo o ensino agrícola. Por essa
tória, como era de razão. ocasião, as duas secções, agronómica e veteri
O ensino veterinário era neste decreto gran nária, do antigo Instituto de Agronomia e Vete
demente remodelado. O hospital veterinário rinária, foram separadas, passando a constituir
e o laboratório de bacteriologia, separados do escolas independentes: a Escola cie Medi
Instituto pela organização de 1891, eram reinte cina Veterinária, que continuou no antigo edifí
grados de novo na respectiva escola. cio da Cruz do Taboado, e o Instituto Superior
Mais tarde, em 1901, sendo ministro o sr. Ma de Agronomia, para o qual o mesmo ministro
noel Francisco Vargas, ainda novos aperfeiçoa determinou que se construísse um edifício es
mentos se conseguiram, pelos esforços do corpo pecial, na Tapada da Ajuda.
docente, sempre empenhado, como se tem visto, O decreto de 12 de Abril de 1911 deu ao Ins
nesta luta pelo desenvolvimento da sua escola. tituto Superior de Agronomia, a organização
mais ampla que tem tido a nossa escola.
CURSO DE AGRICULTURA COLONIAL, 1906 Alargaram-se as bases scientificas como ali
cerce indispensável à faculdade produtora do
Pelo decreto de 25 de Janeiro de 1906, sendo diplomado e à segurança da sua instrução;
ministro o sr. dr. Manuel António Moreira Júnior, deu-se o máximo incremento à parte de inves
criou-se o ensino agronómico colonial, depen tigação, aumentando-se o quadro das suas dis
dente do ministério da Marinha e Ultramar, e ciplinas e dando-lhes maior especialização.
compreendendo duas cadeiras. A organização Desenvolveram-se os cursos auxiliares, crian-
poderia ser acusada de acanhada, mas julgava do-se alguns novos, de utilidade incontestável
o ministro preferível instituir sómente o que em matéria tão complexa como é a Agronomia.
se pudesse dotar bem. E, sobretudo, deu-se ao Instituto a posse da
Não pareceu conveniente incorporar o novo Tapada da Ajuda, vasto campo de experimen
ensino no curso geral de agronomia, tornan- tação, o que veio realizar uma das mais antigas
do-o obrigatório para os alunos agrónomos e aspirações do corpo docente.
silvicultores. Limitou-se a exigência para aque Além desta tão valiosa concessão, foram
les que se destinassem ao serviço do ultramar. criados, de novo, .vários laboratórios, de modo
As duas cadeiras que compunham o curso que ficaram existindo:
eram as seguintes: Laboratórios de Histologia e Fisiologia vege
i.° Geografia económica e culturas coloniais. tal; de Química Geral; de Química Agrícola;
2.0 Técnologia e zootecnia coloniais. de Tecnologia Rural; de Microbiologia e Fer
Foi criado em Lisboa um jardim colonial mentações; de Patalogia Vegetal (ao qual foi
destinado às demonstrações experimentais, ao anexado o da mesma especialidade, pertencen
ensino e ao tirocínio dos funcionários agronó tes à Direcção Geral de Agricultura). Criou-se
micos que desejassem servir no Ultramar. uma Estação de ensaio de máquinas; um Posto
Eram criados dois lentes (agrónomos), 2 che
fes de serviço (agrónomos) e 2 preparadores (1) Vidé «Diário do Governo», i." série, n.° 172, de 3 de
(regentes agrícolas). Agosto de 1918, pag. 1524.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 21
5.a Mecânica, motores, máquinas agrícolas. 20.a e 2r.a cadeiras, visitas a estabelecimentos
6.a Hidráulica agrícola. e oficinas, e elaboração de projectos de enge
7a Agricultura geral, culturas arvenses. nharia e outros similares.
8.a Arboricultura — Jardinagem — Horticul
tura Havia alunos ordinários e alunos voluntários.
9_a Ampelografia e viticultura. Os ordinários seguiam a ordem estabelecida
to.a Silvicultura—Tecnologia florestal. no regulamento, distribuição das cadeiras pelos
n.a Trematologia. diferentes anos, e para matrícula no i.° ano
12.a Patologia vegetal. precisavam ter habilitação do curso completo
13.a Tecnologia agrícola. de sciências do liceu.
14a Zootecnia—Higiene dos animais domés Os voluntários podiam freqiientar qualquer
ticos. cadeira e não necessitavam de certificado de
15a Agricultura comparada—Geografia eco habilitação scientífica ou literária.
nómica.
16.a Matemáticas gerais. Para obter o diploma de engenheiro agrónomo
17. Química orgânica e análise. era necessária a apresentação dum trabalho pro
18.a Economia agrícola. fissional sôbre assunto escolhido entre as ma
19. " Zoologia agrícola—Exterior dos animais térias do curso geral e subsequente aprovação.
domésticos.
20a Topografia -Estatística—Cadastro. Para obter o diploma da especialização era
2i.a Construções agrícolas. necessária a apresentação dum trabalho origi
22a Contabilidade agrícola. nal sôbre matéria da especialidade e subsequen
23.a Mesologia colonial—Regimen económi te aprovação. Na especialização de agronomia
co-agrícola colonial. colonial a dissertação era substituída por um
24a Culturas coloniais e silvicultura colo exame de saída.
nial. Havia professores ordinários e extraordiná
25.» Tecnologia agrícola e florestal coloniais. rios para as cadeiras de t.“ a 15.a, 23.“ a 25a,
26a Economia florestal. além do professor especial de desenho. As res
27a Engenharia florestal. tantes cadeiras seriam regidas por acumulação.
O Instituto está instalado em edifício pró 22.a Mesologia colonial. Regime económico-
prio na Tapada da Ajuda, cujos terrenos igual -agrícola colonial.
mente lhe pertencem. Está-lhe também ane
xado o Jardim Botânico da Ajuda e utiliza Cursos complementares:
ainda para os efeitos do ensino colonial o Jar
dim Colonial de Belem. 1.a Química geral e análise química.
O ensino distribue-se por 22 cadeiras, 11 cur 2. a Anatomia, fisiologia e exterior das espé
sos complementares e um curso especial de cies pecuárias.
desenho a saber: 3.® Entomologia agrícola.
4-a Topografia e elementos de geodesia.
5 a Administração, contabilidade e escritura
Cadeiras:
ção agrícolas.
6.a Avaliação de propriedades rústicas. Ca
i.a Matemáticas gerais. dastro. Projectos de explorações rurais.
2“ Cálculo diferencial, integral e de proba 7a Aquicultura.
bilidades. 8. a Construções rurais. Viação. Pontes e
3“ Botânica. meios de transporte agrícolas.
4.“ Física agrícola. 9.® Motores e cultura mecânica.
5.3 Química agrícola. 10.a Hidráulica florestal.
6. a Microbiologia agrícola. Técnica micros n.a Química e tecnologia açucareira e dos
cópica. óleos coloniais.
7. ® Mecânica racional. Teoria geral de má Curso especial de Desenho.
quinas.
8.a Hidráulica geral e agrícola. As cadeiras são regidas por professores ordi
9. ® Agricultura geral. Culturas arvenses. Má nários, os cursos complementares por assisten
quinas agrícolas. tes, o curso de desenho por um professor da
10.a Arboricultura e horticultnra. especialidade.
u.a Ampelografia e viticultura. As cadeiras e os cursos i.° e 4.0 professam-se
12A Silvicultura e tecnologia florestal. em um ano lectivo completo; os restantes cur
13 » Trematologia. sos complementares em um semestre lectivo.
14.® Tecnologia agrícola. O ensino é teórico e prático, com o maior
15 a Patologia vegetal. desenvolvimento scientifico, e, tanto quanto
ió.a Zootecnia e higiene pecuária. possível, acompanhado de experiências, de
17.® Economia rural. Legislação. Estatística. monstrações e exercícios práticos nos labora
18A Agricultura comparada. História da agri tórios, nas oficinas e nos campos de experimen
cultura. tação e demonstração. Complementarmente fa
19 a Economia florestal. zem-se também excursões e visitas de estudo.
20a Culturas coloniais e silvicultura colo O ensino habilita para os seguintes cursos,
nial. cada um dêles com a duração de 5 anos:
2i.a Tecnologia agrícola e florestal colo Curso de engenheiro agrónomo ;
niais. Curso de engenheiro silvicultor;
24 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Engenheiro-agrónomo (1874).
Foi nomeado lente catedrático do Instituto por Decreto de 15 de Fevereiro
de 1883, tendo desempenhado anteriormente o logar de Chefe de Serviço (Decreto
de 11 de Setembro de 1880).
Foi agrónomo dos distritos de Bragança (1875) e de Coimbra (1878); e
secretário da comissão de estudo e tratamento das vinhas do Douro (4878b
Naturalista da Secção Botânica da Escola Politécnica de Lisboa (Faculdade
de Sciências (1890); lente substituto da cadeira de Botânica da mesma Escola
(1891); promovido a lente catedrático em 1903. Director do Jardim Botânico.
Sócio efectivo da Academia de Sciências de Lisboa, e correspondente do
Instituto de Coimbra.
Sócio da Sociedade Broteriana de Coimbra e da Sociedade Lineana de
Madrid.
Sócio honorário da Sociedade Farmacêutica Lusitana, da Associação Cen
tral da Agricultura Portuguesa, da Sociedade Promotora da Agricultura Michae-
lense e da Sociedade Agrícola do Distrito de Santarém.
Foi Secretário do Congresso Vitícola do Pôrto em 1880, e relator no
Congresso Vitícola de Lisboa em 1895.
Membro do júri na Exposição Agrícola de Lisboa em 1884; Fêz parte da
Comissão encarregada da análise dos vinhos que concorreram à mesma Exposição.
Membro da Comissão nomeada em 1886 para organizar os questionários e
mais trabalhos preparatórios do inquérito agrícola.
Obras publicadas:
A Quinta Distrital de Bragança em 1875-76. Doenças dos vinhos (Relatorio apresentado
Anais agrícolas do distrito de Bragança. ao Congresso Vitícola de Lisboa em 1895).
A silvicultura no distrito de Bragança. Curso de silvicultura:
Os fenos espontâneos e as palhas de trigo Tômo I — Botânica florestal — Agrologia e
em Portugal (seu valor na alimentação do climatologia—Essências florestais.
gado). Tômo II — Esbôço duma flora lenhosa por
Relatorio do juri do grupo Vinhos e outros tuguesa.
produtos fermentados, na Exposição Agrícola Os Qaercus de Portugal—1888.
de Lisboa em 1884. As Juncáceas de Portugal —1890
A alfarroba, seu valor como substância nu Contribuições para o estudo da Flora portu
tritiva e alcoolisavel. guesa (Frankeniáceas, Violáceas, Droseráceas,
Guia vinicultor. Papaveráceas, Fumariáceas, Polygaláceas, Re-
Tratado elementar de cultura da vinha (duas sedáceas, Berberidáceas, Nymphceáceas —1892.
edições). Contribuições para o estudo da Flora por
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 27
Engenheiro-agrónomo (1880).
Foi nomeado lente catedrático do Instituto por Decreto de 13 de Janeiro de
1887, tendo sido anteriormente chefe do serviço químico do mesmo Intituto (1884).
Director do Laboratório de Química Agrícola e Inspector das estações quí
mico-agrícolas.
Foi agrónomo do distrito de Vizeu (1880 a 1881) e do distrito de Leiria
(1882 a 1884).
Empregado na Direcção das Obras Públicas do distrito de Santarém (i88r
a 1884).
Vogal de júri na Exposição Agrícola de Lisboa em 1884. Fêz parte da
comissão encarregada da análise dos vinhos que figuraram nessa exposição.
Planeou e dirigiu os trabalhos de análise dos vinhos portugueses que foram
às exposições de Berlim e de Paris (1888 e 1889).
Tomou parte no Congresso Agrícola Internacional de Madrid em 1911,
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 29
tura. Exemplos que podem ter aplicação em mento do vinho da Madeira, do sr. Conde de
Portugal. Carvalhal.
As análises químicas e a adubação das terras.
Na Agricultura Contemporânea :
No Portugal agrícola :
As análises químicas e a adubação das terras.
A cultura da batata na Quinta da Fonte da
Prata (Moita). Na Gazeta dos Lavradores:
Experiências culturais—Fixação do azote
Videiras americanas em Nelas, Santar e Ca
atmosférico pelo tremoceiro.
nas de Senhorim.
Estudos sôbre a cultura do trigo em Portu
Filoxera e Peronospora vitícola nas vinhas
gal.
Métodos adoptados por diferentes químicos do Dão.
para a análise física das terras. No Século Agrícola:
Engenheiro-agrónomo (1882).
Foi nomeado lente catedrático do Instituto por Decreto de 10 de Março de
1887, tendo anteriormente desempenhado o cargo de auxiliar do Laboratório de
Patologia Vegetal do Instituto (1884 a 1887).
Vogal de júri na Exposição Agrícola de Lisboa em 1884 e na de Alfaia
Agrícola na Tapada da Ajuda em 1898.
Representante de Portugal na Comissão Internacional de Meteorologia
Agrícola (1913-1914).
Membro da Comissão Central de Meteorologia (Decreto de 21 de Janeiro
de 1916).
Sócio efectivo da Academia das Sciências de Lisboa e correspondente do
Instituto de Coimbra.
Sócio fundador da Sociedade de Sciências Agronómicas.
Sócio da Associação dos Arqueólogos Portugueses.
Engenheiro-agrónomo (1886).
Foi nomeado lente catedrático do Instituto em 1887 e director do Labora
tório de Tecnologia Rural. Inspector Geral no Ministério da Agricultura.
Escolhido pelo Conselho Escolar para ir a Paris por ocasião da Exposição
de 1888 estudar os progressos do ensino agronómico, do que apresentou um rela
tório que foi impresso.
Em 1892 tomou parte no Congresso pedagógico hispano-português-ame
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 33
ricano, retinido em Madrid, ontie apresentou uma memória sôbre o ensino supe
rior da agricultura em Portugal.
Encarregado pelo govêrno duma missão à América do Sul afim de estudar
os meios de colocar os nossos vinhos nos seus mercados internos (1894).
Em 1900 foi encarregado pela Associação Central de Agricultura de orga-
zar a representação de Portugal na Exposição Universal de Paris, tomando
parte nos Congressos internacionais de Agricultura e de Viticultura que então se
realizaram. Foi presidente do Grupo I do Grande Júri Superior da Ex
posição.
Em 1902 foi delegado pelo Govêrno ao Congresso Internacional de Roma.
Comissário do Govêrno na Exposição Universal de S. Luís (Estados-Uni-
dos) em 1904; e fêz parte da comissão organizadora da Exposição do Rio de
Janeiro em 1908.
Foi Director da Associação Central de Agricultura Portuguesa e o organi
zador do Congresso de Oleicultura e Leitaria em 1905; tomou parte como rela
tor no Congresso Vinícola de 1900.
Sócio efectivo da Academia das Sciências de Lisboa e correspondente do
Instituto de Coimbra; foi sócio fundador e antigo director da Sociedade de Sciên
cias Agronómicas; sócio e antigo director da Associação Central de Agricultura
Portuguesa; sócio honorário da Associação Comercial do Pôrto e da Academia
de Estudos Livres; membro do Conselho Superior Técnico da Direcção Geral
de Agricultura, Inspector Geral de Agricultura no Ministério da Agricultura;
sócio honorário da Sociedade dos Viticultores de França, da Sociedade de Agri
cultura da Gironda e do Instituto Geográfico Argentino; membro efectivo da
Comissão permanente Internacional de Agricultura.
Obras publicadas:
No Portugal Agrícola:
Artigos diversos na Gaseta das Aldeias, na
Situação vinícola de Portugal. Vinha Portuguesa, nas Novidades, na Revue
Vinhos—Produção e comércio. de Viticulture de P. Viala, etc.
Engenheiro-agrónomo (1886).
Médico-veterinário (1886).
Médico pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1898).
Foi nomeado lente do Instituto em 1887 para a antiga secção veterinária,
regendo a cadeira de Matéria Médica, Farmácia, Toxicologia e Química Médica,
mas tendo ficado adido em consequência da reforma do Instituto em 1891, só vol
tou de novo ao serviço em 1901, para a secção agronómica, passando a reger a
sua actual cadeira. E director da estação de ensaios de sementes, e dos campos
experimentais de culturas arvenses do Instituto.
Dos seus trabalhos nestes campos experimentais, estabelecidos na Tapada
da Ajuda, publica êste volume dos Anais um desenvolvido e interessante rela
tório.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 35
Obras publicadas:
A tuberculoso (j886).
Medicação desinfectante (1887).
Álcool (1898). ___________
Engenheiro-agrónomo (1886).
Foi nomeado lente do Instituto em 1901, tendo sido anteriormente Chefe
do Serviço do Instituto.
Sócio efectivo da Academia das Sciências de Lisboa, e correspondente da
Academia de Agricultura de França.
Sócio benemérito e, por muitos anos, director da Associação Central da
Agricultura Portuguesa, sócio fundador, director e actual presidente da Socie
dade das Sciências Agronómicas de Portugal.
Delegado da Associação Central da Agricultura no Comité, organizador da
representação portuguesa na Exposição de Paris em 1900.
Membro do Congresso Internacional dos Sindicatos Agrícolas, e do Con
gresso Internacional das Cooperativas de Consumo, realizados em Paris; e do
VII Congresso Internacional de Agricultura de Viena d’Áustria, onde apresentou
várias memórias sôbre as respectivas especialidades.
Representante de Portugal no Comité permanente do Instituto Internacio
nal de Agricultura de Roma (Portaria de 24 de Março de 1906).
Membro do Conselho Superior de Agricultura; vogal da comissão nomeada
por Portaria de 28 de Março de 1903, para estudar as condições da produção,
comércio e consumo de cereais e das indústrias da moagem e panificação.
Vogal da comissão nomeada por Decreto de 22 de Outubro de 1908 para
proceder a um inquérito às regiões vinhateiras do país.
Vogal da comissão nomeada por Decreto de 13 de Setembro de 1909 para
coligir os elementos necessários para a representação de Portugal no Congresso
Internacional de Agronomia Colonial, reunido em Bruxelas.
Engenheiro-agrónomo (1896).
Foi nomeado lente do Instituto por Decreto de 24 de Abril de 1905, tendo
anteriormente sido nomeado chefe de serviço do mesmo Instituto por Decreto de
11 de Maio de 1904, lugar que desempenhava interinamente desde 1901.
Por Portaria de 25 de Junho de 1898 tinha sido mandado prestar serviço
como analista no Laboratório da Fiscalização de farinhas e do pão, e em 3 de
Agosto do inesmo ano foi nomeado assistente do Laboratório de Entomologia e
Nosologia Vegetal da Direcção Geral de Agricultura.
Exerceu 0 cargo de Vice-Director do Instituto desde 1912 até 1915.
38 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Engenheiro-agrónomo (1887).
Nomeado lente do Instituto por Decreto de 12 de Dezembro de 1906.
Director do Jardim Colonial de Lisboa.
Professor de Botânica-agrícola e director da Secção agrícola do Instituto
Lauro Sodré em Belém do Pará (Brasil) -(1899 a 1901).
Agrónomo do distrito de Lunda — África ocidental — (1901-1903).
Missão de estudo à colónia alemã dos Camarões (1904).
Agrónomo do distrito de Loanda (1904-1906).
Missão de estudo à ilha de S. Tomé (1909).
Missão de estudo aos Jardins coloniais de França, Bélgica, Holanda e Ingla
terra (1910).
Inspecção à Repartição de Agricultura da província de Moçambique (1911-
■I9I3)-
Director da Repartição de Agricultura da província de Moçambique (1913-
-1919).
Representante da província de Moçambique nos Congressos de Bloemfon-
tein—Orange—(1914) e da Cidade do Cabo (1917) e nas Exposições de Johannes-
burg (1915, 1916 e 1917).
Presidente da Comissão de subsistências do distrito de Lourenço Marques
(1916-1919).
Presidente da Comissão encarregada da representação das Colónias Portu
guesas na Exposição Universal de Pretória (1919).
Obras publicadas:
Parasitas Cryptogamicos dos vegetais culti Na província de Angola—Administração
vados (1886). colonial debaixo do ponto de vista agrícola—
Os adubos químicos (1887). 1904.
Sôbre a questão agrícola (1889). Borrachas de Angola por John Gossweiller
A Secção agrícola do Instituto Lauro Sodré -1905-
Engenheiro-agrónomo (1902).
Foi nomeado lente do Instituto por Decreto de 6 de Dezembro de 1906,
tendo desde o ano anterior desempenhado as funções de preparador das cadeiras
2.a e 3-a do mesmo Instituto.
Agrónomo do distrito de Benguela de 1903 a 1905.
Membro da comissão incumbida de elaborar os relatórios sôbre a produção
da borracha nas colónias portuguesas, destinados ao 2.0 congresso internacional
de agronomia colonial, de Bruxelas, em 1910, de que foi um dos relatores.
Mandado pelo Ministério das Colónias visitar e estudar a organização das
escolas de agronomia colonial, os museus e os laboratórios coloniais de França,
Bélgica, Holanda e Inglaterra (1910).
Exerceu interinamente o cargo de chefe da secção dos serviços agronómi
cos do Ministério das Colónias (1913 a 1917).
Vogal da comissão incumbida de propôr os meios de fomentar a produção
de géneros pobres nas colónias e a sua exportação para a Metrópole (1914).
Secretário geral da grande comissão encarregada da elaboração dos rela
tórios para o 3.0 Congresso Internacional de Agronomia Colonial retinido em
Londres em 1914. Foi nomeado representante de Portugal neste congresso, onde
apresentou os relatórios sôbre borracha e matérias textis, por êle elaborados.
Representante de Portugal na 4.“ Conferência Internacional da Borracha,
realizada em Londres em 1914, onde apresentou uma memória sôbre os processos
de cultura e exploração da Manihot Glaziosii, seguidos em Angola.
Director do Museu Agrícola Colonial de Lisboa, desde 1915.
Agrónomo-consultor da Companhia do Fomento Geral de Angola.
Em 1919 foi agraciado com o grande oficialato da Ordem de Santiago,
pelos serviços prestados à agronomia colonial.
Sócio da Sociedade de Sciências Agronómicas, da Sociedade de Geografia
de Lisboa, da Sociedade Química Portuguesa, da Association des Chimistes de
Sucrerie et de Distillerie de Paris, da Association scientifique internationale d'Agro-
nomie Coloniale ei Troficale e do Institui Colonial de Marseille.
Engenheiro-agrónomo (1894).
Nomeado professor ordinário do Instituto por Decreto de 9 de Maio de 1911.
Anteriormente fôra ajudante do preparador do Laboratório de química
agrícola do mesmo Instituto (1885) e depois preparador, por Decreto de 22 de
Dezembro de 1886.
Passou depois a desempenhar o cargo de chefe de serviço, para que foi
nomeado por Decreto de 29 de Março de 1906.
Exerceu o cargo de Director do Instituto de 1915 a 1918.
Preparador do Laboratório de química da antiga Escola Politécnica (1893).
Nomeado provisoriamente para 0 lugar de demonstrador das cadeiras de
Química da mesma Escola por Decreto de 5 de Outubro de 1898; e definitiva
mente por Decreto de 8 de Fevereiro de 1900.
Primeiro assistente do 2.0 Grupo da Segunda Secção da Faculdade de
Sciências da Universidade de Lisboa, por Decreto de 8 de Fevereiro de 1911.
É sócio da Sociedade das Sciências Agronómicas de Portugal e da Socie
dade de Química de Paris.
42 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Obras publicadas:
Engenheiro-agrónomo (1902).
Foi nomeado professor do Instituto por Decreto de 15 de Maiodeiçni
tendo anteriormente desempenhado 0 cargo de chefe de serviço desde 30 de
Julho de 1906.
De 1902 até 1906 foi professor da Escola Nacional de Agricultura de
Coimbra.
Professor substituto da 4.a Cadeira da Escola Colonial de Lisboa (Decreto
de 12 de Setembro de 1908).
Chefe da secção dos serviços agronómicos do Ministério das Colónias (1912).
Chefe da repartição de ensino agrícola do Ministério da Instrução (1913).
Director geral da Instrução Agrícola do Ministério da Agricultura (1919).
Membro da comissão nomeada para estudar as condições em que se encon
tra a indústria e o comércio dos vinhos (1914).
Enviado à Bélgica, em missão oficial, para o estudo de maquinaria agrícola.
Tomou parte no Congresso de Instrução Primária, em 1907, sendo o rela
tor das teses sôbre o ensino primário agrícola.
Obras publicadas:
Engenheiro-agrónomo (1892).
Nomeado professor do Instituto por Decreto de 9 de Novembro de 1912,
tendo anteriormente sido nomeado chefe de serviço do mesmo Instituto (Decreto
de 10 de Janeiro de 1907).
Por despacho de 20 de Outubro de 1892, foi encarregado do estudo do
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 43
valor comercial dos mostos das diversas regiões do país e colocado para êste fim
no laboratório químico da i.a região agronómica.
Agrónomo do distrito de Bragança (Decreto de 20 de Fevereiro de 1898).
Colocado na estação químico-agrícola de Lisboa a fim de coadjuvar os estu
dos agrológicos. Portaria de 25 de Maio de 1894.
Professor da Escola de Viticultura «Ferreira Lapa», 24 de Fevereiro de 1896
e encarregado da direcção da mesma escola. Despacho de 18 de Julho de 1896.
Chefe da 4>a secção da Repartição dos Serviços Agronómicos do Ministé
rio das Obras Públicas, Comércio e Indústria (Laboratório de Patologia Vegetal).
Portaria de 6 de Setembro de 1898.
Nomeado Director Geral da Agricultura por Decreto de 14 de Dezembro de
1910, lugar que exerceu até Março de 1913, em que foi exonerado a seu pedido.
Encarregado, em comissão, do inquérito à cultura da cana sacarina e indús
trias correlativas na Madeira. Portaria de 21 de Março de 1908.
Vogal do júri de apreciação das monografias rurais. Portaria de 30 de
Janeiro de 1911. /
Delegado de Portugal ao Congresso de Orizicultura de Vercelli, e encarre
gado de visitar e estudar a organização das estações experimentais agrícolas de
Itália, Suíça, França e Bélgica. Decreto de 21 Setembro de 1912.
Nomeado para a comissão, a que presidiu, encarregada de rever o regime
sacarino da Madeira, e de apresentar ao Govêrno as normas do novo regime a
adoptar. Portaria de 19 de Junho de 1918.
Nomeado para a comissão encarregada de rever a legislação sôbre crédito
agrícola e de propôr as modificações a introduzir-lhe no sentido de facilitar as
operações respecdvas. Portaria de Fevereiro de 1920.
Foi durante sete anos membro da direcção da Associação Central da Agri
cultura Portuguesa, 1903-1910, e nos últimos três anos, seu vice-presidente.
Fêz parte da primeira direcção da Sociedade de Sciências Agronómicas
de Portugal, e foi um dos seus fundadores.
Foi, como delegado da Associação Central da Agricultura Portuguesa, ao
congresso internacional do arroz em Valência, no ano de 1914.
Ainda como director da Associação da Agricultura, foi instalar a Caixa de
Crédito Agrícola de Pernes. Como director geral da Agricultura, inaugurou
idêntica instituição em Setúbal, e, em propaganda da mesma idea associativa foi
a Azeitão, onde se fundou outra caixa de crédito mútuo.
E sócio da Sociedade de Sciências Agronómicas de Portugal e do Instituto
de Coimbra.
Obras publicadas:
Engenheiro-agrónomo (1899).
Nomeado chefe de serviço colonial do Instituto por Decreto de 19 de
Agosto de 1907; professor por Decreto de 15 de Maio de 1911.
Director substituto do Jardim Colonial de Lisboa (em exercício durante
cêrca de 7 anos).
Anteriormente, agrónomo do distrito do Congo (1902 a 1907).
Sócio da Sociedade de Sciôncias Agronómicas.
Obras publicadas:
Breves noções sôbre a vida Intima das abe Na Revista Agronómica:
lhas (1890).
Le caoutchouc dans les colonies portugaises O distrito do Congo sob o ponto de vista
(estudo apresentado ao Congresso Internacio agrícola. O presente e o futuro do Agrónomo
nal d.e Agronomia tropical, de Bruxelas, em no Ultramar (Conferência —1904).
1910) por C. E. de Melo Geraldes e B. de Oli Boletins mensais do pôsto meteorológico
veira Fragateiro (colaboração na parte rela de Cabinda—1905-1906.
tiva à Guiné e ao Congo português). Relatório da missão de estudo ao Jardim
Vários relatórios sôbre serviços agronómi de ensaios de Liberville—1905.
cos a seu cargo entregues na Secretaria do A cultura do algodão no distrito do Congo
Governo do distrito do Congo. —1907.
Engenheiro-agrónomo (1905).
Nomeado professor do Instituto por Decreto de 7 de Março de 1914, tendo
exercido anteriormente o lugar de chefe de serviço.
Professor auxiliar da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra (1906).
Em 1909, foi em missão à Ilha de S. Tomé, com o professor José Joaquim
de Almeida, estudar as doenças do cacau.
Professor e Director da Escola Prática de Agricultura de Queluz (1915).
Obras públicadas:
Um caso especial de arborização —1905. Mycetee aliquot et insecta pauca Theobro-
Les plus graves maladies du cacaover à mee cacao in Sancti Thomensis Insula (de
S. Thomé (de colaboração com o professor colaboração com o professor Sousa da Câ
José Joaquim dc Almeida) — 1910. mara—1910.
46 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Engenheiro-agrónomo (1900).
Nomeado professor do Instituto por Decreto de 7 de Março de 1914.
Anteriormente professor auxiliar da Escola Nacional de Agricultura de
Coimbra (Despacho ministerial de 26 de Novembro de 1902) e professor técnico
da mesma escola (Decreto de 9 de Novembro de 1904).
Agrónomo do distrito de Benguela (1901 a 1902).
Tem desempenhado várias comissões de serviço tais como:
Extinção dos gafanhotos no distrito de Castelo Branco (1901) ;
Estudos ampelográhcos da região vinícola de Colares (1908);
Estudo dos mostos do distrito da Guarda (1910);
Estudo das condições em que estavam funcionando as escolas agrícolas de
Santo Tirso e de Taboaço (1915).
Foi incumbido de estudar os meios de adaptar o edifício do Convento de
Cocujães ao estabelecimento duma colónia agrícola penal (1911).
Em 1905, foi encarregado pela Sociedade de Sciências Agronómicas, de
fazer o estudo vitícola do Algarve.
Sócio da Sociedade de Sciências Agronómicas de Portugal.
Tem publicado as seguintes obras:
Considerações sòbre a necessidade da cul Enxertia da videira no lugar definitivo.
tura intensiva dos cereais panificáveis. O sistema radicular das videiras america
As podas em viticultura. nas e a sua resistência à secura.
Decantação, lavagem e filtração do azeite Eabrico de estrumes.
(relatório apresentado para discussão ao Con A-propósito do falecimento de Eduardo de
gresso de Leitaria, Oleicultura e Industriado Sequeira.
azeite, em Lisboa em 1905). O míldio e as caídas.
Sòbre a cultura da vinha no Algarve. Adubo económico.
Sôbre a ampelografia de Colares. Poda Guyot.
Sòbre o estabelecimento duma colónia agrí Sistemas de poda.
cola penal no Convento do Couto de Cocujães. Prática da enxertia da vinha.
Sôbre as escolas agrícolas de Santo Tirso Época da poda.
e do Taboaço. A enxertia na cultura da vinha.
A-propósito do falecimento de Menezes Pi-
Em diversos jornais : mentel.
Enxertia na mão.
Sôbre a agricultura da Bairrada. Regentes agrícolas.
Cartas de Benguela (Economia). A escola de Coimbra.
A agricultura oficial nas Colónias. Cultura da vinha pelo sistema Desbois.
Sôbre adubos catalíticos (planos de expe Conferência sòbre Alexandre Herculano
riências). por ocasião do seu centenário, promovida
Adubação das vinhas. pela Academia de Coimbra.
O tempo e a cultura da vinha. Consultas na Gazeta das Aldeias, sôbre
Defesa contra o míldio e o oídio. química agrícola, ampelografia e viticultura,
As podas em verde. silvicultura, oleicultura, laticínios, culturas
Análises de terras. coloniais (desde 1913).
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 47
Engenheiro-agrónomo (1907).
Foi nomeado professor substituto do Instituto Superior de Agronomia por
Decreto de 7 de Março de 1914; professor catedrático de Silvicultura por Decreto
10 de Fevereiro de 1915 e professor ordinário (designação vigente) por Decreto de
de 20 de Setembro de 1917.
Exerceu no antigo Instituto de Agronomia e Veterinária as funções de pre
parador (Portaria de 18 de Janeiro de 1908); na Escola Nacional de Agricultura
de Coimbra, de 12 de Novembro de 1909 até 12 de Abril de 1914, as funções de
professor técnico (Decreto de 3 de Novembro de 1909); continuou, em comissão,
no exercício destas funções, sendo já professor substituto do Instituto Superior
de Agronomia, até 15 de Outubro de 1914, por Decreto de 18 de Abril do
mesmo ano.
Exerceu por duas vezes, interinamente, e no impedimento, emquanto Minis
tro, do professor Lima Basto, as funções de Chefe da Repartição de Instrução
Agrícola no Ministério da Instrução (Decreto de 26 de Dezembro de 1914 e de
11 de Maio de 1917).
