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ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

1920

INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Da sua organização e das sucessivas reformas por que tem passado


desde 1852, ano da sua fundação, até à data presente.

«Un rêgimen cTalterations permanentes, dans la vie interieure d’une


école est la mort de cette institutioD. Au millieu des vicissitudes
qu’elle traverse, la tradilion, l’unité d’enseignement disparaissent, et
c’est ainsi qu'on arrive peu à peu à la desagrégation des élements dont
se compose l’école, qui se transforme à bref dèlai en une sorte de
Tour de Babel, ou tout est encohérant, les plans, 1’orientation, les
methodes, les doctrines».

L'Enseignement agricole, pag.j2.-B. C. Cincinaio da Costa e


D. Luiz de Castro

1.* ORGANISAÇÀO DO ENSINO AGRÍCOLA -1852

O ensino agrícola em Portugal foi pela pri­ do Pôrto, devida a iniciativa da C.ados Vinhos
meira vez organizado pelo decreto de 16 de do Alto Douro e creada em 18x5; em numero­
Dezembro de 1852, publicado extra-parlamen- sos excerptos espalhados por publicações vá­
tarmente (1) no reinado da Senhora D. Maria II- rias e nas Memórias da Academia Real das Sciên-
Esse decreto era referendado pelo Duque de cias, em folhêtos, conferências e pouco mais.
Saldanha, Rodrigo da Fonseca Magalhães, An- Da cadeira anexa á Faculdade de Filosofia
tonio Maria Fontes Pereira de Mélo e Antonio da Universidade de Coimbra foi primeiro pro­
Aluizio Jervis d’Athouguia, mais tarde i.° Vis­ fessor o grande botânico português Felix de
conde d’Athouguia. Os negocios referentes á Avelar Brotéro (1744-1829), que a accupou com
Agricultura corriam pelo Ministério das Obras a sua alta competência, se bem que a organi­
Publicas, Comércio e Indústria, recentemente zação universitária o obrigásse a dár ás suas
creado (2) e cuja pasta fôra interinamente en­ lições uma feição de caracter mais especula­
tregue ao ministro da Fazenda Fontes Pereira tivo do que prático.
de Mélo que, pela vez primeira, tomara assento De todo o tempo a Agricultura merecêra en­
nos conselhos da Coróa, fazendo parte dêste tre nós uma certa atenção do Estado e das for­
ministério. ças vivas da Nação. (1) Os numerosos conventos
Anteriormente a essa data encontraremos o espalhados pelo Reino e usufruindo largos tra-
ensino agrícola numa cadeira de Botânica, ctos de terreno que cultivavam ou faziam valo­
anexa á Faculdade de Filosofia da Universidade rizar, contribuíam para divulgação de processos
de Coimbra, creada em 24 de Janeiro de 1791; de cultura que os monges ensaiavam nos seus
numa outra de Agricultura que funcionava na hortos.—Aymeric d’Ebrard, o mestre do Rei
Academia de Marinha e de Comércio da cidade
(1) No principio do sec. XIX um notável homem de Estado
propozera ao príncipe D- João, então regente, o estabeleci­
(1) Vidé «Diário do Governo» n.° 300 pag. 1.35+ de ai mento de um ensino filosófico na capital com duas escolas
de Dex.° de 1852. aditas a ele: uma de agricultura e economia rural e outra de
(2) 0 ministério das Obras Publicas, Comércio e Indústria arte veterinária, proposta que foi aceite mas delongada para
foi creado por decreto de 30 de Ag.° de i8;a—Vidé «Diário tempos de menos mingua e cuidados (Vidé «Reforma de
do Governo» n.° 2435, pag. 1127, de 14 de Out.° de 1852. 1864»—Diário de Lisboa n.° 1 1 de 2 de Jan.° de 1865).
8 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Lavrador, que o iniciou na erudição a que eram aos mistéres industriaes a que até então se de­
tão estranhos os rudes monarcas dos tempos dicavam; finalmente, porque seria facil nestas
anteriores (i) era um eclesiástico francez.— localidades encontrar granjas e quintas que se
Foram monges que arborizaram a serra do prestassem a campo pratico para os alunos.
Bussaco; quasi toda a região de Alcobaça, o O ensino do 2.0 gráu seria teórico e pratico:
pomar de Portugal, pertencia aos frades cis- o teórico ministrado nas cadeiras das escolas,
tercienses que a agricultavam. —o pratico na quinta exemplar que haveria em
Analizemós sucíntamente o decreto de 16 de cada escola. Ensinar-se-ia não só a agricultura
Dezembro de 3852 que tinha por objecto a or­ propriamente dita, mas com mais ou menos
ganização do ensino agrícola em Portugal, e desenvolvimento a maior parte das sciências
o seu respectivo regulamento, aprovado em que são auxiliares da sciência da produção
15 de Junho de 1833. (2) vegetal. Os alunos ficavam habilitados a dirigir
Por êste decreto (3) eram estabelecidos três qualquer exploração agrária e a resolver em
graus de ensino agrícola: 0 mecânico,—artís­ todos os seus pormenores os cálculos de qual­
tico,— e o scientifico, considerada a Agricul­ quer empreza cultural, e saíam diplomados ou
tura como oficio, — arte — e sciência. com o curso de lavradores, no fim de 3 anos
O ensino do i.° gráu ou mecânico, pratico e de frequência, ou com o de abegão que apenas
sem desenvolvimentos scientificos, seria admi­ exigia 2 anos. Nessas escolas se estabeleceriam
nistrado nas granias ou quintas de ensino culti­ viveiros experimentaes de plantas agrícolas e
vadas pelos proprietários com os quaes o Go­ haveria anexa a cada uma delas uma escola de
verno estabelecia um contrato, tendo-lhes re­ arte veterinária (1) e uma caudelaria.
conhecido competência moral e agrícola. Esses
proprietários receberiam como subvenção O ensino do 3.0 gráu ou sciêntifico, seria
400S0CO réis anuaes. Este ensino tinha por fim dado no «Instituto Agrícola de Lisboa» que ser­
dar uma «aprendizagem» facil, adquirida no viria ao mesmo tempo de escola superior e de
meio de operações e trabalhos ruraes, se­ escola regional.
guindo métodos racionaes e lucrativos. Destas O Instituto era destinado a aperfeiçoar e de­
quintas sairiam: abegões—maioraes-e quintei­ senvolver a Agricultura : pelo ensino— pelo
ros. Era a aspiração instituir uma quinta de exemplo—e pela experiencia. A parte doutri­
ensino em cada distrito administrativo. nal seria professada nas cadeiras—a exemplar
O ensino do 2.0 gráu ou artistíco, teórico e nos campos de cultura aperfeiçoada — e a expe­
pratico, seria dado nas escolas regiunaes, esta­ rimental nos campos destinados aos ensaios e
belecendo-se três: uma em Vizeu, outra em experiencias.
Lisbôa e a terceira em Evora, escolhidos estes Havia três cursos no Instituto: curso para
três pontos como centros das très sub-regiões abegões, para lavradores e para agrónomos.
em que se considerava podesse naturalmente O curso de abegão durava dois anos. Cons­
ser dividida a região agrícola do País, por se­ tava de duas partes: uma prática aprendida na
rem focos de uma correspondente população e quinta e outra doutrinal com rudimentos de
por que as Casas-pias e estabelecimentos de agricultura e economia rural. Exigia-se como
caridade existentes em Lisboa e Evora pode­ habilitações prévias o exame de instrução pri­
riam fornecer grande numero de alunos para mária do i.° gráu. Dava preferencia no provi­
estas escolas, sendo preferível que estes se en­ mento dos logares subalternos das escolas
tregassem á profissão da Agricultura do que agrícolas e matas do Estado.

(1) Pelo art.° i5.' deste decreto ficava extincta a escola


militar de veteriuaria, sendo distribuídos os alunos que a
frequentavam e os que de novo aviessem frequentar pelas
(t) Vidé: P.° Chagas—Historia de Portugal popular e 3 escolas regionaes. A escola de veterinária ficava debaixo
ilustrada—Vol. 1 pag. 164. da superintendência do Ministério das Obras Publicas, ane­
(2) \ idé «Diário do Governo» n.° 168 p:g. 1013 de 18 de xada ao Instituto Agrícola mas funcionando como estava,
Julho de 1853. emquanto nào lôsse convenientemente reformada. Os alu­
(3) Conservamos quanto possível as paiavras e o estilo nos desta escola ficavam obrigados á frequência da cadeira
do decreto. de Zootécnica do Instituto Agrícola.
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O curso para lavradores durava três anos e 3.0 Botanica e fisiologia vegetal;
■comprehendia, afóra a prática, a frequência 4.0 Agricultura geral;
da i.a, 4.® 5.a, 6a, 7*a cadeiras do Instituto que 5.0 Culturas especiais;
mais abaixo indicaremos. Exigia-se como habi 6.° Zootecnia e princípios de veterinária;
litações prévias: os exámes de instrução primá­ 7.0 Economia agricola, administração e con­
ria do 2.0 gráu e de francês. Dava acesso aos tabilidade rural, artes agrícolas, legislação e
empregos superiores das matas do Estado e às engenharia rural.
•cadeiras de agricultura dos Lyceus.
O curso de agrónomos durava 4 anos e além A i.a era ensináda na aula estabelecida pela
de comprehender todas as cadeiras do Instituto, Academia Real das Sciências no Instituto May-
eram os alunos obrigados a frequentar a i.a nense.
parte da Física e da Química da Escola Polité­ A 2a e 3A eram professádos na Escola Po­
cnica como cadeiras auxiliares, afóra a prática. litécnica.
Exigiam-se como habilitações prévias, além das As quatro restantes eram cursadas no Ins­
requeridas aos lavradores: noções elementa­ tituto Agrícola.
res de lógica e i.° ano de matemática. Dava
habilitações para o provimento das cadeiras A distribuição das disciplinas das cadeiras
das escolas regionais e outras escolas supe­ era assim feita:
riores do Reino, na direcção dos jardins botâ­
nicos e preferencia, em igualdade de circuns­ Para agrónomos:
tancias, para cargos administrativos.
i.° ano—Química e física elementares, prin­
cípios de histeria natural—i.a parte de Física
Nos cursos para lavradores e agrónomos ha­
—i.a parte de Química—Botânica e Fisiolo­
via no Instituto três classes de alunos: ordiná­
gia vegetal—Curso do i.° ano de desenho na
rios, voluntários e livres. Só os primeiros, aos
Escola Politécnica—Exercícios práticos.
quais eram exigidas as habilitações da lei, po­
diam obter prémios e diploma (carta de curso) 2.0 ano—Agricultura geral — 2.a parte da
no fim do tirocinio. Os voluntários não preci­ Química—Zoologia, anatomia e fisiologia com­
savam de preparatórios, eram obrigados á fre­ paradas— Uma parte das artes agrícolas —
quência, ás lições, repetições, exames e exercí­ Contabilidade moral —Exercícios práticos.
cios práticos. Não podiam obter prémios nem
tirar diploma no fim do tirocinio sem passarem 3.0 ano—Uma parte das culturas especiaes
a ordinários, cumpridas certas formalidades.— —Economia agrícola, legislação, contabilidade
Os livres não precisavam de preparatórios, não e administração rural — Engenharia rural e
eram obrigados a lições, repetições, exames, outra parte das artes agrícolas - Exercícios
exercícios práticos, mas sómente à frequên­ práticos.
cia. Não podiam obter prémios e apenas ates­
tado de frequência, mas podiam pedir exame 4.0 ano—A outra parte das culturas espe­
em qualquer cadeira e dêle obter certificado ciaes—Zootecnia e princípios de veteriná­
e passarem a alunos ordinários cumpridas as ria—Repetição da agricultura geral. Exercí­
formalidades exigidas. Estes alunos livres só cios práticos.
seriam admitidos nos quatro primeiros unos
9. datar da instituição. Para lavradores:

i.° ano - Química e física elementares e prin­


O quadro que constituía as cadeiras do Ins- cípios de história natural —Agricultura geral
tuto era o seguinte: —Uma parte das artes agrícolas—Contabili­
dade rural—Exercícios práticos.
i.° Elementos das sciências histórico-natu­
rais, elementos de física, química e geologia 2.0 ano—Uma parte de culturas especiaes —
agrícola; Princípios de economia agrícola—Engenharia
2.0 Zoologia, anatomia e fisiologia compa­ rural e outra parte das artes agrícolas—Exer­
radas; cícios práticos.
IO ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

3.0 ano—Zootecnia e principios de veteri­ escola superior de sciências naturaes.—Cons­


nária—Repetição da agricultura geral—Exer­ tituída a escola os professores seriam providos
cícios práticos. em concurso de exame e provas publicas.

Cada professor, em cada cadeira não daria Em 7 de Janeiro de 1853 foram nomeados:
mais*de3, nem menos de 2 aulas por semana,
durando cada uma, hora e meia, sendo chama­ Divector geral do Instituto Agrícola e escola
dos os alunos à lição todos os dias durante regional de Lisboa: José Maria Grande, lente
meia hora. Havia duas repetições por mez e de botânica da Escola Politécnica de Lisboa. (1)
dois exames parciaes, por escrito, por ano: o Lente da 4.« cadeira (Agricultura geral): Cae­
i.° depois dos Reis, o segundo depois da Pas- tano Maria Ferreira da Silva Beirão, lente da
coa.—As aulas eram publicas.—Não compare­ Escola médico-cirurgica de Lisboa. (1)
cendo às repetições os alunos tinham 2 faltas. Lente da5.a cadeira (Culturas especiaes): Joa­
Perdia o ano o aluno que excedesse em faltas quim Estevão Rodrigues de Oliveira, lente da
a décima parte do numero total de lições e Escola médico-cirurgica de Lisboa. (1)
repetições.—Em cada aula havia um exame Lente da 6.a cadeira (Zootécnica): José Vi­
final de ano, sendo este exame oral, sobre cente Barbosa du Bocage, lente da Escola Poli­
ponto tirado com 24 horas de antecedencia e técnica de Lisboa. (1)
durante 20 a 30 minutos. No fim do respetivo Lente da y.a cadeira (2) (Economia e legisla­
curso os agrónomos fariam uma exame de ção agrícola, administração e contabilidade
habilitação sem o qual não poderiam obter o rural): Antonio Joaquim de Figueiredo e Silva,,
competente diploma; chamava-se-lhe «acto doutor em medicina e bacharal formado em
grande» apresentando o aluno uma dissertação Filosofia. (1)
sobre qualquer matéria do curso. Para lente proprietário da cadeira especial de
Havia prémios e «accessit» para os melho­ artes agrícolas e engenharia rural, em que se
res estudantes, em cada curso do Instituto e um desdobrára a 7.“ cadeira, foi nomeado em 24
«prémio grande» para os agrónomos ordinários de Novembro de 1853: João de Andrade Côrvo
que tivéssem concluído o 4.°ano. Este prémio que, como veremos, era já lente substituto do
era conferido por concurso entre os diferen­ Instituto.
tes candidatos que tivéssem apresentádo uma Lentes substitutos; João de Andrade Côrvo, (1 >
dissertação sobre um unico e determinado lente substituto da Escola Politécnica — Tho-
ponto. Este prémio consistia em livros, ins­ maz de Carvalho (1) lente substituto da Escola
trumentos agrários e medalha de ouro. médico-cirurgica de Lisboa (3)—Lucas José de
O ano létivo começava a 15 de Setembro Sá e Vasconcelos, (1) bacharel formado em
terminando em 15 de Julho.—O ano escolar medicina pela Escola de Coimbra.
durava de 1 de Outubro a 1 de Maio. Director chefe dos trabalhos: João Gagliar-
Por decreto de 7 de Janeiro de 1853 a 7.a di. (1)
cadeira foi desdobrada em duas: (1) a) Econo­ Sub-director chefe dos trabalhos; Higino Ga-
mia e legislação agrícola, administração e con­ gliardi. (1)
tabilidade rural—b) Artes agrícolas e enge­
nharia rural. Ao Instituto atribuir-se ía uma «quinta exem­
plar» para nela se estabelecerem os sistemas de
O primeiro provimento das cadeiras do Ins­ cultura cuja imitação merecesse ser recomen­
tituto Agrícola seria feito pelo Ministério das dada—um horto para viveiro—um estabeleci­
Obras Publicas, Comércio e Industria, recaindo mento de sericicultura—oficina de construção1 2 3
sobre indivíduos habilitados com cursos supe­
riores de sciências naturaes ou que tivéssem
publicado trabalhos sciêntificos de valôr, ou (1) Vidé «Diário do Governo» n.° 8 pag. 43 de Janeiro de
que tivéssem exercido o magistério em alguma 1853.
(2) Esta cadeira fôra desdobrada como dissemos.
(3) Exonerado a seu pedido em 14 de Novembro de 1855.—
(1) Vidé «Diário do Governo» n.° 8 pag. 42 de 10 de Ja­ Vidé «Diário do Governo» n.° 281 pag. 1452 de 28 de Novem­
neiro de 1853. bro de 1855.
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de maquinas e instrumentos agrários—fábrica tos necessários, para 2 de Novembro, come­


de destilação de aguas ardentes—Cabanões e çando nesse dia o ano lectivo.(i)
estábulos para gado.— N’este decreto era tam­ A abertura solene das aulas fez-se no dia 3
bém creada a biblioteca do Instituto. de Novembro, proferindo um discurso inaugu­
ral o director do Instituto, José Maria Grande.
Em 13 de Agosto de 1853 era assinada a
Carta da lei (1) pela qual a direcção do Jardim A despeza anual para a execução do decreto
botânico da Ajuda, cometida por lei ao lente de de organização da instrucção agrícola, depois
Botânica e principios de agricultura da Escola de feitos os gastos extraordinários do i.° ano,
Politécnica e a direcçã.o do Instituto Agrícola era computada em pouco mais de 12 contos
e escola regional de Lisboa, podiam recair no de réis, quantia que deveria ser atenuada de
mesmo indivíduo, sempre que déssa acumula­ futuro, logo que as quintas começassem a f unc-
ção resultasse vantagem de serviço. cionar regularmente, e concluia o relatório qne
procedia o decreto dizendo: «nem que não seja
Em 10 de Setembro de 1853 é publicada uma essa a despeza, será eminentemente reproduc-
portaria participando ao administrador do tiva... A instrucção, Senhora, (2) é a primeira
Bairro Alto a encorporação do palácio da necessidade do mundo dos nossos dias, é o
Cruz doTaboado nos «bens próprios» segundo maior património que os Governos podem
a carta de lei de 19 de Agosto de 1853 que au- doar aos governados.»
torisava o Governo a adquirir e encorporar
nos «proprios nacionaes», mediante ajusta in- Em portaria de 13 de Outubro de 1854 man­
demnisação ao hospital de S. José, o referido dava el-rei D. Fernando, como regente, que no
palácio com as suas pertenças rústicas e fim de cada ano agrícola o director do Instituto
urbanas.—O referido administrador do Bairro fizesse subir, pela direcção geral do Comércio
Alto teria de intimar os rendeiros para des­ e Indústria, ao conhecimento do Governo, a
pejarem o prédio até 31 de Dezembro e re­ conta circunstanciada do estado daquele esta­
meter logo para a Direcção geral dos pro­ belecimento... para se formar um juizo se­
prios nacionaes o auto de escritura, afim de guro ácerca dos meios empregados para se con­
ser entregue ao dito hospital em inscrições seguir o fim daquela instituição.(3)
de 3% a importância correspondente à renda
anual de 300S000 réis (2). 1.» REFORMA, 1855
Neste palacio que fôra habitação da senhora
infanta D. Ana de Jesus Maria, ultima filha do Esta reforma do Instituto Agrícola foi auto­
senhor D. João VI e que foi casada com o i.° rizada por carta de lei de i3de Julho de 1855(4)
Duque de Loulé, se instalou o Instituto agrí­ e decretada em 5 de Dezembro do mesmo
cola, sendo-lhe anexa para campos experi- ano. (5)
mentaes a quinta da Bemposta, qne perto lhe Por este mesmo decreto ficava extincta a Es­
ficava e cedida temporáriamente pela Casa cola de Veterinária militar (6) creada por carta
Real, para ensino prático da Escola do Exer­ de lei de 28-IV-1845 para ser encorporada no
cito e do Instituto Agrícola (3). Instituto Agrícola e Escola Regional de Lisboa,
As aulas, segundo o decreto organisador e
como vimos, deveriam abrir a 15 de Setembro,
mas essa abertura teve de ficar adiada, por não (1) Vidé «Diário do Governo» n.° 211 pag. 1368 de 8 dc
estarem prontos e reunidos todos os elemen-1 2 3 Setembro de 1863—portaria de 5 de Setembro do mesmo
ano.
(2) A Rainha, a Senhora D. Maria II.
(3) Vidé «Diário do Governo» n.° 242 pag. 1284 de 14 de
Outubro de 1854.
(1) Vidé «Diário do Governo» n.° 204 pag. 1276 de 31 de (4) Idem n.° 182, pag. 1004 de Agosto de 1850.
Agosto de 1833 —e n.1 254 pag. 1490 de 28 de Outubo de (5) Idem n.° 303, pag. 1545 de 24 de Dezembro de 1855.
i853. (6) A Esco a de Veterinária estabelecida na Luz e mais
(2) Idem. n° 217 pag. 1338 de i5 de Setembro de 1853. tarde transferida para a calçada do Salitre em Lisboa, ha­
(3) Vidé Discurso inaugural do ano escolar 1887-1888 por via sido criada em 29 de Março de 1830 no govêrno do
João Inácio Ferreira Lapa. Senhor D. Miguel.
12 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

e o ensino da medicina veterinária passava a apenas de «Farmácia, matéria médica e hy­


ser professado no dito Instituto qué habilitava giene veterinária» regida por Silvestre Ber­
para os seguintes cursos: nardo Lima e na outra se tratasse de «Noções
de física, química e meteorologia aplicadas á
i.° Curso de agronomos ; Agricultura e Fisiologia veterinária» sendo
2.0 Curso de veterinários-lavradores ; lente proprietário desta cadeira João Inácio
3.0 Curso de lavradores ; Ferreira Lapa(i). Em resumo as cadeiras de
4° Curso de mestres veterinários; ensino veterinário propriamente dito de qua­
5° Curso de abegões. tro que eram passaram a três.
Segundo esta reforma os alunos tinham os
cursos de sciências naturais professados no Ins­
O quadro das cadeiras comprehendia cinco tituto sem [terem de os ir frequentar, como
cadeiras estabelecidas no Instituto Agrícola e até ahi, na Escola Politécnica e no Instituto
quatro da extincta escola de Medicina-veteri- Maynense da Academia Real das Sciências.
nária. As disciplinas professadas eram : (1) Creou-se o laboratório de química do Insti­
tuto, onde começaram as demonstrações, ex­
1. a Agricultura geral — Dr. Caetano Maria periências e análises. Estabeleceu-se o museu
Ferreira da Silva Beirão; de productos e máquinas agrárias com os pro-
2. a Culturas especiais—Dr. Joaquim Estevão ductos que tinham figurado nas primeiras ex­
Rodrigues de Oliveira; posições de Londres e Paris. Instalou-se tam­
3-a Engenharia rural e artes agrícolas—João bém a secção de engenharia rural com máqui­
de Andrade Corvo; nas e diverso material que Andrade Corvo,
4.a Economia, legislação, administração e com autorização superior, adquirira em Paris
contabilidade rural—Dr. António Joaquim de durante a exposição de 1855.
Figueiredo e Silva; O Instituto Agrícola, para o facto da sua
5a Zootecnia — Dr. José Vicente Barbosa administração scièntifica e economica, passava
du Bocage; a ter um Conselho geral formado pelos lentes
6.a Anatomia, operações cirúrgicas, sidero- proprietários e substitutos.
tecnia e exterior de animais domésticos—Isi­ Nêste decreto se estabeleciam também, jus­
doro José Machado; tificando-as, as caudelarias civis e militares.
7-a Fisiologia, patologia geral e especial ve­
terinária ; Como a quinta da Bemposta, anexa ao Ins­
8.a Noções de física, química e meteorolo­ tituto, era insuficiente para o ensino prático
gia aplicadas á agricultura e medicina veteri­ dos alunos do curso superior e fosse requisi­
nária ; farmácia, e matéria médica veterinária; tada para diferente destino, o Governo, fun­
9 a Clinica médica e cirúrgica, hygiene e di­ dando-se num relatorio apresentado por uma
reito veterinário; comissão de lentes do Instituto, arrendou em
io.a Noções elementares de história natural 1862 e a longo prazo ao Marquês de Pombal, os
com aplicação á agricultura e medicina vete­ terrenos que constituíam a chamada «Granja
rinária. do Marquês» nos suburbios de Cintra, estabe­
lecendo-se ahi um curso de lições práticas
Houve algumas alterações nesta distribuição para os alunos que saíssem do Instituto.
de disciplinas, assim a 7.® cadeira passou a
ocupar-se de «Patologia geral e especial, e 2.® REFORMA, 1864
direilo veterinário» regida por José Maria
Teixeira, fundindo-se a 7.® com a 9a. As maté­ Foi decretada em 29 de Dezembro de 1864,
rias da 8.® e io.® distribuiram-se de modo di­ assinada pelo Ministro das Obras Públicas:
verso, de forma a que uma delas se ocupasse João Crisóstomo de Abreu e Sousa. (2)1 2

(1) Vidè «Diário do Governo» n-0 i5, pag. 58 de 17 de


Janeiro de 1856.
(1) Vidè «Discurso inaugural do ano de 1887-188» Ferreira (2) Vidè «Diário de Lisboa» n.° r, pag. I de 2 de Janeiro
Lapa. de 1865.
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Esta reforma resultou do reconhecimento mais atendendo à diversidade das regiões agrí­
de que a organização de 1852 não correspon­ colas de Portugal e não seriam de menos por­
dera aos resultados esperados. que deficiência, se a houvesse, seria suprida
Para as quintas de ensino do i.° grau houve pelas quintas especiais que no decreto se esta­
algumas tentativas em vão, porque vieram beleciam e cujo número era indefinido. Êste
logo os resultados patentear que lhes faltava ensino elementar seria essencialmente prático
a base da sua conveniente sustentação. Nem havendo alunos particulares e 15 subvenciona­
se tinham obtido terrenos próprios, nem se dos pelo Govêrno que não poderiam nelas
havia oferecido quem soubesse ensinar e me­ passar nem mais de 6 anos nem menos de 3.
nos ainda quem quizesse aprender. O ensino superior seria dado no Instituto
As escolas regionais, do 2.0 grau, nem ao me­ Geral de Agricultura constando de cursos
nos chegavam a revestir as formas da sua de sciências preparatórias e técnicas e de
existência material. Quanto à de Évora, estabe­ exercícios práticos nos estabelecimentos ane­
lecida na quinta da Cartuxa, é que apenas ve­ xos.
getava, as outras duas não se chegaram a es­ As disciplinas professadas dívidiam-se em
tabelecer definitivamente. A de Vizeu, antes duas secções:
do se instalar, era transferida para Coimbra,
onde não chegava a nascer, por carta de lei de
23 de Fevereiro de 1855. (1) A de Lisboa, pode- a) Sciências preparatórias com aplicação à
se dizer, apenas existia na papelada oficial que agricultura:
ao titulo de «Instituto Agrícola» não esquecia •

de acrescentar «e Escola Regional de Lisboa». i.° Princípios de química, física e meteoro­


Segundo esta reforma as escolas superiores logia.
de Agricutura e Veterinária, continuavam reú- 2.0 Princípios de mineralogia, geologia, bo­
nidas, o que se reconhecera ser de utilidade tânica e zoologia.
na prática, mas autónomas.—A química agrí­ 3.0 Matemáticas elementares.
cola, que na antei ior organização, se reduzia a
noções elementares, constituía com o comple­
mento das artes agrícolas uma parte integrante b) Sciências técnicas:
do curso superior.—A engenharia rural tomou
a proporção dum curso especial.—A silvicul­ i.° Agrologia. Culturas arvenses.
tura de que se davam perfuntórias noções 2.0 Topografia. Arboricultura. Silvicultura.
passa a constituir também um curso espe­ 3.0 Química agrícola. Técnologia rúral e flo­
cial.—O 4.0 ano do curso de agronomia era restal.
todo ocupado com trabalhos práticos na Quinta 4.0 Engenharia rural. Mecânica, Hidráulica,
regional de Sintra. Construcções.
O ensipo profissional de agricultura dividiu- 5.C Economia agrícola e florestal; legislação
-se em 2 graus: elementar e superior.—Desa­ agrária e florestal.
parecia o ensino médio ou secundário. 6 ° Higiene pecuária e zootécnica.
O elementar habilitava operários e regentes 7.0 Anatomia geral e descritiva e exterior
agrícolas e florestais e seria professado nas dos animais.
quintas de ensino. 8.° Fisiologia e farmacologia veterinária.
O superior habilitava agrónomos, engenhei­ 9.0 Patologia veterinária especial e geral.
ros agrícolas,silvicultores e veterinários, e todos xo.° Cirurgia, obstectrícia, siderotécnia vete­
estes cursos seriam professados no Instituto rinária e clínica geral.
Agrícola que se passava a chamar «Instituto ir.° Clínica médica veterinária e direito ve­
Geral de Agricultura». terinário.
Para o ensino elementar instalar-se-iam 12.0 Desenho.
quatro quintas regionais que não seriam de­

(1) Vidé «Diário de Lisboa» n.° 66, pag. 311 de 19 de


Dos cursos professados saíam, como dissé-
Março de 1855. mos:
14 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Engenheiros-agricolas, com o curso de enge­ organização que então vigorava. Não resultou
nharia civil e 2 anos no Instituto. esta reforma do facto de se julgar acertado al­
Agrónomos com 3 anos de teoria no Insti­ terar essencialmente o sistema de ensino esta­
tuto e 1 de prática na quinta regional de Sintra, belecido pelo decreto de 1864, sem tempo ainda
Silvicultores com 3 anos de teoria no Insti­ de aprender em novas experiências a refórma
tuto e mais o tempo de prática que se deter­ que o podia melhorar. Eram as dificultosas
minasse na quinta florestal. circunstâncias do Erário que a exigiam.
Veterinários com 5 anos no Instituto. Reduzia-se o número de lentes e de profes­
sores, concentrávam-se um pouco mais as ma­
O govêrno prestacionaria com subsídio térias de ensino superior das duas secções,
anual de 12.000 réis dez alunos: 6 do curso agrícola e veterinária, e que diziam respeito
de Veterinária e 4 do de Agronomia, e dis­ âs cadeiras de engenharia rural e anatomia e
tribuiria doze prémios de 50.000 réis cada um cirurgia veterinária—Suprimia-se o logar de
para os alunos que mais se distinguissem. professor de desenho.—Reduzia-se o pessoal
Segundo êste decreto organizavam-se mis­ da quinta regional de Sintra e das outras esco­
sões de estudo às diferentes regiões do País, las agrícolas.—Deixava de funcionar a quinta
dirigidas pelos professores do Instituto com o agrícola da Cartuxa, em Evora, por lhe falta­
fim de estudar e determinar a flora agrícola e rem condições de espaço e outras, não satisfa­
florestal, a fauna, o solo, tudo emfim que se zendo aos fins da sua creação e comprometen­
relacionasse com a produção agrícola. Eram do a causa do ensino agrícola em tentativas
instituídas exposições agrícolas gerais, pro­ acanhadas e estéreis.—Cortava as verbas para
vinciais e especiais. O govêrno poderia pres- missões, exposições, concursos e subsídios a
tacionar 2 indivíduos para irem frequentar no estudantes para irem estudar ao estrangeiro.
estrangeiro cursos análogos ao do nosso Ins­ Ficava sem efeito o que estava decretado
tituto. Criaram-se quatro lugares de inspecto- sobre creação de quintas especiaes de ensino
res: 1 para florestas, 1 para pecuária e 2 para agrícola, limitando-se o Governo a prometer o
agricultura. seu auxilio para a escolas agrícolas que se fun­
dassem devido à iniciativa das juntas gerais
No «Diário de Lisboa», folha oficial, de 17 dos distritos, das camaras municipais, das cor­
de Julho de 1865 vem publicada a lista do pes­ porações administrativas, das sociedades agrí­
soal docente que por brevidade omitimos. colas e até por empreendimento de particulares.
Éram, segundo o decreto estabelecera, 10 len­ Criáva-se a classe de «alunos voluntários»
tes proprietários ou de i.a classe, e 5 substitu­ admitidos à matricula em cada cadeira e que
tos ou de 2.a classe, competindo a estes, con­ querendo podiam ser sujeitos a exame obtendo
forme 0 nome indicava, substituir os de i.a o respétivo certificado. Tendo obtido aprova­
classe nos seus impedimentos e reger as ca­ ção em todas as cadeiras que constituíam o
deiras auxiliares.—Alêm destes haveria um curso podiam requerer e obterá respétiva carta.
professor de desenho com o seu ajudante e A economia resultante da execução deste
cinco chefes de serviço. decreto ascendia a mais de 34 contos de réis,
e esta redução não teve os funestos resulta­
3.° REFORMA, 1869
dos que da simples enumeração se possa de­
Decretada em 8 de Abril de 1869(1) sendo preender porque recaiu sobre serviços decre­
Ministro das Obras Públicas Sebastião Lopes tados mas não executados,
Calheiros de Menezes, tinha por fim reduzir
os encargos do tezouro como o exigiam as pre­ O decreto de 2 de Dezembro de 1869 com­
sentes circunstâncias financeiras, mas sem al­ pletou esta reforma procurando vulgarizar o
terar os planos de ensino nem retrair o desen­ ensino agrícola por meio de missões e confe­
volvimento dos conhecimentos agronómicos e rencias que com efeito se realizáram em Bra­
das artes correlativas a que podia chegar a ga, Visêu, Santarém e Portalegre, mas que em
breve tempo se não tornáram a repetir.—Por
(ij Vidé «Diário do Governo»'n.° 8o pag. 447 de 12 de este decreto eram creadas cadeiras de agricul­
Abril de 1809. tura nos liceus: poucas abriram e logo se en-
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 15

cerraram por falta de alunos.—Também eram o desenho linear dava-se nos liceus e o de má­
estabelecidas estações agronómicas, uma em quinas e topografia passava a ser professado
cada distrito, dirigidas por agrónomos oficiais nas cadeiras das respectivas especialidades.
ou, na sua falta, pelos inspectores de serviços O curso de agronomia e de silvicultura, ten­
veterinários. do-se desenvolvido, passa de 4 a 5 anos.
Pelas leis de 14 de Junho de 1871 (1) e 7 de Suprimiu-se o curso de engenheiro-agrícola
Abril de 1876(1) eram criados os logares de que em 22 anos de existência não tivera uma
agrónomos de distrito com o fim de propagar única matrícula.
e difundir directamente o ensino agrícola, o que Os agrónomos e silvicultores deviam sair
até aí, as anteriores reformas não tinham cabal- suficientemente habilitados na parte de enge­
mente alcançado. nharia, pelo maior desenvolvimento dado às ca­
deiras de mecânica aplicada e porque ficava
4.» REFORMA, 1886 organizado convenientemente o ensino de topo­
grafia, mecânica, construções e hidráulica.
Tem a data de 2 de Dezembro de 1886(3) e Criavam-se gabinetes e laboratórios vários
é devida ao Ministro das Obras Públicas, Emy- para o ensino prático dos alunos.
gdio Júlio Navarro. qs alunos de agronomia e silvicultura teriam

Teve por fim, satisfazendo os desejos mani­ de fazer no final do curso teórico, um tirocí­
festados pelo corpo docente, desenvolver o nio prático durante 8 meses junto dos funcio­
ensino, tanto teórico como prático, quer por nários técnicos do Ministério das Obras Públi­
meio de análises e ensaios feitos nos labora­ cos: os agrónomos nas escolas práticas de agri­
tórios do Instituto, quer por meio de excursões cultura e nas estações agronómicas; os silvicul­
às fábricas e oficinas de indústrias rurais, tais tores fariam tirocínio na circunscrição florestal
como as de distilação, vinificação, extracção de do centro. Durante o tirocínio uns e outros
óleos, lacticínios, moagem e panificação, quer deveriam elaborar uma memória sôbre econo­
emfim por meio de visitas aos jardins e hortos mia agrícola ou florestal da região em que
botânicos, museus e explorações agrícolas e tinham estacionado, defendendo essa memória
florestais. perante um júri, fazendo assim acto grande
Para auxiliar esta instrução prática, criaram- e final do curso, posto o que tirariam carta de
-se 6 professores substitutos, 3 para a secção curso.
agronómica e 3 para a veterinária. Estabeleciam-se 3 graus de ensino: primário,
O ensino passava a ter maior desenvolvi­ secundário e superior tal qual o decreto de
mento, passando o número de cadeiras, de 19 1852.
que eram, a 21. O ensino primário ou elementar seria profes­
Suprimiam-se as cadeiras auxiliares em que sado nas escolas práticas de agricultura, espe­
se professavam doutrinas próprias dos liceus, cialmente adaptáveis às regiões características
evitando-se uma duplicação que nenhuma ra­ do país, e largamente disseminadas pelo Reino
zão justificava e que apenas amesquinhava o e obedecendo mais ou menos à orientação que
Instituto, que gosava, de há muito, os fóros de presidiu em 1852 e cujo número e organização
estabelecimento de ensino superior. Para isto o Govêrno decretaria.
se exigia que os preparatórios para matrícula O ensino secundário, destinado a formar che­
compreendessem, como era justo e se achava fes de cultura, era professado numa escola es­
decretado para todas as outras escolas supe­ pecial estabelecida em Coimbra com uma quinta
riores, as disciplinas da i.a 2,a e 3.“ classe e área suficiente, tendo sido instalada provisó­
(secção de sciências) e de desenho dos liceus. riamente na quinta regional de Sintra, para os
Suprimiu-se a cadeira de desenho por inútil:1 * 3 trabalhos práticos e com dotação suficiente
para a instrução teórica.
O ensino superior era, como vimos, muito
melhorado. Os cursos professados no Instituto,
(1) Vidé «Diário do Governo» n.° 135 pag. 707 de 19 de
que passava a ter a denominação de «Instituto
Junho de 18,1.
(a) Idem n.° 92 pag. 763 de 26 de Abril de 1876. de Agronomia e Veterinária», tinham a duração
(3) Idem n.° 276 pag. 3513 de 3 de Dezembro de iSSá. de 5 anos, e eram três: agronómico, flores­
i6 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

tal e veterinário, habilitado respectivamente: para veterinária, sendo as pensões cedidas por
agrónomos, silvicultores e médicos-veteriná­ concurso documental.
rios. Estabeleciam-se 4 prémios de 50.000 réis cada
As cadeiras em número de 21 eram as se­ um: dois para alunos de agronomia ou silvicul­
guintes : tura e 2 para os de medicina veterinária. Heve-
ria prémios honoríficos e «accessit» para os
alunos distintos.
1. ° Física e meteorologia, mineralogia e geo­ A dotação para efectuar esta organização-
logia. sextuplicou, lembrando-se o autor de que, coma
2.° Química geral e análise química. disse Ferreira Lapa, «se o dinheiro não é o que
3.0 Botânica e fisiologia vegetal. constituía o esqueleto da Sciência é contudo a
4.0 Zoologia e exterior dos animais domés­ sangue que pelo seu calor a faz prosperar e vi­
ticos. ver». (1)
5.0 Química agrícola, análise de terras, adu­ 5a REFORMA, 1891
bos e plantas.
6.° Culturas arvenses e hortícolas. Decretada em 8 de Outubro de 4891, (2) senda
7.0 Mecânica geral e suas aplicações às má­ Ministro das Obras Públicas João Ferreira
quinas agrícolas. Topografia. Franco Pinto de Castelo Branco, a quem fica
8.° Construções rurais e hidráulica agrí­ ligada esta reforma.
cola. A carta de lei de 30 de Junho de 1891 auto­
9.0 Economia, direito administrativo, legisla­ rizou o Governo a decretar no pessoal e mate­
ção e contabilidade rurais e florestais. rial dos serviços das secretarias do Estado e
io.° Microscopia, nosologia vegetal e ento­ nos serviços públicos dependentes de todos os
mologia. ministérios, as modificações e reduções compa­
ir.° Técnologia rural e florestal; análise dos tíveis com o regular funcionamento dos mes­
produtos tecnológicos. mos serviços.
12.0 Silvicultura. «Essa redução era não sómente imposta pelas
13.0 Viticultura e arboricultura. circunstâncias financeiras do tezouro, mas pela
14.0 Zootecnia geral e especial, higiene pe­ missão educativa que aos governos incumbe
cuária. desempenhar. Só é verdadeiramente forte o
povo que sabe trabalhar e economizar.»
Assim falava João Franco no relatorio que
As sete cadeiras restantes eram privativas precedia e tentava justificar o decreto e, sem
ao ensino veterinário. comentários, veremos o que o então Ministro
Às três carreiras eram comuns as cadeiras das Obras Públicas entendia pela palavra
i.a até á 4a e a 14a. «economizar».
Para o curso de agrónomos e silvicultores Sensatamente continuava:
era exigida a freqtiência das cadeiras i.a a 14.®
distribuídas por quatro anos, findos os quais «Em todos os serviços públicos existe uma
havia o tirocínio prático, a que antecipadamente certa tradição, um espirito de continuidade que
aludimos. importa não cortar nem perder quando se
Os agrónomos e silvicultores no 3.0 e 4.0 ano busca aperfeiçoá-los e modificá-los ou ainda
faziam excursões e visitas de estudo, para ins- gradual e sucessivamente dirigi-los e encami­
trucção prática que, além disso, recebiam nas nhá-los num sentido e para uma orientação
diversas instalações, gabinetes, laboratórios, diversa. As chamadas reformas radicais, por
salas, museus, campos de experiência etc., que via de regra, não compensam pelos seus efeitos
por êste decreto eram estabelecidas. Essas visi­ salutares, a destruição e perdas que operam. A
tas far-se-iam a fábricas e oficinas rurais, espe­ esse pensamento procurarei atender, bem como
rando-se que dariam o melhor resultado na
educação técnica.
(1) Discurso inaugural do ano 18S7-1888, Ferreira Lapa.
O Govêrno subsidiaria 4 alunos para o curso (a) Vidé «Diário do Governo» n." 337, pag. 3400, de 9 de
agrícola ou florestal com 15.000 réis mensais, e 6 Outubro de 1891.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Fachada principal do Instituto Superior de Agronomia


(Fotografia tirada em 193S, em substituição da gravura inseria na i.a edição).
18 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

ao não menos importante de aproveitar o ma­ silvicultores, tinham um tirocínio de 8 meses na


terial existente.» escola prática, laboratórios, estações oficiaes e
outros estabelecimentos de ensino. —Os agró­
Suprimiam-se, por êste decreto, os 6 lentes nomos tinham 4 meses de tirocínio no labora­
substitutos, destinados a auxiliar os catedráti­ tório da estação químico-agrícola de Lisboa e
cos, que figuravam na organização de 1886 mas 4 meses numa escola prática designada pelo
que nunca tinham sido nomeados. Ministro.—Os alunos de Silvicultura tinham o
Suprimiam-se 4 logares de lentes catedráti­ seu tirocínio na mata de Leiria.
cos, agrupando-se natural e logicamente, se­ No final do tirocínio defendiam tése, em acto
gundo o decreto, disciplinas que pela sua afi­ grande, versando sôbre assunto da sua escolha,
nidade podiam com vantagem, sempre segundo sendo essa dissertação impressa ou manuscrita.
o decreto, ser lidas na mesma cadeira.
Suprimia-se a cadeira de silvicultura, segundo Projecto apresentado pelo Conselho Escolar
o critério do ministro: «pela sua aplicação res­ procurando modificar e atenuar nos seus per­
trita no País e a sua afinidade com outras cul­ niciosos efeitos a reforma de 1891-1892(1).
turas com as quais se funde.»
Assustado e com razão por tantas e tão radi­
cais modificações o Conselho do Instituto de
O ensino técnico superior abrangia as seguin­ Agronomia e Veterinária que sempre tinha de­
tes cadeiras professadas no Instituto: fendido com zêlo os interesses da Agricultura
e contribuirá para o desenvolvimento do ensino
1.a Física, meteorologia e geologia agrícola. agrícola do Pais, apresentou aos poderes públi­
2. a Química aplicada à agricultura—Análise cos as suas reclamações. Mostrou que se o te­
de terras, águas e adubos. souro reclamava redução de despezas nos ser­
3a Botânica agrícola, fisiologia vegetal, taxo- viços administrativos, essa economia jamais
nomia das plantas. poderia consistir na simples supressão de ver­
4.a Agricultura geral—Culturas arvenses e bas indispensáveis à boa execução dêsses ser­
hortícolas. viços, mas apenas na aplicação criteriosa dos
5a Arboricultura—Viticultura—Silvicultura. créditos a êles destinados; provou que o plano
6a Microscopia—Nosologia vegetal — Ento­ do sr. João Franco gerado num primeiro mo­
mologia agrícola. vimento impulsivo da preocupação de cercear
7a Mecânica e sua aplicação aos instrumen­ despezas, era contraproducente e insustentável,
tos e máquinas agrícolas. Topografia. provou mais que sem ser necessário mutilar de
8a Hidráulica agrícola—Construções rurais. tal forma o ensino agrícola, havia maneira de
9.® Técnologia agrícola e florestal. obter redução de despeza igual à apresentada
10 a Economia, direito administrativo, legis­ no decreto de 1891.
lação e contabilidade rurais. Êste projecto elaborado pelos ilustres pro­
n.a Zoologia agrícola—Zootecnia—Higiene fessores do Instituto, João Viegas Paula No­
e exterior dos animais domésticos. gueira, da secção veterinária, e Bernardino Ca­
milo Cincinato da Costa, da secção agronómica,
e aprovado em conselho escolar, foi levado ao
As restantes cadeiras da i2.a à 17a eram pri­ conhecimento do ministro das Obras Públicas,
vativas do curso de veterinária. o Visconde de Chanceleiros, em princípios de
Restringiram-se os preparatórios exigidos 1892, p'oucos meses decorridos depois da publi­
para a matrícula, satisfazendo assim a indica­ cação da aludida reforma.
ção do corpo docente, segundo diz o decreto. Era êsse projecto autorizado pelo decreto
Para a matrícula exigiam-se apenas certidões de 11 de Maio de 1892 e nêle se frizava que na
de exames de português, francês, matemática, reforma de 1891 o legislador apenas se preo­
física, química, história natural, desenho e pri­ cupara em reduzir as despezas do Instituto sem
meira parte de latim, geografia e história.
O curso era de 4 anos de teoria no Instituto, (1) Vidé «Enseignement de 1‘agrieulture en Portugal», C.
findos os quais, tanto os agrónomos como os da Costa e D. Luiz de Castro, pag. 24.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 19

se preocupar com a supressãs de serviços in­ ao sr. dr. Bernardino Machado, professor na Fa­
dispensáveis ao ensino agrícola e nascidos dos culdade de Filosofia da Universidade de Coim­
progressos da sciência e das exigências do en­ bra. Em data de 6 de Outuhro de 1893, era publi­
sino moderno. A separação do hospital veteri­ cado um decreto reformando novamente o Insti­
nário e a sua autonomia era fortemente com­ tuto. Êste decreto vinha dar satisfação a muitas
batida e propunha-se a sua reintegração no das reclamações do corpo docente, mas res­
Instituto a que ficava novamente subordinado. sentia-se da preocupação de se não aumenta­
O conselho escolar reconhecendo que as cir­ rem as despezas. Por isso, quando em 1897, o
cunstâncias financeiras do tesouro não permi­ sr. Augusto José da Cunha, lente do Instituto,
tiam dar à instrução agrícola o desenvolvimento sobraçou a pasta das Obras Públicas, não tar­
requerido, reclamava para que ao menos êsse dou em levar a efeito uma nova reorganização.
ensino se mantivesse quanto possível no pé em
que estava antes de 1891. 7-a REFORMA, 1897
Propunha o restabelecimento da cadeira de
Silvicultura para os agrónomos e a da Patolo­ Esta reforma decretada pelo prof. Augusto
gia das doenças contagiosas para os veteriná­ José da Cunha, tendia no possível, a reconsti­
rios. A Silvicultura, sciência complexa, recla­ tuir a organização de 1866, atendendo às más
mava uma cadeira especial e não podia ser circunstâncias financeiras do presente e corri­
estudada conjuntamente com a de arboricul­ gir erros indicados pelo Conselho Escolar e
tura e viticultura no curto espaço de um ano. que a experiência tinha confirmado.
O princípio em que sobretudo se inspirava o O ministro começou por mandar fazer im­
Conselho Escolar 11a elaboração dêste projecto, portantes obras no edifício da Escola, restau­
era o de fazer ^desenvolver o ensino teórico rando e reedificando instalações e dependências
completando-o com as lições práticas, e pro­ completamente abandonadas e construindo ou­
punha a créação de 3 repetidores, 2 para os tras que nesta reforma eram preceituadas.
cursos de agronomia e silvicultura e 1 para o Conservava-se a organização das cadeiras
de veterinária, especialmente encarregados do conforme o decreto de 1893, havendo além
ensino prático sob a direcção dos lentes cate­ destas os seguintes cursos auxiliares cuja fre­
dráticos. Seria até de desejar que em circuns­ quência era obrigatória: Química geral, Zoolo­
tâncias mais desafogadas o número dêstes repe­ gia, Microscópia e Matemática, restabelecidos
tidores fôsse aumentado! Para desenvolver éste os dois primeiros e criados os dois últimos, o
ensino prático obrigavam-se os alunos a excur­ que vinha aliviar grandemente o ensino das
sões fora da escola, acompanhados e sob a di­ cadeiras respectivas. Os lentes prestavam-se a
recção dos professores. reger gratuitamente êstes quatro cursos auxi­
A economia resultava da supressão de luga­ liares para cujo funcionamento não havia verba
res que por esta organização era possível rea- disponível.
lisar, e da supressão de subsídio a alunos. As habilitações exigidas para matrícula cons­
Segundo êste plano o Conselho Escolar jul­ tavam do curso completo dos liceus.
gava que o ensino superior agrícola era, apesar Os 4 anos do Instituto eram destinados ao
das economias, grandemente melhorado. ensino técnico acompanhado por trabalhos prá­
ticos, visitas, excursões, quanto possível nas
proximidades de Lisboa, trabalhos de labora­
6.a REFORMA, 1893 tório, etc. Para esta prática, além das instala­
ções apropriadas ao Instituto, criadas por esta
O projecto de organização do Instituto de lei e efectivadas com verba própria, tinham os
Agronomia e Veterinária aprovado em Conse­ lentes Sertório do Monte Pereira e D. Luiz de
lho Escolar e que acabámos de analisar não Castro conseguido, com a sua intervenção par­
chegou a ter efectividade, devido em grande ticular, que um abastado e inteligente proprie­
parte, à falta do pessoal auxiliar indispensável tário Carlos Pecquet Ferreira dos Anjos ofe­
para o ensino prático. O ensino continuava a ser recesse ao Conselho Escolar, a sua quinta de
deficiente e lutava-se com grandes dificuldades, Montalegre, situada a 3 km. de; Lisboa, para
quando a pasta das Obras Públicas foi entregue aí, onde havia grande variedade de culturas e
20 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

de oficinas agrícolas, sempre a par dos últimos Por portaria do Ministro das Obras Públicas
progressos da sciência, os alunos se exercitarem. Comercio e Indústria, o sr. António Ferreira
Nessa quinta encontrariam êles um vasto campo Cabral Pais do Amaral, em 21 de Janeiro de 1906
para experiências e demonstrações, durante os foi ordenado que estas cadeiras coloniais, se
4 anos que frequentassem o Instituto. instalassem e funcionassem nolnstituto de Agro­
Eram criados lugares de chefes de serviço, nomia e Veterinária e que o Conselho elaborasse
encarregados, conjuntamente com os prepara­ o regulamento do ensino colonial (1).
dores, de auxiliarem os lentes nos serviços de
laboratório. O INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
Reorganizava-se por completo o laboratório
de Fermentações e de Tecnologia rural. Em j911, sendo ministro do Fomento noGo-
A cadeira de Silvicultura que um decreto vêrno provisório da República, o sr. Dr. Ma­
anterior tornára facultativa aos alunos de agro­ nuel de Brito Camacho, fez-se uma nova orga­
nomia, passou para êstes a ser também obriga­ nização de todo o ensino agrícola. Por essa
tória, como era de razão. ocasião, as duas secções, agronómica e veteri­
O ensino veterinário era neste decreto gran­ nária, do antigo Instituto de Agronomia e Vete­
demente remodelado. O hospital veterinário rinária, foram separadas, passando a constituir
e o laboratório de bacteriologia, separados do escolas independentes: a Escola cie Medi­
Instituto pela organização de 1891, eram reinte­ cina Veterinária, que continuou no antigo edifí­
grados de novo na respectiva escola. cio da Cruz do Taboado, e o Instituto Superior
Mais tarde, em 1901, sendo ministro o sr. Ma­ de Agronomia, para o qual o mesmo ministro
noel Francisco Vargas, ainda novos aperfeiçoa­ determinou que se construísse um edifício es­
mentos se conseguiram, pelos esforços do corpo pecial, na Tapada da Ajuda.
docente, sempre empenhado, como se tem visto, O decreto de 12 de Abril de 1911 deu ao Ins­
nesta luta pelo desenvolvimento da sua escola. tituto Superior de Agronomia, a organização
mais ampla que tem tido a nossa escola.
CURSO DE AGRICULTURA COLONIAL, 1906 Alargaram-se as bases scientificas como ali­
cerce indispensável à faculdade produtora do
Pelo decreto de 25 de Janeiro de 1906, sendo diplomado e à segurança da sua instrução;
ministro o sr. dr. Manuel António Moreira Júnior, deu-se o máximo incremento à parte de inves­
criou-se o ensino agronómico colonial, depen­ tigação, aumentando-se o quadro das suas dis­
dente do ministério da Marinha e Ultramar, e ciplinas e dando-lhes maior especialização.
compreendendo duas cadeiras. A organização Desenvolveram-se os cursos auxiliares, crian-
poderia ser acusada de acanhada, mas julgava do-se alguns novos, de utilidade incontestável
o ministro preferível instituir sómente o que em matéria tão complexa como é a Agronomia.
se pudesse dotar bem. E, sobretudo, deu-se ao Instituto a posse da
Não pareceu conveniente incorporar o novo Tapada da Ajuda, vasto campo de experimen­
ensino no curso geral de agronomia, tornan- tação, o que veio realizar uma das mais antigas
do-o obrigatório para os alunos agrónomos e aspirações do corpo docente.
silvicultores. Limitou-se a exigência para aque­ Além desta tão valiosa concessão, foram
les que se destinassem ao serviço do ultramar. criados, de novo, .vários laboratórios, de modo
As duas cadeiras que compunham o curso que ficaram existindo:
eram as seguintes: Laboratórios de Histologia e Fisiologia vege­
i.° Geografia económica e culturas coloniais. tal; de Química Geral; de Química Agrícola;
2.0 Técnologia e zootecnia coloniais. de Tecnologia Rural; de Microbiologia e Fer­
Foi criado em Lisboa um jardim colonial mentações; de Patalogia Vegetal (ao qual foi
destinado às demonstrações experimentais, ao anexado o da mesma especialidade, pertencen­
ensino e ao tirocínio dos funcionários agronó­ tes à Direcção Geral de Agricultura). Criou-se
micos que desejassem servir no Ultramar. uma Estação de ensaio de máquinas; um Posto
Eram criados dois lentes (agrónomos), 2 che­
fes de serviço (agrónomos) e 2 preparadores (1) Vidé «Diário do Governo», i." série, n.° 172, de 3 de
(regentes agrícolas). Agosto de 1918, pag. 1524.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 21

Meteorológico; Laboratório de Ensaio de Se­ na Universidade de Lisboa, como Faculdade de


mentes; e várias oficinas tecnológicas. Agronomia.
Além da Tapada, foi dada também ao Insti­ Esta determinação, porém, não chegou a efec-
tuto a propriedade do Jardim Botânico da Aju­ tivar-se; apenas, mais tarde, o decreto de 13 de
da, primeiro destinado a jardim colonial e hoje, Outubro de 1913 o integrou no Ministério da
depois que êste foi instalado no jardim do paço Instrução, mas fora da Universidade.
de Belém, destinado a campo de experimenta­ Em 1917, sendo ministro da Instrução o pro­
ção da Cadeira de Arboricultura, Horticultura fessor dr. Barbosa de Magalhães, a organização
e Jardinagem. do Instituto sofreu novas alterações, por de­
Aos diplomados pelo Instituto foi conferido creto de 8 de Setembro.
O Instituto
diz êste decre­
to, será um es­
tabelecimento
de ensino su­
perior e de in-
vestigação
scientífica com
autonomia pe­
dagógica e ad­
ministrativa,
mas dependen­
te do Ministé­
rio de Instru­
ção Pública.
Haverá um
só curso, o de:
engenheiro-
-agrónomo, e
as seguintes es­
pecializações :
agronomia co­
lonial —ftopa-
tologia—quími­
Fachada lateral do Instituto Superior de Agronomia ca aoricola—en­
genharia agrí­
cola. De futuro
o título de Engenheiros, agrónomos ou silvi­ poderiam estabelecer-se outras especializações.
cultores, fazendo cessar, pela.concessão dêste
título, privativo dos cursos superiores, todas
as dúvidas, que porventura existissem, sôbre a O ensino será teórico e prático ministrado
equiparação do nosso diploma ao das escolas em lições e demonstrações práticas, trabalhos
similares estrangeiras. Aos dois cursos, agro­ profissionais e de aplicação.
nómico e silvícola, até agora apenas distintos
pelo tirocínio prático do último ano, foi dada
maior independência, adquirindo o de Silvicul­ As cadeiras serão:
tura uma maior especialização.
Pelo decreto de 22 de Março de 19a referen­ 1.a Botânica agrícola.
dado pelo sr. dr. António José d’Almeida em 2.a Física agrícola.
que foi reorganizado todo o ensino superior e 3.3 Química agrícola.
criadas as Universidades de Lisboa e Porto, 4.a Microbiologia agrícola-Técnica micros­
determinou-se que o Instituto fôsse incorporado cópica.
22 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

5.a Mecânica, motores, máquinas agrícolas. 20.a e 2r.a cadeiras, visitas a estabelecimentos
6.a Hidráulica agrícola. e oficinas, e elaboração de projectos de enge­
7a Agricultura geral, culturas arvenses. nharia e outros similares.
8.a Arboricultura — Jardinagem — Horticul­
tura Havia alunos ordinários e alunos voluntários.
9_a Ampelografia e viticultura. Os ordinários seguiam a ordem estabelecida
to.a Silvicultura—Tecnologia florestal. no regulamento, distribuição das cadeiras pelos
n.a Trematologia. diferentes anos, e para matrícula no i.° ano
12.a Patologia vegetal. precisavam ter habilitação do curso completo
13.a Tecnologia agrícola. de sciências do liceu.
14a Zootecnia—Higiene dos animais domés­ Os voluntários podiam freqiientar qualquer
ticos. cadeira e não necessitavam de certificado de
15a Agricultura comparada—Geografia eco­ habilitação scientífica ou literária.
nómica.
16.a Matemáticas gerais. Para obter o diploma de engenheiro agrónomo
17. Química orgânica e análise. era necessária a apresentação dum trabalho pro­
18.a Economia agrícola. fissional sôbre assunto escolhido entre as ma­
19. " Zoologia agrícola—Exterior dos animais térias do curso geral e subsequente aprovação.
domésticos.
20a Topografia -Estatística—Cadastro. Para obter o diploma da especialização era
2i.a Construções agrícolas. necessária a apresentação dum trabalho origi­
22a Contabilidade agrícola. nal sôbre matéria da especialidade e subsequen­
23.a Mesologia colonial—Regimen económi­ te aprovação. Na especialização de agronomia
co-agrícola colonial. colonial a dissertação era substituída por um
24a Culturas coloniais e silvicultura colo­ exame de saída.
nial. Havia professores ordinários e extraordiná­
25.» Tecnologia agrícola e florestal coloniais. rios para as cadeiras de t.“ a 15.a, 23.“ a 25a,
26a Economia florestal. além do professor especial de desenho. As res­
27a Engenharia florestal. tantes cadeiras seriam regidas por acumulação.