Fêz parte do Conselho de Ensino Agrícola desde a sua criação (Fevereiro
de 1914 até ao térmo de 1917) como vogal, representando o Instituto Superior de
Agronomia, eleito pelo respectivo Conselho Escolar.
Desempenhou-se, incumbido pelo Govêrno, por Decreto de 24 de Abril de
1915, de uma missão de estudo em algumas Universidades dos Estados-Unidos
da América do Norte, juntamente com o professor Rui Ferro Mayer do Instituto
Superior de Agronomia.
Desempenhou-se, por encargo da Comissão, Executiva da Conferência da
Paz, da incumbência de elaborar uma « Memória acêrca da situação económica da
Agricultura portuguesa ».
Foi nomeado, por Decreto de 20 de Outubro de 1919, Director Geral da
Instrução Agrícola no Ministério da Agricultura, funções que está exercendo.
É vogal do Conselho Técnico Florestal do Ministério da Agricultura.
É sócio da Sociedade de Sciências Agronómicas de Portugal.
Obras publicadas:
Aspectos da questão do açúcar. 1907. A Situação económica da Agricultura por
A Fisiologia Vegetal nas suas relações com tuguesa. 1920.
a Agronomia. 1909.
Sôbre as diátases. 1914. Tem colaborado no Portugal Agrícola (com
A Universidade Americana nas suas rela artigos especialmente sôbre adubações), na Ga
ções com o público. A Extensão Universitá zeta das Aldeias, na Revista Agronómica, no
ria e os progressos da Agricultura. 1916. Agros (órgão da Associação dos Estudantes
A Utilidade das Árvores (Folheto de pro de Agronomia) com artigos sôbre ensino agrí
paganda nos Livros do Povo). 1917. cola, terminologia florestal portuguesa, etc...
48 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Engenheiro-agrónomo (1894).
Nomeado, por Decreto de 20 de Junho de 1914, professor substituto do Ins
tituto, onde já havia desempenhado 0 cargo de chefe de serviço, de 1895 a 1899.
Promovido a professor catedrático por Decreto de 13 de Março de 1915.
Anteriormente havia desempenhado os seguintes serviços:
Analista da Estação Químico-agrícola de Lisboa (1894-95).
Incumbido da organização do antigo Laboratório da Inspecção de Vinhos e
Azeites (1896).
Professor técnico da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra (1899).
Incumbido em 1911 da reorganização desta escola, de que foi nomeado director.
Missão de estudo à ilha da Madeira (1904).
Tomou parte no Congresso de Leitaria e Oleicultura de Lisboa, em 1905,
como relator das teses VI e XIV, cujos relatórios foram traduzidos em francês e
publicados no Boletim do Ministério da Agricultura de França.
No mesmo ano foi a Espanha examinar o plano duma exploração rural
moderna, a pedido duma emprêsa espanhola, concorrente ao prémio do fomento
criado pela lei Vilaverde, sendo o respectivo relatório traduzido em espanhol e
publicado naquele país.
E sócio do Instituto de Coimbra.
Obras publicadas:
Engenheiro-agrónomo (1900).
Foi nomeado professor substituto do Instituto por Decreto de 20 de Junho
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 49
Obras publicadas:
Planos e modelos de lagares de azeite (rela- Planos e modelos de leitaria (Relatório apre-
tório.—1905). sentado no mesmo Congresso).
Engenheiro-agrónomo (1912).
Nomeado professor substituto por Decreto de 20 de Junho de 1914 e pro
fessor ordinário por Decreto de 14 de Agosto do mesmo ano.
Encarregado, com o professor Azevedo Gomes, duma missão de estudo
aos Estados-Unidos (Decreto de 24 de Abril de 1915).
Tem sido incumbido de vários estudos e projectos de albufeiras e outras
obras hidráulicas em vários pontos do país, entre outros do estudo da modifica
ção duma barragem e do melhoramento da irrigação da Escola Prática de Agri
cultura de Santo Tirso (Portaria de 24 de Dezembro de 1917).
5° ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Obras publicadas:
A Comercialização da Agricultura—1912. Variação e Hereditariedade. Tendências e
Os Métodos Biométricos e as suas aplicações problemas actuais (Rev. Agronómica)—1914.
em Thremmatologia—1914. A Biometria e as Sciências Agronómicas
A Universidade Americana —1916. (Conferência).
A Alimentação do Gado, pelo Dr. Kellner La Production Agricole Portugaise (no jor
(Tradução)—1912. nal: Le Temps)—1911.
PROFESSORES INTERINOS
Fernando de Vasconcelos
Coronel de engenharia.
i.° assistente da Secção de Matemática da Faculdade de Sciências de Lisboa.
Foi nomeado para reger interinamente a Cadeira de Cálculo diferencial,
integral e de probabilidades do Instituto Superior de Agronomia.
Obras publicadas:
Análise espectral (1892). A intensificação das culturas cerealíferas em
Organização administrativa e analfabetismo Portugal (Conferência no Ateneu Comercial de
(1910). Lisboa—1917).
Sur Ia rotation des forces autour de leurs A rotina e o trabalho scientificamente orga
points d'application et Péquilibre astatique nizado. O taylorismo (In Atlântida e Revista
(in Anais da Acad. Politécnica do Porto — das Obras Públicas e Minas—1918).
1912). História das Matemáticas na antiguidade (Em
Sôbre a rotação das fôrças à roda dos pon publicação nos Anais da Universidade de Lis
tos de aplicação e o equilíbrio astático (Memó boa).
ria mandada publicar pela Academia das Sciên Colaboração na imprensa diária sôbre ques
cias de Lisboa —1912). tões económicas e administrativas.
Publicou:
Processos astronómicos expeditos para a
determinação do azimute duma direcção, 1 vol.
<x9r9 )•
ASSISTENTES
Obras publicadas:
Regimen da propriedade rural em Portugal
<I9°5 )•
Colaboração no Arqueólogo Português.
Obras publicadas:
O gado ovino em Portugal e o seu melhora las, económicas e zootécnicos publicados
mento (Conferência na Associação Central da no Portugal Agrícola, no Boletim da Associa
Agricultura Portuguesa). ção Central da Agricultura e no Século Agrí
Diversos trabalhos sôbre assuntos agríco cola.
Obras publicadas:
Breves considerações sôbre a análise quí- da Agricultura», tendo a seu cargo a secção:
mica das terras—1916. Através das Revistas Nacionais e Estrangei-
Colaboração no «Boletim do Ministério ras.
Obras publicadas:
Junto do Parlamento veem os engenheiros- de medidas que usurpam e ferem os seus di
-agrónomos, professores do Instituto Superior reitos.
de Agronomia, reclamar contra disposições de Já da entrevista com o sr. Ministro da Agri
recentes decretos atentatórios dos seus direi cultura, o Conselho Escolar tinha deduzido que
tos, erradas na significação e seu fim legitimo. nenhuma resolução justa era de esperar de S.
Referimos-nos aos decretos com fôrça de lei Ex.a, cuja atitude apenas correspondeu à defesa
n.os 5 627 e 5.787 DDD, ambos com data de 10 da classe dos regentes agrícolas, de que S. Ex.a
de Maio próximo passado, publicados respecti- é um dos mais ilustres ornamentos, mas que
vamente a 16 e 30 do mesmo mês, no 6.° e 21.0 nenhum dos reclamantes atacou, e que de ne
suplementos do Diário do Govêrno n.° 98, e es nhum recebeu ou receberá agravos, porque a
pecialmente aos artigos 8.° do primeiro, e i.°, consideramos tão prestimosa como a nossa, e
2.0 e 4.0 do segundo, na parte dêste último que tão necessária como a nossa no trabalho em
altera o artigo 283.0 do decreto com fôrça de comum (mas especializado) a favor da agricul
lei n.° 4.249 de 8 de Maio de 1918. tura do país. Ambas teem importantíssimo pa
Perante o sr. Ministro da Agricultura, prin pel a desempenhar, mas cada uma na sua esfera
cipal responsável dêstes decretos, e perante o de acção bem distinta: e assim é necessário,
sr. Presidente do Ministério, como chefe do para a ordem e proficuidade no esfôrço e como
poder executivo que os referendou, representou conseqúência lógica da sua preparação scien-
em primeiro lugar o Conselho Escolar do Ins tífica.
tituto Superior de Agronomia, que é certamente É em vista do nenhum resultado das nossas
a entidade mais directamente visada e interes representações ao Govêrno, que vimos junto do
sada na doutrina e realização das disposições Parlamento não protestar, porque até agora
daqueles artigos, por ser a escola onde se for êste Poder do Estado responsabilidade alguma
mam os engenheiros agrónomos e silvicultores, tem sôbre a promulgação dos decretos referi
por ser um estabelecimento de ensino superior, dos, mas representar contra algumas disposi
único com categoria para diplomar engenhei ções nêles contidas, usurpadoras de direitos
ros, como aliás é ponto assente em todos os da classe agronómica, de nulo proveito para a
países onde há uma séria organização de ensino, economia da nação.
onde a sua hierarquia se firma numa razão de Estamos certos de que as razões alegadas
ser scientifica, e portanto os títulos dos diplo levarão o Parlamento a reconhecer a justiça
mados correspondem à natureza e fins dos cur da nossa reclamação e portanto a anular os
sos, e não a meros caprichos legislativos. artigos visados, que constituem, no fim de con
A representação do Conselho do Instituto tas, a única razão de ser dos decretos n.°s 5.627
sucedeu à iniciativa de protesto de tôda a classe e 5.787 DDD.
agronómica e silvícola, que aos membros do A organização do ensino médio agrícola, de
Govêrno se dirigiu, não alcançando, penoso é que o primeiro se ocupa, é, na ideia e em mui
dizê-lo, poder ser recebida por S. S. Ex.as, a tas das palavras, o decreto com fôrça de lei de
quem desejava manifestar respeitosa, mas con- 26 de Maio de 1911, alterado em duas disposi
yictamente, 9 $eu desgôsto pela promulgação ções que, quanto a nós, peoram e não melho
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 55
ram a anterior organização; referem-se ao au scientífico, sem mostrar inexacta compreensão
mento do limite de idade para a admissão dos do sentido do termo «engenheiro», sem revelar
alunos, e à conversão do antigo ciclo comple o legislador que confundia funções e hierarquia
mentar de estudos, de freqúéncia facultativa, dos serviços, e, fundamentalmente, a organiza
em parte integrante e obrigatória do curso. ção scientífica e técnica do Instituto Superior
Mas disto não curamos, e apenas se traz, e duma escola secundária.
como prova de que a mira real do decreto de O recente decreto de 10 de Maio atenta por
io de Maio foi a criação do titulo de engenheiro tanto contra as regalias ds Instituto Superior
agrícola. de Agronomia, e contra os direitos dos seus
O acréscimo de vencimentos a professores e diplomados, que são todos os agrónomos e
outros funcionários do ensino médio, medida silvicultores portugueses.
justa e necessária, não importava a promulga Os únicos argumentos, aduzidos no relatório,
ção dum decreto com 277 artigos; a anterior a favor do novo título são: i.° a equivalência
organização das escolas nacionais de agricul do régisseur (o nosso regente) ao baixo têrmo
tura não precisava de modificações, ninguém «abegão»; 2.0 a antiga aspiração da classe dos
de autoridade as reclamou, nem afinal as teve, regentes agrícolas; 3.0 o diploma conferido pe
a não ser nos dois pontos atrás citados, com- las escolas médias agrícolas francesas. Nenhu
quanto no respectivo relatório se afirme com ma destas circunstâncias se dá.
certa pompa que, em vista da necessidade de Abegão, segundo o Dicionário Contemporâ
intensificar a produção agrícola nacional, se neo, é derivado do grego Boukaios, guarda de
reforma o ensino agrícola médio, que afnal se bois; e é esta em português a sua acepção
não reforma senão no título dos diplomados, o mais geral, comquanto em algumas regiões, o
que não julgamos constituir matéria fertilizante abegão seja encarregado da capatazia dos ser
do solo português. viços da propriedade, quando esta, aliás, nâo
Começámos por acentuar que êstes decretos excede um certo arranjo agrícola.
continham matéria atentatória dos direitos dos Bluteau define-o «aquêle que tem cuidado do
engenheiros agrónomos e silvicultores, e com carro, bois, etc., e vai lavrar como criado do
portavam disposições erradas na significação e lavrador». «Abegoaria é a Villaris de Plínio, e
sem fim legítimo. Villisatio a administração do abegão».
Não fazemos aqui, é evidente, a apreciação Ora régisseur não corresponde tal a abegão.
de todo o decreto n.° 5.627 porque isso não im Aquêle têrmo francês, conforme o Nouveau
porta ao nosso ponto de vista, e mesmo e so dictionaire classique de la langue française de
bretudo porque o que dêle ressalta é: o reco Bescherelle, é celui qui régit;—régisseur d’un
nhecimento completo e oficial da boa obra do dotnaine, d'une terre. Règir significa, segundo o
Govêrno Provisório em matéria de serviços mesmo clássico dicionário, soigner e faire aller
agrícolas, que muitos contrariaram, alguns des quelque chose dont on a la conduite—un bien, une
truíram, e pouquíssimos se deram ao trabalho terre.
de a conhecer, pela pecha ingénita, muito vul Littrè confirma estas definições.
gar entre nós, de tratar os assuntos pela rama, O regisseur dirige ou administra uma pro
ou por falta de orientação intelectual em ques priedade agrícola.
tões de ensino e nos meios de adquirir sciência. A legislação francesa apôs-lhe o explicativo
A organização do ensino médio, decretada «agricole» para designar o diplomado com um
em 26 de Maio de 1911, teve detractores: devem curso técnico.
reaparecer, agora, visto que, oito anos passa Entre nós, regente, na acepção lata, é o que
dos, se persiste, quanto a muitos pontos cen rege, que governa, que dirige: — regente dum
surados, no mesmo êrro. colégio, dum recolhimento, duma orquestra.
O que a organização de 1911 não fêz foi con Apondo-se-lhe «agrícola», especializa-se a «re
ferir aos diplomados das nossas escolas nacio gência» a uma propriedade rústica, e, como
nais de agricultura o título de engenheiro-agrí têrmo consagrado na nossa legislação há mais
cola ; e não o fêz porque o não podia fazer de meio século, é um diplomado com um curso
sem ofensa da mais rudimentar noção de direi técnico que o habilita a reger, a dirigir uma ex
to, sem menoscabo dum elementar princípio ploração agrícola.
56 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRNOMIA
São os regentes agrícolas da antiga Quinta agrícola e por seu turno se especializam con
Regional de Sintra, da Escola Morais Soares de forme os interêsses económicos da região em
Santarém, da Escola Nacional de Agricultura que assentam.
de Coimbra, cujas honrosas tradições e bons Assim,a de Grignon dedica-se particularmente
serviços agora se quiseram apagar, cobrindo-os à grande cultura, ao cultivo dos cereais, de for
com a mal talhada capa de engenheiros-agrí ragens e de plantas industriais, zootecnia e in
colas, que, se diz, vir satisfazer uma antiga as dústrias agrícolas do norte da França; a de
piração da classe, quando mais nos parece vir Montpéllier especializa-se sobretudo nas cultu
sòmente aquentar alguns dos seus membros, a ras mediterrâneas (vinha e olival), cria de ovi
quem menos calor fornecem o antigo título e nos, sericicultura, vinificação e oleiotécnia; na
a bem entendida ufania da sua profissão. de Rennes estudam-se em particular os lacticí-
«Mais do que o título, o que importa ao país nios e a cidra, a particultura e as culturas e
nesta matéria, é que a habilitação dos nossos indústrias rurais próprias do ocidente francês.
novos técnicos seja tal que dêles se possa es Abaixo destas estão as Écoles pratiques d’A-
perar uma eficaz e benéfica intervenção no griculture, que são os institutos de ensino mé
melhoramento das condições actuais da nossa dio, equivalentes às Landwirtchafschulen ale
lavoura.» mãs, aos Agriculiural Colleges de Inglaterra, às
São palavras textuais do relatório que pre Agricultural Secondary Schools americanas, às
cede o decreto, àparte o itálico do têrmo novos, Scuola Pratiche de Agricoltura de Itália, às espa
que não vem a-propósito. nholas Escuelas de Peritos Agrícolas.
É de aceitar tal doutrina:—para que se criou Depois ainda veem, em França, as Fermes—
então novo título (e não novos técnicos), e um Écoles. De modo que as Écoles pratiques d’Agri-
título errado? culture são intermédias entre as escolas nacio
Mas, comquanto efectivamente o valor do ho nais e as granjas escolas.
mem importe mais do que o título, êste deve Em Portugal não temos nem esta gradação
corresponder às habilitações scientíficas e ao de instituições agrícolas de ensino, nem mesmo
grau da escola que o confere; aliás é uma inu alguns dos seus tipos.
tilidade, ou melhor uma falsidade, ou ainda Não os temos, nem os comporta a nossa su
melhor, um atropêlo dos direitos daqueles que perfície territorial nem as nossas condições
teem a faculdade de o conferir e de o usar. agrícolas.
O argumento de que as escolas nacionais de Entre nós funciona o Instituto Superior de
agricultura francesas dão modernamente aos Agronomia, como única escola superior de
seus diplomados o título de ingeniettr agricole agricultura, que forma engenheiros agrónomos
não ê de molde a estear a inovação portuguesa. e silvicultores. Em sucessivo grau de ensino
As Escolas Nacionais de Agricultura são, em temos as escolas nacionais de agricultura, que
França, a de Grignon, a de Montpéllier e a de professam a instrução média, e que, conquanto
Rennes. iguais na nomenclamra, não são equivalentes
Comquanto iguais no título, não se equipa às homónimas francesas actuais, pois que estas
ram perfeitamente entre si no programa dos são estabelecimentos superiores, pôsto que di
seus estudos e no fim do seu ensino. versas, na sua índole, do Instituto Agronómico
Aquelas três escelas são institutos de cate de Paris.
goria superior, diversas, na sua especialização, Os preparatórios exigidos para a entrada nas
do Instituto Agronómico de Paris, como, no écoles nationales francesas são muito mais ele
fim de contas, elas próprias, já o dissemos, di vados que os necessários para a admissão nas
ferem entre si. nossas escolas nacionais, que se resumem à
Êste desenvolve princiDalmente os estudos instrução primária.
scientlficos, prepara sobretudo para o alto en Abaixo dêste ensino médio, da escola de
sino agrícola e para os serviços técnicos ofi Coimbra, vem o elementar, ministrado, por
ciais ou privados; as escolas nacionais, além exemplo, nas escolas práticas de agricultura
dêste último fim, teem também o de preparar de Queluz e de Santo Tirso.
indivíduos destinados a dirigir as grandes pro Para o mesmo grau de ensino médio, se acha
priedades ou quaisquer explorações de carácter estabelecida a Escola Técnica Secundária de
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 57
Agricultura de Santarém, que data de 6 de Fe sos certas aptidões e conhecimentos que nou
vereiro de 1915 (lei n.° 308), e frescamente al tros se devem restringir para alargar os doutra
vejado em suplemento 27.0 do Diário do Go- ordem.
vêrno n.° 98. Esta escola, desde 1915, dá a Por exemplo: a Patologia Vegetal deve en
mesma instrução técnica da de Coimbra, mas trar no ensino elementar, médio e no superior:
diverge na preparação geral dos alunos, de mas sob o mesmo nome que diferença nas no
que a organização de 19x1, cuidou, como abso ções a ensinar! No primeiro pouco se passará
lutamente necessária e correspondente perfei da mais vulgar, conquanto perfeita aplicação
tamente aos moldes em que se deve vazar êste dos tratamentos nas epifítias correntes; no mé
ensino. dio já se ensinará o reconhecimento das doen
O tipo de ensino completo ministrado na ças conhecidas; no superior estudar-se-ão a
Escola de Coimbra tem, desde 1911, as caracte- fundo os agentes mórbidos em tôda a sua etio
rísticas clássicas da instrução própria das esco logia, o que importa conhecimentos de alta
las médias agrícolas. Ce dernier systeme, diz botânica e entomologia, de bacteriologia e de
De Vuyst e o confirmam outras autoridades em todo o arsenal micrográfico de que a grande
pedagogia agrícola, est préfèrable, d’autant plus sciência se tem de valer.
que, souvent, les élêves ont fait des études prêpa- Não há, a bem dizer, uma Patologia Vegetal
ratoires tnsuffisantes. elementar, outra média, outra superior: o que
Assim, além dos elementos das sciências fisi- há são ramos dessa Patologia, cujo estudo e
co-naturais, figuram no seu elenco de disciplinas aplicação competem aos profissionais dos di
preparatórias, as línguas portuguesa, francesa e versos graus de instrução.
inglêsa, matemática e desenho, noções de so O mesmo sucede com outras sciências apli
ciologia; como factores de educação física, os cadas.
trabalhos manuais, os jogos, a equitação, além Por isto e por outras razões a lista das dis
da aprendizagem técnica metódica e dum re ciplinas duma dada escola, e mesmo, até certo
gime de vida higiénico. E isto porque les écoles ponto, os seus programas não nos dizem ao
ne doivent pas seulement avoir pour but la for- certo o desenvolvimento e o_carácter da instru
mation de Pintelligettce, mais aussi celle de la ção nessa escola. A orientação do professor
volotité, du caractere, sutis lesquels on peut, cer- nas suas lições e o material de ensino que a
tes, instruire des professionels, mais sans les escola utiliza é que é o principal.
quels on ne forme pas des hommes». A nossa Escola Nacional de Agricultura cor
Ora teve-se efectivamente a pretensão de, a responde muito mais, no ponto de vista técni
par de técnicos, formar homens, de que em co—que é o que vale —a Ecole pratique d’Agri-
Portugal tanto se precisa. culture francesa ; são uma e outra escolas de
Mas êste lado do ensino, para a questão que categoria média, nada tendo qualquer delas
nos prende, não é capital. com o ensino técnico superior.
A instrução técnica ali ministrada é, para to A nossa legislação copiou títulos e nada
dos os efeitos, uma instrução de grau médio. mais.
Em todas as categorias de escolas agrícolas, Em tôda a parte a organização dos diversos
os cursos hão-de conter botânica, zoologia, fí graus de ensino é diferente, sendo necessaria
sica, química, etc., quer sejam elementares, mente assim, porque nem em todos os países
quer sejam superiores: são sciências basilares as condições agrícolas são idênticas, e o ensino
dos cursos agrícolas. para ser profícuo, deve amoldar-se justamente
O que diverge em cada um dos graus é a aos variadíssimos aspectos económicos e so
quantidade e a qualidade (digamos assim) dos ciais de cada país e de cada região.
conhecimentos físico-naturais ministrados. Não confundamos títulos com programas,
Na parte de sciências agrícolas acontece coisa não sejamos cegos nas adaptações, não bula
semelhante, mas aqui é preciso fazer selecção mos com o ensino como sendo uma péla ôca.
mais da qualidade do que da quantidade das Digamos de passagem que, anexo à Univer
noções professadas; visto que cada diplomado sidade de Lovaina, funciona um Instituto Agro
vai ter sua função diversa, e seu ponto de apli nómico: nêle se professa o ensino superior de
cação diferente, necessita desenvolver nuns ca Agricultura, tendo os diplomados o título de
58 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Que rnais é preciso dizer para provar a Este processo de endostnose não nos parece
recta orientação dos que protestam contra o fisicamente aceitável.
tal artigo 8.°, e contra a inanidade da doutrina Convirá notar que êste principio o defende
que êle traduz? mos, porque tratamos de diplomas conferidos
Que respondam os de boa fé. por escolas. Julgamos, com esta observação,
Para estes não nos faltam razões a opôr; prevenir que alguém de espírito avêsso, nos
para os outros nem estas mesmas se lhes di alcunhe de reaccionários.
rigem. Em 1899 o quadro dos agrónomos continha
* além de 2 inspectores, 42 agrónomos; o de sil
* *
vicultores 1 inspector e 8 silvicultores. Os
Vamos agora examinar o decreto com fôrça actuais quadros compreendem respectivamen-
de lei n.° 5.787 DDD, cujos artigos i.°, 2.°e4.° te 2 inspectores e 107 agrónomos, 1 inspector e
merecem reparo; o primeiro fazendo ressurgir 14 silvicultores. Quere dizer, hoje há mais 71
uma disposição do decreto de 28 de Dezembro destes funcionários que em 1899. Portanto,
de 1899, o segundo equiparando vencimentos olhandb a questão pelo lado prático, se então
de funcionários diferentes, o último substituin haveria necessidade de entregar serviços de
do no laboratório de Patologia Vegetal do Ins agrónomos a regentes, actualmente não : as
tituto Supeiior de Agronomia três engenhei comissões de serviço pouco variaram.
ros-agrónomos por outros tantos regentes. Em outro artigo, no 2.0, aquèle decreto dá.
Para os muitos que olham as coisas só pelo aos regentes principais vencimentos iguais
lado interesseiro, relegando os princípios para aos dos engenheiros-agrónomos ou silviculto
o nevoeiro das futilidades, êste decreto será res sub-chefes, e aos regentes de i.a classe
pelo menos inofensivo. os mesmos que competem aos agrónomos e
O decreto de 1899 dava as honras de agró silvicultores subalternos.
nomo ou silvicultor aos regentes principais: Isto não é justo nem anima o brio e a von
agora reedita-se êste principio como conti tade de quem estuda pelo menos doze anos
nuação lógica do espírito do decreto 5.627. para obter um diploma de curso superior, e,
Esta doutrina seria admissível com aplica para no fim dêste longo período de trabalho
ção acidental; aqueles que, pela sua inteli e despesas, se ver substituído e por vezes
gência, pelo seu zêlo no serviço, demonstrado suplantado em honras e proveito por indiví
em longos anos, pelos seus trabalhos distin duos de menores e bem diversas habilitações.
tos, sob proposta dos inspectores a uma enti Que os cursos divergem di-lo primeiro a
dade superior consultiva do respectivo minis razão, e por fim o decreto: o legislador não
tério, disso fossem julgados merecedores, se computa em mais de um centavo essa dife
riam elevados a essas honras, como prémio rença? Seja assim. Mas que se traduza por
às qualidades ilustres. êsse centavo o que o Estado arbitra de pro
Decretada como medida geral é, na nossa ventos a cada uma das categorias dêstes fun
opinião, um êrro. cionários.
O regente pode ser um funcionário distintís Pelo artigo 4° altera-se a redacção do artigo
simo em tóda a acepção da palavra, pode em 283.0 na organização do Ministério, tirando do
determinada ocasião e em circunstâncias espe laboratório de Patologia Vegetal três enge
ciais de estudo e aplicação, valer como um nheiros-agrónomos e confiando os lugares de
agrónomo ou silvicultor, mas originária e ofi preparadores a trés regentes agrícolas.
cialmente é regente, formado noutra escola, Não se compreende que só possam desem
tendo papel diferente, como habilitações e penhar estes lugares os regentes agrícolas e
serviços. A classificação dos seus méritos, le não também os florestais, visto que as habilita
vou-o a principal; mas essa categoria de dis ções são as mesmas, e neste laboratório tanto
tinção fica dentro da sua classe, está bem. interessa o estudo das doenças das plantas
Permitir-lhe o ingresso em classe alheia das matas como de outras quaisquer culturas.
pelo facto de ser óptimo na sua, só admiti Mas o ponto capital é a substituição dos
mos como medida eventual, e passando por agrónomos pelos regentes, que desejaríamos
formalidades indispensáveis. ver justificada. Este decreto não tem relatório..
6o ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
preambular, de modo que não podemos apreen tas coisas não sabemos. É próprio da conti-
der os motivos da alteração decretada. gência do espírito humano.
Com certos animais de engorda, com outros André Sanson, como capital ou como instru
a que se exije a velocidade máxima no anda mento de produção, divide-se naturalmente
mento, e com tantosmais diversos exemplos se em dois períodos bem distintos, correspon
prova, que, na prática, a higiene da máquina dentes à marcha normal dos fenómenos bio
animal corre, até certo ponto, parelhas com a lógicos. Durante o primeiro—o do crescimento
conservarão do maquinismo morto. —ou período de construção da máquina, o
Além disto, os processos de melhoramento valor desta vai continuamente aumentando;
teem em mira o aproveitamento pelo homem, cria capital e ao mesmo tempo dá rendimento
no maior grau, desta ou daquela região do ou produto. Durante o segundo período—o da
corpo do animal, dêste ou daquele carácter. decrepitude natural — consome, diminuindo
A experimentação, a análise, o cálculo, as progressivamente de valor, como a máquina
avaliações biométricas teem o preponderante morta. Neste período a própria máquina ani
papel na conservação dos requisitos em mira, mal precisa ser conservada e amortizada.
factores em grande parte paralelos aos utili Mas, se o animal, segundo as conveniências
zados no aperfeiçoamento de instrumentos económicas, só deve ser mantido na explora
doutra qualquer natureza. ção até atingir o ponto culminante do seu va
Sanson chama à Zootécnia a tecnologia das lor industrial, e emquanto êste valor ê repre
máquinas animais, sendo a noção económica sentado pelo menos por uma abscisa do mes
a que predomina na caracterização desta mo nível, no deve da conta gado não tem de
sciência; a higiene, no que respeita ao gado, figurar verba de amortização.
pode ser por vezes um meio, mas nunca é Ainda, segundo o clássico Sanson, o critério
o fim da sua exploração. O melhor animal é duma emprêsa agrícola, no que respeita ao
sempre aquêle que deixa maior lucro, tendo gado, está no valor dado aos alimentos, tira
portanto a sua apreciação, por único critério dos da terra, pela exploração da máquina ani
seguro, a contabilidade agrícola. mal. Se um hectare, cultivado de forragens,
A exploração do animal tem necessária- produziu, depois da sua transformação pelo
mente que se integrar na exploração agrícola. gado, um valor de 2oo$ooo réis, emquanto que
O gado sustenta-se dos produtos da terra, fa vendendo essa forragem, o lavrador só obteria
brica com êles a carne, o leite e outras subs 180S000, a solução zootécnica é evidentemente
tâncias, tão necessárias ao consumo das popu vantajosa. E a relatividade desta conveniência
lações e objectos dum importantíssimo co mede-se precisamente pelo maior ou menor
mércio do lavrador, ao mesmo tempo que valor criado. A espécie, a raça, o indivíduo
presta enormes serviços na própria produção, que mais valorizou o produto do solo deve ser
e que deixa, como resíduo da sua alimenta o preferido; no mesmo pé devem ser consi
ção, os estrumes, tão preciosos na fertilidade deradas as diversas funções do animal.
do solo. Esta complexidade do seu papel dis De modo que desta noção, que é a verda
tingue efectivamente, em certos pontos, a má deira e prática, se deriva a conveniente orien
quina animal da máquina morta: mas a con tação zootécnica na emprêsa agrícola, e que
tabilidade bem compreendida e bem executa se funda na exacta apropriação das aptidões
da, traduzindo as duas maneiras de ser espe do gado às funções económicas, para assim
ciais, faculta a apreciação exacta do que cada elevar ao máximo o rendimento da sua explo
uma traz ao resultado final da exploração. ração.
Ainda se pode apontar outro carácter dife Ora esta apropriação não se faz em abstra
rencial, mas no fundo, simplesmente econó to, mas concretamente, isto é relativamente a
mico: é que a máquina morta só tem efeito cada espécie ou raça, e, dentro dela, a cada fun
depois de completa, mas, começando a traba ção fisiológica, mas também a cada conj unto de
lhar, requere no computo dos seus resultados condições meteorológicas e agrícolas.
uma verba de amortização. A máquina ani A Zootécnia, com efeito, é uma das ciências
mal, construindo-se a si própria com os pró aplicadas que fazem parte dos estudos agronó
prios alimentos, está capaz de trabalhar e de micos, como a sua prática se exerce dentro da
dar produto mesmo antes de completar a sua exploração agrícola. É sciência de organização
construção. A duração da sua existência, diz moderna, mas hoje perfeitamente caracterizada.
Ó2 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
de vida, isto é, os sêres vivos que não teem tions must be ordered— O breeder do futuro tem
valor económico, a não ser que descubramos de ser um guarda-livros e um estatístico, opina
nêles circunstâncias que derramem luz sôbre o professor Davenport, sem afirmar que terá
o estudo das formas económicas. de ser um veterinário.
Isto dá-se quási sempre, visto que afinal as Êste podê-lo-á ser, opinamos nós, mas se
leis biológicas regem a totalidade dos sêres se fizer, que não pela especialização da natu
criados. reza do seu curso.