Além destas haverá a cadeira de Desenho O Jardim Botânico e o Jardim Colonial de


organográfico, e o curso de Desenho aplicado Lisboa continuavam fazendo parte das depen­
â engenharia agrícola. dências do Instituto, bem como o Museu agrí­
Os cursos das especialidades compreendem cola nacional.
além das 22 primeiras cadeiras : * * *
Em 13 de Julho de 1918, o Instituto Superior
Silvicultura; cadeiras 26a e 27a, e tirocínio de Agronomia deixou de pertencer ao Ministé­
dum ano nas matas do Estado, laboratório e rio da Instrução, passando para o novo Minis­
gabinetes de estudo silvícolas e estações aquí- tério da Agricultura, criado por decreto de 9
colas. de Marçò do mesmo ano.
Foi primeiro ministro da Agricultura o sr.
Agronomia colonial: cadeiras 23A, 24.“, 25.a dr. Eduardo Fernandes d’Oliveira.
e tirocínio efectivo de 6 meses no Jardim e Por essa ocasião sofreu o Instituto nova or­
Museu agrícola-coloniais e nos laboratórios e ganização que é a que actualmente o regula, e
gabinetes de ensino colonial. que é a undécima, depois da sua fundação.
A seguir vai publicado um resumo desta úl­
Fitopatologia: frequência durante um ano tima organização, especialmente na parte que
dos laboratórios de química geral, química pode interessar aos indivíduos, que desejem
agrícola e patologia vegetal. seguir os cursos professados no Instituto.

Engenharia agrícola: frequência durante um D. José Luís de Saldanha Oliveira e Sousa.


ano das instalações dependentes da 5a, 6a, Assistente provisório do Instituto
Resumo da actual organização do Instituto Superior
de Agronomia
NAQUILO EM QUE ELA MAIS INTERESSA AOS CANDIDATOS Á PRIMEIRA MATRICULA

O Instituto está instalado em edifício pró­ 22.a Mesologia colonial. Regime económico-
prio na Tapada da Ajuda, cujos terrenos igual­ -agrícola colonial.
mente lhe pertencem. Está-lhe também ane­
xado o Jardim Botânico da Ajuda e utiliza Cursos complementares:
ainda para os efeitos do ensino colonial o Jar­
dim Colonial de Belem. 1.a Química geral e análise química.
O ensino distribue-se por 22 cadeiras, 11 cur­ 2. a Anatomia, fisiologia e exterior das espé­
sos complementares e um curso especial de cies pecuárias.
desenho a saber: 3.® Entomologia agrícola.
4-a Topografia e elementos de geodesia.
5 a Administração, contabilidade e escritura­
Cadeiras:
ção agrícolas.
6.a Avaliação de propriedades rústicas. Ca­
i.a Matemáticas gerais. dastro. Projectos de explorações rurais.
2“ Cálculo diferencial, integral e de proba­ 7a Aquicultura.
bilidades. 8. a Construções rurais. Viação. Pontes e
3“ Botânica. meios de transporte agrícolas.
4.“ Física agrícola. 9.® Motores e cultura mecânica.
5.3 Química agrícola. 10.a Hidráulica florestal.
6. a Microbiologia agrícola. Técnica micros­ n.a Química e tecnologia açucareira e dos
cópica. óleos coloniais.
7. ® Mecânica racional. Teoria geral de má­ Curso especial de Desenho.
quinas.
8.a Hidráulica geral e agrícola. As cadeiras são regidas por professores ordi­
9. ® Agricultura geral. Culturas arvenses. Má­ nários, os cursos complementares por assisten­
quinas agrícolas. tes, o curso de desenho por um professor da
10.a Arboricultura e horticultnra. especialidade.
u.a Ampelografia e viticultura. As cadeiras e os cursos i.° e 4.0 professam-se
12A Silvicultura e tecnologia florestal. em um ano lectivo completo; os restantes cur­
13 » Trematologia. sos complementares em um semestre lectivo.
14.® Tecnologia agrícola. O ensino é teórico e prático, com o maior
15 a Patologia vegetal. desenvolvimento scientifico, e, tanto quanto
ió.a Zootecnia e higiene pecuária. possível, acompanhado de experiências, de­
17.® Economia rural. Legislação. Estatística. monstrações e exercícios práticos nos labora­
18A Agricultura comparada. História da agri­ tórios, nas oficinas e nos campos de experimen­
cultura. tação e demonstração. Complementarmente fa­
19 a Economia florestal. zem-se também excursões e visitas de estudo.
20a Culturas coloniais e silvicultura colo­ O ensino habilita para os seguintes cursos,
nial. cada um dêles com a duração de 5 anos:
2i.a Tecnologia agrícola e florestal colo­ Curso de engenheiro agrónomo ;
niais. Curso de engenheiro silvicultor;
24 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Curso de engenheiro agrónomo colonial; os alunos podem tirar certificado da conclusão


Curso de engenheiro silvicultor colonial. dos mesmos, passando-se-lhes um diploma de
liqenciamento. Poderão também apresentar
O curso de engenheiro agrónomo compreen­ um trabalho impressoqueconstitueatese, cuja
de as cadeiras de i.a a i8.a, os cursos comple­ defesa e aprovação em acto grande lhes dá di­
mentares de i.° a 9.0 e o curso de desenho. O reito ao diploma de doutoramento e à designa­
curso de engenheiro silvicultor, que tem os ção de engenheiro agrónomo ou silvicultor,
três primeiros anos comuns com o anterior, conforme os cursos; êste diploma é indispen-
abrange as mesmas cadeiras e cursos à excep- vel para o desempenho dos lugares técnicos
ção dos 5.0, 6.° e 9.0 e tem a mais a cadeira oficiais, exigindo-se o das especializações co­
19a e o curso io.°. Os cursos de engenheiro loniais para aqueles dos diplomados que se
agrónomo e engenheiro silvicultor coloniais, destinam ao serviço oficial no Ultramar.
compreendem as cadeiras e cursos que res- São admitidos à primeira matrícula no Ins­
pectivamente compõem os de engenheiro tituto os candidatos que se mostrem habilita­
agrónomo e engenheiro silvicultor e mais as dos com o 7.° ano do curso dos liceus, secção
cadeiras 20a, 21a e 22a e o ii.° curso. de sciências, ou com o curso completo da Es­
O 5.0 ano do curso de engenheiro agrónomo cola Nacional de Agricultura de Coimbra. Os
é essencialmente de tirocínio, com excursões requerimentos para matrícula são dirigidos ao
de estudo às diferentes regiões do pais e fre­ director do Instituto e devem dar entrada na
quência intensiva dos laboratórios. O 5.0 ano secretaria da Escola, desde 1 até 25 de Outu­
do curso de silvicultura é igualmente de tiro­ bro de cada ano.
cínio principalmente efectuado nos serviços O requerimento deve conter a declaração da
florestais e matas do Estado, durante o qual profissão e residência do pai do requerente e
os tirocinantes, quando utilizados oficialmente, a designação do curso que pretende frequen­
são remunerados como engenheiros silvicul­ tar e deve ser instruído com a certidão de
tores subalternos. O tirocínio colonial é espe­ idade, a certidão de qualquer das habilitações
cialmente feito no Jardim Colonial e suas ins­ acima indicadas e atestado em que se prove
talações anexas. não sofrer o candidato de doença contagiosa,
Aos alunos aprovados no curso complemen­ não ter lesão que o impossibilite de seguir o
tar de Topografia é facultado o serviço remu­ curso, e ser vacinado, nos têrmos da lei vi­
nerado de campo, na Direcção dos Serviços gente. Obtido do director deferimento do re­
Fisiográficos do Ministério da Agricultura, du­ querimento o candidato é avisado por edital da
rante o espaço de tempo que medeia entre o Secretaria para comparecer no Instituto a fim
final da primeira época de exames e a abertura de pagar a propina e assinar o têrmo.
das aulas,'durante dois anos consecutivos. Me­ Em cada ano, o aluno tem a pagar de pro­
diante bom aproveitamento, em resultado dêste pina de abertura de matrícula 10 escudos e de
tirocínio, é-lhes depois inscrita a menção de encerramento igual quantia. Para ser admiti­
Geometra na carta do curso, a qual lhes dá direi­ do a exame na 2.a época por cada disciplina,
to de preferência, em igualdade de condições, a propina a pagar é de 2$5o; e por cada exame
nos concursos para os cargos daquela Direcção de frequência extraordinário é exigida igual
e nas nomeações para o serviço do Cadastro. propina. Os alunos que conseguirem maioria
Em todas as cadeiras e cursos há exames fi­ de distinções nos exames dum ano ficam isen­
nais, além das provas no decurso do ano (exa­ tos, na matrícula do ano imediato, do paga­
mes de frequência, repetições, etc.), não po­ mento da correspondente propina ordinária.
dendo fazer-se a passagem para determinado São distribuídos prémios pecuniários e ho­
ano sem se ter obtido a aprovação em todas noríficos aos alunos mais distintos. O ano es­
as cadeiras que constituem as disciplinas do colar começa em 1 de Outuro e termina em
ano anterior. 31 de Julho e o ano lectivo vai de 1 de No­
Há duas épocas de exames finais, a primeira vembro até 25 de Junho.
durante o mês de Julho e a segunda durante
São de férias os seguintes períodos:
a segunda quinzena de Outubro.
Terminado o 5.0 ano em qualquer dos cursos, De 24 de Dezembro a 7 de Janeiro, inclusivé.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 25

De sábado gordo a quinta-feira seguinte ao em Portugal, mediante prestação de provas


Entrudo, inclusivé. teóricas e práticas perante um júri composto
De domingo de Ramos ao domingo de Pas­ por professores do Instituto.
coela.
Os meses de Agosto e Setembro. N. B. — A organização acima extratada está
O Instituto admite á frequência dos seus cur­ publicada na íntegra no «Diário do Go­
sos candidatos à matrícula vindos de escolas verno» n.° 167, de 29 de Julho de 1918 e no
estrangeiras, reservando-se o direito para cada Boletim do Ministério da Agricultura publi­
caso de estabelecer as condições dessa admis­ cado pela Direcção Geral da Instrução Agrí­
são. Os diplomados pelas escolas estrangeiras cola, à qual pode ser requisitada. (Boletim
equivalentes, de reconhecida reputação, pode­ n.os 2, 3 e 4, de Agosto, Setembro e Outubro
rão, quando nacionais, exercer a sua profissão de 1918).
CORPO DOCENTE
PROFESSORES

D. António Xavier Pereira Coutinho


Professor da Cadeira de Botânica

Engenheiro-agrónomo (1874).
Foi nomeado lente catedrático do Instituto por Decreto de 15 de Fevereiro
de 1883, tendo desempenhado anteriormente o logar de Chefe de Serviço (Decreto
de 11 de Setembro de 1880).
Foi agrónomo dos distritos de Bragança (1875) e de Coimbra (1878); e
secretário da comissão de estudo e tratamento das vinhas do Douro (4878b
Naturalista da Secção Botânica da Escola Politécnica de Lisboa (Faculdade
de Sciências (1890); lente substituto da cadeira de Botânica da mesma Escola
(1891); promovido a lente catedrático em 1903. Director do Jardim Botânico.
Sócio efectivo da Academia de Sciências de Lisboa, e correspondente do
Instituto de Coimbra.
Sócio da Sociedade Broteriana de Coimbra e da Sociedade Lineana de
Madrid.
Sócio honorário da Sociedade Farmacêutica Lusitana, da Associação Cen­
tral da Agricultura Portuguesa, da Sociedade Promotora da Agricultura Michae-
lense e da Sociedade Agrícola do Distrito de Santarém.
Foi Secretário do Congresso Vitícola do Pôrto em 1880, e relator no
Congresso Vitícola de Lisboa em 1895.
Membro do júri na Exposição Agrícola de Lisboa em 1884; Fêz parte da
Comissão encarregada da análise dos vinhos que concorreram à mesma Exposição.
Membro da Comissão nomeada em 1886 para organizar os questionários e
mais trabalhos preparatórios do inquérito agrícola.

Obras publicadas:
A Quinta Distrital de Bragança em 1875-76. Doenças dos vinhos (Relatorio apresentado
Anais agrícolas do distrito de Bragança. ao Congresso Vitícola de Lisboa em 1895).
A silvicultura no distrito de Bragança. Curso de silvicultura:
Os fenos espontâneos e as palhas de trigo Tômo I — Botânica florestal — Agrologia e
em Portugal (seu valor na alimentação do climatologia—Essências florestais.
gado). Tômo II — Esbôço duma flora lenhosa por­
Relatorio do juri do grupo Vinhos e outros tuguesa.
produtos fermentados, na Exposição Agrícola Os Qaercus de Portugal—1888.
de Lisboa em 1884. As Juncáceas de Portugal —1890
A alfarroba, seu valor como substância nu­ Contribuições para o estudo da Flora portu­
tritiva e alcoolisavel. guesa (Frankeniáceas, Violáceas, Droseráceas,
Guia vinicultor. Papaveráceas, Fumariáceas, Polygaláceas, Re-
Tratado elementar de cultura da vinha (duas sedáceas, Berberidáceas, Nymphceáceas —1892.
edições). Contribuições para o estudo da Flora por­
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 27

tuguesa (Empetráceas, Rutáceas, Zygophyla- O distrito de Bragança na Exposição.


ceas, Aceráceas, Fraxináceas, Hypericáceas,
Tamariscáceas, Elatináceas) —1894. No Agricultor do Norte de Portugal;
As Malváceas de Portugal— 1893.
Chronicas agricolas quinzenais (de 1888 a
As Liliáceas de Portugal—1896.
Contribuições para o estudo das Monocoty- 1890).
ledóneas portuguesas—1898. No Dicionário Universal de Vida Prática :
Subsídios para o estudo das Salicáceas de
Portugal—1899. Colaboração na parte d’Agricultura.
As Rosáceas de Portugal (em colaboração
com o Conde de Ficalho) —1899. No Jornal Oficial da Agricultura :
As Rubiáceas de Portugal—1900. Estudos sericícolas.
As Campanuláceas de Portugal—1901. O ano agrícola de 1876-77 no distrito de
As Borragináceas de Portugal —1907.
Bragança.
As Escrophulariáceas de Portugal—1906. Cultura da beterraba na Quinta Distrital de
As Labiadas de Portugal —1907. Bragança.
Musa ventricosa, Welw, au Jardin Botanique
Comissões de estudo e tratamento da vinhas
de Lisbonne —1909. do Douro.
A Flora de Portugal (Plantas vasculares)— Cultura do tabaco no Douro.
1913. A indústria dos lacticinios em Portugal.
Notas à Flora de Portugal 1—1914, 11—1915,
111—1916, iv—1918. Na Gazeta dos Lavradores :
Herbarii Gorgonei Universitatis Olisipo-
nensis Catalogus —1914. Estudos de sericicultura.
Catalogi Herbarii Gorgonei Universitatis Estudos sôbre a filoxera:
Olisiponensis Supplementum—1915. I—O õvo de inverno no país do Douro.
Plantas portuguesas dos Herbários de Bro- II—Filoxera hibernante no Douro.
tero e de Valorado existentes na Universi­ III—A Filoxera nas vinhas do Douro.
dade de Lisboa—1916.
No Portugal Agrícola:
Lichenum Lusitanorum Herbarii Universi­
tatis Olisiponensis Catalogus —1916. Multiplicação das larangeiras por mergulhia.
Catalogi Lichenum Lusitanorum Herbarii Oliveira de frutos vernaes.
Universitatis Olisiponensis Supplementum Oliveira de frutos temporãos.
Primum —1917. Experiências agrícolas.
Hepaticae Lusitanicae Herbarii Universita­
tis Olisiponensis—1917. Na Agricultura contemporânea :
Musci Lusitanici Herbarii Universitatis Oli­
Estudos de Tecnologia Rural
siponensis—1917.
Eubasidiomycetes Lusitanici Herbarii Uni­ A aguardente das balsas de vinho.
versitatis Olisiponensis— 1919. A apresentação dos vinhos nos mercados.
Elementos de Botânica (para o curso dos Os esmagadores d’uva.
liceus). O tratamento das vasilhas do vinho.
Rudimentos d’Agricultura (para as escolas Vinhos com saibo a madeira e a bolor.
primárias). A nossa produção vinícola.
A colheita vinícola de 1889.
No Boletim da Sociedade Broteriana: A côr dos vinhos.
O papel do tanino nos vinhos.
Contribuições para o estudo da Flora por­
Novo processo de reconhecer a falsificação
tuguesa. do azeite com óleo de algodão.
Determinação da manteiga do leite pelo
Na Revista da Exposição Agrícola de 1894:
processo de Soxhlet.
Os vinhos na Exposição Agrícola. Estudo chimico da oliveira.
28 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

A percentagem de gordura nas nossas pa­ O carvalho comum de frutos pedunculados


lhas de trigo. e o de frutos sesseis.
A questão da alteração das carnes de porco A cultura florestal em Portugal.
nas salgadeiras. Exploração de lenhas nos pinhais dos arre­
A sericicultura em Trás-os-Montes. dores de Lisboa.
Apicultura. O freixo.
A doença manítica dos vinhos e o agridoce. Um novo salgueiro português.
O carrasqueiro ou carrasco.
Estudos de agricultura
O Salix citro-cinerea de Brotero.
A fertilização das terras; o estrume e os As sementes d’alfarroba.
adubos. A composição química do solo e a vegeta­
As plantas marinhas como adubo. ção do castanheiro.
A estrumação verde pelas Leguminosas.
Várias
As plantas sacarinas; sua cultura.
O esbandeiramento do milho. Umas ervilhas africanas.
Frutas e hortaliças. Produtos agrícolas da África portuguesa.
A questão dos cereais. Produtos textis da África portuguesa,
A nossa cultura de cereais e a importação. A agricultura africana.
A propósito d’uns trigos africanos.
Estudos de silvicultura
A ruiva dos tintureiros e a filoxera.
A azinheira de bolota doce. Os fenómenos meteorológicos e a venda
Os dois sobreiros portugueses. dos produtos agricolas.
Ensaios de cultura florestal com o pinheiro A exportação do gado bovino.
d’Alepo. A polícia rural.
O vidoeiro. O inquérito agrícola.
Influência do sexo das árvores sôbre as A associação em agricultura.
madeiras. A Botânica e a Agronomia.
Arborização das estradas, dos cursos d'água Àcêrca do ensino agrícola.
e das margens dos campos cultivados. Parasitas fanerogâmicos.

Luiz António Rebello da Silva


Professor da Cadeira de Química Agrícola

Engenheiro-agrónomo (1880).
Foi nomeado lente catedrático do Instituto por Decreto de 13 de Janeiro de
1887, tendo sido anteriormente chefe do serviço químico do mesmo Intituto (1884).
Director do Laboratório de Química Agrícola e Inspector das estações quí­
mico-agrícolas.
Foi agrónomo do distrito de Vizeu (1880 a 1881) e do distrito de Leiria
(1882 a 1884).
Empregado na Direcção das Obras Públicas do distrito de Santarém (i88r
a 1884).
Vogal de júri na Exposição Agrícola de Lisboa em 1884. Fêz parte da
comissão encarregada da análise dos vinhos que figuraram nessa exposição.
Planeou e dirigiu os trabalhos de análise dos vinhos portugueses que foram
às exposições de Berlim e de Paris (1888 e 1889).
Tomou parte no Congresso Agrícola Internacional de Madrid em 1911,
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 29

onde apresentou uma memória: Les engrais azotès ct la cyanamide de calcium


contendo os resultados obtidos nas suas próprias experiências culturais.
Fêz parte da comissão encarregada de formular os métodos oficiais de
análise de terras, adubos e produtos agrícolas.
Em 1895 nomeado presidente da comissão encarregada pelo Ministério
da Guerra para fazer o estudo químico e dar o seu parecer sôbre o emprêgo de
pólvoras e outros explosivos.
Foi químico-analista e consultor da Companhia Promotora da Agricultura
Portuguesa; e de 1904 a 1913, dirigiu em Portugal os campos experimentais do
Permanent Nitrate Commitée.
E sócio da Academia das Sciências de Lisboa, da Sociedade Química de
Paris e da Sociedade de Sciências Agronómicas de Portugal. Sócio honorário da
Associação Central de Agricultura Portuguesa e da Sociedade Farmacêutica
Lusitana.

Publicou as seguintes obras:


Elementos de análise química aplicada ao Memória e projecto duma estação de viti­
estudo das terras, águas e adubos. cultura e dum viveiro de videiras americanas
Introdução ao curso de análise e de quí­ em Santar, distrito de Vizeu.
mica agrícola. A questão das adubações.
Curso de química agrícola (foi traduzido em O distrito de Santarém na exposição agrícola
espanhol por um professor do Instituto Agrí­ de Lisboa de 1884 (na Revista da Exposição).
cola de Afonso XII).
Análise dos solos aráveis. Na Revista Agronómica :
Estudos agrológicos e classificação de terras*
Estudo sôbre algumas águas minerais em O projecto de Lloyd George sôbre a divi­
Portugal. são das terras incultas.
Estudo sôbre os meios de cultivar os terre­ O trevo encarnado cultivado em terreno
nos salgadiços do litoral do Algarve. arenoso e pobre, mas regado.
Relatório das análises dos vinhos portu­ Estudo comparativo do superfosfato de cal
gueses, que apareceram na Exposição de Ber­ e das escorias «Tomás» na adubação dos ter­
lim em 1889. renos calcáreos.
Le engrais azotés et la cynamide de cal­ Questões de química agrícola. Discussão de
cium (Memória apresentada ao Congresso algumas experiências culturais.
Agrícola de Madrid em 1911). Estudos agrológicos.
Relatórios das experiências efectuadas nos Os adubos químicos e a produção cerealí­
campos experimentais do Permanent Nitrate fera (Conferência na Associação Central de
Commitée em Portugal, correspondentes aos Agricultura).
anos de 1904 a 1913. Importância agrícola que tem a determina­
Relatório da missão a Espanha para estu­ ção da época em que convém aplicar o nitrato
dar a cultura das plantas sacarinas (beterraba de sódio, na cultura do centeio e do trigo.
e cana de açúcar) e a sua introdução em Por­ Experiências com a cultura da batata.
tugal. Captagem do azote atmosférico por meio.
A cultura da cana de açúcar no Algarve, na das leguminosas e fertilização dum terreno
herdade da Quarteira. com a luzerna.
Relatórios dos serviços das estações quí­ Cálculo da análise das águas por Fisher.
mico-agrícolas (no Boletim da Direcção Ge­ Transformação de charnecas na região da
ral de Agricultura). Campina (Bélgica) em lucrativas terras de cul­
3o ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRNOMIA

tura. Exemplos que podem ter aplicação em mento do vinho da Madeira, do sr. Conde de
Portugal. Carvalhal.
As análises químicas e a adubação das terras.
Na Agricultura Contemporânea :
No Portugal agrícola :
As análises químicas e a adubação das terras.
A cultura da batata na Quinta da Fonte da
Prata (Moita). Na Gazeta dos Lavradores:
Experiências culturais—Fixação do azote
Videiras americanas em Nelas, Santar e Ca­
atmosférico pelo tremoceiro.
nas de Senhorim.
Estudos sôbre a cultura do trigo em Portu­
Filoxera e Peronospora vitícola nas vinhas
gal.
Métodos adoptados por diferentes químicos do Dão.
para a análise física das terras. No Século Agrícola:

Na Vinha Portuguesa ; A terra arável e a sua fertilização.

O enxofre composto, do Centro Agrícola Colaboração em muitos jornais, principal­


Industrial. mente no Distrito de Viseu, no Comercio de
O novo método de conservação e melhora­ Portugal, etc.

Filippe Eduardo de Almeida Figueiredo


Professor da Cadeira de Fisica Agrícola

Engenheiro-agrónomo (1882).
Foi nomeado lente catedrático do Instituto por Decreto de 10 de Março de
1887, tendo anteriormente desempenhado o cargo de auxiliar do Laboratório de
Patologia Vegetal do Instituto (1884 a 1887).
Vogal de júri na Exposição Agrícola de Lisboa em 1884 e na de Alfaia
Agrícola na Tapada da Ajuda em 1898.
Representante de Portugal na Comissão Internacional de Meteorologia
Agrícola (1913-1914).
Membro da Comissão Central de Meteorologia (Decreto de 21 de Janeiro
de 1916).
Sócio efectivo da Academia das Sciências de Lisboa e correspondente do
Instituto de Coimbra.
Sócio fundador da Sociedade de Sciências Agronómicas.
Sócio da Associação dos Arqueólogos Portugueses.

Tem publicado as seguintes obras:


Em volume: Dicionário Universal da vida prática (cola­
boração na parte da agricultura)—1889.
Estudo acêrca do gado ovino do distrito de Tratado elementar de Botânica —1 vol. 1891.
Castelo Branco—1 vol. 1883. A física agrícola no curso agronómico-flo­
Noções de microscopia—1 vol. 1884. restal— x vol. 1892.
As lãs na exposição agrícola de Lisboa em Memória acêrca das chuvas no Minho—x
1884—1 vol. 1885. vol. 1895.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR I)E AGRONOMIA 3i

Apontamentos de geologia agrícola—1 vol. ção Agrícola de 1884 (Revista da Exposição)


1896. -1885.
A cadeira de física agrícola no curso de Análise microscópica das águas (Agricultura
agronomia —1 vol. 1897. Contemporânea) —1886.
Le sol arable et le climat (Capítulo 2.0, Emprêgo do microscópio no estudo do leite
I Parte, do livro (Le Portugal aupoint de vue e seus derivados (Agricultura Contemporânea)
agricole)—1900. -1886.
Les laines portugaises (Capítulo 7.0, II Parte,
do mesmo livo)—1900. Estudos de patologia vegetal
A Terra (Apontamentos de geologia agrí­
Os cogumelos <Jornal do Comércio)—1882.
cola)—1 vol. 1908.
O míldio (Jdem)—1882.
As chuvas em Portugal— 1 vol. 1910.
Resumo meteorológico de Portugal—1 vol.
Agricultura Contemporânea :
1910.
Constituição positiva da Sciência Agronó­ A nova doença da cana do açúcar na ilha
mica—1 vol. 1913. da Madeira —1886.
A irradiação solar e a sua acção sôbre a A lagarta dos sobreiros do concelho de Óbi­
terra e sôbre as plantas—1 vol. 1915. dos—1886.
O antigo Instituto Agrícola e a sua obra — A doença dos castanheiros nos arredores
1 vol. 1917. de Portalegre — 1, 11—1887.
Oração de Sapiência (na sessão solene de A filoxera—1887.
abertura das aulas do Instituto Superior de Cirurgia vegetal ou processos de tratamento
Agronomia em 1918). de algumas doenças das plantas.—O cancro
Observações e estudos efectuados no La­ das árvores de fruta —1, u, m—r888.
boratório de Física Agrícola e no Campo Ex­ A hibridaçãodas videiras e a filoxera—1888.
perimental de Meteorologia do Instituto — Doenças parasitárias das plantas. Os fun­
1 vol. 1919. gos, 1, 11, iii, iv—1888.
Na Revista de Estudos Livres: As doenças da vinha em Portugal—1889.
Nota sôbre o emprêgo da sulfosteatitecupri-
Estudos botânicos ca nas doenças de vinha—1889.
Organização elementar dos vegetais—1883. Resposta a uma consulta—1890.
Composição química das plantas—1883. Influência dos sais de cobre na vegetação
A evolução na série vegetal—1, 11—1884. da videira—1894.
Os Fungos—i, 11, ui—1886.
Estudos de agrologia
Estudos zootécnicos
Solos Agrícolas (Portugal Agrícolaj—1895.
A questão da espécie e o melhoramento
Os calcáreos portugueses e as vides ameri­
das raças domésticas (Revista de Estudos Li­
canas (Agricultura Contemporânea)—1895.
vres)— 1883.
A humidade do solo do campo de experiên­
As corridas de cavalos e o apuramento das
cias do Instituto Agrícola (Agricultura Con­
raças (Jornal do Comércio) —1883.
temporânea)—1895.
Algumas palavras acêrca do melhoramento
As irrigações (Boletim do Sindicato Agrícola
das nossas raças domésticas (Agricultura Con­
de Montemor-o-Vellio) —1896.
temporânea) —1887.
A capacidade das terras para o ar e para a
O fabrico da manteiga em Portugal (Agri­
água (Boletim da Associação Central da Agri­
cultura Contemporânea —1890.
O melhoramento dos nossos gados (Revista cultura)—1918.
Contribuição para o estudo da humidade do
Agronómica) —1905.
solo da Tapada da Ajuda (Revista Agronó-
Estudos de microscopia micaj — igi'].
Microscópios e outros instrumentos de pre­ Notas sôbre Agrologia: A textura do solo
cisão com aplicação à agronomia, 11a Exposi­ (Idem) —1917.
32 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Estudos de meteorologia agrícola (Portugal A meteorologia agrícola (Revista Agronó­


Agricolaj: mica)—1915.
Contribuição para o estudo da influência
Meteorologia agrícola— i, u.
do clima nas culturas (Jornal da Academia
Estudos de climatologia de Portugal, refe­
das Sciências de Lisboa) —1919.
rente aos doze meses do ano —1892 a 1893.

Na Agricultura Contemporânea: Várias

Boletins meteorológicos mensais durante A exposição agrícola de Lisboa em 1884 —


os anos de 1894 a 1896. 1, 11, ni, iv, v (Revista de Estudos Livres) —
A última colheita de trigo—1894. 1884.
A vinha e as influências meteorológicas—1895. A arborização das cidades (Agricultura Con­
Sôbre a influência da luz na vegetação (Ex- temporânea) —1887.
periências feitas no Instituto Agrícola) —1895. Instrução agrícola (Agricultura Contemporâ­
Traços gerais da climatologia de Portugal nea) —1897.
—1, n-1895. O ensino superior da Agricultura (Correio
A chuva e a evaporação em Portugal—1896. da Manhã) —1897.
Os trigos e a estiagem de 1895 —1896. O professor Henrique de Mendia (Boletim
A temperatura do solo—1896. da Associação Central de Agricultura)—1901.
A temperatura do ar—1896. O Instituto de Agronomia e o ensino supe­
A luz do sol—1896. rior da agricultura (Boletim da Associação Cen­
A energia química da irradiação solar—1896. tral de Agricultura1—1902.
Influência do calor sôbre as plantas—1897. A física agrícola. Lição de abertura do curso
Influência da luz sôbre as plantas-1897. professado no Instituto Agrícola (Revista Agro­
A previsão do tempo—1898. nómica)—1905.
Chuvas e sua acção sôbre o solo e sôbre as Os mármores do Vimioso, em Trás-os-Mon-
plantas—1899. tes (Portugal Agrícola) — 1906.
Traços gerais do clima do Minho (Almanach As Gramineas, pelo dr. Júlio Henriques
das Aldeias)—1898. (Bibliografia) (Jdem)—1906.
A meteorologia dos doze meses do ano O enxugo das terras. Bibliografia. (Portugal
(Revista Agronómica)—1909. Agricolaj —1908.
A temperatura do solo—1,11, ui (Revista Agró- Educação agrária dos filhos dos lavradores
no mica)—1910. (Portugal Agricolaj —1909.
Contribuição para o estudo da influência O dia 18 de Novembro de 1917 Boletim da
meteórica sôbre a cultuia do trigo em Portu­ Associação Central de Agricultura/—1917.
gal (Boletim da Associação Centra da Agricul­ Os estudos de Física Agrícola em Portugal
tura Portuguesa) —1913. (Nas Memórias da Academiaj—1919.

Bernardino Camillo Cincinato da Costa


Professor da Cadeira de Tecnologia Rural

Engenheiro-agrónomo (1886).
Foi nomeado lente catedrático do Instituto em 1887 e director do Labora­
tório de Tecnologia Rural. Inspector Geral no Ministério da Agricultura.
Escolhido pelo Conselho Escolar para ir a Paris por ocasião da Exposição
de 1888 estudar os progressos do ensino agronómico, do que apresentou um rela­
tório que foi impresso.
Em 1892 tomou parte no Congresso pedagógico hispano-português-ame­
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 33

ricano, retinido em Madrid, ontie apresentou uma memória sôbre o ensino supe­
rior da agricultura em Portugal.
Encarregado pelo govêrno duma missão à América do Sul afim de estudar
os meios de colocar os nossos vinhos nos seus mercados internos (1894).
Em 1900 foi encarregado pela Associação Central de Agricultura de orga-
zar a representação de Portugal na Exposição Universal de Paris, tomando
parte nos Congressos internacionais de Agricultura e de Viticultura que então se
realizaram. Foi presidente do Grupo I do Grande Júri Superior da Ex­
posição.
Em 1902 foi delegado pelo Govêrno ao Congresso Internacional de Roma.
Comissário do Govêrno na Exposição Universal de S. Luís (Estados-Uni-
dos) em 1904; e fêz parte da comissão organizadora da Exposição do Rio de
Janeiro em 1908.
Foi Director da Associação Central de Agricultura Portuguesa e o organi­
zador do Congresso de Oleicultura e Leitaria em 1905; tomou parte como rela­
tor no Congresso Vinícola de 1900.
Sócio efectivo da Academia das Sciências de Lisboa e correspondente do
Instituto de Coimbra; foi sócio fundador e antigo director da Sociedade de Sciên­
cias Agronómicas; sócio e antigo director da Associação Central de Agricultura
Portuguesa; sócio honorário da Associação Comercial do Pôrto e da Academia
de Estudos Livres; membro do Conselho Superior Técnico da Direcção Geral
de Agricultura, Inspector Geral de Agricultura no Ministério da Agricultura;
sócio honorário da Sociedade dos Viticultores de França, da Sociedade de Agri­
cultura da Gironda e do Instituto Geográfico Argentino; membro efectivo da
Comissão permanente Internacional de Agricultura.

Obras publicadas:

A indústria dos laticínios em Portugal. O problema do álcool (relatório apresentado


Regimen económico do álcool em Portugal. ao Congresso Vinícola de Lisboa em 1900).
O ensino superior da agricultura em França Produção e comércio dos principais géne­
(Relatório duma missão para que foi esco­ ros agrícolas de Portugal, seguido do catálogo
lhido pelo conselho escolar do Instituto). geral da secção portuguesa na Exposição Na­
Notícia sôbre o ensino superior da agricul­ cional do Rio Janeiro em 1908.
tura em Portugal (Memória apresentada ao O problema agrário nacional e a Companhia
Congresso Pedagógico hispano-português- das Lezírias.
-americano de Madrid em 1892). Estudo sôbre alguns mercados externos para
Propaganda vinícolo-comercial na América a colocação dos nossos produtos.
do Sul. Lagares-escolas e estações oleícolas—Medi­
Le Portugal vinicole (apresentado na Expo­ das de fomento aplicadas à indústria do fabrico
sição de Paris de 1900). do azeite (Relatório apresentado ao Congresso
Les vignobles et les vins de Portugal (no Oleícola de Lisboa em 1505).
Portugal au point de vtie agricole — publicação
que dirigiu com D. Luiz de Castro). Por convite de Pierre Viala, Inspector geral
L’enseignement agricole et les encourage- da Viticultura de França colaborou, com várias
ments de 1’Etat (Idem). memórias sôbre as castas de videiras portu­
34 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

guesas, na sua monumental obra, em 7 volu­ Os açúcares e os ácidos, nos mostos.


mes— Ampelographie Utiiverselle. Os vinhos verdes do Minho.
Estudos cenologicos sôbre as principais cas­
Na Agricultura Contemporânea: tas de videiras portuguesas.
A importação dos vinhos espanhóes.
Os progressos da mecânica agrícola. Estudo do leite.
Fermentos e fermentações. A indústria das carnes nos Estados Unidos.
O mundo dos microorganismos. Notas sôbre a agricultura do Chile.
O Congresso Internacional de grãos e fari­ A leitaria experimental do Instituto de Agro­
nhas. nomia.
A videira em estufas perto de Grcennendael. Ensino agrícola: — O Instituto de Agro­
Estudos ampelográficos portugueses. — O nomia.
ramisco.—O arinto. Estações experimentais.
Balseiros e recipientes de fermentação vinária. As cátedras ambulantes de agricultura.
Contribuição ao estudo dos azeites—Entu- Revistas agrícolas mensais.
lhamento da azeitona.
Exposição internacional de Johannesburg. Na Vinha Portuguesa:
Os vinhos do Chile e o nosso comércio de
exportação vinícola para o Brasil. Estudos sôbre o valor oenologico dalgumas
Vinhos de consumo directo.—Condições a castas de videiras portuguesas.
que devem satisfazer os seus mostos.
O esmagador-prensa de efeito contínuo, sis­ No Século Agrícola:
tema Mortineau.
Estudos sôbre o valor oenologico das prin­ As vindimas em Portugal:
cipais castas das videiras portuguesas. Como se praticam nas diferentes regiões
A crise vinícola. O mercado francês para do país ?
os nossos vinhos. Quando se deve vindimar?
Uma excursão vinícola na Champagne. A trasfega do vinho.

No Portugal Agrícola:
Artigos diversos na Gaseta das Aldeias, na
Situação vinícola de Portugal. Vinha Portuguesa, nas Novidades, na Revue
Vinhos—Produção e comércio. de Viticulture de P. Viala, etc.

Dr. António Correia da Silva Rosa


Professor da Cadeira de Agricultura Geral e Culturas arvenses

Engenheiro-agrónomo (1886).
Médico-veterinário (1886).
Médico pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1898).
Foi nomeado lente do Instituto em 1887 para a antiga secção veterinária,
regendo a cadeira de Matéria Médica, Farmácia, Toxicologia e Química Médica,
mas tendo ficado adido em consequência da reforma do Instituto em 1891, só vol­
tou de novo ao serviço em 1901, para a secção agronómica, passando a reger a
sua actual cadeira. E director da estação de ensaios de sementes, e dos campos
experimentais de culturas arvenses do Instituto.
Dos seus trabalhos nestes campos experimentais, estabelecidos na Tapada
da Ajuda, publica êste volume dos Anais um desenvolvido e interessante rela­
tório.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 35

De 1904 a 1909 desempenhou o cargo de director da Escola Nacional de


Agricultura de Coimbra.

Obras publicadas:
A tuberculoso (j886).
Medicação desinfectante (1887).
Álcool (1898). ___________

D. Luiz Filippe de Castro


Professor da Cadeira de Economia Rural — Legislação — Estatística

Engenheiro-agrónomo (1886).
Foi nomeado lente do Instituto em 1901, tendo sido anteriormente Chefe
do Serviço do Instituto.
Sócio efectivo da Academia das Sciências de Lisboa, e correspondente da
Academia de Agricultura de França.
Sócio benemérito e, por muitos anos, director da Associação Central da
Agricultura Portuguesa, sócio fundador, director e actual presidente da Socie­
dade das Sciências Agronómicas de Portugal.
Delegado da Associação Central da Agricultura no Comité, organizador da
representação portuguesa na Exposição de Paris em 1900.
Membro do Congresso Internacional dos Sindicatos Agrícolas, e do Con­
gresso Internacional das Cooperativas de Consumo, realizados em Paris; e do
VII Congresso Internacional de Agricultura de Viena d’Áustria, onde apresentou
várias memórias sôbre as respectivas especialidades.
Representante de Portugal no Comité permanente do Instituto Internacio­
nal de Agricultura de Roma (Portaria de 24 de Março de 1906).
Membro do Conselho Superior de Agricultura; vogal da comissão nomeada
por Portaria de 28 de Março de 1903, para estudar as condições da produção,
comércio e consumo de cereais e das indústrias da moagem e panificação.
Vogal da comissão nomeada por Decreto de 22 de Outubro de 1908 para
proceder a um inquérito às regiões vinhateiras do país.
Vogal da comissão nomeada por Decreto de 13 de Setembro de 1909 para
coligir os elementos necessários para a representação de Portugal no Congresso
Internacional de Agronomia Colonial, reunido em Bruxelas.

Segue a relação dos seus principais trabalhos:

Conferências: Aspectos económicos do projecto vinícola de .


O Sindicato Agrícola; e a Cultura do trigo içoy; e O Instituto Internacional de Agricul­
em Portugal, na Associação Central de Agri­ tura, na Sociedade de Sciências Agronómi­
cultura Portuguesa; esta última foi publicada cas.
em folheto e .traduzida em espanhol por O movimento associativo rural, no Palácio
D. José Cascon engenheiro-agrónomo da pro­ de Cristal do Pôrto, a convite da Comissão
víncia de Salamanca. Promotora da Exposição Agrícola.
36 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

A adubação da terra, na sede do Sindicato L’Union vinicole et oleicole du Sud (Idem).


Agrícola de Santa Clara. La Cooperation en Portugal (No Compte-
Sindicatos agrícolas e caixas económicas, nas -rendu officiel des travaux du Congrés interna­
salas da Câmara Municipal de Tomar. tional des cooperatives de consommation en
Caixas económicas e crédito agt icola, na Asso­ 1900).
ciação de Classe dos Horticultores de Lisboa. Les boucheries municipales de Lisbonne
q Problema Agricola Português, na série de (ldem)*
conferências promovida pelo Diário de Noti­ La législation portugaise des caves sociales
cias, na sala da Academia das Sciências de (Comunicação à Sociedade Nacional de Agri­
Lisboa. cultura de França).
Propriedades e proprietários. Deveres e direi­ Rudimentos de agricultura prática (para
tos, na Liga da Acção Social Cristã. uso das escolas primárias).
Na sala das sessões da Academia de Agri­ Introdução ao Guia do criador e amador de
cultura de França, fez duas conferências, uma cavalos, por Freire de Campos).
em 1907, Le mouvement associatif rural en Por­ 0 movimento associativo rural.
tugal; e outra em 1914 sôbre Le crèdit agri- Jardins coloniais (Comunicação à Sociedade
cole en Portugal. de Sciências Agronómicas).
Fez diversas comunicações interessantes Aspectos económicos do projecto vinícola
tanto na Sociedade de Sciências Agronómicas, de 1907.
como na Academia de Agricultura de França. Semente lançada à terra (colecção das cró­
nicas agrícolas publicadas no Diário de Noti­
Obras impressas'
cias).
A produção cavalar portuguesa e o seu me­
lhoramento. Seis propostas de lei quando Ministro das
Crónicas agrícolas. Obras Públicas:
A produção c a cultura do trigo em Por­ 1 —O inquérito sôbre as fôrças económicas
tugal. do reino.
Plantações definitivas e cultura da vinha 11—O Ministério da Agricultura, Indústria e
(apresentado ao Congresso vitícola de 1895). Comércio.
A vinha americana (tradução do livro de m—O Instituto do Trabalho Nacional.
Pierre Viala e de Ravaz, prefaciada e copio­ iv—A Caixa económica postal.
samente anotada). v— Incitamento à cultura do arroz e luta
Tratados de Comércio. Mercados para os contra as sezões.
nossos vinhos (Relatório apresentado à Asso­ vi—Extensão da rêde telefónica.
ciação Central da Agricultura Portuguesa). Crédito agrícola democrático.
Le régime du blé en Portugal (Na Rcvtte Incitamentos para a cultura do arroz e a
Politique et Parlementaire). saúde pública (Memória apresentada ao II
O sindicato agricola. Congresso de Orizicultura retinido em Valên­
Mercados exóticos e tratados de comércio cia (Espanha) em 1914, a qual foi traduzida
(apresentado ao Congresso Vinícola de 1900). em espanhol e em francês).
L’enseignement superieur de 1’agriculture Réponse à l’enquête sur 1’éducation familiale
en Portugal (com Cincinato da Costa). (en Souvenirs d’èducatioti familiale—Paris).
Le crédit agricole et le mouvement associa­
tif rural (No Portugal au point de vuc agricole, Na Agricultura Contemporânea :
publicação que dirigiu com Cincinato da
Costa). A terra em viticultura.
La législation du blé (No Compt- rendti des tra- Vinho artificial e vinho de passas.
vavaux du VI Congrés international ^agricul­ A passa de uva e o seu vinho.
tare). Vinho de passas.
Les syndicats agricoles en Portugal (No Poda sêca da vinha. •
Compte-rendu du Congrés international des syn­ O desengace da uva.
dicats agricoles en 1900). Plantação da vinha.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 37

Vinhos para o Ultramar. A abelha.


Adegas sociais. Ceifeiras mecânicas.
O mercado vinícola alemão e as convenções A cortiça. Estudo agrícola, industrial e co­
comerciais. mercial.
O trigo e o adubo químico. Agricultura e indústria.
Trigo em terra de Portugal. O Instituto Agricola de D. Afonso XII, em
As cheias e o trigo espanhol. Madrid.
Como se deve colhêr a azeitona. A «declaiatão» no imposto sôbre o prédio
Quando se deve colhêr a az.eitona. rústico.
Azeite português—Mercadorias e mercados.
Na Revista Agronómica :
Manteiga e margarina.
A beterraba sacarina. O movimento associativo rural.
O burgo—Notas a propósito dum livro re­ Serviços agronómicos ultramarinos.
cente. Congresso de leitaria e oleicultura.
Os sindicatos agrícolas portugueses. A epidemia vitícola.
Os sindicatos agrícolas. Amostras dos seus Um pequeno sindicato agrícola—Sua histó­
trabalhos. ria, seu presente, suas aspirações.
Orçamento do Estado. Simples notas sôbre Assuntos hipicos.
as receitas. Pierre Viala. A propósito da sua visita a
Enfiteuse (um decreto moderno e um de­ Portugal.
creto recente).
A instrução na aldeia. No Século Agricola:
Em Espanha. Porque se devem associar os lavradores?
A cooperação agrícola.
No Portugal Agrícola: Os dois aspectos do sindicato agrícola.

Vinhos espumosos. Numerosa colaboração na Gazeta das Al­


O gesso na adubação da vinha. deias, na Vinha Portuguesa, na Vinha Ameri­
Inquérito sôbre o míldio. cana, Agricultura Moderna, etc.
O sulfato de cobre na vinha e no vinho. Crónicas agrícolas semanais no Diário de
Origens da Jacquez e da Herbemont (Con­ Noticias, e no Diário Popular e escreveu no
tribuição para o estudo dum ponto de ampe- Comércio de Portugal, Diário da Manhã, Cor.
lografia). reio da Manhã, Jornal do Comércio, 11a Rcvue
A cal e a vinha. de Viticulture, Revue Politique e Parlamentaire,
Remontas. 11a Revue d’Economie Politique, Fermes e Cha-
Trigos exóticos. teaux, etc.

Manuel de Sousa da Câmara


Professor da Cadeira de Patologia Vegetal e- actual director do Instituto Superior de Agronomia

Engenheiro-agrónomo (1896).
Foi nomeado lente do Instituto por Decreto de 24 de Abril de 1905, tendo
anteriormente sido nomeado chefe de serviço do mesmo Instituto por Decreto de
11 de Maio de 1904, lugar que desempenhava interinamente desde 1901.
Por Portaria de 25 de Junho de 1898 tinha sido mandado prestar serviço
como analista no Laboratório da Fiscalização de farinhas e do pão, e em 3 de
Agosto do inesmo ano foi nomeado assistente do Laboratório de Entomologia e
Nosologia Vegetal da Direcção Geral de Agricultura.
Exerceu 0 cargo de Vice-Director do Instituto desde 1912 até 1915.
38 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Foi vogal representante da agricultura no Conselho Superior da Adminis­


tração Financeira do Estado (1911).
Membro do Conselho Superior de Agricultura. Tomou parte no Congresso
de Oleicultura de 1905, em Lisboa, onde apresentou um relatório sobre «A cultura
da oliveira e estudo das variedades de azeitonas cultivadas em Portugal».
Fêz parte da Comissão nomeada para coligir elementos para a representa­
ção de Portugal no Congresso de Agricultura Colonial.
Por Decreto de 17 de Janeiro de 1911 foi encarregado de exercer proviso­
riamente 0 lugar de naturalista assistente do Laboratório de Patologia Vegetal do
Instituto.
Presentemente encontra-se na Ilha de S. Tomé, a-fim-de estudar a doença
que ataca as plantações do cacau.

Tem publicado as seguintes obras

Monografia do Tabaco —1896. O ácido fosfórico nas plantas.


Black-rot 011 podridão negra da vinha — O azote nítrico e o azote amoniacal.
1897. Importância do azote na agricultura.
Estudo da Oliveira (no Boletim da Direcção O Regulamento da Escola Nacional de Agri­
Geral de Agricultura) —1902. cultura.
Subsídio para o estudo das variedades O Regulamento do Instituto de Agronomia
d'oliveiras portuguesas—1905. e Veterinária.
Esbôço monográfico da Amendoeira (com Variedades d’azeitonas cultivadas em Portu­
Gonçalves de Sousa)—1908. gal.
Contribuitiones ad Mycofloram Luzitanias Olea eurppea L. var. Alentejana (Variedade
(Centuriae III, IV eV—com J. Veríssimo d’Al- d’oliveira portuguesa ainda não estudada).
meida)—1909. Entulhamento da azeitona.
Contributiones ad Mycofloram Luzitanias Novo modo de determinar no terreno os
(Centúria VI—1910; Centúria VII—1916). pontos para a plantação em quinconcio.
Mycetas aliquot et insecta pauca Teobro- Propaganda e desenvolvimento da fruticul­
mse Cacao in Sancti Thomensis ínsula (com tura em Portugal.
Acrísio Mendes) —1910. Subsidio para o estudo das cochonilhas por­
Rapport sur les maladies des cocotiers de tuguesas.
la Compagnie du Zambèze—1917. Quatro espécies de cochenilhas portuguesas.
Relatório sôbre Cervejas (da Asssociação O Botrvtis cinerea.
Central da Agricultura Portuguesa). A nova doença da vinha produzida pela
Sclerotinia Fuckeliana.
Aonidiela perniciosa; novo parasita das ár­
Além de numerosas notas, em resposta a vores de fruto.
consultas sôbre doenças das plantas, na Ga­ Parasita do milho.
zeta das Aldeias, tem publicado em vários jor­ O Pulgão da vinha.
nais, tais como a Agricultura Contemporânea, O Phlceotribus olece.
Portugal Agrícola, Vinha Portuguesa e Revista As Zoocecidcas portuguesas por Joaquim da
agronómica, entre outros os seguintes artigos: Silva Tavares (notícia bibliográfica).
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 39

José Joaquim de Almeida


Professor da Cadeira de Mesologia Colonial. Regímen económico-agrícola colonial

Engenheiro-agrónomo (1887).
Nomeado lente do Instituto por Decreto de 12 de Dezembro de 1906.
Director do Jardim Colonial de Lisboa.
Professor de Botânica-agrícola e director da Secção agrícola do Instituto
Lauro Sodré em Belém do Pará (Brasil) -(1899 a 1901).
Agrónomo do distrito de Lunda — África ocidental — (1901-1903).
Missão de estudo à colónia alemã dos Camarões (1904).
Agrónomo do distrito de Loanda (1904-1906).
Missão de estudo à ilha de S. Tomé (1909).
Missão de estudo aos Jardins coloniais de França, Bélgica, Holanda e Ingla­
terra (1910).
Inspecção à Repartição de Agricultura da província de Moçambique (1911-
■I9I3)-
Director da Repartição de Agricultura da província de Moçambique (1913-
-1919).
Representante da província de Moçambique nos Congressos de Bloemfon-
tein—Orange—(1914) e da Cidade do Cabo (1917) e nas Exposições de Johannes-
burg (1915, 1916 e 1917).
Presidente da Comissão de subsistências do distrito de Lourenço Marques
(1916-1919).
Presidente da Comissão encarregada da representação das Colónias Portu­
guesas na Exposição Universal de Pretória (1919).

Obras publicadas:
Parasitas Cryptogamicos dos vegetais culti­ Na província de Angola—Administração
vados (1886). colonial debaixo do ponto de vista agrícola—
Os adubos químicos (1887). 1904.
Sôbre a questão agrícola (1889). Borrachas de Angola por John Gossweiller
A Secção agrícola do Instituto Lauro Sodré -1905-

(Pará-1899). Relatório da visita ao Jardim Botânico, de


Coisas de África (1914). Vitória (Camarões) 1906.
Notícia sôbre a palmeira Denden (iço5). A educação colonial na metrópole—1910.
Os serviços agronómicos no Congo belga—
Na Agricultura Contemporânea: 1910.
Luta contra os gafanhotos na província de
O congresso agrícola de Lisboa—1888. Moçambique—1915.
Esgotos de Lisboa—1889.
As vinhas portuguesas no Brasil—1889. Colaboração em A Granja, Revista Agronó­
O comércio de vinhos—1890. mica, Portugal Agrícola, Portugal em África,
Replantação com videiras americanas—1890. Gazeta das Aldeias, Journal d’Agriculture Tro-
picale, e nos jornais: Correio da Noite, Novi­
Na Revista Agronómica:
dades, Diário de Noticias, O Africano, The
O distrito de Lunda —1904. Guardian (Lourenço Marques).
40 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Carlos Eugênio de Melo Geraldes


Professor da Cadeira de Tecnologia agrícola e florestal coloniais

Engenheiro-agrónomo (1902).
Foi nomeado lente do Instituto por Decreto de 6 de Dezembro de 1906,
tendo desde o ano anterior desempenhado as funções de preparador das cadeiras
2.a e 3-a do mesmo Instituto.
Agrónomo do distrito de Benguela de 1903 a 1905.
Membro da comissão incumbida de elaborar os relatórios sôbre a produção
da borracha nas colónias portuguesas, destinados ao 2.0 congresso internacional
de agronomia colonial, de Bruxelas, em 1910, de que foi um dos relatores.
Mandado pelo Ministério das Colónias visitar e estudar a organização das
escolas de agronomia colonial, os museus e os laboratórios coloniais de França,
Bélgica, Holanda e Inglaterra (1910).
Exerceu interinamente o cargo de chefe da secção dos serviços agronómi­
cos do Ministério das Colónias (1913 a 1917).
Vogal da comissão incumbida de propôr os meios de fomentar a produção
de géneros pobres nas colónias e a sua exportação para a Metrópole (1914).
Secretário geral da grande comissão encarregada da elaboração dos rela­
tórios para o 3.0 Congresso Internacional de Agronomia Colonial retinido em
Londres em 1914. Foi nomeado representante de Portugal neste congresso, onde
apresentou os relatórios sôbre borracha e matérias textis, por êle elaborados.
Representante de Portugal na 4.“ Conferência Internacional da Borracha,
realizada em Londres em 1914, onde apresentou uma memória sôbre os processos
de cultura e exploração da Manihot Glaziosii, seguidos em Angola.
Director do Museu Agrícola Colonial de Lisboa, desde 1915.
Agrónomo-consultor da Companhia do Fomento Geral de Angola.
Em 1919 foi agraciado com o grande oficialato da Ordem de Santiago,
pelos serviços prestados à agronomia colonial.
Sócio da Sociedade de Sciências Agronómicas, da Sociedade de Geografia
de Lisboa, da Sociedade Química Portuguesa, da Association des Chimistes de
Sucrerie et de Distillerie de Paris, da Association scientifique internationale d'Agro-
nomie Coloniale ei Troficale e do Institui Colonial de Marseille.

Tem publicado as seguintes obras:


Estudos galactopoésicos. Da variabilidade 2° Congresso de Agronomia Colonial de Bru­
da secreção lática—1902. xelas—1910.
Estudo sôbre os lateborrachíferos e os mé­ Contribution à Pétude des plantations de
todos de fabrico da borracha (Seguido duma caoutchoutiers à Angola—1914.
notícia original sôbre uma nova espécie pro­ Projet pour Pétablissement d’une methode
dutora de borracha do sertão de Angola—1906. rationelle pour la determination de la valeur
Le caoutchouc dans les colonies portugai- commerciale des textiles—1914.
ses (em colaboração com o professor B. de Contribution pour Pétude des cotons des
Oliveira Fragateiro). Memória apresentada ao colonies portugaises -1914.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 4i

Essai pour 1’établissement d’une methode A indústria algodoeira nacional e a produ­


rationelle pour la determination de la valeur ção da borracha em Angola—1904.
relative et commerciale des textiles—1918. Dos efeitos da proibição da venda de mu­
nições de guerra ao gentio de Angola—1904.
Estudos esconómico-agrícolas. Os Iacticí- A cultura do algodão no distrito de Ben­
nios no distrito de Castelo Branco—1902. guela—1905.
Relatórios oficiais de missões de estudo no A exposição colonial da Sociedade de Geo­
distrito de Benguela: grafia em 1906.
Note sur une nouvelle huille vegetale du
i.°—As fazendas do concelho do Dombe Mozambique (Journal d'Agriculture Tropi-
Grande—1903, cale) —1912.
2.0—As fazendas do concelho de Catum-
Em preparação :
bela—1903.
3 °—Sôbre o valor agrícola do Lobito—1903. Subsídios para o estudo de uma sêda vege­
4.0—As Manihot Glasiosii no concelho de tal de Angola.
Catumbela—1903. Subsídios para o estudo dos ricinos explo­
5.0—Sôbre o concelho do Dombe Grande— rados nas colónias portuguesas (em colabo­
1903. ração com os chefes dos laboratórios do Ins­
6.°—De Benguela às terras da borracha (es­ tituto, Avelino Nunes de Almeida e José
tudo económico-agrícola do sul e sueste do Espinola Betencourt).
distrito de Benguela—1903. Subsídios para o estudo dos produtos olea­
7.0—A questão da produção da borracha no ginosos do Congo português (em colaboração
distrito de Benguela—1904. com os mesmos).
8.° -Da Catumbela ao Alto Zambeze (estu­ Subsídios para o estudo das variedades das
do económico-agrícola do norte, centro e nor­ palmeiras do azeite, de Angola (em colabora­
deste do distrito de Benguela—1905. ção com Avelino Nunes de Almeida).

César Justino de Lima Alves


Professor da Cadeira de Zootecnia e Higiene pecuária

Engenheiro-agrónomo (1894).
Nomeado professor ordinário do Instituto por Decreto de 9 de Maio de 1911.
Anteriormente fôra ajudante do preparador do Laboratório de química
agrícola do mesmo Instituto (1885) e depois preparador, por Decreto de 22 de
Dezembro de 1886.
Passou depois a desempenhar o cargo de chefe de serviço, para que foi
nomeado por Decreto de 29 de Março de 1906.
Exerceu o cargo de Director do Instituto de 1915 a 1918.
Preparador do Laboratório de química da antiga Escola Politécnica (1893).
Nomeado provisoriamente para 0 lugar de demonstrador das cadeiras de
Química da mesma Escola por Decreto de 5 de Outubro de 1898; e definitiva­
mente por Decreto de 8 de Fevereiro de 1900.
Primeiro assistente do 2.0 Grupo da Segunda Secção da Faculdade de
Sciências da Universidade de Lisboa, por Decreto de 8 de Fevereiro de 1911.
É sócio da Sociedade das Sciências Agronómicas de Portugal e da Socie­
dade de Química de Paris.
42 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Obras publicadas:

A alimentação azotada das plantas—1894. com 0 farmacêutico Carvalho da Fonseca—


Estrumes e adubos. 1910.
Biologia do núcleo celular—1904.
Plantas úteis. Sua distribuição geográfica— Colaboração em vários jornais agrícolas
1906. especialmente no Arquivo Rural (1896-
Farmacopea portuguesa (em colaboração 1902).

Eduardo Alberto de Lima Basto


Professor da Cadeira de Thrematologia

Engenheiro-agrónomo (1902).
Foi nomeado professor do Instituto por Decreto de 15 de Maiodeiçni
tendo anteriormente desempenhado 0 cargo de chefe de serviço desde 30 de
Julho de 1906.
De 1902 até 1906 foi professor da Escola Nacional de Agricultura de
Coimbra.
Professor substituto da 4.a Cadeira da Escola Colonial de Lisboa (Decreto
de 12 de Setembro de 1908).
Chefe da secção dos serviços agronómicos do Ministério das Colónias (1912).
Chefe da repartição de ensino agrícola do Ministério da Instrução (1913).
Director geral da Instrução Agrícola do Ministério da Agricultura (1919).
Membro da comissão nomeada para estudar as condições em que se encon­
tra a indústria e o comércio dos vinhos (1914).
Enviado à Bélgica, em missão oficial, para o estudo de maquinaria agrícola.
Tomou parte no Congresso de Instrução Primária, em 1907, sendo o rela­
tor das teses sôbre o ensino primário agrícola.

Obras publicadas:

A fermentação alcoólica—1902. Introdução à fitopatologia—1908.


A cultura do tabaco nos países tropicais— O coqueiro na índia portuguesa —1908.
1906. O ensino agrícola em Portugal (conferência
A educação agrícola primária do povo por­ realizada na Associação Central da Agricul­
tuguês—1908. tura Portuguesa)—1914.

Joaquim Pedro da Assunção Rasteiro


Professor da Cadeira de Arboricultura e Horticultura

Engenheiro-agrónomo (1892).
Nomeado professor do Instituto por Decreto de 9 de Novembro de 1912,
tendo anteriormente sido nomeado chefe de serviço do mesmo Instituto (Decreto
de 10 de Janeiro de 1907).
Por despacho de 20 de Outubro de 1892, foi encarregado do estudo do
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 43

valor comercial dos mostos das diversas regiões do país e colocado para êste fim
no laboratório químico da i.a região agronómica.
Agrónomo do distrito de Bragança (Decreto de 20 de Fevereiro de 1898).
Colocado na estação químico-agrícola de Lisboa a fim de coadjuvar os estu­
dos agrológicos. Portaria de 25 de Maio de 1894.
Professor da Escola de Viticultura «Ferreira Lapa», 24 de Fevereiro de 1896
e encarregado da direcção da mesma escola. Despacho de 18 de Julho de 1896.
Chefe da 4>a secção da Repartição dos Serviços Agronómicos do Ministé­
rio das Obras Públicas, Comércio e Indústria (Laboratório de Patologia Vegetal).
Portaria de 6 de Setembro de 1898.
Nomeado Director Geral da Agricultura por Decreto de 14 de Dezembro de
1910, lugar que exerceu até Março de 1913, em que foi exonerado a seu pedido.
Encarregado, em comissão, do inquérito à cultura da cana sacarina e indús­
trias correlativas na Madeira. Portaria de 21 de Março de 1908.
Vogal do júri de apreciação das monografias rurais. Portaria de 30 de
Janeiro de 1911. /
Delegado de Portugal ao Congresso de Orizicultura de Vercelli, e encarre­
gado de visitar e estudar a organização das estações experimentais agrícolas de
Itália, Suíça, França e Bélgica. Decreto de 21 Setembro de 1912.
Nomeado para a comissão, a que presidiu, encarregada de rever o regime
sacarino da Madeira, e de apresentar ao Govêrno as normas do novo regime a
adoptar. Portaria de 19 de Junho de 1918.
Nomeado para a comissão encarregada de rever a legislação sôbre crédito
agrícola e de propôr as modificações a introduzir-lhe no sentido de facilitar as
operações respecdvas. Portaria de Fevereiro de 1920.
Foi durante sete anos membro da direcção da Associação Central da Agri­
cultura Portuguesa, 1903-1910, e nos últimos três anos, seu vice-presidente.
Fêz parte da primeira direcção da Sociedade de Sciências Agronómicas
de Portugal, e foi um dos seus fundadores.
Foi, como delegado da Associação Central da Agricultura Portuguesa, ao
congresso internacional do arroz em Valência, no ano de 1914.
Ainda como director da Associação da Agricultura, foi instalar a Caixa de
Crédito Agrícola de Pernes. Como director geral da Agricultura, inaugurou
idêntica instituição em Setúbal, e, em propaganda da mesma idea associativa foi
a Azeitão, onde se fundou outra caixa de crédito mútuo.
E sócio da Sociedade de Sciências Agronómicas de Portugal e do Instituto
de Coimbra.

Obras publicadas:

Em volume: 2.0—Fabrico e comércio do queijo em Por­


tugal— 1905.
x.°—Esbôço duma memória sôbre a econo- 3.0—A indústria leiteira em Portugal nas
mia agrícola da 4* região agronómica—1892. «Notas sôbre Portugal»)—1908.
44 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

4.0—O problema agrícola português—1909. 11.0— A próxima campanha contra o míldio


5.0— Estado da agricultura portuguesa—ma­ (in Arquivo Rural —1899).
les e remédios—1909. (Tese apresentada ao 12.0 —Fabrico de água-pé pelo processo de
Congresso Nacional). deslocamento ou difusão. Resultados de en­
6. °—Aires de Sá Nogueira—elogio histórico saios (in Arquivo Rural—1899).
— 1910. 13.0— Um insecto das oliveiras: Phleotribus
7. °—Éléments pour un memoire sur la cul- Oleae (in Arquivo Rural—1900).
ture du ris en Portugal. (Congrès Internatio­ 14.0— Estudos ampelográficos e cenológicos
nal de Vercelli)—1912. (in Boletim da Associação Central da Agricul­
8.°—O Estado e a Agricultura—1912. tura Portuguesa—1900).
9.0— O congresso internacional do arroz e a 15.0— O emprêgo das leveduras selecciona­
orizicultura na província de Valência—1914. das na vinificação—Resultados de ensaios (in
io.°—A instrução profissional agrícola femi­ Boi. da Associação C. da Agricultura Portu­
nina—1914. guesa—1901).
xx.°—Como se fazem queijos (n.° 13 dos 16.0— Sôbre a restrição ou proibição do
«Livros do Povo»)—1917. plantio de vinhas (in «Século» —1902).
12.0— Panegírico de João Inácio Teixeira de 17.0— Grau de resistência ao míldio de al­
Menezes Pimentel—1918. gumas castas de videiras portuguesas—Resul­
13.0 —Oração de Sapientia, lida na abertura tados de observações (in Revista Agronómica
solene das aulas da I. S. A. em 1917 —1918. —1903 — Transcrito em parte no «Centralblatt
fiir technische Bakteriologie—X band).
Artigos de jornais: 18.0— Estudo comparativo de algumas varie­
dades de trigo—Resultados de ensaios (in Re­
i.°—A emigração e o exército permanente vista Agronómica—1903).
—Sua influência na Agricultura Nacional (in 19.0— Caídas cupro-sulfuradas —Resultados
Portugal Agrícola—1891). práticos (in Revista Agronómica—1903).
2.0— O nosso comércio de vinho (in Jornal 20.0— Notas sôbre o fabrico do vinho branco
do Comércio—1891). —Resultados práticos (in Revista Agronómica
3.0— Plano de ensaios de vinificação pelo -I9°5)-
emprego das leveduras seleccionadas (in Por­ 21.0— Aplicações agrícolas e industriais do
tugal Agrícola —1893). sôro de leite (in Revista Agronómica—1906).
4. °—O emprêgo do sulfureto de carbónio 22.0— A favor das árvores (in «Jornal do
nas suas relações, com o estado físico do solo Comércio»—1906).
(in Portugal Agrícola—1894). 23 o—O queijo de Roquefort (in Portugal
5. °—As videiras francesas e os vinhos por­ Agrícola—1906).
tugueses (in Portugal Agrícola —1897). 24.0— Oídio em 1906—Intensidade dos seus
6. °—A podridão negra—Black rot—(in A Vi­ efeitos sôbre algumas castas de videiras—Re­
nha de Torres Vedras—1897). sultados de observações (in Revista Agronó­
7.0—Convirá ou não desparrar a vinha ? mica— 1906)—cit. in Bibliografia de Travesso
— Resultados de ensaios (in Arquivo Rural e Spessa—La Flora Micológica del Portogallo.
— 1898). 25.0— Um sindicato agrícola em formação
8.°—Um processo de fabrico de água-pé. (in «Diário de Notícias»—1909).
Resultados de ensaios (in Revista Agrícola 26.°—Dr. Júlio Henriques (in Instituto de
-1898 ). Coimbra—1918).
9.0— Podas e empas (in Arquivo Rural — 27.0— Um passeio a Azeitão—Aspecto da
1899). sua fruticultura (in Agros —1918).
lo.°—Doença dos batatais (in Arquivo Ru­ 28° — Da terminologia agrícola portuguesa
ral -1899). (in Agros—19x9).
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 45

Bernardo de Oliveira Fragateiro


Professor da Cadeira de Culturas Coloniais e Silvicultura colonial

Engenheiro-agrónomo (1899).
Nomeado chefe de serviço colonial do Instituto por Decreto de 19 de
Agosto de 1907; professor por Decreto de 15 de Maio de 1911.
Director substituto do Jardim Colonial de Lisboa (em exercício durante
cêrca de 7 anos).
Anteriormente, agrónomo do distrito do Congo (1902 a 1907).
Sócio da Sociedade de Sciôncias Agronómicas.

Obras publicadas:
Breves noções sôbre a vida Intima das abe­ Na Revista Agronómica:
lhas (1890).
Le caoutchouc dans les colonies portugaises O distrito do Congo sob o ponto de vista
(estudo apresentado ao Congresso Internacio­ agrícola. O presente e o futuro do Agrónomo
nal d.e Agronomia tropical, de Bruxelas, em no Ultramar (Conferência —1904).
1910) por C. E. de Melo Geraldes e B. de Oli­ Boletins mensais do pôsto meteorológico
veira Fragateiro (colaboração na parte rela­ de Cabinda—1905-1906.
tiva à Guiné e ao Congo português). Relatório da missão de estudo ao Jardim
Vários relatórios sôbre serviços agronómi­ de ensaios de Liberville—1905.
cos a seu cargo entregues na Secretaria do A cultura do algodão no distrito do Congo
Governo do distrito do Congo. —1907.

Acrísio Canas Mendes


Professor da Cadeira de Agricultura Comparada e História da Agricultura

Engenheiro-agrónomo (1905).
Nomeado professor do Instituto por Decreto de 7 de Março de 1914, tendo
exercido anteriormente o lugar de chefe de serviço.
Professor auxiliar da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra (1906).
Em 1909, foi em missão à Ilha de S. Tomé, com o professor José Joaquim
de Almeida, estudar as doenças do cacau.
Professor e Director da Escola Prática de Agricultura de Queluz (1915).

Obras públicadas:
Um caso especial de arborização —1905. Mycetee aliquot et insecta pauca Theobro-
Les plus graves maladies du cacaover à mee cacao in Sancti Thomensis Insula (de
S. Thomé (de colaboração com o professor colaboração com o professor Sousa da Câ­
José Joaquim dc Almeida) — 1910. mara—1910.
46 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Domingos Alberto Tavares da Silva


Professor da Cadeira de Viticultura e Ampclografta

Engenheiro-agrónomo (1900).
Nomeado professor do Instituto por Decreto de 7 de Março de 1914.
Anteriormente professor auxiliar da Escola Nacional de Agricultura de
Coimbra (Despacho ministerial de 26 de Novembro de 1902) e professor técnico
da mesma escola (Decreto de 9 de Novembro de 1904).
Agrónomo do distrito de Benguela (1901 a 1902).
Tem desempenhado várias comissões de serviço tais como:
Extinção dos gafanhotos no distrito de Castelo Branco (1901) ;
Estudos ampelográhcos da região vinícola de Colares (1908);
Estudo dos mostos do distrito da Guarda (1910);
Estudo das condições em que estavam funcionando as escolas agrícolas de
Santo Tirso e de Taboaço (1915).
Foi incumbido de estudar os meios de adaptar o edifício do Convento de
Cocujães ao estabelecimento duma colónia agrícola penal (1911).
Em 1905, foi encarregado pela Sociedade de Sciências Agronómicas, de
fazer o estudo vitícola do Algarve.
Sócio da Sociedade de Sciências Agronómicas de Portugal.
Tem publicado as seguintes obras:
Considerações sòbre a necessidade da cul­ Enxertia da videira no lugar definitivo.
tura intensiva dos cereais panificáveis. O sistema radicular das videiras america­
As podas em viticultura. nas e a sua resistência à secura.
Decantação, lavagem e filtração do azeite Eabrico de estrumes.
(relatório apresentado para discussão ao Con­ A-propósito do falecimento de Eduardo de
gresso de Leitaria, Oleicultura e Industriado Sequeira.
azeite, em Lisboa em 1905). O míldio e as caídas.
Sòbre a cultura da vinha no Algarve. Adubo económico.
Sôbre a ampelografia de Colares. Poda Guyot.
Sòbre o estabelecimento duma colónia agrí­ Sistemas de poda.
cola penal no Convento do Couto de Cocujães. Prática da enxertia da vinha.
Sôbre as escolas agrícolas de Santo Tirso Época da poda.
e do Taboaço. A enxertia na cultura da vinha.
A-propósito do falecimento de Menezes Pi-
Em diversos jornais : mentel.
Enxertia na mão.
Sôbre a agricultura da Bairrada. Regentes agrícolas.
Cartas de Benguela (Economia). A escola de Coimbra.
A agricultura oficial nas Colónias. Cultura da vinha pelo sistema Desbois.
Sôbre adubos catalíticos (planos de expe­ Conferência sòbre Alexandre Herculano
riências). por ocasião do seu centenário, promovida
Adubação das vinhas. pela Academia de Coimbra.
O tempo e a cultura da vinha. Consultas na Gazeta das Aldeias, sôbre
Defesa contra o míldio e o oídio. química agrícola, ampelografia e viticultura,
As podas em verde. silvicultura, oleicultura, laticínios, culturas
Análises de terras. coloniais (desde 1913).
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 47

Mário de Azevedo Gomes


Professor da Cadeira de Silvicultura e Tecnologia Florestal

Engenheiro-agrónomo (1907).
Foi nomeado professor substituto do Instituto Superior de Agronomia por
Decreto de 7 de Março de 1914; professor catedrático de Silvicultura por Decreto
10 de Fevereiro de 1915 e professor ordinário (designação vigente) por Decreto de
de 20 de Setembro de 1917.
Exerceu no antigo Instituto de Agronomia e Veterinária as funções de pre­
parador (Portaria de 18 de Janeiro de 1908); na Escola Nacional de Agricultura
de Coimbra, de 12 de Novembro de 1909 até 12 de Abril de 1914, as funções de
professor técnico (Decreto de 3 de Novembro de 1909); continuou, em comissão,
no exercício destas funções, sendo já professor substituto do Instituto Superior
de Agronomia, até 15 de Outubro de 1914, por Decreto de 18 de Abril do
mesmo ano.
Exerceu por duas vezes, interinamente, e no impedimento, emquanto Minis­
tro, do professor Lima Basto, as funções de Chefe da Repartição de Instrução
Agrícola no Ministério da Instrução (Decreto de 26 de Dezembro de 1914 e de
11 de Maio de 1917).
Fêz parte do Conselho de Ensino Agrícola desde a sua criação (Fevereiro
de 1914 até ao térmo de 1917) como vogal, representando o Instituto Superior de
Agronomia, eleito pelo respectivo Conselho Escolar.
Desempenhou-se, incumbido pelo Govêrno, por Decreto de 24 de Abril de
1915, de uma missão de estudo em algumas Universidades dos Estados-Unidos
da América do Norte, juntamente com o professor Rui Ferro Mayer do Instituto
Superior de Agronomia.
Desempenhou-se, por encargo da Comissão, Executiva da Conferência da
Paz, da incumbência de elaborar uma « Memória acêrca da situação económica da
Agricultura portuguesa ».
Foi nomeado, por Decreto de 20 de Outubro de 1919, Director Geral da
Instrução Agrícola no Ministério da Agricultura, funções que está exercendo.
É vogal do Conselho Técnico Florestal do Ministério da Agricultura.
É sócio da Sociedade de Sciências Agronómicas de Portugal.

Obras publicadas:
Aspectos da questão do açúcar. 1907. A Situação económica da Agricultura por­
A Fisiologia Vegetal nas suas relações com tuguesa. 1920.
a Agronomia. 1909.
Sôbre as diátases. 1914. Tem colaborado no Portugal Agrícola (com
A Universidade Americana nas suas rela­ artigos especialmente sôbre adubações), na Ga­
ções com o público. A Extensão Universitá­ zeta das Aldeias, na Revista Agronómica, no
ria e os progressos da Agricultura. 1916. Agros (órgão da Associação dos Estudantes
A Utilidade das Árvores (Folheto de pro­ de Agronomia) com artigos sôbre ensino agrí­
paganda nos Livros do Povo). 1917. cola, terminologia florestal portuguesa, etc...
48 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Adolpho Augusto Baptista Ramires


Professor da Cadeira de Microbiologia agrícola e técnica microscópica

Engenheiro-agrónomo (1894).
Nomeado, por Decreto de 20 de Junho de 1914, professor substituto do Ins­
tituto, onde já havia desempenhado 0 cargo de chefe de serviço, de 1895 a 1899.
Promovido a professor catedrático por Decreto de 13 de Março de 1915.
Anteriormente havia desempenhado os seguintes serviços:
Analista da Estação Químico-agrícola de Lisboa (1894-95).
Incumbido da organização do antigo Laboratório da Inspecção de Vinhos e
Azeites (1896).
Professor técnico da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra (1899).
Incumbido em 1911 da reorganização desta escola, de que foi nomeado director.
Missão de estudo à ilha da Madeira (1904).
Tomou parte no Congresso de Leitaria e Oleicultura de Lisboa, em 1905,
como relator das teses VI e XIV, cujos relatórios foram traduzidos em francês e
publicados no Boletim do Ministério da Agricultura de França.
No mesmo ano foi a Espanha examinar o plano duma exploração rural
moderna, a pedido duma emprêsa espanhola, concorrente ao prémio do fomento
criado pela lei Vilaverde, sendo o respectivo relatório traduzido em espanhol e
publicado naquele país.
E sócio do Instituto de Coimbra.

Obras publicadas:

As indústrias do leite—1894. A análise dos adubos químicos (Portugal


Um caso agrícolo-legal—Relatório Judicial Agrícola) —1898.
—1897. A degenerescência do género Vitis (Anais
Notas de entomologia portuguesa: Corcebus de Sciências Naturais—1896).
undatus e C. bifasciatus—1898. Raças leiteiras: Critério industrial da sua
Fabrico e Comércio da manteiga em Portu­ escolha (Portugal Agrícola—1901).
gal -1905. Contribuição para o estudo das variações
A lacticultura em Portugal (Broteria). da função lactogénica (Instituto de Coimbra
Alterações e falsificações do leite, manteiga —1907).
e queijo—1905 (Estas duas obras são os rela­ A lacticultura em Portugal. Evolução eco­
tórios do Congresso de Leitaria). nómica e tecnológica nos últimos 40 anos
Explotacion agronómica de la Finca de Pias (Boletim da Direcção Geral da Agricultura).
(relatório da missão a Espanha)—1905. Questões de higiene pública relativas ao
Leitaria moderna—1908. leite (Revista Agronómica).
A anfibiose na fermentação alcoólica—1914. Essais sur la matière colorante des vins
A amfibiose e metabiose microbiana—1918. (Revista de Química pura e aplicada).

Alberto Correia Pinto de Almeida


Professor da Cadeira de Mecânica Racional e Teoria Geral de Máquinas

Engenheiro-agrónomo (1900).
Foi nomeado professor substituto do Instituto por Decreto de 20 de Junho
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 49

de 1914 e promovido a professor ordinário por Decreto de 20 de Setembro do


mesmo ano.
Director da Estação de Ensaio de Máquinas Agrícolas.
Sócio correspondente do Instituto de Coimbra.
Tem desempenhado os seguintes cargos:
Analista interino do Laboratório da Inspecção de Farinhas e Pão (1899).
Agrónomo do distrito de Beja (1901).
Chefe de serviço (1902) e depois professor (1904) da Escola Nacional de
Agricultura de Coimbra.
Professor interino do Liceu Central de Coimbra (1909).
Chefe da i.a Repartição, exercendo interinamente as funções de Director
Geral, do extinto Ministério das Subsistência e Transportes (1918).
Inspector dos Serviços de Instrução Agrícola (1918).
Fêz parte da Comissão encarregada de inspeccionar as fábricas de moagem
do centro e sul do país (1900), e da que foi encarregada duma visita de estudo
à Exposição Agrícola do Pôrto em 1903.
Tomou parte no Congresso de Leitaria e Oleicultura de Lisboa em 1905.
Fêz parte da Comissão encarregada de proceder a ensaios comparativos
do trabalho dos tractores agrícolas, adquiridos pelo Estado, e de indicar os que
devem ter preferência nas diversas regiões do país (1918).
Incumbido de ir ao estrangeiro para escolher o material destinado à Esta­
ção de Ensaios de Máquinas Agrícolas, e visitar os estabelecimentos congéneres,
assistindo a ensaios e experiências do material de lavoura mecânica nos diver­
sos países, a fim de orientar-se na feição a imprimir aos serviços da Estação a seu
cargo (1919)-

Obras publicadas:
Planos e modelos de lagares de azeite (rela- Planos e modelos de leitaria (Relatório apre-
tório.—1905). sentado no mesmo Congresso).

Rui Ferro Mayer


Professor da Cadeira de Hidráulica Geral e Agrícola

Engenheiro-agrónomo (1912).
Nomeado professor substituto por Decreto de 20 de Junho de 1914 e pro­
fessor ordinário por Decreto de 14 de Agosto do mesmo ano.
Encarregado, com o professor Azevedo Gomes, duma missão de estudo
aos Estados-Unidos (Decreto de 24 de Abril de 1915).
Tem sido incumbido de vários estudos e projectos de albufeiras e outras
obras hidráulicas em vários pontos do país, entre outros do estudo da modifica­
ção duma barragem e do melhoramento da irrigação da Escola Prática de Agri­
cultura de Santo Tirso (Portaria de 24 de Dezembro de 1917).
5° ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Tem exercido a sua actividade profissional como engenheiro consultor,


tendo projectado várias albufeiras, achando-se actualmente encarregado do estudo
dum projecto de irrigação e caminho-de-ferro agrícola no Vale do Buzi (África
Oriental).
Membro da Comissão Central de Orizicultura.
Sócio da.Sociedade de Sciências Agronómicas e da Associação Central da
Agricultura Portuguesa.

Obras publicadas:
A Comercialização da Agricultura—1912. Variação e Hereditariedade. Tendências e
Os Métodos Biométricos e as suas aplicações problemas actuais (Rev. Agronómica)—1914.
em Thremmatologia—1914. A Biometria e as Sciências Agronómicas
A Universidade Americana —1916. (Conferência).
A Alimentação do Gado, pelo Dr. Kellner La Production Agricole Portugaise (no jor­
(Tradução)—1912. nal: Le Temps)—1911.

PROFESSORES INTERINOS

Fernando de Vasconcelos

Coronel de engenharia.
i.° assistente da Secção de Matemática da Faculdade de Sciências de Lisboa.
Foi nomeado para reger interinamente a Cadeira de Cálculo diferencial,
integral e de probabilidades do Instituto Superior de Agronomia.

Obras publicadas:
Análise espectral (1892). A intensificação das culturas cerealíferas em
Organização administrativa e analfabetismo Portugal (Conferência no Ateneu Comercial de
(1910). Lisboa—1917).
Sur Ia rotation des forces autour de leurs A rotina e o trabalho scientificamente orga­
points d'application et Péquilibre astatique nizado. O taylorismo (In Atlântida e Revista
(in Anais da Acad. Politécnica do Porto — das Obras Públicas e Minas—1918).
1912). História das Matemáticas na antiguidade (Em
Sôbre a rotação das fôrças à roda dos pon­ publicação nos Anais da Universidade de Lis­
tos de aplicação e o equilíbrio astático (Memó­ boa).
ria mandada publicar pela Academia das Sciên­ Colaboração na imprensa diária sôbre ques­
cias de Lisboa —1912). tões económicas e administrativas.

Vitor Hugo Duarte de Lemos


Tenente de artilharia a pé.
Licenciado em Matemática pela Faculdade de Sciências da Universidade de
Lisboa (1918).
Assistente efectivo da Faculdade de Sciências de Lisboa (1918).
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 51

Nomeado pelo govêrno para fazer parte da comissão encarregada do estudo


do fabrico da acetona (1918).
Foi nomeado para reger interinamente a Cadeira de Matemáticas Gerais,
do Instituto Superior de Agronomia (1919).
Lente adjunto provisório das cadeiras 8.a, 9.a e io.a da Escola de Guerra
<1918).
É sócio da Sociedade de Estudos Pedagógicos.

Publicou:
Processos astronómicos expeditos para a
determinação do azimute duma direcção, 1 vol.
<x9r9 )•

ASSISTENTES

José Luiz de Saldanha Oliveira e Souza


Engenheiro-agrónomo (1905).
Assistente provisório do Instituto por Decreto de 20 de Dezembro de 1919.
Tem o curso de Bibliotecário-arquivista, da Faculdade de Letras de Lis­
boa (1912).
Professor da Escola de Agricultura de Queluz (1918).

Obras publicadas:
Regimen da propriedade rural em Portugal
<I9°5 )•
Colaboração no Arqueólogo Português.

D. Manoel Libanio Ribeiro da Silva de Bragança


Engenheiro-agrónomo (1913).
Assistente provisório do Instituto por Decreto de 20 de Dezembro de 1919.
Engenheiro-agrónomo ajudante do quadro do Ministério da Agricultura
(I9I5 )•
Colocado na 21.a Secção da 3.» Circunscrição (Évora) (1915).
Professor da Escola Técnica Secundária de Agricultura de Santarém
(1915-1916).
Adjunto na Repartição Técnica da Secção de Serviços Agrícolas da Direc­
ção Geral de Agricultura (1907).
Membro da Comissão encarregada de elaborar o inventário para o arren­
damento da fábrica de adubos da Póvoa de Santa Iria (1917).
52 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Consultor no Centro de Informações Comerciais Agrícolas da Direcção


Geral do Comércio Agrícola (1918).
Sócio da Sociedade das Sciências Agronómicas de Portugal.

Obras publicadas:
O gado ovino em Portugal e o seu melhora­ las, económicas e zootécnicos publicados
mento (Conferência na Associação Central da no Portugal Agrícola, no Boletim da Associa­
Agricultura Portuguesa). ção Central da Agricultura e no Século Agrí­
Diversos trabalhos sôbre assuntos agríco­ cola.

Jaime Boaventura de Azevedo


Engenheiro-agrónomo (1916).
Assistente provisório do Instituto, por Decreto de 20 de Dezembro de 1919.
Anteriormente exerceu o cargo de professor técnico na Escola Nacional de
Agricultura de Coimbra e depois de chefe da 2.a divisão da Direcção Geral da
Instrução Agrícola.
Fêz parte da comissão nomeada por Portaria de 21 de Janeiro de 1918 para
tratar da reforma do ensino agrícola.
Sócio da Sociedade das Sciências Agronómicas e da Sociedade Química
Portuguesa.

Obras publicadas:
Breves considerações sôbre a análise quí- da Agricultura», tendo a seu cargo a secção:
mica das terras—1916. Através das Revistas Nacionais e Estrangei-
Colaboração no «Boletim do Ministério ras.

Artur Saraiva de Castilho


Engenheiro-agrónomo (1918).
Assistente provisório do Instituto por Decreto de 20 de Dezembro de 1919.
Por Decreto de 8 de Maio de 1918 entrou no quadro do Ministério da Agri­
cultura, sendo colocado na Direcção de Economia e Estatística agrícola.
Foi encarregado dos serviços de propaganda e colheita de dados estatís­
ticos nos distritos de Aveiro, Pôrto, Braga e Viana do Castelo (1918 a 1919),
iniciando ao mesmo tempo um estudo especial sôbre as instalações oleotécnicas e
sôbre a indústria dos lacticínios no distrito de Viana do Castelo, e realizando uma
conferência a pedido da Direcção do Sindicato Agrícola de Caneço sôbre: As
águas, os estrumes e a selecção das sementes.
É director da Sociedade de Sciências Agronómicas.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 53

Obras publicadas:

Manual de Instrução Agrícola na Escola Pri­ Inventariação pomícola na Beira duriensê.


mária (Pôrto—Renascença Portuguesa —1916). As frutas e a guerra.
A amendoeira e a sua exploração económica As nossas frutas no Brasil (amêndoas, ave­
—1917. lãs, castanhas, maçãs, uvas verdes).
Uma planta preciosa.
Na Vida Portuguesa:
O Heliotropio.
Pela formação dum partido agrário—1916.
Em Peta Gtei (suplemento n.° 1):
No Agros:
A lagarta da amendoeira. Esboço dum programa de fomento agrícola
Questionário aos agrónomos, lavradores, etc. (em colaboração com o sr. Ezequiel de Cam­
A fruticultura no Minlio. pos).
Os congressos regionais.
Um agrónomo modêlo. Dirigiu durante dois anos (sendo ainda estu­
dante) a revista Agros e actualmente a Pomo-
Na Pomologia Moderna: logia Moderna onde redige a secção: Consul­
Inventariação pomícola. tório Agrícola.

PROFESSOR DO CURSO ESPECIAL DE DESENHO

Luiz José Lourenço da Silva

Diplomado pela Academia Portuense de Belas Artes (1879).


Foi nomeado professor auxiliar do curso.de desenho do Instituto em 1885,
tendo ficado na situação de adido por ter sido suprimido êsse curso em 1886.
Entrou novamente em serviço, como professor efectivo, por Decreto de 4 de Ou­
tubro de 1911.
Exerceu o cargo de desenhador na Repartição de Obras Públicas do dis­
trito de Lisboa (1882 a 1885).
Durante o tempo em que esteve adido, prestou serviço como desenhador,
primeiro na secção dos Estudos Agrológicos, e depois 11a Estação Agronómica
de Belém.
É autor de várias obras de arte, algumas das quais se encontram na gale­
ria da Academia das Belas Artes do Pôrto, e no Instituto Superior de Agronomia.
Tem escrito artigos em alguns jornais tais como na Ilustração Portuguesa,
Século, Diário de Noticias e no Agros (jornal dos estudantes do Instituto).
DOCUMENTOS OFICIAIS

Engenheiros agrónomos e regentes agrícolas


REPRESENTAÇÃO DIRIGIDA E ENTREGUE AO PARLAMENTO
PELOS PROFESSORES DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA, A-PROPÓSITO DOS DECRETOS
N.os 5.627 E 5.787 DDD DE IO DE MAIO DE I919

Junto do Parlamento veem os engenheiros- de medidas que usurpam e ferem os seus di­
-agrónomos, professores do Instituto Superior reitos.
de Agronomia, reclamar contra disposições de Já da entrevista com o sr. Ministro da Agri­
recentes decretos atentatórios dos seus direi­ cultura, o Conselho Escolar tinha deduzido que
tos, erradas na significação e seu fim legitimo. nenhuma resolução justa era de esperar de S.
Referimos-nos aos decretos com fôrça de lei Ex.a, cuja atitude apenas correspondeu à defesa
n.os 5 627 e 5.787 DDD, ambos com data de 10 da classe dos regentes agrícolas, de que S. Ex.a
de Maio próximo passado, publicados respecti- é um dos mais ilustres ornamentos, mas que
vamente a 16 e 30 do mesmo mês, no 6.° e 21.0 nenhum dos reclamantes atacou, e que de ne­
suplementos do Diário do Govêrno n.° 98, e es­ nhum recebeu ou receberá agravos, porque a
pecialmente aos artigos 8.° do primeiro, e i.°, consideramos tão prestimosa como a nossa, e
2.0 e 4.0 do segundo, na parte dêste último que tão necessária como a nossa no trabalho em
altera o artigo 283.0 do decreto com fôrça de comum (mas especializado) a favor da agricul­
lei n.° 4.249 de 8 de Maio de 1918. tura do país. Ambas teem importantíssimo pa­
Perante o sr. Ministro da Agricultura, prin­ pel a desempenhar, mas cada uma na sua esfera
cipal responsável dêstes decretos, e perante o de acção bem distinta: e assim é necessário,
sr. Presidente do Ministério, como chefe do para a ordem e proficuidade no esfôrço e como
poder executivo que os referendou, representou conseqúência lógica da sua preparação scien-
em primeiro lugar o Conselho Escolar do Ins­ tífica.
tituto Superior de Agronomia, que é certamente É em vista do nenhum resultado das nossas
a entidade mais directamente visada e interes­ representações ao Govêrno, que vimos junto do
sada na doutrina e realização das disposições Parlamento não protestar, porque até agora
daqueles artigos, por ser a escola onde se for­ êste Poder do Estado responsabilidade alguma
mam os engenheiros agrónomos e silvicultores, tem sôbre a promulgação dos decretos referi­
por ser um estabelecimento de ensino superior, dos, mas representar contra algumas disposi­
único com categoria para diplomar engenhei­ ções nêles contidas, usurpadoras de direitos
ros, como aliás é ponto assente em todos os da classe agronómica, de nulo proveito para a
países onde há uma séria organização de ensino, economia da nação.
onde a sua hierarquia se firma numa razão de Estamos certos de que as razões alegadas
ser scientifica, e portanto os títulos dos diplo­ levarão o Parlamento a reconhecer a justiça
mados correspondem à natureza e fins dos cur­ da nossa reclamação e portanto a anular os
sos, e não a meros caprichos legislativos. artigos visados, que constituem, no fim de con­
A representação do Conselho do Instituto tas, a única razão de ser dos decretos n.°s 5.627
sucedeu à iniciativa de protesto de tôda a classe e 5.787 DDD.
agronómica e silvícola, que aos membros do A organização do ensino médio agrícola, de
Govêrno se dirigiu, não alcançando, penoso é que o primeiro se ocupa, é, na ideia e em mui­
dizê-lo, poder ser recebida por S. S. Ex.as, a tas das palavras, o decreto com fôrça de lei de
quem desejava manifestar respeitosa, mas con- 26 de Maio de 1911, alterado em duas disposi­
yictamente, 9 $eu desgôsto pela promulgação ções que, quanto a nós, peoram e não melho­
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 55

ram a anterior organização; referem-se ao au­ scientífico, sem mostrar inexacta compreensão
mento do limite de idade para a admissão dos do sentido do termo «engenheiro», sem revelar
alunos, e à conversão do antigo ciclo comple­ o legislador que confundia funções e hierarquia
mentar de estudos, de freqúéncia facultativa, dos serviços, e, fundamentalmente, a organiza­
em parte integrante e obrigatória do curso. ção scientífica e técnica do Instituto Superior
Mas disto não curamos, e apenas se traz, e duma escola secundária.
como prova de que a mira real do decreto de O recente decreto de 10 de Maio atenta por­
io de Maio foi a criação do titulo de engenheiro tanto contra as regalias ds Instituto Superior
agrícola. de Agronomia, e contra os direitos dos seus
O acréscimo de vencimentos a professores e diplomados, que são todos os agrónomos e
outros funcionários do ensino médio, medida silvicultores portugueses.
justa e necessária, não importava a promulga­ Os únicos argumentos, aduzidos no relatório,
ção dum decreto com 277 artigos; a anterior a favor do novo título são: i.° a equivalência
organização das escolas nacionais de agricul­ do régisseur (o nosso regente) ao baixo têrmo
tura não precisava de modificações, ninguém «abegão»; 2.0 a antiga aspiração da classe dos
de autoridade as reclamou, nem afinal as teve, regentes agrícolas; 3.0 o diploma conferido pe­
a não ser nos dois pontos atrás citados, com- las escolas médias agrícolas francesas. Nenhu­
quanto no respectivo relatório se afirme com ma destas circunstâncias se dá.
certa pompa que, em vista da necessidade de Abegão, segundo o Dicionário Contemporâ­
intensificar a produção agrícola nacional, se neo, é derivado do grego Boukaios, guarda de
reforma o ensino agrícola médio, que afnal se bois; e é esta em português a sua acepção
não reforma senão no título dos diplomados, o mais geral, comquanto em algumas regiões, o
que não julgamos constituir matéria fertilizante abegão seja encarregado da capatazia dos ser­
do solo português. viços da propriedade, quando esta, aliás, nâo
Começámos por acentuar que êstes decretos excede um certo arranjo agrícola.
continham matéria atentatória dos direitos dos Bluteau define-o «aquêle que tem cuidado do
engenheiros agrónomos e silvicultores, e com­ carro, bois, etc., e vai lavrar como criado do
portavam disposições erradas na significação e lavrador». «Abegoaria é a Villaris de Plínio, e
sem fim legítimo. Villisatio a administração do abegão».
Não fazemos aqui, é evidente, a apreciação Ora régisseur não corresponde tal a abegão.
de todo o decreto n.° 5.627 porque isso não im­ Aquêle têrmo francês, conforme o Nouveau
porta ao nosso ponto de vista, e mesmo e so­ dictionaire classique de la langue française de
bretudo porque o que dêle ressalta é: o reco­ Bescherelle, é celui qui régit;—régisseur d’un
nhecimento completo e oficial da boa obra do dotnaine, d'une terre. Règir significa, segundo o
Govêrno Provisório em matéria de serviços mesmo clássico dicionário, soigner e faire aller
agrícolas, que muitos contrariaram, alguns des­ quelque chose dont on a la conduite—un bien, une
truíram, e pouquíssimos se deram ao trabalho terre.
de a conhecer, pela pecha ingénita, muito vul­ Littrè confirma estas definições.
gar entre nós, de tratar os assuntos pela rama, O regisseur dirige ou administra uma pro­
ou por falta de orientação intelectual em ques­ priedade agrícola.
tões de ensino e nos meios de adquirir sciência. A legislação francesa apôs-lhe o explicativo
A organização do ensino médio, decretada «agricole» para designar o diplomado com um
em 26 de Maio de 1911, teve detractores: devem curso técnico.
reaparecer, agora, visto que, oito anos passa­ Entre nós, regente, na acepção lata, é o que
dos, se persiste, quanto a muitos pontos cen­ rege, que governa, que dirige: — regente dum
surados, no mesmo êrro. colégio, dum recolhimento, duma orquestra.
O que a organização de 1911 não fêz foi con­ Apondo-se-lhe «agrícola», especializa-se a «re­
ferir aos diplomados das nossas escolas nacio­ gência» a uma propriedade rústica, e, como
nais de agricultura o título de engenheiro-agrí­ têrmo consagrado na nossa legislação há mais
cola ; e não o fêz porque o não podia fazer de meio século, é um diplomado com um curso
sem ofensa da mais rudimentar noção de direi­ técnico que o habilita a reger, a dirigir uma ex­
to, sem menoscabo dum elementar princípio ploração agrícola.
56 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRNOMIA

São os regentes agrícolas da antiga Quinta agrícola e por seu turno se especializam con­
Regional de Sintra, da Escola Morais Soares de forme os interêsses económicos da região em
Santarém, da Escola Nacional de Agricultura que assentam.
de Coimbra, cujas honrosas tradições e bons Assim,a de Grignon dedica-se particularmente
serviços agora se quiseram apagar, cobrindo-os à grande cultura, ao cultivo dos cereais, de for­
com a mal talhada capa de engenheiros-agrí­ ragens e de plantas industriais, zootecnia e in­
colas, que, se diz, vir satisfazer uma antiga as­ dústrias agrícolas do norte da França; a de
piração da classe, quando mais nos parece vir Montpéllier especializa-se sobretudo nas cultu­
sòmente aquentar alguns dos seus membros, a ras mediterrâneas (vinha e olival), cria de ovi­
quem menos calor fornecem o antigo título e nos, sericicultura, vinificação e oleiotécnia; na
a bem entendida ufania da sua profissão. de Rennes estudam-se em particular os lacticí-
«Mais do que o título, o que importa ao país nios e a cidra, a particultura e as culturas e
nesta matéria, é que a habilitação dos nossos indústrias rurais próprias do ocidente francês.
novos técnicos seja tal que dêles se possa es­ Abaixo destas estão as Écoles pratiques d’A-
perar uma eficaz e benéfica intervenção no griculture, que são os institutos de ensino mé­
melhoramento das condições actuais da nossa dio, equivalentes às Landwirtchafschulen ale­
lavoura.» mãs, aos Agriculiural Colleges de Inglaterra, às
São palavras textuais do relatório que pre­ Agricultural Secondary Schools americanas, às
cede o decreto, àparte o itálico do têrmo novos, Scuola Pratiche de Agricoltura de Itália, às espa­
que não vem a-propósito. nholas Escuelas de Peritos Agrícolas.
É de aceitar tal doutrina:—para que se criou Depois ainda veem, em França, as Fermes—
então novo título (e não novos técnicos), e um Écoles. De modo que as Écoles pratiques d’Agri-
título errado? culture são intermédias entre as escolas nacio­
Mas, comquanto efectivamente o valor do ho­ nais e as granjas escolas.
mem importe mais do que o título, êste deve Em Portugal não temos nem esta gradação
corresponder às habilitações scientíficas e ao de instituições agrícolas de ensino, nem mesmo
grau da escola que o confere; aliás é uma inu­ alguns dos seus tipos.
tilidade, ou melhor uma falsidade, ou ainda Não os temos, nem os comporta a nossa su­
melhor, um atropêlo dos direitos daqueles que perfície territorial nem as nossas condições
teem a faculdade de o conferir e de o usar. agrícolas.
O argumento de que as escolas nacionais de Entre nós funciona o Instituto Superior de
agricultura francesas dão modernamente aos Agronomia, como única escola superior de
seus diplomados o título de ingeniettr agricole agricultura, que forma engenheiros agrónomos
não ê de molde a estear a inovação portuguesa. e silvicultores. Em sucessivo grau de ensino
As Escolas Nacionais de Agricultura são, em temos as escolas nacionais de agricultura, que
França, a de Grignon, a de Montpéllier e a de professam a instrução média, e que, conquanto
Rennes. iguais na nomenclamra, não são equivalentes
Comquanto iguais no título, não se equipa­ às homónimas francesas actuais, pois que estas
ram perfeitamente entre si no programa dos são estabelecimentos superiores, pôsto que di­
seus estudos e no fim do seu ensino. versas, na sua índole, do Instituto Agronómico
Aquelas três escelas são institutos de cate­ de Paris.
goria superior, diversas, na sua especialização, Os preparatórios exigidos para a entrada nas
do Instituto Agronómico de Paris, como, no écoles nationales francesas são muito mais ele­
fim de contas, elas próprias, já o dissemos, di­ vados que os necessários para a admissão nas
ferem entre si. nossas escolas nacionais, que se resumem à
Êste desenvolve princiDalmente os estudos instrução primária.
scientlficos, prepara sobretudo para o alto en­ Abaixo dêste ensino médio, da escola de
sino agrícola e para os serviços técnicos ofi­ Coimbra, vem o elementar, ministrado, por
ciais ou privados; as escolas nacionais, além exemplo, nas escolas práticas de agricultura
dêste último fim, teem também o de preparar de Queluz e de Santo Tirso.
indivíduos destinados a dirigir as grandes pro­ Para o mesmo grau de ensino médio, se acha
priedades ou quaisquer explorações de carácter estabelecida a Escola Técnica Secundária de
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 57

Agricultura de Santarém, que data de 6 de Fe­ sos certas aptidões e conhecimentos que nou­
vereiro de 1915 (lei n.° 308), e frescamente al­ tros se devem restringir para alargar os doutra
vejado em suplemento 27.0 do Diário do Go- ordem.
vêrno n.° 98. Esta escola, desde 1915, dá a Por exemplo: a Patologia Vegetal deve en­
mesma instrução técnica da de Coimbra, mas trar no ensino elementar, médio e no superior:
diverge na preparação geral dos alunos, de mas sob o mesmo nome que diferença nas no­
que a organização de 19x1, cuidou, como abso­ ções a ensinar! No primeiro pouco se passará
lutamente necessária e correspondente perfei­ da mais vulgar, conquanto perfeita aplicação
tamente aos moldes em que se deve vazar êste dos tratamentos nas epifítias correntes; no mé­
ensino. dio já se ensinará o reconhecimento das doen­
O tipo de ensino completo ministrado na ças conhecidas; no superior estudar-se-ão a
Escola de Coimbra tem, desde 1911, as caracte- fundo os agentes mórbidos em tôda a sua etio­
rísticas clássicas da instrução própria das esco­ logia, o que importa conhecimentos de alta
las médias agrícolas. Ce dernier systeme, diz botânica e entomologia, de bacteriologia e de
De Vuyst e o confirmam outras autoridades em todo o arsenal micrográfico de que a grande
pedagogia agrícola, est préfèrable, d’autant plus sciência se tem de valer.
que, souvent, les élêves ont fait des études prêpa- Não há, a bem dizer, uma Patologia Vegetal
ratoires tnsuffisantes. elementar, outra média, outra superior: o que
Assim, além dos elementos das sciências fisi- há são ramos dessa Patologia, cujo estudo e
co-naturais, figuram no seu elenco de disciplinas aplicação competem aos profissionais dos di­
preparatórias, as línguas portuguesa, francesa e versos graus de instrução.
inglêsa, matemática e desenho, noções de so­ O mesmo sucede com outras sciências apli­
ciologia; como factores de educação física, os cadas.
trabalhos manuais, os jogos, a equitação, além Por isto e por outras razões a lista das dis­
da aprendizagem técnica metódica e dum re­ ciplinas duma dada escola, e mesmo, até certo
gime de vida higiénico. E isto porque les écoles ponto, os seus programas não nos dizem ao
ne doivent pas seulement avoir pour but la for- certo o desenvolvimento e o_carácter da instru­
mation de Pintelligettce, mais aussi celle de la ção nessa escola. A orientação do professor
volotité, du caractere, sutis lesquels on peut, cer- nas suas lições e o material de ensino que a
tes, instruire des professionels, mais sans les­ escola utiliza é que é o principal.
quels on ne forme pas des hommes». A nossa Escola Nacional de Agricultura cor­
Ora teve-se efectivamente a pretensão de, a responde muito mais, no ponto de vista técni­
par de técnicos, formar homens, de que em co—que é o que vale —a Ecole pratique d’Agri-
Portugal tanto se precisa. culture francesa ; são uma e outra escolas de
Mas êste lado do ensino, para a questão que categoria média, nada tendo qualquer delas
nos prende, não é capital. com o ensino técnico superior.
A instrução técnica ali ministrada é, para to­ A nossa legislação copiou títulos e nada
dos os efeitos, uma instrução de grau médio. mais.
Em todas as categorias de escolas agrícolas, Em tôda a parte a organização dos diversos
os cursos hão-de conter botânica, zoologia, fí­ graus de ensino é diferente, sendo necessaria­
sica, química, etc., quer sejam elementares, mente assim, porque nem em todos os países
quer sejam superiores: são sciências basilares as condições agrícolas são idênticas, e o ensino
dos cursos agrícolas. para ser profícuo, deve amoldar-se justamente
O que diverge em cada um dos graus é a aos variadíssimos aspectos económicos e so­
quantidade e a qualidade (digamos assim) dos ciais de cada país e de cada região.
conhecimentos físico-naturais ministrados. Não confundamos títulos com programas,
Na parte de sciências agrícolas acontece coisa não sejamos cegos nas adaptações, não bula­
semelhante, mas aqui é preciso fazer selecção mos com o ensino como sendo uma péla ôca.
mais da qualidade do que da quantidade das Digamos de passagem que, anexo à Univer­
noções professadas; visto que cada diplomado sidade de Lovaina, funciona um Instituto Agro­
vai ter sua função diversa, e seu ponto de apli­ nómico: nêle se professa o ensino superior de
cação diferente, necessita desenvolver nuns ca­ Agricultura, tendo os diplomados o título de
58 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

engenheiro-agrónomo; mas também se minis­ Engenheiro, definiu o Congresso, promovido


tra um curso de dois anos, visando a instrução em 1913, pela Land Grant College Engineering
puramente profissional de agricultores práti­ Association, é todo aquêle que procura tornar
cos, que é mister não confundir com o primeiro. proveitosos para a humanidade os materiais e
De longe a confusão pode dar-se. as fôrças da natureza.
Paralelamente ao que se dá em França, com Apelemos mesmo para a nossa língua, que
os graus conferidos pelos dois tipos de escolas por vezes é esquecida; ela não se opõe, era de
agrícolas superiores, sucede com o título de en­ prever, ao verdadeiro sentido em que deve ser
genheiro de minas, de pontes e estradas, etc. tomado o têrmo «Engenheiro». «Engenheiro»,
conferido pelas escolas superiores respectivas,a vem de «engenho», não há que duvidar; «en­
par do título de engenheiro das artes e ofícios genho», segundo o velho e erudito Bluteau, é
conferido pelo Conservatoire des arts etmétiers. a fòrça natural do entendimento, com a qual
Mas, entre nós, engenheiros-civis, mecâni­ o homem percebe pronta e fàcilmente o que
cos, etc., sòmeute são os diplomados do Ins­ lhe ensinam, aprende as sciências e artes mais
tituto Superior Técnico, ou das Faculdades dificultosas, inventa e obra muitas coisas.
técnicas universitárias, escolas de ensino su­ O sublinhado é nosso, visto que está nesta
perior de igual categoria. frase a essência da definição.
Convirá também notar que o Instituto Agrí­ Fazem-se congressos de ensino agrícola,
cola de Gembloux, reputado como uma das existe uma comissão permanenteinternacional
mais célebres escolas agronómicas da Euro­ para cuidar do mesmo problema, os homens de
pa, confere aos seus diplomados o titulo de sciência estudam e propagam os melhores mé­
«Engenheiro agrícola», título que agora se in­ todos para se obter uma instrução bem orien­
ventou para os diplomados da Escola de Coim­ tada e profícuo, e, no fim de tudo, desprezam-
bra, e que se não identifica de modo nenhum, -se os ensinamentos que de tôdas essas com­
nos seus verdadeiros fundamentos, com os do petências emanam e, a propósito do caso pre­
notável instituto belga, o que importa confu­ sente, e doutros mais, legisla-se a capricho,
sões sèriamente inadmissíveis. sem bases de qualquer ordem que não sejam,
Alargando as nossas vistas para além da por vezes, as duma ordem bem pouco razoável.
Europa, se observarmos o que se passsa nos Um dos votos, emitidos pelo Congresso de
Estados-Unidos da América do Norte, país Liège de 1905, dizia o seguinte: «Todos os es­
onde tudo quanto respeita à instrução é mode­ tudantes de ensino superior agrícola devem
lar, haja em vista a riqueza e vigor dêste pais, receber, depois do seu exame de saída, títu­
dela dimanados, verificaremos que aos diplo­ los académicos significativos».
mados de qualquer curso universitário de en­ Nada diz a respeito dos títulos a conferir
genharia se dá apenas o titulo de Bachelor of ao diplomados do ensino médio; mas se aquê-
scteuce itt engintering, e sòmente aos indivíduos les devem ser significativos, isto é, significar
que exercem a profissão durante dois ou três aquilo que os indivíduos ficam sendo como
anos, tendo neste período executado trabalhos profissionais depois do seu curso, correspon­
que a Escola considere distintos, é finalmente dendo o titulo às habilitações scientíficas e té­
conferido o grau de Engineer. cnicas que a Escola lhes dá, não quer certamen­
O grau de engenheiro não é pois, em parte te dizer que os títulos doutro grau se devem
nenhuma do mundo, concedido como mera confundir até certo ponto com êsses, porque
nomenclatura, mas apanágio de determinadas então todos deixariam de ser significativos.
habilitações scientíficas e conferido pelas es­ O decreto dá aos diplomados dás Escolas'
colas que para isso teem categoria. Nacionais de Agricultura a faculdade de se ma­
E, antes de tudo, consideremos que os vo­ tricularem no Instituto Superior de Agrono­
cábulos, em linguagem técnica têm sempre mia; que quere dizer um engenheiro ir cursar
uma significação própria que é preciso não outra escola para obter o mesmo titulo?
deturpar, sob pena de ninguém se entender. Graus de engenheiro não haverá; o que há
Engenheiro, considera Comte todo aquêle que, são especializações de engenharia, e o curso
cultivando as sciências de aplicação, tem a missão agronómico não pode constituir uma especia­
de organizar as relações da teoria com a prática. lidade para o engenheiro-agrícola.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 59

Que rnais é preciso dizer para provar a Este processo de endostnose não nos parece
recta orientação dos que protestam contra o fisicamente aceitável.
tal artigo 8.°, e contra a inanidade da doutrina Convirá notar que êste principio o defende­
que êle traduz? mos, porque tratamos de diplomas conferidos
Que respondam os de boa fé. por escolas. Julgamos, com esta observação,
Para estes não nos faltam razões a opôr; prevenir que alguém de espírito avêsso, nos
para os outros nem estas mesmas se lhes di­ alcunhe de reaccionários.
rigem. Em 1899 o quadro dos agrónomos continha
* além de 2 inspectores, 42 agrónomos; o de sil­
* *
vicultores 1 inspector e 8 silvicultores. Os
Vamos agora examinar o decreto com fôrça actuais quadros compreendem respectivamen-
de lei n.° 5.787 DDD, cujos artigos i.°, 2.°e4.° te 2 inspectores e 107 agrónomos, 1 inspector e
merecem reparo; o primeiro fazendo ressurgir 14 silvicultores. Quere dizer, hoje há mais 71
uma disposição do decreto de 28 de Dezembro destes funcionários que em 1899. Portanto,
de 1899, o segundo equiparando vencimentos olhandb a questão pelo lado prático, se então
de funcionários diferentes, o último substituin­ haveria necessidade de entregar serviços de
do no laboratório de Patologia Vegetal do Ins­ agrónomos a regentes, actualmente não : as
tituto Supeiior de Agronomia três engenhei­ comissões de serviço pouco variaram.
ros-agrónomos por outros tantos regentes. Em outro artigo, no 2.0, aquèle decreto dá.
Para os muitos que olham as coisas só pelo aos regentes principais vencimentos iguais
lado interesseiro, relegando os princípios para aos dos engenheiros-agrónomos ou silviculto­
o nevoeiro das futilidades, êste decreto será res sub-chefes, e aos regentes de i.a classe
pelo menos inofensivo. os mesmos que competem aos agrónomos e
O decreto de 1899 dava as honras de agró­ silvicultores subalternos.
nomo ou silvicultor aos regentes principais: Isto não é justo nem anima o brio e a von­
agora reedita-se êste principio como conti­ tade de quem estuda pelo menos doze anos
nuação lógica do espírito do decreto 5.627. para obter um diploma de curso superior, e,
Esta doutrina seria admissível com aplica­ para no fim dêste longo período de trabalho
ção acidental; aqueles que, pela sua inteli­ e despesas, se ver substituído e por vezes
gência, pelo seu zêlo no serviço, demonstrado suplantado em honras e proveito por indiví­
em longos anos, pelos seus trabalhos distin­ duos de menores e bem diversas habilitações.
tos, sob proposta dos inspectores a uma enti­ Que os cursos divergem di-lo primeiro a
dade superior consultiva do respectivo minis­ razão, e por fim o decreto: o legislador não
tério, disso fossem julgados merecedores, se­ computa em mais de um centavo essa dife­
riam elevados a essas honras, como prémio rença? Seja assim. Mas que se traduza por
às qualidades ilustres. êsse centavo o que o Estado arbitra de pro­
Decretada como medida geral é, na nossa ventos a cada uma das categorias dêstes fun­
opinião, um êrro. cionários.
O regente pode ser um funcionário distintís­ Pelo artigo 4° altera-se a redacção do artigo
simo em tóda a acepção da palavra, pode em 283.0 na organização do Ministério, tirando do
determinada ocasião e em circunstâncias espe­ laboratório de Patologia Vegetal três enge­
ciais de estudo e aplicação, valer como um nheiros-agrónomos e confiando os lugares de
agrónomo ou silvicultor, mas originária e ofi­ preparadores a trés regentes agrícolas.
cialmente é regente, formado noutra escola, Não se compreende que só possam desem­
tendo papel diferente, como habilitações e penhar estes lugares os regentes agrícolas e
serviços. A classificação dos seus méritos, le­ não também os florestais, visto que as habilita­
vou-o a principal; mas essa categoria de dis­ ções são as mesmas, e neste laboratório tanto
tinção fica dentro da sua classe, está bem. interessa o estudo das doenças das plantas
Permitir-lhe o ingresso em classe alheia das matas como de outras quaisquer culturas.
pelo facto de ser óptimo na sua, só admiti­ Mas o ponto capital é a substituição dos
mos como medida eventual, e passando por agrónomos pelos regentes, que desejaríamos
formalidades indispensáveis. ver justificada. Este decreto não tem relatório..
6o ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

preambular, de modo que não podemos apreen­ tas coisas não sabemos. É próprio da conti-
der os motivos da alteração decretada. gência do espírito humano.

Eis aqui, sr. Presidente e mais Senhores


Filiar-se-á na competência ?
Deputados, as razões alegadas como funda­
mento da nossa representação; de V. Ex.as
Atender-se-ia a uma questão de economia
esperamos justiça.
para o Estado em serviço de tanta monta?
Haveria razões doutra ordem que escapam Lisboa, Junho de 1919.
à nossa perspicácia ?#
(Seguem as assinaturas de todos os profes­
Não sabemos; como no fim de contas mui­ sores).