A base da trematologia, é indubitàvelmente O assêrto, que temos tentado evidenciar com
o estudo da variação, matéria vasta que se tôdas as considerações que precedem, e com
espraia através de tôda a sciência da vida, e as opiniões traduzidas dos maiores mestres
nestes têrmos não estranhável, antes de todo desta sciência, sobretudo dos veterinários
o ponto natural e necessário, que nestes estu zootecnistas clássicos, para maior fôrça con
dos se vão buscar freqflentemente factos e cordes desde o seu início até ao estado actual,
observações muito longe do campo restrita- período durante o qual a Zootecnia tanto tem
mente agrícola; caminha-se em todos os sen evolucionado e progredido, é constante atra
tidos, espreita-se tudo em que pressintamos vés de todos os tempos e de tôdas as escolas.
elementos aproveitáveis, explorando-os o mais Fecha êste ciclo o nosso patriarca zootecnista
possível. «Unfortunatily the workersin strictly o professor Silvestre Bernardo Lima, que, nos
agricultural fields are all too few and the re- apontamentos das suas lições professadas no
liable data deplorably meager thoutgh some Instituto Geral de Agricultura, ao referir-se às
original and I trust valuable matter has been diversas classes de estudos, com que Gasparin
receatly added to our stock of knoledge.» constituiu a Zootecnia, os divide da seguinte
Seria ilucidativo transcrever e pôr em pa forma: Zootenia ou história natural da Zoote
ralelo os índices de dois livros, um o «Tratado cnia, estudo dos animais úteis nas suas dife
de Zootecnia» de Déehambre, outros os Prin rentes espécies e raças; Zoogonopedia, conhe
cipies of breeding de Davenport, para nos cer cimento do modo de produzir e sobretudo me
tificarmos da identidade das matérias julgadas lhorar e educar os animais (zoogonopédia,
pelo primeiro como fundamentais no estudo etimològicamente, significa geração ou produ
da Zootecnia, pelo segundo como basilares no ção e educação melhorada dos animais); Zoo-
breedtng quer de animais quer de plantas. A hígia, 0 estudo que considera o modo e os meios
primeira parte do livro de Déehambre é de de conservar todos os animais; é a higiene;
dicada à variação e hereditariedade, a segun Zoorística, a arte de calcular e precisar os ga
da ao estudo do indivíduo, sexo, variedade, nhos e perdas que pode dar uma especulação
raça, e espécie, a terceira e última ao melho qualquer intentada nos animais domésticos.
ramento, seus factores, adaptação. No livro Ora aqui temos bem definidos e destrinçados
de Davenport, aliás mais desenvolvido neces os assuntos cujo conjunto formou a sciência
sariamente, as matérias tratadas são as mes zootécnica, os quais assentam na Zoologia,
mas, ocupando-se a parte final dos problemas para conhecimento prévio do animal, na sua
práticos a considerar, tanto no plant-breeding higiene que há de forçosamente acompanhar a
como no animal-breeding. sua biologia, na contabilidade da sua explora
Aqui temos um tratado de Trematologia ção, e nos processos trematêcnicos cujo estudo
constituindo a essência dum tratado de Zoo sério e especulativo é recente, mas que de
tecnia, o seu quinhão mais scientífico, mais longa data se teem como fulcro de tôda a
utilizável, mais palpitante de interêsse e de exploração económica do animal.
resultados práticos. Desta composição, comquanto tôdas as suas
Estes estudos biológicos teem tomado ne- partes tenham importância (basta que sejam
cessàriamente um aspecto de exacção, uma afinal componentes), a que na prática a tem me
feição matemática, de que só a balança e o nor, é a higiene, porque, como já acentuámos
cálculo são instrumentos capazes de mostrar com Magne, na exploração utilitária a saúde é
a significação dos dados, e o valor dos resul- até certo ponto sacrificada ao lucro, e, segundo
dos—It is by this road that many tiewprincipies Bernardo Lima, os cuidados e regras da hi
will arrive and that many of our future opera- giene estão ao alcance de tôda a gente.
64 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Feita esta asserção, esperamos contudo ser técnica e, próximo, em Zolikoffen, numa es
sinceramente compreendidos, no alcance que cola de queijaria, cujo principal fabrico é o
aqui lhe damos. Gruyère, dirigem e ministram o ensino agróno
mos,cujo zêlo higiénico pudemos testemunhar.
*
* * Na Bélgica são os agrónomos das circuns
Assentes estes pontos fundamentais, lance crições que teem a seu cargo os serviços zoo
mos uma vista de olhos muito geral sôbre o técnicos e tudo quanto respeita ao fomento
modo como estes princípios são realizados pecuário. É o Office rural do Ministério da
nos diversos países, e o que tem sucedido Agricultura, direcção geral por onde correm
entre nós a tal respeito. todos os serviços de ensino, experimentação,
Na Alemanha, em tôdas as escolas agronó estatística e laboratórios, dirigido actualmente
micas superiores, sem excepção, o ensino da pelo ilustre De Wuyst, que superintende sô
Zootecnia faz parte do seu curso. bre o serviço analítico das substâncias ali
Em França, como já atrás notámos, estes mentares de qualquer origem, e sôbre as ex
estudos especiais foram iniciados no meiado periências e demonstrações relativas à ali
do passado século, no Instituto Agronómico mentação do gado. Todos os anos e freqúen-
de Versailles, e ainda hoje, na i.a secção do temente, os agrónomos do Estado distribuem
ministério da Agricultura, à qual pertence o aos cultivadores avis impressos sôbre varia
ensino agronómico, dependente dêste e com díssimos assuntos que lhes interessam, e, entre
êle em intima ligação, se encontram as nu estes, sôbre processos de alimentação de vá
merosas escolas de leitaria, queijaria, Está rias espécies de animais domésticos.
bulo Nacional de Rambouillet; sendo êste úl É no célebre Instituto Agrícola de Gembloux
timo estabelecimento dirigido pelo ilustre escola superior de Agricultura modelar, que se
agrónomo Mr. Coutte, considerado a primeira ensina, na Bélgica, a sciência zootécnica, divi
autoridade em ovinos. dida nos cursos de Anatomia, Fisiologia, Hi
Ao quadro oficial de administradores de giene, Patologia das doenças contagiosas, po
coudelarias francesas só podem concorrer os lícia sanitária, alimentação, produção, criação
alunos do Instituto Agronómico, que formam e apreciação dos animais domésticos, cursos
o quadro das escolas dos haras, como, por que podem ainda ter um ensino complemen
exemplo, a Escola Nacional de criação cava tar facultativo aos diplomados, com o fim de se
lar em Pin, considerada escola de aplicação especializarem e de completarem os seusconhe-
ou continuação do Instituto Agronómico, cimentos em cada uma das três secções—Águas
onde os alunos agrónomos são, desde da sua e Matas, Química e Indústrias agrícolas, Agrono
entrada, subsidiados pelo Estado, e, termi mia e Ensino, sendo nesta última que se in-
nado o curso de 2 anos, admitidos no quadro clue o estudo complementar da Zootecnia.
dos administradores de coudelarias. Ainda na Escola provincial de cultura e cria
Na Holanda, no Instituto de Wagueningen, ção de gado de Ath, instituída pela província
a Zootecnia figura no 3.0 ano de Agronomia, de Hainaut, instituição exclusivamente dein-
e são os agrónomos os funcionários queteem terêsse agricola, como se declara no art. x.° do
a seu cargo o fomento pecuário. seu regulamento orgânico, se dá a simbiose
Na Hungria, na Escola Superior de Agrono no ensino, da agronomia e das questões pe
mia de Magyar-Ovar, logo no i.° ano se pro cuárias nos três anos da sua instrução. Não
fessa a Zoologia agrícola, criação e educação só as questões gerais de Zootecnia, como as
dos animais da granja, e, no imediato, a Zoo especiais, teem nesta escola um desenvolvi
tecnia especial às várias espécies. mento relativamente grande.
Na Rússia, a cadeira de Zootecnia especial Nos institutos de Ultuma e Alnay (Suécia), a
está incluída no 4.0 ano do curso do Instituto par das cadeiras de Drenagem, Horticultura e
Agrícola de Moscovia. Agricultura, professa-se a cadeira de Zootecnia.
Na Suíca, no Politécnico de Zurich, profes- Nos Estados Unidos da América do Norte,
sa-se a cadeira de «Estudo geral das produções tomamos para tipo a Universidade de Cor-
agrícolas e produção animal»; e em Ruti, na es nell, uma das de mais completa e perfeita
cola agrícola que tem anexa uma estação zoo organização, dêste país.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 65
sa, não lhe bastando o terreno especial da no propósito de estabelecer princípios e de sa
veterinária, nem lhe cabendo nos moldes. near ideas, visto que um problema mal pôsto
O médico veterinário tem elevada e útil mis nunca terá solução positiva. Aquêle que nos
são a desempenhar, qual a da defesa sanitária prende—a economia agrícola do país— é de
dos animais, no interesse não só da economia todos os problemas nacionais o mais comple
da agricultura, como da ingente questão da xo, e o de resultados mais decisivos, portanto,
saúde pública, e se aqui fazemos referência a o que tem de ser encarado com mais clareza,
competências e as cotejamos, é simplesmente e resolvido com mais sciência e maior acêrto.
pretensão já antiga dêste Conselho, a efectiva- mia oficial, é abordar, quanto a nós, dentro
ção de um empréstimo, custeado pelo Estado, da organização do Ministério da Agricultura, a
que permita imprimir aos nossos trabalhos a execução de serviços que devem ser o próprio
feição intensiva que é urgente que êles to nervo desta organização, a base sólida em que
mem; e 6ste é o primeiro assunto que entre se firme a soma de actividades que lhe cor
gamos ao critério de V. Ex.a. respondem.
Por outra parte tem a nossa Escola pendente Por isso mesmo é o Conselho Escolar, nesta
do Parlamento algumas emendas à sua actual altura, com lógica, levado a ponderar a V. Ex.a
organização, no número dos quais determina como exigem as conveniências do país que se
das alterações de ordem pedagógica cuja ime enverede decididamente pelo caminho da ins
diata promulgação seria de vantagem, como a tituição dêstes núcleos de trabalho sério e fe
que se refere ao modo de provimento do pes cundo, que só as Estações agrárias, quando ta
soal docente, professores e assistentes. Igual lhadas nos largos moldes da organização do
mente seria grato a êste Conselho que V. Ex.a Govêrno Provisório, deixando-se uma vez por
se interessasse pelo andamento do citado pro- tôdas de centralizar serviços, que o mesmo é
jecto de emendas. dizer, quási, burocratizar serviços técnicos, es
E, além disto, sem fugir ainda do seu estrito terilizando-os, para os entregar antes, dando
campo de acção, o Conselho Escolar do Insti- lhes vida, às diversas regiões, cujo estudo e
tituto Superior de Agronomia julga da maior cujo fomento só assim êles poderão realizar.
utilidade a criação duma Estacão Experimen Pelo que respeita a outros graus de ensino
tal Agrícola Central que funcione sob sua agrícola—que não o nosso—não precisa êste
orientação, como julga indispensável, que a Conselho de acentuar perante V. Ex.a, Sr. Mi
actual Estação de Ensaio de Máquinas e o nistro da Agricultura, como é por igual uma
Laboratório de Patologia Vegetal se mante necessidade urgente do país, a sua intensifica
nham orgànicamente íntegros, mas anexados ção. Pode dizer-se que nas suas linhas gerais, a
à nossa Escola, formando corpo com ela. actual organização de conjunto satisfaz, que
Não é esta a oportunidade para divagações, estão achadas as modalidades e as gradações
embora no campo scientifico, mas V. Ex.a mais convenientes. O que não pode porém di-
fará certamente bom acolhimento à idéia de zer-se é que esteja feita na devida proporção a
que um estabelecimento de ensino superior obra de irradiação escolar e que os ensinamen
agronómico, como o nosso, só exercerá ca tos, por via das Escolas Agrícolas, estejam
balmente a sua missão quando em íntimo chegando na justa medida até onde são preci
contacto com o meio agrícola, quando capaz sos. Modalidades há mesmo de ensino que a
de bem o estudar e conhecer, e de intervir lei consigna, exemplo o ensino feminino inte
então no seu melhoramento, nos vários as ressando por agora apenas a Escola «Vieira
pectos culturais e tecnológicos. Nem outra Natividade» em Alcobaça, que não lograram
coisa quere dizer o confiar-se à nossa Escola ainda, à míngua de recursos, comêço sequer de
—como a escolas ou faculdades congéneres, realização; e se em outras escolas, das mais
—a tarefa da extensão universitária. antigas e com melhores tradições, um punhado
Ora a verdade é que tal contacto com o de agrónomos, dos que mais honraram o nosso
meio e imediata influência sôbre êle, só se con Instituto que os formou, lhes imprimem sinais
seguem como ê coisa bem patente nas modela evidentes de progresso, em nenhuma—dizem-
res Faculdades de Agronomia das Universida -no os próprios Conselhos Escolares — está
des Norte-Americanas, pelo funcionamento atingido o grau bastante de eficiência no tra
anexo de Estações experimentais, guiadas pe balho, que se faz mister. Em nenhuma, sobre
los diversos corpos docentes, que de resto» tudo a influência a exercer na região, para
recebem da labuta experimental, que além fora dos estreitos limites da Escola, tem segu
dirigem, o melhor ensinamento e o principal ras garantias de êxito, e neste sentido não
motivo do seu aperfeiçoamento técnico. hesita êste Conselho Escolar em defender a
TocáP^entre nós êste assunto das Estações idéia de que deve também aqui, sempre que
Experimentais, ê, Sr. Ministro, ferir a questão possível, justapor-se ao organismo-escola o
magna com que deva preocupar-se a agrono organismo-estação, o que poderá afinal fazer-
72 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
se com economia para o Estado e com a ma Assiste-se em Portugal, na época que atra
nifesta vantagem de aproveitar determinados vessamos, a um mal estar que de dia para dia
técnicos especializados, os quais em regra, nos se agrava e ora se traduz na luta de classes,
quadros, não sobejam. ora no menosprêzo, em matéria de compe
Nesta altura da sua exposição, o Conselho, tência, por aquêle princípio são, que a cada
tendo feito referência leve, como não podia um manda não ultrapassar o nível, que natu
deixar de ser, às questões que directamente ralmente lhe marcaram o seu saber e os seus
respeitam à prática do ensino e da investiga merecimentos.
ção na sua e nas demais Escolas Agrícolas, Vítima dêste êrro de visão, desta tendência
precisa ainda frisar um ponto que, indirecta- usurpadora, foi o Conselho Escolar e com êle
mente, aliás, lhes respeita também e a nós ou tôda a classe agronómica, quando meses atrás
tros professores do Instituto Superior de Agro se decretou o título de engenheiros-agrícolas
nomia, como de resto aos que exercem a agro para diplomados de ensino agrícola médio, tí
nomia oficial, muito interessa. Referimo-nos, tulo êste de falsa nomenclatura, conduzindo a
Sr. Ministro, à inadiável adopção de medidas uma fácil confusão com o de engenheiros-
donde resulte, tão rapidamente quanto possí -agrónomos que corresponde ao ensino su
vel, o fazer-se o inventário rigoroso das condi perior, e confusão que, a dar-se, não ê com
ções da nossa produção agrícola nosjseus aspec certeza a estes últimos que aproveita. Ficou
tos múltiplos, a par do da propriedade rural por então no seu auge a chamada questão uni
que lhe serve de assento. Inquérito agrícola e versitária, e a Federação Académica incluiu
cadastro rústico são coisas que na hora presente no número das suas reclamações, que as Uni
se impõem como de primeira importância, no versidades apoiaram, a dos estudantes da
estudo dos nossos problemas económico-agrí nossa Escola contra o facto citado. Por sua
colas, feito com o são propósito de resolvê-los parte o Conselho Escolar representou ao Par
em benefício da Nação. lamento; nas mãos de V. Ex.a depõe êle hoje
Interessa tanto a todos, Sr. Ministro da Agri a cópia da sua representação; a questão está
cultura, a solução dêstes casos que, até como de pé, como na sua essência a questão das
simples portugueses cônscios do seu alcance, Universidades. Possa o Govêrno,de que V. Ex.a
nos ficaria bem a nós, Conselho Escolar, o faz parte, encontrar para estes casos a solução
chamar a atenção do Govêrno da República satisfatória que êles comportam.
para êles. Mas outro pode ser o nosso ponto Com a recente remodelação dos serviços do
de vista, colocando-nos mais a dentro da nossa Ministério da Agricultura, novos atritos se le
missão de ensino, e êsse é de que tem além de vantaram, agora com outra classe; é a questão
tudo, Sr. Ministro, um valor especial para nós, dos serviços zootécnicos para cujo desempe
professores, a adopção destas medidas, porque nho vem a ser negada competência aos agróno
só elas podem trazer aos nossos estudos, em mos. Desde muito que, em matéria de ensino, a
que o aspecto económico das questões está, as Zootécnia tem estado de preferência entregue
mais das vezes, presente, a base séria com que à nossa Escola, sucedendo porém que na exe
possam fundamentar-se, o rumo preciso da cução dos serviços, por uma incoerência curio
nossa argumentação didáctica, e a dentro da sa, essa preferência tem sido dada a médicos-
nossa Escola como fora dela, a segura orien -veterinários. Pensou-se agora em remediar
tação da nossa actividade, que deseja bem tal incoerência, em pôr, uma vez ao menos, um
servir o país, no exercício da profissão; mas pouco de lógica na descriminação das compe
para isso precisa antes de tudo bem conhecer tências oficiais. Baldado esfôrço; acumulam-
êsse mesmo país no que êle é, no que êle -se os protestos; e a questão vai porventura
vale, e naquilo de que é capaz. ter a solução menos inteligente e menos jusía.
Estas são, Sr. Ministro, no campo da exposi Para V. Ex.a, Sr. Ministro, apela o Conselho
ção de idéias, as considerações que por agora Escolar nesta conjuntura, fornecendo-lhe sé
nos cumpre apresentar a V. Ex.a. rios elementos de estudo; a memória que de
Resta-nos pugnar mais uma vez pelos nos pomos em suas mãos versa o assunto serena-
sos direitos a prerogativas, em têrmos ele mente, no campo exclusivo dos princípios;
vados, sem animosidade e sem paixão. pudessem todos ajuizar dela, como V. Ex.a o
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 73
pode, e a vitória seria por nós, seria pela com os Próprios Nacionais; mas a verdade é
lógica que está connosco. que, em face da lei, as citadas dependências
Outra reclamação de significado semelhan são pertença do Instituto e a ninguém mais
te, carece ainda o Conselho Escolar de trazer era lícito dispor delas.
aqui, renovando nesta parte, anteriores deli- Factos como êste, Sr. Ministro, não são de
gências. Erradamente, as disposições legais molde a tranqtlilizar-nos, nem tão pouco os
por que se têm regido os serviços da Instru primeiramente apontados trazem ao nosso es
ção Agrícola, confiam indistintamente a um pírito a confiança e a boa disposição, que hajam
professor da Escola de Medicina Veterinária de proporcionar-nos, na tarefa árdua de dia a
ou do Instituto Superior de Agronomia, a che dia, concentração, eficiêneia no esfôrço e, em
fia dos mesmos serviços; o que permitiu, por suma, a satisfação moral a que temos direito.
exemplo, que no decurso do ano de 1918 esti O Conselho Escolar vindo junto de V. Ex.a
vesse superintendendo em tôdas as Escolas a propor-lhe medidas conducentes ao bom
Agrícolas um professor de Medicina Veteri desempenho da missão, que lhe compete, jul
nária. Tal contrasenso legal exige correcção; ga-se crèdor da consideração de V. Ex.a; mas
fiamos do elevado critério de V. Ex.a a solu também crê que em nada pode desmerecer
ção dêste caso. dessa consideração, pelo facto de mostrar de
Finalmente, Sr. Ministro, se até aqui temos sejos de encontrar-se, através dos seus traba
produzido respeitoso protesto contra situa lhos, cercado das mais sólidas garantias; daí
ções que revertem em nosso desprestígio, a a orientação que confiadamente demos, Sr. Mi
verdade é que ainda elas teem sido criadas à nistro, à nossa diligência de hoje.
sombra de decreto que, se as não justifica Terminamos, Sr. Ministro da Agricultura,
perante a razão, ao menos as legitima pe por saudar V. Ex.a com respeito e por afirmar,
rante a fôrça da lei. pondo nesta afirmativa o tom da maior since
Mas até com a inobservância desta mesma ridade que está no ânimo de todos nós, o pro
lei, vai V. Ex.a ver que tem a nossa Escola sido pósito da mais ampla cooperação, sentindo-se
alcançada. É facto muito recente: trata-se verdadeiramente feliz o Conselho Escolar do
duma ocupação com todo o aspecto de violên Instituto Superior de Agronomia se, por si ou
cia, que foi feita de dependencias do Jardim por alguns dos seus membros, puder nos
Botânico da Ajuda, anexado legalmente ao assuntos da sua competência, coadjuvar com
Instituto, por parte dum batalhão da guarda eficácia, nesta conjuntura, a V. Ex.a e ao Go-
republicana aquartelado no Paço Velho. Argu vêrno a que pertence.
mentou-se com um arrendamento celebrado O Conselho Escolar
I
*
.
TRABALHOS DOS PROFESSORES
i
Relatório dos trabalhos executados na Tapada da Ajuda
(Secção de Culturas Arvenses), de 1914 até ao presente.
PELO PROFESSOR
esta mancha calcárea coberta de cerrada Não tem a Tapada mães de água su
mata de zainbujeiros. Êste calcáreo tem ficientemente ricas de água nascente,
já sido explorado, fornecendo, as pedrei que deem para regas abundantes no ve
ras em exploração, pedra de alvenaria. rão e a que corre, está mal aproveitada.
A área desta zona calcárea é de uns Por forma que, com excepção do Quin-
8 hectares, proximamente. talinho, do laranjal, da horta e da parte
Orogràficamente, a Tapada apresenta inferior do horto agrícola, o que, tudo
um desnivelamento notável. somado, andará próximo de dois hecta
Segundo a carta antiga que existe e res, tudo o mais só pode dar culturas
que me serviu para calcular a área da de sequeiro.
propriedade, a curva de nível traçada Muito se lucraria em obter água com
junto à porta de entrada principal dá a abundância, para culturas regadas e
altitude de 20 metros. principalmente para a praticultura.
Daí as terras elevam-se até ao Alto Assim a cultura da luzerna, que em
da Casa Branca, ponto mais elevado da ponto pequeno faço no meu horto, deu
Tapada, que tem a cota de 140 metros, no ano passado, segundo ano depois
para, em declive mais rápido, baixarem da sementeira, 8 e 9 cortes abundan
até à curva de nível de 64 que repre tes, provando assim que seria uma cul
senta o ponto mais baixo do lado da tura rendosa se houvesse água para
Ajuda, tornando novamente a elevar-se regar alguns hectares.
para 0 lado da Serra de Monsanto até Actualmente está a Direcção Geral
à altitude de 136 metros. da Hidráulica Agrícola fazendo traba
A fôlha de cultura mais direita da Ta lhar uma sonda movida a vapor com o
pada é o planalto da Eira velha, com 6 hec fim de fazer um furo que atravesse as
tares, proximamente, onde há apenas camadas de basalto e do calcário sub
duas curvas de nível, as de 136 e 132 jacente, para chegar ao lençol de água
metros. que fica entre o calcário e o grés que
Tôdas as outras são de maior pendor, se lhe segue.
e algumas bem enladeiradas. O furo deverá provàvelmente ir à
Como as superfícies inclinadas olham profundidade de 350 a 400 metros.
para os diversos pontos cardiais, temos O trépano do aparelho de perfuração
aqui exposições as mais variadas. tem a largura de 10 polegadas, pesa
As partes altas são batidas dos ven 300 quilos, e trabalha por percussão.
tos, e às vezes violentamente, não se po O custo de todo o material para esta
dendo aí dar bem tôdas as culturas. perfuração foi proximamente de 13.000
As terras, como são tôdas inclinadas, escudos.
esgotám-se depressa, não havendo terras Tive a honra de acompanhar o pro
encharcadas. fessor Fleury na sua visita à Tapada
De meado da primavera em diante com o engenheiro-agrónomo Mário da
secam e começam a gretar, chegando no Cunha Fortes, actualmente na Direcção
verão, muitas dessas gretas, a ter a lar Geral da Hidráulica Agrícola.
gura duma mão travessa e a profundi Depois de lhes apresentar os meus
dade dum metro. desejos para obter a quantidade de água
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 8o
para rega dura certo número de hecta por uma bomba apropriada que traba
res, e para outros serviços do Instituto, lhará com um motor a vapor ou a es
levei-o à parte da Tapada chamada Eira sência.
Velha, onde me parecia melhor fazer-se Próximo dêste local existe um depó
o furo para obter essa água, pois dali sito onde a água se poderá juntar, para
se regaria com facilidade para qual daí, por tubagens, irradiar para a rega
quer lado da propriedade. das diversas folhas de cultura, ou para
Foi efectivamente êsse sítio, na terra outros serviços que a exijam.
da Eira Velha, planalto da Tapada, na Se êste empreendimento se realizar,
cota proximamente de 136 metros, que que valor êle não dará à Tapada!
o ilustre geólogo e o distinto engenhei Que belos prados se poderão formar,
ro-agrónomo escolheram para a insta que sirvam não só para alimentação do
lação do aparelho de furar. gado da exploração, mas também de
Está já trabalhando, e o furo feito é ensinamento e demonstração de prati-
revestido de ferro até à profundidade cultura que tão descurada é entre nós.
de 10 metros. Oxalá que os poderes públicos não
Abriu-se primeiro um poço de 2 a 3 faltem com os meios necessários, pois
metros de diâmetro, do fundo do qual a obra é dispendiosa, para se levar a
parte 0 furo feito com trépano. bom têrmo êste tão útil tentame!
Do relatório do professor Fleury, e
com autorização superior, extraímos a * *
Os campos de experiência são desti nos e para o professor que tôda a vida
nados ao estudo de novas espécies e tem de estudar e de aprender.
novas variedades, usadas já, ou ainda Êste é que deve ser o critério da
não conhecidas em outros países; ou en apreciação de um campo de culturas
tão para o estudo e comparação de novos anexo a uma escola superior: fazer
processos de trabalhar as terras, de as sciência, fazer ensino, e, sendo possí
fertilizar, de amanhar as plantas, de vel, ser útil aos lavradores, fornecendo-
melhorar as sementes, de obter melho -lhes sementes de escolha, já estudadas,
res qualidades e maiores quantidades ou por outra qualquer forma.
dos produtos que se deseja, que nuns No meu plano de exploração, que
casos são as sementes, noutros a parte anualmente faço, tenho obedecido, desde
aérea dos caules e as folhas, noutros os que entrei neste labor, a estes pontos
tubérculos caulinares e as raízes tuber- de vista, sem pôr de parte, aliás, a ques
culizadas, noutros, as fibras, etc. tão financeira.
Ainda, com o fim de obter exempla
*
res de aula, colecções de museu, uma
parte da fôlha chamada Terra Grande, * *
próxima do Instituto, é destinada ao
Horto Agrícola da minha cadeira. Para obter campos de observação em
Tenho, portanto, sob a minha direc- número e extensão suficientes, e bem
ção : — Campos de observação e de assim campos de experiência, necessá
monstração — Campos de experiência rio foi arranjá-los.
— Horto Agrícola. Não os havia nas condições precisas.
^Qual é o lucro destas culturas? A Tapada era um olival pegado e
Assim como dum laboratório quí pedregoso. ^Como fazer trabalhar nes
mico, ou dum museu, o lucro da des tas terras, cheias de árvores e de pe
pesa feita é somente o saber que os alu dras, as máquinas agrícolas para lavou
nos levam das análises que aprenderam ras fundas, sem que elas se fôssem
a fazer ou da observação dos objectos despedaçar nas raízes, ou nas pedras
expostos, assim as culturas feitas nas escondidas no solo?
terras que a escola pôs à minha dispo iComo empregar os tractores moder
sição dão, como principal lucro, o apro nos com os seus aparelhos de lavoura
veitamento técnico que os meus alunos que só podem trabalhar bem em campo
tiram das demonstrações, das experiên livre ?
cias, e da observação do que se passa ^Como empregar os semeadores me
durante o período de vegetação das cânicos, os distribuidores de adubos, as
plantas cultivadas. ceifeiras, os respigadores, e tantas ou
O resto é acessório, não deixando tras máquinas agrícolas que constante
de ser importante. mente andariam aos encontrões às ár
É muito bom que, juntamente com vores e às pedras até se partirem?
ensino, deem proveito pecuniário, mas, <;Como reconhecer o aumento da pro
se o não derem, o seu papel não falhou, dução devida ao emprêgo de sementes
porque deram ensinamento para os alu seleccionadas, ou de adubos, ou de pro
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 83
* *
A abundância e volume das pedras
existentes em tôdas as terras tornavam- Com um terceiro obstáculo tenho tido
-nas impróprias para os fins deseja de me defrontar, que muito prejudica as
dos. culturas: as ervas espontâneas, dani
Comecei por isso a espedregar logo nhas; umas, simples comensais, outras,
que pude, em Agosto de 1915, e de en temíveis parasitas.
tão para cá tenho porfiado nesta ingrata Dentre as primeiras destaca-se uma
e custosa tarefa. Oxalidácea, a Oxalis cernua, Thunb,
Muita, muita pedra se tem tirado, e conhecida no nosso país por diversos
já hoje as terras apresentam outro as nomes. É originária do Cabo da Boa-Es-
pecto, prestando-se melhor ao uso da perança, e subespontânea no nosso país.
máquina agrícola. Na Tapada, Serra de Monsanto e seus
Não bastava, porém, limpar da pedra arredores é chamada erva pata.
as folhas de cultura, era preciso tam Em outros pontos denomina-se: trevo
bém limpá-las das raízes das árvores azedo, erva canária, etc.
84 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Esta planta está invadindo todo o país Tentarei de novo, em ocasião opor
e na minha última excursão ao Algarve, tuna, experimentá-la.
há dois anos, lá a encontrei, dizendo-me Segundo me dizem actua tão energi
a gente da terra que ela era nova na camente que mata a erva canária, mas
província, ou pelo menos nas proximi torna a terra improdutiva por um ano,
dades de S. Braz d’Alportel onde a vi. e se a colocar-mos em monte sôbre a
Dão-lhe ali o nome de santas noites. terra deixando-a permanecer algum
Muitos lavradores de vários concelhos tempo, a terra onde esteve o monte
se queixam dessa praga que invade as fica estéril.
terras, de inverno, não deixando desen O único meio que me dá resultado é
volver as searas, cobrindo-as logo à semear mais tarde depois de, com uma
nascença, pois aparece juntamente com lavoura, destruir a primeira camada
o trigo ou outras plantas, logo depois desta herva que aparece; ou melhor
de semeadas. ainda, deixar que se forme segunda
Tenho tido na Tapada verdadeiros camada, lavrar para a enterrar, gradar
desastres devidos ao extraordinário e para tirar bem da terra a que não ficou
rápido desenvolvimento em que esta bem enterrada e semear depois.
planta medra nestes terrenos. Dá despesa mas assegura-se a cul
Sementeiras de inverno, feitas no tura. Os alqueives de verão, a 30 cen
cedo, são geralmente sacrificadas, na tímetros ou mais, também dão resul
parte da Tapada onde ela mais abun tado, secando ao sol forte desta época
dantemente existe. grande número de bolbos que veem à
Assim, sementeiras de aveia para superfície da terra.
verde, e tremoço, que são as primeiras Perde-se, porém, muito tempo com
a fazer-se, teem sido totalmente preju estas operações, em detrimento dos res
dicadas. tantes trabalhos.
Não se pode mondar esta planta, por Introduzindo no afolhamento culturas
custar bastante tal trabalho, e não dar sachadas de inverno, procurei neste
o resultado que se esperaria, pois os ano, atacar a erva pata, enchendo uma
bolbilhos que ficam na terra, e pelos boa porção de terreno com couves vá
quais se multiplica, dão origem a novas rias, plantadas em linha, para melhor
camadas que seria preciso mondar se as sachar.
gunda, terceira e quiçá mais vezes. Obtive, é claro, o resultado que pre
Várias substâncias tenho experimen via, mas o remédio sai caro.
tado, mas sem resultado, para a matar, Levantadas as couves em Fevereiro,
tais como o gêsso, o sulfato de ferro e foi a terra semeada com trigo de pri
sulfato de cobre. mavera que está vegetando muito bem
Teem-me dito que a única cousa que na data em que escrevo estas liphas.
a mata é a chamada serradura do gás, Repetirei esta experiência no pró
resíduo das lavagens do gás da ilumi ximo ano agrícola, na mesma terra, pon
nação. Tratei de obter esta subtância do-a em produção no inverno com cul
para a experimentar, mas na ocasião tura sachada e na primavera, com outra
não a havia por não se fabricar gás. cultura apropriada.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 85
Estou crente que, insistindo assim, É como se uma vasta colcha de sêda
atenuarei muito os danos desta maléfica amarela tivesse sido estendida sôbre a
planta. terra, prendendo-nos em contemplativa
Ela é de tal raça que, cultivando em admiração, regalando-nos a vista que
grandes vasos, dentro do meu labora se não cança de a fixar.
tório, várias espécies, tais como trigo e Outra erva existe, ainda, em abun
outros cereais, plantas pratenses, etc., dância, em parte da Tapada, que torna
tôdas se estiolaram e morreram; só a muito difícil ou quási impossível certas
herva pata, que com elas nasceu, se culturas. É uma Orobanchacea, pa
criou e se desenvolveu como se estivesse rasita das raízes das Phanerogâmicas
ao ar livre. verdes.
De justiça é que mencione agora, já Conforme se'desenvolve sôbre plan
que tanto mal dela disse, algumas boas tas anuais ou vivazes assim os seus ór
qualidades que porventura tenha. gãos vegetativos são anuais ou vivazes
Serve de alimento para vacas leitei também.
ras, tendo as nossas durante 0 inverno São espécies do género Orobanche,
abundância dêsse verde. L. Erva toira. (P. Coutinho).