O ensino da Zootecnia e os serviços zootécnicos


MEMÓRIA PUBLICADA POB DELIBERAÇÃO DO CONSELHO ESCOLAR
DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

A propósito da recente organização do Mi­ físicos ou químico-vitais. Na primeira catego­


nistério da Agricultura vieram a público arti­ ria está o azeite, a farinha, o algodão, o açúcar,
gos de jornais e representações ao Parlamento, etc.; na segunda o vinho, a carne, o leite, a lã, o
frutos de locubrações fervorosas sôbre o tema mel e tantos outros. Nestes últimos incluem-se
«serviços zootécnicos», assunto que se não os fabricados pelo animal, em virtude do acto
pode dizer velho, porque só há poucos anos natural e necessário da sua alimentação.
constitue questão que se debate. Debate, não E o organismo animal a máquina transfor­
dizemos bem, porque êste têrmo envolve ideia madora dos produtos da terra. Máquina, com
de discussão em que se alega pró e contra, e, efeito, cujo trabalho escapa em parte à nossa
no caso presente, as alegações teem sido só intervenção directa, mas que na prática sujei­
dum lado, visto que do outro demora a razão tamos ao maior rendimento em proveito da
serena dos princípios, que, cedo ou tarde, atra­ exploração, como sucede a qualquer outro
vés de tôdas as vicissitudes, prevalecem pela instrumento tecnológico ou cultural.
sua fór;a e pela necessidade. Todavia a agu­ Efectivamente, se nos convém não desarran­
deza da questão foi um toque de rebate que nos jar o maquinismo morto, pelo custo das repa­
obrigou a meditar na conveniência geral do rações e pelo acréscimo da amortização, tam­
país, que pode ser afectada desde que se en­ bém é de elementar economia cuidar da higiene
verede por caminhos errados na procura e no do animal, pelas mesmas razões, e até a isso nos
trabalho da sua principal fonte de riqueza—a levará o sentimento. Mas a verdade é que man­
economia da sua agricultura. temos o animal na agricultura para dêle obter
Não se inicia ainda assim um debate, mas serviços ou produtos e auferir um certo ren­
afirmam-se princípios que poderão ser igno­ dimento, não hesitando comprometer-lhe a
rados por alguns, mas que afinal as circunstân­ saúde e mesmo abreviar-lhe a existência com a
cias mostram a conveniência de enumerar e mira no máximo proveito. O exemplo da vaca
chamar para êles a atenção de todos os que leiteira, cuja lactação prolongamos exagerada-
teem de intervir no encaminhar e na resolução mente para que tenhamos num curto prazo tal
do nosso problema agrícola e portanto nacional. quantidade de leite que possamos, renovando
mais freqúentemente o número de cabeças,
Cultiva-se a terra para que ela nos forneça realizar lucros superiores aos que obteríamos
produtos, que se consomem directamente ou prestando às vacas melhores condições higié­
depois de transformados. nicas e requerendo delas menor produção de
As transformações efectuam-se por processos leite, durante maior número de anos, é frisante.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 6\

Com certos animais de engorda, com outros André Sanson, como capital ou como instru­
a que se exije a velocidade máxima no anda­ mento de produção, divide-se naturalmente
mento, e com tantosmais diversos exemplos se em dois períodos bem distintos, correspon­
prova, que, na prática, a higiene da máquina dentes à marcha normal dos fenómenos bio­
animal corre, até certo ponto, parelhas com a lógicos. Durante o primeiro—o do crescimento
conservarão do maquinismo morto. —ou período de construção da máquina, o
Além disto, os processos de melhoramento valor desta vai continuamente aumentando;
teem em mira o aproveitamento pelo homem, cria capital e ao mesmo tempo dá rendimento
no maior grau, desta ou daquela região do ou produto. Durante o segundo período—o da
corpo do animal, dêste ou daquele carácter. decrepitude natural — consome, diminuindo
A experimentação, a análise, o cálculo, as progressivamente de valor, como a máquina
avaliações biométricas teem o preponderante morta. Neste período a própria máquina ani­
papel na conservação dos requisitos em mira, mal precisa ser conservada e amortizada.
factores em grande parte paralelos aos utili­ Mas, se o animal, segundo as conveniências
zados no aperfeiçoamento de instrumentos económicas, só deve ser mantido na explora­
doutra qualquer natureza. ção até atingir o ponto culminante do seu va­
Sanson chama à Zootécnia a tecnologia das lor industrial, e emquanto êste valor ê repre­
máquinas animais, sendo a noção económica sentado pelo menos por uma abscisa do mes­
a que predomina na caracterização desta mo nível, no deve da conta gado não tem de
sciência; a higiene, no que respeita ao gado, figurar verba de amortização.
pode ser por vezes um meio, mas nunca é Ainda, segundo o clássico Sanson, o critério
o fim da sua exploração. O melhor animal é duma emprêsa agrícola, no que respeita ao
sempre aquêle que deixa maior lucro, tendo gado, está no valor dado aos alimentos, tira­
portanto a sua apreciação, por único critério dos da terra, pela exploração da máquina ani­
seguro, a contabilidade agrícola. mal. Se um hectare, cultivado de forragens,
A exploração do animal tem necessária- produziu, depois da sua transformação pelo
mente que se integrar na exploração agrícola. gado, um valor de 2oo$ooo réis, emquanto que
O gado sustenta-se dos produtos da terra, fa­ vendendo essa forragem, o lavrador só obteria
brica com êles a carne, o leite e outras subs­ 180S000, a solução zootécnica é evidentemente
tâncias, tão necessárias ao consumo das popu­ vantajosa. E a relatividade desta conveniência
lações e objectos dum importantíssimo co­ mede-se precisamente pelo maior ou menor
mércio do lavrador, ao mesmo tempo que valor criado. A espécie, a raça, o indivíduo
presta enormes serviços na própria produção, que mais valorizou o produto do solo deve ser
e que deixa, como resíduo da sua alimenta­ o preferido; no mesmo pé devem ser consi­
ção, os estrumes, tão preciosos na fertilidade deradas as diversas funções do animal.
do solo. Esta complexidade do seu papel dis­ De modo que desta noção, que é a verda­
tingue efectivamente, em certos pontos, a má­ deira e prática, se deriva a conveniente orien­
quina animal da máquina morta: mas a con­ tação zootécnica na emprêsa agrícola, e que
tabilidade bem compreendida e bem executa­ se funda na exacta apropriação das aptidões
da, traduzindo as duas maneiras de ser espe­ do gado às funções económicas, para assim
ciais, faculta a apreciação exacta do que cada elevar ao máximo o rendimento da sua explo­
uma traz ao resultado final da exploração. ração.
Ainda se pode apontar outro carácter dife­ Ora esta apropriação não se faz em abstra­
rencial, mas no fundo, simplesmente econó­ to, mas concretamente, isto é relativamente a
mico: é que a máquina morta só tem efeito cada espécie ou raça, e, dentro dela, a cada fun­
depois de completa, mas, começando a traba­ ção fisiológica, mas também a cada conj unto de
lhar, requere no computo dos seus resultados condições meteorológicas e agrícolas.
uma verba de amortização. A máquina ani­ A Zootécnia, com efeito, é uma das ciências
mal, construindo-se a si própria com os pró­ aplicadas que fazem parte dos estudos agronó­
prios alimentos, está capaz de trabalhar e de micos, como a sua prática se exerce dentro da
dar produto mesmo antes de completar a sua exploração agrícola. É sciência de organização
construção. A duração da sua existência, diz moderna, mas hoje perfeitamente caracterizada.
Ó2 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

e de horizontes alargados pela moderna Tre- positiva da sciência «agronómica» inclue a


matologia, que tem sapientes cultores entre Zootecnia na 5.» categoria do seu quadro, ao
os criadores e agrónomos das nações mais lado da Tecnologia agrícola e florestal.
adiantadas do mundo. Em resumo: Zootecnia fas-se na exploração
A Zootecnia, assim denominada por Gaspa- rural; estuda-se nas escolas agronómicas. Não
rin, constituiu pela primeira vez cadeira no quer isto dizer que é aqui o seu único local de
Instituto Agronómico de Versailles criado pela estudo, mas êste é o mais adequado, visto reu­
lei de 3 de Outubro de 1848, e a sua regência foi nir-se nêle a maior soma de materiais para a
entregue, depois de brilhantíssimo concurso, observação e para a experimentação apropria­
a Émile Baudement que, apresentando 0 seu das, bases capitais dos estudos zootécnicos.
programa, e definindo a sciência que ia pro­ Os laboratórios usuais de fisiologia e de zoo­
fessar, ou, para melhor dizer, exprimindo o logia não bastam. Cornevin foi zootecnista só
voto e a necessidade de que as lições a dar depois de ter à sua disposição a herdade da
viessem a constituir uma sciência, afirmava Tête d’Or, como vasto laboratório da sua ca­
que a condição para fecundar esta parte tão im­ deira, na Escola Veterinária dê Lyon.
portante e tão interessante da sciência agrícola «À mesure que la biologie étend ses con-
ê observar e experimentar, chamando em nos­ quétes, on voit plus clairement que maints
so auxilio a química, a física, a meteorologia, phénoménes sont communs aux animaux et
tôdas estas scièncias que se podem chamar aux vegétaux et qu’il n’y a, en dêfinitive, qu’une
acessórias, pelo fim principal que temos em physiologiegénérale. Pénétré decette idée,i’ai
vista, mas que são fundamentais quanto ao demandéaussi des renseignements â la phyto-
meio de alcançar êsse fim. technie. Habitant une région oú la floriculture
O Estado francês, convencido da alta impor­ et l’arboriculture sont pratiqués avec une en-
tância da Zootecnia, tudo fêz para tornar efi­ tente parfaite, je me suais attachê à comparer
caz o ensino desta sciência, reunindo nesse les effets de 1’intervention humaine sur les
Instituto Agronómico a mais numerosa e mais animaux domestiques et les végètaux cultives.
admirável colecção das principais raças das Ce parallélisme a êté plein d’utiles leçons.»
espécies cavalar, bovina, ovina e suína. Assim se exprime êste professor a respeito
Suprimido o Instituto de Versailles em 1852, do modo como êle entende dever ser condu­
passou Baudement para o «Conservatoire des zido o estudo da Zootecnia, e do meio apro­
Arts e Mètiers» onde foi instituída a mesma priado para o realizar em tôda a sua comple­
cadeira, que regeu durante 11-anos, até à sua xidade e inteireza.
morte, e a que se dedicou com enorme pro­ A exploração do animal e 0 estudo dos meios
veito para esta sciência. conducentes a bem explorá-lo estão indisso­
Como acessório necessário e próprio da luvelmente ligados à agricultura.
Agronomia, já Gasparin, muito antes, consi­ Tudo se reduz a adaptar o animal às con­
derava a Zootecnia. Dizia o antigo e sábio mi­ dições económicas do conjunto daemprêsa, a
nistro da agricultura francesa que era agricul­ conseguir que as suas funções, no meio em
tor muito incompleto o que não possuía senão que temos que as utilizar, deem o máximo
a sciência da Agricultura, do mesmo modo que resultado positivo.
era um mau médico quem não tivesse da ana­ Ora esta apropriação do organismo a um
tomia e da fisiologia as luzes necessárias para determinado fim útil, êste melhoramento,
ilucidar as scièncias médicas pròpriamente numa palavra, obtém-se pelo variado conjunto
ditas: assim o curso dos estudos agrícolas de­ de processos biotécnicos, permita-se-me o
veria compreender várias scièncias acessórias têrmo, a que Ray Lancaster deu o nome de
que Gasparin, na sua classificação, separou Trematologia, sciência que responde ao se­
da sciência pròpriamente dita, da Agricultura. guinte problema:—Como se podem tornar os
No seu quadro dos estudos agrícolas, iá vem, sêres vivos mais úteis e melhor adaptados
no grupo das scièncias tecnológicas, a Zoote­ aos fins duma civilização adiantada?—
cnia, derivada da sciência pura—a Zoologia. Nestes estudos, diz o sábio Davenport, pro­
Fundado nas mesmas razões, o professor fessor do Colégio de Agricultura da Universi­
Filipe de Figueiredo, na sua «Constituição dade do Illinois, não se consideram as formas
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 63

de vida, isto é, os sêres vivos que não teem tions must be ordered— O breeder do futuro tem
valor económico, a não ser que descubramos de ser um guarda-livros e um estatístico, opina
nêles circunstâncias que derramem luz sôbre o professor Davenport, sem afirmar que terá
o estudo das formas económicas. de ser um veterinário.
Isto dá-se quási sempre, visto que afinal as Êste podê-lo-á ser, opinamos nós, mas se
leis biológicas regem a totalidade dos sêres se fizer, que não pela especialização da natu­
criados. reza do seu curso.
A base da trematologia, é indubitàvelmente O assêrto, que temos tentado evidenciar com
o estudo da variação, matéria vasta que se tôdas as considerações que precedem, e com
espraia através de tôda a sciência da vida, e as opiniões traduzidas dos maiores mestres
nestes têrmos não estranhável, antes de todo desta sciência, sobretudo dos veterinários
o ponto natural e necessário, que nestes estu­ zootecnistas clássicos, para maior fôrça con­
dos se vão buscar freqflentemente factos e cordes desde o seu início até ao estado actual,
observações muito longe do campo restrita- período durante o qual a Zootecnia tanto tem
mente agrícola; caminha-se em todos os sen­ evolucionado e progredido, é constante atra­
tidos, espreita-se tudo em que pressintamos vés de todos os tempos e de tôdas as escolas.
elementos aproveitáveis, explorando-os o mais Fecha êste ciclo o nosso patriarca zootecnista
possível. «Unfortunatily the workersin strictly o professor Silvestre Bernardo Lima, que, nos
agricultural fields are all too few and the re- apontamentos das suas lições professadas no
liable data deplorably meager thoutgh some Instituto Geral de Agricultura, ao referir-se às
original and I trust valuable matter has been diversas classes de estudos, com que Gasparin
receatly added to our stock of knoledge.» constituiu a Zootecnia, os divide da seguinte
Seria ilucidativo transcrever e pôr em pa­ forma: Zootenia ou história natural da Zoote­
ralelo os índices de dois livros, um o «Tratado cnia, estudo dos animais úteis nas suas dife­
de Zootecnia» de Déehambre, outros os Prin­ rentes espécies e raças; Zoogonopedia, conhe­
cipies of breeding de Davenport, para nos cer­ cimento do modo de produzir e sobretudo me­
tificarmos da identidade das matérias julgadas lhorar e educar os animais (zoogonopédia,
pelo primeiro como fundamentais no estudo etimològicamente, significa geração ou produ­
da Zootecnia, pelo segundo como basilares no ção e educação melhorada dos animais); Zoo-
breedtng quer de animais quer de plantas. A hígia, 0 estudo que considera o modo e os meios
primeira parte do livro de Déehambre é de­ de conservar todos os animais; é a higiene;
dicada à variação e hereditariedade, a segun­ Zoorística, a arte de calcular e precisar os ga­
da ao estudo do indivíduo, sexo, variedade, nhos e perdas que pode dar uma especulação
raça, e espécie, a terceira e última ao melho­ qualquer intentada nos animais domésticos.
ramento, seus factores, adaptação. No livro Ora aqui temos bem definidos e destrinçados
de Davenport, aliás mais desenvolvido neces­ os assuntos cujo conjunto formou a sciência
sariamente, as matérias tratadas são as mes­ zootécnica, os quais assentam na Zoologia,
mas, ocupando-se a parte final dos problemas para conhecimento prévio do animal, na sua
práticos a considerar, tanto no plant-breeding higiene que há de forçosamente acompanhar a
como no animal-breeding. sua biologia, na contabilidade da sua explora­
Aqui temos um tratado de Trematologia ção, e nos processos trematêcnicos cujo estudo
constituindo a essência dum tratado de Zoo­ sério e especulativo é recente, mas que de
tecnia, o seu quinhão mais scientífico, mais longa data se teem como fulcro de tôda a
utilizável, mais palpitante de interêsse e de exploração económica do animal.
resultados práticos. Desta composição, comquanto tôdas as suas
Estes estudos biológicos teem tomado ne- partes tenham importância (basta que sejam
cessàriamente um aspecto de exacção, uma afinal componentes), a que na prática a tem me­
feição matemática, de que só a balança e o nor, é a higiene, porque, como já acentuámos
cálculo são instrumentos capazes de mostrar com Magne, na exploração utilitária a saúde é
a significação dos dados, e o valor dos resul- até certo ponto sacrificada ao lucro, e, segundo
dos—It is by this road that many tiewprincipies Bernardo Lima, os cuidados e regras da hi­
will arrive and that many of our future opera- giene estão ao alcance de tôda a gente.
64 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Feita esta asserção, esperamos contudo ser técnica e, próximo, em Zolikoffen, numa es­
sinceramente compreendidos, no alcance que cola de queijaria, cujo principal fabrico é o
aqui lhe damos. Gruyère, dirigem e ministram o ensino agróno­
mos,cujo zêlo higiénico pudemos testemunhar.
*
* * Na Bélgica são os agrónomos das circuns­
Assentes estes pontos fundamentais, lance­ crições que teem a seu cargo os serviços zoo­
mos uma vista de olhos muito geral sôbre o técnicos e tudo quanto respeita ao fomento
modo como estes princípios são realizados pecuário. É o Office rural do Ministério da
nos diversos países, e o que tem sucedido Agricultura, direcção geral por onde correm
entre nós a tal respeito. todos os serviços de ensino, experimentação,
Na Alemanha, em tôdas as escolas agronó­ estatística e laboratórios, dirigido actualmente
micas superiores, sem excepção, o ensino da pelo ilustre De Wuyst, que superintende sô­
Zootecnia faz parte do seu curso. bre o serviço analítico das substâncias ali­
Em França, como já atrás notámos, estes mentares de qualquer origem, e sôbre as ex­
estudos especiais foram iniciados no meiado periências e demonstrações relativas à ali­
do passado século, no Instituto Agronómico mentação do gado. Todos os anos e freqúen-
de Versailles, e ainda hoje, na i.a secção do temente, os agrónomos do Estado distribuem
ministério da Agricultura, à qual pertence o aos cultivadores avis impressos sôbre varia­
ensino agronómico, dependente dêste e com díssimos assuntos que lhes interessam, e, entre
êle em intima ligação, se encontram as nu­ estes, sôbre processos de alimentação de vá­
merosas escolas de leitaria, queijaria, Está­ rias espécies de animais domésticos.
bulo Nacional de Rambouillet; sendo êste úl­ É no célebre Instituto Agrícola de Gembloux
timo estabelecimento dirigido pelo ilustre escola superior de Agricultura modelar, que se
agrónomo Mr. Coutte, considerado a primeira ensina, na Bélgica, a sciência zootécnica, divi­
autoridade em ovinos. dida nos cursos de Anatomia, Fisiologia, Hi­
Ao quadro oficial de administradores de giene, Patologia das doenças contagiosas, po­
coudelarias francesas só podem concorrer os lícia sanitária, alimentação, produção, criação
alunos do Instituto Agronómico, que formam e apreciação dos animais domésticos, cursos
o quadro das escolas dos haras, como, por que podem ainda ter um ensino complemen­
exemplo, a Escola Nacional de criação cava­ tar facultativo aos diplomados, com o fim de se
lar em Pin, considerada escola de aplicação especializarem e de completarem os seusconhe-
ou continuação do Instituto Agronómico, cimentos em cada uma das três secções—Águas
onde os alunos agrónomos são, desde da sua e Matas, Química e Indústrias agrícolas, Agrono­
entrada, subsidiados pelo Estado, e, termi­ mia e Ensino, sendo nesta última que se in-
nado o curso de 2 anos, admitidos no quadro clue o estudo complementar da Zootecnia.
dos administradores de coudelarias. Ainda na Escola provincial de cultura e cria­
Na Holanda, no Instituto de Wagueningen, ção de gado de Ath, instituída pela província
a Zootecnia figura no 3.0 ano de Agronomia, de Hainaut, instituição exclusivamente dein-
e são os agrónomos os funcionários queteem terêsse agricola, como se declara no art. x.° do
a seu cargo o fomento pecuário. seu regulamento orgânico, se dá a simbiose
Na Hungria, na Escola Superior de Agrono­ no ensino, da agronomia e das questões pe­
mia de Magyar-Ovar, logo no i.° ano se pro­ cuárias nos três anos da sua instrução. Não
fessa a Zoologia agrícola, criação e educação só as questões gerais de Zootecnia, como as
dos animais da granja, e, no imediato, a Zoo­ especiais, teem nesta escola um desenvolvi­
tecnia especial às várias espécies. mento relativamente grande.
Na Rússia, a cadeira de Zootecnia especial Nos institutos de Ultuma e Alnay (Suécia), a
está incluída no 4.0 ano do curso do Instituto par das cadeiras de Drenagem, Horticultura e
Agrícola de Moscovia. Agricultura, professa-se a cadeira de Zootecnia.
Na Suíca, no Politécnico de Zurich, profes- Nos Estados Unidos da América do Norte,
sa-se a cadeira de «Estudo geral das produções tomamos para tipo a Universidade de Cor-
agrícolas e produção animal»; e em Ruti, na es­ nell, uma das de mais completa e perfeita
cola agrícola que tem anexa uma estação zoo­ organização, dêste país.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 65

Esta Universidade, além da Graduate School, Bacteriologia do leite e derivados — prof.


comporta as seguintes Faculdades: Artes e Stocking.
Sciências (S. A.). Leis (L.), Medicina (M.)f Fabrico de manteiga—curso complementar
Agricultura (S. in Agr.), Engenharia Civil, —prof. Guthrie.
Veterinária (V. M.), Arquitectura, Engenharia Fabrico de queijos especiais—prof. Fisk.
e Artes mecânicas. Fabrico de ice-cream—prof Fisk.
O director da Faculdade de Agricultura ou Seminary—profs. Stocking, Ross, Troy e
College of Agriculture tem a seu cargo a direc- Guthrie.
ção da Estação Experimentar Federal, espe­ Investigações tecnológicas—profs. Stocking,
cialmente destinada ao breeding das plantas, Ross, Troy e Guthrie.
tecnologia do solo e entomologia. Bacteriologia geral agrícola—prof. Stocking.
Nesta Faculdade, ao lado da Botânica, da Bacteriologia doméstica—prof. Pickerill B.
Química agrícola, da Pomologia, das Culturas S. in Agr.
Arvenses, da Silvicultura, da Entomologia, Fabrico de queijo Cheddar—curso comple­
Meteorologia, Arboricultura, Thrematologia, mentar—prof. Fisk.
Floricultura, Patologia vegetal, Parquicul- Criação e economia das aves domésticas—
tura, Engenharia rural, Horticultura, Tecno­ Criação das aves domésticas—prof. Rice B.
logia do solo, Economia rural, Administra­ S. A.
ção Agrícola, e do Desenho, ensina-se a Alimentação e tratamento—prof. Rice.
Zootecnia, Tecnologia do leite, Criação e Prática de incubação—prof. Rice.
economia das aves domésticas. Há também Prática de deitar criação—prof. Rice.
um curso de Economia doméstica. Os pintos e a sua apreciação — prof Kent
Convém notar que cada uma destas maté­ B. S.
rias enumeradas está entregue a vários pro­ Construção de capoeiras—prof. Rice.
fessores, ensinando cada um dêles a sua dis­ Criação para uso caseiro — prof. Benjamin
ciplina. Assim a Economia animal (Zootecnia) B. S. in Agr., Ph. D.
compõe-se das seguintes especialidades: Prin­ Comércio de criação—prof. Benjamin.
cípios e prática de arraçoamento, prof. Savage Exploração de aves em grande—prof. Rice
Master S. A. doutor Ph.; Princípios de Thre­ Seminary—prof. Rice.
matologia, prof. Wing M. S. in Agr.; O Cavalo Investigações—prof. Rice.
—prof. Harper M. S.; Exame e apreciação do O College of Agriculture conta 136 professo­
gado—prof. Harper; Adextramento do cavalo res e assistentes.
—prof. Harper; Mecânica do cavalo—prof. Deve-se notar que na mesma Universidade
Harper; Gado leiteiro —prof. Wing; Gado va­ existe hoje também, como Faculdade, o Veteri-
cum, carneiros e porcos—prof. Wing e Har­ nary College, estando o ensino da veterinária,
per; Carnes e produtos derivados — prof. anteriormente a 1894, a cargo do Departamento
Wing; Princípios de arraçoamento, curso de Agricultura, e ministrado no College of
complementar—prof. Savage; Princípios de Agriculture.
Thrematologia, curso complementar — prof. O Veterinary College comporta os seguintes
Wing e Harper; Economia animal, curso cursos: Anatomia; Fisiologia; Matéria médica
complementar—prof. Wing. e clínica dos pequenos animais; Cirurgia;
A Tecnologia do leite está dividida em: Obstectrícia, Zootecnia e jurisprudência; Pa­
Composição do leite e Análises—prof. Ross tologia comparada; Bacteriologia e inspecção
M. S. A. de carnes; Medicina veterinária.
Fabrico de manteiga—prof. Guthrie M. S- Os professores são todos doutores em medi­
in Agr., Ph. D. cina veterinária, excepto o professor de His­
Fabrico de queijo—prof. Fisk M. S. in Agr. tologia que é bacharel em sciências—B. S., e
Bacteriologia elementar—prof. Stocking M. o de Siderotecnia que é um assistente; o grau
S. A. universitário do professor de Zootecnia não
Consumo de leite e fiscalização—prof. Ross. consta do Register.
Análises: curso complementar—prof. Troy O Veterinary College conta 26 professores e
B. S. A. assistentes.
5
66 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Alargámos mais as nossas considerações a de Patologia vegetal, são, o primeiro, doutor


respeito da América, visto ser o país em que em filosofia e o segundo doutor em sciências
a organização dos estudos é mais completa e por universidades americanas; o professor
mais fundamentalmente scientífica e portanto de sciência veterinária é doutor em sciên­
no máximo grau utilitária. cia veterinária por uma Universidade do Ca­
Em nenhuma outra nação há mais perfeita nadá; todos os mais teem o diploma e título
comprensão e realização da sciência. de Nogakushi ou de Rittgakushi ou de Koga-
kushi, qualquer dêles, grau dado pelos diver­
Os japoneses também hoje dão lei em sos cursos do colégio de Agricultura. Sagoro
assuntos de instrução. Hashimoto, professor de Zootecnia é Noga­
Uma das suas escolas superiores de Agri­ kushi assim como Kintaro Oshima, professor
cultura é a que faz parte da Universidade Im­
de Arraçoamento e Química dos alimentos.
perial de Tohoku, magnífico instituto, com No «Report of the progress of Agriculture
grande área de terreno anexa, com variadíssi­
in índia for 1917-18» encontra-se a pág. 179, no
mas e òptimamente providas instalações e um capítulo que se ocupa de Cattle breeding, a
ensino completo, viveiro de técnicos de quem
seguinte opinião a respeito da necessidade do
o Japão confia todo o desenvolvimento econó­
ataque simultâneo, por vários lados, do pro­
mico das grandes regiões recentemente entre­
blema pecuário; opinião para fazer meditar
gues à sua influência civilizadora, como a For­
pelo menos os que a tal respeito emitem pare­
mosa, Sakalin, a Korea e a vasta Manchúria.
cer exclusivo. Entre as medidas a realizar com
O número das suas cadeiras divide-se pelas
aquêle propósito, propõe o Sr. J. Mackenna,
seguintes matérias: Agricultural Adviser to the Government of índia,
Agricultura.................................... 2 cadeiras a nomeação de técnicos que se dediquem in­
Química agrícola......................... 3 » teiramente a estes problemas, e, sôbre quais
Física agrícola............................. 1 » sejam estes técnicos, opina Mr. Mackenna que
Botânica......................................... 2 » geralmente se não admite constituir a produ­
Zoologia, Entomologia e Seri­ ção pecuária uma sciência distinta fora da
cicultura ..................................... 3 » agronomia ou da veterinária, conquanto qual­
Horticultura................................. 1 » quer pessoa bastante versada em qualquer
Zootecnia..................................... 2 » dêstes ramos scientíficos pode nunca se ha­
Política agrária e Colonização. I » ver dedicado a certos problemas. Um bom
Silvicultura.................................... 4 » ôlho (an eye for a good one) junto a longa ex­
Tecnologia agrícola.................... 1 » periência, são o critério para o êxito de estes
Sciência veterinária................ 2 » trabalhos em Inglaterra, onde se prova, vezes
Economia florestal e explora­ sem conto, que tôda a actividade é inútil sem
ção de matas............................. I » aquêle dom natural.

Dentro do colégio de Agricultura de Sa- Se voltarmos as vistas para o Sul Africano


poro há quatro departamentos ou especiali­ como para a índia, onde, sob o influxo britâ­
zações que são:i) Agricultura, 2) Química nico, qualquer dos dois países há muito deixou
agrícola, 3) Silvicultura, 4) Zootecnia. de ser a África dos prêtos e a região encan­
É claro que para cada um dêstes departa­ tada das bailadeiras, mas onde a civilização
mentos o ensino especial se intensifica relati­ corre parelhas com a de muitas nações da Eu­
vamente, entretanto em todos êles, excepto no ropa, e a algumas se avantaja, também o que
de Silvicultura, há as cadeiras de Fisiologia ani­ se nos depara são exemplos que corroboram
mal com laboratório próprio, Arraçoamento, o nosso modo de ver.
Criação de aves, Zootecnia, Tecnologia animal No Sul de África tem importância de vulto
e respectivas práticas, Polícia sanitária, Orni­ a questão das carnes congeladas e o melhora­
tologia económica, Química dos alimentos. mento das raças de trabalho, e em ambos estes
Dos 56 professores, assistentes e leitores campos zootécnicos se tem trabalhado e pro­
(lecturers) dêste colégio, dois, o professor de duzido bastante. São as escolas agrícolas, as
História da Agricultura e Economia rural e o estações agronómicas e os agricnlturists, as
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA (,7

entidades dêstes serviços incumbidas, e às E mais: A Zootecnia contituía a io.a cadei­


quais se devem todos os progressos e movi­ ra; n.a era Economia, e na 12a é que se ini­
mentos de tal indústria. Foi também o direc- ciava, pela Anatomia, a série das cadeiras
tor duma dessas escolas quem interveio na veterinárias. Não se dàva o caso da Zootecnia
importação e utilização do carneiro Karaculo ser extrema dum curso, e portanto duvidosa
da África alemã. a sua colocação.
São ainda os agriculturists os encarregados Além disto, o relatório que precede a orga­
da organização e de todo o movimento das nização de 1897, diz que «além das cadeiras
muitas frutuarias espalhadas pelo país. propriamente veterinárias, fazem parte do curso
(veterinário) a Botânica, a Química e a Fí­
sica agrícolas, a Agricultura geral e a Zoo­
Passemos por último a examinar o que en­ tecnia.»
tre nós se tem feito em matéria de ensino e Donde se conclue evidentemente que a lei
em fomento. considerou, em diplomas que não levantaram
Anteriormente à criação do ensino agronó­ celeuma de pretensos ofendidos, a cadeira de
mico em Portugal (1852), em nenhuma escola Zootecnia como fazendo parte do curso agro­
do país se professava a Zootecnia ou ramos nómico e não do veterinário, conquanto os
de sciência que a ela tendessem, apesar de dois cursos dela participassem.
já existir desde 1830 a Escola Veterinária. Mas há mais: o Regulamento da agricultura
Em 1855 uma primeira reforma dêste ensino das províncias ultramarinas, aprovado por
fundou os dois cursos—agrícola e veterinário decreto de 27 de Dezembro de 1877, diz:
—atribuindo ao primeiro as cinco cadeiras «Art. 6.°—É instituído na capital de cada pro­
de: 1) Agricultura geral, 2) Culturas espe­ víncia, com excepção da do Estado da índia,
ciais, 3) Engenharia rural e artes agrícolas, um curso elementar de Agricultura e Zoote­
4) Economia, legislação e contabilidade agrí­ cnia, que será regido pelo agrónomo.»
cola, 5) Zootecnia; e quatro cadeiras à secção Quando em 1910 os dois cursos de todo se
veterinária. A freqíiência das duas secções tornaram independentes, o Instituto Agronó­
dava o diploma de veterinário-lavrador, indo mico levou consigo a sua cadeira de Zoote­
portanto o veterinário buscar a Zootecnia ao cnia, criando-se outra igual na Escola Veteri­
curso agronómico. nária.
Em J864 foi suprimido aquêle curso mixto, A par disto, em todos os graus de ensino
formando a escola agrónomos ou veteriná­ agrícola se ministrou sempre a instrução zoo­
rios sòmente, sendo a cadeira de Zootecnia técnica, bastas vezes professada e praticada
comum aos dois cursos. por agrónomos.
Modificados por diversos decretos os dois Em relação a fomento, aliás um tanto con-
estabelecimentos de ensino, mantiveram-se tràriamente ao espírito da organização dos cur­
êles no mesmo edifício e com direcção comum sos, e bastante contràriamente pelo exclusivis­
até 1910, em que definitivamente se separaram, mo adoptado, os serviços zootécnicos oficiais
mas, durante o seu convívio, a cadeira de Zoo­ teem sido em geral entregues a médicos vete­
tecnia, com quanto dela encarregado durante rinários. A organização dos serviços agrícolas
bastantes anos, um médico-veterinário, o pro­ de 26 de Maio de 1911 tentou metodizar o
fessor Santos Viegas, sucessor de Barbosa du assunto, incluindo os serviços zootécnicos
Bocage e Silvestre Bernardo Lima, foi tida muito judiciosamente no âmbito das estações
como cadeira agronómica, e assim reconhe­ agrárias, entregando ainda êsses serviços a ve­
cida em vários diplomas oficiais, como resa, terinários, mas sob a direcção, neste sentido,
por exemplo, o § i.° do art. 112.0 do decreto dos agrónomos que dirigiam as estações, visto
de 4 de Maió de 1896 que aprova o Regula­ que, atendendo ao seu papel, estes úteis e com­
mento do Instituto de Agronomia e Veteriná­ plexos institutos precisavam ter uma direcção
ria, e que diz textualmente: «Ao concurso una, exercida por diplomado competente nas
para a cadeira de Zootecnia da secção agro­ atribuições gerais da instituição. Mas a orga­
nómica são também admitidos os indivíduos nização de 1911 não logrou vingar, por motivos
habilitados com o curso de veterinária. » que nos dói recordar, e tudo continuou no pé
68 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

anterior, confirmado pela lei n.° 26 de 9 de É no curso de Agronomia que se professa


Julho de 1913, e, ainda por cima, agravado. entre nós e em tôda a parte do mundo, a ca­
Em 1918 criou-se o Ministério da Agricultura, deira de Tecnologia agrícola, que tem anexas,
velha e justificada aspiração da lavoura nacio­ como necessárias, as oficinas tecnológicas
nal, astro brilhante em que o Instituto de respectivas, e cuja investigação se efectua nos
Agronomia e tôda a classe agronómica, fixou o laboratórios gerais e bromatológicos. Quanto
olhar esperançoso e alegre, como guia dos seus à execução dos serviços de fiscalização de­
grandes destinos no ressurgimento de tôda a vem êles ser efectuados nos laboratórios das
nossa economia, como luzeiro que lhes alumia­ estações agrícolas, onde são aliás analisados
ria o seu trabalho, e desse vida a tantas activi- os vinhos, azeites, farinhas, adubos, etc.
dades, em parte latentes, à míngua do organis­ É no curso de Agronomia que se aprende
mo que unificasse esforços e os fizesse con­ a tecnologia do leite, como são as escolas
vergir para um foco de benéficos resultados. O agrícolas os estabelecimentos em que se pra­
ministério fundou-se, mas a sua organização tica o fabrico dos lacticínios: queijo, man­
padece de males que veem de trás, e entre ês- teiga, requeijão. Porque se atribuiu portanto
ses conta-se a antiga confusão de competên­ a outros técnicos diferentes dos diplomados
cias oficiais, em variadíssimas funções, sôbre dos cursos agrícolas a fiscalização e análise
que o Conselho Escolar do Instituto se apres­ dêstes produtos?!
sou a representar, indicando os têrmos justos A disposição que consagra êste princípio é,
e scientíficos em que deveriam ser conside­ como dissemos, uma surpreendente inovação,
radas as atribuições dos seus diplomados e o nunca consignada nas nossas leis, antes de 1913,
consequente desempenho dos diversos car­ e com razão, porque não tem base scientífica,
gos no Ministério e nos serviços externos. nem utilitária, em que assente. Se a própria
Não é esta uma questão de proventos, é produção de leite, como diz o sábio professor
uma questão de princípios; é o lado scientí- da Escola Veterinária d’Alfort, P. Déchambre,
fico e de conveniência pública que se invoca; constitue uma tecnologia particular por causa
ê a razão das coisas e o interêsse geral que do leite em geral e não por causa da espécie
nos faz vir pela primeira vez à estacada de­ animal que o fornece em cada um dos casos
monstrar aquilo que sempre tivemos por da prática, muito menos terá o leite que ver
axioma, e cuja solução justa confiávamos da com o animal que o produziu, uma vez fora
ocasião e da vitória necessária da verdade. dêle e entregue à oficina que o manipula e
Mas a organização inicial do Ministério da transforma, a não ser que o animal esteja doen­
Agricultura manteve certos erros, incluindo te e o leite possa ser infectado, prejudicando
a inovação da lei n.° 26, que à Direcção dos a saúde pública. Mas neste caso o animal deve
serviços pecuários atribuiu a fiscalização dos ser sequestrado, e o leite rejeitado. É um pro­
produtos de origem animal, como leite, man­ blema patológico, de que se ocupará o veteri­
teiga, queijo e outros lacticínios, sendo as res- nário, e desaparece neste caso o problema te­
pectivas análises feitas nos laboratórios de cnológico, da competência do agrónomo.
patologia veterinária. Esta disposição atinge Esta questão da fiscalização dos produtos
o grau do absurdo, e como tal não deveria de origem animal, a pesar de nunca versada,
ser discutida, mas simplesmente eliminada. é um outro aspecto da questão fundamental
O leite, desde que saia da glândula mamar, aqui traçada em principio, e que o Dr. Costa
é um líquido de composição orgânica como Ferrreira, na sua douta apreciação à campa­
qualquer outro, e portanto, na sua análise, ao nha em tempos movida contra o decreto de T2
alcance do químico, e na sua aplicação indus­ de Agôsto de 1912, sintetisa nos seguintes têr­
trial, ao alcance do técnico que o transforma. mos: «Assim como para ser antropologista não ê
Ora, como para analisar minérios não é ne­ preciso ser médico, assim para ser zootécnico
cessário ser engenheiro de minas, para ana­ não é necessário ser veterinário.» É uma teste­
lisar leite não é condição indispensável ter 0 munha insuspeita pelo seu carácter, através do
diploma de veterinário. qual não vê senão princípios, e uma autoridade
Mas se assim é para o leite, o que diremos scientífica que nãó afirma senão o que o raciocínio
dos seus derivados tecnológicos ? scientífico e a trabalhada experiência lhe sugere.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 69

* lidade das forragens e produção do trabalho


* *
do cavalo, influência do trabalho muscular na
nutrição do cavalo, ensaios comprovativos sô­
Estabelecidos os princípios que defende­ bre a digestão de dois fenos de luserna usa­
mos, e que reputamos exactos, passada uma dos na alimentação do cavalo e do carneiro.
revista aos meios empregados entre nós e O Dr. Keller, agrónomo alemão, director da
nos demais países, de pôr em prática êsses estação agronómica de Mokern, na Saxónia,
princípios, vejamos por último o que há em publica em içio e reedita várias edições dum
realizações na prática. magnífico trabalho sôbre princípios funda­
O agrónomo Thaber, fundador da escola mentais da alimentação do gado, traduzido
agrícola de Moglin, na Alemanha, faz, no em português pelo professor Ruy Mayer, do
princípio do século passado, notáveis expe­ Instituto Superior de Agronomia.
riências sôbre a alimentação dos animais, Do agrónomo Gouin existe uma interessante
tendo como seguidores os agrónomos Black, obra sôbre a alimentação racional dos ani­
Shavers, Dabst, etc. mais domésticos.
Lawes e Gilbert, os célebres directores da Em Portugal, os fenos e palhas, como ali­
estação agronómica de Rothamsted, estudam mento de gados, estão desde longa data, estu­
os tecidos dos animais de várias espécies e dados pelo agrónomo, professor Pereira Cou-
determinam a riqueza em gordura eem azote tinho; ao professor Filipe de Figueiredo,
segundo o estado do animal. também do Instituto de Agronomia, deve-se
Maltzien, Dombasle e Heuzé, agrónomos, um estudo sôbre lãs.
fazem estudos sôbre fenos e regime alimen­ Há bastantes dissertações inaugurais do
tar de engorda. curso de agronomia, sôbre assuntos zootécni­
Wolf, director da estação agronómica de cos, cuja estatística apresenta os seguintes
Mockern, determina a relação nutritiva dos dados:
alimentos, estabelecendo tabelas que são clás­ De 1900 a 1913 terminaram o curso 86 enge­
sicas. nheiros-agrónomos, dos quais 17 defenderam
Damseaux, agrónomo director do Instituto teses sôbre assuntos zootécnicos, enquanto, no
Agrícola de Gembloux, faz estudos sôbre a mesmo período, da Escola Superior de Medi­
alimentação animal. cina Veterinária saíram 97 diplomados dos
Julius Kuhn, agrónomo director do Instituto quais 8 apresentaram dissertações finais sôbre
Agrícola de Halle, ganha em concurso um aquêles assuntos; isto é uma percentagem de
prémio pela elaboração da sua memória sô­ 8,25 °/0 para estes e 19,7 para os primeiros.
bre alimentação racional dos bovinos. De 1858 a 1905 (47 anos), em 52 teses de
MQntz e Girard, do Instituto Agronómico de zootecnia:
França, organizam tècnicamente os arraçoa- 7 são de veterinários-lavradores (13,46%)
mentos do gado da Companhia dos Omnibus 7 de médicos veterinários . . . (13,46 %)
de Paris, resultando para esta, em 29 anos, 38 de agrónomos.........................(73.08%)
uma economia de 6.000 contos. Por esta estatística se vê que os agrónomos
Os agrónomos Grandeau e Alquier, num teem mostrado pelos assuntos zootécnicos
laboratório de investigação e na cavalariça maior predilecção que os veterinários, e na
experimental da Companhia Geral de Carrua­ prática a mesma tendência se tem evidenciado.
gens da mesma cidade, fizeram estudos de Quem pelo país tem feito zootecnia tem sido
alto interêsse prático sôbre rações, determi­ o lavrador ilustrado ou o agrónomo lavrador.
nando os preços médios, por quilograma, de E afinal assim tinha de ser, desde que a pro­
amido, proteína, gordura, etc., nas diversas dução e melhoramento do gado é indústria In-
forragens empregadas. timamente ligada à exploração do solo. Os
Na estação agronómica de Hohenheim rea­ dois problemas entrelaçam-se, as suas solu­
lizam-se notáveis estudos sôbre digestibilida- ções teem de ser paralelas. A especulação do
de das forragens empregadas na alimentação problema zootécnico sai muitas vezes do
do cavalo, digestibilidade das forragens ver­ campo agronómico, mas entranha-se pela
des conforme o período da colheita, digestibi­ biologia na sua forma mais lata e mais preci­
7° ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

sa, não lhe bastando o terreno especial da no propósito de estabelecer princípios e de sa­
veterinária, nem lhe cabendo nos moldes. near ideas, visto que um problema mal pôsto
O médico veterinário tem elevada e útil mis­ nunca terá solução positiva. Aquêle que nos
são a desempenhar, qual a da defesa sanitária prende—a economia agrícola do país— é de
dos animais, no interesse não só da economia todos os problemas nacionais o mais comple­
da agricultura, como da ingente questão da xo, e o de resultados mais decisivos, portanto,
saúde pública, e se aqui fazemos referência a o que tem de ser encarado com mais clareza,
competências e as cotejamos, é simplesmente e resolvido com mais sciência e maior acêrto.

Representação entregue ao Sr. Ministro


de Agricultura
Ex.mo Sr. Ministro da Agricultura:

Resolveu o Conselho Escolar do Instituto Cumpre ao Conselho Escolar ponderar pri­


Superior de Agronomia, a propósito da sau­ meiro as circunstâncias em que vem exercendo
dação que usa endereçar aos recém-chegados o ensino no Instituto Superior de Agronomia.
ao lugar que V. Ex.a hoje ocupa, não se limi­ Foi dotada a nossa Escola com um edifício e
tar por esta vez aos habituais cumprimentos, uma propriedade que a colocaram em condi­
mero dever de cortesia, e antes trazer junto ções de desempenhar satisfatòriamente a sua
do seu ministro a franca exposição daquilo missão quando a dentro dêsse edifício e dos
que pensa com respeito às coisas do ensino limites dessa propriedade, haja a possibilidade
agrícola, e também o seu modo de sentir de executar-se um trabalho intenso, scientífica
quanto a determinadas questões que teem e agronòmicamente orientado. Tal possibilidade
sido debatidas últimamente e muito prendem porém, ainda hoje, mau grado nosso, não exis­
com o nosso prestígio, quer como corporação te; à míngua de dotação, os nossos laborató­
escolar, quer como membros da classe dos rios e oficinas dão escassos sinais de vida, tudo
agrónomos portugueses. lhes faltando, a alguns dos de maiores exigên­
Procedendo assim julga o Conselho bem cias materiais ou de criação mais recente; e a
compreender a sua missão e cumprir mais ca­ nossa propriedade, a Tapada da Ajuda, apesar
balmente o seu dever para com V. Ex.a. O mo­ do muito que se tem transformado, está ainda
mento exige, em face das dificuldades de tôda mais perto da antiga Tapada, local de simples
a ordem, dia a dia acumuladas, a máxima con­ aprazimento, do que do campo de investigação
vergência dos esforços por parte de quantos e demonstração agronómica que precisa ser.
interveem na cousa pública, e que se pro­ Mais do que aqui possamos dizer, Sr. Minis-
nunciem os diversos organismos, numa coo­ nistro, poderá valer perante o espírito de V. Ex.a,
peração leal para com o Govêrno, sôbre aquê- a verificação que de visu faça do actual estado
les assuntos que sejam da especial competên­ de coisas. Motivo porque o Conselho Escolar,
cia de cada um. E por outra parte o exercício solicita uma urgente visita ministerial às ins­
da tarefa distribuída, naquela acção de con­ talações do Instituto e seus anexos.
junto, a qualquer, impõe a absoluta observân­ V. Ex.a medirá com rigor então quais são as
cia das garantias próprias sem a qual não nossas necessidades imediatas, e por certo te­
existem nos espíritos a confiança e a sereni­ mos que, compenetrado delas, fará vingar
dade que condicionam um trabalho profícuo. onde fôr preciso, em benefício da nossa Escola,
É, Sr. Ministro, o ter em conta êste duplo a doutrina de que nem sempre é sã economia
aspecto, que plenamente justifica a missão o não gastar, mas antes o gastar bem e a bom
que temos a honra de vir hoje aqui desem­ tempo.
penhar perante V. Ex.a. Concretizando, precisamos recordai que é
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 7i

pretensão já antiga dêste Conselho, a efectiva- mia oficial, é abordar, quanto a nós, dentro
ção de um empréstimo, custeado pelo Estado, da organização do Ministério da Agricultura, a
que permita imprimir aos nossos trabalhos a execução de serviços que devem ser o próprio
feição intensiva que é urgente que êles to­ nervo desta organização, a base sólida em que
mem; e 6ste é o primeiro assunto que entre­ se firme a soma de actividades que lhe cor­
gamos ao critério de V. Ex.a. respondem.
Por outra parte tem a nossa Escola pendente Por isso mesmo é o Conselho Escolar, nesta
do Parlamento algumas emendas à sua actual altura, com lógica, levado a ponderar a V. Ex.a
organização, no número dos quais determina­ como exigem as conveniências do país que se
das alterações de ordem pedagógica cuja ime­ enverede decididamente pelo caminho da ins­
diata promulgação seria de vantagem, como a tituição dêstes núcleos de trabalho sério e fe­
que se refere ao modo de provimento do pes­ cundo, que só as Estações agrárias, quando ta­
soal docente, professores e assistentes. Igual­ lhadas nos largos moldes da organização do
mente seria grato a êste Conselho que V. Ex.a Govêrno Provisório, deixando-se uma vez por
se interessasse pelo andamento do citado pro- tôdas de centralizar serviços, que o mesmo é
jecto de emendas. dizer, quási, burocratizar serviços técnicos, es­
E, além disto, sem fugir ainda do seu estrito terilizando-os, para os entregar antes, dando
campo de acção, o Conselho Escolar do Insti- lhes vida, às diversas regiões, cujo estudo e
tituto Superior de Agronomia julga da maior cujo fomento só assim êles poderão realizar.
utilidade a criação duma Estacão Experimen­ Pelo que respeita a outros graus de ensino
tal Agrícola Central que funcione sob sua agrícola—que não o nosso—não precisa êste
orientação, como julga indispensável, que a Conselho de acentuar perante V. Ex.a, Sr. Mi­
actual Estação de Ensaio de Máquinas e o nistro da Agricultura, como é por igual uma
Laboratório de Patologia Vegetal se mante­ necessidade urgente do país, a sua intensifica­
nham orgànicamente íntegros, mas anexados ção. Pode dizer-se que nas suas linhas gerais, a
à nossa Escola, formando corpo com ela. actual organização de conjunto satisfaz, que
Não é esta a oportunidade para divagações, estão achadas as modalidades e as gradações
embora no campo scientifico, mas V. Ex.a mais convenientes. O que não pode porém di-
fará certamente bom acolhimento à idéia de zer-se é que esteja feita na devida proporção a
que um estabelecimento de ensino superior obra de irradiação escolar e que os ensinamen­
agronómico, como o nosso, só exercerá ca­ tos, por via das Escolas Agrícolas, estejam
balmente a sua missão quando em íntimo chegando na justa medida até onde são preci­
contacto com o meio agrícola, quando capaz sos. Modalidades há mesmo de ensino que a
de bem o estudar e conhecer, e de intervir lei consigna, exemplo o ensino feminino inte­
então no seu melhoramento, nos vários as­ ressando por agora apenas a Escola «Vieira
pectos culturais e tecnológicos. Nem outra Natividade» em Alcobaça, que não lograram
coisa quere dizer o confiar-se à nossa Escola ainda, à míngua de recursos, comêço sequer de
—como a escolas ou faculdades congéneres, realização; e se em outras escolas, das mais
—a tarefa da extensão universitária. antigas e com melhores tradições, um punhado
Ora a verdade é que tal contacto com o de agrónomos, dos que mais honraram o nosso
meio e imediata influência sôbre êle, só se con­ Instituto que os formou, lhes imprimem sinais
seguem como ê coisa bem patente nas modela­ evidentes de progresso, em nenhuma—dizem-
res Faculdades de Agronomia das Universida­ -no os próprios Conselhos Escolares — está
des Norte-Americanas, pelo funcionamento atingido o grau bastante de eficiência no tra­
anexo de Estações experimentais, guiadas pe­ balho, que se faz mister. Em nenhuma, sobre­
los diversos corpos docentes, que de resto» tudo a influência a exercer na região, para
recebem da labuta experimental, que além fora dos estreitos limites da Escola, tem segu­
dirigem, o melhor ensinamento e o principal ras garantias de êxito, e neste sentido não
motivo do seu aperfeiçoamento técnico. hesita êste Conselho Escolar em defender a
TocáP^entre nós êste assunto das Estações idéia de que deve também aqui, sempre que
Experimentais, ê, Sr. Ministro, ferir a questão possível, justapor-se ao organismo-escola o
magna com que deva preocupar-se a agrono­ organismo-estação, o que poderá afinal fazer-
72 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

se com economia para o Estado e com a ma­ Assiste-se em Portugal, na época que atra­
nifesta vantagem de aproveitar determinados vessamos, a um mal estar que de dia para dia
técnicos especializados, os quais em regra, nos se agrava e ora se traduz na luta de classes,
quadros, não sobejam. ora no menosprêzo, em matéria de compe­
Nesta altura da sua exposição, o Conselho, tência, por aquêle princípio são, que a cada
tendo feito referência leve, como não podia um manda não ultrapassar o nível, que natu­
deixar de ser, às questões que directamente ralmente lhe marcaram o seu saber e os seus
respeitam à prática do ensino e da investiga­ merecimentos.
ção na sua e nas demais Escolas Agrícolas, Vítima dêste êrro de visão, desta tendência
precisa ainda frisar um ponto que, indirecta- usurpadora, foi o Conselho Escolar e com êle
mente, aliás, lhes respeita também e a nós ou­ tôda a classe agronómica, quando meses atrás
tros professores do Instituto Superior de Agro­ se decretou o título de engenheiros-agrícolas
nomia, como de resto aos que exercem a agro­ para diplomados de ensino agrícola médio, tí­
nomia oficial, muito interessa. Referimo-nos, tulo êste de falsa nomenclatura, conduzindo a
Sr. Ministro, à inadiável adopção de medidas uma fácil confusão com o de engenheiros-
donde resulte, tão rapidamente quanto possí­ -agrónomos que corresponde ao ensino su­
vel, o fazer-se o inventário rigoroso das condi­ perior, e confusão que, a dar-se, não ê com
ções da nossa produção agrícola nosjseus aspec­ certeza a estes últimos que aproveita. Ficou
tos múltiplos, a par do da propriedade rural por então no seu auge a chamada questão uni­
que lhe serve de assento. Inquérito agrícola e versitária, e a Federação Académica incluiu
cadastro rústico são coisas que na hora presente no número das suas reclamações, que as Uni­
se impõem como de primeira importância, no versidades apoiaram, a dos estudantes da
estudo dos nossos problemas económico-agrí­ nossa Escola contra o facto citado. Por sua
colas, feito com o são propósito de resolvê-los parte o Conselho Escolar representou ao Par­
em benefício da Nação. lamento; nas mãos de V. Ex.a depõe êle hoje
Interessa tanto a todos, Sr. Ministro da Agri­ a cópia da sua representação; a questão está
cultura, a solução dêstes casos que, até como de pé, como na sua essência a questão das
simples portugueses cônscios do seu alcance, Universidades. Possa o Govêrno,de que V. Ex.a
nos ficaria bem a nós, Conselho Escolar, o faz parte, encontrar para estes casos a solução
chamar a atenção do Govêrno da República satisfatória que êles comportam.
para êles. Mas outro pode ser o nosso ponto Com a recente remodelação dos serviços do
de vista, colocando-nos mais a dentro da nossa Ministério da Agricultura, novos atritos se le­
missão de ensino, e êsse é de que tem além de vantaram, agora com outra classe; é a questão
tudo, Sr. Ministro, um valor especial para nós, dos serviços zootécnicos para cujo desempe­
professores, a adopção destas medidas, porque nho vem a ser negada competência aos agróno­
só elas podem trazer aos nossos estudos, em mos. Desde muito que, em matéria de ensino, a
que o aspecto económico das questões está, as Zootécnia tem estado de preferência entregue
mais das vezes, presente, a base séria com que à nossa Escola, sucedendo porém que na exe­
possam fundamentar-se, o rumo preciso da cução dos serviços, por uma incoerência curio­
nossa argumentação didáctica, e a dentro da sa, essa preferência tem sido dada a médicos-
nossa Escola como fora dela, a segura orien­ -veterinários. Pensou-se agora em remediar
tação da nossa actividade, que deseja bem tal incoerência, em pôr, uma vez ao menos, um
servir o país, no exercício da profissão; mas pouco de lógica na descriminação das compe­
para isso precisa antes de tudo bem conhecer tências oficiais. Baldado esfôrço; acumulam-
êsse mesmo país no que êle é, no que êle -se os protestos; e a questão vai porventura
vale, e naquilo de que é capaz. ter a solução menos inteligente e menos jusía.
Estas são, Sr. Ministro, no campo da exposi­ Para V. Ex.a, Sr. Ministro, apela o Conselho
ção de idéias, as considerações que por agora Escolar nesta conjuntura, fornecendo-lhe sé­
nos cumpre apresentar a V. Ex.a. rios elementos de estudo; a memória que de­
Resta-nos pugnar mais uma vez pelos nos­ pomos em suas mãos versa o assunto serena-
sos direitos a prerogativas, em têrmos ele­ mente, no campo exclusivo dos princípios;
vados, sem animosidade e sem paixão. pudessem todos ajuizar dela, como V. Ex.a o
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 73

pode, e a vitória seria por nós, seria pela com os Próprios Nacionais; mas a verdade é
lógica que está connosco. que, em face da lei, as citadas dependências
Outra reclamação de significado semelhan­ são pertença do Instituto e a ninguém mais
te, carece ainda o Conselho Escolar de trazer era lícito dispor delas.
aqui, renovando nesta parte, anteriores deli- Factos como êste, Sr. Ministro, não são de
gências. Erradamente, as disposições legais molde a tranqtlilizar-nos, nem tão pouco os
por que se têm regido os serviços da Instru­ primeiramente apontados trazem ao nosso es­
ção Agrícola, confiam indistintamente a um pírito a confiança e a boa disposição, que hajam
professor da Escola de Medicina Veterinária de proporcionar-nos, na tarefa árdua de dia a
ou do Instituto Superior de Agronomia, a che­ dia, concentração, eficiêneia no esfôrço e, em
fia dos mesmos serviços; o que permitiu, por suma, a satisfação moral a que temos direito.
exemplo, que no decurso do ano de 1918 esti­ O Conselho Escolar vindo junto de V. Ex.a
vesse superintendendo em tôdas as Escolas a propor-lhe medidas conducentes ao bom
Agrícolas um professor de Medicina Veteri­ desempenho da missão, que lhe compete, jul­
nária. Tal contrasenso legal exige correcção; ga-se crèdor da consideração de V. Ex.a; mas
fiamos do elevado critério de V. Ex.a a solu­ também crê que em nada pode desmerecer
ção dêste caso. dessa consideração, pelo facto de mostrar de­
Finalmente, Sr. Ministro, se até aqui temos sejos de encontrar-se, através dos seus traba­
produzido respeitoso protesto contra situa­ lhos, cercado das mais sólidas garantias; daí
ções que revertem em nosso desprestígio, a a orientação que confiadamente demos, Sr. Mi­
verdade é que ainda elas teem sido criadas à nistro, à nossa diligência de hoje.
sombra de decreto que, se as não justifica Terminamos, Sr. Ministro da Agricultura,
perante a razão, ao menos as legitima pe­ por saudar V. Ex.a com respeito e por afirmar,
rante a fôrça da lei. pondo nesta afirmativa o tom da maior since­
Mas até com a inobservância desta mesma ridade que está no ânimo de todos nós, o pro­
lei, vai V. Ex.a ver que tem a nossa Escola sido pósito da mais ampla cooperação, sentindo-se
alcançada. É facto muito recente: trata-se verdadeiramente feliz o Conselho Escolar do
duma ocupação com todo o aspecto de violên­ Instituto Superior de Agronomia se, por si ou
cia, que foi feita de dependencias do Jardim por alguns dos seus membros, puder nos
Botânico da Ajuda, anexado legalmente ao assuntos da sua competência, coadjuvar com
Instituto, por parte dum batalhão da guarda eficácia, nesta conjuntura, a V. Ex.a e ao Go-
republicana aquartelado no Paço Velho. Argu­ vêrno a que pertence.
mentou-se com um arrendamento celebrado O Conselho Escolar
I
*

.
TRABALHOS DOS PROFESSORES
i
Relatório dos trabalhos executados na Tapada da Ajuda
(Secção de Culturas Arvenses), de 1914 até ao presente.
PELO PROFESSOR

António Correia da Silva Rosa

Depois da revolução que proclamou ao Instituto, ficando assim o ensino


a República em Portugal, a Tapada da agronómico dotado com o principal ele­
Ajuda, até então na posse da Casa Real, mento para a prática do ensino cultu­
ficou, por assim dizer, sem dono, sendo ral.
cobiçada por muitas entidades para fins Quanto a mim, êste decreto marca o
diversos. melhor serviço feito ao Instituto depois
Fui eu quem tive a idéia de se insta­ da sua fundação, honrando o Ministro
lar nela o ensino agronómico, até então que, apesar de muitas dificuldades, con­
professado no instituto de Agronomia e seguiu promulgá-lo.
Veterinária, no antigo edifício da Cruz Ao Dr. Brito Camacho deve, por isto,
de Taboado, hoje pertencente à Escola o Instituto eterna gratidão.
Superior de Medicina Veterinária. *
Em sessão do Conselho Escolar pro­
pus que se pedisse ao govêrno provisó­ * *
rio essa propriedade, a fim de nela se Tendo mudado de senhorio e pas­
construir o edifício escolar, ficando os sando para a posse dum estabelecimento
terrenos da Tapada na posse do Insti­ de ensino agronómico, forçoso era que
tuto para servirem de campo prático mudasse a sua utilização.
para a demonstração, experimentação e Durante muito tempo os seus princi­
investigação, da parte cultural do en­ pais fins eram a caça e o recreio, para
sino superior de agronomia. o que admiràvelmente se prestava, gra­
O Conselho hesitou a princípio; mas, ças aos seus vetustos e cerrados arvore
depois dum breve relatório verbal, feito dos e matagais.
por alguns professores que vieram ex­ Dentro dos seus muros, que a fecha­
pressamente examinar esta propriedade, vam em tôda a roda, existiam matas de
declarando a possibilidade da sua adap­ zambujeiros e outras essências flores­
tação ao fim proposto, resolveu apro­ tais, cuja ramaria formava uma cober­
var a minha proposta e pedir ao Minis­ tura tão espêssa que os raios solares
tro do Fomento, Dr. Manuel de Brito não conseguiam penetrar através da sua
Camacho, a cedência da Tapada da densa folhagem.
Ajuda, para nela ser instalado o Ensino Eram frescos e sombrios retiros para
Superior de Agronomia. passar as horas de calma dos dias esti­
Por decreto com fôrça de lei de 12 vais.
de Dezembro de 1910 foram, a Tapada Ainda, porém, sob a administração da
e 0 Jardim Botânico da Ajuda, cedidos Casa Real, algumas dessas matas foram
78 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

transformadas, tendo os zambujeiros lá não subiram, que vão encosta acima,


sido, na sua maior parte, destroncados, até ao lago redondo que fica no alto,
rebaixados e chapotados, para serem encaminhando-se depois por a pequena
enxertados e convertidos em oliveiras. estrada virada ao sul, ao fundo da qual
A frondosa e luxuriante vegetação e à direita se encontram os depósitos
foi sacrificada a uma aplicação menos para água.
artística mas de maior rendimento; a Dêles se vê, em tôda a sua extensão
Tapada, porém, perdeu o seu maior e sem discontinuidade, o imponente es­
encanto. tuário do Tejo, marginado ao sul pelos
Em 1910, apresentava um tríplice as­ outeiros da Outra Banda, desde o pon­
pecto—jardins, mata e olival. tal de Cacilhas até à barra, e pelas ver­
Depois que o Instituto dela tomou dejantes chans, onde alvejam as povoa­
posse, entrou em período de transfor­ ções que se enxergam até para lá de
mação, como não podia deixar de ser. Alcochete, tendo como fundo os majes­
Esta transformação, porém, não a tosos maciços de Palmeia e da Arrá­
prejudicou, pois que se suprimiu apenas bida.
a parte de olival que era supérflua e Para poente, norte e nascente, o ocea­
que não primava pela beleza, conser­ no, a serra de Monsanto, e a cidade em
vando ela ainda, em muitos pontos, o anfiteatro, coroada ao longe pelo Cas­
seu aspecto silvestre. telo, pela Graça, pela Penha de França.
Ficaram pois conciliados os dois fins Não se encontra melhor dentro de Lis­
que deve ter: — parque de passeio para boa, e cidades europeias que possuam
os visitantes,— e campos de culturas de semelhante vista, poucas haverá.
ensino, verdejando por entre as partes Já por várias vezes tenho ouvido, es­
cobertas de arvoredo. O útil e o agra­ tando lá, exclamações de admiração a
dável, reilnem-se hoje nesta coutada que estrangeiros e a nacionais, ao verem de
continua a ser a bela Tapada da Ajuda. repente tais belezas.
Sob certo ponto de vista ainda me­ *
lhorou, pois ficaram mais a descoberto
os belos horizontes que de certas par­ * *
tes se descortinam. A área da Tapada é de 107 hectares.
Quem subir aos depósitos de água Na sua constituição geológica entram
que ficam no cimo, fica surpreendido o basalto e o calcáreo.
com o espectáculo que repentina mente Por sôbre êste último estende-se em
se lhe depara. manto uma camada de basalto que
Para todos os lados se defronta com irrompeu através do calcáreo e cuja es­
belos e variados panoramas, postos pessura é avaliada em 45 a 50 metros.
agora bem à vista pela supressão duma Nalguns pontos, porém, o calcáreo
parte da vegetação que os encobria. ficou a descoberto, como sucede na
E êste foi um dos melhores serviços grande pedreira que vai da chamada
que prestei aos passeantes da Tapada e cadeira de Junot até à parte mais alta
aos amadores das grandiosas paisagens. da Tapada, onde continua descendo para
Os que estas linhas lerem e que ainda a outra vertente oposta, estando tôda
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 79

esta mancha calcárea coberta de cerrada Não tem a Tapada mães de água su­
mata de zainbujeiros. Êste calcáreo tem ficientemente ricas de água nascente,
já sido explorado, fornecendo, as pedrei­ que deem para regas abundantes no ve­
ras em exploração, pedra de alvenaria. rão e a que corre, está mal aproveitada.
A área desta zona calcárea é de uns Por forma que, com excepção do Quin-
8 hectares, proximamente. talinho, do laranjal, da horta e da parte
Orogràficamente, a Tapada apresenta inferior do horto agrícola, o que, tudo
um desnivelamento notável. somado, andará próximo de dois hecta­
Segundo a carta antiga que existe e res, tudo o mais só pode dar culturas
que me serviu para calcular a área da de sequeiro.
propriedade, a curva de nível traçada Muito se lucraria em obter água com
junto à porta de entrada principal dá a abundância, para culturas regadas e
altitude de 20 metros. principalmente para a praticultura.
Daí as terras elevam-se até ao Alto Assim a cultura da luzerna, que em
da Casa Branca, ponto mais elevado da ponto pequeno faço no meu horto, deu
Tapada, que tem a cota de 140 metros, no ano passado, segundo ano depois
para, em declive mais rápido, baixarem da sementeira, 8 e 9 cortes abundan­
até à curva de nível de 64 que repre­ tes, provando assim que seria uma cul­
senta o ponto mais baixo do lado da tura rendosa se houvesse água para
Ajuda, tornando novamente a elevar-se regar alguns hectares.
para 0 lado da Serra de Monsanto até Actualmente está a Direcção Geral
à altitude de 136 metros. da Hidráulica Agrícola fazendo traba­
A fôlha de cultura mais direita da Ta­ lhar uma sonda movida a vapor com o
pada é o planalto da Eira velha, com 6 hec­ fim de fazer um furo que atravesse as
tares, proximamente, onde há apenas camadas de basalto e do calcário sub­
duas curvas de nível, as de 136 e 132 jacente, para chegar ao lençol de água
metros. que fica entre o calcário e o grés que
Tôdas as outras são de maior pendor, se lhe segue.
e algumas bem enladeiradas. O furo deverá provàvelmente ir à
Como as superfícies inclinadas olham profundidade de 350 a 400 metros.
para os diversos pontos cardiais, temos O trépano do aparelho de perfuração
aqui exposições as mais variadas. tem a largura de 10 polegadas, pesa
As partes altas são batidas dos ven­ 300 quilos, e trabalha por percussão.
tos, e às vezes violentamente, não se po­ O custo de todo o material para esta
dendo aí dar bem tôdas as culturas. perfuração foi proximamente de 13.000
As terras, como são tôdas inclinadas, escudos.
esgotám-se depressa, não havendo terras Tive a honra de acompanhar o pro­
encharcadas. fessor Fleury na sua visita à Tapada
De meado da primavera em diante com o engenheiro-agrónomo Mário da
secam e começam a gretar, chegando no Cunha Fortes, actualmente na Direcção
verão, muitas dessas gretas, a ter a lar­ Geral da Hidráulica Agrícola.
gura duma mão travessa e a profundi­ Depois de lhes apresentar os meus
dade dum metro. desejos para obter a quantidade de água
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 8o

para rega dura certo número de hecta­ por uma bomba apropriada que traba­
res, e para outros serviços do Instituto, lhará com um motor a vapor ou a es­
levei-o à parte da Tapada chamada Eira sência.
Velha, onde me parecia melhor fazer-se Próximo dêste local existe um depó­
o furo para obter essa água, pois dali sito onde a água se poderá juntar, para
se regaria com facilidade para qual­ daí, por tubagens, irradiar para a rega
quer lado da propriedade. das diversas folhas de cultura, ou para
Foi efectivamente êsse sítio, na terra outros serviços que a exijam.
da Eira Velha, planalto da Tapada, na Se êste empreendimento se realizar,
cota proximamente de 136 metros, que que valor êle não dará à Tapada!
o ilustre geólogo e o distinto engenhei­ Que belos prados se poderão formar,
ro-agrónomo escolheram para a insta­ que sirvam não só para alimentação do
lação do aparelho de furar. gado da exploração, mas também de
Está já trabalhando, e o furo feito é ensinamento e demonstração de prati-
revestido de ferro até à profundidade cultura que tão descurada é entre nós.
de 10 metros. Oxalá que os poderes públicos não
Abriu-se primeiro um poço de 2 a 3 faltem com os meios necessários, pois
metros de diâmetro, do fundo do qual a obra é dispendiosa, para se levar a
parte 0 furo feito com trépano. bom têrmo êste tão útil tentame!
Do relatório do professor Fleury, e
com autorização superior, extraímos a * *

conclusão que nos interessa. * *


«A única solução do problema da
água na Tapada da Ajuda, no caso de Pelo regulamento geral do Instituto
abandonar o sistema actual das minas, Superior de Agronomia, aprovado pelo
é o seguinte: decreto n.° 867 de 16 de Setembro de
a) Abrir poços largos, de 2 a 3 me­ 1914, competia aos professores de cul­
tros de diâmetro, com galeria de base, turas a direcção dos campos de expe­
na bacia superior, ao norte da zona riência e demonstração, respectivos.
cretácica das pedreiras. Por dificuldades de execução imediata
b) No fundo dum poço fazer um furo, dêste decreto, só em 20 de Abril de 1915
calculando o diâmetro de maneira a po­ recebi ordem para assumir a direcção
der atingir uma profundidade de 350 e da secção das culturas arvenses, por
mesmo 400 metros. ser eu o professor da cadeira de Agri­
Nestas condições, o furo poderia evi­ cultura Geral e Culturas Arvenses.
tar as chaminés eruptivas e as pesqui­ Foi, pois, desta data em diante que
sas teriam a garantia de fornecer água comecei a intervir na exploração da
em quantidade suficiente, quer águas Tapada.
do basalto, quer águas do Bella- Como nessa altura do ano pouco ti­
siano ou mesmo do Grés de Almar- nha a fazer sôbre as culturas em desen­
gem.» volvimento, tratei de estudar a proprie­
Êste furo não será arteziano, deven­ dade, na sua história, sob o ponto de
do a água ser elevada até à superfície vista do sistema de exploração a que
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 81

tinha estado submetida, nas condições é para o agrónomo um dos melhores


em que me era entregue, e no que me predicados, e uma garantia de acêrto
competia a mim fazer, como professor no seu conselho.
de agricultura geral e de culturas, das E preciso notar, porém, que uma boa
terras que me tinham entregado. observação só a faz quem saiba, com
Era esta última parte a que mais me método e Sciência, interpretar bem o
preocupava, pois os planos de explora­ que vê, tirando daí as apreciações e
ção futuros dependeriam, evidentemente, conclusões que devem ser tiradas. E
do critério que eu seguisse e dos prin­ isto só se obtém com a prática de as
cípios basilares em que assentasse. fazer.
E no meu espirito a questão desen- Por isso o estudante deve ter, durante
volveu-se desta maneira: os anos do seu curso, possibilidade de
fazer muitas e variadas observações, em
Esta propriedade foi dada ao Instituto muitas e variadas culturas.
com fins de ensino; logo, a sua cultura Eis uma das directrizes do meu plano
não deve ser feita como a faria qual­ de exploração.
quer lavrador ou qualquer empresa, Estabelecer o maior número possível
com mira, apenas, em lucros pecuniá­ de campos de observação e demonstra­
rios. ção, contendo as principais culturas do
O plano do seu aproveitamento tem nosso país, feitas por forma a obter
de obdecer a um critério diferente. boa produção.
Qual? O estudo e o ensino. O principal meio de fazer progredir
O estudo para o aluno; o estudo e o a arte de cultivar é a experiência, à qual
ensino para o professor. se deve recorrer sempre que haja dú­
Agricultura não se pode estudar só vidas, ou que se intente a aplicação de
nos livros ou nas revistas, nos labora­ qualquer descoberta, ainda não posta
tórios ou nos museus, ouvindo prelec- por nós em prática, devendo todo o
ções, mesmo que sejam de grandes profissional ilustrado e empreendedor
mestres. ter, junto à sua exploração, um campo
É precisa a observação directa, obser­ de experiência.
var muito, observar bem o que se passa Uma escola como o Instituto Superior
nas culturas, que devem ser o mais de Agronomia não pode deixar de ter
variadas possíveis, para que o saber os seus campos experimentais, onde se
do profissional seja o mais completo. faça, em área relativamente grande, o
A meteorologia e a evolução cultural que começou por ser feito em vasos ou
andam estreitamente ligadas, depen­ em canteiros de pequena superfície.
dendo muito o bom têrmo do período No nosso país há tanto a experimen­
vegetativo do modo como se desenro­ tar no ponto de vista cultural, que nos
laram os fenómenos meteorológicos. meus planos de exploração reservei sem­
O homem não tem acçâo nenhuma pre um certo número de folhas para
sôbre estes fenómenos limitando-se a experiências dêste género.
observar os seus efeitos. Darei mais adiante os resultados que
Saber observar e ter observado muito já posso apresentar.
6
82 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Os campos de experiência são desti­ nos e para o professor que tôda a vida
nados ao estudo de novas espécies e tem de estudar e de aprender.
novas variedades, usadas já, ou ainda Êste é que deve ser o critério da
não conhecidas em outros países; ou en­ apreciação de um campo de culturas
tão para o estudo e comparação de novos anexo a uma escola superior: fazer
processos de trabalhar as terras, de as sciência, fazer ensino, e, sendo possí­
fertilizar, de amanhar as plantas, de vel, ser útil aos lavradores, fornecendo-
melhorar as sementes, de obter melho­ -lhes sementes de escolha, já estudadas,
res qualidades e maiores quantidades ou por outra qualquer forma.
dos produtos que se deseja, que nuns No meu plano de exploração, que
casos são as sementes, noutros a parte anualmente faço, tenho obedecido, desde
aérea dos caules e as folhas, noutros os que entrei neste labor, a estes pontos
tubérculos caulinares e as raízes tuber- de vista, sem pôr de parte, aliás, a ques­
culizadas, noutros, as fibras, etc. tão financeira.
Ainda, com o fim de obter exempla­
*
res de aula, colecções de museu, uma
parte da fôlha chamada Terra Grande, * *
próxima do Instituto, é destinada ao
Horto Agrícola da minha cadeira. Para obter campos de observação em
Tenho, portanto, sob a minha direc- número e extensão suficientes, e bem
ção : — Campos de observação e de­ assim campos de experiência, necessá­
monstração — Campos de experiência rio foi arranjá-los.
— Horto Agrícola. Não os havia nas condições precisas.
^Qual é o lucro destas culturas? A Tapada era um olival pegado e
Assim como dum laboratório quí­ pedregoso. ^Como fazer trabalhar nes­
mico, ou dum museu, o lucro da des­ tas terras, cheias de árvores e de pe­
pesa feita é somente o saber que os alu­ dras, as máquinas agrícolas para lavou­
nos levam das análises que aprenderam ras fundas, sem que elas se fôssem
a fazer ou da observação dos objectos despedaçar nas raízes, ou nas pedras
expostos, assim as culturas feitas nas escondidas no solo?
terras que a escola pôs à minha dispo­ iComo empregar os tractores moder­
sição dão, como principal lucro, o apro­ nos com os seus aparelhos de lavoura
veitamento técnico que os meus alunos que só podem trabalhar bem em campo
tiram das demonstrações, das experiên­ livre ?
cias, e da observação do que se passa ^Como empregar os semeadores me­
durante o período de vegetação das cânicos, os distribuidores de adubos, as
plantas cultivadas. ceifeiras, os respigadores, e tantas ou­
O resto é acessório, não deixando tras máquinas agrícolas que constante­
de ser importante. mente andariam aos encontrões às ár­
É muito bom que, juntamente com vores e às pedras até se partirem?
ensino, deem proveito pecuniário, mas, <;Como reconhecer o aumento da pro­
se o não derem, o seu papel não falhou, dução devida ao emprêgo de sementes
porque deram ensinamento para os alu­ seleccionadas, ou de adubos, ou de pro­
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 83

cessos culturais diferentes, quando a que se arrancaram. Outra despesa, ou­


concorrência feita pelas árvores a estas tra ocupação de pessoal, outra perda
culturas as prejudicava em desigual in­ de tempo.
tensidade, pois cada hectare tinha ár­ Mas sem esta preparação prévia a
vores em diferente número e desen­ Tapada teria de continuar a ser lavrada
volvimento ? a arado e a labrego.
Absolutamente impossível. Muitas charruas se teem partido de
Impunha-se pois a adaptação dos ter­ encontro a estas resistências ocultas no
renos, limpando-os de árvores e de pe­ seio da terra, e quanto mais fundo se
dras, para poderem ser trabalhados quere lavrar, maiores dificuldades há a
com as máquinas agrícolas modernas. vencer, tendo ainda em certas folhas
Era preciso desarborizar; desarbori- de limitar a profundidade, para que o
zei. Era preciso espedregar; espedre- material não se inutilize inteiramente.
guei. E tudo isto foi feito segundo Eis, pois, um trabalho preparatório
planos de exploração aprovados pelo absolutamente indispensável para a sé­
Conselho Escolar. rie de experiência e demonstrações cul­
A desarborização levantou alguns pro­ turais que só agora se poderão começar
testos na imprensa diária. Era natural. a fazer em larga escala.
Para os amadores da Tapada que só Não está completo, longe disso.
teem em vista o seu gôzo, o corte das Há ainda folhas de cultura por limpar
árvores era um vandalismo, pois só de pedras; todos os anos, porém, se irá
apreciavam o aspecto panorâmico que fazendo o que se puder dentro dos limi­
os deleitava nos seus passeios, quási tes das verbas de que possamos dispor.
quotidianos, sem querer saber da sua É êste um melhoramento fundiário
nova utilização, que não compreendiam. que muito aumentará o valor das ter­
* ras, tanto para o ensino como para a
produção.
* * *

* *
A abundância e volume das pedras
existentes em tôdas as terras tornavam- Com um terceiro obstáculo tenho tido
-nas impróprias para os fins deseja­ de me defrontar, que muito prejudica as
dos. culturas: as ervas espontâneas, dani­
Comecei por isso a espedregar logo nhas; umas, simples comensais, outras,
que pude, em Agosto de 1915, e de en­ temíveis parasitas.
tão para cá tenho porfiado nesta ingrata Dentre as primeiras destaca-se uma
e custosa tarefa. Oxalidácea, a Oxalis cernua, Thunb,
Muita, muita pedra se tem tirado, e conhecida no nosso país por diversos
já hoje as terras apresentam outro as­ nomes. É originária do Cabo da Boa-Es-
pecto, prestando-se melhor ao uso da perança, e subespontânea no nosso país.
máquina agrícola. Na Tapada, Serra de Monsanto e seus
Não bastava, porém, limpar da pedra arredores é chamada erva pata.
as folhas de cultura, era preciso tam­ Em outros pontos denomina-se: trevo
bém limpá-las das raízes das árvores azedo, erva canária, etc.
84 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Esta planta está invadindo todo o país Tentarei de novo, em ocasião opor­
e na minha última excursão ao Algarve, tuna, experimentá-la.
há dois anos, lá a encontrei, dizendo-me Segundo me dizem actua tão energi­
a gente da terra que ela era nova na camente que mata a erva canária, mas
província, ou pelo menos nas proximi­ torna a terra improdutiva por um ano,
dades de S. Braz d’Alportel onde a vi. e se a colocar-mos em monte sôbre a
Dão-lhe ali o nome de santas noites. terra deixando-a permanecer algum
Muitos lavradores de vários concelhos tempo, a terra onde esteve o monte
se queixam dessa praga que invade as fica estéril.
terras, de inverno, não deixando desen­ O único meio que me dá resultado é
volver as searas, cobrindo-as logo à semear mais tarde depois de, com uma
nascença, pois aparece juntamente com lavoura, destruir a primeira camada
o trigo ou outras plantas, logo depois desta herva que aparece; ou melhor
de semeadas. ainda, deixar que se forme segunda
Tenho tido na Tapada verdadeiros camada, lavrar para a enterrar, gradar
desastres devidos ao extraordinário e para tirar bem da terra a que não ficou
rápido desenvolvimento em que esta bem enterrada e semear depois.
planta medra nestes terrenos. Dá despesa mas assegura-se a cul­
Sementeiras de inverno, feitas no tura. Os alqueives de verão, a 30 cen­
cedo, são geralmente sacrificadas, na tímetros ou mais, também dão resul­
parte da Tapada onde ela mais abun­ tado, secando ao sol forte desta época
dantemente existe. grande número de bolbos que veem à
Assim, sementeiras de aveia para superfície da terra.
verde, e tremoço, que são as primeiras Perde-se, porém, muito tempo com
a fazer-se, teem sido totalmente preju­ estas operações, em detrimento dos res­
dicadas. tantes trabalhos.
Não se pode mondar esta planta, por Introduzindo no afolhamento culturas
custar bastante tal trabalho, e não dar sachadas de inverno, procurei neste
o resultado que se esperaria, pois os ano, atacar a erva pata, enchendo uma
bolbilhos que ficam na terra, e pelos boa porção de terreno com couves vá­
quais se multiplica, dão origem a novas rias, plantadas em linha, para melhor
camadas que seria preciso mondar se­ as sachar.
gunda, terceira e quiçá mais vezes. Obtive, é claro, o resultado que pre­
Várias substâncias tenho experimen­ via, mas o remédio sai caro.
tado, mas sem resultado, para a matar, Levantadas as couves em Fevereiro,
tais como o gêsso, o sulfato de ferro e foi a terra semeada com trigo de pri­
sulfato de cobre. mavera que está vegetando muito bem
Teem-me dito que a única cousa que na data em que escrevo estas liphas.
a mata é a chamada serradura do gás, Repetirei esta experiência no pró­
resíduo das lavagens do gás da ilumi­ ximo ano agrícola, na mesma terra, pon­
nação. Tratei de obter esta subtância do-a em produção no inverno com cul­
para a experimentar, mas na ocasião tura sachada e na primavera, com outra
não a havia por não se fabricar gás. cultura apropriada.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 85

Estou crente que, insistindo assim, É como se uma vasta colcha de sêda
atenuarei muito os danos desta maléfica amarela tivesse sido estendida sôbre a
planta. terra, prendendo-nos em contemplativa
Ela é de tal raça que, cultivando em admiração, regalando-nos a vista que
grandes vasos, dentro do meu labora­ se não cança de a fixar.
tório, várias espécies, tais como trigo e Outra erva existe, ainda, em abun­
outros cereais, plantas pratenses, etc., dância, em parte da Tapada, que torna
tôdas se estiolaram e morreram; só a muito difícil ou quási impossível certas
herva pata, que com elas nasceu, se culturas. É uma Orobanchacea, pa­
criou e se desenvolveu como se estivesse rasita das raízes das Phanerogâmicas
ao ar livre. verdes.
De justiça é que mencione agora, já Conforme se'desenvolve sôbre plan­
que tanto mal dela disse, algumas boas tas anuais ou vivazes assim os seus ór­
qualidades que porventura tenha. gãos vegetativos são anuais ou vivazes
Serve de alimento para vacas leitei­ também.
ras, tendo as nossas durante 0 inverno São espécies do género Orobanche,
abundância dêsse verde. L. Erva toira. (P. Coutinho).
Muita gente julga que ela faça mal A que é parasita das faveiras tem
aos animais que a consomem. aqui o nome especial de Gigante, tendo
A-pesar-de conter certa percentagem noutros sítios a denominação de Pena­
de ácido oxálico, donde vem o nome cho.
da espécie — Oxalis cernua—os nossos Esta espécie chega a destruir alguns
animais que a comem, vacas e ovelhas, favais completamente. Assim, na Ta­
não teem apresentado timpanites ou pada não se podem semear favas senão
quaisquer outros sintomas de envene­ na encosta que desce do Alto da Casa
namento por êsse ácido. Branca para a ribeira, e daí para poente
Mas não são só os nossos animais na encosta do Carrascal.
que a consomem impunemente. Os la­ Nas outras terras é sementeira per­
vradores dos arredores da Tapada, que dida, como já se tem visto.
teem vacas leiteiras, e em número muito No meu Horto agrícola, onde tenho a
superior ao nosso, vão comprar talhões colecção das plantas cultivadas em Por­
de terreno onde essa erva cresce, para tugal, aparecem orobancas que atacam
a dar às suas vacas, o que não fariam muitas plantas, principalmente da famí­
se tivessem conhecimento dalgum de­ lia das Leguminosas e das Umbelíferas.
sastre sucedido com essa alimentação.
Èste alimento é fraco, muito aquoso, Para limpar a terra destas plantas só
e por isso não pode ser empregado vejo aconselhado um processo que con­
exclusivamente. siste em semear espécies de que a oro-
A outra qualidade, que a torna apre­ banca seja parasita e destruir estas
ciável em certa época do inverno, é a quando estão em floração, não dei­
mancha côr de canário, que põe na pai­ xando formar as sementes.
sagem um aspecto tão estranho quando Esta destruição pode fazer-se por meio
uma extensão grande está florida. duma boa lavoura funda, quando a área
86 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

invadida é grande; ou arrancando as muito aproveitáveis, e ainda variedades


inflorescências à mão ou a sacho logo desconhecidas no nosso país e muito
que apareçam fora da terra, quando se recomendadas no estrangeiro, tenho en­
trata de pequenas superfícies. contrado embaraços sérios na execução
Se a orobanca frutifica e se dá a dis­ dêste plano.
seminação das pequeníssimas sementes, Antes de tomar posse desta secção, a
então o solo fica contaminado, podendo cultura fazia-se com muito poucas espé­
as sementes conservar o seu poder ger* cies.
minativo por io anos ou mais. Logo que comecei a dirigir os traba­
Pereira Coutinho descreve na sua lhos culturais, tratei de cultivar muito
Flora de Portugal dezasseis espécies maior número de plantas, dedicando-me,
do género Orobanche, com muitas sub­ porém, mais cuidadosamente, ao trigo
espécies e variedades, que atacam mui­ e suas variedades, tanto portuguesas
tas plantas espontâneas e cultivadas. como estrangeiras.
É de notar, que nas culturas do grão Para obter culturas rendosas neces­
de bico, branco e prêto, em terras em sário era estudar o solo, informando-
que os favais seriam destruídos pelo -me do seu grau de fertilidade.
penacho, esta orobanca não aparece, A maior parte das folhas de cultura
apesar da indicação de Pereira Coutinho. não era fertilizada havia longos anos,
Explico êste facto pela falta de humi­ segundo a afirmação do pessoal antigo
dade necessária para o desenvolvimento desta propriedade.
do embrião, pois a cultura é feita na As terras davam pouco, precisando
primavera e serôdia, e as terras da Ta­ ficar de pousio por algum tempo.
pada são sêcas, sendo as culturas tôdas Comecei, pois, por obter a análise da
de sequeiro. terra.
A primeira amostra foi colhida no solo
Parece-me pois indicado não fazer, da «Terra Grande», que fica entre o
nas terras infestadas pelas orobancas, Observatório Astronómico e o jardim
culturas de inverno de plantas que se­ de entrada.
jam atacadas por estes parasitas, como Eis o resultado dessa análise:
a faveira, ou outras; e, querendo intro­ Análise mecânica:
duzir no afolhamento uma Leguminosa, Cascalho.................... 7 gramas por mil
escolher as que são cultivadas na pri­ Areia grossa .... 65 » » »
Terra grossa .... 120 » » »
mavera. Terra fina................ 808
* * * i
» » »
1.000
Análise fisica da ten a fina:
A exploração cultural da Tapada não Humidade................ 95.2 » » »
é pois destituída de obstáculos e dificul­ Sedimento arenoso
dades. grosseiro................. 139,6 » » »
Sedimento arenoso
Sendo de primeira necessidade peda­
fino........................ 5°,7 » » »
gógica cultivar o maior número possí­ Calcáreo.................... vestígios
vel de plantas usadas em Portugal, e Argila......................... 7H.5 » »
mesmo outras raramente usadas, mas i. 000,0
1.000,0
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 87

Análise química da terra fina : Análise mecânica :


Azoto total................ 1,5 gramas por mil Pêso de 1 litro de terra. 1215 gramas
Acido fosfórico total. 4,8 » » » Cascalho......................... 35 por mil
»
Potassa......................... 3,i » » » Areia............................. 58 » » »
Cal................................. 30,1 » » » Terra grossa................ 124 » »
Oxido de ferro e alu- Terra fina..................... 783 » » »
mina......................... 160,4 » » » 1.000

Segunda análise — colhida no solo da Análise fisica da terra fina :

fôlha chamada «Eira Velha», no alto da Humidade.................... 7,2 » » »


Areia............................. 460,0 » »
Tapada: Humus......................... o,3 » » »
Análise mecânica : Calcáreo..................... o,4 » »
Argila......................... 532,i » » »
Cascalho..................... 10 gramas por mil
1.000,0
Areia grossa .... 125 » » »
185
Areia fina.................... » » » Análise química da terra finar
680
Terra fina.................... » » Azoto............................ 2,2 » »
1.000 Ácido fosfórico . . . 3,6 » » »
Análise fisica da terra fina: Cal................................. 8,1 » » »
Humidade................. 62 » » » Potassa......................... 1,6 » » »
Sedimento arenoso Magnésia.................... - i,7 » »
grosseiro ................. 100 » » » Oxido de ferro e alu­
Sedimento arenoso mina......................... 1,8 » »
fino............................ 40 » » »
Argila e sedimento Esta análise foi feita, a meu pedido,
impalpável .... 798 » > » na Estação agrícola da 5.a região, em
Calcáreo..................... vestígios
Belém, por não estar montado ainda o
l.COO
Análise química da terra fina: laboratório do Instituto, desorganizado
depois da mudança para a Tapada, em
Azoto total................ i,9 » » »
Acido fosfórico total. Janeiro de 1919.
4,7 » » »
» » as si mi-
lável................ '. . o,55 » » » Estas análises indicam que a compo­
Potassa................. ... . 5.2 » » » sição química das terras da Tapada as
Cal................................. 15,7 » » » coloca no grupo das terras ferteis.
Magnésia.................... 4,5 » » »
Ferro e alumina. . . 21,8 »
Efectivamente, pela composição em
»
elementos minerais, comparada com a
Esta análise foi feita a meu pedido mínima indicada pelos químicos para
em 13 de Dezembro de 1916 pelo chefe uma terra ser considerada fértil, vê-se
do nosso laboratório — Eng. Agrónomo que as amostras analisadas dão quanti­
Avelino Nunes de Almeida. dades dêsses elementos superiores ao
da terra fértil, indicada nos livros de
Terceira análise—amostra colhida na química agrícola.
terra chamada «Cova do Sobreiro», fo­
lha de 8 hectares que se estende do Alto Para os químicos uma terra é fértil
da Tapada para o poente, em declive quando tem uma composição igual ou
rápido, até à ribeira, do lado da Ajuda: superior à que se segue:
88 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Azoto. . . . 1,0 gramas por mil Como só em Abril de 1915 tomei


Ácido fosfórico total. 1,0 » » conta da secção, só em Outubro dêsse
assi-
milável. .
ano pude começar a fertilizar o solo,
0,1 » »
Cal................. 50.0 »
pondo em mira uma produção de 25 a
Potassa . . . t,5 » 30 hectolitros.
Humus . . . 30.0 » » » Sabia que a maior parte das folhas
Segundo Garola é preciso cultivar onde tinha de semear trigo não eram
com o fito de obter 40 hectolitros de fertilizadas de longa data.
trigo por hectare. Não creio que nos Para as beneficiar, tinha de comprar
paises de clima semelhante ao nosso se adubos químicos e estrume de curral,
obtenha fàcilménte tal rendimento. porque o que tinha para pouco chegava.
No nosso país, para a cultura exten­ Os adubos estavam já caros e eu não
siva, a produção média é de 10 hec­ tinha dinheiro para os adquirir.
tolitros por hectare. Das muitas infor­ O director de então têve ensejo de
mações que tenho obtido a êste res­ fazer um contrato vantajoso com um
peito, vejo que êste número se aproxima dos quartéis da Ajuda, arrematando
muito da verdade. todo o estrume de gado cavalar produ­
E esta também a produção que o fa­ zido.
lecido professor do Instituto Superior Foi com êste estrume de má quali­
de Agronomia, Sertório do Monte Pe­ dade, muito palhoso, que tive de me
reira, no seu belo artigo sôbre cereais remediar, juntamente com o do gado
de Portugal, apresenta como média, bovino que começou a aumentar.
acrescentando que em terrenos bem Comecei, nesse ano de 1915 a 1916,
estrumados é possível manter, em mui­ a estrumação, à razão de 40.000 quilos
tas localidades, a produção de 15 a 20 por hectare, dividida em 200 montes de
hectolitros por hectare. 200 quilos, dispostos a 7 metros de dis­
E claro que tanto êste ilustre profes­ tância, em linhas afastadas umas das
sor, como eu, nos referimos só à outras também 7 metros, por forma que
grande cultura, extensiva, que é a mais cada monte dava estrume para uma área
importante no nosso país, posto que a de 5om2 proximamente.
média cultura tenha importância em Desde já devo ponderar que a dota­
certas regiões. ção para os serviços culturais foi sem­
Para aumentar a produção é preciso pre muito pequena, tendo de lutar com
aumentar a proporção dos princípios grandes dificuldades para preparar con­
nutritivos que se lhe oferece. venientemente o terreno e atender a
Pondo de parte 0 desiderato de Garola, tôdas as despesas da exploração.
e atendendo a que a média da produção Só para ferramentas, relhas e char­
em França era de 18 hectolitros por hec­ ruas, numa terra cheia de pedras, ia-se
tare até 1914, ano da guerra, o que dava a maior parte da dotação. Com muita
um lucro de 30 francos, ou seis escudos dificuldade pude obter alguns adubos,
por hectare, pretendi elevar o meu em quantidades absolutamente insigni­
rendimento em semente a 30 hecto­ ficantes para a extensão cultivada.
litros. Tenho conseguido, porém, em 5 anos,
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 89

estrumar 37,5 hectares à razão de 40.000 ricultura, a Terra das Hortas, cuja área
, quilos, num total de 1.500.000 quilos de é de 8.400.m2, que não tem actualmente
estrume, ou seja uma média anual de oliveiras, tendo sido cultivada de cultu­
300.000 quilos. • ras arvenses, mas que deve ser plan­
As folhas entregues à minha direcção tada de olivedo.
cultural são as seguintes: Esta repartição de terras foi proposta
Hectares
por uma delegação do Conselho Esco­
Terra grande......................................... 7,0000
Almotivo................................................. 4,1000 lar com a aprovação deste último.
Terra do Observatório..................... 0,4900 O actual ano agrícola é aquêle em que
Encosta do gasómetro........................ 0,3700 a Tapada tem maior superfície cultivada
Terra dos pinheiros............................ 0,5000 de culturas arvenses e mais intensiva­
Terra da eira.................... 1,0000
mente, pois há folhas que tiveram cul­
Terra do chafariz................................. i,3910
Terra do moinho................................. 1,5600
tura de inverno e estão já criando uma
Terra dos ailantos............................. 2,0000 cultura de primavera.
Terra da eira velha............................. 7,130° Assim, juntando aos 41,9710 hectares
Beira do muro..................................... 1,4200 da minha secção mais 22,0340 hectares
Alto da Casa Branca......................... 0,4000 onde fiz culturas, de acordo com os pro­
Cova do sobreiro................................. 7,6300
Terra do Malhó.................................... 2,9800
fessores que dirigem as secções a quem
Carrascal................................................. 4,0000 essas terras pertencem, há neste ano
Soma..................... 41,9710 semeados, 64,0050 hectares.
Nunca semeei tanto, nem creio que a
Estas quinze folhas estão desarbori-
Tapada tivesse alguma vez tão grande
zadas, em grande parte espedregadas,
área semeada e muito menos de tão va­
e foram quási tôdas estrumadas, faltando
riadas culturas.
apenas 44.717.m2
Algum terreno ficou sem cultura, o
A cada lavoura que se faz segue-se
que não podia deixar de se fazer, para
uma limpeza da pedra maior que vem
pascigo das 62 ovelhas do nosso rebanho.
ao de cima. Além destas folhas, em
As principais folhas da minha secção
que só se fazem culturas arvenses, há
estão já divididas em hectares, por meio
outras que teem oliveiras, as quais,
de marcos, unidos por sulcos de char­
quando o professor de Arboricultura
rua, tendo mandado fazer esta divisão,
assim o entende, eu semeio.
Êsses olivais constituem uma parte não só para avaliação da produção, mas
também para os alunos se acostumarem
ainda importante da Tapada e são for­
a ver a superfície dum hectare, a-fim-de
mados pelas seguintes folhas:
Hectares poderem calcular nesta medida agrária,
Olival grande..................................... 6,0000 a área dum campo de cultura que a
Olival dos coelhos — alinhado. . . 0,3240 vista fàcilmente abranja.
Olival novo — alinhado.................... 3,1140 Êste trabalho está-se completando
Terra das grades................................. 1,6800
Carrascal com oliveiras.................... 3,0000
actualmente.
Terra dos pègões................................. 1,4400 *
:(! *
Soma..................... 15,5580
Em harmonia com o meu modo de
Pertence ainda à secção de Arbo­ ver sôbre as funções que a Tapada tem
9o ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

de desempenhar no ensino agronómico, Trigos de inverno: Gentile rosso.


Lobeiro.
tive, desde que assumi a direcção das
Argelino.
Culturas arvenses, de aumentar muito o Anafil.
número de culturas, para demonstração Híbrido ideal.
e observação, bem como para expe­ Híbrido Belém.
riência. Galego barbado.
Argelino (Mahmondi n.° 1).
Em 1914-1915 havia apenas semea­
dos três trigos, que eram : o Tem porão Trigos de primavera: Tremez prêto, de Beja.
de Coruche, o Anafil, e o Touzelle, to­ Manitoba.
Aurore.
dos de inverno. Além destas searas
alguns hectares tinham sido semeados Cevada santa.
de verdes, e uma fôlha de milho. Aveia negra de primavera, vinda da Casa
Em 1915-1916, primeiro ano da minha Vilmorin, e semeada pela primeira vez neste
ano, na quantidade de 20 quilos de semente.
gerência, a Tapada teve as seguintes Moha da Hungria e da Califórnia.
culturas: Chicharo—Feijão frade—Grão de bico—Mi­
lho mão de toupeira, para grão—Milho para
Trigo Temporão de Coruche, de inverno.
verde.
» Anafil, de inverno. Feno natural e verde espontâneo.
■» Lobeiro, de inverno. Começa neste ano de 1916-1917 o estudo que
» Touzelle, de inverno. estou fazendo de trigos e aveia de primavera,
» Precoce italiano, de inverno. assunto a que mais detalhadamente me referi­
» Tremez prêto, de primavera. rei noutro ponto.
Aveia para verde.
'Cevada ordinária para grão.
Centeio para grão. No ano de 1917-1918:
Tremoço.
Tremoço.
Chicharo.
Aveia para verde.
Batata.
Trigos de inverno: Temporão de Coruche.
Feijão frade.
Touzelle.
Grão de bico, branco.
Belém.
Feijão branco e encarnado.
Galego barbado.
Milho.
Gentile rosso.
Milho miúdo.
Anafil.
Milho painço.
Lobeiro.
Moha da Califórnia e da Hungria.
Ideal.
Feno natural e verde espontâneo.
Precoce italiano.
Argelino rijo.
Em 1916-1917 fiz as seguintes semen­ Trigos de primavera: Aurore.
teiras : Manitoba.
Tremez prêto, de Beja.
Nabo—Centeio para verde—Aveia para verde
Ribeiro.
—Aveia com lentilhas e ervilhaca para verde—
Trevo encarnado—Fava água dulce—Favinha Cevada santa.
—Fava de Mazagão—Batata—Lentilhas e cezi- Aveia prêta de primavera.
rão—Centeio para sêco—Aveia para sêco. Grão branco e grão prêto.
Trigos de inverno: Temporão de Coruche. Topinambo.
Touzelle. Milho mão de toupeira.
Precoce italiano. Feno natural e verde espontâneo.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 9i

Em 1918-1919: Trigos de inverno : Javardo.


Ribeiro.
Trigos de primavera: Tremez prêto.
Tremoço—Aveia para verde—Aveia e anafe.
Manitoba.
Nabo.
Aurore.
Fava—Chicnaro.
Ribeiro.
Trigos de inverno: Anafil.
Aveia de primavera.
Touzelle.
Cevada santa.
Lobeiro.
Milho cedovem.
Precoce italiano.
Gigantil. Milho mão de toupeira.
Milho da terra.
' Gentile rosso.
Grão de bico, branco e grão de bico, prêto.
Barbela.
Milho para verde.
Galego barbado.
Topinambo.
Espelta.
Moha.
Temporão de Coruche.
Feno natural e verde espontâneo.
Trigos de primavera: Tremez prêto.
Aurore.
*
Manitoba.
Ribeiro. * *
Aveia prêta de primavera.
Cevada santa. A mais importante das culturas da
Cevada ordinária.
Tapada é evidentemente a do trigo.
Milho cedovem.
Milho mão de toupeira. Das culturas arvenses, em terras for­
Milho verde. tes e de sequeiro, é esta cultura, nos
Grão de bico, branco—Feijão frade. arredores de Lisboa, a que maior área
Grão de bico, prêto.
ocupa.
Feno natural e verde espontâneo. É 0 trigo de inverno, alternando com
o milho ou com a erva espontânea
Em 1919-1920:
em que abunda ou predomina a anaphe
Tremoço—Chicharo. (Melilotus sulcata, Desf.—forma segeta-
Fava. lis (Brot), segundo a Flora de Portugal
Centeio para verde—Centeio e cevada para de P. Coutinho.
verde. As variedades de trigo mais cultivadas
Aveia com ervilhaca para verde.
Couves forraginosas e não forraginosas.
nos arredores de Lisboa são: o anafil,
Cebola. o duràzio rijo e o temporão de Coruche.
Beterrabas forraginosas, meia açuçarada e gi­ As sementes andam, porém, muito
gante Mamouth. misturadas, sendo raro vender-se ou
Aveia para sêco. semear-se semente duma só variedade,
Centeio para sêco.
Trigos de inverno : Barbela.
e frequente achar-se trigo rijo mistu­
Temporão de Coruche. rado com mole.
Touzele. Ao Instituto tem últimamente afluído
Precoce italiano. muitos pedidos de sementes seleccio-
Gentile rosso.
nadas, confessando-me muitos dos com­
Anafil.
Gigantil. pradores que não teem facilidade de as
Milagre ou sete espigas. encontrar nas suas regiões.
Escanha. Adoptei como norma só vender se-
92 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

mente de identidade botânica reconhe­ Joaquim Canas Silvestre da Silva—


Benfica.
cida, seleccionada na ocasião da ceifa, litros
pelas espigas, e no celeiro pelo crivo Tremez prêto................................................. 840
Marot; semente com as condições de
boa semente. E, até agora, só tenho Em 1917-1918:
recebido boas informações em relação
às remessas expedidas. Parece-ine ser Júlio Cesário dos Santos—Carcavelos
êste um dos serviços prestados directa- litros
mente à lavoura pela nossa Escola. Touzelle..............................................................2300
Assim, do Instituto teem saido se­ Lobeiro............................................................ 380

mentes dos trigos adiante indicados,


Pedro Coelho Serra -Belas
para estabelecimentos oficiais, compa­ litros
nhias, sindicatos agrícolas, lavradores, Touzelle......................................................... 840
câmaras municipais de diversas e até Lobeiro............................................................ 840
longínquas regiões do nosso país, como
vou citar: Junta Geral do Distrito de Lisboa—
Quinta da Paiã
litrcs
Touzelle.............................................................. 2520
Em 1915-1916:
Tremez prêto...................................................... 1680
Manuel Tavares Veiga.— Golegã Precoce italiano............................................. 840
litros Temporão de Coruche................................ 420
Touzelle..................................................... 828
Dr. Zeferino Falcão—Abrantes
litros
Caetano Francisco Pires—Pimenteira
Touzelle......................................................... 50
(Junto à Tapada)
litros
Temporão de Coruche............................. 910,8 Escola Prática de Agricjiltura—Que\uz
litros
Tremez prêto...................................................... 1000
Companhia das Lesirias do Tejo e Sado
litros
Temporão de Coruche..................................... 1000
Touzelle..................................................... 1656 Touzelle.............................................................. 1950
Ideal................................................................. 300
Manitoba......................................................... 250
Em 1916-1917: Precoce italiano................................................ 500

Companhia das Lesirias do Tejo e Sado Associação Central de Agricultura Por­


litros tuguesa— Para o Sindicato Agrícola
Touzelle..................................................... 840 de Serpa, e para o Dr. Fernandes de
Oliveira (Serpa)
Dr. Zeferino Falcão—Abrantes litros
1 tros Tremez prêto......................................................6260
Touzelle..................................................... 22 Manitoba........................................................ 1160
Touzelle.................................... 5030
Antônio Caídas Machado—Entronca­ Ideal................................................................. 250
mento
litros João Brée -Barcarena
Touzelle................................................. . 1600 litros
Precoce italiano......................................... 1256 Ideal................................................................. 417
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 93

Sindicato Agrícola de Pombal—Por in­ Francisco Alves Moimenta—Panças


termédio da Associação Central de litros
Agricultura Precoce italiano.........................................3662
litros Manitoba..................................................... ^gg
Ideal................................................................ 250 Ribeiro......................................................... 675,5
Aurora......................................................... 114,5
Câmara Municipal de Setúbal 1 remez......................................................... 490,4
lit.os
Tremez prêto...................................................1470
Alfredo Farinha Portela
litros
Ministério das Colónias—Para Angola Precoce italiano ....
litros 321

Tremez prêto................................................ 334 Ribeiro............................. 126

Lobeiro............................................................ 333 Galego barbado .... 230


Temporão de Coruche................................ 333
Romão José Ferreiro—Lazareto
litros
Em 1918-1919: Tremez preto............................................. 78
Manitoba................................................. 78,5
Dr. Henrique de Sá Teixeira—Paço d’Ar- Belém..................................................... 163
cos
litros
Temporão de Coruche............................. 231 Joaquim Flores
Precoce italiano......................................... 162 litros
Anafil............................................................. 240 Precoce italiano.........................................
443
Belém......................................................... 244
Francisco Vidal dos Santos Teixeira
litros
Eduardo Costa—Calhariz de Benfica
Anafil seleçcionado................................. 400 litros
Precoce italiano......................................... 30
José Joaquim Hilário de Sousa—Casal
do Alvito—Lisboa
litros
D. Marta Cabral—Azeitão
litros
Temporão de Coruche............................. 230
Precoce italiano......................................... 80
Precoce italiano......................................... 241,5
Anafil............................................................. 238,5
Joaquim Rasteiro—Azeitão
litros
Von Lcuwcti—Cacém
litros Precoce italiano......................................... 240
Temporão de Coruche................................... 8
Precoce italiano............................................... 8 Manuel António Rodrigues—Alcolena
Galego barbado.............................................. 8 litros
Belém.............................................................. 8 Precoce italiana......................................... 8i

Antônio Rebelo da Silva—Pôrto Salvo Artur Duarte Resina—Malveira


litros
' litros
Precoce italiano......................................... 520 Precoce italiano......................................... 529
Gentile rosso............................................. 118
Lobeiro......................................................... 230,5
Manitoba..................................................... 562
José Canas Carrasqueiro—Pôrto Salvo
litros
Anafil............................................................. 500 António Caídas—Sacavém
Precoce italiano......................................... 400 litros
Gentile rosso............................................. 95 Touzelle............................. 217
94 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Em 1919-1920: João Branco de Paiva—Alcáçovas


litros
Touzelle.......................................... • • • 200
Pôsto Agrário de Alcobaça
Precoce italiano......................................... 100
Aurora, de primavera . . Temporão de Coruche............................. 200

Romão José Ferreiro—Lazareto Por intermédio da firma Rodrigues


litros & C.ta íoi vendido no Alentejo, para
Tremez prêto............................................. 200 semente, bastante trigo da Tapada, não
Gentile rosso............................................. 270
sabendo eu, porém, as localidades para
Touzelle..................................................... 5°°
onde foi.
Dr. Henrique de Sá Teixeira—Paço de
Tive sempre o cuidado de evitar que
Arcos estas variedades seleccionadas de tri­
litros gos nacionais e estrangeiros, fôssem
Precoce italiano......................................... 4°7 parar às fábricas de moagem, e por
Anafil............................................................. 77.5
isso só as tenho vendido as pessoas
que sabia serem lavradores.
Jacinto Simões Bento—Dafundo
litros Recusei, por várias vezes, a venda
Anafil............................................................. 4°° total do trigo da produção do ano que
Durázio......................................................... 100 me foi proposta, por saber que êle era
destinado a moagem, pois 0 intuito do
José de Almeida—Campo Grande Instituto é ser útil aos lavradores.
. litros
O fim da cultura de tantas variedades
Precoce italiano....................................... 777
era arranjar sementes adequadas às di­
Vicente Canas Carrasqueiro—tAassamk
ferentes terras e climas do nosso país,
litros e obter, sobretudo, bastante semente
Tremez prêto..................................................1296 de trigos de primavera, serôdios, pois,
Anafil............................................................. 200 julgo, que isto é de muita utilidade para
muitas regiões.
Joaquim Henriques Ferreiro Em todos os anos a partir de 1915-
litros
Precoce italiano..............................................3615 -1916, os pedidos teem sido superiores
às quantidades em celeiro, tendo, mui­
José Antônio Fernandes Guimarães— tas vezes, para satisfazer mais preten­
Gradil dentes, de ratear o trigo, concedendo
litros
Precoce italiano......................................... 640
menos do que o que se pede.
Touzelle.................................... 200 De tôdas as províncias, até mesmo
de Trás-os-Montes e do Algarve tenho
Carlos Ferreiro Bastos— Cacém tido pedidos, tanto de trigo, como de
litros milho, para semente.
Touzelle..................................................... 168 Trigo que não me mereça confiança,
• Precoce italiano......................................... 840
por suspeita de que esteja misturado
com outra variedade diferente, vai irre-
Alipio José de Carvalho—Almada
litros vogàvelmente para a moagem.
Precoce italiano IOO No último ano pus de parte 3.650 li­
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 95

tros de trigo anafil que estava impu­ ratório; mas, durante êste período de
ro, com mistura de grãos molares. guerra e de transformação da nossa
Mandei escolher à mão 30 litros, para escola, muito pouco os laboratórios me
recomeçar a sua cultura sem mistura, puderam auxiliar.
sendo o resto vendido para o moageiro. Sempre, porém, que pedi o conselho
Por muitas vezes tenho dado o meu autorizado do meu sábio colega Rebêlo
conselho a lavradores que me pregun- da Silva obtive o melhor acolhimento,
tam, qual a variedade que devem com­ servindo-me a sua lição de muito pro­
prar para as suas terras. Conforme as veito.
suas indicações, assim me pronuncio Tive, pois, de empreender, sozinho,
por umas ou por outras, tendo já rece­ sem auxílio de laboratórios, a parte do
bido notícias de ter acertado. meu programa de experiências que tinha
elaborado, e que passo a relatar.
*
* *
*
Como já ficou atrás acentuado serve * *
a Tapada, não só para campo de de­
monstração e observação, mas também Entre as espécies do género Triticum
para campo de experiências. existem três que apresentam a parti­
Logo que algumas das suas folhas de cularidade curiosa de terem o casulo
cultura se acharam em circunstâncias aderente ao bago, não se soltando êste
de nelas se poder fazer trabalhos expe­ pela debulha ordinária.
rimentais, comecei, em ponto grande, a Por esta razão estes trigos teem o
investigação de alguns problemas que nome comum de trigos vestidos, sendo
interessam não só a agricultura desta neste ponto de vista semelhantes à ce­
propriedade, mas também a nacional. vada ordinária.
Desde 1917 até 1920 o laboratório Os franceses não lhe chamam por
químico do Instituto não tem podido isso verdadeiro trigo {filé) mas sim es-
trabalhar por falta de material, de gás, peltas (epeautres), do latim spe.lta. Êste
por causa da mudança, e ainda, depois grupo de trigos vestidos apresenta as
de instalado no actual edifício, por falta seguintes diferenças do trigo verda­
de mobília apropriada, e de meios pe­ deiro :
cuniários para se completar.
Nestas condições, tendo até de recor­ a) Aderência das glumelas e glumas
rer ao laboratório de Belém, eu não ao grão único, ou aos dois grãos da
pude encetar experiências que precisem espigueta.
dêsse auxiliar indispensável. b) As espiguetas teem só uma ou
Consegui, com algum custo, a aná­ duas flores férteis.
lise de certas terras da Tapada, mas c) O eixo ou rachis da espiga é muito
não pude ir mais além, a-pesar da boa quebradiço, partindo-se nos entre nós,
vontade dos meus colegas químicos. durante a debulha, em tantos artículos
Quem pretende trabalhar em culturas quantas as espiguetas, e ficando-lhes
pouco pode fazer sem o auxílio do labo­ sòlidamente agarrados.
g6 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Por forma que depois da debulha or­ sado 62 litros, de que semeei a maior
dinária o que fica é, botânicamente, parte.
um artículo do rachis onde se implan­ Do estudo que dêle acabo de fazer
tam as glumas, as glumelas, e as ca- com os meus alunos, em pés arranca­
riopses. Nas variedades barbadas as dos do meio da seara resulta o seguinte:
espiguetas perdem total, ou quási total­ Afilhamento—média 21 colmos.
mente, as praganas. Número médio de espigas perfeitas,
Os botânicos classificaram estes ce­ por cada pé—17.
reais vestidos, semelhantes ao trigo, Comprimento médio dos colmos, em
em três espécies: 21 de Maio - o,m725.
i.°—Triticum spella (Lin.)—que os france­
Aspecto da seara — bom, com um
ses denominam Epeautre; os espanhóis Es- tom verde semelhante ao da cevada.
caíia; os inglêses Spelt; os alemãis Spels; os No ano passado, 1918-1919, o aspecto
italianos Spelta. era ainda melhor, tornando-se notável
a.0—Triticum amyleúm (Ser.) Triticum dicoc- pela sua luxuriante vegetação. A terra,
cum (Schrank). Em francês, Amidonnier ;
onde foi cultivado, é boa e tinha sido
em italiano, Farro.
3.0—Triticum monococcum (Lin.) Em fran­ estrumada, o que não sucedeu à dêste
cês, Ettgraitt;—em espanhol, Escana menor. ano.
As espigas são chatas, muito fecha­
Lapa, José Maria Grande, e os me­ das, com praganas finas, divergentes, e
lhores dicionários portugueses escre­ mais curtas que as dos trigos rijos.
vem espella, e é assim que a palavra As espiguetas teem 3 flores, sendo
deve ser escrita e não spelta. uma aristada e fértil, e duas estéreis e
Tenho em estudo na Tapada um múticas.
dêstes três trigos vestidos, que me foi São estes os caracteres do Triticum
dado por um aluno, que o trouxe de monococcum, que apresenta um só bago
Serpa, dizendo-me que se semeava, ha­ em cada espigueta.
via pouco tempo, naquela região, vindo O estudo destas espigas deu-nos as
de Espanha com 0 nome espanhol de seguintes médias:
escana, e que se semeia sôbre 0 resto­ o) Comprimento da espiga: 103,mmi.
lho do trigo, em cabelo, sendo depois b) Número de espiguetas por espiga: 4i,mm6.
enterrado com o arado. c) Número de grãos por espiga: 48,mm6.
Êste cereal era desconhecido na região
Donde se vê que algumas espiguetas
como o era em todo o Portugal. Tendo
tinham 2 flores férteis.
percorrido o país quási todo.e durante
muitos anos, sempre interessado pela Pêso por hectolitro (com casulo): 40kgs-,8
Pêso de 105 bagos, nus: 3 grs.
cultura cerealífera, nunca o vi cultiva­
Pêso médio dum grão nu: 0,0285 grs.
do, nem nêle ouvi falar.
Se já foi conhecido perdeu-se a sua Nos trigos vestidos, comuns, o pêso
cultura. médio do grão é de 0,040 grs., tendo os
Tendo recebido apenas uma pequena mais pesados 0,050 grs., e os menos pe­
amostra já hoje existe dêle uma pe­ sados, em boas condições, 0,032 grs.
quena seara, pois obtive no ano pas­ O nosso escana, em estudo, pesa,.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 97

pois, menos onze miligramas e meio do zir o espelta. Nas terras calcáreas e
que um bago médio dos outros trigos. nas arenosas, onde nem mesmo o cen­
De Candole, no seu livro, Origem teio vai bem, cria-se bem o espelta,
das Plantas Cultivadas, diz que êste dando até nestes solos um grão mais
Triticum monococcum se dá bem nos rico em farinha, e tendo as glumelas
piores solos, pedregosos, sendo pouco do casulo mais finas.
produtivo, mas dando excelentes farelos No artigo do. professor italiano Marco
para o gado. Acrescenta ainda êste Marro, lê-se que o espelta dá uma fari­
botânico que êste trigo se semeia, prin­ nha fina, branca, igual à do trigo co­
cipalmente nos países ou regiões mon­ mum em valor nutritivo, e, em alguns
tanhosas, em Espanha, França e na Eu­ casos, mais apreciada do que aquela,
ropa oriental. para as pastelarias.
Marro, professor de Economia rural Todos os autores dizem que é menos
da R. Escola de Aplicação dos Enge­ próprio de que o trigo comum para a
nheiros, em Roma, no seu artigo sôbre panificação, porque o pão fica mais rijo
culturas do trigo, na Nuova Enciclopé­ e não se conserva fresco ou macio por
dia Agrária Italiana, diz que êste trigo tanto tempo.
se dá bem tanto nas regiões frias, de Em compensação, depois de moído,
clima áspero, como nas regiões quentes, dá um produto excelente para vacas
como o prova a sua antiga cultura no leiteiras, bois de trabalho, gado cavalar
Lacio, na Campania, e na Grécia. A e muar, etc.
Bíblia e os autores latinos dizem que Há, porém, um aproveitamento de
era o grão mais cultivado no Egipto. outra natureza que torna êste trigo
Schwertz também afirma que os espel- muito recomendado por Ridolfi.
tas se comportam melhor nos climas tem­ Como êle afilha muito, dando muita
perados do que nos ásperos e agrestes. folhagem, serve para forragem verde
Damseaux, professor no Instituto Agrí­ ou para feno.
cola do Estado, em Gembloux, na Bél­ O que tenho na Tapada tornou-se,
gica, diz no seu Manual das Plantas da no ano passado, notável por esse ex­
Grande Cultura, que os espeltas são traordinário desenvolvimento foliar.
muito rústicos, cultivando-se nas regiões Neste ano, em terreno pobre, pouco
mais ásperas da Bélgica, assim como fundável, e que tem estado de olival,
no Wurtemberg, nas províncias rena- apresenta bom desenvolvimento foliar
nas e na Suíça alemã. como atrás mostrei. -
Diz ainda Damseaux que a reputação
de rusticidade que teem, se aplica mais É pois um recurso, segundo Ridolfi,
ao solo do que ao clima, porque su­ superior ao centeio, à cevada e à aveia,
porta pior um clima frio do que um como forragem verde, sendo porém,
clima quente. Emquanto ao solo afirma um pouco mais serôdio.
que as terras frias, de sub-solo imper­ Como os colmos são mais curtos do
meável, muito pouco férteis, muito sê- que os do trigo comum, não acama, o
cas ou muito leves para produzir trigo, que é de grande vantagem para certas
e as terras de charneca, podem produ­ regiões.
<98 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Acho vantajoso estudar estes trigos, lavrador melhor resultado do seu tra­
pois, sendo menos exigentes do que os balho, do que com parcas searas de 4
outros cereais praganosos, podem ser sementes ou menos.
de vantajosa cultura em terras de areia, Esperar, agarrado à rotina, pelos anos
em terras delgadas, de sub-solo de ro­ salvadores, em que até as pedras dão
cha rija, em solos de charneca, em sí­ trigo, é bastante vulgar no nosso país,
tios alpestres de altitude elevada, e fi­ é cómodo, e não demanda nem grande
nalmente em tôdas as terras que, pelas trabalho intelectual, nem esforço físico.
suas más qualidades, não dão produção Quando se lhe fala em pôr de parte
remuneradora, senão à custa duma adu- a cultura frumentária que não remune­
bação custosa, ou só de longe em longe, ra, nessas terras ingratas, os seus cui­
com pousios dalguns anos. dados e canceiras, replica o lavrador,
Segundo a minha opinião uma parte como já o tenho ouvido, com a seguinte
do nosso país, onde se costuma semear pregunta: E ^que hei-de eu então se­
trigo comum, é imprópria para essa mear? «-.Para que servem estas terras?
cultura. Compete-nos pois responder à pre­
Intensificar a cultura do trigo nessas gunta, não com palavras, mas com de­
regiões, com os trabalhos e adubações monstrações.
necessárias, é anti-económico, sendo Eis a razão porque trato de obter a
prejudicial tal esforço que, aplicado a quantidade suficiente de semente de
terras mais apropriadas, dará resultado espeltas para experimentar no próprio
mais proveitoso. Substitua-se, em tais Alentejo, em propriedades que estejam
solos, essa cultura por outras menos nas condições expostas.
exigentes e que deem remuneração su­ E muito satisfeito ficaria se, do Ins­
ficiente. tituto, pudesse sair um sucedâneo do
É diminuto, relativamente a outros trigo comum, que satisfizesse ao fim
países, o número de espécies e varie­ proposto.
dades cultivadas em Portugal. *

Procuremos pois alargá-lo, ensaiando * *

culturas que se adaptem a solos pobres


em clima quente e sêco, e que tenham Além do trigo que acabo de descre­
mercado fácil, ou aplicação na própria ver, tenho também em estudo outros
lavoura da região. dois, pouco conhecidos em Portugal,
Alimentação barata para o gado, quer que são o Sete espigas, trigo Cachudo
em farinha com mais ou menos farelo, ou Milagre, vindo de Trás-os-Montes,
quer em verde, em feno, ou mesmo de espiga ramosa; e o trigo Gigantil,
ensilada, é uma aplicação remunera­ de longa e grossa espiga e grande bago.
dora que deverá auxiliar a produção O trigo Cachudo é uma variedade
de riqueza pecuária. ramosa (var. compositum L.) da sub-es-
E se, em vez de péssimas produções pécie iurgidum do Triticum aestivum,
de trigo, se puderem obter boas colhei­ L.—única espécie cultivada, do género
tas doutras plantas, valorizam-se estas Triticum que, segundo P. Coutinho,
terras, enriquece-se a região, tirando o temos em Portugal.
ANAIS DO INSTITUTO SUPKKIOR DE AGRONOMIA 99

As outras: T. triunciale (L.); — T. É pouco cultivado na Europa, sen­


ovaium (L.) ou trigo de perdiz; — e do-o, porém, desde tempos antiquíssi­
T. triaristatum (Wild.) são espontâneas mos no Egipto.
e não cultivadas. Dá-se bem em terras quentes e per­
O trigo Gigcintil foi importado para meáveis e em climas sêcos e áridos.
o nosso país, encontrando-se nalguns Como afilha pouco, diz Garola, pode
concelhos do Alentejo. ser semeado na primavera, de prefe­
Diz o Sr. João da Silva Fialho, no rência ao inverno. O professor Marco
seu livro, Cultura do trigo, vol. XII, Marro diz o mesmo: «si cultiva anche
da biblioteca Pequenas Fontes de Ri­ come grano marzuolo».
queza, que o Gigantil se encontra no Em virtude do tamanho do bago e
concelho de Monforte, com o nome de da sua qualidade «mão será um recurso
trigo Gigante ou trigo Centeio; e que para sementeiras de primavera, no nosso
no de Ferreira do Alentejo, donde êste Alentejo?
engenheiro agrónomo é natural, foi cul­ Creio que vale a pena experimentar,
tivado durante três anos, tendo sido pois que êle tem aí sido semeado só
pôsto de parte por produzir menos do no outono.
que os outros trigos da região. É esta a razão porque o cultivo há
Nem Brotero nem P. Coutinho o ci­ dois anos, esperando obter neste ano
tam nas suas Floras. Lapa não fala dêle. quantidade de semente para sementeira
À Estação Agronómica de Belém fo­ em maior área, no ano próximo, como
ram parar amostras dêste trigo com o trigo de outono e de primavera, em
nome de Gigantil. Caracteriza-se pela dois hectares próximos.
espiga que é muito diferente das dos Do estudo da seara dêste ano vê-se
outros trigos. As espiguetas teem or­ que êste trigo tem o seguinte afilha-
dinariamente duas flores férteis, havendo mento, em 12 pés arrancados no inte-
porém, muitas com três. rior da seara:
As glumelas são muito grandes, três
centímetros e algumas quatro, com pe­ i.° pè-- 6 filhos — 6 espigas
quenas e finas barbas. Uns, conside­ 2.0 pé — IO » — 8 »
ram-no como uma espécie, Triticumpo- 3° pé -14 » —12 »
lonicum, L.; outros, como Vilmorin, 4o pé - 8 » — 8 »
Metzger, Garola, etc., consideram-no 5*° pé —12 » —12
como uma variedade de trigo rijo — 6.“ pé —12 » —12 »
Triticum durum. 7*° pé -14 » —12 »
Garola, no seu livro Ceréales, diz que 8.° pé — 9 » — 9 »
esta variedade de trigo rijo é cultivada 9-° pé — 10 » —10 »
sobretudo no norte de África, na Argé­ 1 o.° pé — M >' — H »
lia e no Egipto. É conhecido e apre­ ii.° pé — 12 » —12 >'
ciado na América com o nome de Dia­ I2.° pé — 7 » — 7 »
mond Wheat, ou Macaroni Wheat.
É muito rico em glúten e por isso muito Número médio de espiguetas em 10
apreciado para o fabrico de massas. espigas — 27;
IOO ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Número de bagos em cada espi- intensiva, de poderem ser semeados


gueta—2 a 3; depois de culturas de outono, como
Número de bagos em cada espiga nabal, couval, ferrejos, e outras; e de
(em 20) 61 a 74; entrarem utilmente na constituição de
Comprimento médio do colmo—o,m94. afolhamentos em que o trigo é a cul­
Colmo de côr verde azulada, bem como tura dominante.
as folhas, meduloso, forte, com as espi­ Permitem também o aproveitamento
gas levantadas. da erva espontânea, durante os meses
Espiga comprida, grossa, comprimida, de Outubro a Março, para o pascigo ou
com glumelas muito grandes. para alimentação de gado estabulado.
O afilhainento desta seara é em mé­ Na Tapada da Ajuda, conforme já
dia, conforme os números atrás indica­ atrás se disse, teem sido de grande
dos, de 10 filhos por grão nascido, o proveito, para me livrar do dano que
que não é muito mau no nosso clima. produz a concorrência da erva caná-
Êste trigo é muito provavelmente uma ria ou erva pata, nas searas temporãs,
das variedades de trigo polónico conhe­ afogando-as quando estão pouco de­
cida com o nome de Trigo de Mogador. senvolvidas.
*
Tenho, por isso, estudado 3 trigos
* * tremezes, sendo um nacional e os dois
outros estrangeiros.
Os trigos de primavera, posto que O nacional é o Tremez prêto vindo de
não sejam tão rendosos, em grão e pa­ Beja.
lha, como os de inverno, teem, a meu Os estrangeiros são: Manitoba, vindo
ver, maior importância do que a que se do Canadá e importado pelo govêrno
lhes tem ligado no nosso país. português; o Aurore, mandado vir por
Semeados no fim do inverno, ou mim da casa Vilmorin, por ser, segundo
mesmo pela primavera fora, não teem afirmava o seu catálogo de 1916, o mais
tempo para afilhar tanto como os de produtivo dos trigos serôdios de prima,
outono, e daí menor produção. vera.
São contudo um grande recurso para Outros que requisitei da mesma casa
os campos que ficam enxarcados até não vieram por causa da guerra, espe­
tarde, ou depois de inundações tardias rando agora poder obtê-los.
que estragam searas já desenvolvidas, Logo na primeira sementeira que eu
permitindo ressemear-se de trigo os fiz na Tapada—1915-1916, introduzi,
mesmos campos, como é frequente no com o fim acima citado, o trigo Tremez
Ribatejo. prêto, obtendo 1566 litros, com o pêso
São ainda muito úteis aos lavradores de 82,4 kgs. Veio de Beja, de casa do
que, por falta de gado, ou por prolon­ Sr. Miguel Fernandes, grande e inteli­
gada invernia, não puderam semear, na gente lavrador do distrito de Beja, e
época própria, todo 0 trigo de inverno um bom amigo do Instituto.
que desejavam, ficando-lhes terra sem A partir de 1916, tenho semeado o Tre­
cultura. mez prêto, o Aurore e o Manitoba, com
Teem ainda a vantagem, em cultura o fim de fazer o seu estudo comparado.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA IOI