Muita gente julga que ela faça mal A que é parasita das faveiras tem
aos animais que a consomem. aqui o nome especial de Gigante, tendo
A-pesar-de conter certa percentagem noutros sítios a denominação de Pena
de ácido oxálico, donde vem o nome cho.
da espécie — Oxalis cernua—os nossos Esta espécie chega a destruir alguns
animais que a comem, vacas e ovelhas, favais completamente. Assim, na Ta
não teem apresentado timpanites ou pada não se podem semear favas senão
quaisquer outros sintomas de envene na encosta que desce do Alto da Casa
namento por êsse ácido. Branca para a ribeira, e daí para poente
Mas não são só os nossos animais na encosta do Carrascal.
que a consomem impunemente. Os la Nas outras terras é sementeira per
vradores dos arredores da Tapada, que dida, como já se tem visto.
teem vacas leiteiras, e em número muito No meu Horto agrícola, onde tenho a
superior ao nosso, vão comprar talhões colecção das plantas cultivadas em Por
de terreno onde essa erva cresce, para tugal, aparecem orobancas que atacam
a dar às suas vacas, o que não fariam muitas plantas, principalmente da famí
se tivessem conhecimento dalgum de lia das Leguminosas e das Umbelíferas.
sastre sucedido com essa alimentação.
Èste alimento é fraco, muito aquoso, Para limpar a terra destas plantas só
e por isso não pode ser empregado vejo aconselhado um processo que con
exclusivamente. siste em semear espécies de que a oro-
A outra qualidade, que a torna apre banca seja parasita e destruir estas
ciável em certa época do inverno, é a quando estão em floração, não dei
mancha côr de canário, que põe na pai xando formar as sementes.
sagem um aspecto tão estranho quando Esta destruição pode fazer-se por meio
uma extensão grande está florida. duma boa lavoura funda, quando a área
86 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
estrumar 37,5 hectares à razão de 40.000 ricultura, a Terra das Hortas, cuja área
, quilos, num total de 1.500.000 quilos de é de 8.400.m2, que não tem actualmente
estrume, ou seja uma média anual de oliveiras, tendo sido cultivada de cultu
300.000 quilos. • ras arvenses, mas que deve ser plan
As folhas entregues à minha direcção tada de olivedo.
cultural são as seguintes: Esta repartição de terras foi proposta
Hectares
por uma delegação do Conselho Esco
Terra grande......................................... 7,0000
Almotivo................................................. 4,1000 lar com a aprovação deste último.
Terra do Observatório..................... 0,4900 O actual ano agrícola é aquêle em que
Encosta do gasómetro........................ 0,3700 a Tapada tem maior superfície cultivada
Terra dos pinheiros............................ 0,5000 de culturas arvenses e mais intensiva
Terra da eira.................... 1,0000
mente, pois há folhas que tiveram cul
Terra do chafariz................................. i,3910
Terra do moinho................................. 1,5600
tura de inverno e estão já criando uma
Terra dos ailantos............................. 2,0000 cultura de primavera.
Terra da eira velha............................. 7,130° Assim, juntando aos 41,9710 hectares
Beira do muro..................................... 1,4200 da minha secção mais 22,0340 hectares
Alto da Casa Branca......................... 0,4000 onde fiz culturas, de acordo com os pro
Cova do sobreiro................................. 7,6300
Terra do Malhó.................................... 2,9800
fessores que dirigem as secções a quem
Carrascal................................................. 4,0000 essas terras pertencem, há neste ano
Soma..................... 41,9710 semeados, 64,0050 hectares.
Nunca semeei tanto, nem creio que a
Estas quinze folhas estão desarbori-
Tapada tivesse alguma vez tão grande
zadas, em grande parte espedregadas,
área semeada e muito menos de tão va
e foram quási tôdas estrumadas, faltando
riadas culturas.
apenas 44.717.m2
Algum terreno ficou sem cultura, o
A cada lavoura que se faz segue-se
que não podia deixar de se fazer, para
uma limpeza da pedra maior que vem
pascigo das 62 ovelhas do nosso rebanho.
ao de cima. Além destas folhas, em
As principais folhas da minha secção
que só se fazem culturas arvenses, há
estão já divididas em hectares, por meio
outras que teem oliveiras, as quais,
de marcos, unidos por sulcos de char
quando o professor de Arboricultura
rua, tendo mandado fazer esta divisão,
assim o entende, eu semeio.
Êsses olivais constituem uma parte não só para avaliação da produção, mas
também para os alunos se acostumarem
ainda importante da Tapada e são for
a ver a superfície dum hectare, a-fim-de
mados pelas seguintes folhas:
Hectares poderem calcular nesta medida agrária,
Olival grande..................................... 6,0000 a área dum campo de cultura que a
Olival dos coelhos — alinhado. . . 0,3240 vista fàcilmente abranja.
Olival novo — alinhado.................... 3,1140 Êste trabalho está-se completando
Terra das grades................................. 1,6800
Carrascal com oliveiras.................... 3,0000
actualmente.
Terra dos pègões................................. 1,4400 *
:(! *
Soma..................... 15,5580
Em harmonia com o meu modo de
Pertence ainda à secção de Arbo ver sôbre as funções que a Tapada tem
9o ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
tros de trigo anafil que estava impu ratório; mas, durante êste período de
ro, com mistura de grãos molares. guerra e de transformação da nossa
Mandei escolher à mão 30 litros, para escola, muito pouco os laboratórios me
recomeçar a sua cultura sem mistura, puderam auxiliar.
sendo o resto vendido para o moageiro. Sempre, porém, que pedi o conselho
Por muitas vezes tenho dado o meu autorizado do meu sábio colega Rebêlo
conselho a lavradores que me pregun- da Silva obtive o melhor acolhimento,
tam, qual a variedade que devem com servindo-me a sua lição de muito pro
prar para as suas terras. Conforme as veito.
suas indicações, assim me pronuncio Tive, pois, de empreender, sozinho,
por umas ou por outras, tendo já rece sem auxílio de laboratórios, a parte do
bido notícias de ter acertado. meu programa de experiências que tinha
elaborado, e que passo a relatar.
*
* *
*
Como já ficou atrás acentuado serve * *
a Tapada, não só para campo de de
monstração e observação, mas também Entre as espécies do género Triticum
para campo de experiências. existem três que apresentam a parti
Logo que algumas das suas folhas de cularidade curiosa de terem o casulo
cultura se acharam em circunstâncias aderente ao bago, não se soltando êste
de nelas se poder fazer trabalhos expe pela debulha ordinária.
rimentais, comecei, em ponto grande, a Por esta razão estes trigos teem o
investigação de alguns problemas que nome comum de trigos vestidos, sendo
interessam não só a agricultura desta neste ponto de vista semelhantes à ce
propriedade, mas também a nacional. vada ordinária.
Desde 1917 até 1920 o laboratório Os franceses não lhe chamam por
químico do Instituto não tem podido isso verdadeiro trigo {filé) mas sim es-
trabalhar por falta de material, de gás, peltas (epeautres), do latim spe.lta. Êste
por causa da mudança, e ainda, depois grupo de trigos vestidos apresenta as
de instalado no actual edifício, por falta seguintes diferenças do trigo verda
de mobília apropriada, e de meios pe deiro :
cuniários para se completar.
Nestas condições, tendo até de recor a) Aderência das glumelas e glumas
rer ao laboratório de Belém, eu não ao grão único, ou aos dois grãos da
pude encetar experiências que precisem espigueta.
dêsse auxiliar indispensável. b) As espiguetas teem só uma ou
Consegui, com algum custo, a aná duas flores férteis.
lise de certas terras da Tapada, mas c) O eixo ou rachis da espiga é muito
não pude ir mais além, a-pesar da boa quebradiço, partindo-se nos entre nós,
vontade dos meus colegas químicos. durante a debulha, em tantos artículos
Quem pretende trabalhar em culturas quantas as espiguetas, e ficando-lhes
pouco pode fazer sem o auxílio do labo sòlidamente agarrados.
g6 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Por forma que depois da debulha or sado 62 litros, de que semeei a maior
dinária o que fica é, botânicamente, parte.
um artículo do rachis onde se implan Do estudo que dêle acabo de fazer
tam as glumas, as glumelas, e as ca- com os meus alunos, em pés arranca
riopses. Nas variedades barbadas as dos do meio da seara resulta o seguinte:
espiguetas perdem total, ou quási total Afilhamento—média 21 colmos.
mente, as praganas. Número médio de espigas perfeitas,
Os botânicos classificaram estes ce por cada pé—17.
reais vestidos, semelhantes ao trigo, Comprimento médio dos colmos, em
em três espécies: 21 de Maio - o,m725.
i.°—Triticum spella (Lin.)—que os france
Aspecto da seara — bom, com um
ses denominam Epeautre; os espanhóis Es- tom verde semelhante ao da cevada.
caíia; os inglêses Spelt; os alemãis Spels; os No ano passado, 1918-1919, o aspecto
italianos Spelta. era ainda melhor, tornando-se notável
a.0—Triticum amyleúm (Ser.) Triticum dicoc- pela sua luxuriante vegetação. A terra,
cum (Schrank). Em francês, Amidonnier ;
onde foi cultivado, é boa e tinha sido
em italiano, Farro.
3.0—Triticum monococcum (Lin.) Em fran estrumada, o que não sucedeu à dêste
cês, Ettgraitt;—em espanhol, Escana menor. ano.
As espigas são chatas, muito fecha
Lapa, José Maria Grande, e os me das, com praganas finas, divergentes, e
lhores dicionários portugueses escre mais curtas que as dos trigos rijos.
vem espella, e é assim que a palavra As espiguetas teem 3 flores, sendo
deve ser escrita e não spelta. uma aristada e fértil, e duas estéreis e
Tenho em estudo na Tapada um múticas.
dêstes três trigos vestidos, que me foi São estes os caracteres do Triticum
dado por um aluno, que o trouxe de monococcum, que apresenta um só bago
Serpa, dizendo-me que se semeava, ha em cada espigueta.
via pouco tempo, naquela região, vindo O estudo destas espigas deu-nos as
de Espanha com 0 nome espanhol de seguintes médias:
escana, e que se semeia sôbre 0 resto o) Comprimento da espiga: 103,mmi.
lho do trigo, em cabelo, sendo depois b) Número de espiguetas por espiga: 4i,mm6.
enterrado com o arado. c) Número de grãos por espiga: 48,mm6.
Êste cereal era desconhecido na região
Donde se vê que algumas espiguetas
como o era em todo o Portugal. Tendo
tinham 2 flores férteis.
percorrido o país quási todo.e durante
muitos anos, sempre interessado pela Pêso por hectolitro (com casulo): 40kgs-,8
Pêso de 105 bagos, nus: 3 grs.
cultura cerealífera, nunca o vi cultiva
Pêso médio dum grão nu: 0,0285 grs.
do, nem nêle ouvi falar.
Se já foi conhecido perdeu-se a sua Nos trigos vestidos, comuns, o pêso
cultura. médio do grão é de 0,040 grs., tendo os
Tendo recebido apenas uma pequena mais pesados 0,050 grs., e os menos pe
amostra já hoje existe dêle uma pe sados, em boas condições, 0,032 grs.
quena seara, pois obtive no ano pas O nosso escana, em estudo, pesa,.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 97
pois, menos onze miligramas e meio do zir o espelta. Nas terras calcáreas e
que um bago médio dos outros trigos. nas arenosas, onde nem mesmo o cen
De Candole, no seu livro, Origem teio vai bem, cria-se bem o espelta,
das Plantas Cultivadas, diz que êste dando até nestes solos um grão mais
Triticum monococcum se dá bem nos rico em farinha, e tendo as glumelas
piores solos, pedregosos, sendo pouco do casulo mais finas.
produtivo, mas dando excelentes farelos No artigo do. professor italiano Marco
para o gado. Acrescenta ainda êste Marro, lê-se que o espelta dá uma fari
botânico que êste trigo se semeia, prin nha fina, branca, igual à do trigo co
cipalmente nos países ou regiões mon mum em valor nutritivo, e, em alguns
tanhosas, em Espanha, França e na Eu casos, mais apreciada do que aquela,
ropa oriental. para as pastelarias.
Marro, professor de Economia rural Todos os autores dizem que é menos
da R. Escola de Aplicação dos Enge próprio de que o trigo comum para a
nheiros, em Roma, no seu artigo sôbre panificação, porque o pão fica mais rijo
culturas do trigo, na Nuova Enciclopé e não se conserva fresco ou macio por
dia Agrária Italiana, diz que êste trigo tanto tempo.
se dá bem tanto nas regiões frias, de Em compensação, depois de moído,
clima áspero, como nas regiões quentes, dá um produto excelente para vacas
como o prova a sua antiga cultura no leiteiras, bois de trabalho, gado cavalar
Lacio, na Campania, e na Grécia. A e muar, etc.
Bíblia e os autores latinos dizem que Há, porém, um aproveitamento de
era o grão mais cultivado no Egipto. outra natureza que torna êste trigo
Schwertz também afirma que os espel- muito recomendado por Ridolfi.
tas se comportam melhor nos climas tem Como êle afilha muito, dando muita
perados do que nos ásperos e agrestes. folhagem, serve para forragem verde
Damseaux, professor no Instituto Agrí ou para feno.
cola do Estado, em Gembloux, na Bél O que tenho na Tapada tornou-se,
gica, diz no seu Manual das Plantas da no ano passado, notável por esse ex
Grande Cultura, que os espeltas são traordinário desenvolvimento foliar.
muito rústicos, cultivando-se nas regiões Neste ano, em terreno pobre, pouco
mais ásperas da Bélgica, assim como fundável, e que tem estado de olival,
no Wurtemberg, nas províncias rena- apresenta bom desenvolvimento foliar
nas e na Suíça alemã. como atrás mostrei. -
Diz ainda Damseaux que a reputação
de rusticidade que teem, se aplica mais É pois um recurso, segundo Ridolfi,
ao solo do que ao clima, porque su superior ao centeio, à cevada e à aveia,
porta pior um clima frio do que um como forragem verde, sendo porém,
clima quente. Emquanto ao solo afirma um pouco mais serôdio.
que as terras frias, de sub-solo imper Como os colmos são mais curtos do
meável, muito pouco férteis, muito sê- que os do trigo comum, não acama, o
cas ou muito leves para produzir trigo, que é de grande vantagem para certas
e as terras de charneca, podem produ regiões.
<98 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Acho vantajoso estudar estes trigos, lavrador melhor resultado do seu tra
pois, sendo menos exigentes do que os balho, do que com parcas searas de 4
outros cereais praganosos, podem ser sementes ou menos.
de vantajosa cultura em terras de areia, Esperar, agarrado à rotina, pelos anos
em terras delgadas, de sub-solo de ro salvadores, em que até as pedras dão
cha rija, em solos de charneca, em sí trigo, é bastante vulgar no nosso país,
tios alpestres de altitude elevada, e fi é cómodo, e não demanda nem grande
nalmente em tôdas as terras que, pelas trabalho intelectual, nem esforço físico.
suas más qualidades, não dão produção Quando se lhe fala em pôr de parte
remuneradora, senão à custa duma adu- a cultura frumentária que não remune
bação custosa, ou só de longe em longe, ra, nessas terras ingratas, os seus cui
com pousios dalguns anos. dados e canceiras, replica o lavrador,
Segundo a minha opinião uma parte como já o tenho ouvido, com a seguinte
do nosso país, onde se costuma semear pregunta: E ^que hei-de eu então se
trigo comum, é imprópria para essa mear? «-.Para que servem estas terras?
cultura. Compete-nos pois responder à pre
Intensificar a cultura do trigo nessas gunta, não com palavras, mas com de
regiões, com os trabalhos e adubações monstrações.
necessárias, é anti-económico, sendo Eis a razão porque trato de obter a
prejudicial tal esforço que, aplicado a quantidade suficiente de semente de
terras mais apropriadas, dará resultado espeltas para experimentar no próprio
mais proveitoso. Substitua-se, em tais Alentejo, em propriedades que estejam
solos, essa cultura por outras menos nas condições expostas.
exigentes e que deem remuneração su E muito satisfeito ficaria se, do Ins
ficiente. tituto, pudesse sair um sucedâneo do
É diminuto, relativamente a outros trigo comum, que satisfizesse ao fim
países, o número de espécies e varie proposto.
dades cultivadas em Portugal. *
Êste estudo tem sido feito, não em rapada ou mocha, mais comprida que
canteiros, mas em hectares. a do antecedente, mas com as espigue-
Dos três, o Tremez prêto é o mais tas mais apartadas umas das outras;
produtivo, vindo depois o Aurore, e por o Manitoba é meio duro, de espiga fina,
fim o Manitoba, com pouca diferença espiguetas estreitas e bagos muito pe
do antecedente. quenos.
Assim, em 1917-1918, em dois hecta
res vizinhos, separados apenas por um O seu pêso variou assim:
rêgo fundo, na parte mais alta da Ta
1916 1918
pada, tendo semeado, em Fevereiro, 110 1917 1919
•litros de cada um dos dois trigos, Au Tremez prêto. . . 82,4 80,2 78,0 81,0
rore e Manitoba, a produção foi de 947 Aurore................. 73,2 75,5 75,o
litros para o primeiro e 670 litros para Manitoba. . . . 79,4 77,o 77,o
Março Abril
Dias
4 11 18 25 1 8 15 22 29
da sementeira
Não
Manitoba . . . 5*5 gr. 505 gr- 239 gr- 442 gr. 47° gr. 244 gr- 19 gr. 12 gr. espigaram
Não
Ribeiro . . . . 702 gr. i,k 001 716 gr. 540 gr. 456 gr. 121 gr. 16 gr. 7 gr- espigaram
Analisando êste quadro vê-se que: de Abril, também foi superior ao Ri
beiro, mas inferior ao Aurore, pois que
i.° — O trigo Ribeiro foi o que atingiu as produções das três últimas semanas
a maior produção no canteiro e por não valem nada.
hectare, semeado no cedo, antes de 5.0 — Houve uma influência meteo
meado de Março. rológica importante que prejudicou o
2.0 —O Aurore, começando por dar nascimento dos dois trigos, semeados
mais que o Ribeiro, teve uma baixa nas terceira e quarta semanas de Mar
em relação a êste, para depois lhe pas ço, para 0 Manitoba, e só na terceira,,
sar para cima em produção, agilentan- para o Aurore; o Ribeiro não foi afec-
do-se, a partir da última semana de tado por êsses fenómenos meteorológi
Março, bem melhor do que o Ribeiro. cos.
3.0 — O Aurore resistiu ao calor me
lhor do que qualquer dos outros, ^Dariam êstes trigos maior produçãa
sendo, portanto, o melhor dos três tri sendo semeados em Fevereiro? Talvez.
gos experimentados para sementeiras Mas o meu interêsse é averiguar quais
serôdias. os que dão maior produção, quando-
4.0 — O Manitoba, nas sementeiras semeados tarde.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 103-,
de 50 % nas sementes deitadas à terra, norte, desde 150, a 250 litros por hec
nascendo só metade das semeadas. tare.
Logo, deitando à terra 4.000.000 de Na Argélia semeiam-se de 101 a 157
sementes por hectare, isto é, quatrocen litros. Na região fromentária do nosso
tas sementes multiplicadas por 10.000 país também se dá a mesma diversi
metros quadrados, dever-se-ia obter so dade na quantidade de semente, ven
mente 200 espigas por metro quadrado, do-se que ao sul se semeia menos do
se não houvesse um factor que vem que ao norte.
compensar esta falta de nascimentos. Avaliando, pois, a produção por se
Êsse factor é o afilhamento, que dá, mentes, como vulgarmente se faz no
nas searas grandes, uma média de 2 nosso país, não se fica fazendo uma
espigas por semente, o que compensa idéia clara a êste respeito, sendo neces
realmente os 50 % de faltas de germi sário reduzir a litros para se estabele
nação ou de nascimentos. cerem comparações, ou melhor, a hec
Para ter, pois, as searas constituídas tolitros.
à razão de 300 espigas por metro qua Para me orientar a êste respeito em
drado, como quere o conde de Gasparin, relação à quantidade de semente a dei
ou de 400 espigas como quere Opper- tar por hectare fiz em 1916-1917 a se
mann e outros, é preciso semear 300 guinte experiência:
ou 400 bagos de trigo nesta superfície, Escolhi o planalto da Tapada para
ou sejam 3 a 4 milhões por hectare. nêle semear trigo Touzelle em quanti
Para saber quantos litros de trigo dades diferentes, comparando depois as
correspondem a cada uma daquelas produções obtidas.
quantidades de semente, há processo Medi e marquei na Terra da Eira
simples que não vem para aqui expor, Velha, 4 hectares, separados por fundos
podendo por isso o lavrador saber regos, tendo prèviamente feito um bom
quantos litros de trigo, cuja elevada alqueive de verão, de 35 a 40 centíme
produção quere obter, tem de semear tros e a espedrega. Esta terra havia bas
por hectare. A maior parte das vezes, tante tempo que não era estrumada nem
porém, não se faz isto e obedece-se adubada, e também o não foi neste ano.
simplesmente ao uso da terra. Graças à lavoura produziu muito bem.
Em Portugal semeiam-se, desde cinco As sementeiras foram feitas em 1, 6 e
alqueires por hectare, até doze e qúa- 9 de Dezembro, da seguinte forma:
torze alqueires.
Em França, na média, semeiam-se Quantidade de semente Produção
206 litros por hectare. l.° hectare—190 lit.—13,3 sementes ou 2542 lit.
Em Inglaterra, semeam-se 139 litros 2.0 » —150 »—j8,o » ou 2720 »
no norte, e 160 no sul. 3.0 » —125 » —20,2 » ou 2534 »
4.0 » —100 »— 25,3 » .ou 2536 »
Na Alemanha, segundo Thaér, lan
çam-se à terra 239 litros.
Na Itália, também a quantidade de O seu pêso especifico foi de 80.
semente varia segundo a latitude, se O que mais produziu em hectolitros
meando-se menos na Sicília e mais ao foi o 2.0 hectare, semeado com 150 li
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 105
Não vem ainda citada esta variedade perde grande quantidade quando está
na Flora de P. Coutinho. sêca.
Menos exigente que 0 grão de bico, Como ração é superior, higiènica-
branco, dá uma farinha boa para a ali mente, à cevada ordinária, por não ter
mentação do gado, podendo ser consu a pragana que muitas vezes fere a bôca
mido também em grão. com bom resul dos animais. Como não tem casulo é
tado para a engorda, como tive ocasião fàcilmente atacada pelos sucos digesti
de ver com os suínos, que são muito vos, não vindo por isso inteira no es
gulosos desta ração, engordando rapi trume dos solípedes, sujando as terras
damente. que se fertilizam com êste estrume,
E um sucedâneo da fava que tão cara como sucede com a cevada ordinária.
é actualmente, e que é uma cultura Outra planta foi neste ano de 1918
muito mais incerta do que esta. cultivada pela primeira vez — 0 Topi
Obtive neste ano de 1918, 450 litros, nambo ou Girasol ba/aleiro — Helian-
que no ano seguinte produziram 3530, thus tuberosus, L. —Batata topiuamba
tendo no actual ano de 1920 semeados ou do Brasil, de Brotero.
proximamente 8,5 hectares, o que, dado O topinambo é um tubérculo, que
o belo aspecto que apresentam estas pode servir para a alimentação'do ho
culturas, dará uma boa quantidade de mem e dos animais.
ração para os animais desta proprie E muito menos exigente do que a
dade. batata ordinária, criando-se em qual
A cevada santa que pela primeira vez quer terreno, dispensando lavores apu
se cultiva na Tapada é uma variedade rados, mas agradecendo a boa cultura,
nua da cevada ordinária, Hordeum vul e dando então grandes produções. Uma
gare, L. var. nudum. Tem a cariopse vez plantado numa terra, difícil é fazê-
livre. -lo desaparecer completamente.
É hoje muito empregada em Lisboa Há já hoje tubérculos de topinambo
para juntar ao café, depois de torrada, lisos e grossos, sem as irregularidades
sendo esta mistura bem melhor, na mi que tem os tubérculos ordinários. Ser
nha opinião, do que a mistura do café vem estes, assim seleccionados, para a
com raiz da chicória, que apresenta alimentação^do homem.
maior travo. Tenciono mandar vir os topinambos
Tem esta cevada um preço melhor aperfeiçoados, para alimentação do ho
do que 0 trigo, e por isso já a encon mem, logo que os possa obter da casa
trei misturada com trigo torrado, numa Vilmorin.
porção que comprei como cevada santa Estes tubérculos são uma boa alimen
torrada. tação para solípedes, bovinos e suínos,
O bago não tem casulo, apresentando, que comem também os caules e folhas,
de característico, o ser ponteagudo nos quer verdes, quer secos.
dois polos. É de quebradura farinácea.
Em 1918-1919, a Tapada produziu:
Soltam-se com facilidade, a espiga e litros
as espiguetas, e por isso não é conve Trigo Anafil.............................. 3650
niente ceifá-la à ceifeira, porque se » Precoce italiano............. 4920
108 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
litros
Em compensação as culturas de pri
Trigo Touzelle.......................... 1400 mavera foram boas, e principalmente o
» Temporão de Coruche.. 1180 milho, atendendo a que foi cultivado
» Gentile rosso................... 2370 sem regas. Assim, 5 hectares da Terra
» Galego barbado.............. 980 Grande, semeados em linha, deram
» Aurore............................ 2500 12.160 litros, ou sejam 24 hectolitros
» Tremez prêto................ 2360 por hectare, de magnifico milho.
» Manitoba......................... 1550 Nesta terra instituí a seguinte expe
» Ribeiro............................ 100 riência, para verificar a influência, na
Milho mão de Toupeira.......... 12160 produção, do afastamento das linhas:
» cedovem......................... 868
Grão de bico, prêto................... 353° 25 regos à distância ordinária de o01,40,
» » » branco................ 180 deram 410 litros.
Cevada santa............................ 1400 25 regos à distância de om,6o, deram
Aveia ordinária........................ 1060 627 litros.
» de primavera................. 260 A área dos 25 regos a o,m40 era de
Mistura de trigos...................... 1370 1.528"^, e portanto a produção por r.m2
quilos foi de o,1 26.
Feno de anafe, aveia, etc........ 13000 A área de 25 regos a o,m6o de dis
tância era de 2.204o12 e portanto a pro
fardos
Palha de cereais praganosos... 1100 dução foi por i.mí de o,1 28, isto é, mais
dois centilitros.
carradas A primeira vista parece que não vale
Palha de milho.......................... 13 a pena a sementeira em linhas mais es
quilos paçadas ; se atendermos, porém, à me
Milho verde............................... 17000 nor quantidade de semente empregada,
Nabos......................................... 4800 ao menor custo do trabalho, que se faz
mais ràpidamente, sendo menor o nú
Os favais da Tapada foram total e mero de linhas, e sobretudo à sacha,
rapidamente destruídos por uma doença que no i.° caso tem de ser à mão, em-
devida a uma criptogâmica—Sclerotinia quanto que no 2.0 pode ser feita com
IJbertiana, que provocou o apodreci o sachador a gado, a diferença é muito
mento do caule das faveiras, de uma grande a favor do 2.0 processo.
forma quási fulminante.
Foi uma perda importante, pois os Em 1919-1920 as culturas são as se
favais apresentavam-se prometedores guintes :
duma boa produção. O mesmo suce Trigos: Touzelle, Precoce italiano,
deu por quási tôda a parte e, principal Gentile rosso, Temporão de Coruche,
mente, nos arredores de Lisboa. Barbela, Gigantil, Sete espigas, Lobei-
O ano foi mau para as culturas de ro, Aza de Corvo, Javardo, Anafil, Es-
inverno, prejudicando muito as searas canha (trigo que não larga o casulo —
de trigo, cuja produção foi bastante in Triticum monococcum). Todos estes
ferior à do ano anterior. são de inverno.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 109
Ponho de parte, por não ser próprio Em parte alguma essa propaganda é
dêste relatório, as condições políticas, mais útil do que nas escolas agrícolas,
morais e sociais que actualmente inter- desde a mais graduada até à mais hu
veem no custo da produção, e que co milde. Todos à uma, professores de
locam, os que desejam explorar agríco ensino superior de agronomia, professo
lamente a terra, em embaraços tais, que res de escolas médias e elementares de
levam alguns, menos aptos para a luta, ensino agrícola, e até os professores de
a pensar em não cultivar, ou em culti instrução primária, devem entrar nesta
var géneros que, por não servirem para propaganda, pela lição, pela demonstra
a alimentação do homem, os não po ção, pelo conselho fundamentado.
nham em sobressaltos constantes. ^Como se tem o Instituto Superior de
Um dos meios que vai ganhando ter Agronomia desempenhado da sua mis
reno é a substituição, tanto quanto pos são neste sentido?
sível, do homem pela máquina. Até 1890, proximamente, os alunos
A América tem se notabilizado pela desta escola só viam, durante o seu
invenção, fabrico e aplicação de grande curso teórico, modelos de aula, pois
número de máquinas agrícolas que fa que alguns velhos instrumentos que ha
zem com vantagens técnica e económi via e que talvez tivessem trabalhado na
ca, o trabalho de milhares de homens Quinta da Bem posta, estavam sem em
e de animais. prego numa arrecadação por não haver
Várias nações da Europa vão seguindo onde trabalhassem.
o mesmo caminho e era já avultado o No ano prático do curso que se pas
número de fábricas de maquinaria agrí sava na Quinta Regional de Sintra,
cola, muitas já especializadas, que em viam então, já depois de terem exame
Inglaterra, França e Alemanha se tinham das cadeiras de Agricultura e de Mecâ
aberto para construção de variadíssimas nica, trabalhar, pela primeira vez, má
destas máquinas. quinas agrícolas.
Infelizmente, a guerra mundial que Foi o que aconteceu a quem escreve
tantas vítimas e destroços produziu,, pa^ estas linhas.
ralisou essa produção, transformando- Depois que a cadeira de Agricultura
-se, durante quatro anos, essas oficinas geral e culturas passou a ser regida pelo
de intrumentos de paz e civilização, em saúdoso e ilustrado professor Sertório
horrorosos agentes de fabrico de mate do Monte Pereira, o ensino das máqui
rial de destruição, de morte e de sofri nas agrícolas começou a desenvolver-se,
mento. adquirindo êste professor algum mate
Hoje voltam, com maior ou menor rial, e levando os seus alunos à proprie
presteza, à sua primitiva laboração, e dade de Carlos Anjos, à Luz, onde se
novamente tornam a aparecer os mo fazia já bastante trabalho com máquinas.
dernos instrumentos do trabalho rural. Depois, desviado êste professor da re
É por isso necessário fazer a propa gência da sua cadeira para outras ocupa
ganda dos novos processos de cultu ções políticas e burocráticas, para onde
ra, que barateiam o trabalho e tornam o chamaram os que conheciam o seu
mais fácil e até suave, o labor da terra. alto valor, fiquei eu substituindo-o
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA «3
outras charruas mais antigas, umas com Estas últimas máquinas de debulha e
pradas pelo professor Sertório, e outras de enfardar palha estão já bastante ve
de que desconheço a origem, como a lhas, e estragadas, principalmente a de
charrua de Dombasle; a charrua Ver- bulhadora, por terem sido emprestadas
nete de surriba; a charrua Bonet, de e alugadas para particulares, voltando,
surriba; a charrua sulfuradora; o cul o aparelho de debulha, da última vez
tivador de Colemann; um semeador de que isto sucedeu, quási impossibilitado
Jap}'; um esgraminhador, e uma char de trabalhar, tendo de sofrer um ccn-
rua, tipo Mayfarth, de aiveca dupla vi cêrto que importou à Escola em 2.47i$oo
rando por debaixo do apo. em relação à debulhadora, e em 2.450$oo
110 que diz respeito à locomovei.
Depois da criação da Estação de En Esta debulhadora deve ser substituída
saio de máquinas recebeu o Instituto quanto antes, pois tem já um fraco ren
desta estação o seguinte material: dimento, e se o não fôr, em breve, te
remos de fazer a debulha a pé de bois.
1 tractor Emerson, 20/35—HP.
1 tractor Big-Bull, 12/24- HP. *
* *
1 charrua Grand-Detour, de 2 aive
cas fixas. Como acaba de ser indicado, tem o
1 charrua Oliver, de 3 aivecas fixas. Instituto, já, bastante material de lavou
1 charrua La Crosse, de 3 aivecas ra; algum, antigo, como que a fazer a
fixas. história da maquinaria e instrumental
1 charrua J. I. Case, de 3 aivecas agrícola, desde a sua infância; outro,
fixas. moderno, atestando o desejo da escola
1 charrua Emerson, de 2 aivecas de se pôr a par do progresso da mecâ
fixas. nica agrária.
1 charrua de Case, de 3 discos côn Infelizmente as reduzidas dotações,
cavos e rotativos. que nos teem dado, não teem permitido
Três grades de discos. a aquisição do material que devia ter o
Três grades articuladas. nosso primeiro estabelecimento de en
1 semeador Emerson de 16 linhas. sino agrícola.