Êste estudo tem sido feito, não em rapada ou mocha, mais comprida que
canteiros, mas em hectares. a do antecedente, mas com as espigue-
Dos três, o Tremez prêto é o mais tas mais apartadas umas das outras;
produtivo, vindo depois o Aurore, e por o Manitoba é meio duro, de espiga fina,
fim o Manitoba, com pouca diferença espiguetas estreitas e bagos muito pe­
do antecedente. quenos.
Assim, em 1917-1918, em dois hecta­
res vizinhos, separados apenas por um O seu pêso variou assim:
rêgo fundo, na parte mais alta da Ta­
1916 1918
pada, tendo semeado, em Fevereiro, 110 1917 1919

•litros de cada um dos dois trigos, Au­ Tremez prêto. . . 82,4 80,2 78,0 81,0
rore e Manitoba, a produção foi de 947 Aurore................. 73,2 75,5 75,o
litros para o primeiro e 670 litros para Manitoba. . . . 79,4 77,o 77,o

o segundo, ou sejam 8,6 sementes para


o Aurore e 6 sementes para o Mani­ Dos que tenho observado, o melhor
toba. em produtividade, é o Tremez prêto;
Note-se que esta terra de hà longos em qualidade, o Aurore é superior.
anos que não era fertilizada com estru- Sôbre a época da sementeira dos tri­
mação ou com adubações químicas. gos de primavera, mais no cedo ou
Foi, pois, nas piores condições que mais no tarde nesta estação, instituí a
a experiência se fêz, exactamente para seguinte experiência.
se ver o valor da sua produtividade. Preparei três séries de nove cantei­
Noutra terra da Tapada, muito pe­ ros iguais, com nove metros quadrados
dregosa, enladeirada, mas mais rica, o cada um, em três linhas a seguir umas
Manitoba deu, em dois hectares com às outras.
260 litros de semente, 1870 litros, ou Estavam estes 27 canteiros em igual­
sejam, 935 litros por hectare. A 130 dade de circunstâncias, em relação à
litros de semente por hectare, a pro­ composição da terra, profundidade da
dução foi de um pouco mais de 7 se­ cava, fertilização, etc.
mentes. No dia 4 de Março, segunda-feira,
No mesmo ano, o Tremez prêto foram semeados com igual quantidade
deu uma colheita de 13 hectolitros de semente os três trigos de primavera,
num hectare, ou sejam 10,2 sementes. Ribeiro, Manitoba e Aurore.
Neste ano de 1920 os três tremezes, Daí em diante, tòdas as segundas-
semeados em confronto na melhor ter­ -feiras, se fêz igual sementeira dos três
ra, darão as suas provas, apresentan­ trigos, até ao dia 29 de Abril.
do-se no fim de Maio, na época da Foram, pois, nove sementeiras de pri­
fecundação, com bom aspecto. mavera, umas mais temporãs, outras
Os caracteres dos três trigos são os serôdias, e as últimas muito serôdias.
seguintes: Os resultados vão indicados no quadro
seguinte, onde se vê a produção por
O Tremez prêto é rijo, de espiga curta, canteiro de nove metros quadrados, e
barbada; o Aurore é mole, de espiga a referida ao hectare, em quilogramas.
102 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

QUADRO DA PRODUÇÀO DE TRÊS TRIGOS DE PRIMAVERA SEGUNDO OS DIAS


DE SEMENTEIRA —ANO DE 19x8

Março Abril

Dias
4 11 18 25 1 8 15 22 29
da sementeira

Trigos — Ppodução em gramas por canteiros de g.mi de superfície

Não NAo Não


Aurore . . . . 781 gr. 583 gr- 497 gr- 614 gr. 599 gr- 281 gr. espigaram espigaram espigaram

Não
Manitoba . . . 5*5 gr. 505 gr- 239 gr- 442 gr. 47° gr. 244 gr- 19 gr. 12 gr. espigaram

Não
Ribeiro . . . . 702 gr. i,k 001 716 gr. 540 gr. 456 gr. 121 gr. 16 gr. 7 gr- espigaram

Produção em quilos por hectare

Aurore . . . . 867,k 7 *>47 »k 7 552,k 2 682,k 2 655.k 5 312,k 2 — — —

Manitoba . . . 572,k 2. 561 ,k 1 265,1k 5 49r»k 1 552,k 2 271,k 1 21,k 1 I3k —


I
Ribeiro . . . . 78ok i.iu,k 1 795>k 5 6ook 506,k 6 r3-k 1 l7ik 7 7k —

Analisando êste quadro vê-se que: de Abril, também foi superior ao Ri­
beiro, mas inferior ao Aurore, pois que
i.° — O trigo Ribeiro foi o que atingiu as produções das três últimas semanas
a maior produção no canteiro e por não valem nada.
hectare, semeado no cedo, antes de 5.0 — Houve uma influência meteo­
meado de Março. rológica importante que prejudicou o
2.0 —O Aurore, começando por dar nascimento dos dois trigos, semeados
mais que o Ribeiro, teve uma baixa nas terceira e quarta semanas de Mar­
em relação a êste, para depois lhe pas­ ço, para 0 Manitoba, e só na terceira,,
sar para cima em produção, agilentan- para o Aurore; o Ribeiro não foi afec-
do-se, a partir da última semana de tado por êsses fenómenos meteorológi­
Março, bem melhor do que o Ribeiro. cos.
3.0 — O Aurore resistiu ao calor me­
lhor do que qualquer dos outros, ^Dariam êstes trigos maior produçãa
sendo, portanto, o melhor dos três tri­ sendo semeados em Fevereiro? Talvez.
gos experimentados para sementeiras Mas o meu interêsse é averiguar quais
serôdias. os que dão maior produção, quando-
4.0 — O Manitoba, nas sementeiras semeados tarde.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 103-,

A colheita dêste ano de 1919-1920 ocupando as terras apenas três meses


alguma cousa dirá a este respeito, pois e meio, sendo para grão.
continuo a experimentar da mesma for­ Evita que se perca muito tempo com
ma em canteiros, e já em grande. a sua cultura de outono, favorecendo-
*
assim a cultura do trigo.
* * Dizem os franceses e italianos que
ela é aveia de Março.
Outro cereal de primavera que estou Para nós deve ser aveia de Feverei­
estudando, é a Aveia negra de prima­ ro, ou, talvez, para o sul do Alentejo,,
vera. . de Janeiro.
Esta aveia é exótica, mandada vir Em relação à quantidade de semente
por mim da casa Vilmorin, como sendo desta aveia de primavera, a deitar por
de boa produção, a-pesar da época tar­ hectare, Garola diz que, em geral, se
dia da sua sementeira. deitam de 250 a 320 litros, mas que
Segundo P. Coutinho, a aveia ordiná­ semeado em linhas se reduz muito a
ria dever ser hoje classificada com o quantidade.
nome de Avena byzantina, C. Koch (ao É estudo que empreenderei no pró­
que parece, sub-espécie da Avena s/e- ximo ano, em 2 ou 3 hectares.
rilis).
Tem a inflorescência em panícula pi­ *
*
*
ramidal aberta em todos os sentidos.
A aveia negra de primavera tem a A quantidade de semente de trigo a
inflorescência em panícula unilateral. deitar por hectare é tão variável, tanto
É uma variedade da Avena orientalis, em Portugal como nos outros países,
Schreb.—a var. negra de Hungria ou que convém estudar êste assunto.
a negra da Tartária, que parecem ser Gasparin já dizia que um trigal bem
idênticas, cultivadas em lugares diferen­ constituído devia ter 300 espigas por
tes, tendo por isso nomes diferentes. metro quadrado.
Em 1918-1919 foi semeada na Tapa­ Isidore Pierre encontrou 318 espigas
da, em boa terra, em 13 de Março, por metro quadrado numa seara de
dando 23 sementes. trigo que deu 28 hectolitros por hec­
O seu pêso foi de 264 gr. por litro ou tare.
seja 26,400 kgs., por hectolitro. Compa­ Joulie achou a média, em oito varie­
rado com o pêso da aveia ordinária dades de trigo, que deram de 36 a 42
que é de 266 gr., fêz apenas a pequena hectolitros por hectare, de 400 espigas
diferença de 2 gr. em litro, ou 2 kgs., em por metro quadrado.
hectolitro. Se cada grão semeado desse uma
Esta variedade é exigente em princí­ espiga boa, para obter 300 ou 400 espi­
pios nutritivos e por isso só dá boas gas por metro quadrado seria necessá­
produções em boas terras. rio semear 300 ou 400 grãos nessa
Pode, porém, prestar bons serviços, superfície.
porque pode servir para verde tardio, Muitas experiências feitas neste sen­
para feno, para ensilar, ou para sêco, tido provam que há uma perda média
104 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

de 50 % nas sementes deitadas à terra, norte, desde 150, a 250 litros por hec­
nascendo só metade das semeadas. tare.
Logo, deitando à terra 4.000.000 de Na Argélia semeiam-se de 101 a 157
sementes por hectare, isto é, quatrocen­ litros. Na região fromentária do nosso
tas sementes multiplicadas por 10.000 país também se dá a mesma diversi­
metros quadrados, dever-se-ia obter so­ dade na quantidade de semente, ven­
mente 200 espigas por metro quadrado, do-se que ao sul se semeia menos do
se não houvesse um factor que vem que ao norte.
compensar esta falta de nascimentos. Avaliando, pois, a produção por se­
Êsse factor é o afilhamento, que dá, mentes, como vulgarmente se faz no
nas searas grandes, uma média de 2 nosso país, não se fica fazendo uma
espigas por semente, o que compensa idéia clara a êste respeito, sendo neces­
realmente os 50 % de faltas de germi­ sário reduzir a litros para se estabele­
nação ou de nascimentos. cerem comparações, ou melhor, a hec­
Para ter, pois, as searas constituídas tolitros.
à razão de 300 espigas por metro qua­ Para me orientar a êste respeito em
drado, como quere o conde de Gasparin, relação à quantidade de semente a dei­
ou de 400 espigas como quere Opper- tar por hectare fiz em 1916-1917 a se­
mann e outros, é preciso semear 300 guinte experiência:
ou 400 bagos de trigo nesta superfície, Escolhi o planalto da Tapada para
ou sejam 3 a 4 milhões por hectare. nêle semear trigo Touzelle em quanti­
Para saber quantos litros de trigo dades diferentes, comparando depois as
correspondem a cada uma daquelas produções obtidas.
quantidades de semente, há processo Medi e marquei na Terra da Eira
simples que não vem para aqui expor, Velha, 4 hectares, separados por fundos
podendo por isso o lavrador saber regos, tendo prèviamente feito um bom
quantos litros de trigo, cuja elevada alqueive de verão, de 35 a 40 centíme­
produção quere obter, tem de semear tros e a espedrega. Esta terra havia bas­
por hectare. A maior parte das vezes, tante tempo que não era estrumada nem
porém, não se faz isto e obedece-se adubada, e também o não foi neste ano.
simplesmente ao uso da terra. Graças à lavoura produziu muito bem.
Em Portugal semeiam-se, desde cinco As sementeiras foram feitas em 1, 6 e
alqueires por hectare, até doze e qúa- 9 de Dezembro, da seguinte forma:
torze alqueires.
Em França, na média, semeiam-se Quantidade de semente Produção

206 litros por hectare. l.° hectare—190 lit.—13,3 sementes ou 2542 lit.
Em Inglaterra, semeam-se 139 litros 2.0 » —150 »—j8,o » ou 2720 »
no norte, e 160 no sul. 3.0 » —125 » —20,2 » ou 2534 »
4.0 » —100 »— 25,3 » .ou 2536 »
Na Alemanha, segundo Thaér, lan­
çam-se à terra 239 litros.
Na Itália, também a quantidade de O seu pêso especifico foi de 80.
semente varia segundo a latitude, se­ O que mais produziu em hectolitros
meando-se menos na Sicília e mais ao foi o 2.0 hectare, semeado com 150 li­
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 105

tros, e foi relativamente o de maior mentar 50 litros na sementeira para


produção. obter mais 220 litros.
Assim o 4.0 que produziu 25,3 se­ Entre o 2.0 e o i.° a diferença é de
mentes, tendo sido semeado com 100 80 litros na produção, sendo apenas de
litros, fêz em relação ao 2.0 uma dife­ 25 litros a mais, na sementeira.
rença, para menos na produção, de 184 O que apurei na Tapada a êste res­
litros, emquanto que a diferença na se­ peito não pode servir para tôdas as
menteira para com o 2.0, foi de 50 litros. regiões, mas ensina a proceder da
Logo, muito embora se poupasse no mesma forma em qualquer região, para
4.0 hectare, 50 litros de semente, obteve- não se semear à toa, pois o prejuízo
-se nêle menos 184 litros do que no 2.0, pode ser elevado quando se cultivam
em que se semearam mais 50 litros. grandes extensões.
Daqui se conclue que a mais rendosa A produção dêste trigo, comparada
sementeira foi a de 150 litros; e que a com a do Touzelle, semeado nas expe­
avaliação da produção por sementes riências do ano anterior, é de metade
deve ser substituída por hectolitros ou em relação à sementeira de 150 litros.
por quintais métricos. Uma das razões desta diferença deve
De então para cá, tenho quási sem­ ter sido a época da sementeira; a do
pre mandado semear trigo de inverno Touzelle foi feita mês e meio mais cedo
à razão de 150 litros por hectare. do que a do Precoce italiano.
Como a experiência de um ano só, *
não me parece suficiente, repeti-a no
ano seguinte, 1917-1918, em outra terra * *
« com outro trigo. Ocupar-me-ei a seguir das culturas
Foi a Terra Grande, a escolhida, e o feitas na Tapada desde que tomei a
trigo Precoce italiano, o semeado. direcção da secção de Culturas arvenses.
Em três hectares, separados por pe­ No meu primeiro plano de exploração
quenas ruas, semeei em 16, 17 e j8 de atendi à necessidade, para o ensino, de
Janeiro: aumentar o número e variedade de cul­
Quantiilade de semente Produção turas de inverno e de primavera, e de
estabelecer o sistema dos afolhamentos,
x.° hectare—100 lit. —11,6 semente ou ii6o lit.
2.0 » —125 » — 9,9 » » 1240 lit. sobretudo o trienal e o quadrienal
3.0 » —150 » — 9,2 » » 1380 lit. Segundo o apontamento que me foi
fornecido, as terras da Tapada tiveram
O seu pêso específico foi de 80. durante os anos de 1913, 1914 e 1915 as
Repetiu-se nesta segunda experiência seguintes culturas:
o resultado da primeira.
O 3.0 hectare foi o que deu maior 1913 1914 1915
produção em hectolitros, embora fôsseo Terra grande . . . Milho Fava Trigo
Almotivo................ Trigo Trigo Verde
que desse menor produção em sementes.
Borda do muro . . Milho Verde Trigo
O i.°, com 11,6 sementes, deu me­ Terra do Moinho . Aveia Trigo Pousio
nos 220 litros que 0 3.0, que só produ­ Eira velha .... Milho Trigo Trigo
ziu 9,2 sementes, valendo bem au­ Espinhosas.... Trigo Milho Trigo
io6 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

1915 1914 1915 lego barbado, Belém), Tremoço e Chí-


Encosta do olival. . Pousio Trigo Pousio caro.
Cova do Sobreiro . Aveia Trigo Trigo Tôdas estas sementeiras foram feitas
Olival novo .... Pousio Trigo Trigo de Setembro a Março.
Olival do Malhô . . Pousio Trigo Milho
Terra do Chafariz . Trigo Trigo Verde
Terra da Eira . . . Verde Verde Verde Em Março e Abril, sementeiras de
Terras das Hortas . Verde Trigo Trigo primavera:
Terras das Grades . Milho Trigo Trigo
Carrascal velho . . Milho Pousio Trigo Trigo Tremez prêto, trigo Manitoba,
Carrascal novo.. . . Pousio
— — trigo Aurore, aveia prêta de primavera,
Em volta do Obser­
vatório. ..... Verde Verde Verde milho mão de toupeira, batata, grão de
bico, feijão frade, milho para milhara-
Os trigos cultivados em 1914 foram: da, mistura de milho meúdo, painço e
Touzelle, Temporão de Coruche, Ri­ Moha para verde de verão.
beiro. Ao todo, trinta e três culturas dife­
Os cultivados em 1915 foram : Tou­ rentes.
zelle, Temporão de Coruche, Anafil.
Para o estudo da minha cadeira esta
As minhas primeiras culturas de 1915 multiplicidade de culturas é absoluta­
a 1916, foram : mente necessária.
Em 1917-1918, além das culturas do
Trigos—Temporão de Coruche, Tou­ ano anterior, houve mais a do trigo
zelle e Anafil, que já existiam ; e de Gentile rosso, cevada santa, trigo Ribei­
novo,— Precoce italiano, Tremez prêto ro, grão prêto, topinambo.
e Lobeiro, cuja semente obtive de fora. Neste ano cultivei em três hectares
Além dêstes semeei: Cevada, Centeio, vizinhos na Terra da Eira velha os três
Aveia, Chícharo, Tremoço, Milho, Mi­ trigos de primavera — Aurore, Mani-
lho meúdo, Milho painço, Moha da Hun­ toba e Ribeiro, sendo o mais produtivo
gria, e Moha da Califórnia, Batata, Grão o Aurore.
de bico, Feijão frade. O grão prêto, cuja semente veio da
Companhia das Lezírias, é uma semente
Em 1916-1917 as culturas por mim muito produtiva, dando origem a uma
feitas foram: planta muito resistente, tanto ao calor,
e séca, como à mela.
Nabos, Centeio para verde, Aveia Êste grão parece ter sido trazido de
para verde, Aveia com lentilhas, Trevo Espanha para Portugal pelo grande
encarnado, Batata, Fava de água dulce, lavrador Jose Pereira Palha Blanco,
Fava de Mazagão, Fava cochinera, Aveia tendo-se espalhado na província da Es­
com Ervilheira, Ervilhaca, e Lentilhas tremadura, e já bastante cultivado nos
para verde, Aveia para sêco, Lentilhas arredores de Lisboa onde vi, neste ano
e Cizirão em mistura, Moha da Hungria, de 1920, muitas culturas dêle.
Centeio, Trigos de outono: (Touzelle, É uma planta recente no nosso país,
Lobeiro, Argelino, Anafil, Ideal, Ga­ Cicer arietinum, L. Var nigrum.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 107

Não vem ainda citada esta variedade perde grande quantidade quando está
na Flora de P. Coutinho. sêca.
Menos exigente que 0 grão de bico, Como ração é superior, higiènica-
branco, dá uma farinha boa para a ali­ mente, à cevada ordinária, por não ter
mentação do gado, podendo ser consu­ a pragana que muitas vezes fere a bôca
mido também em grão. com bom resul­ dos animais. Como não tem casulo é
tado para a engorda, como tive ocasião fàcilmente atacada pelos sucos digesti­
de ver com os suínos, que são muito vos, não vindo por isso inteira no es­
gulosos desta ração, engordando rapi­ trume dos solípedes, sujando as terras
damente. que se fertilizam com êste estrume,
E um sucedâneo da fava que tão cara como sucede com a cevada ordinária.
é actualmente, e que é uma cultura Outra planta foi neste ano de 1918
muito mais incerta do que esta. cultivada pela primeira vez — 0 Topi­
Obtive neste ano de 1918, 450 litros, nambo ou Girasol ba/aleiro — Helian-
que no ano seguinte produziram 3530, thus tuberosus, L. —Batata topiuamba
tendo no actual ano de 1920 semeados ou do Brasil, de Brotero.
proximamente 8,5 hectares, o que, dado O topinambo é um tubérculo, que
o belo aspecto que apresentam estas pode servir para a alimentação'do ho­
culturas, dará uma boa quantidade de mem e dos animais.
ração para os animais desta proprie­ E muito menos exigente do que a
dade. batata ordinária, criando-se em qual­
A cevada santa que pela primeira vez quer terreno, dispensando lavores apu­
se cultiva na Tapada é uma variedade rados, mas agradecendo a boa cultura,
nua da cevada ordinária, Hordeum vul­ e dando então grandes produções. Uma
gare, L. var. nudum. Tem a cariopse vez plantado numa terra, difícil é fazê-
livre. -lo desaparecer completamente.
É hoje muito empregada em Lisboa Há já hoje tubérculos de topinambo
para juntar ao café, depois de torrada, lisos e grossos, sem as irregularidades
sendo esta mistura bem melhor, na mi­ que tem os tubérculos ordinários. Ser­
nha opinião, do que a mistura do café vem estes, assim seleccionados, para a
com raiz da chicória, que apresenta alimentação^do homem.
maior travo. Tenciono mandar vir os topinambos
Tem esta cevada um preço melhor aperfeiçoados, para alimentação do ho­
do que 0 trigo, e por isso já a encon­ mem, logo que os possa obter da casa
trei misturada com trigo torrado, numa Vilmorin.
porção que comprei como cevada santa Estes tubérculos são uma boa alimen­
torrada. tação para solípedes, bovinos e suínos,
O bago não tem casulo, apresentando, que comem também os caules e folhas,
de característico, o ser ponteagudo nos quer verdes, quer secos.
dois polos. É de quebradura farinácea.
Em 1918-1919, a Tapada produziu:
Soltam-se com facilidade, a espiga e litros
as espiguetas, e por isso não é conve­ Trigo Anafil.............................. 3650
niente ceifá-la à ceifeira, porque se » Precoce italiano............. 4920
108 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

litros
Em compensação as culturas de pri­
Trigo Touzelle.......................... 1400 mavera foram boas, e principalmente o
» Temporão de Coruche.. 1180 milho, atendendo a que foi cultivado
» Gentile rosso................... 2370 sem regas. Assim, 5 hectares da Terra
» Galego barbado.............. 980 Grande, semeados em linha, deram
» Aurore............................ 2500 12.160 litros, ou sejam 24 hectolitros
» Tremez prêto................ 2360 por hectare, de magnifico milho.
» Manitoba......................... 1550 Nesta terra instituí a seguinte expe­
» Ribeiro............................ 100 riência, para verificar a influência, na
Milho mão de Toupeira.......... 12160 produção, do afastamento das linhas:
» cedovem......................... 868
Grão de bico, prêto................... 353° 25 regos à distância ordinária de o01,40,
» » » branco................ 180 deram 410 litros.
Cevada santa............................ 1400 25 regos à distância de om,6o, deram
Aveia ordinária........................ 1060 627 litros.
» de primavera................. 260 A área dos 25 regos a o,m40 era de
Mistura de trigos...................... 1370 1.528"^, e portanto a produção por r.m2
quilos foi de o,1 26.
Feno de anafe, aveia, etc........ 13000 A área de 25 regos a o,m6o de dis­
tância era de 2.204o12 e portanto a pro­
fardos
Palha de cereais praganosos... 1100 dução foi por i.mí de o,1 28, isto é, mais
dois centilitros.
carradas A primeira vista parece que não vale
Palha de milho.......................... 13 a pena a sementeira em linhas mais es­
quilos paçadas ; se atendermos, porém, à me­
Milho verde............................... 17000 nor quantidade de semente empregada,
Nabos......................................... 4800 ao menor custo do trabalho, que se faz
mais ràpidamente, sendo menor o nú­
Os favais da Tapada foram total e mero de linhas, e sobretudo à sacha,
rapidamente destruídos por uma doença que no i.° caso tem de ser à mão, em-
devida a uma criptogâmica—Sclerotinia quanto que no 2.0 pode ser feita com
IJbertiana, que provocou o apodreci­ o sachador a gado, a diferença é muito
mento do caule das faveiras, de uma grande a favor do 2.0 processo.
forma quási fulminante.
Foi uma perda importante, pois os Em 1919-1920 as culturas são as se­
favais apresentavam-se prometedores guintes :
duma boa produção. O mesmo suce­ Trigos: Touzelle, Precoce italiano,
deu por quási tôda a parte e, principal­ Gentile rosso, Temporão de Coruche,
mente, nos arredores de Lisboa. Barbela, Gigantil, Sete espigas, Lobei-
O ano foi mau para as culturas de ro, Aza de Corvo, Javardo, Anafil, Es-
inverno, prejudicando muito as searas canha (trigo que não larga o casulo —
de trigo, cuja produção foi bastante in­ Triticum monococcum). Todos estes
ferior à do ano anterior. são de inverno.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 109

Trigos de primavera: Apelei para o que reputo o primeiro


botânico português da actualidade, o
Ribeiro, Aurore, Manitoba, Tremez ilustre professor Pereira Coutinho, a
prêto. Ao todo 17 variedades de trigo. quem presto a homenagem da minha
Centeio. maior admiração e respeito, e pedi-lhe
Aveia ordinária, e aveia negra de pri­ a sua opinião sôbre êste assunto, en­
mavera, de Vilmorin. viando-lhe exemplares dêste ano e do
Cevada santa, nua. ano passado. A sua resposta foi a se­
Tremoço, Fava, Chícharo, Nabos, guinte :
Couves forraginosas.
Cebola, Grão de bico, branco e negro. « Quanto às espigas do trigo, embora
Betarraba forraginosa, gigante Mam- bastante semelhantes, afiguram-se-me
mouth, e meia açucarada. um tanto distintas: acho que varia
Batata, Topinambo. principalmente a aproximação das espi-
Milho mão de toupeira, e milho cedo- guetas, ficando as espigas desigual­
vem. mente compactas; variam um tanto a
Sorgo sacarino. divergência das espiguetas e das bar­
Aveia e ervilhaca misturadas. bas; varia a forma do grão, bem como
Luzerna, em adós e em taboleiros, a dureza da palha, desigualmente com-
sendo esta cultura em pequena super­ pressível nos dois casos.»
fície, por ora, devido à falta de água.
Como se vê tem aumentado, de ano Examinando, segundo estas bases,
para ano 0 número das culturas, tor­ muitas espigas de Temporão de Coru­
nando o ensino prático mais completo. che e de Barbela verifiquei a sua dife­
Entre os trigos citados, como cultiva­ rença da seguinte forma:
dos no ano corrente, aparecem dois,
o Barbela e o Tem porão de Coruche Espiga. — Mais compacta, por ter as
que, para muitos, são o mesmo trigo espiguetas mais aproximadas — no Bar­
com nomes diferentes. bela.
Para apurar o que de verdade havia Espiguetas. — Mais divergentes, bem
a êste respeito, mandei vir do Alentejo como as barbas, no Temporão de Co­
o trigo Barbela, de confiança, e semeei ruche.
na Tapada, no ano passado, uma leira Côr da espiga. — Branca, no Barbela:
dêle. amarelo-acastanhado, no Temporão de
Repeti no actual ano a sementeira Coruche.
dêsse trigo, e na época da floração Esta diferença de côr torna-se bem
observei as espigas verdes do Tem po­ mais notável depois de um ano de con­
rão de Coruche e do Barbela e compa­ servação, ficando a espiga do Barbela
rei-as com as espigas secas, colhidas na bem branca, e tornando-se mais carre­
maturação, no ano passado. gada a do Temporão de Coruche.
Fiquei em dúvida sôbre a identidade Grão.—No Barbela—é mediano, ama­
ou diversidade dos dois trigos, pois a relo, liso e polido, e menos vincado,
semelhança é grande. mais ponteagudo nos polos, sobretudo
IIO ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

no superior, que é o oposto ao do em­ colas. Seleccionaram-se os bagos dela,


brião; o Temporão de Coruche — é separando os das espiguetas da zona
mais comprido, mais vincado, parda­ média dos das espiguetas das zonas
cento e baço, mais rombo nos polos. extremas.
Palha. — No Barbela — mais medu- Estes bagos, assim separados, foram
losa e menos compressível; no Tempo­ semeados em dois canteiros, ao lado
rão de Coruche — completamente ôca, um do outro; um com os da zona mé­
mais compressível. dia, outro com igual número de bagos
das zonas extremas. Nenhuma das es­
Devo dizer que em muitos pés de pigas obtidas atingiu o tamanho da
Temporão, encontrei a palha como a espiga mãi.
do Barbela, a-pesar da espiga ser ca- A selecção, contudo, continuará.
racterística do Temporão de Coruche.
Firmo-me, pois, na opinião de Pereira
Coutinho, depois de ter examinado mui­ Além das culturas mencionadas, fei­
tos pés de cada um: para mim, até tas durante o período de 1915 a 1920,
prova em contrário, os trigos Barbela há ainda uma, que não quero deixar no
e Temporão de Coruche são duas va­ esquecimento, e que foi feita com o fim
riedades distintas. de averiguar como se comporta nestes
O mais antigamente conhecido é o terrenos e neste clima, a betarraba
Barbela, pois Ferreira Lapa não se re­ sacarina, cuja cultura para extracção
fere ao trigo Temporão de Coruche na do açúcar julgo vantajoso empreender.
sua Memória sôhre o Estudo Industrial Mandei vir de França semente de
c Quimico dos trigos portugueses, publi­ duas variedades desta betarraba, que
cada pela Academia, em 1865. se achavam inscritas no catálogo da
O excelente trabalho da Estação Agro­ casa Vilmorin com os nomes de:
nómica de Lisboa também o não consi­
dera como um tipo distinto da colecção Betarraba sacarina melhorada Vil­
nacional. («Boletim da Direcção Geral morin ; selecção original A.
da Agricultura» — 9.0 ano, n.° 3). Betarraba sacarina melhorada Vil
Diz a seu respeito o seguinte: numa morin ; selecção original B. Cultivei-as
simples amostra de trigo, recebida com de regadio. Desenvolveram-se bem, e?
a designação de Temporão de Coruche, sendo arrancadas nos fins de Setembro e
se apuraram nesse ano sete tipos per­ primeira semana de Outubro, foram ana­
feitamente caracterizados. lisadas pelo distinto analista do Instituto
Dêste trigo Temporão de Coruche Superior de Agronomia, o Sr. Nunes
apareceu no ano passado uma espiga de Almeida dando o seguinte resultado:
monstruosa, medindo o,n,24 de compri­
Variedade A:
mento.
Humidade................................................. 73.93
Esta espiga foi fotografada por alu­
Açúcar......................................................... 13,7
nos, em tamanho natural, com a escala Açúcar em relação à matéria sêca . . 52,5
ao lado, e serviu para semear dois can­ Açúcar tendo por base a humidade pro­
teiros do meu horto de colecções agrí­ vável de 80" o, na ocasião da colheita 12,6
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA iii

Variedade B: próximo de Condeixa. A primeira vi-a


°/o
Humidade..................................................... 66.03 em plena laboração e nada fazia prever
Açúcar.............................................................18.0 nessa ocasião o fim que havia de ter.
Acúcar em relação à maiéria sêca. . . 53,0 A Ega fui apenas ver os restos de
Açúcar tendo por base a humidade pro­ muito e bom material que veio para
vável de 80%, na ocasião da colheita. . 15,4
essa cultura e indústria, as quais foram
Segundo Vilmorin, estas betarrabas, abandonadas, não sei porquê.
perseverantemente seleccionadas há Há quem diga que em Portugal esta
mais de trinta anos, conservam fixas e indústria do açúcar de betarraba não
constantes as suas qualidades de rique­ pode ser lucrativa, por não se obter no
za e de pureza, não se alterando sensi­ nosso país a percentagem de açúcar
velmente sob as influências, que habi- que lá fora se obtém.
tualmenie mais prejudicam a riqueza Suponho que isto não está provado,
das betarrabas sacarinas. e a experiência que fiz na Tapada le­
Milhares de análises, diz êle, verifica­ va-me a diferente opinião. •
ram nelas uma proporção de açúcar po­ Os factos resultantes da guerra, e a
dendo atingir i6°/o e mais do pêso da carência dêste género de primeira ne­
raiz. cessidade, aconselham a que se estude
As betarrabas melhoradas Vilmorin o problema do açúcar e que se teime
não desmereceram no nosso clima e nesta cultura e na indústria sacarina.
nas terras basálticas da Tapada, dando
percentagens de 13 % e 18 "/o de açú­ *
car, conforme se vê nas análises atrás * *
•citadas.
A forma das raízes era, em tudo A carestia e a falta de braços nos
semelhante às descrições e figuras que campos está sendo uma das dificulda­
representavam as obtidas em França. des importantes da agricultura nacional,
Apesar da enorme diferença de clima como na de outras nações.
não houve alteração nas suas qualida­ O urbanismo desenvolve-se assusta­
des. doramente, bem como a emigração, e,
No ano seguinte, 1917, ainda repeti à míngua de trabalhadores, a agricultu­
a cultura; porém a mudança da Escola ra mal pode agúentar-se.
e a guerra, desorganizaram os labora­ Produzir muito e barato, quando os
tórios, afastaram 0 pessoal, e a experiên­ trabalhadores rurais são poucos e ca­
cia perdeu-se. ros, chega a parecer um problema
Espero, para o ano, obter mais se­ quási milagroso.
mente desta ou doutras variedades ricas E, contudo, todos clamam, principal­
em açúcar, para repetir novamente a mente os que desconhecem completa­
experiência começada. Duas tentativas mente o assunto: «intensifique-se a pro­
feitas em Portugal para a cultura da dução agrícola».
betarraba sacarina e extracção do açú­ Vejamos pois se há maneira de inten­
car, falharam. sificar a produção, melhorando, aumen­
Uma em Torres Novas, outra na Ega, tando e barateando o trabalho cultural.
112 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Ponho de parte, por não ser próprio Em parte alguma essa propaganda é
dêste relatório, as condições políticas, mais útil do que nas escolas agrícolas,
morais e sociais que actualmente inter- desde a mais graduada até à mais hu­
veem no custo da produção, e que co­ milde. Todos à uma, professores de
locam, os que desejam explorar agríco­ ensino superior de agronomia, professo­
lamente a terra, em embaraços tais, que res de escolas médias e elementares de
levam alguns, menos aptos para a luta, ensino agrícola, e até os professores de
a pensar em não cultivar, ou em culti­ instrução primária, devem entrar nesta
var géneros que, por não servirem para propaganda, pela lição, pela demonstra­
a alimentação do homem, os não po­ ção, pelo conselho fundamentado.
nham em sobressaltos constantes. ^Como se tem o Instituto Superior de
Um dos meios que vai ganhando ter­ Agronomia desempenhado da sua mis­
reno é a substituição, tanto quanto pos­ são neste sentido?
sível, do homem pela máquina. Até 1890, proximamente, os alunos
A América tem se notabilizado pela desta escola só viam, durante o seu
invenção, fabrico e aplicação de grande curso teórico, modelos de aula, pois
número de máquinas agrícolas que fa­ que alguns velhos instrumentos que ha­
zem com vantagens técnica e económi­ via e que talvez tivessem trabalhado na
ca, o trabalho de milhares de homens Quinta da Bem posta, estavam sem em­
e de animais. prego numa arrecadação por não haver
Várias nações da Europa vão seguindo onde trabalhassem.
o mesmo caminho e era já avultado o No ano prático do curso que se pas­
número de fábricas de maquinaria agrí­ sava na Quinta Regional de Sintra,
cola, muitas já especializadas, que em viam então, já depois de terem exame
Inglaterra, França e Alemanha se tinham das cadeiras de Agricultura e de Mecâ­
aberto para construção de variadíssimas nica, trabalhar, pela primeira vez, má­
destas máquinas. quinas agrícolas.
Infelizmente, a guerra mundial que Foi o que aconteceu a quem escreve
tantas vítimas e destroços produziu,, pa^ estas linhas.
ralisou essa produção, transformando- Depois que a cadeira de Agricultura
-se, durante quatro anos, essas oficinas geral e culturas passou a ser regida pelo
de intrumentos de paz e civilização, em saúdoso e ilustrado professor Sertório
horrorosos agentes de fabrico de mate­ do Monte Pereira, o ensino das máqui­
rial de destruição, de morte e de sofri­ nas agrícolas começou a desenvolver-se,
mento. adquirindo êste professor algum mate­
Hoje voltam, com maior ou menor rial, e levando os seus alunos à proprie­
presteza, à sua primitiva laboração, e dade de Carlos Anjos, à Luz, onde se
novamente tornam a aparecer os mo­ fazia já bastante trabalho com máquinas.
dernos instrumentos do trabalho rural. Depois, desviado êste professor da re­
É por isso necessário fazer a propa­ gência da sua cadeira para outras ocupa­
ganda dos novos processos de cultu­ ções políticas e burocráticas, para onde
ra, que barateiam o trabalho e tornam o chamaram os que conheciam o seu
mais fácil e até suave, o labor da terra. alto valor, fiquei eu substituindo-o
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA «3

na propriedade dessa cadeira, onde me as dotações escolares eram bem escas­


tenho conservado há uns bons 20 anos. sas.
Desde o primeiro ano da minha re­ Com muito custo, pedindo no fim do
gência que, seguindo as pisadas do meu ano a todos os colegas as sobras das
antecessor, tomei a peito o ensino com suas dotações, consegui comprar, até
demonstração e prática das máquinas hoje, a maior parte do material agrí­
agrícolas, adquirindo máquinas de tra­ cola que agora trabalha na Tapada da
balho, levando os meus discípulos a ofi­ Ajuda, e que é o seguinte:
cinas e casas de venda de material agrí­
1 charrua de Rud-Sack.
cola, à Quinta de Montalegre na estrada
da Luz onde o seu bondoso proprietá­ 1 charrua de Howard de jôgo dian­
rio, o Sr. Carlos Anjos, grande entu­ teiro e longa aiveca.
1 charrua de sub-solo, de Howard.
siasta por êste ensino, me facilitava
tôdas as demonstrações e práticas que 1 charrua tricycle, com assento.
1 charrua de balanço, dum só corpo
eu desejava.
de cada lado.
Muito deve o Instituto a êste amigo
1 charrua vinhateira, de Vernete.
do ensino agrícola, e eu, em particular,
Diferentes tipos de charruas de volta
pelo benefício que para a minha instru­
aiveca.
ção própria e para a dos meus discípu­
1 charrua múltipla, de 3 corpos.
los, resultava destas repetidas visitas e
1 charrua também de 3 ferros, Cub.
experiências.
Diferentes tipos de grades de madeira.
Que fique bem expressa neste do­
1 grade de discos.
cumento a homenagem de gratidão
2 grades de moles.
que, em nome dumas poucas de gera­
1 grade em ziguezague, de Howard.
ções de alunos, eu presto à memória
1 grade Norueguesa.
dêste prestante lavrador.
Nas excursões a quási tôdas as re­ 1 amontoador de ferro — com jôgo
giões do país, que fiz com os meus alu­ dianteiro, tipo Magnié-Bedu.
nos, tive sempre como preocupação 1 semeador mecânico a lanço.
1 semeador em linhas, de Smith.
constante, o material agrícola, fazendo
ver tudo, bom e mau, antigo e moder­ 1 distribuidor de adubos pulverulen­
no, de grande ou pequena cultura, por tos, de Puzenat.
forma a suprir por todos estes meios a 1 gadanheira, Adrience.
1 ceifeira Adrience, empaveadora.
deficiência do ensino livresco em assun-
1 respigador, ou ancinho de cavalo.
tos desta natureza.
Ainda assim faltava alguma coisa im­ 1 tarara.
1 crivo Marot.
portante, para o estudo das máquinas
agrícolas. Era a posse da máquina, a 1 descarolador de milho.
facilidade de a desmontar e tornar a 1 trilho, modêlo espanhol.
1 sachador de expansão angular.
montar quando a explicava, de a pôr
em trabalho, de fazer com que os alu­ Além destas máquinas adquiridas por
nos trabalhassem com ela. mim, há uma charrua Dupla-Brabant
Mas para isto era preciso dinheiro, e adquirida pelo professor Lima Basto, e
8
114 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

outras charruas mais antigas, umas com­ Estas últimas máquinas de debulha e
pradas pelo professor Sertório, e outras de enfardar palha estão já bastante ve­
de que desconheço a origem, como a lhas, e estragadas, principalmente a de­
charrua de Dombasle; a charrua Ver- bulhadora, por terem sido emprestadas
nete de surriba; a charrua Bonet, de e alugadas para particulares, voltando,
surriba; a charrua sulfuradora; o cul­ o aparelho de debulha, da última vez
tivador de Colemann; um semeador de que isto sucedeu, quási impossibilitado
Jap}'; um esgraminhador, e uma char­ de trabalhar, tendo de sofrer um ccn-
rua, tipo Mayfarth, de aiveca dupla vi­ cêrto que importou à Escola em 2.47i$oo
rando por debaixo do apo. em relação à debulhadora, e em 2.450$oo
110 que diz respeito à locomovei.
Depois da criação da Estação de En­ Esta debulhadora deve ser substituída
saio de máquinas recebeu o Instituto quanto antes, pois tem já um fraco ren­
desta estação o seguinte material: dimento, e se o não fôr, em breve, te­
remos de fazer a debulha a pé de bois.
1 tractor Emerson, 20/35—HP.
1 tractor Big-Bull, 12/24- HP. *
* *
1 charrua Grand-Detour, de 2 aive­
cas fixas. Como acaba de ser indicado, tem o
1 charrua Oliver, de 3 aivecas fixas. Instituto, já, bastante material de lavou­
1 charrua La Crosse, de 3 aivecas ra; algum, antigo, como que a fazer a
fixas. história da maquinaria e instrumental
1 charrua J. I. Case, de 3 aivecas agrícola, desde a sua infância; outro,
fixas. moderno, atestando o desejo da escola
1 charrua Emerson, de 2 aivecas de se pôr a par do progresso da mecâ­
fixas. nica agrária.
1 charrua de Case, de 3 discos côn­ Infelizmente as reduzidas dotações,
cavos e rotativos. que nos teem dado, não teem permitido
Três grades de discos. a aquisição do material que devia ter o
Três grades articuladas. nosso primeiro estabelecimento de en­
1 semeador Emerson de 16 linhas. sino agrícola.
Êste material é para ser movido a Não posso, porém, deixar de fazer
trator. uma honrosa excepção sobre a falta de
ajuda da parte dos poderes públicos,
Completando a enumeração das má­ pois que houve um ministro, filho da
quinas agrícolas da minha secção men­ nossa Escola e nosso muito prezado co­
cionarei ainda: lega, que nos deu para aquisição de
máquinas agrícolas a importante verba
1 debulhadora Clayton com locomo­ de 60 contos.
vei. Foi o engenheiro-agrçmomo, profes­
1 enfardadeira Whitmann, que pode sor do Instituto, o Sr. Dr. Eduardo Al­
ser movida por motor a vapor ou a berto Lima Basto, quem fêz essa doa­
essência. ção, com o fim de desenvolver e tornar
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

prático o ensino tão necessário a um máquinas, que ir com o meu curso, em


engenheiro-agrónomo. vários anos, ao Mouchão da Póvoa, pro­
É para mim muito grato deixar aqui priedade do lavrador Veiga Araújo, que
consignado o meu agradecimento, pois com tanta amabilidade recebia os alu­
que, tendo feito, há tantos anos, o en­ nos que eu lá lhe levava, estando sem­
sino das máquinas agrícolas e sendo pre pronto para ser útil ao Instituto.
actualmente o professor dêste impor­ Aí, no seu mouchão, tive ocasião de
tante assunto, hoje incluído, pela lei vi­ ver e mostrar aos meus alunos, em di­
gente, no programa da minha cadeira, versos anos, um grupo de ceifeiras ata-
sei quão valiosa para o ensino seria a deiras, trabalhando ao mesmo tempo
aquisição de muitas máquinas que de­ na mesma seara.
víamos ter, e pena é que ainda as não E actualmente uma máquina cara,
tenhamos. pois custou 1.450800, mas que, traba­
A guerra, dificultando a sua aquisi­ lhando bem, numa época de jornas de
ção, e outras necessidades urgentes e ceifa a 5800 e mais, sai barata.
razões que não importa aqui mencionar, Faz por dia, em boas condições de
fizeram com que a esta dotação se não trabalho, puxada a bois, 3 hectares a
desseoemprêgo queoseu dador lhe pres­ 3 hectares e meio. Nós não temos ca­
crevia. Foi um mal, embora necessário. valos para a puxar.
A verba foi aplicada a outros fins, em Em França trabalha, em geral, com
virtude de uma ulteriar disposição go­ três cavalos, fazendo assim 4 hectares
vernamental, e dividida por vários pro­ por dia.
fessores e serviços. A nossa, segundo medições que fiz
Coube-me ultimamente ainda alguma com os alunos, leva 70 segundos a cei­
coisa dessa quantia e com ela já adquiri far um eito de i24m, o que, num corte
para o Instituto além de um semeador de serra de im,io, dá i3Óm.
de milho, americano, uma ceifeira-ata- Se a ceifeira trabalhasse sem parar,
deira, Deering, com a qual já fiz neste ceifaria um hectare em 1 hora 641 minu­
ano uma parte da ceifa do trigo, ser­ tos, ou 3,5 hectares em 5 horas seguidas.
vindo de boa lição para os meus discí­ Nunca o trabalho, porém, é seguido,
pulos que puderam ver ou comparar o mas sim dividido pelo dia fora para
seu trabalho com o da ceifeira empa- descanso do gado.
veadora Adriance. Para trabalhar todo o dia com a mesma
Êste trabalho realizou-se na Terra junta é necessário dividir as 5 horas de
Grande, uma das melhores folhas da trabalho, metade de manhã, e outra me­
Tapada, que, agora, depois de ser de- tade de tarde, tendo os animais um des­
sarborizada e despedregada, está bem canso seguido das 12 às 16 horas por
adequada a estes trabalhos. causa do calor.
Sem a Tapada e sem as máquinas, o Sendo a junta boa, de bois mirande-
ensino prático continuaria a ser feito ses ou alentejanos, por exemplo, bem
com modelos de aula, ou citando o que arraçoados, o trabalho não é demais,
os outros fazem. sendo conveniente que alterne o traba­
Tive, para mostrar o trabalho destas lho de ceifa com outro no dia seguinte.
n6 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Mas ainda mesmo que cada junta tra­ Falta o seguro contra acidentes de
balhasse só meio dia, a economia de trabalho que não sei ainda o que será.
trabalho da máquina dá bem para o O custo da ceifa dum hectare vem a
pagamento de duas juntas diárias. ser 0 quociente da divisão da soma
É preciso notar que, ceifando à mão, acima por 3,5, ou seja 32823.
são precisos 7,5 homens a cortar, e 3 A ceifa à mão, por hectare custa
a atar, por cada hectare, ou sejam 10,5. 52850, a 5800 cada jornal.
Em 3,5 hectares são pois necessários Esta ceifa torna-se mais económica
37 homens. Isto é, para fazer num dia aumentando o número de anos de dura­
o trabalho duma ceifeira atadeira, 3,5 ção da máquina, porque o maior en­
hectares, são precisos 37 homens. cargo, que é a amortização, torna-se
Sendo o jornal a 5800, como está menor em cada dia.
sendo em muita parte, custam, cada É principalmente para remediar a
dia, os 37 ceifeiros, 185800. falta de pessoal que esta ceifeira-ata-
A ceifa com a máquina custa por dia deira está indicada, como sucede actual-
ij2$8i, conservando os jornais que ela
mente.
exige a mesma proporção. O preço espantoso do fio torna êste
Economia, 72819 diários, e no fim serviço muito mais caro, pois o que
dos 12 dias de ceifa, 866828. hoje custa 38850, custava dantes 4880
Sendo o período da ceifa de 2 sema­ ou menos.
nas, o máximo 15 dias, por ano, e cal­ Apesar dêste encargo ainda esta ceifa
culando muito por baixo, em 3 anos a é mais económica do que a da ceifeira
duração da máquina, em bom estado, simples, ou empaveadora, por isso que
para fazer bem o seu trabalho, a amor­ para atar os molhos desta são preci­
tização do seu custo será distribuída por sos, para 3,5 hectares, 10,5 trabalhado­
36 ou 45 dias de trabalho nos 3 anos. res, o que a 5800 dá 52850, emquanto
Êste cálculo de 3 anos é o resultado que o trabalho automático da atadeira
de informações colhidas por mim sôbre custa 38850.
o trabalho destas máquinas em Portu­ Esta máquina deve, pois, entrar na
gal, com as despesas de conservação e prática da cultura cerealífera do nosso
reparação convenientes. Pode, porém, país, devendo prepararem-se as terras,
durar mais: 5 e mais anos. desde a sementeira, para a sua aplica­
Conta da despesa diária da ceifeira- ção, que necessita um solo direito, sem
-atadeira, no actual momento, supondo pedras, e raso. A armação em espi-
que trabalha 12 dias por ano: goado alentejano é um obstáculo ao
Uma junta de bois e boieiro . . . 10S00
trabalho desta ceifeira, da mesma forma
Condutor da ceifeira......................... 6S00 que o camalhão saloio dos arredores de
Auxiliar, para afiar a foice, etc.. . 5800 Lisboa e dos concelhos vizinhos.
Fio, 14 quilos por dia, 2S75 0 quilo. 38S50
Óleo, 1 litro......................................... i$oo *
* *
Conservação e reparação................. 6$oo
Juro do capital a 5%......................... 6$04
Amortização em 3 anos, ou 36 dias. 40827 Das máquinas de moto-cultura, adqui­
Ceifa de 3,5 hectares............................... ii?$8i ridas pelo Estado, e que estão a cargo
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 117

da Estação de Ensaio de Máquinas, fo­ O facto, absolutamente verdadeiro, é


ram concedidas ao Instituto as que já que nas terras da Tapada, e em tôdas
atrás citei. as estações do ano, o trabalho dos que
Alguns tractores teem trabalhado e, experimentei tem sido deficiente.
do seu trabalho, pouco tenho a dizer, Como sou persistente, continuarei a
porque nada teem feito que preste, a tentar obter boa lavoura, sobretudo de
não ser o Big-Bull, como motor fixo, alqueive, com estes ou outros tractores,
tocando a enfardadeira. Dêstes insuces­ ainda que tenha de dirigir-me a emprê-
sos não tem culpa o pessoal da Estação sas particulares.
que com êles tem trabalhado, mas so­ Algumas casas comerciais teem apre­
mente os motores, que já tenho man­ sentado tractores e charruas que me
dado rebocar a bois por não se atreve­ agradam. Assim, trabalharam ultima-
rem a subir a ladeira da Tapada, tal é o es­ mente na Tapada algumas máquinas,
tado de fraqueza congénita deque sofrem. em alqueive de verão, em más condi­
Tenho-me esforçado por conseguir ções de solo, que, em abôno da verdade,
lavouras de inverno, de primavera, e se deve dizer que satisfazem:
de verão com os diferentes tractores i.°—A moto-charrua Komnick, de 80
que teem estado ao meu dispor; até II. P., lavrando uma faixa de 2.m,3o de
agora, porém, só tenho tido decepções. largura, com seis corpos de charrua
Ainda não consegui uma lavoura com­ (seis aivecas) profundando a o.m,35, com
pleta de qualquer das terras, tendo o bom reviramento da leiva;
tractor, no fim de algum tempo, de 2.0— O tractor Holt «Caterpillar», de
abandonar 0 serviço com doença grave, 40-60 H. P., com uma charrua La Cros-
vendo-me obrigado a fazer 0 resto da se «Texas Beeter», de quatro corpos
lavoura com os sempre fiéis bois que rotativos em forma de calote esférica,
nunca me deixaram comprometido. impropriamente chamados discos.
Não quero, por forma alguma, pôr O trabalho desta charrua, um pouco
em dúvida o préstimo dêstes novos diferente da primeira recomenda-se pela
auxiliares da lavoura. A sua utilidade mais perfeita pulverização da terra, o
está provada, até mesmo dentro do que facilita a nitrificação.
nosso país. Não me queixo, pois, dos Em absoluto ambas trabalham bem ;
tractores, em geral, mas unicamente dos e, sendo dois sistemas coinpletamente
que teem tentado mostrar o seu vali­ diferentes, fizeram bem as suas provas.
mento na Tapada da Ajuda. 3.0— O Motocultor Somua com esca­
Prova isto, que nem tudo o que o vador de garras, rotatório, que para os
estrangeiro para cá manda é ouro de fins a que é destinado me parece bom.
lei; muito latão tem vindo com êsse Faz uma mobilização do solo de im,5o
nome, por alto preço, mas que não de largura, podendo a profundidade
passa de baixo latão. variar entre 3 e 30 centímetros, à von­
Muitas razões me teem sido dadas tade do condutor.
para explicar estes fracassos, sendo as O motor é de 35 H. P., dando ao
principais a má qualidade do material escavador um movimento de rotação
e o pouco escrupuloso fabrico. de 400 a 900 voltas por minuto.
n8 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Ainda apresentou as suas provas uma Diminuem-se os proventos da Tapada,


sachadeira automóvel «Banche», íazendo limitando os preços dos produtos que
também trabalho de gradagem, e ser­ ela fornece em maior escala, e diminue-
vindo para culturas em linhas, vinhas -se a dotação em 2.ooo$oo, quando os
e certas culturas coloniais. jornais aumentaram, quando o custo da
alimentação do gado aumentou extraor-
* dinàriamente, e quando estão por um
*
preço elevadíssimo, o ferro, a madeira,
Está o Instituto instalado na Tapada, as peças de arreios, as ferramentas, as
tendo um belo edifício escolar, onde se relhas, os medicamentos para o gado,
pode trabalhar se os poderes públicos lhe o petróleo para a iluminação, os con­
derem as dotações actualmente precisas. sertos de serralheiro ou de carpinteiro,
Há laboratórios e serviços que ainda dos carros e máquinas de trabalho, e
não estão providos do necessário para tudo o mais que é preciso nos serviços
o seu labor, faltando em alguns quási de lavoura, sobretudo num estabeleci­
tudo. Foi preciso, da verba de 6o con­ mento de ensino.
tos, posta à disposição do Instituto para O Estado aumentou os vencimentos
compra de máquinas agrícolas, tirar ao seu pessoal para 0 habilitar a lutar
uma grossa quantia para se poder com­ contra á carestia da vida; como pode
prar material, que teve de vir todo do pois o mesmo Estado diminuir as dota­
estrangeiro, por preço e com um câm­ ções de serviços, que é preciso que
bio fora de tôdas as previsões. continuem, tendo a administração dês-
Não temos gás, nem água, nem elec- ses serviços de aumentar os salários do
tricidade, dentro do edifício e dos res- pessoal trabalhador e alimentar o gado
pectivos laboratórios. Não obtivemos indispensável para o funcionamento
para a instalação de serviços novos desses serviços?
uma verba especial, pois a dotação or­ Acresce que o ano de 1918-1919 foi
çamental mal chega para as despesas um mau ano agrícola, tendo por isso
correntes. baixado as receitas da Tapada, que se
Tudo está por um preço exorbitante; receberam em 1919-1920.
e quando nós tínhamos a esperança de É indispensável pois que os poderes
obter uma determinada quantia que nos públicos mantenham as dotações legais,
tinha sido prometida para instalações e concorram com verbas extraordiná­
diversas, eis que nos dão a notícia de rias para completar o que falta fazer.
que a verba, inscrita na lei que nos Para diminuir quanto possível as des­
rege, que era de 15 contos para os ser­ pesas com a alimentação do gado, utili­
viços escolares ordinários e outros 15 zei uma área muito maior do que nos
para a Tapada e Jardim Botânico da anos anteriores para a cultura de plan­
Ajuda, tinha sido reduzido de 4 contos, tas forraginosas.
2 em cada serviço. Foi por isso que semeei perto de 10
Não podemos deixar de respeitar esta hectares de grão prêto, que promete
decisão, mas seja-nos lícito dizer que uma colheita boa, e que nos dará um
não podemos fazer milagres. arraçoamento para todos os animais,
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 119

quer no estado de grão, quer no de fari­ para feno e tem um preço mais alto do
nha. É um sucedâneo da fava, que é que o feno comum.
uma cultura bastante aleatória. Assim o Instituto comprou, já neste
Cultivei bastante aveia, para grão, ano, feno de Fenacho a 55800 a carrada
para feno e para verde. Estão semea­ de 750 quilos, emquanto que o feno co­
dos e de aspecto prometedor, proxima­ mum foi adquirido a 40800 a carrada
mente, 6 hectares de milho, que além também de 750 quilos.
do grão, dão bastante palha para o A carrada é a unidade de venda para
gado bovino. o feno, sendo composta de 100 molhos
Temos ainda alguns hectares de mi- de feno de 7,5 quilos cada um, o que
lharadas, para colheita de milho verde dá os 750 quilos por carrada.
para as vacas. Comprámas 0 feno em Abril, pelos
Dois hectares de chícharo foram já preços acima indicados, pois já se está
ceifados com a gadanheira mecânica, vendendo a 75800 o primeiro, e a 60800
dando 6.000 quilos de óptimo feno, o segundo.
e grão, tudo para a alimentação dos ani­ O feno de fenacho é muito bom,
mais. aproveitando-o os bois, todo, e por isso
A cultura da luzerna que tenho en­ sai talvez mais barato do que o comum;
saiado há dois anos, e que deu no ano não serve, porém, para vacas, por dar
passado 8 cortes, esperando que che­ mau gôsto ao leite.
gue aos 10, é limitada pela falta de Já encomendei a semente do fenacho
água de rega. para a cultura dalguns hectares, espe­
Se a houvesse em abundância que rando aliviar assim muito o custo da
belas culturas pratenses se poderiam alimentação do gado, e fornecendo aos
fazer, não só para o ensino da praticul- alunos mais um elemento de estudo,
tura, tão descurada no nosso país, mas para o conhecimento das culturas forra-
também para obter grandes massas de ginosas.
forragens, como luzerna, beterrabas, mi­ Todos os anos fica alguma terra de
lho, sorgo, etc., para o nosso gado! erva, como nesta região se chama ao
Como uma das grandes despesas com ano de pousio, em que a terra, apesar
a alimentação do gado é a compra de de não ser cultivada, dá, em erva, ou
fenos, introduzirei no plano de explora­ em feno, um bom rendimento.
ção para 1920-1921 uma nova cultura, A despesa é somente a da colheita,
a da Trigonela Foenum-graecum, L. em Maio, da erva nascediça ou expon­
vulgarmente conhecido nos arredores tânea, que não se deve deixar engros­
de Lisboa, sobretudo no Concelho de sar e envelhecer para não se tornar
Oeiras, onde se cultiva bastante, cora o dura.
nome de Fenacho. A ceifa foi contratada neste ano, na
Esta planta é ainda denominada Al- região saloia, a 3S60 e 4800 cada ho­
forva, Ervinha, e segundo Lopes de mem, e a 1850 a 1870 cada mulher.
Carvalho, no seu livro, «As Melhores Foi uma ceifa caríssima, e daí a ca­
Forragens», Caroba. restia do feno.
Esta planta é sobretudo cultivada Êste alto preço leva o lavrador sa-
120 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

loio a pôr de parte a cultura do trigo Ajuda é composto em grande parte de


ou outras, para só explorar o feno nas- Anaphe e Balanço.
cediço, como na região chamam ao feno A Anaphe é muito boa planta, con­
espontâneo, para o distinguirem do feno tanto que se apanhe logo no comêço
cultivado. da floração, ou melhor ainda um pouco
E o rendimento é convidativo pois, em antes, para a aproveitar emquanto está
terras saloias, o hectare de terreno pro­ tenra, senão endurece, dando causa a
duz de 4 carradas para cima, até 5 e que o gado a enjeite, deitando-a para
mesmo 6, em certas terras e em certos fora da mangedoura, servindo depois
anos. só para camas.
Supondo uma produção média de Na compra de feno em pé nunca se
quatro carradas e meia a 50800, tem o deve preferir o feno soberbo, que se
lavrador um produto bruto de 240800 desenvolveu muito, mas antes o mais
por hectare, sendo a despesa de 10 ho­ serôdio que, por mais curto, não perde;
mens para ceifar e homem e meio para antes, por bem aproveitado, dá mais
atar, o que dá, à jorna de 3860, a quan­ lucro ao comprador. Na Tapada nunca
tia de 41S40, a que se junta o cordel e se deixa envelhecer o feno espontâneo,
o enrilheiramento, chegando a despesa por isso o nosso gado o prefere ao que
total a 50800. vem de fora.
O rendimento líquido é pois de 190800 Convém incorporar neste feno algu­
por hectare. mas plantas que lhe deem certas quali­
O feno espontâneo do têrmo de Lis­ dades organoléticas, como o aroma, es­
boa é constituído na sua maior parte palhando pela terra algumas sementes
por Balanço (Avena barbata, A. steri- de Meliloto branco, ou trevo de Bokha-
lis, L., e outras), Azevem, Joio e talvez ra, ou outras análogas. Tenciono já
mais algumas espécies do género Lo- para o próximo ano, se puder obter
lium; Cornilhão (Scorpiurus vermicula- sementes, fazer alguma coisa neste sen­
ta, sulcata, e talvez outras), Azuraqne tido.
(Convolvulus tricolor), Trevos (Diferen­ *
* *
tes espécies de género Trifolium), Ana-
phe (Melilotus sulcata e outras), Ervi-
Ihaca (Vicia sativa, L.) Cizirâo (Lathyrus Como êste meu relatório não pode
latifolius, L.), Trevagens várias (diferen­ ocupar-se do Instituto todo, tendo por
tes espécies do género Medicago) e ou­ fim, apenas, dar conta do que tenho
tras plantas espontâneas, algumas das feito na parte cultural que me foi con­
quais tornam o feno de má qualidade, fiada, só tratarei de indicar o que falta
como são o pampilho (Composta muito para completar a instalação conveniente
freqílente nos arredores de Lisboa, fa­ dos serviços que se relacionam com as
zendo grandes manchas amarelas doi­ culturas de ensino, na Tapada.
radas quando 0 sol de Maio incide Não temos celeiro, estando a servir,
sôbre os seus capítulos) algumas umbe- para a arrecadação dos cereais e semen­
líferas, e até cardos. tes diversas, um velho casarão de ma­
O feno espontâneo da Tapada da deira, todo esburacado, para onde os
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 121

ratos entram e onde comem à-vontade, As ovelhas não teem aprisco; os suí­
causando grandes estragos. nos não teem pocilgas convenientes; os
É esquisito que se trate durante o bois de trabalho estão numa abegoaria
curso de Agronomia das condições a velha, estragada e em más condições;
que deve obedecer a construção dum o gado cavalar e muar não tem cocheira
celeiro para a arrecadação conveniente adequada.
e conservação dos géneros, e que se As casas onde habitam os trabalha­
apresente aos alunos e ao público, um dores efectivos, os guardas, o abegão,
tal casarão como sendo o celeiro do e os trabalhadores adventícios são o que
Instituto Superior de Agronomia, onde há de pior.
se acham retinidas tôdas as condições Não seria um esbanjamento censurá­
contrárias às que se preconizam para vel, a construção de novos edifícios rús­
tais edifícios. ticos e baratos, para alojamento dêste
Eis a primeira construção a fazer pessoal que trabalha na Tapada.
com tôda a urgência. E o mesmo direi a respeito de casas
Não temos arrecadações para os uten­ onde moram os serventes, guardas, e
sílios, ferramentas, materiais de diversa pessoal subalterno do Instituto, a quem
natureza empregados nas culturas, tais convém aliviar os encargos da vida
como adubos, enxofre, sulfato de co­ actual, suavizando assim a todos, as di­
bre, etc. ficuldades provenientes dos seus peque­
Não será necessário grande eloqíiên- nos vencimentos, e proporcionando ao
cia para fundamentar os inconvenientes mesmo tempo, pela conveniente coloca­
que há em não termos onde se guarde ção das casas, uma vigilância sôbre
o que é preciso estar guardado. tôda a Tapada que actualmente não é
Não temos alpendre, nem sequer um possível.
simples telheiro, onde se abriguem cer­ Importarão estas edificações nalgum
tas máquinas e objectos grandes que dinheiro?
não devem ficar expostos ao tempo, Com certeza. Mas quando os pode­
como galeras, carros, carroças e o ma­ res públicos se decidem a montar um
terial da lavoura ordinária que actual- serviço importante, como êste, teem de
mente fica ao ar livre, por não haver o completar, para.que êle possa dar
onde se guarde. tudo quanto dêle se deve exigir.
Não temos estrumeiras convenientes Ficar só com um edifício grandioso
para a curtimenta do estrume, sendo as para os serviços de leccionação, e não
duas que existem pequenas e sem as continuar a obra encetada, construindo
condições precisas. os anexos indispensáveis em tôda a
Não temos onde arrecadar a palha e casa de lavoura, é dar a impressão que
o feno, ficando tudo na velha abegoaria só se quer o ensino teórico de culturas,
dos bois, em casas onde chove, e até de artes agrícolas e de zootecnia, o que
na própria vacaria, o que é inconve­ não deve ser, sob pena do Estado não
niente sob todos os pontos de vista. tirar, por culpa sua, tôda a vantagem
Não temos eira, sendo preciso fazê-la do capital que tem empregado, e con­
todos os anos, à moda da região. tinua a empregar, com êste ensino.
122 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