Êste material é para ser movido a Não posso, porém, deixar de fazer
trator. uma honrosa excepção sobre a falta de
ajuda da parte dos poderes públicos,
Completando a enumeração das má pois que houve um ministro, filho da
quinas agrícolas da minha secção men nossa Escola e nosso muito prezado co
cionarei ainda: lega, que nos deu para aquisição de
máquinas agrícolas a importante verba
1 debulhadora Clayton com locomo de 60 contos.
vei. Foi o engenheiro-agrçmomo, profes
1 enfardadeira Whitmann, que pode sor do Instituto, o Sr. Dr. Eduardo Al
ser movida por motor a vapor ou a berto Lima Basto, quem fêz essa doa
essência. ção, com o fim de desenvolver e tornar
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Mas ainda mesmo que cada junta tra Falta o seguro contra acidentes de
balhasse só meio dia, a economia de trabalho que não sei ainda o que será.
trabalho da máquina dá bem para o O custo da ceifa dum hectare vem a
pagamento de duas juntas diárias. ser 0 quociente da divisão da soma
É preciso notar que, ceifando à mão, acima por 3,5, ou seja 32823.
são precisos 7,5 homens a cortar, e 3 A ceifa à mão, por hectare custa
a atar, por cada hectare, ou sejam 10,5. 52850, a 5800 cada jornal.
Em 3,5 hectares são pois necessários Esta ceifa torna-se mais económica
37 homens. Isto é, para fazer num dia aumentando o número de anos de dura
o trabalho duma ceifeira atadeira, 3,5 ção da máquina, porque o maior en
hectares, são precisos 37 homens. cargo, que é a amortização, torna-se
Sendo o jornal a 5800, como está menor em cada dia.
sendo em muita parte, custam, cada É principalmente para remediar a
dia, os 37 ceifeiros, 185800. falta de pessoal que esta ceifeira-ata-
A ceifa com a máquina custa por dia deira está indicada, como sucede actual-
ij2$8i, conservando os jornais que ela
mente.
exige a mesma proporção. O preço espantoso do fio torna êste
Economia, 72819 diários, e no fim serviço muito mais caro, pois o que
dos 12 dias de ceifa, 866828. hoje custa 38850, custava dantes 4880
Sendo o período da ceifa de 2 sema ou menos.
nas, o máximo 15 dias, por ano, e cal Apesar dêste encargo ainda esta ceifa
culando muito por baixo, em 3 anos a é mais económica do que a da ceifeira
duração da máquina, em bom estado, simples, ou empaveadora, por isso que
para fazer bem o seu trabalho, a amor para atar os molhos desta são preci
tização do seu custo será distribuída por sos, para 3,5 hectares, 10,5 trabalhado
36 ou 45 dias de trabalho nos 3 anos. res, o que a 5800 dá 52850, emquanto
Êste cálculo de 3 anos é o resultado que o trabalho automático da atadeira
de informações colhidas por mim sôbre custa 38850.
o trabalho destas máquinas em Portu Esta máquina deve, pois, entrar na
gal, com as despesas de conservação e prática da cultura cerealífera do nosso
reparação convenientes. Pode, porém, país, devendo prepararem-se as terras,
durar mais: 5 e mais anos. desde a sementeira, para a sua aplica
Conta da despesa diária da ceifeira- ção, que necessita um solo direito, sem
-atadeira, no actual momento, supondo pedras, e raso. A armação em espi-
que trabalha 12 dias por ano: goado alentejano é um obstáculo ao
Uma junta de bois e boieiro . . . 10S00
trabalho desta ceifeira, da mesma forma
Condutor da ceifeira......................... 6S00 que o camalhão saloio dos arredores de
Auxiliar, para afiar a foice, etc.. . 5800 Lisboa e dos concelhos vizinhos.
Fio, 14 quilos por dia, 2S75 0 quilo. 38S50
Óleo, 1 litro......................................... i$oo *
* *
Conservação e reparação................. 6$oo
Juro do capital a 5%......................... 6$04
Amortização em 3 anos, ou 36 dias. 40827 Das máquinas de moto-cultura, adqui
Ceifa de 3,5 hectares............................... ii?$8i ridas pelo Estado, e que estão a cargo
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 117
quer no estado de grão, quer no de fari para feno e tem um preço mais alto do
nha. É um sucedâneo da fava, que é que o feno comum.
uma cultura bastante aleatória. Assim o Instituto comprou, já neste
Cultivei bastante aveia, para grão, ano, feno de Fenacho a 55800 a carrada
para feno e para verde. Estão semea de 750 quilos, emquanto que o feno co
dos e de aspecto prometedor, proxima mum foi adquirido a 40800 a carrada
mente, 6 hectares de milho, que além também de 750 quilos.
do grão, dão bastante palha para o A carrada é a unidade de venda para
gado bovino. o feno, sendo composta de 100 molhos
Temos ainda alguns hectares de mi- de feno de 7,5 quilos cada um, o que
lharadas, para colheita de milho verde dá os 750 quilos por carrada.
para as vacas. Comprámas 0 feno em Abril, pelos
Dois hectares de chícharo foram já preços acima indicados, pois já se está
ceifados com a gadanheira mecânica, vendendo a 75800 o primeiro, e a 60800
dando 6.000 quilos de óptimo feno, o segundo.
e grão, tudo para a alimentação dos ani O feno de fenacho é muito bom,
mais. aproveitando-o os bois, todo, e por isso
A cultura da luzerna que tenho en sai talvez mais barato do que o comum;
saiado há dois anos, e que deu no ano não serve, porém, para vacas, por dar
passado 8 cortes, esperando que che mau gôsto ao leite.
gue aos 10, é limitada pela falta de Já encomendei a semente do fenacho
água de rega. para a cultura dalguns hectares, espe
Se a houvesse em abundância que rando aliviar assim muito o custo da
belas culturas pratenses se poderiam alimentação do gado, e fornecendo aos
fazer, não só para o ensino da praticul- alunos mais um elemento de estudo,
tura, tão descurada no nosso país, mas para o conhecimento das culturas forra-
também para obter grandes massas de ginosas.
forragens, como luzerna, beterrabas, mi Todos os anos fica alguma terra de
lho, sorgo, etc., para o nosso gado! erva, como nesta região se chama ao
Como uma das grandes despesas com ano de pousio, em que a terra, apesar
a alimentação do gado é a compra de de não ser cultivada, dá, em erva, ou
fenos, introduzirei no plano de explora em feno, um bom rendimento.
ção para 1920-1921 uma nova cultura, A despesa é somente a da colheita,
a da Trigonela Foenum-graecum, L. em Maio, da erva nascediça ou expon
vulgarmente conhecido nos arredores tânea, que não se deve deixar engros
de Lisboa, sobretudo no Concelho de sar e envelhecer para não se tornar
Oeiras, onde se cultiva bastante, cora o dura.
nome de Fenacho. A ceifa foi contratada neste ano, na
Esta planta é ainda denominada Al- região saloia, a 3S60 e 4800 cada ho
forva, Ervinha, e segundo Lopes de mem, e a 1850 a 1870 cada mulher.
Carvalho, no seu livro, «As Melhores Foi uma ceifa caríssima, e daí a ca
Forragens», Caroba. restia do feno.
Esta planta é sobretudo cultivada Êste alto preço leva o lavrador sa-
120 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
ratos entram e onde comem à-vontade, As ovelhas não teem aprisco; os suí
causando grandes estragos. nos não teem pocilgas convenientes; os
É esquisito que se trate durante o bois de trabalho estão numa abegoaria
curso de Agronomia das condições a velha, estragada e em más condições;
que deve obedecer a construção dum o gado cavalar e muar não tem cocheira
celeiro para a arrecadação conveniente adequada.
e conservação dos géneros, e que se As casas onde habitam os trabalha
apresente aos alunos e ao público, um dores efectivos, os guardas, o abegão,
tal casarão como sendo o celeiro do e os trabalhadores adventícios são o que
Instituto Superior de Agronomia, onde há de pior.
se acham retinidas tôdas as condições Não seria um esbanjamento censurá
contrárias às que se preconizam para vel, a construção de novos edifícios rús
tais edifícios. ticos e baratos, para alojamento dêste
Eis a primeira construção a fazer pessoal que trabalha na Tapada.
com tôda a urgência. E o mesmo direi a respeito de casas
Não temos arrecadações para os uten onde moram os serventes, guardas, e
sílios, ferramentas, materiais de diversa pessoal subalterno do Instituto, a quem
natureza empregados nas culturas, tais convém aliviar os encargos da vida
como adubos, enxofre, sulfato de co actual, suavizando assim a todos, as di
bre, etc. ficuldades provenientes dos seus peque
Não será necessário grande eloqíiên- nos vencimentos, e proporcionando ao
cia para fundamentar os inconvenientes mesmo tempo, pela conveniente coloca
que há em não termos onde se guarde ção das casas, uma vigilância sôbre
o que é preciso estar guardado. tôda a Tapada que actualmente não é
Não temos alpendre, nem sequer um possível.
simples telheiro, onde se abriguem cer Importarão estas edificações nalgum
tas máquinas e objectos grandes que dinheiro?
não devem ficar expostos ao tempo, Com certeza. Mas quando os pode
como galeras, carros, carroças e o ma res públicos se decidem a montar um
terial da lavoura ordinária que actual- serviço importante, como êste, teem de
mente fica ao ar livre, por não haver o completar, para.que êle possa dar
onde se guarde. tudo quanto dêle se deve exigir.
Não temos estrumeiras convenientes Ficar só com um edifício grandioso
para a curtimenta do estrume, sendo as para os serviços de leccionação, e não
duas que existem pequenas e sem as continuar a obra encetada, construindo
condições precisas. os anexos indispensáveis em tôda a
Não temos onde arrecadar a palha e casa de lavoura, é dar a impressão que
o feno, ficando tudo na velha abegoaria só se quer o ensino teórico de culturas,
dos bois, em casas onde chove, e até de artes agrícolas e de zootecnia, o que
na própria vacaria, o que é inconve não deve ser, sob pena do Estado não
niente sob todos os pontos de vista. tirar, por culpa sua, tôda a vantagem
Não temos eira, sendo preciso fazê-la do capital que tem empregado, e con
todos os anos, à moda da região. tinua a empregar, com êste ensino.
122 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
*
as searas, pediram algumas espigas de
* * trigos que êles acharam notáveis e que
desejam experimentar.
Termino aqui o relatório sobre a mi De Évora acabo de receber uma carta
nha acção na Tapada da Ajuda, na parte de um distinto filho desta Escola, dizen
que me foi distribuída, como campo ex do-me que alguns dos principais lavra
perimental e de observação, para o en dores daquela região desejam experi
sino da cadeira de Agricultura Geral, mentar a cultura do escãna ou triticum
Culturas arvenses e Máquinas agrícolas. monococum, pedindo-me qualquer quan
Tenho feito o que tenho podido, den tidade de semente para êsse fim.
tro dos acanhados meios pecuniários Aqui esteve o distinto lavrador e es
que tenho podido obter. critor José Pequito Rebelo que andou
O público já reconhece a utilidade comigo vendo as searas, sobretudo os
do Instituto no fornecimento de semen tremezes, encontrando algum interesse
tes de escolha. Assim, até 30 de Ju no que viu.
nho, já recebi pedidos de sementes de O meu desejo é ser útil ao ensino
trigo seleccionado, da Companhia das dos meus alunos, à sciência agronómi
Lezírias, da Associação de Agricultura, ca e à lavoura nacional.
e acabo de receber uma carta dum agri Oxalá que não me faltem com os
cultor de Freixo-de-Espada-à-Cinta pe meios de trabalho, e que não me redu
dindo-me semente de cevada santa ou zam à impotência e à situação de ser,
nua. Alguns dos lavradores dos arre mau grado meu, apenas um encargo
dores da Tapada, depois de examinarem para o Estado.
Observações gerais sobre a agrologia, climatologia
e etnografia de Angola
LlÇÃO DA I.a PARTE DA CADEIRA DE MESOLOGIA COLONIAL DO INTITUTO SUPERIOR
de Agronomia, pelo professor
-se a princípio para o norte, e depois, das vertentes ocidentais, que orlam o
encontrando uma falha na linha monta planalto sul angolense. Dêles os mais
nhosa, cava uma passagem a oeste para importantes, peio volume de água que
o Oceano, conservando contudo uma conservam durante a estiagem, são o
ligeira inclinação para noroeste. Cuvo e o Catumbela, o primeiro desa
A bacia hidrográfica do Cuanza abran guando no Atlântico junto ao morro de
ge uma superfície de 170.000 quilóme Benguela-a-Velha, e o segundo, um
tros quadrados, e a sua linha de maior pouco ao sul da célebre baía do Lobito,
declive mede uma extensão de 850 qui banhando o florescente entreposto de
lómetros, da nascente à foz. Benguela, a que dá o nome.
Até Cambambe (Dondo), o rio tem De Benguela para Sul, todos os rios
várias cachoeiras e cataratas, entre as conservam, durante a estiagem, secos
quais avultam as cachoeiras do Condo os seus leitos, muito embora, cavando-
e do Quitache, próximo a Malange, as -os a pequena profundidade se encon
cataratas de Cabalo, próximo a Pungo tre a água que, através das areias, se
Andongo, e por fim as de Cabulo, junto vai filtrando até ao Oceano.
ao Dondo. Daqui em diante a corrente Depois do Cuanza, o rio mais impor
deslisa tranqilila, tornando-se navegável tante é sem dúvida o Cunene, que entra
até ao mar, embora a sua foz, como a no Oceano na extremidade sul de An
de todos os rios desta parte de África, gola, que divide em parte, como já vi
muito carregados de sedimentos, seja mos, da Damaralândia.
má por causa do banco de areia, que Tem um percurso maior do que o
lhe dificulta a entrada numa barra bas Cuanza, avaliando-se o seu comprimento
tante arriscada. O Cuanza recebe, en em 1.200 quilómetros, e a área da sua
tre outros, pela sua margem direita o bacia em mais de 272.000 quilómetros
Luando, o Luvo, o Cuigi, o Lombe e o quadrados, pertencendo aproximada-
Lucala, o seu maior afluente direito, mente metade desta zona de drenagem
que nasce nas montanhas do país da ao território português.
Jinga, atravessa os concelhos do Duque Economicamente, porém, é muito me
de Bragança, próximo de cuja sede se nos importante do que o Cuanza, por
despenha em formosíssima catarata, e que não é navegável. Nasce no mesmo
Ambaca, indo lançar-se no Cuanza, 22 grupo montanhoso do Cuanza, entre o
quilómetros abaixo do Dondo, junto à Sambo e o Huambo, mas dirige-se para
antiga fortaleza de Massangano. sul atravessando grande parte do pla
Pela margem esquerda recebe o nalto que se estende da Huíla ao Bié,
Cuqueima, no Bié, o Cunhinga, que recebendo grande número de linhas de
aflue junto ao Quitache, o Cutato e o água, antes de tomar a direcção ociden
Gango, que, vindos das regiões do Bai- tal, que o conduz ao mar. Ao sul do
lundo e Bié, entram no Cuanza pró Humbe, na margem direita, recebe o
ximo a Pungo Andongo. Caculovar, que nasce no alto da Cheia,
Do Cuanza até Coroca, que vem en e para sueste atravessa as regiões da
contrar o Oceano um pouco ao norte de Huila, Gambos e Humbe. Neste sítio,
Pôrto Alexandre, todos os rios nascem o Cunene atravessa uma região lacustre
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 127
de uma altitude de 1.000 a 1.100 me único que nos importa considerar, re
tros, aonde alastra as suas águas du cebe o Lungué-Bundo e o Cuando. Pela
rante a estação das chuvas em grandes sua margem direita, no tempo das chu
inundações. É o que explica que o rio vas, o Zambeze alaga tôda a planície do
tenha tão pouca água na sua emboca. Lobale, acentuando-lhe o seu fácies la
dura, mesmo naquela época. Na estia custre.
gem, a corrente chega a não ter fôrça Mas aonde êsse fades mais se denun
para vencer o banco de areia que lhe cia, em extensão e grandeza na Provín
veda 0 acêsso ao Oceano, e em vão se cia de Angola, é no distrito da Lunda,
lhe procura a foz. que faz parte integrante da bacia do
Se considerarmos que os poucos, e Zaire. Entre o Cuango, que nasce pelas
relativamente insignificantes, cursos de alturas do n° paralelo, no país dos
água, que acabamos de enumerar em Quiocos, e que, recebendo pela margem
rápido esboço, atravessando parte da esquerda o tributo de vários afluentes,
Província de Angola até à costa, quando entre os quais avultam o Lui e o Cam
muito, apenas alcançam o terceiro ter bo, forma o limite central do distrito
raço da conformação orográfica enun de Lunda em tôda a sua extensão de
ciada por Welwitsch, a idéia de uma sul ao norte, e separando depois os
grande depressão central, drenando as nossos territórios dos do Estado Inde
águas de uma grande parte do território pendente do Congo, se vai lançar, sob o
africano interior, deve acudir imediata nome de Lucuali, no Cassai; entre o
mente ao nosso espírito. De facto, as Cuango, dizia eu, e o Cassai', que cons-
observações colhidas confirmam esta titue a nossa fronteira leste, uma série
idéia duma grande bacia lacustre, e de linhas de água paralelas, algumas
ainda hoje vemos, na região sôbre que importantes como o Cuilo, o Luelé, o
recai o nosso estudo, o Cubango que, Tchicapa, o Luachimo, o Uuanda, etc.,
nascendo no planalto entre Sambo e demonstra suficientemente a existência
Morna, na inhára de M’bulumvulo, do vastíssimo lago que, durante os pe
numa altitude de 1.800 metros, atravessa ríodos secundários e terciários, concen
o planalto sem ter escoante regular para trava as águas dessa vasta região, e que
o Oceano, perdendo-se em parte na ba gradualmente se acumularam, até en
cia do lago N’gami, e em parte nas in contrar saída para o Atlântico pelo Zai
filtrações do grande sistema lacustre, de re, substituindo assim ao antigo regime
que fazem parte vários lagos e lagoas lacustre, o actual regime fluvial.
do Calahari, que no tempo das cheias Vemos, pois que as águas da grande
comunicam com o Cunene, dando por depressão central se escoaram gradual
esta forma saída para o Atlântico ao mente, à medida que foram praticando
excesso das suas águas. e cavando êsse profundo canal, que
Para a costa oriental, conforme vimos através das montanhas circunjacentes
na nossa dilimitação com o Barotze, o as conduz ao Oceano.
Zambeze drena uma parte vastíssima do E portanto um país de erosão; e,
centro africano, quer por si, quer pelos como uma acção desta natureza é ine-
seus afluentes que, no seu alto curso, vitàvelmente acompanhada por fenóme
128 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
resultou uma generalização a todos os não nos deve admirar, das pesquisas e
países tropicais, e daí veio o atribuir-se tentativas então feitas e arquivadas por
às formações angolenses desta natureza vários cronistas, poucos materiais se
os mesmos caracteres e um modo idên podem adquirir para o nosso estudo.
tico de formação que me não parece Falou-se muito do ouro do Golungo e
aceitável. As laterites angolenses são de Benguela, da prata de Cambam-
estratificadas e assentam, quási por tôda be (1), e em meados do século xvm
a parte, por vezes a profundidades con estabeleceu-se em Oeiras, no Lucala,
sideráveis, sôbre calhaus rolados e, como a indústria da fundição de ferro, que
se isto não bastasse para pormos de pouco durou, e exploraram-se as pe
parte a idéia da sua formação no lugar, dreiras de calcáreo no Dondo para o
ainda o facto de Welwitsch ter encon fabrico da cal; mas, só em 1839, nos
trado nestas rochas, à beira mar, entre aparece o primeiro trabalho de geolo
o Penedo e a Boa Vista, próximo a gia feito pelo Dr. Lang, químico suíça
Loanda, troncos de árvores silicifeitos» que foi a Angola encarregado de estu
parece vir confirmar a sua organização dar as fontes de petróleo do Dondo,.
por depósitos sedimentares. De resto, e cujo relatório viu em 1886 a luz
conforme veremos, a esterilidade abso da publicidade. Apenas, porém, coma
luta das laterites industânicas, não se documento histórico deve ser citado
nota em Angola, pelo menos na maior e apreciado, porquanto da sua leitura
parte do seu território, aonde encontrá se conhece, pela hesitação com que es
mos as formações designadas poraquêle creve (o autor), que lhe faltam conheci
nome. mentos práticos de geologia e minera
De facto, nós pouco sabemos ainda logia.
ao certo sôbre a geologia da maior parte Alguns anos mais tarde, entre 1840
da nossa Província de Angola. Estu e 1856, Livingstone diz-nos alguma
dos dispersos, observações superficiais, coisa de preciso e claro sôbre a geolo
como não poderiam deixar de ser, fei gia de Angola. Assinala a existência
tas por viajantes a quem faltaria o de um tufo margoso com conchas marí
tempo e material para estudos sérios, timas recentes em Icolo e Bengo, e dá-nos
amostras colhidas à superfície do solo, alguns pormenores sôbre os conglome
um pouco ao acaso das impressões rados e grés que formam os afamados
pessoais dêste ou daquele; tudo isto,
embora constituindo elementos valiosos
(1) Por várias provisões e avisos da Secre
para o estudo petrográfico, pouco ou
taria do Ultramar, entre 1754 e 1756, vê-se que
nada nos elucida sôbre a estratigrafia, se reconhecia a existência do ouro nas alu
por forma a dar-nos bases sólidas para viões do M’brige. Um aviso de 13 de Novem
um estudo desta natureza. bro de 1761 ordena, porém, que se ponham
Se, na verdade, algumas centenas de essas minas em perpétuo esquecimento, e que se
não consinta que pessoa alguma trabalhe nelas.
anos volvidos sôbre a época do nosso
Quanto às supostas minas.de prata de Cam-
estabelecimento, a atenção dos portu bambe, por cuja posse tantas lutas travamos
gueses se fixou sôbre os jazigos mine com o gentio ao findar 0 século xvi, a sua
rais de Angola e Congo, todavia, e isto existência não foi até hoje confirmada.
9
130 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
John), que, muito embora encarregado desta região. Apenas próximo ao 16o
de estudos mineralógicos, dedicou no longitude se encontraria o grés.
seu trabalho mais atenção à botânica e Em 1888, o Dr. Oscar Lenz, publicou
zoologia do que à geologia, nos dá a sua carta geológica da África Ociden
contudo algumas indicações preciosas. tal baseada sôbre observações suas e do
Assim faz-nos notar que o carácter geo Dr. Loesche, que mais tarde (1886-87)
lógico da linha da costa do Quanza a publicou observações muito preciosas
Mossâmedes é dado pelo gneiss, na com respeito ao Congo. Infelizmente
maior parte muito quartzozo, ou então, para a província de Angola, esta carta
junto ao Cuio, muito abundante de hor- é deficiente, deixando de utilizar os ele
nblenda e mica, passando a um pórfiro mentos a que nos temos referido. Além
finamente granulado e granito feldspá- duma estreita faixa litoral quási contí.
tico, junto a Mossâmedes. Junto ao nua, desde o Ambriz até Cabo Frio, de
mar estas rochas primitivas são aproxi terciário mais recente que o Eocénico, e
madas por uma linha de depósitos ter de cretácico, Lenz não distingue na
ciários, constituídos principalmente pelo nossa província mais do que uma larga
gêsso e grés silicioso de variável espes zona de laterite e outra de gneiss, pa
sura, e separados por camadas de finís recendo não tomar em consideração a
simos detritos. Mais para o sul, entre viagem do Dr. Max Buchner, que par
o Rio S. Nicolau a i4°5' e Mossâmedes tiu de Loanda para leste até além do
há basalto colunar e trapp numa faixa 22o grau de longitude leste de Green-
de algumas milhas de largura. O ca wich, e voltou àquela cidade, tendo feito
rácter destas rochas é suficiente para na extremidade oriental do seu percur
explicar a natureza estéril da região. so, uma curva, estendendo-se entre 10o
Em 1876 o Dr. Baron de Barth es 30' e 7o 20' de latitude sul. Todo o ter
boça a i.a carta geológica de Angola, a reno estudado é uniforme, diz êle; quási
que infelizmente falta o texto explica tôda a estratificação é horizontal. A for
tivo (1). Assinala o calcáreo ao sul do mação dos vales por tôda a parte a
Bengo; confirma as observações de Li- mesma: granito e gneiss inferiormente,
vingstone com respeito ao trapp, e as depois um saibro mais ou menos duro,
de Welwitsch a respeito do gneiss, a e por último uma terra vermelha, que
oeste de Ambaca. A 10 quilómetros a pode chamar-se laterite. Em Loanda, a
leste do Golungo Alto encontra calcá parte superior dos terrenos da costa,
reo puramente cristalino, naturalmente cortados verticalmente, composta de
um prolongamento do que se encontra areia ou grés incoerentes, é um conglo
mais para sueste, e que é explorado merado vermelho escuro, ao passo que
nas proximidades de Malange. Entre a parte inferior é esbranquiçada, e por
Cazengo e Ambaca só haveria gneiss, tal forma fina e pulverulenta, que se
que é ainda assinalado a norte e a leste pode cavar com os dedos. A uns 30
metros acima do nível do mar acham-se
dois bancos de grés duro contendo fós
(1) Naturalmente extraviou-se com outros seis. A uma grande distância, no inte
papéis do autor, que faleceu em Angola. rior da região litoral, nas ravinas, en
i32 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
espécies diminue, mas apenas chegados outras que invadem as lavras com ex
às montanhas, ei-las que nos aparecem traordinária rapidez.
em todos os terrenos cultivados, princi No litoral aparece-nos o C. Mariti-
palmente nos dos matos derrubados, re mus, ao longo das costas arenosas e
presentadas, entre outros, pelos géneros sêcas de Loanda e Ambriz.
Pennisetum (P. purpureum—a Marian- As Palmaceas aparecem-nos mais ou
ga do gentio) e lmperata (I. arundina- menos em tôdas as regiões considera
cea, conhecido pelo nome de Senu). das, decrescendo contudo na terceira,
O número de espécies vai aumentan em número de espécies. Welwitsch
do agora até à 3/ região, aonde em ge nos seus apontamentos, citando-nos a
ral, os representantes desta família Phcenix spinosa (Calôlo do gentio,), a
adquirem uma estrutura mais delgada Hyphaene guineensis (Mateba) e a Elaeis
e branda, e portanto, mais apropriada guineensis (Dendo) pouco nos diz sôbre
a pastagens. É aqui que nos aparecem a sua distribuição, que aliás tem mere
as gramíneas arborescentes. À beira cido, últimamente, detalhado estudo ao
dos rios e regatos uma Bambusa (Oxy- longo do Zaire.
tenanthera abyssinica), vulgarmente de Como se sabe, as palmeiras dão uma
nominada Quiambungo, enfeita as gale feição preponderante à vegetação inter-
rias, que lhes contornam as margens. -tropical, tendo, como traço caracterís-
É frequente uma Eleusine (E. textili?) a tico do seu temperamento, a constância
que o gentio chama N'soque, e cujos do meio.
colmos emprega no fabrico dos célebres «Quanto menos êste variar mais elas
balaios do Pungo Andongo. se desenvolvem. Calor igual (mais do
As- Cyperaceas seguem, em relação que a intensidade, preferem a igualda
às três regiões consideradas, a mesma de), humidade igual e persistente, tais
marcha das Gramíneas, isto é, dimi são as condições essenciais do seu de
nuem um tanto entre os limites da i.a senvolvimento normal. Assim o clima
e da 2.a, até que na 3.a apareçem em marítimo insular lhes é excepcional-
tamanho número de espécies, que, em mente favorável.»
certos sítios, chegam a predominar so A Phcenix spinosa aparece-nos no
bre as Gramíneas. Nas margens dos Congo, revestindo a forma acaule, a
rios há vastíssimas várzeas, quási exclu maior parte das vezes com crescimento
sivamente ocupadas por Cyperaceas es densamente cespitoso, embora não raro
pecialmente do género Cyperus, o Mabú apresente espiques, que se erguem tor
(C. papyrus) de tão larga aplicação na tuosamente, entre 8 a 10 metros. Ao
economia indígena, eoC. flabelliformis longo dos rios, mesmo no interior, forma
chamado Jiginje, que também tem idên verdadeiras matas, que o gentio apro
ticas aplicações. veita para extracção do malufu. Fui
Na 2.a região é frequente uma espé encontrá-las no Cuanza, a uns 300 qui
cie o C. Reuschii—3. Póco ia N’Zumbi, lómetros da costa, e ainda no Lombe.
ou faca de Deus, assim chamada por No litoral encontra-se a mateba (Hy
que o mais leve contacto com as suas phaene guineensis), tendo, no nosso
folhas e caules, causa feridas; e ainda Congo, 0 porte regular das palmeiras e
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 137
regra êste o processo mais próprio das dioca, cuja introdução na África pelos
regiões montanhosas. portugueses-, conforme adiante veremos,
Estes aspectos da vegetação espontâ poderia ter tido um largo alcance eco
nea foram adrede detalhados, por for nómico social para o nosso domínio an-
ma a dêles obtermos, à falta de melhor, golense, e que tem, de facto, uma larga
algumas indicações gerais sôbre a cli área de aclimação em tôda a Província.
matologia local, visto que nos escasseiam De cultura fácil e produção abundante,
dados de outra natureza, que nos deem ela corresponde por uma forma notá
bases sólidas para um estudo crítico, vel às tendências características do ne
análogo aos que se podem fazer para gro, que, pouco preocupado com as
certas regiões europeias. qualidades esgotantes da planta, tratou
Se dêste exame da vegetação espon de lhe dar um grande desenvolvimento
tânea, assaz perfuntório, alguma coisa de expansão, nos limites do possível.
colhemos de verdadeiro sôbre a distri Schweinfurth notou que no hemisfério
buição da humidade atmosférica nas Norte, apenas passado o 50 paralelo, a
diferentes zonas consideradas, a obser caminho do equador, as Gramineas dei
vação das plantas em cultura, não menos xavam de constituir a base da alimen
nos esclarecerá acêrca da distribuição tação indígena, sendo substituídas por
das temperaturas, um e outro dêstes tubérculos e raízes feculentas, entre os
elementos, claro está, deduzidos de uma quais domina a mandioca. Até ao 13o
maneira geral, digna de registo todavia, paralelo, a sul do equador, além do
embora vaga, para não dizer absoluta qual reaparecem em cultura as Grami
mente pobre, nos pormenores de dis neas, mantém-se êste predomínio, por
tribuição e variação médias, que tanto uma forma mais ou menos acentuada.
importaria discutir e criticar. Dentro, porém, dos limites que mais
A alimentação indígena, conforme é particularmente nos interessam, e con
sabido, é garantida segundo as regiões, siderando as regiões que temos indica
pela cultura da Manihot, das Convolvu- do, notamos diferenças sensíveis na sua
laceas e das Gramineas. vegetação. Assim no litoral, em que
A indústria agrícola tem como base se estende muito para o sul até Mossâ-
principal, a cultura da Cana sacarina e medes, ultrapassando os limites acima
da batata doce (Ipomaea Batatas) sob indicados, pela razão já aduzida, a planta
o ponto de vista da distilação. desenvolve-se bem, mas diz Welwitsch,
Vejamos pois, como se distribuem as raro floresce.
principais delas pela Província de An Na 2.a região, mais em harmonia com
gola, embora, digamos desde já, em as condições climatéricas do seu habitat
alguns pontos, no litoral por exemplo, pátrio, chega a aparecer-nos nas matas,
a intervenção do europeu tenha mes com carácter sub-espontâneo. Floresce
clado um pouco as culturas, tornando e frutifica, mas neste estado (fora da
algo confusa a delimitação das suas cultura), as suas raízes são pouco gros
áreas. sas e desenvolvidas, e não aplicáveis à
Para o nosso caso, no primeiro gru alimentação, pelo seu excessivo amar
po, basta-nos apenas considerar a man gor — by no means thick, and scarcely
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 141
edible owing to its bitterness, diz Wel- Temos, portanto, duma maneira ge
witsch. ral, indicações climáticas de humi
No planalto ainda é frequente, e tal dade e temperatura relativas, dadas
vez mesmo dominante na cultura, em pela vegetação, quer espontânea, quer
bora já as Gramineas deem um grande cultural.
contingente, mas vai rareando, nestas Assim o litoral nos aparece em gran
alturas, para o sul, até que desaparece de parte relativamente sêco etemperado,
na Huila, por exemplo. Floresce e como o planalto, salvo circunstâncias de
frutifica, mas o seu desenvolvimento é relêvo e revestimento florestal, que lhe
muito mais lento, estando as raízes em dão diferenças sensíveis, ao passo que
maturação ao fim de dois anos, e nunca a 2.a região nos apresenta mais intensa
apresentando o carácter amargoso, ca- mente os característicos dum clima tro
racterístico nos países de origem desta pical—calor e humidade excessivos.