*
as searas, pediram algumas espigas de
* * trigos que êles acharam notáveis e que
desejam experimentar.
Termino aqui o relatório sobre a mi­ De Évora acabo de receber uma carta
nha acção na Tapada da Ajuda, na parte de um distinto filho desta Escola, dizen­
que me foi distribuída, como campo ex­ do-me que alguns dos principais lavra­
perimental e de observação, para o en­ dores daquela região desejam experi­
sino da cadeira de Agricultura Geral, mentar a cultura do escãna ou triticum
Culturas arvenses e Máquinas agrícolas. monococum, pedindo-me qualquer quan­
Tenho feito o que tenho podido, den­ tidade de semente para êsse fim.
tro dos acanhados meios pecuniários Aqui esteve o distinto lavrador e es­
que tenho podido obter. critor José Pequito Rebelo que andou
O público já reconhece a utilidade comigo vendo as searas, sobretudo os
do Instituto no fornecimento de semen­ tremezes, encontrando algum interesse
tes de escolha. Assim, até 30 de Ju­ no que viu.
nho, já recebi pedidos de sementes de O meu desejo é ser útil ao ensino
trigo seleccionado, da Companhia das dos meus alunos, à sciência agronómi­
Lezírias, da Associação de Agricultura, ca e à lavoura nacional.
e acabo de receber uma carta dum agri­ Oxalá que não me faltem com os
cultor de Freixo-de-Espada-à-Cinta pe­ meios de trabalho, e que não me redu­
dindo-me semente de cevada santa ou zam à impotência e à situação de ser,
nua. Alguns dos lavradores dos arre­ mau grado meu, apenas um encargo
dores da Tapada, depois de examinarem para o Estado.
Observações gerais sobre a agrologia, climatologia
e etnografia de Angola
LlÇÃO DA I.a PARTE DA CADEIRA DE MESOLOGIA COLONIAL DO INTITUTO SUPERIOR
de Agronomia, pelo professor

José Joaquim de Almeida


Na costa ocidental africaDa, compreen­ do seu percurso, se dirige quási direc-
dida entre os paralelos 50,55' e 18o de tamente do Sul para o Norte; constitue
latitude sul, prolonga-se a Província de a extrema fronteira oriental de Angola,
Angola, que para o interior se expande num prolongamento de mais de 100 lé­
do Oceano Atlântico ao 25o de longi­ guas do 7°,20/ de latitude Sul até ao
tude leste de Greenwích. lago Dilôlo, donde se inflecte para Les­
Exclusão feita dos territórios de Ca- te, seguindo a linha divisória das águas
binda, Molembo e Massabi, por tão do Zaire e do Zambeze até ao meridiano
longo tempo disputados, e cuja posse 25o de longitude leste de Greenwich.
nos foi garantida pelos convénios de Tôda esta parte da fronteira norte e
12 de Maio de 1886, e 25 de Maio de 1891 leste, que acabamos de indicar a largos
respectivamente feitos, com a França e traços, separa a nossa província de An­
com o Estado Livre do Cango, a fron­ gola do Estado Independente do Congo.
teira de Angola, determinada por êste O resto da fronteira oriental separa-nos
último documento, é marcada pelo curso dos territórios da África Central Inglesa.
do Zaire, e depois por uma linha ima­ Pelo convénio de n de Junho de 1891,
ginária que deixa o grande rio no sítio estes limites são determinados por uma
em que éle se inflecte para o norte, um linha que, partindo daquele meridiano,
pouco acima de Noúi, e que, seguindo e cortando a divisória das águas Zaire-
uma direcção paralela ao equador pelo -Zambeze, há-de descer pelo centro do
5o,5o7 latitude sul, vai encontrar o Cuan- leito dêste último rio, desde o ponto
go; dêste ponto a fronteira sobe o em que éle entra nos territórios do Ba-
grande afluente do Zaire até ao 8o pa­ rotze, e seguindo os limites ocidentais
ralelo na sua confluência com o Utun- dêste reino vem terminar nos rápidos
guilla, prolonga êste paralelo para Leste de Catima (1).
até encontrar o Luita, afluente de Luílu, Dêste ponto, pelo convénio de 30 de
seguindo então para o Norte até ao 70
paralelo. Aí retoma a direcção orien­ (1) Esta dilimitação é assim indicada no re­
tal até encontrar o Tchicapa, cujo thci- ferido convénio, embora a Cartada Província
hveg acompanha para Sul numa exten­ de Angola, da Comissão de Cartografia, publi­
cada em 1900, e que, como documento oficial
são de 20' aproximadamente, e daí
me serve de guia, não a siga com a desejada
segue direiia para Leste até ao Cassai. aproximação. De resto, o convénio neste ponto
Êste último rio, um dos maiores è algo confuso, e como se sabe esta parte da
afluentes do Zaire, e que, nesta região fronteira está sujeita a arbitragem da Itália.
124 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Dezembro de 1886, a fronteira luso- cai em declive abruto, ao passo que


-alemã, segue uma linha recta imaginá­ para os lado do mar, descai por uma
ria até Andara no Cubango, e sobe por série de terraços e montanhoso relêvo,
êste rio até encontrar o paralelo 17o, 15', que lhe constitue a orla ocidental. De
mais ou menos, ao longo do qual cami­ resto tôdas as ondulações do terreno
nha até encontrar a primeira catarata apresentam na região uma configuração
do Cunene, que daí em diante marca a análoga, tendo, em geral, declives rápi­
fronteira sul até à sua foz, no Oceano dos sôbre leste e sul.
Atlântico. Ao sul do Cuanza, a série monta­
O maior comprimento de Angola de nhosa continua-se com mais intensidade.
norte a sul é de 1600 quilómetros, e a A linha das cordilheiras afasta se mais
sua maior largura do Oceano ao Cassai do litoral e eleva-se sucessivamente até
é de 800 quilómetros, o que dá uma su­ ao grande maciço do Bihé, que forma
perfície total de mais de um milhão de o núcleo do sistema orográfico da Pro­
quilómetros quadrados, isto é, uma área víncia. Aí, na cordilheira do Huambo
14 vezes aproximadamente superior à até ao Bailundo, se encontram, os pon­
de Portugal. O seu território é exces­ tos mais elevados de tôda a província,
sivamente movimentado. Se conside­ tais como o Lovili, próximo ao rio Cuvo,
rarmos apenas o litoral, partindo do com 2.370 metros, e mais ao sul o
Congo e caminhando para sul, vão-nos Elonga cotando 2.300.
aparecendo após os terrenos baixos da Para o norte do Bailundo, o terreno
Mongróvia, e cada vez mais elevados, desce conservando sempre o carácter
os outeiros vermelhos que são, por montanhoso, até ao vale do Cuanza, a
assim dizer, a feição constante da África cujas águas dá saída em sucessivas ca­
Sul ocidental, e que em Mossâmedes se choeiras. Por detrás, porém, do maciço
nos apresentam cortados por um plano do Bihé, uma cadeia de menores altitu­
horizontal, justificando o nome caracte- des, a de Talla-Mugongo(i), que forma
rístico de mesas, que lhes é dado pelos a orla oriental do planalto angolense,
colonos Portugueses. contorna as nascentes do Cuanza, e vai
Mais para o interior, e ainda na mes­ juntar-se ao planalto do Congo sem so­
ma direcção considerada, corre uma lução de continuidade. Ao sul do Bihé,
série de montanhas que, por platós, cor­ a ondulação montanhosa continua a de­
dilheiras secundárias e longos declives, senvolver-se ininterrupta, mas dimi­
ocupa quási todo o espaço compreen­ nuindo em altura até ao maciço da
dido entre o mar e os dois rios Cuango Chella, que tem cotas de 1.000 metros.
e Cunene. Conforme dissemos, em tôda a Pro­
Desde o Zaire, ao norte, até ao vale víncia, a transição entre o litoral e as
do Cuanza, ao sul, a cadeia alarga-se grandes elevações do interior é feita por
num vasto planalto, cotando altitudes
(1) Em português quere dizer—ver-o-mun-
até 1200 metros, que ocupa pouco mais
do—o que indica a vastidão do panorama que
ou menos metade do espaço compreen­ daí se abrange, especialmente sôbre a grande
dido entre o mar e o Cuango. Sôbre depressão central africana, aonde corre o
o vale dêste rio o planalto termina, e Cuango.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 125

uma série de cordilheiras, paralelas à de 100 a 300 metros, e imprimindo por


à costa, e mais ou menos delas desvia­ esta circunstância uma forte corrente
das, que gradualmente vão aumentando às águas. Em alguns pontos, rochas
de altura. Welwitsch, que teve ensejo isoladas dão origem a remoinhos violen­
de penetrar no interior por várias vezes, tos. À medida, porém, que se vão
partindo de vários pontos do litoral, aproximando da foz, as margens vão-se
observando a constância a desta dispo­ alargando, embora conservando 0 as­
sição orográfica, dividiu a Provincia de pecto montanhoso, até se perderem na
Angola em três regiões caracterizadas costa, aonde dão saída, por um estuário
pela altitude, e ainda pela flora, como único, ao gigantesco curso de água.
adiante veremos. Assim, partindo de Ao sul do Zaire, e com cursos inde­
ocidente para oriente, temos: pendentes, correndo mais ou menos pa­
1. a—Região litoral, cotando até 325 ralelos entre si, encontramos o M’brige,
metros. o Loge, o Lifune, o Dande e o Bengo,
2. a—Região montanhosa, ou de flo­ que nascem nas serras que os separam
resta primitiva, cotando de 325 a 800 do vale do Cuango, desde o Zombo, a
metros. leste de S. Salvador, até ao Golungo
3. a—Região planáltica ou das sava­ Alto. Caminhando de leste para oeste,
nas, com a altitude de. 1.000 a 2.000 através de um país montanhoso, estes
metros. rios são em parte torrentuosos, e a cada
Embora profundamente cortada pelos passo obrigados a despenharem-se em
rios que vão ao Oceano e pelos seus cataratas, tendo de vencer, em curto per­
afluentes, em alguns dos quais a acção curso, um grande desnível. Por outro
das águas foi bastante forte para cavar lado, esta circunstância, êste carácter
profundos e extensos vales, férteis, em­ erosivo, tem como consequência o arras­
bora insalubres, compreende-se que tamento de consideráveis sedimentos,
esta disposição orográfica angolense que ao embate do mar se depositam
não é das mais propícias à formação nos próprios estuários, obstruindo-lhes
de cursos de cursos de água importan­ assim as entradas, o que os torna pouco
tes, sobretudo debaixo do ponto de aptos para a navegação permanente.
vista de sua navegabilidade. Neste grupo, o mais importante é o Ben­
De facto, todos os rios, salvo o Zaire go, que nasce no Luamba, atravessa o
e o Cuanza, que teem um curto per­ riquíssimo concelho do Golungo Alto,
curso navegável em relação à sua ex­ aonde recebe o tributo do Lombige, e
tensão, são torrentuosos na época das vem desembocar na baía do mesmo
chuvas, e muitas vezes sêcos durante o nome, junto ao Quifangondo.
verão, sobretudo ao sul, aonde as chu­ O Cuanza, que desde o Zaire ao
vas caem em menor quantidade. Orange é o unico rio que dá acêsso,
O Zaire é navegável a uns 160 quiló­ numa extensão de 200 quilómetros, à
metros da foz até Matadi, pouco acima navegação regular, nasce na região pla­
de Noqui, que marca o extremo limite náltica ao sul de Bié, por detrás das
dos nossos territórios marginais, que altas montanhas, que formam, a cadeia
neste ponto são escarpados, elevando-se dorsal de Angola. O seu curso dirige-
126 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

-se a princípio para o norte, e depois, das vertentes ocidentais, que orlam o
encontrando uma falha na linha monta­ planalto sul angolense. Dêles os mais
nhosa, cava uma passagem a oeste para importantes, peio volume de água que
o Oceano, conservando contudo uma conservam durante a estiagem, são o
ligeira inclinação para noroeste. Cuvo e o Catumbela, o primeiro desa­
A bacia hidrográfica do Cuanza abran­ guando no Atlântico junto ao morro de
ge uma superfície de 170.000 quilóme­ Benguela-a-Velha, e o segundo, um
tros quadrados, e a sua linha de maior pouco ao sul da célebre baía do Lobito,
declive mede uma extensão de 850 qui­ banhando o florescente entreposto de
lómetros, da nascente à foz. Benguela, a que dá o nome.
Até Cambambe (Dondo), o rio tem De Benguela para Sul, todos os rios
várias cachoeiras e cataratas, entre as conservam, durante a estiagem, secos
quais avultam as cachoeiras do Condo os seus leitos, muito embora, cavando-
e do Quitache, próximo a Malange, as -os a pequena profundidade se encon­
cataratas de Cabalo, próximo a Pungo tre a água que, através das areias, se
Andongo, e por fim as de Cabulo, junto vai filtrando até ao Oceano.
ao Dondo. Daqui em diante a corrente Depois do Cuanza, o rio mais impor­
deslisa tranqilila, tornando-se navegável tante é sem dúvida o Cunene, que entra
até ao mar, embora a sua foz, como a no Oceano na extremidade sul de An­
de todos os rios desta parte de África, gola, que divide em parte, como já vi­
muito carregados de sedimentos, seja mos, da Damaralândia.
má por causa do banco de areia, que Tem um percurso maior do que o
lhe dificulta a entrada numa barra bas­ Cuanza, avaliando-se o seu comprimento
tante arriscada. O Cuanza recebe, en­ em 1.200 quilómetros, e a área da sua
tre outros, pela sua margem direita o bacia em mais de 272.000 quilómetros
Luando, o Luvo, o Cuigi, o Lombe e o quadrados, pertencendo aproximada-
Lucala, o seu maior afluente direito, mente metade desta zona de drenagem
que nasce nas montanhas do país da ao território português.
Jinga, atravessa os concelhos do Duque Economicamente, porém, é muito me­
de Bragança, próximo de cuja sede se nos importante do que o Cuanza, por­
despenha em formosíssima catarata, e que não é navegável. Nasce no mesmo
Ambaca, indo lançar-se no Cuanza, 22 grupo montanhoso do Cuanza, entre o
quilómetros abaixo do Dondo, junto à Sambo e o Huambo, mas dirige-se para
antiga fortaleza de Massangano. sul atravessando grande parte do pla­
Pela margem esquerda recebe o nalto que se estende da Huíla ao Bié,
Cuqueima, no Bié, o Cunhinga, que recebendo grande número de linhas de
aflue junto ao Quitache, o Cutato e o água, antes de tomar a direcção ociden­
Gango, que, vindos das regiões do Bai- tal, que o conduz ao mar. Ao sul do
lundo e Bié, entram no Cuanza pró­ Humbe, na margem direita, recebe o
ximo a Pungo Andongo. Caculovar, que nasce no alto da Cheia,
Do Cuanza até Coroca, que vem en­ e para sueste atravessa as regiões da
contrar o Oceano um pouco ao norte de Huila, Gambos e Humbe. Neste sítio,
Pôrto Alexandre, todos os rios nascem o Cunene atravessa uma região lacustre
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 127

de uma altitude de 1.000 a 1.100 me­ único que nos importa considerar, re­
tros, aonde alastra as suas águas du­ cebe o Lungué-Bundo e o Cuando. Pela
rante a estação das chuvas em grandes sua margem direita, no tempo das chu­
inundações. É o que explica que o rio vas, o Zambeze alaga tôda a planície do
tenha tão pouca água na sua emboca. Lobale, acentuando-lhe o seu fácies la­
dura, mesmo naquela época. Na estia­ custre.
gem, a corrente chega a não ter fôrça Mas aonde êsse fades mais se denun­
para vencer o banco de areia que lhe cia, em extensão e grandeza na Provín­
veda 0 acêsso ao Oceano, e em vão se cia de Angola, é no distrito da Lunda,
lhe procura a foz. que faz parte integrante da bacia do
Se considerarmos que os poucos, e Zaire. Entre o Cuango, que nasce pelas
relativamente insignificantes, cursos de alturas do n° paralelo, no país dos
água, que acabamos de enumerar em Quiocos, e que, recebendo pela margem
rápido esboço, atravessando parte da esquerda o tributo de vários afluentes,
Província de Angola até à costa, quando entre os quais avultam o Lui e o Cam­
muito, apenas alcançam o terceiro ter­ bo, forma o limite central do distrito
raço da conformação orográfica enun­ de Lunda em tôda a sua extensão de
ciada por Welwitsch, a idéia de uma sul ao norte, e separando depois os
grande depressão central, drenando as nossos territórios dos do Estado Inde­
águas de uma grande parte do território pendente do Congo, se vai lançar, sob o
africano interior, deve acudir imediata­ nome de Lucuali, no Cassai; entre o
mente ao nosso espírito. De facto, as Cuango, dizia eu, e o Cassai', que cons-
observações colhidas confirmam esta titue a nossa fronteira leste, uma série
idéia duma grande bacia lacustre, e de linhas de água paralelas, algumas
ainda hoje vemos, na região sôbre que importantes como o Cuilo, o Luelé, o
recai o nosso estudo, o Cubango que, Tchicapa, o Luachimo, o Uuanda, etc.,
nascendo no planalto entre Sambo e demonstra suficientemente a existência
Morna, na inhára de M’bulumvulo, do vastíssimo lago que, durante os pe­
numa altitude de 1.800 metros, atravessa ríodos secundários e terciários, concen­
o planalto sem ter escoante regular para trava as águas dessa vasta região, e que
o Oceano, perdendo-se em parte na ba­ gradualmente se acumularam, até en­
cia do lago N’gami, e em parte nas in­ contrar saída para o Atlântico pelo Zai­
filtrações do grande sistema lacustre, de re, substituindo assim ao antigo regime
que fazem parte vários lagos e lagoas lacustre, o actual regime fluvial.
do Calahari, que no tempo das cheias Vemos, pois que as águas da grande
comunicam com o Cunene, dando por depressão central se escoaram gradual­
esta forma saída para o Atlântico ao mente, à medida que foram praticando
excesso das suas águas. e cavando êsse profundo canal, que
Para a costa oriental, conforme vimos através das montanhas circunjacentes
na nossa dilimitação com o Barotze, o as conduz ao Oceano.
Zambeze drena uma parte vastíssima do E portanto um país de erosão; e,
centro africano, quer por si, quer pelos como uma acção desta natureza é ine-
seus afluentes que, no seu alto curso, vitàvelmente acompanhada por fenóme­
128 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

nos de sedimentação bem definidos, de aproveitamento. De difícil aprovei­


assim, por tôda a parte, encontramos a tamento talvez; absolutamente estéril em
mesma sucessão de estratos:—à super­ tôda a sua linha de desenvolvimento, é
fície, uma terra vermelha muito caracte- caso para dúvidas.
rística, que se pode designar pelo nome Como é sabido, sôbre as rochas su­
ainda pouco preciso de laterite; por perficiais exerce-se um fenómeno, que
baixo, grés sôbre calhaus rolados; e no nos trópicos toma um desenvolvimento
fundo dos vales, o granito e o gneiss, considerável, dando-lhes um cunho es­
formando os rápidos, as cachoeiras e as pecial. Refiro-me à concentração do
cataratas. ferro peroxidado na base das aluviões
A existência dêsse depósito superfi­ dos platós ou nas planícies baixas, que
cial avermelhado, constituído por areia marginam os rios, constituindo uma li-
quartzosa ou areia argilosa, assente sô­ monite pisolítica conhecida pelo nome
bre argilas compactas, repousando por de ferro dos pântanos. Umas vezes
sua vez sôbre calhaus roladas e saibro, cimenta calhaus rolados e saibro, cons­
é constante, e conserva, duma maneira tituindo verdadeiros conglomerados, ou­
geral, o mesmo carácter desde o Cassai tras se apresenta sob o aspecto de escó­
ao Atlântico, nas suas vertentes das rias, ou, compacto, era blocos de grandeza
montanhas, e muitas vezes sôbre a pró­ variável até à de pequenos fragmentos.
pria montanha, seja qual fôr a natureza As próprias camadas estratificadas que
do sub-solo, quer repouse sôbre grés, cobrem esta limonite são avermelhadas,
sôbre rochas calcáreas, xistosas ou o que nelas revela também uma grande
cristalinas, da região montanhosa, ou sô­ concentração do ferro, por forma que
bre os variados sub-solos da região li­ esta substância lhes dá, senão o mais
toral, aonde se erguem em escarpa, que importante, pelo menos o mais saliente
conforme disse, caracteriza quási tôda a dos caracteres dos depósitos saperficiais
costa angolense, dando-lhe um aspecto da região.
suigeneris. E esta circunstância que Se bem que, mesmo nos climas tem­
nos faz supor mal cabida a designação perados, o efeito freqtiente da acção da
de laterite, aceite de uma maneira geral água das chuvas carregada de oxigénia
por quási todos os viajantes, pelo me­ e anidrido carbónico seja o da super-
nos se lhe quisermos dar a acepção em oxidação dos minérios das rochas, o facta
que ela foi empregada pela primeira vez é que nas regiões tropicais, aonde as
para os terrenos da Península Indústà- chuvas são em certas estações muito
nica. O caso tem importância debaixo abundantes, violentas e mais quentes
do ponto de vista económico-agrícola esta acção exerce-se a grande profun­
para nos merecer mais detida referên­ didade, e com maior intensidade. É a
cia, fazendo desaparecer preconceitos esta circunstância que se atribue a ori­
que correm vulgarmente, filhos de uma gem das laterites consideradas como o
generalização demasiado elástica, liga­ produto da desorganização das rochas
dos a êste têrmo laterite. E assim, que subjacentes, sob as influências acima
a cada passo ouvimos dizer que o lito­ indicadas. Dos estudos inglêses aplica­
ral angolense é estéril e insusceptível dos à formação das laterites na índia,
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 129

resultou uma generalização a todos os não nos deve admirar, das pesquisas e
países tropicais, e daí veio o atribuir-se tentativas então feitas e arquivadas por
às formações angolenses desta natureza vários cronistas, poucos materiais se
os mesmos caracteres e um modo idên­ podem adquirir para o nosso estudo.
tico de formação que me não parece Falou-se muito do ouro do Golungo e
aceitável. As laterites angolenses são de Benguela, da prata de Cambam-
estratificadas e assentam, quási por tôda be (1), e em meados do século xvm
a parte, por vezes a profundidades con­ estabeleceu-se em Oeiras, no Lucala,
sideráveis, sôbre calhaus rolados e, como a indústria da fundição de ferro, que
se isto não bastasse para pormos de pouco durou, e exploraram-se as pe­
parte a idéia da sua formação no lugar, dreiras de calcáreo no Dondo para o
ainda o facto de Welwitsch ter encon­ fabrico da cal; mas, só em 1839, nos
trado nestas rochas, à beira mar, entre aparece o primeiro trabalho de geolo­
o Penedo e a Boa Vista, próximo a gia feito pelo Dr. Lang, químico suíça
Loanda, troncos de árvores silicifeitos» que foi a Angola encarregado de estu­
parece vir confirmar a sua organização dar as fontes de petróleo do Dondo,.
por depósitos sedimentares. De resto, e cujo relatório viu em 1886 a luz
conforme veremos, a esterilidade abso­ da publicidade. Apenas, porém, coma
luta das laterites industânicas, não se documento histórico deve ser citado
nota em Angola, pelo menos na maior e apreciado, porquanto da sua leitura
parte do seu território, aonde encontrá­ se conhece, pela hesitação com que es­
mos as formações designadas poraquêle creve (o autor), que lhe faltam conheci­
nome. mentos práticos de geologia e minera­
De facto, nós pouco sabemos ainda logia.
ao certo sôbre a geologia da maior parte Alguns anos mais tarde, entre 1840
da nossa Província de Angola. Estu­ e 1856, Livingstone diz-nos alguma
dos dispersos, observações superficiais, coisa de preciso e claro sôbre a geolo­
como não poderiam deixar de ser, fei­ gia de Angola. Assinala a existência
tas por viajantes a quem faltaria o de um tufo margoso com conchas marí­
tempo e material para estudos sérios, timas recentes em Icolo e Bengo, e dá-nos
amostras colhidas à superfície do solo, alguns pormenores sôbre os conglome­
um pouco ao acaso das impressões rados e grés que formam os afamados
pessoais dêste ou daquele; tudo isto,
embora constituindo elementos valiosos
(1) Por várias provisões e avisos da Secre­
para o estudo petrográfico, pouco ou
taria do Ultramar, entre 1754 e 1756, vê-se que
nada nos elucida sôbre a estratigrafia, se reconhecia a existência do ouro nas alu­
por forma a dar-nos bases sólidas para viões do M’brige. Um aviso de 13 de Novem­
um estudo desta natureza. bro de 1761 ordena, porém, que se ponham
Se, na verdade, algumas centenas de essas minas em perpétuo esquecimento, e que se
não consinta que pessoa alguma trabalhe nelas.
anos volvidos sôbre a época do nosso
Quanto às supostas minas.de prata de Cam-
estabelecimento, a atenção dos portu­ bambe, por cuja posse tantas lutas travamos
gueses se fixou sôbre os jazigos mine­ com o gentio ao findar 0 século xvi, a sua
rais de Angola e Congo, todavia, e isto existência não foi até hoje confirmada.

9
130 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

rochedos de Pungo Andongo, e que se noso, pertencente ao sistema carboní­


encontram ainda mais a leste nas pro­ fero.
ximidades de Malange. Porém, obser­ É possível que depois da sua forma­
vações geológicas, propriamente dignas ção, os terrenos triásicos dessem pas­
dêste nome, aparecem-nos pela pri­ sagem a erupções igneas, como teste­
meira vez, na correspondência e nos munham os trapps de Icolo e Bengo, já
apontamentos de Welwitsch, que du­ anteriormente assinalados por Livings-
rante 7 anos (1853 a 1861), percorreu tone, e os depósitos ferruginosos do
grande parte da Província de Angola, Zenza, que podem ser atribuídos à de­
servido por um espírito metódico e al­ composição desta rocha.
tamente orientado de naturalista emé­ Atingido o Golungo Alto, cujas mon­
rito. Se na botânica, que mais parti­ tanhas se elevam a 900 metros, vemos
cularmente afeiçoava, nada se perdeu sucederem-se aos grés carboníferos, os
dos seus trabalhos, que são o guia in­ terrenos de transição formados de xis­
dispensável do naturalista em África, tos e grés pertencentes ao período de-
outro tanto se não pode dizer das suas vonico; encontrando-se em seguida os
observações geológicas, que ficaram in­ gneisses e os grauwackes da época
completas. Trechos de cartas, um notá­ diluviana que, segundo tôdas as apa­
vel resumo que se encontra na introdu­ rências, repousam directamente sôbre
ção de um livro de Morelet, e algumas o granito.
notas geológicas que o Sr. Paul Choffat Em Benguela nota-se a mesma su­
publicou em folheto, eis o que resta da cessão de terrenos, excepção feita do
obra do ilustre naturalista, debaixo do calcáreo triássico, que está provável-
ponto de vista da geologia. mente debaixo de água. Encontram-se
Segundo Welwitsch (em Morelet), os grés variegados e as margas injec-
partindo de Loanda e caminhando para tadas pelo trapp. Em muitos pontos,
leste, vê-se, à medida que avançamos fontes salinas deixaram, secando-se,
pelo interior, os terrenos elevarem-se grupos de tufo calcáreo que dão à su­
gradualmente e sucederem-se na ordem perfície uma aparência mais moderna,
da sua aparição geológica, por tal forma mas que são na verdade depósitos
que o seu maior afastamento do mar, adventícios produzidos por antigas fon­
coincide com a sua maior antiguidade tes ou lagos, que existem ainda em
os do litoral representando os mais re­ grande número na região.
centemente emergidos. A época das Segundo esta exposição, Welwitsch
últimas formações corresponde ao an­ parece não ter reconhecido a presença
dar inferior do Trias representado pelos dos terrenos terciários, mas o facto é
calcáreos conchíferos da foz do Dande, que nas notas publicadas pelo Sr. Chof­
aonde constituem um jazigo de pedra fat, se fala de estratos calcáreos e xistos
de construção explorada pelos habitan­ arenosos, representando o Eocénico e
tes da região. Psamites, ou grés varie­ 0 Miocénico, e de terras argilosas, mar-
gados e margas irisadas, caracterizam gosas e arenosas, pertencentes ao Plio-
o andar superior; e a estes terrenos cénico.
sucede uma camada de grés bitumi- Mais recentemente, Monteiro (Joachim
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 131

John), que, muito embora encarregado desta região. Apenas próximo ao 16o
de estudos mineralógicos, dedicou no longitude se encontraria o grés.
seu trabalho mais atenção à botânica e Em 1888, o Dr. Oscar Lenz, publicou
zoologia do que à geologia, nos dá a sua carta geológica da África Ociden­
contudo algumas indicações preciosas. tal baseada sôbre observações suas e do
Assim faz-nos notar que o carácter geo­ Dr. Loesche, que mais tarde (1886-87)
lógico da linha da costa do Quanza a publicou observações muito preciosas
Mossâmedes é dado pelo gneiss, na com respeito ao Congo. Infelizmente
maior parte muito quartzozo, ou então, para a província de Angola, esta carta
junto ao Cuio, muito abundante de hor- é deficiente, deixando de utilizar os ele­
nblenda e mica, passando a um pórfiro mentos a que nos temos referido. Além
finamente granulado e granito feldspá- duma estreita faixa litoral quási contí.
tico, junto a Mossâmedes. Junto ao nua, desde o Ambriz até Cabo Frio, de
mar estas rochas primitivas são aproxi­ terciário mais recente que o Eocénico, e
madas por uma linha de depósitos ter­ de cretácico, Lenz não distingue na
ciários, constituídos principalmente pelo nossa província mais do que uma larga
gêsso e grés silicioso de variável espes­ zona de laterite e outra de gneiss, pa­
sura, e separados por camadas de finís­ recendo não tomar em consideração a
simos detritos. Mais para o sul, entre viagem do Dr. Max Buchner, que par­
o Rio S. Nicolau a i4°5' e Mossâmedes tiu de Loanda para leste até além do
há basalto colunar e trapp numa faixa 22o grau de longitude leste de Green-
de algumas milhas de largura. O ca­ wich, e voltou àquela cidade, tendo feito
rácter destas rochas é suficiente para na extremidade oriental do seu percur­
explicar a natureza estéril da região. so, uma curva, estendendo-se entre 10o
Em 1876 o Dr. Baron de Barth es­ 30' e 7o 20' de latitude sul. Todo o ter­
boça a i.a carta geológica de Angola, a reno estudado é uniforme, diz êle; quási
que infelizmente falta o texto explica­ tôda a estratificação é horizontal. A for­
tivo (1). Assinala o calcáreo ao sul do mação dos vales por tôda a parte a
Bengo; confirma as observações de Li- mesma: granito e gneiss inferiormente,
vingstone com respeito ao trapp, e as depois um saibro mais ou menos duro,
de Welwitsch a respeito do gneiss, a e por último uma terra vermelha, que
oeste de Ambaca. A 10 quilómetros a pode chamar-se laterite. Em Loanda, a
leste do Golungo Alto encontra calcá­ parte superior dos terrenos da costa,
reo puramente cristalino, naturalmente cortados verticalmente, composta de
um prolongamento do que se encontra areia ou grés incoerentes, é um conglo­
mais para sueste, e que é explorado merado vermelho escuro, ao passo que
nas proximidades de Malange. Entre a parte inferior é esbranquiçada, e por
Cazengo e Ambaca só haveria gneiss, tal forma fina e pulverulenta, que se
que é ainda assinalado a norte e a leste pode cavar com os dedos. A uns 30
metros acima do nível do mar acham-se
dois bancos de grés duro contendo fós­
(1) Naturalmente extraviou-se com outros seis. A uma grande distância, no inte­
papéis do autor, que faleceu em Angola. rior da região litoral, nas ravinas, en­
i32 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

contra-se à superfície argila vermelha, facto reveste relativamente pouca im­


por baixo calhaus rolados e, mais abaixo portância para o nosso fim, seguirei a
ainda, areia pulverulenta. divisão de Choffat, sem no entanto dei­
O Dr. Hopfener, que esteve muitas xar de aceitar como preferível, debaixo
vezes em Mossâmedes, limita-se a dizer do ponto de vista da geologia pura, a
que o litoral é formado por grés e, so­ indicação de Dupont.
bretudo, por um calcáreo conchífero per­ Isto pôsto, temos:
tencente ao terciário superior, e que o A zona litoral formada por depósitos
basalto é frequente em tôda a costa, ao terciários e cretácicos sob a forma de
passo que, mais para o interior, começa grés e de calcáreos brancos, e de grés
a região dos xistos cristalinos. avermelhados, amarelados ou variega­
No seu trabalho sôbre a geologia de dos, mais antigos do que os calcáreos
Benguela e Mossâmedes, José de An- cretáceos, encostando-se a xistos cris­
chieta, salientando os seus traços carac- talinos. Estes depósitos são atravessa­
terísticos, distingue o gneiss e os xis­ dos pelo trapp, acompanhado pelo ferro
tos primitivos, os terrenos secundários magnético e, além disso, por basalto
e o terciário. nos distritos de Benguela e Mossâme­
A seguir aos trabalhos de Zboinski, des;
e depois de ter estudado os materiais A zona média, formada por xistos
trazidos por Capelo e Ivens, e Malhei- cristalinos, alternando com granito e
ros, coligindo todos os dados de con­ grés paleozoicos;
fiança até então obtidos, e que num rá­ O plató central, essencialmente cons­
pido esboço tenho enunciado, o Sr. Paul tituído pelos grés paleozoicos cobertos
Choffat organizou uma carta que «está pela laterite, e repousando sôbre o gra­
muito longe, diz êle, de ser bastante nito, e o gneiss, que parecem aflorar
completa para merecer ser publicada, apenas no fundo dos vales.
mas que contém, todavia, um grande Nestas três zonas acham-se depósitos
número de factos não representados na superficiais, entre os quais avulta a la­
carta de M. Lenz.» Como traços geo- terite, a que já nos referimos. Conchas
gnósticos principais, distingue 3 zonas marítimas actuais encontram-se em mui­
(Welwitsch):—a zona litoral de largura tos pontos acima do nível do oceano e,
muito variável, a zona média constituída além dos tufos, das eflorescências ma-
por uma série montanhosa, formando gnezíferas, dos conglomerados cúpri­
os contrafortes mais ou menos parale­ cos, etc., citaremos o copal, impropria­
los à costa, e estendendo-se até à ter­ mente chamado goma copal.
ceira zona, que é o plató central. Os calcáreos existem em abundância
Posteriormente a êste trabalho, fora de zona litoral, mas a sua origem
Edouard Dupont, estudando o Congo é diversa. Segundo H. Chatelain, os
geologicamente, inclue a zona média na possantes depósitos de tufo de Cam-
zona planáltica, e considera como ter­ bulo, junto ao Dondo, são formados
ceira zona a depressão lacustre africana. pelas águas, que durante a estação das
Contudo, para a uniformidade do estu­ chuvas vem das montanhas do Li bolo.
do, e com tanta maior razão quanto o O calcáreo miocénico do litoral não é
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 133

coralígeno, e ainda se não observaram tanto sucede com os grés. Restam-nos


em outras regiões desta costa africana apenas os calcáreos terciários friáveis,
depósitos que contenham estes organis­ as aluviões do mesmo período, e outras
mos construtores. O carácter das ro­ mais modernas, de que acima fizemos
chas desta origem é tão pronunciado, a descrição.
que dificilmente escaparia a tantos obser­ Dada, porém, a incerteza, direi mes­
vadores. No entanto, no interior, os mo até, o desconexo relativo, da nossa
calcáreos que aparecem junto à segunda observação e do nosso apanhamento
região considerada (Golungo Alto, Ca- das indicações de várias autoridades e
colo-Calombe, etc.), testemunham a exis­ especialistas na matéria, resta-nos ainda
tência do fenómeno coraliano nos ma­ um outro meio de prova indirecta da
res antigos, que então a alcançavam. conclusão que tirámos.
Aí se observam calcáreos detríticos, al­ O fácies da vegetação confirmará o
gumas brechas, calcáreos oolíticos, etc., diagnóstico dado pelas indicações geo­
todo o cortejo, em suma, das rochas de lógicas acima expostas?
origem coraliana. Sem dúvida.
Pondo, porém, de parte estas ques­ Um litoral quási êrmo de vegetação,
tões, embora muito interessantes, para na sua maior parte, uma zona secundá­
nos limitarmos apenas àquela, cuja fei­ ria dominada pela floresta e, por fim, a
ção prática mais particularmente nos savana monótona, constituída por uma
deve interessar por agora, e dadas como vegetação herbácea uniforme, são indí­
boas as indicações respigadas em dife­ cio seguro dum solo pouco rico e, na
rentes autores, e algumas confirmadas generalidade, ingrato.
pela própria observação, vemos que as Na verdade, na costa ocidental afri­
rochas dominantes são:-=-o gneiss, o cana, passada a linha equatorial, e ca­
granito, o micaxisto e os grés, no inte­ minhando para o sul, as florestas co­
rior, e no litoral, além destes, o calcá- meçam a afastar-se do litoral, e, gra­
reo terciário e, em parte, o basalto. dualmente, vão sendo substituídas por
De uma maneira geral, excepção feita uma savana, aqui e ali salpicada por
aos depósitos aluvionais dalguns estuá­ pequenos grupos de arvoredo, tão ca-
rios, férteis quando argilo-calcáreos e racterística de grande parte de África,
argilo-siliciosos, o que é frequente, mas e tão felizmente denominada por anti­
na realidade pobres em si, quando for­ gos viajantes ingleses—park-like.
mados pelo humus muito carbonado, o Tal é o país do Chiloango, tal o
que é freqúentíssimo, êste resumo geo­ baixo Congo. Todavia, um pouco ao
lógico faz-nos pressentir a medíocre sul da foz do Zaire, êste cenário desa­
fertilidade de vastíssimas extensões da parece da costa pelas alturas do Am-
região considerada. brizete, sendo dali em diante, excep-
De facto, os gneisses, os granitos e tuando as proximidades do Cuanza,
os micaxistos dão geralmente solos substituído por um aspecto mais rude—
agrícolas relativamente pobres, sobre­ uma zona de escassa vegetação, e me­
tudo favoráveis à vegetação florestal e nos abundante em chuvas. Tal é região
ao regime de pastagens naturais; outro- à volta de Loanda, caracterizada por
134 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Euforbias, Sterculiáceas, Aloés e Ficus, primitiva que vai, ao norte do equador,


e nada mais curioso e empolgante como conforme dissemos, ao litoral, e final­
contraste, ao lado da maciça conforma­ mente no interior, como zona extrema
ção do imbondeiro e da vegetação rígi­ dos nossos domínios ocidentais, as sa­
da, mineral por assim dizer, de certas vanas, de gramíneas e matos rasteiros,
plantas gordas, do que a macieza do aparecendo aqui e acolá pequenas flo­
tom das bananeiras, que indicam os restas, revestindo principalmente a for­
arimos, dum verde lavado e fresco de ma que o gentio chama muchitos, e ao
aguarela, de uma estrutura tão delicada, longo dos rios, aquela a que os alemães
que o mais leve sôpro de brisa trans­ deram, com muita propriedade, o nome
forma no mais estranho franjado. de galerias.
Esta áspera região prolonga-se até Restos, provavelmente localizados, de
às proximidades de Benguela, aonde antigas florestas destruídas pelas quei­
por sua vez se interna, dando lugar ao madas, vastíssimas extensões de terreno
deserto, que para sul continua ininter­ vestido de capim, ou emaranhado de
rupto até ao Orange. Conforme vimos, arbustos enfezados e contorcidos pelo
aqui dominam o gneiss, o basalto, e al­ fogo, tal é o aspecto, encarado debaixo
gum gêsso. A vegetação é limitadís­ do ponto de vista da sua vegetação,
sima, quer em número, quer em espé­ que nos apresenta esta zona. No tempo
cies. Encontram-se apenas, algumas sêco (cacimbo), as gramíneas amarelas
candelabros (Enphorbia) tão caracterís- pela maturação, o terreno variando em
ticas do litoral angolense, e principal­ tons aonde predominam o amarelo e o
mente as essências espinescentes do gé­ vermelho, a própria folhagem do arvo­
nero Acácia, entre as quais a A. refi- redo esparso, ressentindo-se duma es­
ciens, chamada pelos colonos «.Unha de tiagem de 5 meses, imprimem à paísar
gato», tornando ainda mais aflitiva a gem um fácies particular, que profun­
natural aspereza do terreno. damente impressiona quem a contempla,
É finalmente, nas planícies arenosas dando-lhe a impressão de uma savana
desta região, que se encontra a Wel- extensa, de uma região tórrida, inós­
witschia Mirabilis, êsse singularíssimo pita e apenas habitável.
tipo de vegetação, cuja estrutura denun­ Voltando ao litoral, e principalmente
cia uma adaptação especial ao meio, nos nossos domínios Congoleses, uma
extremamente árido e sêco, em que outra forma vegetativa nos aparece, que
vegeta. deve merecer especial menção—a man-
Se de Mossâmedes nos internamos, grovia, que se encontra sobretudo na
a caminho do Cunene, estas três fases foz dos rios Chiloango, Loge, etc., e
da vegetação sucedem-se, e, depois do que, lenta e persistentemente, vai inva­
deserto, vem a vegetação esparsa, e fi­ dindo os domínios do Oceano, assegu­
nalmente a park-like, que vai alcançar rando esta persistência pela curiosa dis­
o mar na faixa do Cuanza, e mais ao posição do seu sistema radicular adven­
norte, na do Zaire. tício, que lhe garante a protecção contra
Além Cunene, e caminhando para o as forças mecânicas (embates das ondas
norte, aparece-nos a zona da floresta e oscilações das marés), que contra ela
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA *35

se exercem, e a sua propagação, num ocultam numerosos Fetos (Filices), e


meio tão difícil, por um carácter muito multiformes Orquídeas; e, não menos,
curioso—o da viviparidade. pela fertilidade de extensas várzeas
Esta invasão da mangrovia sôbre o sempre verdejantes.
Oceano, constituindo os paletuvios, tem A 3* região - alto-plano—distingue-se
uma certa analogia com o que sucede sobretudo pela imensa variedade da sua
no reino animal com os foraminíferos, vegetação, pela luxuriante verdura dos
ou com as madréporas do Oceano Pa­ seus prados, bem como por uma parti­
cífico, que, camada por camada, num cular elegância de muitos vegetais, tanto
trabalho lento de infinitamente peque­ herbáceos como arborescentes. Os ria­
nos, aumentam continentes e fazem bro­ chos, em que já a região antecedente
tar ilhas à flor dos mares. abunda, encontram-se nesta ainda mui
Conforme já disse, Welwitsch divide frequentes, emquanto que as matas,
a Província de Angola em 3 regiões pôsto que extensíssimas, são mais bai­
bem definidas, variando pela altitude, xas e ralas, deixando assim maior
disposição do terreno, e pela flora, que campo à vegetação rasteira, a qual por
tão perfeitamente as caracteriza, acen­ esta mesma razão se torna variadíssima,
tuando as suas diferenças clímicas. brilhando com tôda a pompa da zona
Assim, temos a i.B região, no litoral, tropical.
relativamente baixa, pobre de chuvas, Resumindo, conclue Welwitsch, obser­
cada vez mais, à medida que nos diri­ va-se que a aridez e a escassez de vege­
gimos para o sul, acentuada ainda mais tação caracterizam a i.a região; que na
a sua feição árida, pela natureza do ter­ 2.a reinam a fresquidão e 0 luxo dos in­
reno, conforme já fizemos notar. Com­ divíduos; e que na 3.a predomiriam a
preende ela, explica Welwitsch, além variedade e a elegância das espécies.
do território submarino em que vege­ Detalhando um pouco mais o nosso
tam as Algas, todos os extensos areiais estudo, por forma a obter esclarecimen­
ao longo da costa, ricos em parte de tos de .outra natureza sôbre o carácter
curiosas e elegantes Halophytas, seguin­ clímico de cada região, já de alguma ma­
do-se as colinas áridas alternadas com neira indicado, vejamos como por ela se
vastíssimas planícies cobertas de capim distribuem algumas das principais famí­
rígido, de plantas gordas ou espinescen- lias vegetais, que mais a caracterizam.
tes, algumas vezes mosqueadas por so­ As Gramíneas ocupam um lugar con­
litárias Adansonias, ou por bosques de siderável entre a vegetação da Provín­
Euphorbias arborescentes, e de Acá­ cia. Várias Eragrostis (principalmente
cias e Capparidaceas pouco viçosas; a Sangalalá do gentio—E. faciscularis)
apenas, nas margens dos rios, a vegeta­ cobrem grandes extensões de terreno â
ção se mostra mais viçosa, embora beira mar. Além dêste género, os mais
pouco variada. numerosos em espécies são o Panicum
A 2.a região, ou região montanhosa, e o Andropogon, que na generalidade
é principalmente caracterizada pela fre­ constituem os chamados matos de ca­
quência e singular beleza de magesto- pim.
sas matas virgens, em cuja sômbra se A caminho da 2.a região o número de
136
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

espécies diminue, mas apenas chegados outras que invadem as lavras com ex­
às montanhas, ei-las que nos aparecem traordinária rapidez.
em todos os terrenos cultivados, princi­ No litoral aparece-nos o C. Mariti-
palmente nos dos matos derrubados, re­ mus, ao longo das costas arenosas e
presentadas, entre outros, pelos géneros sêcas de Loanda e Ambriz.
Pennisetum (P. purpureum—a Marian- As Palmaceas aparecem-nos mais ou
ga do gentio) e lmperata (I. arundina- menos em tôdas as regiões considera­
cea, conhecido pelo nome de Senu). das, decrescendo contudo na terceira,
O número de espécies vai aumentan­ em número de espécies. Welwitsch
do agora até à 3/ região, aonde em ge­ nos seus apontamentos, citando-nos a
ral, os representantes desta família Phcenix spinosa (Calôlo do gentio,), a
adquirem uma estrutura mais delgada Hyphaene guineensis (Mateba) e a Elaeis
e branda, e portanto, mais apropriada guineensis (Dendo) pouco nos diz sôbre
a pastagens. É aqui que nos aparecem a sua distribuição, que aliás tem mere­
as gramíneas arborescentes. À beira cido, últimamente, detalhado estudo ao
dos rios e regatos uma Bambusa (Oxy- longo do Zaire.
tenanthera abyssinica), vulgarmente de­ Como se sabe, as palmeiras dão uma
nominada Quiambungo, enfeita as gale­ feição preponderante à vegetação inter-
rias, que lhes contornam as margens. -tropical, tendo, como traço caracterís-
É frequente uma Eleusine (E. textili?) a tico do seu temperamento, a constância
que o gentio chama N'soque, e cujos do meio.
colmos emprega no fabrico dos célebres «Quanto menos êste variar mais elas
balaios do Pungo Andongo. se desenvolvem. Calor igual (mais do
As- Cyperaceas seguem, em relação que a intensidade, preferem a igualda­
às três regiões consideradas, a mesma de), humidade igual e persistente, tais
marcha das Gramíneas, isto é, dimi­ são as condições essenciais do seu de­
nuem um tanto entre os limites da i.a senvolvimento normal. Assim o clima
e da 2.a, até que na 3.a apareçem em marítimo insular lhes é excepcional-
tamanho número de espécies, que, em mente favorável.»
certos sítios, chegam a predominar so­ A Phcenix spinosa aparece-nos no
bre as Gramíneas. Nas margens dos Congo, revestindo a forma acaule, a
rios há vastíssimas várzeas, quási exclu­ maior parte das vezes com crescimento
sivamente ocupadas por Cyperaceas es­ densamente cespitoso, embora não raro
pecialmente do género Cyperus, o Mabú apresente espiques, que se erguem tor­
(C. papyrus) de tão larga aplicação na tuosamente, entre 8 a 10 metros. Ao
economia indígena, eoC. flabelliformis longo dos rios, mesmo no interior, forma
chamado Jiginje, que também tem idên­ verdadeiras matas, que o gentio apro­
ticas aplicações. veita para extracção do malufu. Fui
Na 2.a região é frequente uma espé­ encontrá-las no Cuanza, a uns 300 qui­
cie o C. Reuschii—3. Póco ia N’Zumbi, lómetros da costa, e ainda no Lombe.
ou faca de Deus, assim chamada por­ No litoral encontra-se a mateba (Hy­
que o mais leve contacto com as suas phaene guineensis), tendo, no nosso
folhas e caules, causa feridas; e ainda Congo, 0 porte regular das palmeiras e
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 137

o caule, às vezes, bifurcado. Nos arre­ varas de tipoia—Bordão—e ainda para


dores de Loanda, no sul do Ambriz, malufu, aparece na região montanhosa,
o seu porte é acaule. Mais para o sul, nos terrenos frescos e no planalto, nos
próximo a Pôrto Pinda e Cabo Negro, rios que constituem a bacia hidrográ­
junto ao Caroca, em terrenos húmidos fica do Zaire, e beira Cuanza.
e arenosos, nota-se abundantemente a Uma outra palmeira característica do
H. benguellensis> de caule moderada­ interior Africano, e com um habitat que
mente ventricoso a meia altura. excede para sul e oriente a área do
De uma maneira geral, estas espécies Elaeis, é o Borassus flabelliformes, que,
caracterizam as regiões marítimas e na Província de Angola, apenas nos
equatoriais da África Ocidental, desde deve aparecer a mais de 500 quilóme­
o Niger até ao Ambriz. A Elaeis gui- tros do litoral.
neensis, a palmeira do dendo, encontra- Eu nunca tive ocasião de verificar de
-se abundantemente na região litoral do visu a existência desta palmeira na Pro­
Congo, afasta-se um pouco do litoral, víncia. No entanto, uma indicação gen­
excepto nas margens dos rios, próximo tilmente dada pelo Sr. coronel Desidé-
a Loanda, deixando uma faixa de ter­ rio Beça, que em tempo acompanhou a
reno em que não aparece, e tem como coluna do Hollo, não deixa dúvidas no
limite sul do seu habitat, em África, o meu espírito a êste respeito, coincidin­
paralelo de Benguela. Encontra-se abun­ do, de mais a mais, com as indicações
dantemente na região montanhosa, de dadas por E. Dupont nos seus mapas
preferência nos terrenos argilo-siiiciosos, fito geográficos africanos. De facto, esta
que se podem classificar — terras de Borassus apresenta uma disposição
dendo—, constituindo no Golungo e na curiosa do seu espique, engrossado no-
região do Libolo, a sul do Cuanza, uma tàvelmente a dois têrços de altura, que
grande fonte de riqueza para o gentio, impressiona o mais superficial dos
tal como sucede no Congo, e no enclave observadores, e que a fêz confundir por
de Cabinda. vários autores com a Hyphaene ventri-
A Elaeis e a Hyphaene excluem-se, a cosa, característica das quedas de Vitó­
mateba procurando de preferência os ria, no Zambeze. As indicações de
terrenos alagados e húmidos, ao passo Dupont, e a impressão tão notavelmente
que, apenas estes se elevam, e se apre­ fixada pelo cavalheiro a que me referi,
sentam cobertos por depósitos argilo- tornam legítima a minha afirmação da
-siliciosos, surge 0 dendo. sua existência nesta parte de Angola.
A Hyphaene raros e afasta da beira As Sterculiaceas dominam na i.a e 2.a
dos rios, e, conforme já notámos, quan­ regiões, decrescendo em número de
do isto sucede, apenas chega aos terre- espécies e indivíduos na 3*. O Imbon-
dos elevados e sêcos dos arredores de deiro e a Mafumeira, apenas se encon­
Loanda, o seu porte diminue, torna-se tram esporàdicamente, ou introduzidos,
acaule, cespitosa, e deixa de se apre­ na região alto-plana.
sentar em maciços, mostrando-se geral­ As Euphorbiaceas, tão polimorfas no
mente isolada. porte, como em qualidades intrínsecas,
O género Raphia, explorado para acham-se quasi igualmente distribuídas
x38
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

pelas 3 zonas, com a circunstância, po­ golensis), os Combretum laxiflorum, C.