espécie. Parece haver alguma cousa de con
Se considerarmos agora a cana saca traditório nestas afirmações. Na ver
rina, embora a sua cultura se alastre dade é sabido que os climas litorais são
consideràvelmente para leste, atingindo mais naturalmente húmidos do que os
a regiáo planáltica, o facto é que nesta continentais, dado que o vapor de água
região, caminhando para sul a vemos atmosférico tem principalmente como
substituída na indústria da distilação origem o mar, e assim tende a diminuir
pelo Ipomcea Batatas. Mesmo, porém, à medida que nos internamos nos con
nos limites actuais da sua expansão, os tinentes. A quantidade de vapor de
fenómenos vegetativos modificam-se, água atmosférico no interior dos gran
caminhando do litoral para o interior. des continentes, até mesmo nos desertos,
Assim na i.a(i) e 2.a região não é raro é todavia maior do que ordinàriamente
que ela fleche, isto é, floresça, tendo se pode supor. Há ali causas secundá
passado por tôdas as fases vegetativas rias que dão origem à humidade atmos
dentro dum prazo que não excede 18 férica, especialmente a evaporação dum
meses, o que nunca sucede no planalto, solo húmido, rios e lagos, e ainda a da
aonde se desenvolve, melhor ou pior, vegetação florestal, que se não deve
conforme as situações locais, em rela perder, de vista, condições estas que se
ção a terreno e exposição, mas aonde realizam na 2.a região por nós conside
nunca floresce. rada. Além disto, porém, a influência
da corrente marítima antártica que ba
nha a costa africana sudoeste, da qual
(1) Convêm observar que nesta região as
condições de solo e disposição dos terrenos
se começa a separar próximo ao Cabo
em que se faz esta cultura, são muito seme de Santa Maria, deve não só atenuar os
lhantes às da segunda, o que de resto, é de efeitos da temperatura elevada da ter
prever, porquanto a estas divisões não assiste ra, mas ainda concorrer para a secura
um rigor matemático. Ao longo dos rios, nas
do ar, e ausência de chuvas que ali é
várzeas férteis e abrigadas pelo relêvo do ter
reno, as circunstâncias não são precisamente característica.
as que concorrem para caracterizar, duma ma Debaixo dêste ponto de vista, e de
neira geral, a região litoral de Welwitsch. vida à mesma causa, é curiosa a seme
142 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
lhança entre esta costa, a oeste austra Infelizmente, não posso dispor de ou
liana e a sudoeste americana. Tem tros dados, mais para desejar do que es
tôdas um cunho mais ou menos árido tes, a que serviriam de confirmação, e
e desértico, ao passo que a Queenslân- que com mais liberdade e critério nos
dia, a sueste africana e a brasileira são permitiriam reduzir as nossas generali
ricamente vestidas por uma vegetação zações a uma demonstração mais evi
luxuriante. dente e segura. De facto, aparte Loan-
Há ainda mais um facto interessante da, que possue um bom observatório,
que deve influir nos diversos factores nada mais há de que se possa lançar
das chuvas intertropicais, e que qual mão com segurança, porquanto as obser
quer pode observar olhando para uma vações feitas por viajantes, referem-se
carta física do globo. A norte e a sul, a curtos períodos e a estações recente
a zona tropical acha-se separada da mente criadas—Mossâmedes, Cabinda
zona das chuvas temperadas por uma e Huila—estão ipso facto, nas mesmas
região de desertos ou steppes estéreis. circunstâncias. Apenas o Sr. Dr. Nasci
O Saará, os desertos da Síria, Arábia, mento nos apresenta em N’dala Tando
Pérsia e Sinde; o grande deserto de (2.a região—9o, 12', 50", lat. S. e 15o, 4',
Gobi, e os tratos de terreno inculto na 20", long. E. de Greenw.) observações
China e no Thibet, separam as férteis seguidas de 3 anos (1889-90 91), e essas,
regiões da Europa, África e Ásia tem juntamente com as de Loanda, vem
peradas, da zona de chuvas tropicais, confirmar as nossas indicações deduzi
assim como, no norte da América, quási das da flora local.
nas mesmas latitudes, há planícies sal Em Loanda são frequentes as tempe
gadas desertas, e longos tratos de ter raturas de 27o e 28o, observando-se
renos sem vida, no México norte. Ao máximas de 30o a 37o nos meses mais
sul do Equador temos na América o quentes, que são os que decorrem de
deserto de Atacama, na Austrália cen Novembro a Abril; não se registam
tral, os vastíssimos terrenos de reco temperaturas inferiores a 13°, sendo
nhecida esterilidade, e finalmente, na mais freqúentes as mínimas entre
África, o Kalahari, que se prolonga até 15o e 20o, nos meses de Junho a Se
Mossâmedes. tembro, e podendo considerar-se Maio
Tudo isto deve influir na região inter- e Outubro como meses de transição.
tropical, sôbre a direcção dos ventos, dis Em N’dala Tando, as médias das
tribuição de temperatura e humidade. máximas que corresponderam durante 3
Ainda hoje, contudo, se não podem tirar anos àquelas estações, foram de 33o, e
conclusões críticas, dada a carência expli as das mínimas de 9°,7, registando-se má
cável de exemplos fornecidos pela obser ximas absolutas entre 35o e 33o e míni
vação seguida, em tôdas as regiões desta mas de 8o,5.
parte do globo; e o que assim se pode Em geral, qualquer que seja o mês
afirmar na generalidade, não é senão con que se examine, nota-se que, quanto
firmado com maior soma de razões, mais para o interior do continente estão
quando nos temos da referir à nossa as localidades, e quanto maiores são as
grande possessão da África Ocidental. suas altitudes, mais descem as mínimas,
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 143
de Mossâmedes, quer no litoral, quer migrações para oeste do seu foco origi
no interior. De facto, Nogueira, Serpa nário, encontraram populações negras
Pinto, Capêlo e Ivens, mencionam e mais antigas, com as quais se cruzaram,
descrevem povos errantes no interior ou ainda por circunstâncias que daqui
de Mossâmedes, vivendo da caça—os a pouco consideraremos, e que nos pa
Ba-cancala, — ou da pesca, no litoral recem as que mais intensamente con
—os Ba-cuisso — evidentemente perten correram para estas alterações.
centes ao grupo dos boschjemans, e Os fiotes ocupam as margens do Zaire
ainda os hotentotes—Coi-coi—> que se de inferior, e entre êles destacaremos pelas
dicam à pastorícia, cuja semelhança de suas notáveis aptidões os bem conheci
linguagem com a dos precedentes, e a dos cabindas e os luangos.
de ambos com o antigo copia do Egipto, Os mussorongos, que habitam a mar
constitue uma prova das relações de gem esquerda do grande rio, são muito
família entre estes povos. ladinos e em tempo tornaram-se notá
Aparte porém, estes agrupamentos veis por actos de pirataria. O cabinda,
citados, talvez reepresentantes degenera muito tímido, tem um mêdo instintivo
dos de antigas raças aborígenes, os po do mussorongo, que talvez se filie nas
vos dominantes são, como disse, os cenas do antigo tráfico. Além dêstes
Bantus, cujos mais puros representantes os bambas, os bacongos, os moxicon-
se encontram no interior do sudoeste, gos, etc., constituem as populações dêsse
entre os Ova-herero, que ultimamente antigo reino do Congo, aonde os nossos
tanto tem dado que falar, e os Ova-mpo. missionários fantasiaram uma organiza
Embora difícil de fixar, debaixo do ção digna dos tempos do feudalismo,
ponto de vista físico, em virtude de tan com duques e príncipes à mistura, e
tas misturas, pode-se todavia assinalar cuja tradição hoje em dia, apenas vive
ao Baniu um tipo que, sendo negro no no meio popular lisboeta.
fundo, representa contudo a transição Ao segundo grupo, o dos bundas,
para um tipo superior, distinguindo-se pertencem os quissamas, os libolos, os
do primitivo, pela estatura menos ele dembos, os mahongos, os jingas, os
vada em geral, a côr menos carregada, bangalas, os quiocos e os ambaquistas.
a cabeça menos alongada, e o progna- Por profano que se seja em coisas
tismo menor; o nariz é mais proemi africanas, êste enunciado puro e simples
nente e menos largo. Sub-divide-se em de nomes, dá, só por si, idéia da im
3 grupos, que no litoral apresentam a portância dêste grupo. Comecemos pelo
seguinte distribuição: os Fiotes ao norte, ambaquista, recordando o aforismo: à
desde o Chiloango até ao alto Dande; tout seigneur iout honneur. Oriundo de
os Bundas desde o Dande até ao Cuanza uma região (Ambaca) onde a acção das
a os Nbundus ao sul, até às alturas de missões jesuíticas se fêz sentir com mais
Mossâmedes. intensidade, o ambaquista é o exemplo
No litoral, convém notar, que algumas mais frisante de quanto aquela acção
tribus perdem, contudo, o característico foi inteligente, e orientada nos verdadei
Bantu, ou seja por influência da costa e ros princípios, que hoje dominam entre
das terras baixas, ou porque nas suas os povos colonizadores. O ambaquista
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA *47
é a alma do sertão. Sabe ler e escrever mais fácil caçar elefantes e obter es
português, e mantém inalterável essa cravos».
tradição, transmitindo-a de pais a filhos. Faltando-lhes o marfim, dedicaram-se
Não é raro encontrar a escola do am- à extraeção da borraçha das raízes, que
baquista nos mais remotos pontos do hoje constitue a principal riqueza explo
sertão aonde assentou arraiais. E culti rada de Angola, conforme veremos.
vador e é negociante. As melhores lavras Antigamente os quiocos não desciam
são dêle; e raro se encontra uma comi em comitivas a promover a permuta,
tiva de negócio, a que êle não vá ane directamente com as feitorias europeias.
xado, a título de intermediário. Conhece, Êste negócio era feito por intermédio
ou melhor, finge conhecer, o código civil, dos bangalas que, ao longo do Cuango,
e é advogado infalível em tôdas as maças lhe vedavam o acêsso ao litoral, ou aos
sertanejas, intervindo na altura necessá centros sertanejos da permuta. Hoje
ria, com o fatal requerimento, revelando já algumas comitivas descem ao Lucala
o fundo do caráter nacional nesta fór e outras entendem-se directamente com
mula evolutiva do requerimento empata as nossas feitorias, que tem ido ao seu
—sôbre o modo de propor, e finalmente encontro.
é a levedura infalível de tôdas as tra No entanto os bangalas, actuais ha
moias administrativas, que, nas urnas bitantes de Cassanje, são ainda os in
eleitorais da Província, promove o des termediários detentores da maioria dêste
dobramento infinito dos votos, que hão- negócio. São turbulentos, belicosos,
-de dar camaristas aos conselhos, e e muito dados à embriaguez. Não
deputados à representação nacional. tem agricultura, não tem gado. Vivem
Os quiocos, estabeleceram-se na região da permuta.
montanhosa donde correm as águas para Os jingas, representantes dos antigos
o Zaire, Cuanza e Zambeze; entre êles senhores de Angola, ocupam hoje, de
encontram-se indivíduos com tipo ho- pois de corridos sucessivamente pelo
tentote muito pronunciado, o que mais domínio português, a região que é limi
uma vez vem provar a excessiva falibi- tada ao norte pelo nosso Congo, e vai
dade das classificações actuais, debaixo com o Holo até ao Cuango. Dedicam-
dêste ponto de vista. Êste povo, de há -se à pastorícia, mas são igualmente
muitos anos atrás vem caminhando do sul bons agricultores. O seu país é rico
para o norte, invadindo os antigos do de pastagens e de florestas. Não é
mínios dos muatas entre os quais o do raro vê-los nos diferentes mercados,
célebre muata Janvua. com mantimentos e gados, que princi
«Pode afirmar-se, dizia Buchner em palmente constituem a sua riqueza.
1881, que há 30 anos se não conheciam Os libolos e quissamas vivem no vale,
quiocos ao norte do 10o paralelo sul, no Cuanza, cuja margem esquerda
mas eu vi agora algumas sanzalas ocupa ocupam. Os quissamas no litoral, na
das por êste povo. É sua tendência se parte relativamente baixa; os libolos na
guir sempre para 0 norte e buscam segunda região. Estes são cultivadores,
lugares onde os indígenas ainda não e exploram principalmente 0 dendo, das
conhecem as armas de fogo, e se torna palmeiras que abundam na região, e a
148 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Mas, ao lado destas qualidades nega derar inferior. Teria sido êste o maior
tivas, êles manifestam duas faculdades êrro dos nossos antepassados, se é que
aproveitáveis de carácter oposto : — jamais êles pensaram em estabelecer na
espírito de imitação e aptidão comer África, mais do que feitorias comerciais
cial. e pontos indispensáveis de escala para
Veremos adiante como esta aptidão o abastecimento das frotas da. Con
comercial do negro tem sido a alma da quista, uma verdadeira colónia. Entre
nossa Angola, que apenas disso tem vi garam-lhes plantas novas, e abandona
vido até hoje. O seu espírito de imita ram à sua própria iniciativa a apropria-
ção, êsse indica-nos que, para o fazer çãodêssesnovos elementos de progresso,
mos progredir, devemos iniciá-lo, man sem ver que para êsse fim, êles apenas
tendo-o sob tutela, que pode, se quise possuíam meios limitados e processos
rem, ser de mãos de ferro, contanto rudimentares, vizinhos da inconsciência.
que se calcem com luva de pelica. Sem O resultado foi, e ainda hoje é, a dela
o auxílio do estrangeiro, êle não sabe pidação dos recursos que o rodeiam, a
tirar partido dos elementos de progresso destruição bárbara do muito que não
que vão ao seu encontro, e só neste sabiam, nem sabem utilizar, para pro
sentido o poderemos com justiça consi duzir o pouco com que se contentam.
Produção, consumo e balança comercial,
para os produtos agrícolas.
Condições da exportação.— Conclusões (*)
PELO PROFESSOR
I — Produção agrícola:
Evolução no duplo aspecto quantitativo e qualitativo
pela fôrça dos números (rigorosamente festo que ao sabor destas duas corren
o seu apuramento não está feito), que a tes não pode o simples alargamento
partir de 1899, ano em que foi estabe cultural produzir todos os seus efeitos.
lecida a protecçâo à cultura e garantido E não se esqueça também 0 carác
preço remunerador ao produto, por dis ter aleatório da cultura, quanto a resul
posições legais, a superfície de trigo tados económicos, em face das condi
na região alentejana sofreu considerá ções do meio, sobrepondo-se por agora
vel alargamento (fala-se em 300.000 Ha.) a todos os factores a considerar.
pelo arroteamento e sucessiva entrada A guerra trouxe consigo para esta
em cultura de importantes tractos de cultura embaraços já apontados; e o
incultos. que ela representa perante aquela cir
De um modo indirecto, à falta de me cunstância do consumo de adubos, que
lhores dados, a simples nota dos acrés acima foi considerada no seu significado
cimos no consumo regional de adubos de acréscimo da produção, deduz-se do
a trigo destinados, mostra a influência respectivo gráfico. De forma que, de
exercida pela lei protectora em benefí momento, a situação é antes desfavorá
cio desta cultura. Veja-se a êste respeito vel.
o gráfico adiante inserto, elaborado sôbre Querendo, porém, referir apenas o
as declarações do tráfego dos Caminhos caso normal, devem fixar-se as conside
de ferro. Tanto a produção cresceu rações acima, das quais não pode deixar
que, em um ano excepcionalmente favo de deduzir-se que a agricultura nacio
rável—1911—o abastecimento do País nal tem dispendido apreciável esforço
foi quási exclusivamente feito pela pro em melhorar a nossa capacidade de
dução nacional. Porém êste caso é a produção de trigo, conquanto êsse es
excepção e os números da importação forço continue insuficiente, em face das
que, em outro lugar, teem de ser apre exigências do consumo.
ciados, demonstram que, não obstante o Outro produto que merece, no estudo
alargamento cultural, é ainda normal, da evolução da nossa produção agrícola,
com gravame da nossa economia, uma especial referência, é o azeite. São para
insuficiência de produção (do têrço a me assinalar neste caso, a um tempo, o
tade do consumo); porquê? Porque, pri acréscimo sensível da produção e a me
meiro—e isso foi já indicado neste tra lhoria na qualidade do produto. Em
balho—a produção por unidade de su 1868, media 150.000 Ha. a área de oli
perfície é baixa e tem vindo mesmo a val; em 1875, 200.000 Ha., e em 1908,
diminuir (veja-se 0 que se disse no es 329.000 Ha.; mais do que duplicou, pois,
tudo da adubação); porque, em suma, no espaço de 40 anos. Presumivelmente a
não se entrou bastante no caminho da produção aumentou na mesma propor
intensificação que hoje mais do que ção; como pontos de referência que mais
nunca deve caracterizar a agricultura se aproximem, diga-se que a colheita
progressiva; e depois porque, por seu de 1851 foi de 218.410 hectolitros e que
lado, o consumo tem vindo a alargar-se, em 1892 ela atingiu 509.000 hectolitros.
interessando uma quota parte da popu Do mesmo passo, o modo de fabrico e
lação de cada vez mais forte; é mani correlativas qualidades do produto teem
TONELADAS
Í5.000
60.000
wnourau uc auudu ha keuiau - -■
V/CKCALirCKA uu
50-000 50.000
4S.OOÚ 4*000
Asm 40000
\
E m 1900 . tonelada. )
2sm 35.000
------ tm iyu>.............................................. roneiaaas \
Em 1910.............................................. 54.115 toneladas
Em 1915 .............. .......................... .. . 38.297 toneladas
Máximo em 1913 .............................. 65.503 toneladas
-3 Q,Q00 Mínimo durante a truerra. 1916 29.991 toneladas 30.000
i 7.000 T. 3 valôr iniciai 0900)
e xcedendo apenas en
zzm 25000
11999 20000
ÍS.000 45!ooo
0061
6061
8061
1906
1903
00 / O'
1905
1907
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9(61
3 1910
1913
1914
o / O* o « «n £
00 / 00 O' o> § 2 S». 2
40.000 40.009
anais do instituto superior de agronomia *57
vista da produção, esta mesma, com a rante a guerra não afrouxaria a inten
aplicação de uma lei fortemente impedi sificação desta cultura; está definitiva
tiva da cultura, a título de beneficiar a mente lançada neste caminho, a nossa
salubridade pública. Cêrca de 50 anos agricultura, dentro das suas possibilida
volvidos, caída no esquecimento a rigo des, e tudo faz prever maiores progres
rosa observância da lei e por último sos. Mais ràpidamente ainda cresceu
posta de banda, como não satisfazendo o consumo; em .50 anos triplicou; atin
ao fim em vista e contrariando a nossa giria de facto 30.000 T., a meio do de
economia, as condições da produção cénio antecedente à guerra; em 1913
sofrem modificação importante, regis por exemplo, cêrca de 40.000 T.; deste
tando-se em documentos oficiais, já em modo se conserva em 1915, mas ao
1908, uma produção de 10 mil T. (com passo que naquêle ano a importação su
uma área cerca do dôbro daquela) e bia a 30.000 T., não excedeu neste
finalmente na estatística de 1915, não 22.000 T.; é assim que a produção na
menos de 15.000 T. de colheita. Du cional vai ganhando terreno.
Alimentos
Matérias primas
Cortiça De 15 a 20.000 ton. 100 o/0
Lãs 5.800 toneladas 86 0/0 14 % 1.444 ton.—22 % (2)
Valores pagos
les que teem estudado o assunto; em
ao estrangeiro em resumo, até à entrada dêste século o
no quinquénio
consumo não excederia 250.000 T., ao
1939-1913 passo que pelas médias das produções
de 1906 a 1908 e respectivas importa
CEREAIS (I) 7.000 contos ções foi já calculado (Ezequiel de Cam
LEGUMES (2)
500 contos pos, op. cit.) um acréscimo para 305.000
AÇÚCAR (3) 2.700 contos T.; actualmente cita-se como sendo de
CARNES (4)
500 contos
350.000 T. o consumo médio; e até o
LÃ
número de 365.000 T. foi já calculado
1.000 contos
por processo indirecto (Anselmo de An
PELES 1.500 contos
drade, op. cit.), partindo do conceito de
ALGODÃO 5.300 contos que não menos de 45 °/o da população
ADUELAS 900 contos do continente se alimenta, ao presente,
OUTRAS MATÉRIAS PRIMAS (5) 1.800 contos com pão de trigo, e à razão de 400 gr.
ADUBOS 1.100 contos
por habitante e por dia. É pois mani
MAQUINAS
festo que tem crescido o consumo, já
150 contos
paraacompanhamento do acréscimo nor
Total dos valores. . . . 22.450 contos
mal da população, já porque, facto inte
ressante, cada vez vai sendo maior —
(1) Trigo 58 °/ol milho 17 °/0, arroz 25%.
(2) Favas. como atrás se referiu—a quota parte
(3) Não inclue a importação colonial. dessa população utilizando para seu con
(4) Refere-se ao déficit do gado vacum.
(5) Tabaco, Sementes oleosas, Linho, Pasta para papel. sumo êste tipo de pão. Citou se a êste
N. B.—Ver no quadro das importações e exportações a respeito a percentagem de 45 °/o actual
justificação dêstes números aproximados.
mente prevista e correspondendo a 2,5
milhões de habitantes; pois, em 1900,
tinente, as suas contas para com o con não excederia 42 °/o, a referida percenta
sumo de produtos agrícolas, absorven gem. Não é de pequena importância
do, as substâncias alimentícias discrimi esta tendência, em vista das condições
nadas, não menos de 51 °/0 dêsse déficit, actuais do abastecimento.
e os cereais e farináceos, à sua parte, Quanto ao arroz, outro dos cereais que
cêrca de 35 %. Larga margem, portanto, mais sobrecarregara a nossa importação,
para que se intensifique a nossa produ foi dito o bastante, em paralelo com a
ção até pelo menos atingir uma situa sua produção, a respeito do consumo.
ção de equilíbrio. Das carnes, igualmente algo se disse
Tem interêsse, para terminar, o dizer bastante elucidativo, convindo ter pre
da evolução sofrida, no consumo preci sente nesta altura o que foi referido ao
samente, para aquêles produtos alimen tratar dos gados, servindo a demons
tares cujo valor mais fere as atenções. trar a pequenez da capitação para 0 seu
Do consumo de trigo, em primeira consumo e a relativa escassez dos pró
mão, pode dizer-se que há escassez de prios recursos.
elementos estatísticos seguros, e daí di Finalmente, do açúcar, pode também
vergência de opiniões por parte daque dizer-se que o respectivo consumo ca-
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 161
Alimentos:
Trigo.......................................................... 91.219 Ton. 4.029 Contos 129.799 Ton. 10.S50 Contos — _
Milho..........................................................
Arroz...........................................................
36.701 » 1.119 » 13.601 » 682 » — _ — — _
— _ _
25-833 » 18.725 » 6.850 Contos
Hortaliças e legumes verdes. . . .
1.702 » 2.077 » — — — _ _ — íq.qoQ Contos
— 115 » — 118 » (*) xo.549 ton. 182 Contos (2) 11.607 Ton. 303 Contos
Legumes secos não especificados . (*> 964 » __ _
37 » 531 » 29 » (*) 5.848 » 184 » 5.85° » 307 »
Legumes secos—favas......................... 17.061 » 3.736 » — —
534 » 239 » — — _ —
Frutas verdes e sêcas......................... 40 » 38 » (*) 31.290 » I-4I4 » 30.407 » 1.639 » + 1.054 Contos + 1.885 Contos
Azeite.......................................................... —
— — — 266.000 Decai. 56x » í*) 346.000 Decai. 913 »
Vinho.......................................................... 970.010 Hect. 1.515.318 Hectol. _ _
— — — 10.813 » 15.476 » + ix.374 Contos + 16.389 Contos
Carnes ...................................................... 378 » 124 » 203 » 45 * 784 lon. 221 » 927 1 011. 304 »
Manteiga..................................................... (*) _ —
22 » 12 * — — — — — —.
Queijo...................................................... 506 » 214 » (*) 119 » 97 * 44 » 14 » (*) 48 » 20 »
Ovos.......................................................... — —
— — — 20.000.000 209 » 12.OOO.oco 132 » + 94 Contos + 314 Contos
Animais vivos: Totais dos alimentos. + 5.672 Contos + 5.279 Contos
Gado asinino.......................................... (*) 21.700 Cabeças 216 Contos — — (*) 22.443 Cabeças 234 Contos —
»
»
lanígero..........................................
caprino..........................................
40.600
8.301
» 80
18
» 152 Cabeças 0,4 Contos 303.870
76.490
»
»
578 »
156 »
19. H2 Cabeças
I2.562 »
_
51 Contos _
— _
__
» » — — 52 » — —
» cavalar.......................................... 7.500 » 390 » 1.060 » 137 » 7.400 » 369 » — — __
» muar.............................................. 6.960 » 516 » 446 » 43 » 7.940 » 56x » 851 » 135 » — —
» suíno................................................................. 36.200 421 » 128 » 2,1 » 35.088 » 429 » 1.4Ò6 » 16 » — —
» vacum........................................................... 45.100 » I.IIO » 2-551 » 78 » 12.552 • » 532 » (*) 1.621 »
124 » — —
Não especificados............................................... I. 621.000 » 755 138 » 854 Contos 256 Contos
— — » 300.OOO » 4- 4-
Matérias primas:
Cortiça (3)...................................................................... — _ __ (*) 80.232 Ton. 4-555 Contos 70.175 Ton. 3.806 Contos
Lã....................................................................................... 3.458 Ton. (*)
1.277 Contos 1.175 Ton. 1-333 Contos 1.117 » 135 » (*) 851 » 198 » — __
Peles................................................................................. 3-040 » 2.001 » (*)
4.175 » 4.170 » 1.911 » 308 » (*) x.691 » 651 » ___ ___
Madeira............................................................................. — 820 » 471 » — 845 » — 1.424 » — ___
Aduelas............................................................................. 5-127 Milh. 915 » (*) 2.513 Milh. 1.031 » — — — 4- 830 Contos — 926 Contos
Adubos...................................................................... 102.786 Ton. 1.180 » 52.262 Ton. 644 » (*) 5-743 » 35 42.659 » 535 » — x.145 Contos _ 109 Contos
'
Máquinas agrícolas . .............................. — (*) 159 » — 20 » — — — 159 Contos — 20 Contos
Totais gerais. . . . + 6.052 Contos 4- 4.480 Contos
tar, com êste produto, como com outros, quénio de 1909-1913, reduzido também,
que o aumento de valor não resulta em compensação, o movimento de en
apenas—é bem de ver porquê—do au trada, à quinta parte; 6.°—que as maté
mento do quantitativo importado, mas rias primas passaram, de um saldo po
também do acréscimo no valor unitá sitivo de 630 contos, para um saldo ne
rio; o trigo importado no triénio, em gativo de 926 contos, sendo a causa
média anual, excedeu em 45% aquêle desta gravosa mudança, sobretudo, um
que fôra importado, em média, no de acréscimo de cêrca de 2.000 contos no
cénio de antes da guerra, e todavia o valor da importação de peles, mais de
valor do primeiro excedeu, à sua parte, rivado, como para o trigo, do aumento
em não menos de 150% o valor do se do valor unitário, do que da quanti
gundo; em resumo, a importação dos dade importada; esta cresceu 35% e o
cereais custou o dôbro do que vinha valor 100%, sôbre o que haviam sido
anual mente custando antes da guerra e em média no decénio; 7.0—que o déficit,
absorveu, para o total dos saldos nega em resultado da importação de adubos
tivos, em volta de 95 % do seu valor; e máquinas, baixou a */io do que era,,
2.0—que na classe dos legumes e fru pelas restrições do consumo, que já fo
tas, a situação continuou sendo de supe ram apreciadas em outra altura dêste
ravit, agora acrescido de 800 contos trabalho, e ao mesmo tempo, pelo acrés
por se ter reduzido a metade, o valor da cimo anormal da exportação do pri
importação de favas, ao mesmo tempo meiro daqueles artigos; 8.°—que, em
que teve um aumento de 500 contos a resultado de tôdas as alterações, o saldo
exportação, em globo, de hortaliças, fru positivo total baixou de 6.052 contos,
tas e legumes; 3.0—que o superavit de para 4.480 contos, diminuindo de cêrca
vido ao comércio de azeite e vinho teve de 27%, precisamente numa altura em
um aumento de 5.000 contos, dos quais que, como adiante se dirá, só um con
nada menos de 91% para o vinho; a siderável aumento podia atenuar as di
exportação média dêste artigo atingiu ficuldades económicas do País.
pela primeira-vez a elevada cifra de Se, como se fêz para a situação nor
1.515.318 hectolitros no valor de 15.476 mal, colocarmos aquêle saldo a par dos
contos, o qual absorve, no total dos restantes encargos em alimentos e ma
saldos positivos da média anual do térias primas importadas, a inscrever
triénio, não menos de 82 %; 4.0—que no Deve do País agrícola perante o es
os produtos de origem animal deram trangeiro, o desconto a fazer é, em mé
também superavit maior, mas principal dia anual, no triénio, aproximadamente
mente porque as importações diminuí de 16.500 contos (só de algodão 9.900
ram; 5.0—que o saldo positivo, para o contos), donde um déficit final de 12.000
comércio de animais vivos, ficou nota contos, suplantando até ao quádruplo o
velmente enfraquecido, passando de 854 que se apurou para antes da guerra.
contos a 256 contos, porque todo o mo Demonstrado fica pois à evidência o
vimento de saída de gados, a dar cré que, sob o aspecto que ora nos ocupa,
dito às estatísticas, reduziu-se ao sexto teve de pernicioso para nós o estado de
do que fôra, em média anual, no quin guerra; e vai ver-se de seguida, sempre
164 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
MILHARES DE CONTOS
ISO /
170 /
COMÉRCIO ESPECIAL
160
CONVEKÇÕES:
/
80 /
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70
'—' '
60
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contra a nossa exportação de produtos Claro que as duas escalas, a dos va
agrícolas, do grau de desafogo, da vita lores e a das quantidades, não condi
lidade que vem manifestando, das suas zem, sabido como é que o preço unitário
possibilidades e dos riscos a que por dos vinhos generosos sobreleva, em mui
ventura está sujeita. É agora um rápido to, o dos vinhos comuns. Para um espaço
exame destas questões que fará o objecto de tempo mais restrito, o decénio de
dêste último estudo.' 1904 a 1913, que tem sido estudado, o
Está já dito que ocupam o primeiro exame detalhado da nossa exportação
e segundo lugar na exportação, respec- vinícola pode traduzir-se em números
tivamente, o vinho e a cortiça. No decé no quadro que segue na página 170.
nio de antes da guerra, para uma expor Fica posta em evidência a importân
tação, em média anual, no valor de 32.000 cia, para êste ramo do nosso comércio,
contos, números redondos, 48 °/o per em condições normais, dos mercados
tencem àqueles dois produtos em con inglês e brasileiro, 0 primeiro para os
junto, 34 °/o para 0 vinho, 14% Para a vinhos generosos, o segundo para os
cortiça. No triénio de 1915-1917, para vinhos comuns, em especial; e ainda,
uma exportação, em média anual, no va para êste último tipo, a relativa impor
lor de 48.000 contos, 40 °/o pertencem tância, susceptível de notável incremento,
ainda aos mesmos dois produtos, para do mercado colonial (África Portuguesa).
o vinho 32 0/0 e 8 °/o para cortiça. Com A anormalidade do ano de 1916 tra
preende-se o interêsse que tem o consi duz-se, para um total de 2.309.682
derar estes dois aspectos do nosso co hectolitros, no valor de 23.332 contos,
mércio externo, para o estudo das con em uma saída excepcional de vinhos
dições económicas nacionais. comuns para França, nada menos de
Dá idéia do que tem sido a evolução 1.260.292 hectolitros, quantitativo que
da exportação vinícola, o gráfico inserto só encontra correspondência nos recua
na página 168, elaborado com os dados dos anos de 1886 e 1888 e cujo apareci
do Anuário do Comércio e Navegação mento esporádico não pode tomar-se à
—ano de 1916. conta de uma tendência que se define,
Deduz-se do gráfico que o nosso como não pode dar lugar a fundadas
comércio de exportação de vinhos vem esperanças de alargamento do consumo
mantendo-se, sem muito fortes oscilações externo. Outros países aumentaram
dentro de um período de não menos de também, sensivelmente, os seus consu
80 anos, variando, na escala dos valores, mos, por exemplo a Dinamarca e a In
em volta da média de 11.000 contos, glaterra para os vinhos comuns; igual
dos quais cêrca de 52 °/o para o vinho mente, e de um modo mais pronunciado,
do Pôrto, 40 % para os vinhos comuns ainda, os mesmos dois países para o vi
e 8 % para o vinho da Madeira. nho do Pôrto, bem como a Noruega,
Só em 1916 sobrevém uma alteração que, à sua parte, quintuplicou o respec-
brusca, especialmente devida a um acrés tivo consumo.
cimo, verdadeiramente excepcional, no Mas é todavia do conhecimento geral
valor da exportação dos vinhos comuns, o que tem de instável, de aleatório, o
facto êste que adiante será considerado. comércio dêste produto na época que
i68 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
MIUtAKtS 02 ©COTOS
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 169
O»
B.<
ON
V = Valor. Q = Quantidade
nosso, que, ao mesmo tempo que pro aliás demonstradas, para a boa quali
dutores, são fortemente industriais da dade da mesma produção", quere isto
cortiça, realizam com uma menor capa dizer que pode vir a reforçar os núme
cidade de produção um benefício muito ros, relativamente baixos, que hoje a
mais sensível; tal é o caso da nossa vi estatística do movimento comercial lhes
zinha Espanha que, por exemplo, ven atribue, se 0 único obstáculo a remover
deu ao estrangeiro, em 1905, 7.102 con fôr o de descobrir, no meio produtor,
tos de cortiça, emquanto que as nossas maiores possibilidades.
vendas ficaram em 3.664 contos apenas. Há porém que contar com a caracte-
Deduz-se da situação, a priori, que o rística, que quási sempre acompanha a
país precisa de lançar-se justamente nossa produção, do seu elevado custo
nesta corrente da intensificação da in -recorde-se o que ficou dito em outra
dústria corticeira, como única forma de altura dêste trabalho, sobretudo o que
conseguir maior soma de valores — respeita aos nossos encargos de mão
dado que dum aumento da exportação de obra—, característica que na luta pela
da matéria prima, com carácter aturado, conquista dos mercados, nos embaraça
não haverá muito a esperar, porque grandemente a marcha.
outros produtores, sobretudo os novos Concretamente, alguma cousa pode
produtores, de grandes possibilidades, referir-se nesta ordem de idéias. Ve
— o caso da Argélia — virão a certa ja-se o caso da exportação do azeite:
altura tolher-nos o passo. Todavia para êste produto, o principal consumi
mais uma vez aqui a concorrência criará dor externo vem sendo o Brasil; de
fortes embaraços, porque na colocação 213.322 decalitros exportados em 1913,
dos produtos desta pressuposta indus mais de metade (111.041 decalitros) ti
trialização, em larga escala, haverá o veram aquêle destino; e todavia êste
País que defrontar-se com tôda a soma mercado não nos está assegurado, como
dos interesses alheios desde muito cria está por exemplo para os nossos vinhos
dos, e com tôda a actividade dos centros comuns; di-lo nos seguintes têrmos no
de produção desde muito trabalhando Inquérito para a Expansão do Comércio
com boa margem de lucros e a preço Português no Brasil, de 1916, o nosso
barato, em termos de se tornar difícil, cônsul naquele país: «também é nosso
uma acção de competência com alguns o primeiro lugar na exportação de
visos de bom resultado. azeite, mas aí a nossa situação é peri
Se, como fecho, juntarmos agora a êste gosamente estacionária e não acompa
quadro em que figuraram, para a pro nhou o aumento do consumo que foi
dução agrícola, os nossos mais impor de 50 % no decénio citado—refere-se a
tantes recursos actuais de exportação, 1902-1911—, ao passo que as vendas
alguns outros produtos que nos sobe da Espanha septuplicaram e as da
jam do consumo e vamos colocando no França e Itália duplicaram. É pois evi
estrangeiro, as frutas, hortaliças e legu dente que, se não acelerarmos a nossa
mes, e o azeite, verificaremos que o marcha, não tardaremos a ser alcança
País tem condições para o alargamento dos...». Podem ficar por aqui as refe
da sua produção, como tem condições, rências e pode dar-se por findo o estudo
I72 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
V—Conclusão
Não é ao autor que compete extratar agora, porquanto já tem sido feita, para
de quanto veio sendo exposto, o que ali completar a vista de conjunto sôbre a
há de fundamental e mais característico situação.
para definir, com o possível rigor, o es De facto deve ainda repetir-se que, se
tado em que se encontra, no ponto de a agricultura portuguesa não fornece
vista económico, a agricultura nacional. nesta hora ao País todos os recursos
Alguém fará êsse trabalho de síntese, que as suas possibilidades explorativas
para esta como para outras memórias deviam garantir-lhe, tem sido, em todo
similares. Por outra parte, no decorrer o caso, grande o seu esforço no sentido
dos diversos estudos, supomos que foram de cumprir a sua missão e grandes de
postas bastante a claro as conclusões vem resultar, quando somadas, para um
que êles comportam, para que seja dis balanço da nossa actividade, as energias
pensável, ainda mesmo apenas para fa dispendidas em valorizar o solo agrícola
cilitar a tarefa alheia, pôr em maior des nacional. Há o direito de julgar assim
taque, nesta altura, o significadodequanto duma agricultura de cujo trabalho pôde
se expôs. Mas é ainda conveniente, para escrever-se, com rigor, esta apreciação,
complemento da tarefa de que nos in duma eloqúente simplicidade:
cumbimos, deixar aqui expressas umas ...«Em tais condições—o autor refe
impressões últimas, a traduzir em pou re-se às dificuldades de capital — não
cas palavras, no fecho desta memória. temos que censurar o atrazo agrícola,
Suponho que três teses ficaram aqui só temos que admirar o muito que a
demonstradas, a primeira de que a agri agricultura nacional fêz, nem reparar
cultura portuguesa trabalha muitas ve no tempo que levou a realizá-lo. Arro
zes em meio ingrato, que urge melho teou-se uma enorme área de charneca,
rar na medida do possível; a segunda alargou-se por dezenas de milhares de
de que, para estas condições de meio, a hectares a superfície ocupada pelos
mesma agricultura está antes mal do montados e pelos pinhais, fez-se a sur
que bem apetrechada; a terceira de que, preendente reconstituição dos vinhedos
em conseqílência, a produção é no ge arrazados pela filoxera, aumentou-se a
ral insuficiente e cara, e os seus exce cultura da vinha, apesar da invasão de
dentes, quando surgem, não asseguram tôdas as doenças que a deprimem, au
à balança comercial todo o impulso fa mentou consideràvelmente o olival por
vorável de que ela carece; supondo, tuguês, intensificou-se e desenvolveu-se
repetimos, que a estas afirmações feitas a cultura de trigo até quási duplicá-la,
conseguimos juntar as suficientes pro melhorou sensivelmente o gado, a al
vas, uma quarta afirmação deve ainda faia, o fabrico dos lacticínios, do vinho
fazer-se agora, ou, melhor, repetir-se e do azeite.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 173
Para conseguir tudo isto, certamente sempre presente dos seus recursos. É
muito para os nossos recursos actuais assim que êle fere a nota do muito que
e pouco para o que podia e devia ser, se trabalha além para o pouco que se
foi preciso o trabalho de mais de 60 aufere em lucros, «the maximum of labor
anos e quási exclusivamente o realizou yields only a minimum of profit», e nos
a grande cultura, aproveitando os feli diz como a concorrência de produções
zes ensejos da valorização da cortiça, mais baratas, ao favor da riqueza do
da alta dos preços do vinho, do azeite, meio, não permite à Itália o alargamento
do trigo e do gado, acontecimentos oca na conquista dos mercados; é assim,
sionais e felizes, alguns custando, aliás, ainda, que o autor, pondo em destaque
sensível sacrifício em benefício nacional; a insuficiência das condições de trans
quási todo êste sacrifício em benefício porte, mostra, a propósito, a necessidade
do capitalista, do grande proprietário, de corrigir até ao máximo, por largas
da grande indústria e do intermediário, obras de melhoramento, as imperfeições
ficando nas mãos do agricultor apenas do meio; e é assim finalmente que êle
o resíduo insignificante do lucro das não se esquece de salientar como, no
grandes operações que êle só realizou, jôgo do seu comércio externo, a Itália
e que o juro usurário e a astúcia comer está na situação difícil, que em grande
cial principalmente aproveitaram... » parte a natureza lhe criou, de ter de
(do Relatório da Junta do Crédito importar artigos de primeira necessi
Agrícola, 1913). dade, ao passo que apenas pode lançar
Não há que negar à lavoura, para que na exportação outros que veem sendo
esta a inscreva no seu Haver, nas contas de cada vez menos insubstituíveis no
para com a Nação, tôda aquela obra a consumo das populações.
custo realizada, como não há que negar IQuantos pontos de contacto, ao citar
ao obreiro humilde dessa obra, ao traba estas referências, entre a situação da
lhador agrícola português, as qualida Itália e a situação portuguesa! Que se
des de aplicação, de resistência e de acompanhem nos seus detalhes, a par
sobriedade que o fazem notado, sobre das apreciações indicadas acima, aque
tudo em regiões distantes, sofrendo por las que ficaram exaradas ao longo desta
vezes o embate de civilizações bem di memória e por vezes a impressão será
versas, e não poucas as agruras de um de que foi para nós, e em nosso favor,
expatriamento a que não faltam nem a que Ellis Darker usou da sua crítica
rudeza do trabalho, nem tão pouco a inteligente.
acção depressiva de um meio inóspito. De facto, à situação agrícola do País
No seu interessante estudo sôbre a é preciso opor-se, para bem da sua eco
situação económica da Itália, ao sair nomia, mais do que uma profunda remo
dos dias tormentosos da guerra, J. Ellis delação nos processos, o desenvolvi
Darker (Economic Statesmanship) soube mento de uma acção vasta de melhora
encontrar, em defesa de uma causa justa, mento do meio, que o conquiste, que o
a sugestiva definição, por um lado, do corrija, que o adapte emfim à cultura, e
esforço levado a cabo pela agricultura logo venha dar alento às iniciativas e
daquele país e, por outro, a escassez avigorar as energias, com as quais deve
174 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
poder contar-se, desde que esteja assim o Estado Português, no momento pre
preparada, para as emprêsas, em vez do ciso em que, saído o País da guerra,
fracasso ou da quási esterilização dos es êle está, mais do que nunca, falho de re
forços, umasuficientegarantiade sucesso. cursos, lançar mãos a uma obra de ta
,;Mas pode acaso aquele a quem com manho vulto?
pete, de direito, a maior soma dêste tra
balho necessário de fomento, pode acaso Lisboa, Novembro de 1919.
Campo Experimental de Meteorologia Agrícola
do Instituto Superior de Agronomia
TABELA I
ANO DE 1914
TABELA II
A.KTO DE 1015
TABELA III
AXO DE 1918
TABELA IV
ANO DE 1817
33°,4 10o,0
On
23o,3 5.9 3 .
Julho............................. 3Ó6h 271 22°,8 37°,4 13°,4 25o,1 0,4 1
Agôsto.......................... 347h 49' 21°, I 32o,8 ii°,6 24o,6 . 1,2 I
Setembro................ ... 325h 35' 2I°,8 33°,9 I2°)4 24o, 1 0,0 0
Outubro......................... 2Q9h 35' 16o,6 27o,7 6°,5 20°,5 35,9 8
Novembro.................... 244h 35' 13°,4 23o-3 3o,6 14o,5 0,0 0
Dezembro.................... i52h 3' 8°,2 i6°,9 -o°,7 9o,8 37-° 7
TABELA V
ANO DE 10 18
TABELA VI
A.3VO DE 1818
J F M A M J J A S 0 N D Ano
Temperatura do ar............................... 10,0 ii,i 12,1 13,8 17,2 20,5 22,0 22,9 21,2 16,8 i3,3 10,9 16,0
Média das máximas........................... 14,1 15.1 16,0 18,5 21,9 26,2 27,6 28,9 26,7 21,9 *7.4 14,6 20,7
Média das mínimas. ......................... 6,7 7,7 8,3 9,o 12,2 *4,7 16,5 17,0 *5.9 12,1 9-6 7.8 11.5
Temperatura do solo a 0,30............. 11,0 n,8 13,2 15.5 20,0 24,0 25,2 26,0 23,8 I9>1 *4-5 ii,7 18,0
r quantidade em mm............. 135.4 134,2 no,7 45,4 47,7 9,4 6,3 0,6 54.7 23,6 132,7 83,8 784,5
Chuva j
[número de dias................... 15.0 15.2 16,6 9,6 8,4 3,o 1,8 1,0 6,2 5.4 12,4 14,0 108,6
Insolação ................................................. i33h 20' I32h 23' I72h io' 233h 34' 27 4h 4' 332h 15' 338h 12' 348h 14' 24*h 55' i9Ôh 54' i59h 1' I20h 39' 2.682h 41'
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 181
número a Fevereiro, que recebeu pouco J......... - 25>8......... •• 25>7......... ... —0,1
A.... 0,0
menos da quarta parte. •• 27>°......... - 27»°.........
S........ - 24.7......... - 25.9......... ... + 1,2
O.... +4»1
Temperatura do ar.— Apesar de ser - i7.4......... - 21,5.........
o ano de 19T9 aquêle, dos cinco, que re N.... - *2,9......... *6,7......... -• +3.8
cebeu menor insolação, não deixou por D.... - 10,9....... ••• *3.8......... ... +2,9
passa a ser inferior, voltando de novo sido um ano perfeitamente normal, co
a ser-lhe superior nos restantes meses. mo o mostra a sua média, sensivelmente
Quando a temperatura diminue com igual à média do referido período.
a profundidade, quere dizer que o calor A totalidade da chuva caída neste ano
penetra no solo; quando aumenta é que, foi de 772mm,4, o que, tendo a Tapada
pelo contrário, o calor sai do solo. Ve uma área de 100 hectares (proxima
mos, pois, que êste ano o calor come mente), corresponde a 772.400 metros
çou a penetrar no solo da Tapada em cúbicos de água.
Maio, atingindo, a ora,8o de profundi Desta chuva total coube a cada mês
dade, a sua máxima no mês de Agosto; a seguinte fracção:
iniciando-se em Setembro a saída do Fracção Número
calor, saída que se prolongou por todo pluviométrica de m3
QundrO XV
Quadro "V
Por aqui se vê que aumentou imenso Estes números mostram bem clara-
o número de indivíduos entregues à mente a tendência que há para aumento
administração pública, os improdutivos no número de indivíduos entregues a
e de profissão desconhecida e as pessoas ocupações pouco penosas. Talvez se
que vivem exclusivamente dos seus ren pudesse daqui deduzir que é aspiração
dimentos; também aumentaram, mas em de muita gente ganhar somente o indis
proporção muito menor, os empregados pensável para viver, logo que isso se
na extracção de minério, os de profissões traduza em trabalhar pouco, ou apenas
liberais e os empregados na indústria. trabalhar enquanto se não adquirem bens,
Diminuiu o número daqueles que se em quantidade tal, que bastem para ga
dedicam à caça e pesca, dos ocupados rantir uma vida descuidada e pouco la
com trabalhos domésticos, com traba boriosa, num futuro próximo.
lhos agrícolas, na fôrça pública, em Contudo, queremos crer que estas
transportes e no comércio. idéias de preguiça, de indolência, não
13
194 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Vemos assim que a emigração total no ano de 1900, porém, com a diferença
no distrito é sensivelmente de i/7 da capital de que, ao passo que neste ano
emigração total do Continente. era muito superior o número de homens
A partir de 1900 foi sempre aumen ao número de mulheres entre os emi
tando a tendência para a emigração; e grantes, em 1916, no Continente, homens
assim é que esta atingiu o seu máximo e mulheres entram em percentagens
em 1912 e 1913. Em 1914 sobreveiu a sensivelmente iguais, e, no distrito de
grande guerra e a emigração brusca Viseu, o número de mulheres excede
mente diminuiu, até ao ponto de, em em 1/3 o número de homens.
1916, ela ser, no total, sensivelmente Portanto, embora no total as emigra
igual, em valor, à emigração que se deu ções nos anos de 1900 e 1916 tenham
J96 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
basta que ela diminua, pois isso forçoso em 1903 ela era de 55,34 °/o, em 1907
era dar-se, visto ser impossível à popu de 58,06 °/o e em 1916 de 70,46 %•
lação actual sustentar uma tão grande E curioso notarmos o seguinte acêrca
emigração; era preciso sustá-la de vez, dos países do destino:
não por meios represssivos mas por Em 1900 o maior número de emi
uma administração interna sã e compe grantes, 1801, dirigiram-se para o Bra
tente, que, para o bem do nosso país sil, um menor número, 138, para a
protegesse a agricultura de forma a esta, África Ocidental e finalmente um pe
por uma vida desafogada e lucrativa, queno número de emigrantes para a
poder reter e chamar a si tantos braços África Oriental (apenas 21) e outros
que a necessidade e a falta de recursos paízes da América do Sul (só 2).
internos, dela afastaram. A emigração, como vimos, foi aumen
As estatísticas elaboradas sôbre o tando, mas dirigindo-se quási na totali
número de passaportes passados no dade para o Brasil, sendo cada vez
distrito de Viseu, dão-nos, para o ano menor a emigração para África.
de 1916, 451 emigrantes que sabem ler Em 1910 começa contudo a emigra
e escrever e 1.076 analfabetos. Isto ção para a América do Norte, e nos
dá-nos uma percentagem de 70,46 °/o anos imediatos ela dá-se, relativamente
de analfabetos. Notemos que esta percen a êste país e ao Brasil, pela forma se
tagem tem vindo sempre aumentando: guinte :
1910 1911 1912 1915 1914 1915 1916
Daqui vemos nós que a emigração mente, igualmente por causa da guerra
para a América do Norte aumentou até mas continuou, desde então, sempre a
1913, diminuiu em 1914 com a guerra, diminuir.
mas continuou a aumentar nos anos Mas vejamos ainda o seguinte que é
imediatos. digno de nota.
Para o Brasil aumentou até 1912 con Estes números que apresentei, pode
servando-se depois sensivelmente cons mo-los ainda decompor, para os 3 últi
tante até que em 1914 diminue brusca- mos anos, segundo o sexo, e temos:
1914 1915 1916
(i) O número total de emigrantes indicados nos quadros estatísticos da emigração por
profissões não condiz com o indicado no quadro da emigração por sexos e idades. Estas
diferenças não nos importam, pois, do quadro VII que apresentamos, só aproveitamos percen
tagens, que podemos tomar como certas.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 199
Como dissemos, vamo-nos agora ser dizendo que a emigração também não
vir dos valores para capital-homem de data de 1907, apenas, e que muitos dos
terminados por Bento Carqueja para as indivíduos que emigraram em anos an
duas classes de indivíduos a que acima teriores, ainda vivem e não voltaram
fizemos referência. Todavia, entrando em 1916.
em linha de conta com 0 capital mobi Em 1904 avaliava Basílio Teles em
liário, por via de regra reduzidíssimo, 10.000 contos a quantia, de proveniên
que o emigrante leva consigo, adopta- cia brasileira, que anualmente entrava
remos para os trabalhadores agrícolas, em Portugal, abstraindo das que só
de ocupação doméstica e sem profissão, representavam o pagamento das mer
o valor unitário de 3oo$oo para cada cadorias que exportamos para lá.
emigrante maior de 14 anos e para os Depois disso já Bento Carqueja fixou
emigrantes das outras classes, também em 20.000 contos a importância anual
maiores de 14 anos, o valor unitário de das remessas que os emigrantes portu
680800. Cometemos assim um ligeiro gueses fazem à sua pátria.
êrro por excesso, pois os valores que Embora seja enorme a diferença entre
Bento Carqueja determinou referem-se os dois números citados, é de notar que
a indivíduos de idade compreendida a emigração também aumentou muitís
entre os 22 e os 60 anos, mas preferi simo, como vimos, de 1900 para cá.
mos proceder assim neste ponto da Admitindo êste último número, veja
questão, atentas as conclusões a que mos quanto caberá ao nosso distrito.
pretendemos chegar. Para os menores A emigração total do distrito de Vi
de 14 anos atribuímos a cada indivíduo seu anda por da emigração total do
das primeiras classes o valor de 130800 continente. Contudo, não devemos es
e a cada uma das classes restantes o quecer que os emigrantes que a com
valor de 250800. põem são na grande maioria, pobres
0 número total de emigrantes, rela trabalhadores agrícolas e indivíduos sem
tivo ao período de 10 anos considerado, profissão definida. Portanto, a impor
representa por consequência um capi tância das economias e das remessas
tal de que êles fazem para a sua região, terá
40.317x300800 = 12.095.100800 de ser forçosamente inferior a */7 da
1 o. 653 X 680S00 = 7.244.040800 totalidade vinda para o continente.
6.553 Xi3°800= 851.890800 A importância dos vales postais vin
1.732 X 250800 = 433.000S00 dos do Brasil para o distrito de Viseu
anda por l/u da importância total en
20.624.030800
viada para o continente.
Estes 21.000 contos, arredondando, Calculando nós também, por analo
representam para nós o capital emi gia, à falta de quaisquer outros dados,
grante proveniente do distrito de Viseu. em */i4 da importância anual das remes
Poder-nos-ão retorquir que não é bem sas que os emigrantes portugueses fazem
assim, pois muitos emigrantes incluídos para Portugal, o valor das mesmas re
nesta verba poderão já ter morrido ou lativas ao nosso distrito, obtemos a
reemigrado, ao que nós responderemos, soma de 1.428.571800.
200 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
pela chuva demasiada que caiu, moti agrícola e se proteger a sério a nossa
varam tal incremento. agricultura, então a emigração dimi
Depois disso, com a guerra de 1914 nuirá; e mau era que não diminuísse,
foi a emigração obrigada a diminuir. pois que, nesse caso, uma emigração
Não temos dados estatísticos que nos como a que estudamos, passava a ser
permitam ir além nas nossas considera prejudicial. Mas diminuiria certamente,
ções, mas parece-nos bem que é apenas porque numa região acidentada como
devido à falta duma boa administração esta, é sempre preciso um grande
interna, esta grande emigração. núméro de braços para os diferentes
Estimule-se a associação; por inter trabalhos culturais, pois não raras são
médio do crédito agrícola, ponham-se à as parcelas que não permitem o em-
mão do lavrador capitais baratos; esta prêgoda mais singela máquina agrícola.
beleçam-se muitos postos agronómicos Todavia, continuando tudo como até
de investigação, cada um dêles para es aqui—no que não cremos—, uma emi
tudar, apenas, a agricultura na região gração assim é um bem, porque, se
que lhe estiver adstrita; por êles se en se não soube aproveitar cá dentro os
sine o lavrador, bem como o jornaleiro. braços que saem, ao menos o dinheiro
E, feito isto, logo que se deixar de su que por êles entra na sua terra natal,
gar, ao máximo grau, a nossa riqueza compensa, como vimos, a sua perda.
Notícia acerca da Biblioteca do Instituto (1853-1920)
POR
Carlos Simões
CONSERVADOR DA BIBLIOTECA
Surpreendidos com a publicação inesperada cidativa como a notícia redigida pelo paciente
dos «Anais», não podemos, por falta de tempo, conservador da mesma, Sr. Carlos Rodrigues
desenvolver, como desejaríamos, êste subsídio Simões; porque a maioria dos informes forão
para a história da biblioteca. colhidos nas actas do Conselho superitendente
Ponderado e justificado o motivo da estrei do Instituto, ou seja, numa fonte privativa.
teza de âmbito desta notícia, acrescentaremos Esse trabalho ficámos devendo ao professor-
ainda que nos tivemos de cingir em grande -bibliotecário Dr. António Correia da Silva
parte a um outro trabalho que escrevemos an- Rosa, que incumbiu ao já citado conservadora
teriormente e que foi publicado no «Boletim sua brilhante cooperação nesta obra, motivo
Bibliográfico da Academia das Sciências de porque registamos o nosso agradecimento a
Lisboa». Preferimos todavia esta situação que ambos».
*
não nos satisfaz, a deixarmos de ver mencio * *
nada a biblioteca nos presentes «Anais». O tra Quando recebemos a circular pedindo uma
balho anterior a que fizemos referência e que noticia histórica acêrca desta Biblioteca, para
nos foi solicitado numa circular de Setembro ser publicada no «Boletim Bibiográfico da
de 1914 pelo Sr. Inspector da Biblioteca da Academia das Sciências de Lisboa», vimos
Academia das Sciências de Lisboa, enfermava logo que a tarefa não seria fácil devido a não
de alguns erros e omissões que presentemente existir nela nenhum documento que dissesse
são corrigidos. Introduzidas as emendas, tras- respeito à sua história.
ladá-lo-emos para aqui na íntegra, na parte que Esperávamos todavia levar a bom cabo a
diz respeito ao período anterior à separação do nossa investigação, apelando para as belas fa
Instituto Superior de Agronomia da Escola de culdades de memória do Ex.mo Sr. Professor
Medicina Veterinária. Depois desta data se José Veríssimo de Almeida, Director do Insti
remos mais extensos, dentro dos limites do tuto, que conhecia todo o passado dêste esta
possível, dada a falta de tempo para coligir belecimento, porque, vindo para êle logo após
mos notas para seu maior desenvolvimento. a sua criação, como aluno, durante mais de
O nosso trabalho, quando publicado no «Bo meio século foi nêle professor, e, foi-o de uma
letim», foi acompanhado de palavras elogiosas, forma tão distinta e brilhante que, tendo inte
que aqui mantemos, não porque essas palavras grado a sua vida de sábio e trabalhador infati
nos façam impar de vaidade, mas porque signi gável na vida do Instituto, concorreu bem alta
ficam uma honra para o Instituto no qual as mente para os seus gloriosos fastos. Esperan
faremos recair. çados estávamos, pois, na elucidação que cer
Conservando, pois, a mesma ordem por que tamente nos dispensaria o Sr. Veríssimo de
o nosso trabalho foi publicado no «Boletim Almeida, quando nos veio surpreender o seu
Bibliográfico da Academia das Sciências de falecimento, deixando-nos então bem embara
Lisboa»—Segunda Série, volume I—Fascículo çados para contribuir para o «Boletim Biblio
número 3—Março de 1916, passamos a fazer a gráfico», com a notícia solicitada.
a sua transcrição. Não dispondo nem de tempo, nem da lan
terna de Diógenes, para procurarmos um ho
BIBLIOTECA DO INSTITUTO SUPERIOR
mem... que esclarecesse o mistério da origem
DE AGRONOMIA
e antepassados da Biblioteca do Instituto Su
«Nunca qualquer investigação, a que proce perior de Agronomia, resolvemos lançarmo-
dêssemos acêrca desta Biblioteca, seria tão elu -nos sòzinhos na caligitiosa senda da investiga-
204 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
çõo, procurando uma frincha por onde se es Art. 136.0—Ao bibliotecário incumbe:
coasse um ténue raio de luz por mais tremu- i.° A compra, conservação e classificação
lante que fôsse. dos livros e mais objectos da Biblioteca, que
Se a nossa canceira não foi coroada dum estarão todos debaixo da sua imediata respon
resultado que nos deixasse satisfeitos, não foi sabilidade.
também em absoluto infrutífera. 2.0 A fiscalização do serviço e polícia da
O que podemos apurar aqui fica registado Biblioteca.
em esparsas e mal cerzidas notas, já porque 3.0 Apresentar, antes do i.° de Dezembro, ao
não pretendemos fazer literatura erudita, já Conselho, o orçamento da despesa que haja de
porque o terreno é sumamente árido para nêle fazer-se no ano seguinte com a compra e en
plantarmos flores de retórica. cadernação de livros, assinaturas dos jornais,
O ensino agrícola em Portugal foi instituído, tendo-se prèviamente entendido para êsse efeito
no período da ditadura da regeneração, por de com os professores das diversas cadeiras.
creto de 16 de Dezembro de 1852, dos minis 4.0 Dar às somas, que o govêrno destinar
tros Duque de Saldanha, Rodrigo da Fon para a Biblioteca, o destino que pelo Conselho
seca Magalhães, António Maria de Fontes Pe da Escola houver sido determinado.
reira de Melo e António Aluízio Jervis de 5.0 Fazer todos os anos o inventário da Bi
Alouguia. blioteca,' consignando as perdas de livros e ava
Criado o «Instituto Agrícola» e «Escola Re rias que encontrar, e acompanhando-o das de
gional de Lisboa», sai no Diário do Governo, vidas explicações.
datada de 15 de Julho de 1853, o seu primeiro Art. 137.0—Os livros serão distribuídos às
regulamento. pessoas que os requisitarem, sendo a requisi
Em sessão do Conselho Escolar de 3 de Março ção feita por escrito, devidamente assinada.
de 1853, o professor Dr. José Vicente Barbosa Art. 138 o—As pessoas que frequentarem a
du Bocage apresentou e foi aprovada, a parte, Biblioteca serão afendidas na ordem por que
do mencionado regulamento que diz respeito se apresentarem; sendo porém alunos do Ins
à Biblioteca. tituto precederão aos estranhos.
Transcrevemo-lo por ser a primeira refe Art. 139.0—Nenhum livro poderá sair da Bi
rência que encontrámos acêrca desta reparti blioteca, excepto para serviço de qualquer dos
ção, e, por mais de um título, o acharmos um lentes do Instituto.
documento bastante curioso. Art. 14o.0—Nenhum lente poderá ter em sua
casa mais de oito volumes por uma vez, nem
DA BIBLIOTECA E DO BIBLIOTECÁRIO demorar em seu poder uma obra mais de
quinze dias.
Art 132.0—Haverá no Instituto Agrícola uma § i.°—Exceptuam-se das disposições do ar
biblioteca, composta de obras publicadas nos tigo precedente os livros e atlas que os pro
diversos ramos das sciências agrícolas, de pu fessores precisarem ter nos seus gabinetes
blicações periódicas, e de todos os livros ele para seu estudo particular, precedendo autori
mentares que o Conselho houver adoptado para zação do Conselho.
compêndios. § 2 °—O Conselho da Escola poderá igual
Art. 133.0—A Biblioteca estará aberta todos mente autorizar qualquer dos professores a
os dias; nos não santificados das dez horas até demorar em sua casa alguns dos livros da Bi
às quatro da tarde, e nos santificados das doze blioteca que não sejam habitualmente consul
às três da tarde. tados pelos alunos, por um prazo maior que o
Art. 134.°—Os alunos do Instituto Agrícola marcado no artigo antecedente.
teem entrada na Biblioteca, e bem assim as Art. 141.0—Na Biblioteca da Escola man
mais pessoas decentes, que a quiserem fre- ter-se-á a ordem e o mais completo silên
qúentar. cio.
Art. 135.0—Servirá de bibliotecário um dos Art. 142.0—As pessoas que pertubarem a
lentes substitutos do Instituto agrícola, nomea ordem serão advertidas, e no caso de reinci
do pelo govêrno, sob proposta do Conselho da direm, serão mandadas sair imediatamente
Escola- dêste estabelecimento.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 205
*
A Escola Veterinária Militar, que tinha sido
criada por alvará de 29 de Março de 1830, no
*
govêrno de D. Miguel, e instalada na Luz, foi
O Instituto esteve primitivamente instalado por decreto de 8 de Agosto de 1833, levantada
num pequeno edifício situado na Quinta da do estado decadente em que se encontrava, e
Bemposta (quinta hoje pertencente à Escola de passada para a Calçada do Salitre.
Guerra), emquanto o governo não realizou a A carta de lei de 28 de Abril de 1848, que
aquisição e adaptou para o fim destinado, o lhe dá uma nova organização, cria-lhe uina Bi
Palácio da Cruz do Taboado, antiga residência blioteca, como estabelecimento anexo à Escola.
da Infanta D. Ana de Jesus, filha de D. João IV. Uma disposição da carta de lei diz que a
Logo que se concluíram as obras, foram mu Biblioteca será composta das melhores obras
dadas para a Cruz do Taboado as aulas e a sôbre veterinária, e dá-lhe, como bibliotecário
secretaria. o lente da i.a cadeira.
Da instalação da Biblioteca no edifício adap No artigo 21.0 do citado decreto de 5 de De
tado, e dos livros que lhe serviram de fundo, zembro de 1855, fica exarado: «Tôda a mobí
encontrámos uma elucidativa descrição no lia e materiais da extinta Escola serão transfe
«Relatório sôbre os trabalhos escolares, pro ridos para o Instituto Agrícola e conveniente
cessos, operações e serviços rurais instituídos mente aplicados aos usos do novo estabeleci
no Instituto Agrícola e Escola Regional de Lis mento». É sobremaneira lógico, devido à dis
boa durante o ano escolar de 1853-1854 pelo posição dêste artigo, que os livros vindos da
Conselheiro José Maria Grande, director do Escola de Veterinária, dessem ingresso na Bi
mesmo Instituto». É do teor seguinte a refe blioteca do Instituto. Efectivamentc assim foi
rência: «Colocou-se a Biblioteca em uma ou porque no «Relatório dos Trabalhos Escola
tra sala assaz apropriada para o estudo. res» de 1855-1856», do Conselheiro José Maria
«A mobília desta sala é cómoda e de bom Grande, encontramos êste relato. A nossa
gôsto. Não há por ora na Biblioteca um grande Biblioteca foi também consideràvelmente enri
número de obras; mas as que ali existem são quecida não só pela agregação da da Escola
muito escolhidas e próprias para o ensino, Veterinária, e dum bom número de obras, que
tanto das sciências agronómicas, como daque se mandaram comprar em Inglaterra e França
las que lhes são subsidiárias. mas ainda por outras oferecidas ao Instituto,
«À colecção mandada vir de Londres e de e nomeadamente pelas que lhe foram remeti
Paris, que compreende um certo número de das pela Direcção do Comércio e Indústria,
obras agrícolas de distinto merecimento, vie sempre solícita pelo progresso e melhoramento
ram juntar-se uma colecção completa das obras desta escola.
publicadas pela nossa Academia Real das Sciên Interessando-nos saber quais as obras que
cias, e outras de igual natureza da Sociedade por essa ocasião deram ingresso na Aiblioteca,
das Sciências Médicas e da Sociedade Farma. dirigimo-nos à Secretaria da Escola de Medi
cêutica Lusitana. cina Veterinária, onde apesar do bom acolhi
«Fazendo neste lugar menção destas ofertas mento e da boa vontade dos seus empregados,
permita-se-me que consigne também aqui os que nos patentearam o arquivo, por mais que
agradecimentos do corpo catedrático àquelas procurássemos, não encontrámos nem inventá
ilustres associações. A Biblioteca tem além rios nem outros quaisquer documentos que dis
disto recebido, e continua a receber, algumas sessem respeito à entrada dos livros da escola
publicações periódicas agrícolas, tanto france extinta, na Biblioteca do Instituto Agrícola.
sas como inglêsas.» E seja dito desde já, também, que pouco
Como fica transcrito, bem auspiciosos foram mais pudemos apurar acêrca dos livros entra
os começos da Biblioteca; pena foi que de dos na biblioteca; mesmo os que vieram por
futuro nem sempre lhe dedicassem as atenções compra até antes dos fins de 1911, para os enu
dos primeiros tempos. merar necessário nos seria rebuscarmos tôdas
Por decreto de 5 de Dezembro de 1855, é as facturas dos livreiros fornecedores, e isto,
encorporado no Instituto Agrícola o ensino ve que nos traria um trabalho fastidioso, em nada
terinário. interessaria esta notícia.
206
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
servando-se o Prof. Ferreira da Silva até à data 1911 é colocado na Biblioteca da Escola de
da separação das duas Escolas, passando então Medicina Veterinária.
para a Biblioteca da Escola de Medicina Vete IV — Carlos Rodrigues Simões—Actual con
rinária. servador. É nomeado para a Biblioteca do
11 o—Dr. António Correia da Silva Rosa— Instituto Superior de Agronomia, por decreto
Em reunião do Conselho Escolar do Instituto de 22 de Agôsto de 1911. Tomou posse aos
Superior de Agronomia, de 30 de Outubro de treze dias de Setembro de 19rr. (Livro de posses
içir, é nomeado o Dr. Silva Rosa, actual do Instituto Superior de Agronomia, pág. 3).
professor bibliotecário, que em 1887, como já Temos ainda para juntar à lista do pessoal
nos referimos, exercera as mesmas funções na auxiliar da Biblioteca mais uma nota. Sabendo
Biblioteca, então comum aos dois cursos do nós que o Ex.mo Sr. António Romão dos Passos,
extinto Instituto de Agronomia e Veterinária. Ilustre colaborador de jornais agrícolas, dis
tinto e devotado bibliófilo e coleccionador da
* Bibliografia Agrícola Portuguesa, tinha estado
* * em época indeterminada a catalogar os livros
E já que apresentamos uma lista dos pro da Biblioteca, dirigimo-nos a êste senhor, que
fessores-bibliotecários, apresentamos também amàvelmente nos indicou que a sua estada na
a dos conservadores. Biblioteca tinha sido pelos fins de 1895. Efec-
O lugar de conservador ê criado no Regu tivamente procurando na correspondência do
lamento do decreto de 29 de Dezembro de 1864, Instituto de Agronomia e Veterinária, dêsse
e a êle se referem por esta forma os artigos ano, encontramos a sua nomeação: «Ordem de
75.0 e 76.0. serviço n.° 108—Determina S. Ex.a o Ministro,
Art. 75.0—O serviço interno da Biblioteca é que o empregado António Romão dos Passos,
desempenhado por um empregado com o nome actualmente comissionado na Secretaria dêsse
de conservador da biblioteca, que será nomeado Instituto, passe a servir na Biblioteca do mesmo
pelo director sob proposta do bibliotecário. Instituto, encarregando-se especialmente, sob
Art. 76.°—Um regimento especial regulará ordens de S. Ex.a o Director, da catalogação
o serviço interno da Biblioteca, bem como as de livros e de jornais scientíficos ali existentes.
funções do conservador da mesma. —Direcção dos Serviços Agrícolas, em 26 de
Outubro de 1895. (a) Elvino de Brito.»
O Sr. Romão dos Passos, não só catalogou,
CONSERVADORES
mandou alargar os armários e arrumou parte
I. — Antônio Gonçalves Pontes—Foi aluno do da Biblioteca, como ainda lhe ofereceu algu
curso de «Lavrador Veterinário», desde 1858 a mas obras. Foi todavia curta a sua estada na
1867 em que fêz acto grande. Sendo empregado Biblioteca, porque pouco depois passava a pres
jornaleiro, aparece nas fôlhas do pagamento, tar serviço como Inspector na Companhia do
como conservador da biblioteca, desde Julho Crédito Predial.
de 1865 até Setembro de 1876, onde estão men «Ainda antes de entrarmos no estado actual
cionados apenas cinco dias de vencimento. da Biblioteca, diremos que os Srs. Profs. Cin-
II — Higitio Gonçalves Pontes—Era irmão do cinato da Costa e I). Luiz de Castro, no seu
anterior e foi nomeado conservador, por des livro Uenseignement superieur de Vagriculture
pacho de 26 de Setembro de 1876. en Portugal, publicado em 1900, computam em
«Em sessão de 19 de Julho de 1898, o Sr. pre cinco mil o número das obras de agronomia e
sidente noticia o falecimento do conservador veterinária existentes na Biblioteca do então
Pontes, propondo um voto de sentimento, que Instituto de Agronomia e Veterinária.
foi aprovado.» Não tendo nós encontrado, por maiores
III — José Maria Teixeira de Carvalho—No pesquisas Que fizéssemos, mais nenhuma nota
meado por despacho ministerial de 25 de Ju que possa interessar esta notícia passaremos a
lho de 1898. No «Livro de posses do Instituto tratar da Biblioteca presentemente.
de Agronomia e Veterinária», vem exarado que Como já acima mencionamos, os decretos de
tomou posse aos trinta dias do mês dé Julho 12 de Abril, e 19 de Agôsto de 1911, reformando
de 1898. Por decreto de 30 de Setembro de o ensino agronómico, criaram o Instituto Su
208 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
perior de Agronomia e a Escola de Medicina assim a sua colecção. Muitas ficaram trunca
Veterinária. A Biblioteca que, até então fóra das, por terem desaparecido volumes que as
comum aos dois cursos, sofreu por consequên compunham. Só com o decorrer do tempo te
cia o mesmo efeito da reforma, dividindo-se mos conseguido coordená-las, fazendo voltar
em dois anexos, cabendo cada um à sua escola. os volumes perdidos, ou adquirindo-os nos al
Após a constituição dos dois estabelecimentos farrabistas, quando os topamos. Os jornais,
foi em Conselho Escolar nomeada uma comis revistas e publicações periódicas estavam numa
são encarregada de fazer a separação das obras lástima. Desde 1896 que não eram encaderna
existentes, como consta dum auto arquivado das; meses levámosa coleccioná-los, preenchen
nesta Biblioteca (Instituto Superior de Agro do as faltas com a aquisição de novos números.
nomia), do qual damos um resumido extracto: Este era o quadro, e bem triste, do estado em
Aos três dias do mês de Abril de 1912, a co que se encontravam as espécies. Os serviços
missão composta pelos Srs. Professores, Dr. da Biblioteca não desmanchavam o conjunto.
António Correia da Silva Rosa, João Fer- Encontrámos um velho catálogo, falho de in
reira da Silva e Manuel Diogo da Silva, dicações bibliográficas, onde havia muitos
secretariados pelos conservadores das duas anos não dera entrada um verbete. O livro de
bibliotecas, Josê Maria Franco Teixeira de registo das obras era acessório que não exis
Carvalho e Carlos Rodrigues Simões, pro tia, e as saídas por empréstimo eram lançadas
cedeu à separação dos livros, ficando perten em bocados de papel, desordenadamente.
cendo à Biblioteca do Instituto Superior de Descrevendo o estado em que encontrámos
Agronomia tòdas as obras de agronomia e a Biblioteca, não carregamos de tintas negras
sciencias relativas, e à Biblioteca da Escola a pintura; o que fica escrito é a verdade, dita
de Medicina Veterinária, tôdas as obras de sem rodeios nem exageros.
medicina veterinária e humana. Os livros re Devido a esta desorganização, a frequência
ferentes ao estudo de matérias comuns às duas de leitores era quási nula. Só três meses de
escolas foram divididos, passando para a Bi pois da nossa entrada é que ela começa a ser
blioteca da Escola de Medicina Veterinária os freqúentada, porque conforme os serviços se
que constam duma relação apensa ao auto. iam regularizando, iam também as consultas
*
aumentando de número. (Vidé mapa N.° 1.
Movimento de leitores e volumes consultados
* * no ano de 1912).
Cessamos neste ponto a transcrição do que *
espécies por sciências como também assim e Sousa, a par de algumas discordâncias acêrca
ordenou a sua catalogação. Em oito anos de da organização actual da biblioteca, faz-se in
adopção proveitosa dêste sistema, está a con teira justiça ao trabalho havido para a tornar
firmação do seu bom resultado. Os alunos do numa utilidade. Este senhor que, por mais duma
Instituto, querendo preparar um estudo sôbre vez.noseutrabalhotem palavras que muito nos
determinado assunto, encontram reunidas as desvanecem, sobretudo por serem ditas por
obras não só no catálogo como nas estantes. pessoa autorizada no assunto, logo no prefácio
E se ainda, pelo grande movimento de con- da sua obra nos faz as seguintes referências:
sulentes (muito maior do que em escolas de «Sabíamos porém que o Instituto Superior
superior população de alunos), se pode tirar de .Agronomia, de que fomos aluno, acabava
corolários em favor do sistema descrito, estes de ser transferido da sede onde existia desde
são esmagadores em sua defesa. As dificul a sua fundação, em 1853, para as suas novas
dades de aproveitamento dos espaços são instalações na Real Tapada da Ajuda, e que
bem compensadas com a rapidez com que os para aí se andava- transferindo a sua biblio
leitores encontram o que desejam. teca. Pequena em si, pois que de pouco mais
Além do catálogo por matérias, concluído de 8.oco volumes consta, esta biblioteca esti
em poucos meses, mais tarde outros se ini vera sempre muito desorganizada; apenas
ciaram em harmonia com o «Regulamento Ge nestes últimos anos, o seu actual director, coad
ral do Instituto Superior de Agronomia», apro juvado por um zeloso conservador e lutando
vado pelo decreto n.° 867 de 16 de Setembro com mil dificuldades, procura remediar ma
de 1914, que no artigo 43.0 diz: Ilaverá 11a bi les que de longe veem.
blioteca três catálogos: um por obras, outro «Cheios de reconhecimento, não podemos
por autores e outro por matérias. deixar de registar aqui tôda a benevolência e
Encetámos ainda um catálogo ideográfico, solicitude que encontrámos no ilustre profes
que, contendo já algumas centenas de verbe sor bibliotecário Dr. António Correia da Silva
tes, foi interrompido por motivos especiais. Rosa e no digníssimo conservador Sr. Carlos
Prolixo seria descrever o critério que tem Rodrigues Simões, sempre que a S. Ex.as, nos
presidido à redacção dos verbetes e remissas dirigimos pedindo esclarecimentos e informa
que é, com pequenas variantes, o indicado ções.»
em recentes tratados de biblioteconomia e «O Sr. Dr. Silva Rosa fôra nosso professor
usado geralmente em tôdas as bibliotecas e sabíamos por experiência própria o auxílio
organizadas. que presta a todos que se lhe dirigem ou que
Com a reorganização da Biblioteca foram de S. Ex.a dependem.»
criados livros de registo de entrada de obras, «O Sr. Simões, que não tínhamos o gôsto
inventários e registos de empréstimos. Só de conhecer, atendeu-nos como se fôssemos
aos Professores do Instituto é dado requisi de antigas relações e cremos podê-lo contar
tarem livros para consulta. Devido a esta no número dos nossos amigos. Ao seu tra
excelente medida, durante oito anos, apenas balho, zêlo e dedicação se deve principalmen
um volume se extraviou da Biblioteca. te, como tantas vezes teremos ocasião de o
As obras em triplicado e as truncadas, pas fazer notar, o contraste entre a organização
sadas da Biblioteca para um depósito, tam que a Biblioteca actualmente apresenta e a
bém foram inventariadas e catalogadas. que em outros tempos tinha e de que resulta
Fica aqui relatado, a largos traços, quais os um número cada vez maior de consulentes.»
serviços de reorganização que tornaram o O Sr. Dr. José Saldanha de Oliveira e Sousa
caos numa biblioteca ordenada e frequentada, na sua dissertação, que por mais dum título é
que tem merecido dos que a visitam referên uma obra de superior merecimento, onde o
cias elogiosas. seu autor, a par de profundos conhecimentos
Numa dissertação intitulada «Reorganização de biblioteconomia, revela, em opiniões pró
da Biblioteca do Instituto Superior de Agro prias, muita justeza de critério, descreve deti
nomia» (I. S. A.), do engenheiro-agrónomo, di da e desenvolvidamente, de páginas 6 a 28, os
plomado com o curso de bibliotecário-arqui nossos trabalhos realizados desde 1912 a 19x8.
vista, Sr. Dr. José Luiz Saldanha de Oliveira Aproveitando o ensejo para aqui fazermos
14
210 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
nes—Nunc primo ed natur—Eddit Domnus risco, devido a uma inundação causada pela
Frater Antonius da Arrabida, Episc de Ane- chuva num anexo da Biblioteca, onde os vo
muria Caesareoe Magestatis a Consilus, nec lumes se acumulavam à espera que se cons
non Confessor, Capelani Maximi Coadjutor, truíssem os armários da grande sala de leitura.
Studiorum Principum ex Imp. Stirpe Modera- Felizmenle providenciámos a tempo, e imi
tor & Imperial Publicaeque Bibliotecae in tando o processo de Antoine Alexandre Bar-
Urbe Fluminensi Praefectus. Parisiis ex off. bier, usado na mudança da Biblioteca do
lithogr. Senefelder—Curante F. J. Knecht. «Conseil d’État», à falta dos cento e vinte
1827. Vols. I, 153 Tabs., II. 156 Tabs., III, 168 granadeiros (un peu intelligcnts), mobilizámos
Tabs., IV, 189 Tabs., V, 135 Tabs., VI, 1x3 todo o pessoal menor, e de mão em mão for
Tabs., VII, 164 Tabs., VIII, 164 Tabs,, IX, 128 mando cadeia, os volumes foram postos em
Tabs., X, 143 Tabs., XI, 127 Tabs. Vols. 11 lugar seguro.
450X265. (Esta obra já foi adquirida depois Durante perto de dois anos, a consulta da
da separação das bibliotecas (1). Biblioteca foi prejudicada com a falta de ar
mários, limitando-nos durante êsse tempo a
* fornecer aos leitores um determinado número
* *
de obras, que por serem de constante con
O decreto de 12 de Dezembro de 1910, do sulta, tínhamos arrumado em três velhos ar
então Ministro do Fomento Sr. Dr. Manuel de mários vindos do antigo Instituto.
Brito Camacho, entrega ao Instituto a Tapada Apesar de desguarnecida a sala de leitura,
da Ajuda e nesse local manda construir o por ocasião da sessão solene de abertura das
novo edifício escolar. aulas do ano lectivo de 1918-1919, realizámos
As obras da sua construção foram ultima uma exposição das obras do ilustre professor
das no 2.0 semestre de 1917, começando a fa João Inácio Ferreira Lapa.
zer-se a mudança da Biblioteca, em Novem Desde há muito que por ordem do Sr. pro
bro do referido ano. Bem acondicionados em fessor-bibliotecário vínhamos coligindo as re
caixotes, saíram os livros do antigo palácio feridas obras. O mesmo senhor,em homenagem
da infanta D. Ana de Jesus, chegando sem à memória de Ferreira Lapa, mandou-as enca
prejuízo de maior monta ao novo edifício eri dernar luxuosamente nas oficinas de A. David.
gido na Tapada da Ajuda, antiga mata, man As peles e os dourados a ferros especiais em
dada murar pelo Marquês de Pombal para os pregados nas encadernações, constituem um
exercícios cinegéticos de D. José I. precioso trabalho artístico, digno de admiração.
Na sua obra «Le livre» diz Alberto Cim, a Aproveitando o ensejo da abertura das aulas,
propósito de mudanças de bibliotecas: «Lors- organizámos a dita exposição, que foi inaugu
qu'i 1 ne s’agit que de meubles, trois démena- rada em 12 de Janeiro de 1919 pelo Presidente
gements, dit le proverbe^valent un incendie; da República, Ex.mo Sr. Canto e Castro, com a
«lot\squ’il s’agitde livres, deus déménagements assistência dos Srs. Ministros da Agricultura e
équivalent à tous les incendies du monde...» Colónias, Director e corpo docente do Instituto,
A algumas encadernações roçadas se limi professores de ensino superior, Associações
taram as avarias da no»sa mudairça. Mais tar agrárias e individualidades em destaque nas
de sim, é que as espécies correram grave1 .sciências. A exposição, que depois foi muito
visitada, tinha também como interessante uma
porção de documentos vários, cartas de cur
(1) As estampas de Florae Fluminensis, foram desenha
das por Fr. Francisco Solano. As estampas que faltavam so, diplomas de condecorações e de sociedades
nos volumes 4.0 Estampa 107. 6° Estampa 113, 7.0 Estam scientificas nacionais e estrangeiras, às quais o
pa 92. io.° Estampa 50, 55, 56 e 141. n.° Estampa 31, foram eminente professor Ferreira Lapa pertenceu.
primorosamente copiadas do exemplar da Biblioteca Na
Como por mais dum motivo pode interessar
cional, pelo, entflo desenhador dèste Instituto, Júlio Me
nezes (nota do conservador, extraída do verbete de cata aos estudiosos, deixamos aqui inserido o ca
logação da referida obra). tálogo das obras que estiveram expostas.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 213
J Discurso inaugural proferido no dia da ses Discurso inaugural recitado na sessão so
são solemne da abertura das aulas do Insti lemne da abertura das aulas do Instituto Ge
tuto Geral de Agricultura. (Anno lectivo de ral de Agricultura, no anno lectivo de 1884-
1870-1871). Lisboa, Typ. Universal de Thomaz 1885, no qual se comprehende o Relatório do
Quintino Antunes, 1870. 13 pags. 220 X 125. mesm estabelecimento referido, no anno de
214 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
1884. (Publicado na «Gazeta dos Lavradores», das Obras Publicas Comércio e Industria, pela
de pags. 145 a 153) 247 X 155. comissão nomeada em portaria de iode Agos
to de 1866. (Colaboração com o Visconde de
Discurso inaugural e relatório recitado na Vila Maior e A. A. de Aguiar». Lisboa, Im
sessão solemne da abertura das aulas do Ins prensa Nacional, 1867. 704-1404-79 págs. 198
tituto Geral de Agricultura, no anno lectivo X 110.
de 1885-1886, celebrada no dia 24 de Outubro
de 1885. Lisboa, Imprensa Nacional, 1885. 35 ^ Memória (Segunda) sobre os processos de
pags. 170 X 90. vinificação empregados nos principaes cen
tros vinhateiros do continente do reino, apre
Discursos recitados no Instituto Geral de sentada ao illustríssimo e excellentíssimo se
Agricultura, actualmente Instituto de Agro nhor Ministro das Obras Publicas, Commércio
nomia e Veterinária, e na Escola prática e Industria, em resultado da excursão mandada
central de agricultura, por ocasião da aber fazer pela portaria de 24 de Agosto de 1867. (Co
tura das respectivas aulas (J. I. Ferreira Lapa laboração com o Visconde de Vila Maior e A.
e Gualdino Augusto Gagliardini). Lisboa, Im A. de Aguiar). Lisboa, Imprensa Nacional, 1868.
prensa Nacional, 1887, 36 pags. 176 X 90. 214-23 figs. 254-1284-84 pags. 198 X no.
Discurso inaugural proferido na sessão so / Miscellanea rural. Lisboa, 1871. (Os «seis
J lemne da abertura das aulas do Instituto de
Agronomia e Veterinária no ano lectivo de
almanachs do lavrador» reunidos em um vo
lume).
1887-1888. Lisboa, Imprensa Nacional, 1888,
31 pags. 175 X 90. ^ Relatorio da analyse dos vinhos apresenta-
. dos na Exposição agrícola de Lisboa, 1884.
Discurso inaugural recitado na sessão so Trabalho executado no Instituto Geral de
lemne da abertura das aulas e distribuição de Agricultura. Lisboa, Imprensa Nacional, 1886,
prémios aos alunos do Instituto de Agronomia 109 pags. 245 X 157.
e Veterinária no anno lectivo de 1888-1889. Lis (/ Relatório da commissão nomeada para es
boa, imprensa Nacional, 1888.15 pags. 175 X 90.
tudar a influencia da resinagem no Pinhal de
Leiria. (Colaboração com Bernardino de Bar-
y Discurso inaugural recitado nasessãosolem-
ros Gomes e Jayme Batalha Reis). Lisboa,
ne da abertura das aulas e da distribuição de
Imprensa Nacional, 1881, 41 págs. 178 X 90.
prémios aos alunos do Instituto de Agronomia
e Veterinária no anno lectivo de 1889-1890. Lis ^ Relatório do estudo industrial e chimico
boa, Imprensa Nacional, 1890, 53 pags. 175X 90. dos trigos portuguezes, reduzidos a vinte e
nove tipos vulgares.
Discurso inaugural recitado no dia da ses Trabalho executado no Instituto Agrícola,
são solemne da abertura das aulas do Insti sob os auspícios da repartição,de agricultura
tuto de Agronomia e Veterinária para o anno do Ministério das Obras Públicas, Commércio
lectivo de 1889-1890. Lisboa, Imprensa Nacio e Industria. Lisboa, Imprensa Nacional, 1862,
nal, 1891. 176 X 90. 81 pags. 165 X 90.
/ Explanações ao pensamento de se crear V Relatorio da missão agrícola na província
uma companhia auxiliadora da indústria vi do Minho, desempenhada pelo commissário
nícola. (Relator João Ignácio Ferreira Lapa). do govêrno João Ignácio Ferreira Lapa, no
Lisboa, Typ. do «Jornal do Commércio», 1888. (p ano de 1870, desde 15 de Agosto a 15 de Se
31 pags. 165 X 90. tembro. Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, 38
figs. 108 pags. 216 X 132.
J Memória sobre os processos de vinificação
^ Revista da agricultura na Exposição univer
empregados nos principaes centros vinhatei
ros do continente do reino, apresentada ao sal de Paris de 1878. Lisboa, Imprensa Nacio
illustríssimo e excelentíssimo senhor ministro nal, 1879, 118 figs. 170 pags. 233 X 138.
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inferiores tem o grave defeito de conservar dos pelo mesmo já referido motivo, fica tam
as espécies ocultas. bém patente qual o movimento de leitores e
Pena é que a êste defeito outros erros de volumes consultados, por sciências, nos anos
construção da sala se juntem, sendo os prin de 1917, 1918 e 1919.
cipais o da distribuição da luz e os grandes Em mapas mais sucintos que vão desde 1912
espaços roubados pelos janelões. O tom de a 1919 (n.°s 1 a 8) pode bem avaliar-se a con
carvalho velho e a galeria dão à Biblioteca corrência que a Biblioteca tem tido após a sua
um aspecto grave e um tanto conventual. reorganização. Crescendo o seu movimento
Todavia, do vasto edifício do Instituto Supe de 1912 a 1914, atinge o máximo nos anos de
rior de Agronomia, é sem dúvida, a Biblioteca 1915 e 19x6. Decresce em 1917 e 1918, devido
a secção mais bela, interessante e a melhor à mobilização de grande parte dos alunos que,
instalada. honrando as tradições gloriosas do nome por
Os gabinetes anexos, um dêles, mobilado tuguês, foram chamados a combaterem em
com velhas peças trazidas do antigo Instituto, França e nas nossas colónias. Em 1919 volta
é destinado ao Sr. professor bibliotecário, e a aumentar o número de leitores e volumes
outro mais vasto, ainda desguarnecido, desti consultados, e o movimento dos meses do i.°
na-se à consulta dos Srs. professores. Sôbre trimestre do presente ano leva-nos a presu
êste gabinete, temos a opinião que aprovei mir que encerraremos o ano de 1920 com uma
tado para a idéia prevista, nêle se guardem cifra muito superior à de 1919.
os reservados, instalando-se ali também um Sendo a Biblioteca privativa dos professo
pequeno museu da Biblioteca. res e alunos do Instituto, ela é acessível to
Esperamos ainda que, em breve, na sala de davia aos estudiosos que a queiram frcqilen-
leitura, sejam guarnecidos por meio de sane tar. E sendo assim, raro é o mês em que
fas os tais celebrados janelões e que a ilumi pessoas estranhas ao Instituto não venham
nação eléctrica venha substituir a luz de pe procurar à Biblioteca elementos para os seus
tróleo nas consultas nocturnas. trabalhos; dessas pessoas temos sempre reco
lhido e registado palavras de louvor para os
* serviços da Biblioteca.
Segundo o regulamento geral do Instituto
* *
Superior de Agronomia de 16 de Setembro
Aumentando dia a dia o número das espé de 1914, art, 44.0, a Biblioteca estará aberta
cies, a Biblioteca conta hoje cêrca de 10.000 todos os dias úteis, durante o ano escolar,
volumes. desde as 10 às 16 horas e durante as férias
Como anteriormente dissemos, recebemos das 11 às 15 horas.
4.000 volumes quando tomámos posse da Bi § único. Na véspera de exames finais a Bi
blioteca. Isto equivale a dizer que durante blioteca estará aberta das 20 às 23 horas, e,
sessenta anos êsse foi o número de volumes sendo domingo, das 11 às 17. Êste pará
reunidos. Em confronto, durante os últimos grafo foi alterado em 1915, em virtude duma
oito anos, conseguimos, por compra e por disposição do Conselho Escolar, que delibe
ofertas, dotar a Biblioteca com 6.000 volumes. rou que a biblioteca esteja aberta à consulta
Em face dêstes algarismos as pessoas que nocturna, durante o ano lectivo, excluindo fe
lerem esta notícia que avaliem do trabalho e riados, das 20 às 22 horas.
da dedicação que o pessoal desta secção tem Estando a ser elaborado um novo regula
dado à florescente Biblioteca do Instituio Su mento geral do Instituto, a pedido do Sr. pro
perior de Agronomia. fessor Dr. Alberto Correia Pinto de Almeida,
No mapa n.° 12, organizado a pedido relator dêsse projecto, fizemos um esbôço
da Direcção Geral da Estatística — Repar dum regulamento interno da Biblioteca, que
tição Central, para ser publicado no Anuá entregámos a S. Ex.a.
rio Estatístico de Portugal, encontram-se Presentemente o pessoal da Biblioteca é
as existências de espécies nos anos de 1917, composto de: um professor bibliotecário, um
1918 e 1919 e a sua distribuição pelas secções conservador, um guarda e um servente. As
da Biblioteca. Nos mapas 9, 10 e n, organiza atribuições dêste pessoal estão tôdas exara
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das no regulamento geral do Instituto Supe ções que muito nos penhoram, e nomeada
rior de Agronomia. O actual guarda ajuda mente à Secção de Publicidade e Biblioteca
em determinados serviços o conservador da da Secretaria de Agricultura do Estado de
biblioteca. Este empregado, o Sr. José A. S. Paulo, Sociedade Nacional de Agricultura
Gomes Ferreira, dentro das suas atribuições, (Rio de Janeiro) e Delegação Executiva da
tem sido um cooperador da Biblioteca, assíduo Produção Nacional (Rio de Janeiro).
e zeloso. Pela nossa parte, além de tôdas as publica
* ções do Instituto, distribuídas por intermédio
da Biblioteca, do nosso depósito teem saído
* *
envios para a Biblioteca da Universidade de
Cabe certamente nesta notícia fazermos pú Coimbra, Biblioteca e Arquivo do Ministério
blico agradecimento a tôdas as entidades que do Comércio, Biblioteca da Academia das
teem contribuído para o desenvolvimento da Sciências de Lisboa, University of Illinois
Biblioteca oferecendo-lhe livros para as suas (E. U. A.), Biblioteca do Instituto das Missões
colecções. Como é impossível citar sem omis Coloniais (Sernache do Bonjardim), Biblioteca
são todos os que teem concorrido para a pros do Instituto Industrial de Lisboa e Biblioteca
peridade da Biblioteca, destacaremos aquêles, da Escola Industrial Fonseca Benevides.
aos quais esta mais deve. Em geral todos os
Srs. professores do Instituto se teem interes *
sado pelos progressos da Biblioteca, mas se
* *
ria injusto que não nos referíssemos em es
pecial aos Srs. Drs. Rebelo da Silva, Filipe É tempo de fecharmos estas esparsas, rápi
de Figueiredo, Sousa da Câmara, Pereira das e mal cerzidas notas, subsidiárias da his
Coutinho, Joaquim Rasteiro, D. Luís de Cas tória e evolução da Biblioteca do Instituto
tro, Carlos de Melo Geraldes e o falecido Superior de Agronomia. F.screvendo-as, ti
professor Sr. Augusto de Figueiredo. Alguns vemos a intenção de desobrigar-nos das or
professores também tem aumentado o nú dens recebidas e de não querermos que no
mero das nossas espécies, transferindo para primeiro número dos «Anais do Instituto», a
a Biblioteca livros adquiridos pelas verbas Biblioteca passasse em silêncio. Logo de
das suas cadeiras. São êles os Srs. Drs Re princípio vimos que nos seria difícil levá-las
belo da Silva, Joaquim Rasteiro, Rui Mayer a bom a caminho, por isso nos justificámos
e Lima Basto. antecipadamente.
De pessoas estranhas ao Instituto, apraz-nos Agora, que o trabalho esta terminado, ainda
destacar e agradecer as suas ofertas, aos mais ressalta, na sua aridez insulsa e mes
Srs. António Romão dos Passos, Drs. Júlio quinha, a razão do que dissemos. Portanto
Henriques, J. A. Ferreira da Silva e F. Gomes não se nos oferecendo relatar mais nada
Teixeira. Devido aos seus numerosos e va que possa interessar os que procurem co
liosos envios, também muito devemos à Aca nhecer o que tem sido a Biblioteca desde
demia das Sciências de Lisboa, Arquivo do 1853 a 1920, concluiremos esta notícia com a
Ministério das Colónias, Direcção Geral da frase latina: Finis coronat opus.
Estatística, e Biblioteca e Arquivo do Minis
tério do Comércio. Biblioteca do Instituto Superior de Agrono
Ao Brasil somos também devedores de aten mia, 12 de Abril de 1920.
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Biblioteca do Instituto Superior de Agronomia
Mapa n.° 12 —Volumes existentes em 1917, 1918 e 1919
1
1
1
Botânica e botânica agrícola j
|
j
Enciclopédias e dicionários
Zoologia, zoologia agrícola
Dissertações inaugurais
arvenses e pratenses
topografia e geodesia
domésticos e higiene
e assuntos relativos
<a
Agricultura colonial
Geografia e história
Dissertações Mss.
e biblioteconomia
Õ
0
e de concurso
e aquicultura
Matemáticas
e fotografia
Bibliografia
u —.
e agricola
Poligrafia
00 s
florestal
tologia
TOTAL 53 s
Volumes QERÁL =0?
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Existência em 1916. . . 8095 1119 404 330 188 559 379 64 155 307 285 736 366 r47 857 1121 176 188 177 105 300 75 57
Engenheiro-agrónomo (1908).
Aproveitamento
N ú m e ro to tal de alu n o s m a tri
Exames
T e rm in a ra m 0 cu rso
P e rd a s d e ano
culados
R ep ro v açõ es
A provações
ANO LECTIVO
a exam e
T o tal
1910-I9H................................ 182 28
17 45 154 145 9 — 5 4
I9H-1912................................ 60 280 6
30 324 44 274 —- 4 5
1912-1913................................ 88 467 108
44 359 347 12 — 4 4
1913-1914................................ 96 85 8 6
34 515 43° 422 — 3
1914-1915................................ 116 606 107 484 6
44 499 12 3 9
1915-1916................................ 796 90 706 666 26
5i 137 14 9
1916-1917............ ................. 109
3* 557 i*5- 442 424 9 9 10 5
1917-1918................................ 22 487 81 406 398 6
99 2 14 7
1918-1919................................ 326 680 628 604 26
33 52 11 13 9
228 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
NÚMERO DE ESTUDANTES
Braga.................. I I — — 2 '2 4 5
Viana do Castelo — 2 2 I
2 I I 1
Vila Real............ 2 2 2 7 9 6 3 5
Trás-os-Montes
Bragança........... I
5 3 5 6 7 8 7
Pôrto.................. I 6 5 7 15 12 11 13
Douro.............. Coimbra............. 4 3 3 2 1 — — 1
Aveiro................ 3 3 5 4 4 3 3 1
Beira-Alta...... Viseu.................. 1 2
3 5 4 3 3 3
Guarda.............. 2
4 4 6 5 4 1 2
Beira-Baixa.....
Castelo Branco... — — — 1 1 — — 1
Lisboa................ 27 3i 37 38 42 38 36 49
Extre madura... Santarém............ 5 8 6 6 10 6 3 4
Leiria.................. — — — — 2
4 3 4
Évora........................... 2 1
4 5 7 5 7 4
Alentejo.......... Beja................................ 2
4 3 3 3 2 2 2
Portalegre............... — 3 3 2 2 i — 3
Algarve................ Faro................................ — — 1 j 2 1 1 —
Ilhas adjacentes
Angra do Heroísmo.................... 3 3 3 6 4 3 2
3
Ponta Delgada................................... — 3 6 5 4 1 1 5
Horta....... 1
Funchal .. 3 4 3 6 4 1 i 3
Províncias ultramarinas:
Cabo Verde.......................... 1 1 — — — — — —
S. Tomé e Príncipe.................... — — — — 1 . 1
2 2
Angola... — 1 — 2 2 — 1
2
índia.......... 1 — 2 2 3 4 3 3
Países estrangeiros......................................... — 1 1
2 2 4 3 3
1900
1901
(1) Esta lista é a continuação da que vem publicada no livro — UEtiseignetnent supe-
rieur de VAgriculture en Portugal (1900) dos professores Cincinato da Costa e D. Luís de Castro.
230 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
1902
1903
J9°4
1905
1 906
1907
1908
1909
1910
1911
i 912
1913
1914
*915
1916
1917
1918
1919