rém, de que em cada uma delas predo­ rubiginosum, etc.
minam certos grupos. Assim, na região Na vasta família das Leguminosas, a
litoral dominam as Euforbias arbores- sub-família das Papilionáceas encontra-
centes cactiformes. Na 2.a região desa­ -se representada por tôda a parte, au­
parecem estas árvores e arbustos sem mentando gradualmente da costa para
folhas, e, em seu lugar, vemos espécies o interior. No litoral encontramos pre­
escandentes, arbóreas e arbustivas, dos dominantes os géneros Croiolaria, In-
géneros Daleschampia, Tragia, Acalyfa, digofera e Tephrosia nos areais e coli­
Croton, Phylantus. Na 3.a região apa­ nas, e, nas margens dos rios, lindas
recem, junto com algumas formas da espécies de Vigna, Herminiera, etc.; na
região anterior, outra vez as Euforbias 2.a região são as Miletia, Pterocarpus
cactiformes, dominando, porém, as com e a Erythria. Na 3-a região tudo isto
forma de Opuntia. aumenta em número de indivíduos e de
As Combretaceas, diz Welwitsch, que espécies arbóreas, arbustivas, escan­
formam um dos maiores encantos das dentes e herbáceas.
regiões elevadas do território angolen- As Cesalpineas, que no litoral são
se, acham-se apenas parcamente repre­ muito raras e apenas representadas por
sentadas na região litoral, se bem que espécies dos géneros Cassia e Bauhinia,
uma espécie (Laguncularia racemosa) aparecem já abundantemente na 2.a re­
seja a fiel companheira da Rhizophora gião, representadas, além daquelas, pela
Mangle em tôda a costa desta Pro­ elegante Cassia mimusoides, e pelas Me-
víncia. Mas na 2.a e 3.11 regiões multi­ zoneurum Berlinia, Baphia, Intsia. Na
plica-se ràpidamente o número das es­ 3>a região, porém, multiplicam-se por tal
pécies, e também o dos indivíduos, em forma os indivíduos dêste grupo, que
forma de multicores trepadeiras, ou de chegam a constituir, por si sós, extensis-
árvores com o porte myrtaceo, nos simas matas, características desta região,
campos abertos, nas margens das matas e que são conhecidas pela designação
virgens, e nos sítios pedregosos. Um de Mpanda. As Mimosaceas caracteri-
grande número de espécies trepadei­ zam a 2.a região. Conquanto no litoral
ras cobrem-se de tamanha quantidade apareçam espécies arbustivas de Mimo­
de flores escarlates, dispostas em co- sa, nos sítios húmidos, e nos sêcos haja
rimbos largos, ou penachos verticila- frequentes matos, ralos e baixos, cons­
dos, que tingem de brilhantíssima côr tituídos pela Dichrostachys nutans; con­
de fogo, espaços consideráveis de mato quanto aí, nas colinas, apareçam, abun­
baixo. dantes, os chamados espinheiros, género
Na terceira região são ainda mais Acacia, o facto é que na 2.a região as
freqíientes do que na segunda e, sôbre espécies multiplicam-se, acentuando-lhe
a forma escandente, domina a arbórea, o carácter. Uma outra espécie de Di­
que em alguns lugares - Malange, por chrostachys, a [D. platycarpa, constitue
exemplo, e margens do médio Cuanza, extensas florestas, e várias espécies dos
imprime feição característica às matas, géneros Alcacia e Albizzia aparecem a
salientando-se a Mueia (Terminalia an- cada passo, ora isoladas nas matas, ora
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 139

constituindo a sua parte principal. Na apenas muito poucas erectas, ao passo


3.a região ainda são frequentes, embora que no planalto, embora coberto de
cedam o lugar às Cesalpineas que, con­ arvoredo, e portanto muito apto para
forme já observámos, lhe marcam a fei­ as plantas trepadoras, entre oito espé­
ção característica. cies, apenas duas são escandentes.
A família das Ampelideas, cuja cita­ Outra característica apresentada na
ção reservei para o fim por comodidade distribuição geográfica das espécies de
de exposição, tendo pôsto de parte o Cissus e géneros aliados, na Província
agrupamento metódico das famílias bo­ de Angola, é a pubescência e o indu-
tânicas, oferece-nos, sôbre tôdas, um mento dos seus caules e folhas. Ao
exemplo frisante para o nosso caso, passo que as espécies do litoral tem
debaixo do ponto de vista que nos falta folhas quási glabras e verde-claras, as
considerar. da segunda região destacain-se pelo
Ocupando um lugar proeminente en­ verde-negro brilhante da sua folhagem,
tre os grupos de plantas que exercem mais ou menos coriácea, e tôdas as do
maior ou menor influência na fisionomia planalto mostram sempre uma pubes­
da vegetação angolense, tornam-se so­ cência mais ou menos intensa, ou mes­
bretudo interessantes para o fitogeó- mo um indumento tomentoso nos cau­
grafo, porque as numerosas espécies de les e folhas. E na Cissus rubiginosa,
Cissus e géneros aliados, até certo pon­ principalmente, que se acentuam estes
to definem, pelos seus vários hábitos e caracteres, que a colocam no número
modos de vida, o clima das três gran­ das mais belas plantas ornamentais de
des regiões consideradas. O número Angola.
de espécies encontradas por Welwitsch Estas diferenças de organização ana­
sobe a 40, incluindo duas do género tómica acusam evidentemente diferenças
Leea, e vai aumentando sucessivamente clímicas em cada uma destas regiões,
desde as praias do Atlântico até às ma­ não nos devendo admirar a circunstân­
tas das terras altas do interior, na di- cia de encontrarmos plantas pubescen-
recção já indicada. A sua distribuição tes no planalto, e carnosas no litoral, o
é tal, que as espécies carnosas, de pa- que parece indicar pela semelhança de
renquima suculento e cutícula espêssa, defesa, uma identidade de clima.
habitam principalmente o litoral, con­ De facto, sabe-se que as semelhanças
fundindo-se no hábito externo, à pri­ da flora xerofila e da flora halofila são
meira vista, com as Cacteas; as espécies manifestas. Plantas que vivem em con­
trepadoras, de brilhante folhagem, mais dições diferentes teem, contudo, de de-
ou menos coriácea, predominam na re­ fender-se dos mesmos perigos, e assim
gião montanhosa da floresta primitiva; se colocam ao abrigo da acção de cau­
e, finalmente, as sub-arbustivas, erectas, sas destruidoras semelhantes, por pro­
nas terras do planalto interior. cessos idênticos. A carnosidade das
Esta relação entre as espécies escan- plantas do litoral (meio salino), defen­
dentes e as erectas é tão acentuada que de-as contra um excesso de transpira­
Welwitsch encontrou na segunda região ção, que também podem atenuar, co­
considerada, entre umas 20 espécies, brindo-se de pêlos, sendo por via de
140 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

regra êste o processo mais próprio das dioca, cuja introdução na África pelos
regiões montanhosas. portugueses-, conforme adiante veremos,
Estes aspectos da vegetação espontâ­ poderia ter tido um largo alcance eco­
nea foram adrede detalhados, por for­ nómico social para o nosso domínio an-
ma a dêles obtermos, à falta de melhor, golense, e que tem, de facto, uma larga
algumas indicações gerais sôbre a cli­ área de aclimação em tôda a Província.
matologia local, visto que nos escasseiam De cultura fácil e produção abundante,
dados de outra natureza, que nos deem ela corresponde por uma forma notá­
bases sólidas para um estudo crítico, vel às tendências características do ne­
análogo aos que se podem fazer para gro, que, pouco preocupado com as
certas regiões europeias. qualidades esgotantes da planta, tratou
Se dêste exame da vegetação espon­ de lhe dar um grande desenvolvimento
tânea, assaz perfuntório, alguma coisa de expansão, nos limites do possível.
colhemos de verdadeiro sôbre a distri­ Schweinfurth notou que no hemisfério
buição da humidade atmosférica nas Norte, apenas passado o 50 paralelo, a
diferentes zonas consideradas, a obser­ caminho do equador, as Gramineas dei­
vação das plantas em cultura, não menos xavam de constituir a base da alimen­
nos esclarecerá acêrca da distribuição tação indígena, sendo substituídas por
das temperaturas, um e outro dêstes tubérculos e raízes feculentas, entre os
elementos, claro está, deduzidos de uma quais domina a mandioca. Até ao 13o
maneira geral, digna de registo todavia, paralelo, a sul do equador, além do
embora vaga, para não dizer absoluta­ qual reaparecem em cultura as Grami­
mente pobre, nos pormenores de dis­ neas, mantém-se êste predomínio, por
tribuição e variação médias, que tanto uma forma mais ou menos acentuada.
importaria discutir e criticar. Dentro, porém, dos limites que mais
A alimentação indígena, conforme é particularmente nos interessam, e con­
sabido, é garantida segundo as regiões, siderando as regiões que temos indica­
pela cultura da Manihot, das Convolvu- do, notamos diferenças sensíveis na sua
laceas e das Gramineas. vegetação. Assim no litoral, em que
A indústria agrícola tem como base se estende muito para o sul até Mossâ-
principal, a cultura da Cana sacarina e medes, ultrapassando os limites acima
da batata doce (Ipomaea Batatas) sob indicados, pela razão já aduzida, a planta
o ponto de vista da distilação. desenvolve-se bem, mas diz Welwitsch,
Vejamos pois, como se distribuem as raro floresce.
principais delas pela Província de An­ Na 2.a região, mais em harmonia com
gola, embora, digamos desde já, em as condições climatéricas do seu habitat
alguns pontos, no litoral por exemplo, pátrio, chega a aparecer-nos nas matas,
a intervenção do europeu tenha mes­ com carácter sub-espontâneo. Floresce
clado um pouco as culturas, tornando e frutifica, mas neste estado (fora da
algo confusa a delimitação das suas cultura), as suas raízes são pouco gros­
áreas. sas e desenvolvidas, e não aplicáveis à
Para o nosso caso, no primeiro gru­ alimentação, pelo seu excessivo amar­
po, basta-nos apenas considerar a man­ gor — by no means thick, and scarcely
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 141

edible owing to its bitterness, diz Wel- Temos, portanto, duma maneira ge­
witsch. ral, indicações climáticas de humi­
No planalto ainda é frequente, e tal­ dade e temperatura relativas, dadas
vez mesmo dominante na cultura, em­ pela vegetação, quer espontânea, quer
bora já as Gramineas deem um grande cultural.
contingente, mas vai rareando, nestas Assim o litoral nos aparece em gran­
alturas, para o sul, até que desaparece de parte relativamente sêco etemperado,
na Huila, por exemplo. Floresce e como o planalto, salvo circunstâncias de
frutifica, mas o seu desenvolvimento é relêvo e revestimento florestal, que lhe
muito mais lento, estando as raízes em dão diferenças sensíveis, ao passo que
maturação ao fim de dois anos, e nunca a 2.a região nos apresenta mais intensa­
apresentando o carácter amargoso, ca- mente os característicos dum clima tro­
racterístico nos países de origem desta pical—calor e humidade excessivos.
espécie. Parece haver alguma cousa de con­
Se considerarmos agora a cana saca­ traditório nestas afirmações. Na ver­
rina, embora a sua cultura se alastre dade é sabido que os climas litorais são
consideràvelmente para leste, atingindo mais naturalmente húmidos do que os
a regiáo planáltica, o facto é que nesta continentais, dado que o vapor de água
região, caminhando para sul a vemos atmosférico tem principalmente como
substituída na indústria da distilação origem o mar, e assim tende a diminuir
pelo Ipomcea Batatas. Mesmo, porém, à medida que nos internamos nos con­
nos limites actuais da sua expansão, os tinentes. A quantidade de vapor de
fenómenos vegetativos modificam-se, água atmosférico no interior dos gran­
caminhando do litoral para o interior. des continentes, até mesmo nos desertos,
Assim na i.a(i) e 2.a região não é raro é todavia maior do que ordinàriamente
que ela fleche, isto é, floresça, tendo se pode supor. Há ali causas secundá­
passado por tôdas as fases vegetativas rias que dão origem à humidade atmos­
dentro dum prazo que não excede 18 férica, especialmente a evaporação dum
meses, o que nunca sucede no planalto, solo húmido, rios e lagos, e ainda a da
aonde se desenvolve, melhor ou pior, vegetação florestal, que se não deve
conforme as situações locais, em rela­ perder, de vista, condições estas que se
ção a terreno e exposição, mas aonde realizam na 2.a região por nós conside­
nunca floresce. rada. Além disto, porém, a influência
da corrente marítima antártica que ba­
nha a costa africana sudoeste, da qual
(1) Convêm observar que nesta região as
condições de solo e disposição dos terrenos
se começa a separar próximo ao Cabo
em que se faz esta cultura, são muito seme­ de Santa Maria, deve não só atenuar os
lhantes às da segunda, o que de resto, é de efeitos da temperatura elevada da ter­
prever, porquanto a estas divisões não assiste ra, mas ainda concorrer para a secura
um rigor matemático. Ao longo dos rios, nas
do ar, e ausência de chuvas que ali é
várzeas férteis e abrigadas pelo relêvo do ter­
reno, as circunstâncias não são precisamente característica.
as que concorrem para caracterizar, duma ma­ Debaixo dêste ponto de vista, e de­
neira geral, a região litoral de Welwitsch. vida à mesma causa, é curiosa a seme­
142 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

lhança entre esta costa, a oeste austra­ Infelizmente, não posso dispor de ou­
liana e a sudoeste americana. Tem tros dados, mais para desejar do que es­
tôdas um cunho mais ou menos árido tes, a que serviriam de confirmação, e
e desértico, ao passo que a Queenslân- que com mais liberdade e critério nos
dia, a sueste africana e a brasileira são permitiriam reduzir as nossas generali­
ricamente vestidas por uma vegetação zações a uma demonstração mais evi­
luxuriante. dente e segura. De facto, aparte Loan-
Há ainda mais um facto interessante da, que possue um bom observatório,
que deve influir nos diversos factores nada mais há de que se possa lançar
das chuvas intertropicais, e que qual­ mão com segurança, porquanto as obser­
quer pode observar olhando para uma vações feitas por viajantes, referem-se
carta física do globo. A norte e a sul, a curtos períodos e a estações recente­
a zona tropical acha-se separada da mente criadas—Mossâmedes, Cabinda
zona das chuvas temperadas por uma e Huila—estão ipso facto, nas mesmas
região de desertos ou steppes estéreis. circunstâncias. Apenas o Sr. Dr. Nasci­
O Saará, os desertos da Síria, Arábia, mento nos apresenta em N’dala Tando
Pérsia e Sinde; o grande deserto de (2.a região—9o, 12', 50", lat. S. e 15o, 4',
Gobi, e os tratos de terreno inculto na 20", long. E. de Greenw.) observações
China e no Thibet, separam as férteis seguidas de 3 anos (1889-90 91), e essas,
regiões da Europa, África e Ásia tem­ juntamente com as de Loanda, vem
peradas, da zona de chuvas tropicais, confirmar as nossas indicações deduzi­
assim como, no norte da América, quási das da flora local.
nas mesmas latitudes, há planícies sal­ Em Loanda são frequentes as tempe­
gadas desertas, e longos tratos de ter­ raturas de 27o e 28o, observando-se
renos sem vida, no México norte. Ao máximas de 30o a 37o nos meses mais
sul do Equador temos na América o quentes, que são os que decorrem de
deserto de Atacama, na Austrália cen­ Novembro a Abril; não se registam
tral, os vastíssimos terrenos de reco­ temperaturas inferiores a 13°, sendo
nhecida esterilidade, e finalmente, na mais freqúentes as mínimas entre
África, o Kalahari, que se prolonga até 15o e 20o, nos meses de Junho a Se­
Mossâmedes. tembro, e podendo considerar-se Maio
Tudo isto deve influir na região inter- e Outubro como meses de transição.
tropical, sôbre a direcção dos ventos, dis­ Em N’dala Tando, as médias das
tribuição de temperatura e humidade. máximas que corresponderam durante 3
Ainda hoje, contudo, se não podem tirar anos àquelas estações, foram de 33o, e
conclusões críticas, dada a carência expli­ as das mínimas de 9°,7, registando-se má­
cável de exemplos fornecidos pela obser­ ximas absolutas entre 35o e 33o e míni­
vação seguida, em tôdas as regiões desta mas de 8o,5.
parte do globo; e o que assim se pode Em geral, qualquer que seja o mês
afirmar na generalidade, não é senão con­ que se examine, nota-se que, quanto
firmado com maior soma de razões, mais para o interior do continente estão
quando nos temos da referir à nossa as localidades, e quanto maiores são as
grande possessão da África Ocidental. suas altitudes, mais descem as mínimas,
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 143

registando-se em muitas, de Abril a Se­ mos, raro é o dia em que se mede


tembro (observações de Capelo e Ivens, mais de 32rnm. A média anual mínima
Henrique de Carvalho, etc.), de 10o até i°. é de 130""" e a máxima de 570""".
Como é sabido, a zona das calmas Em N’Dala Tando, segundo as já
equatoriais desloca-se anualmente à su­ citadas observações, a média anual dos
perfície do globo, de norte para sul, e 3 anos foi de 789mra, sendo a de 1900
de sul para norte, seguindo o sol na sua de i.252mm,7.
marcha aparente. Capelo e Ivens não mediram as chu­
Daqui resulta um deslocamento aná­ vas, mas registaram a sua duração por
logo da zona das chuvas, por forma espaço de três épocas consecutivas. Os
que, entre os limites extremos dêste seus registos acusam dias em que du­
percurso, existem duas estações chuvo­ raram 6, 7 e 8 horas, sendo frequentes
sas e duas estações sêcas. Aproximan­ entre 264.
do-se dêstes limites, as duas estações Das indicações dêstes exploradores
pluviosas aproximam-se igualmente uma e das de Henrique de Carvalho, vê-se:
da outra, e uma das estações sêcas di- que nas estações das mais elevadas tem­
minue gradualmente de duração. Nos peraturas, isto 'é, de Outubro a Abril,
limites extremos há, portanto, apenas em tôdas as localidades chove com mais
uma estação pluviosa, alternando com frequência, e em maior quantidade; que
uma estação sêca. A estação pluviosa no das margens do Cuango para leste cho­
trópico norte corresponde ao nosso ve­ ve muito mais que para o lado da costa
rão, e no trópico sul ao nosso inverno. ocidental; que nas maiores altitudes cho­
A região por nós considerada neste ve mais que nas inferiores, sendo as ex-
estudo, aproximando-se do trópico Sul, cepções devidas a circunstancias locais:
apresenta, de facto, duas estações chu­ que aquém do meridiano 24°, na época
vosas, separadas por uma pequena es­ dos chuvas, são estas mais frequentes e
tiagem, que diminue sensivelmente de registam-se em maiores quantidades nos
norte a sul, e uma longa estiagem de sítios mais próximos do equador.
5 meses. Das observações do padre Leconte,
A estação pluviosa e quente começa da missão de Caconda, resulta «que a
em geral pelas trovoadas de fins de Se­ quantidade das chuvas vai diminuindo
tembro, seguindo-se até fins de Dezem­ gradualmente desde o Bihé até Cacon­
bro. Janeiro a Março constituem a pe­ da, e daqui para o sul mais acentuada-
quena estiagem — Kiangala do gentio; mente, desde a zona do país de Galan-
em Março e Abril caem as pesadas gue e Catoco, até ao Humbe e Cuanha-
chuvas do outono, digamos assim, e fi­ ma, onde as chuvas rareiam».
nalmente, de Maio a Setembro prolon­ Tôdas estas observações confirmam o
ga-se a estação sêca e de baixas tem­ que nos diz Marié Davy, que, sob o
peraturas, designada pelo nomede ATm- ponto de vista das quantidades, as chu­
bu, donde os nossos colonos fizeram vas dão uma altura anual tanto maior,
Cacimbo. em geral, quanto mais próximo estiver­
Em Loanda, além de serem pouco mos do equador, na região intertropical.
frequentes as chuvas, conforme já nota­ Todavia a posição dos lugares, em
i44 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

relação ao mar e à direcção do vento, ver, em vista do exposto, êste fenómeno


produz diferenças consideráveis. acentua-se do litoral para o interior.
As direcções dominantes dos ventos no Nos pontos mais elevados do planalto
litoral são, como não pode deixar de ser, sul é freqilente a geada, que mesmo
dada a influência da corrente fria antár­ nos arredores de Malange tive ocasião
tica, a W, SW, SSW e WSW; con­ de verificar. Aí, como em Pungo An-
tudo os terrais, entre os rumos ENE dongo, Caconda e Cheia, as variações
a SSE varrem a costa entre 180 a nictamerais atingem grande amplitude,
650 vezes durante o ano, com algum chegando as madrugadas a temperaturas
prejuízo para a salubridade das povoa­ próximas do o°. Manhãs de bruma den-
ções costeiras. síssima que o sol rompe a custo, desdo-
Em Mossâmedes, estes ventos, espe­ brando-se do fundo dos vales até aos
cialmente os de E e SE, elevam a tem­ altos das colinas, a sua acção é sem
peratura e aumentam a secura, certa­ dúvida importante pela variável influên­
mente devido às proximidades do gran­ cia local, que exercem sôbre os factores
de deserto de Kalahari, a que já me do clima: calor, humidade e luz.
referi. « Juntamente com estes nevoeiros hú­
No interior não se tem observado midos, são frequentes nesta época ou­
uma grande regularidade do vento no tros nevoeiros sêcos, provenientes das
mesmo ponto, e menos ainda em vários queimadas. Daí vem que o horizonte
pontos considerados. visual é sensivelmente limitado durante
Assim, em Malange, tive ocasião de o cacimbo, agravada, a limpidez da
verificar durante dois anos, na estação atmosfera, por mais esta circunstância,
fria da estiagem, ventos soprados com que por vezes toma proporções consi­
alguma regularidade do SE, e, durante deráveis.
as chuvas, do NW. Nas estações de Como se vê, as circunstâncias que
transição, porém, o vento roda com uma em geral constituem o clima—tempera­
volubilidade espantosa de um quadrante tura, humidade, pressão atmosférica,
para o outro, dando origem às calmas. direcção e fôrça dos ventos, pureza e
Das observações do Sr. padre Leconte, serenidade do ar, etc., — não estão sufi­
a que já nos referimos, resulta para a cientemente estudadas, por forma a de-
região por êle considerada, uma certa duzirem-se conclusões precisas para cada
constância dos ventos ENE. Em região; no entanto, podem formular-se
N’dala Tando, com uma quási constân­ duas leis de conjunto sôbre a divisão
cia absoluta durante os 3 anos de climatérica de Angola:
observação, marca o Sr. Dr. Nasci­
mento o quadrante W. 1. a—As variações de temperatura de
Um outro fenómeno que ainda con­ uma estação para a outra, e mesmo as
vém acentuar é o dos nevoeiros no tem­ variações diurnas, aumentam à medida
po sêco, denominados Cacimbo. A sua que nos afastamos do equador e do
formação é devida a causas gerais bem mar.
conhecidas — variações da temperatura 2. a—A quantidade de água que cai
durante o dia e noite. Como é de pre­ anualmente, da mesma maneira que a
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 145

intensidade da vegetação, vão diminuin­ tempos antigos, a superposição das raças


do de valor à medida que caminhamos e povos africanos. Contudo, da combi­
de N para S. No sentido W—E sucede nação de alguns factos históricos conhe­
o contrário. cidos, com os dados mais recentes da
Se a estas duas leis locais, adicionar­ linguística e da antropologia, admite-se
mos a lei, de observação geral, de que as que o fundo primitivo se compunha de
temperaturas descem à medida que nos 3 elementos: os Negros, estatura eleva­
elevamos em latitude, ou em altitude, da, tez negra; os Negrilhos, anões, de
teremos assim, melhor ou pior fixada, pele amarelada; os Boschjemans, peque­
a repartição do clima em Angola. nos, amarelados e esteatopigios.
Independentemente de outras circuns­ As invasões dos Khamitas, as migra­
tâncias a indicar mais adiante, compreen­ ções dos Semitas meridionais que trans­
de-se bem que uma tão vasta região, bordaram além do Mar Vermelho, co­
como esta que acabamos de esboçar meçaram a obra lenta da modificação
nas suas feições orográficas, hidrográ­ dos Berberes, dos Etíopes, e dos ne­
ficas e clímicas, tão variadas, baixa e gros do nordeste Africano.
pantanosa aqui, montanhosa e sêca mais Recalcadas para o sul, as populações
além, aqui revestida de florestas mais negras tiveram de mesclar-se com os
ou menos densas, além constituída pela negrilhos-pigmeus, os etíopes, os ho-
savana, ou pelos extensos vales da an­ tentotes, os boschjemans, dando origem
tiga região lacustre, seja habitada por aos povos que hoje se agrupam na
povos diversamente adaptados, e com na grande família linguística Bantu.
tendências e aptidões diferentes, o que, Os Bantus foram absorvendo em
desde já, mostra quão errado e preju­ grande parte os povos mais fracos—ne­
dicial tem sido o preconceito de gene­ grilhos, boschjemans e hotentotes, cujos
ralizar a apreciação de qualidades e raros representantes ainda hoje existem
defeitos na raça negra. num estado de pureza relativa, confina­
Longe de mim a idéia de trazer neste dos nas regiões mais inóspitas e insa­
momento para a tela da discussão, tudo lubres do centro e sul Africano.
quanto se tem dito a respeito de origens É neste grupo Bantu, que compreen­
dos povos africanos, que, sendo muito de os numerosíssimos povos da África
no campo da pura especulação de crí­ Central e Austral, e cujo idioma forma
tica científica, não passa todavia de a família linguística (1), que lhe deu o
meras hipóteses, mais ou menos funda­ nome, que estão incluídos quási exclu­
mentadas, melhor ou pior deduzidas, sivamente os povos da nossa Província
mas a que falta a confirmação dos mo­ de Angola.
numentos, e até a das tradições. Êste «quási exclusivamente» importa
Àparte o Egipto, e outros povos que uma excepção, que se observa no distrito
em tempo habitavam alguns pontos da
costa norte, ao longo do Mediterrâneo,
para os restantes são tão vagas as pou­ (1) Os idiomas dêste grupo tem a estrutura
cas fontes que existem até hoje, que é aglutinativa, e são sobretudo caracterizados
difícil estabelecer, sobretudo para os pelo emprêgo de prefixos.
IO
146 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

de Mossâmedes, quer no litoral, quer migrações para oeste do seu foco origi­
no interior. De facto, Nogueira, Serpa nário, encontraram populações negras
Pinto, Capêlo e Ivens, mencionam e mais antigas, com as quais se cruzaram,
descrevem povos errantes no interior ou ainda por circunstâncias que daqui
de Mossâmedes, vivendo da caça—os a pouco consideraremos, e que nos pa­
Ba-cancala, — ou da pesca, no litoral recem as que mais intensamente con­
—os Ba-cuisso — evidentemente perten­ correram para estas alterações.
centes ao grupo dos boschjemans, e Os fiotes ocupam as margens do Zaire
ainda os hotentotes—Coi-coi—> que se de­ inferior, e entre êles destacaremos pelas
dicam à pastorícia, cuja semelhança de suas notáveis aptidões os bem conheci­
linguagem com a dos precedentes, e a dos cabindas e os luangos.
de ambos com o antigo copia do Egipto, Os mussorongos, que habitam a mar­
constitue uma prova das relações de gem esquerda do grande rio, são muito
família entre estes povos. ladinos e em tempo tornaram-se notá­
Aparte porém, estes agrupamentos veis por actos de pirataria. O cabinda,
citados, talvez reepresentantes degenera­ muito tímido, tem um mêdo instintivo
dos de antigas raças aborígenes, os po­ do mussorongo, que talvez se filie nas
vos dominantes são, como disse, os cenas do antigo tráfico. Além dêstes
Bantus, cujos mais puros representantes os bambas, os bacongos, os moxicon-
se encontram no interior do sudoeste, gos, etc., constituem as populações dêsse
entre os Ova-herero, que ultimamente antigo reino do Congo, aonde os nossos
tanto tem dado que falar, e os Ova-mpo. missionários fantasiaram uma organiza­
Embora difícil de fixar, debaixo do ção digna dos tempos do feudalismo,
ponto de vista físico, em virtude de tan­ com duques e príncipes à mistura, e
tas misturas, pode-se todavia assinalar cuja tradição hoje em dia, apenas vive
ao Baniu um tipo que, sendo negro no no meio popular lisboeta.
fundo, representa contudo a transição Ao segundo grupo, o dos bundas,
para um tipo superior, distinguindo-se pertencem os quissamas, os libolos, os
do primitivo, pela estatura menos ele­ dembos, os mahongos, os jingas, os
vada em geral, a côr menos carregada, bangalas, os quiocos e os ambaquistas.
a cabeça menos alongada, e o progna- Por profano que se seja em coisas
tismo menor; o nariz é mais proemi­ africanas, êste enunciado puro e simples
nente e menos largo. Sub-divide-se em de nomes, dá, só por si, idéia da im­
3 grupos, que no litoral apresentam a portância dêste grupo. Comecemos pelo
seguinte distribuição: os Fiotes ao norte, ambaquista, recordando o aforismo: à
desde o Chiloango até ao alto Dande; tout seigneur iout honneur. Oriundo de
os Bundas desde o Dande até ao Cuanza uma região (Ambaca) onde a acção das
a os Nbundus ao sul, até às alturas de missões jesuíticas se fêz sentir com mais
Mossâmedes. intensidade, o ambaquista é o exemplo
No litoral, convém notar, que algumas mais frisante de quanto aquela acção
tribus perdem, contudo, o característico foi inteligente, e orientada nos verdadei­
Bantu, ou seja por influência da costa e ros princípios, que hoje dominam entre
das terras baixas, ou porque nas suas os povos colonizadores. O ambaquista
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA *47

é a alma do sertão. Sabe ler e escrever mais fácil caçar elefantes e obter es­
português, e mantém inalterável essa cravos».
tradição, transmitindo-a de pais a filhos. Faltando-lhes o marfim, dedicaram-se
Não é raro encontrar a escola do am- à extraeção da borraçha das raízes, que
baquista nos mais remotos pontos do hoje constitue a principal riqueza explo­
sertão aonde assentou arraiais. E culti­ rada de Angola, conforme veremos.
vador e é negociante. As melhores lavras Antigamente os quiocos não desciam
são dêle; e raro se encontra uma comi­ em comitivas a promover a permuta,
tiva de negócio, a que êle não vá ane­ directamente com as feitorias europeias.
xado, a título de intermediário. Conhece, Êste negócio era feito por intermédio
ou melhor, finge conhecer, o código civil, dos bangalas que, ao longo do Cuango,
e é advogado infalível em tôdas as maças lhe vedavam o acêsso ao litoral, ou aos
sertanejas, intervindo na altura necessá­ centros sertanejos da permuta. Hoje
ria, com o fatal requerimento, revelando já algumas comitivas descem ao Lucala
o fundo do caráter nacional nesta fór­ e outras entendem-se directamente com
mula evolutiva do requerimento empata as nossas feitorias, que tem ido ao seu
—sôbre o modo de propor, e finalmente encontro.
é a levedura infalível de tôdas as tra­ No entanto os bangalas, actuais ha­
moias administrativas, que, nas urnas bitantes de Cassanje, são ainda os in­
eleitorais da Província, promove o des­ termediários detentores da maioria dêste
dobramento infinito dos votos, que hão- negócio. São turbulentos, belicosos,
-de dar camaristas aos conselhos, e e muito dados à embriaguez. Não
deputados à representação nacional. tem agricultura, não tem gado. Vivem
Os quiocos, estabeleceram-se na região da permuta.
montanhosa donde correm as águas para Os jingas, representantes dos antigos
o Zaire, Cuanza e Zambeze; entre êles senhores de Angola, ocupam hoje, de­
encontram-se indivíduos com tipo ho- pois de corridos sucessivamente pelo
tentote muito pronunciado, o que mais domínio português, a região que é limi­
uma vez vem provar a excessiva falibi- tada ao norte pelo nosso Congo, e vai
dade das classificações actuais, debaixo com o Holo até ao Cuango. Dedicam-
dêste ponto de vista. Êste povo, de há -se à pastorícia, mas são igualmente
muitos anos atrás vem caminhando do sul bons agricultores. O seu país é rico
para o norte, invadindo os antigos do­ de pastagens e de florestas. Não é
mínios dos muatas entre os quais o do raro vê-los nos diferentes mercados,
célebre muata Janvua. com mantimentos e gados, que princi­
«Pode afirmar-se, dizia Buchner em palmente constituem a sua riqueza.
1881, que há 30 anos se não conheciam Os libolos e quissamas vivem no vale,
quiocos ao norte do 10o paralelo sul, no Cuanza, cuja margem esquerda
mas eu vi agora algumas sanzalas ocupa­ ocupam. Os quissamas no litoral, na
das por êste povo. É sua tendência se­ parte relativamente baixa; os libolos na
guir sempre para 0 norte e buscam segunda região. Estes são cultivadores,
lugares onde os indígenas ainda não e exploram principalmente 0 dendo, das
conhecem as armas de fogo, e se torna palmeiras que abundam na região, e a
148 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

cera. Os quissamas são aguerridos, e daqueles que lhe damos; a colheita do


nunca aceitaram o nosso domínio. A mel e da cera é abundante nesta região.
sua importância provém das minas de Estes ganguelas e ambuelas conser­
sal que existem no seu território, e que vam muito pouco o tipo Bantu, e assim
para êles representam uma verdadeira são caracterizados por uma estatura
riqueza. Talvez fôsse esta a origem, acima da mediana, uma dolicocefalia
por confusão, das nossas dissenções moderada, e por uma pele de um tom
com êste povo, que sempre desconfiou mais claro do que a dos seus vizinhos
do nosso domínio. Bantus do Congo.
Entre os ribundos além dos ba-nano, Esta resenha sucinta, e talvez mal de­
montanheses do planalto de Benguela, finida, que acabo de apresentar, tem
e dos ba-buero, habitantes da zona bai­ únicamente a pretensão de fazer ressal­
xa, ambos selvagens e dados aos rou­ tar, apesar da sua insuficiência, a im­
bos de gados, temos os bailuvidos anti­ portância do estudo das raças. Pouco
gos caçadores de búfalos (1), que se nos temos preocupado com isso, de­
vieram fixar no Bailundo, no alto Cuan- baixo do ponto de vista administrativo
za, e aí se entregaram à cultura. São e económico, e, como tantos outros, é
aguerridos, e juntos com os bihenos for­ êste um trabalho que es'.á por fazer,
mam as comitivas que do sertão trazem sendo necessário detalhá-lo convenien­
a Benguela a borracha. Os bihenos são temente, dentro das linhas gerais, ainda
artistas, e muito dados ao negócio, or­ falíveis, que afinal foram as indicadas,
ganizando as caravanas de pombeiros e que na verdade pouco nos dizem.
que por conta das casas comerciais vão É que êste estudo é duma importân­
ao alto sertão. cia capital. Mais do que pela fôrça, as
Restam-nos ainda referências a três nações colonizadoras, modernamente,
povos, que merecem registo. orientadas e esclarecidas pelos viajan­
Os monbombes são uma tríbu nómada tes exploradores, pondo de parte a
muito em contacto com os povos do li­ preocupação sistemática, que dominou
toral sul, próximo a Mossâmedes. São e ainda domina certos espíritos, a res­
caçadores e entregam-se à pastorícia» peito da inferioridade e incapacidade da
mas não admitem sujeição. raça negra, tem procurado estabelecer
Os ganguelas habitam o Cubango, a o seu domínio sôbre os povos que a
sul do Bihé. São cultivadores, prepa­ constituem, estudando-os nas suas ori­
ram a borracha, e trabalham o ferro gens, nas suas tendências, usos e costu­
de que exploram minas. mes, por forma a aproveitá-los como
Os ambuelas, além destas tendências factores indispensáveis da grande obra
para a cultura, e para a indústria, tem de expansão comercial, que caracteriza
gados em abundância, a que se dedicam a nossa época.
de preferência, e conhecem o fabrico da Hunter, citado por sir John Lubbock,
manteiga, embora para usos diferentes diz que os inglêses teem estudado e com­
preendido os povos das terras baixas da
(i) Empacasseiros—de tn’pacassa que quer índia, como conquistador algum jamais
dizer búfalo. estudou e compreendeu uma raça con­
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA M9

quistada; e que dêsse conhecimento per­ separada por obstáculos naturais, do


feito da sua história, das suas necessi­ comércio, do convívio, da irradiação em
dades, das suas fraquezas, e até dos suma, dos outros povos do mundo.
seus prejuízos, resultam as medidas po­ De facto, o colossal maciço do con­
líticas e administrativas, que tão cabal­ tinente negro constitue um enorme bloco,
mente tem satisfeito a expectativa pú­ uno, pouco recortado, e sem vias de
blica. comunicação, que naturalmente possam
Sobre a raça negra, só há muito pouco levar a contacto, sociedades diferentes,
tempo se começa a levantar o véo que e é portanto, mal organizado para o
durante séculos a tem encoberto, dei­ comércio da humanidade.
xando subsistir a crença, radicada pela Junte-se a isto o aspecto inóspito
escravatura, da sua incapacidade abso­ das suas costas, ou desertas, ou vesti­
luta de penetração nos domínios das das pela mangrovia fétida e traiçoeira,
sociedades civilizadas. a vastidão das suas florestas, as sava­
A imprecação de Noé: — que Cham nas extensíssimas, linhas de água, pân­
seja maldito! que seja em face de seus tanos e montanhas, tudo concorrendo
irmãos o escravo dos escravos! — pesa para tornar laboriosas as relações entre
ainda hoje sôbre os seus humildes des­ os povos, e aí teremos uma das razões,
cendentes, tranquilizando, como um de­ se não a principal, porque a África es­
creto de Deus, as consciências daqueles tagnou no estado embrionário, durante
que à sua sombra tem medrado e vivido. muito tempo.
Na verdade, um facto histórico, uma Mais tarde, quando as circunstâncias
grande fatalidade, causa a admiração colocaram os povos do litoral em comu­
imediata de quem estuda êste assunto. nicação com os navegadores europeus,
E o estado da estagnação, repulsiva as lições colhidas dêste acesso dos po­
quási a todo o avanço civilizador, em vos civilizados, não foram de molde a
que se tem metodicamente conservado incutir-lhes no ânimo uma confiança ili­
uma raça tão antiga como a nossa pró­ mitada nas raças superiores.
pria origem; é uma imobilidade secu­ Além das emigrações interiores, que,
lar, sem um passo avante, sem uma mu­ como vimos, tinham por conseqílência
dança para melhor, quando, paralela­ impelir para o litoral os povos incapa­
mente, no decorrer das mesmas épocas, zes de resistir às invasões, o que já de­
o movimento do progresso animou outras nota uma tal ou qual inferioridade da
sociedades, arrastando-as à conquista, sua parte, o tráfico da escravatura con­
palmo a palmo, do grandioso ideal de correu muito para aí misturar as raças,
paz, a que aspira a civilização europeia. aviltando-as. No litoral afluiam as co­
Em face de tão desigual partilha nos mitivas de peças, em cujos mercados
destinos, avulta ao nosso espírito o es­ permaneciam, antes de serem entregues
pectro dêsse continente misterioso, de aos traficantes estrangeiros. Uma parte
que ainda há pouco tempo não se fa­ dos recém-vindos, às vezes, ficava nes­
lava sem pavor, mergulhado num sono ses mercados para reparar as perdas
letárgico, sob o pêso duma atmosfera sofridas pelas populações, cujos chefes
de luto e de dor, essa África lendária, não tinham escrúpulo de vender aos
*5° ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

negreiros o excesso das suas próprias de morte para o índio Americano, e


sanzalas, quando a mercadoria do inte­ para o indígena das ilhas de Sandwich,
rior vinha a escassear. precisamente por não poderem satisfa­
Havia nestes pontos do litoral uma zer as suas exigências, e serem incapa­
amalgama de povos, atraídos pela ga­ zes de reagir pela adaptação, que os
nância, por ela retidos, ou reenviados negros, esmagados pelo aviltamento do
de sanzala para sanzala, segundo as seu estado anterior, paralisados nas suas
exigências do tráfico local. A conse­ aspirações para um nível superior por
quência fatal dêste movimento foi a uma triste herança de ignorância e imo­
criação de um grande número de po­ ralidade, tem evidenciado de sobra.
vos mixtos, sucessivamente alimentados De resto, êste prejuízo de inferiori­
por novos contigentes, fundidos entre dade não tem decerto melhor funda­
si, e, sem dúvida, nenhum dêles pôde mento do que o conselho de Cícero ao
conservar intacta a sua originalidade seu amigo Attico, quando lhe recomen­
primitiva. dava que não quisesse escravos Bretões,
Embora pondo de parte a influência visto que a sua estupidez era tal, que se
do meio, salino, baixo, pantanoso e in­ não podia conseguir dêles qualquer ser­
salubre, que por fôrça exerceu uma viço.
acção depressiva sôbre os povos, que Hoje em dia, o conhecimento mais
afinal aí se conseguiram aclimar, o facto perfeito de alguns povos do interior
é que, sendo as guerras o principal africano tem concorrido para modificar
factor da escravidão em África, elas algum tanto a opinião primitiva, notan­
operam uma tal ou qual selecção, visto do-se infelizmente — o que não é hon­
que a circunstância de ser vencido, e roso para os brancos, — que o caracte-
ainda mais a de ficar prisioneiro, cor­ rístico dêsses povos, nas suas relações
responde geralmente a uma inferiori­ com o europeu, é mais a desconfiança,
dade física e moral. do que uma incapacidade étnica abso­
Deduzida pois, de um convívio com luta.
povos inferiores, nasceu a idéia da No estado actual, diz D. António
absoluta incapacidade moral da raça Barroso, o prêto, tomado em globo, é
negra, que ainda hoje subsiste inalterá­ ingrato aos benefícios que se lhe fazem,
vel entre alguns povos, que tanto lhe todos o afirmam. Ninguém o nega, e
deveram, e devem. muitos se queixam disso com bem
Todavia os descendentes dos escra­ pouca razão; querem transportar abrup-
vos, êsses mesmos inferiores, — pos­ tainente para o meio de raças primiti­
suem, apesar de tudo, uma vitalidade, vas, um sentimento que é apanágio das
e uma faculdade de adaptação tão pro­ mais adiantadas. A inteligência obscu­
digiosa, que tem resistido a uma luta recida do prêto vê nos favores uma cila­
desigual e feroz, por exemplo nos Es­ da que êle não compreende como é
tados Unidos da América, aonde tudo urdida e, não tendo as ideias de desin-
parece predestiná-los a uma derrota fa­ terêsse e abnegação, julga que redun­
tal, salvo um esforço sôbre-humano. dará sempre em seu dano tudo o que
Como se sabe, a civilisação foi o golpe tende a felicita-lo.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 151

É que a lição colhida do contacto grande desastre os benefícios rece­


com os civilizados foi demasiado cruel. bidos.
Antes da introdução de algumas Da hostilidade com os brancos, resul­
plantas alimentares pelos Portugueses, tou que os negros procuraram, e pro­
os indígenas da costa ocidental africana curam ainda, cada vez mais—tal foi a
deveriam ter uma existência precária, sua intensidade — subtrair-se à sua in­
vivendo da caça e dos parcos produtos fluência, mantendo-se a distância da
da vegetação espontânea. raça mais poderosa. Rememoram com
A-parte o sorgo, os inhames, os ca- amargura as injustiças sofridas outrora,
janus, e talvez a bananeira, em vão, se que os processos modernos, infelizmente,
procuram as plantas indígenas em cul­ não tendem a apagar por completo, e
tura regular, correspodendo esta singu­ tornam-se assim vingativos e insolen­
lar ausência ao estado errante em que tes. Ora, um povo atrofia-se quando
se encontravam os povos do centro não mantém a sua civilização por meio
africano, como ainda hoje se pode obser­ de estreitas relações com os mais adian­
var para alguns dêles. tados, e não é só com os negros que o
Nestas circunstâncias, a introdução facto se dá. Nas montanhas da Virgí­
de uma planta, como a mandioca por nia ocidental e no Kentucky, ainda hoje
exemplo, que lhes proporciona uma se encontram raças brancas degenera­
fonte quási inexgotável de alimentação das, cuja origem dificilmente se pode­
sàdia e valiosa, sem grande trabalho, ria atribuir a antepassados escoceses e
devia trazer uma profunda modificação alemães, se esta filiação não fôsse assaz
aos seus hábitos de vida social. O ne­ recente, para não sofrer a mínima dúvida.
gro que, a seu modo, já tinha apro­ O bom critério, debaixo do ponto de
priado hábitos de pastorícia, fàcilmente vista económico e administrativo, que
devia evoluir para a fixação, tornando- principalmente nos interessa, não reside,
-se agricultor. portanto, na aceitação corrente desta
Mas os benefícios assim trazidos da idéia geral da inferioridade e incapaci­
América pelo europeu, não foram mais dade do negro, deduzida, por uma forma
do que uma cilada, seguidos por uma absoluta, de enganadoras aparências
odiosa compensação. A América re­ muito superficiais.
tomou sob outra forma, quanto tinha O que é preciso é fazer um balanço
dado a essa pobre África. Foi um em­ consciencioso das suas qualidades e de­
préstimo de usura, êsse. Proporcionou- feitos, por fórma a entrarmos com ele­
-lhe, pela mandioca e pelo milho, o meio mentos seguros no campo da política
mais eficaz de desenvolvimento e mul­ indígena, dos povos que pretendemos
tiplicação dos povos, mas arrebatou-lhe, administrar.
em troca, os braços para desbravar e Duas feições ressaltam imediatamente,
cultivar o seu próprio solo. Assim, na verdade, quando procuramos avaliar
quando a influência dos civilizados che­ a capacidade dos povos africanos con­
gou ao seu alcance, por uma fatalidade siderados no nosso estudo : — a sua im­
histórica, a caça ao homem e as depor­ potência de abstracção, e uma grande
tações em massa, transformaram num inaptidão para iniciativas espontâneas.
152 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Mas, ao lado destas qualidades nega­ derar inferior. Teria sido êste o maior
tivas, êles manifestam duas faculdades êrro dos nossos antepassados, se é que
aproveitáveis de carácter oposto : — jamais êles pensaram em estabelecer na
espírito de imitação e aptidão comer­ África, mais do que feitorias comerciais
cial. e pontos indispensáveis de escala para
Veremos adiante como esta aptidão o abastecimento das frotas da. Con­
comercial do negro tem sido a alma da quista, uma verdadeira colónia. Entre­
nossa Angola, que apenas disso tem vi­ garam-lhes plantas novas, e abandona­
vido até hoje. O seu espírito de imita­ ram à sua própria iniciativa a apropria-
ção, êsse indica-nos que, para o fazer­ çãodêssesnovos elementos de progresso,
mos progredir, devemos iniciá-lo, man­ sem ver que para êsse fim, êles apenas
tendo-o sob tutela, que pode, se quise­ possuíam meios limitados e processos
rem, ser de mãos de ferro, contanto rudimentares, vizinhos da inconsciência.
que se calcem com luva de pelica. Sem O resultado foi, e ainda hoje é, a dela­
o auxílio do estrangeiro, êle não sabe pidação dos recursos que o rodeiam, a
tirar partido dos elementos de progresso destruição bárbara do muito que não
que vão ao seu encontro, e só neste sabiam, nem sabem utilizar, para pro­
sentido o poderemos com justiça consi­ duzir o pouco com que se contentam.
Produção, consumo e balança comercial,
para os produtos agrícolas.
Condições da exportação.— Conclusões (*)
PELO PROFESSOR

Mário de Azevedo Gomes

I — Produção agrícola:
Evolução no duplo aspecto quantitativo e qualitativo

Consideradas na primeira e segunda trará a presente memória o seu limite


parte dêste trabalho as condições de natural.
meio e de organização explorativa em Com os dados estatísticos referentes
que se encontra a agricultura nacional, aos últimos dez anos de antes da guerra,
trata-se agora de saber o que ela pro­ é possível dar uma idêia bastante exacta
duz, e logo em seguida como responde da natureza da moderna produção agrí­
às necessidades e aos interêsses econó­ cola do país e do seu quantitativo, para
micos do país a dentro do seu fácies de uma época normal. Algumas modifica­
produção. Só findo êste estudo encon- ções podem também ser exemplificadas
das trazidas a esta situação pelo estado
de guerra; não tão completamente, po­
(i) O presente estudo faz parte duma «Me­ rém, como seria para desejar, porquanto
mória sôbre a situação económica da agricul. os números, embora oficiais, são suscep-
tura portuguesa», elaborada por incumbência
da Comissão Executiva da Conferência da Paz, tíveis de correcções, como derivando de
memória cujo índice geral é como segue: inquéritos forçadamente apressados ou
1. a Parte. O meio agrícola—Condições na­ de manifestos obrigatórios incompletos,
turais.—Solo e Clima. estes mal aceitos e falseados pelos pro­
2. a Parte. Condições da exploração agríco­
prietários e produtores, no período atra­
la.—Organização e funcionamento.
3. a Parte. Produção, consumo e balança vessado, mais do que nunca, pelo com­
comercial, para os produtos agrícolas.—Con­ preensível desejo de fugir a todos os
dições da exportação.—Conclusões. embaraços legais agora criados à liber­
A publicação desta terceira parte em sepa­ dade de comerciar.
rado, porventura a de maior interêsse porque É a apresentação de uns e outros
apresenta resultados, e a sua inserção nos
Anais do I. S. de Agronomia, fazem-se median­ dêstes dados que, antes de qualquer
te autorização das estações competentes e com crítica da situação, tem de ser feita e
o duplo fim de divulgar dados actuais sôbre daí a elaboração do quadro que adiante
o estado da nossa balança comercial agrícola
e de provar que mais uma vez o I. S. de Agro­
segue.
nomia teve ensejo, pelo trabalho de professo­
Pouco pode acrescentar-se como aná­
res seus, de colaborar no estudo complexo dos lise dêste quadro da produção: se éle
problemas económico-agrícolas nacionais. serve quanto à primeira rubrica—pro-
154 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 155

dução média de antes da guerra—para em outra parte desta memória já apon­


elucidar de algum modo o leitor sôbre tadas—; mas outros são muito presumi­
a capacidade produtora normal, é em velmente baixos, por declarações incom­
todo o caso necessário advertir de que, pletas; de facto, a circunstância de se
a seu respeito, estudos económicos, aliás referirem a um triénio, de algum modo
considerados entre nós, mostram-se por anula nêles a influência das fortes que­
vezes discordantes: assim sucede, para bras por más colheitas, e parecem, por
exemplo, com a produção do trigo que exemplo, pouco de aceitar como boas
já foi computada por processo indirecto, as produções indicadas para 0 vinho,
partindo da capitação julgada normal batata e cortiça. Exactamente por isso
para o consumo, e da importação, em nos abstemos- de mais juízos acêrca
273.000 toneladas (Anselmo de Andra­ dos aspectos da produção durante a
de, op. cit.); há uma certa imprecisão guerra.
nos dados, que justifica a advertência. Todavia, antes de passar a conside­
Por outra parte é preciso não esquecer rar 0 consumo, tem todo o interesse
—ficou isso dito na primeira parte desta ainda conhecer, para um período mais
memória—até que ponto são susceptí- largo de tempo, a evolução sofrida pela
veis de forte oscilação, de ano para ano, produção da nossa agricultura, no to­
os quantitativos das diversas colheitas, cante a determinados produtos de maior
e 0 que êste facto pode representar, e valia. Há que mostrar como tem cres­
representa, como embaraço na nossa cido essa produção; há que mostrar
economia. também como tem melhorado em qua­
Interessante é também, dentro desta lidade. Vejamos pois esta dupla ques­
oscilação, conhecer a sua amplitude para tão:
o lado do máximo, porque ela verdadei­ — Pela sua crescente importância na
ramente denuncia de quanto é capaz, na alimentação, na economia do País, por­
situação presente, a cultura, e permite tanto, o caso do trigo é daqueles a con­
dar um balanço às condições óptimas siderar em primeira mão. ^Como tem
da produção sob êste aspecto. Alguns evolucionado entre nós a cultura dêste
números oficiais foram citados a êste cereal e o que vem sendo a seu respeito
propósito que, por exemplo, mostram verificado em matéria de progressos na
para os dois cereais mais importantes, produção? Em 1870 avaliava-se em
trigo e milho, a possibilidade de colhei­ 250.000 Ha. a nossa superfície de trigo,
tas bastante mais fortes que as habituais, e em 2.000.000 de hectolitros a colheita
equilibrando-se com 0 consumo, como (Ferreira Lapa, cit. in Conservação da
adiante se verá. riqueza nacional, Ezequiel de Campos);
Finalmente, dos números referentes ao 40 anos passados os dados oficiais acusa­
estado de guerra, já foi dito o que êles ram (colheita de 1910-1911) 490.158 Ha.
teem de insuficiência e porquê; certa­ de superfície cultivada e 4.177.476 hecto­
mente alguns, como o do trigo, repre­ litros de colheita; isto é, a área teria
sentarão com bastante verdade a situa­ quási dobrado, pouco mais do que du­
ção-a cultura dêste cereal sofreu uma plicando também a produção. É facto
restrição em resultado das causas várias averiguado, embora mal demonstrado
156 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

pela fôrça dos números (rigorosamente festo que ao sabor destas duas corren­
o seu apuramento não está feito), que a tes não pode o simples alargamento
partir de 1899, ano em que foi estabe­ cultural produzir todos os seus efeitos.
lecida a protecçâo à cultura e garantido E não se esqueça também 0 carác­
preço remunerador ao produto, por dis­ ter aleatório da cultura, quanto a resul­
posições legais, a superfície de trigo tados económicos, em face das condi­
na região alentejana sofreu considerá­ ções do meio, sobrepondo-se por agora
vel alargamento (fala-se em 300.000 Ha.) a todos os factores a considerar.
pelo arroteamento e sucessiva entrada A guerra trouxe consigo para esta
em cultura de importantes tractos de cultura embaraços já apontados; e o
incultos. que ela representa perante aquela cir­
De um modo indirecto, à falta de me­ cunstância do consumo de adubos, que
lhores dados, a simples nota dos acrés­ acima foi considerada no seu significado
cimos no consumo regional de adubos de acréscimo da produção, deduz-se do
a trigo destinados, mostra a influência respectivo gráfico. De forma que, de
exercida pela lei protectora em benefí­ momento, a situação é antes desfavorá­
cio desta cultura. Veja-se a êste respeito vel.
o gráfico adiante inserto, elaborado sôbre Querendo, porém, referir apenas o
as declarações do tráfego dos Caminhos caso normal, devem fixar-se as conside­
de ferro. Tanto a produção cresceu rações acima, das quais não pode deixar
que, em um ano excepcionalmente favo­ de deduzir-se que a agricultura nacio­
rável—1911—o abastecimento do País nal tem dispendido apreciável esforço
foi quási exclusivamente feito pela pro­ em melhorar a nossa capacidade de
dução nacional. Porém êste caso é a produção de trigo, conquanto êsse es­
excepção e os números da importação forço continue insuficiente, em face das
que, em outro lugar, teem de ser apre­ exigências do consumo.
ciados, demonstram que, não obstante o Outro produto que merece, no estudo
alargamento cultural, é ainda normal, da evolução da nossa produção agrícola,
com gravame da nossa economia, uma especial referência, é o azeite. São para
insuficiência de produção (do têrço a me­ assinalar neste caso, a um tempo, o
tade do consumo); porquê? Porque, pri­ acréscimo sensível da produção e a me­
meiro—e isso foi já indicado neste tra­ lhoria na qualidade do produto. Em
balho—a produção por unidade de su­ 1868, media 150.000 Ha. a área de oli­
perfície é baixa e tem vindo mesmo a val; em 1875, 200.000 Ha., e em 1908,
diminuir (veja-se 0 que se disse no es­ 329.000 Ha.; mais do que duplicou, pois,
tudo da adubação); porque, em suma, no espaço de 40 anos. Presumivelmente a
não se entrou bastante no caminho da produção aumentou na mesma propor­
intensificação que hoje mais do que ção; como pontos de referência que mais
nunca deve caracterizar a agricultura se aproximem, diga-se que a colheita
progressiva; e depois porque, por seu de 1851 foi de 218.410 hectolitros e que
lado, o consumo tem vindo a alargar-se, em 1892 ela atingiu 509.000 hectolitros.
interessando uma quota parte da popu­ Do mesmo passo, o modo de fabrico e
lação de cada vez mais forte; é mani­ correlativas qualidades do produto teem
TONELADAS

Í5.000

60.000
wnourau uc auudu ha keuiau - -■
V/CKCALirCKA uu

Gráfico demonstrativo do seu incremento


òul uu itju \ 60.000

sob o impulso da lei protectora (1899)


5S0Q0 ssm

50-000 50.000

4S.OOÚ 4*000

Asm 40000

\
E m 1900 . tonelada. )
2sm 35.000
------ tm iyu>.............................................. roneiaaas \
Em 1910.............................................. 54.115 toneladas
Em 1915 .............. .......................... .. . 38.297 toneladas
Máximo em 1913 .............................. 65.503 toneladas
-3 Q,Q00 Mínimo durante a truerra. 1916 29.991 toneladas 30.000
i 7.000 T. 3 valôr iniciai 0900)
e xcedendo apenas en

zzm 25000

11999 20000

ÍS.000 45!ooo
0061

6061
8061
1906
1903

00 / O'
1905

1907
1061

9(61
3 1910

1913

1914
o / O* o « «n £
00 / 00 O' o> § 2 S». 2
40.000 40.009
anais do instituto superior de agronomia *57

vindo a aprimorar-se. Referem-se do­ dução de manteiga. Recuando os mes­


cumentos oficiais de 1908, emanados mos 40 anos considerados para os pro­
do Mercado Central dos Produtos Agrí­ dutos acima, verifica-se que, por então,
colas (citação dos Problemas da Econo­ o abastecimento do País para êste pro­
mia Nacional, por Constâncio Roque duto era na sua máxima parte feito pela
da Costa) a esta melhoria de qualidade, importação (1.300 T. no valor de 650.000
denunciada pela diminuição de acidez, escudos — Prof. Rasteiro, Notas sôbre
«quando começou a fiscalização dos pro­ Portugal); o fabrico nacional era rudi­
dutos agrícolas teve de tolerar-se o mentar em processos, de tipo exclusi-
limite máximo de 7 para a acidez..., vàmente caseiro, sem nenhum carácter
actualmente o limite que a lei permite industrial. Desde 1885 que êste fabrico
é de 5 e já raras vezes atingido, muito entra a intensificar-se, vincando-se so­
correntemente aparecendo azeites com bretudo esta tendência a partir de 1892,
1 e 2 % de acidez». ano em que entra em vigor nova pauta
Por êste tempo eram já em número aduaneira fortemente proteccionista.
de 84 os lagares de sistemas aperfei­ Logo em 1893, a importação, que dois
çoados existentes em Portugal, alguns anos antes ficara em 990 T., caiu para
dos quais verdadeiramente modelares e 461 T., reforçando-se paralelamente a
de tipo industrial. Hoje mais se teem produção interna. Em 1905 a importa­
acentuado estes progressos e pode afoi­ ção reduz-se já a 62 T., apenas; em 1912
tamente dizer-se que o mesmo consumo não atinge uma dezena de toneladas; e
interno se tornou mais exigente, edu­ hoje encontra-se quási anulada.
cado o paladar do consumidor, ao mesmo Ao mesmo tempo que aumentou a
tempo que o técnico no fabrico; e se já produção, tomando francamente o ca­
em concorrência com outros países, nas rácter de indústria, melhorou-se consi-
exposições de Paris de 1889 e 1900, ao deràvelmente, com o emprêgo de mo­
nosso coube, pelos azeites expostos, lu­ dernos processos, a qualidade do pro­
gar de muito destaque (em 1889, 3°3 re- duto. E apenas lamentável que a escas­
compensas, alcançadas para uma totali­ sez de pastagens, prendendo-se com as
dade de 526 distribuídas), o estado condições já apreciadas em outra al­
actual da produção em nada deve des­ tura dêste trabalho, não permita um
merecer das provas dadas. Nem ou­ maior alargamento da produção e o ba­
tra cousa demonstra a circunstância de rateamento do produto, convidando a
vir, de dia para dia, diminuindo o con­ um maior consumo.
sumo de azeite importado para a indús­ Pode finalmente considerar-se ainda
tria das conservas, exigindo azeites de o caso da produção de arroz, bastante
i.a qualidade, diminuição que revela característico, também, e de uma trans­
com o maior aproveitamento do azeite formação muito recente. Acusavam os
próprio, o seu progressivo afinamento. números oficiais, em 1879, uma superfície
Na mesma ordem de idéias, pode ci­ orizícolade 4.000 Ha., com uma colheita
tar-se o melhoramento da industriados de 5.400 T., sendo então o consumo
lacticinios. Igualmente produz-se mais apenas de 9.200 T. Desde 1867, a bem
e melhor, interessando sobretudo a pro­ dizer, a situação deveria ser, no ponto de
*58 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

vista da produção, esta mesma, com a rante a guerra não afrouxaria a inten­
aplicação de uma lei fortemente impedi­ sificação desta cultura; está definitiva­
tiva da cultura, a título de beneficiar a mente lançada neste caminho, a nossa
salubridade pública. Cêrca de 50 anos agricultura, dentro das suas possibilida­
volvidos, caída no esquecimento a rigo­ des, e tudo faz prever maiores progres­
rosa observância da lei e por último sos. Mais ràpidamente ainda cresceu
posta de banda, como não satisfazendo o consumo; em .50 anos triplicou; atin­
ao fim em vista e contrariando a nossa giria de facto 30.000 T., a meio do de­
economia, as condições da produção cénio antecedente à guerra; em 1913
sofrem modificação importante, regis­ por exemplo, cêrca de 40.000 T.; deste
tando-se em documentos oficiais, já em modo se conserva em 1915, mas ao
1908, uma produção de 10 mil T. (com passo que naquêle ano a importação su­
uma área cerca do dôbro daquela) e bia a 30.000 T., não excedeu neste
finalmente na estatística de 1915, não 22.000 T.; é assim que a produção na­
menos de 15.000 T. de colheita. Du­ cional vai ganhando terreno.

II — O CONSUMO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS. EVOLUÇÃO.


Relações com a produção. Condições do abastecimento nacional.

Interessa à natureza desta memória, o tisfaz a agricultura nacional as exigên­


presente estudo do Consumo, já no cias do País-e êste confronto vem mais
ponto de vista da questão económica a propósito fazê-lo precisamente neste
geral, já no ponto de vista das relações novo estudo.
com a produção, servindo a definir-lhe, Para que êle possa desde logo ser
em primeiro grau, 0 seu valor e eficiên­ orientado no sentido de permitir esta
cia. De facto, 0 estudo anterior deixou aproximação, elaborou-se o seguinte
de considerar, embora nas suas linhas quadro em que vão só indicados os
gerais, 0 significado económico dos nú­ produtos cujo consumo é, pelo menos
meros representativos da produção agrí­ em parte, alimentado pela produção
cola, porque, primeiro, êsse significado agrícola nacional do continente (daí a
poderia depender do confronto dos exclusão do açúcar), e dêstes só tam­
mesmos números, quer com o da área bém os que teem maior importância em
julgada utilizada, quer com o da área face da produção, ou aquêles cuja im­
conhecida como agricolamente utilizada, portação avultada pesa desíavoràvel-
averiguando-se dêste confronto as con­ mente, ainda, na nossa balança comer­
dições do aproveitamento e intensifica­ cial (e daí a exclusão de certos cereais,
ção cultural no País—e esta averiguação legumes, batatas, leite, etc.).
ficará de algum modo feita ao longo Alguma cousa diz o exame dêste qua­
das duas primeiras partes dêste traba­ dro sôbre a participação da produção
lho—; e porque, segundo, êsse signifi­ do continente no abastecimento próprio,
cado pode ainda depender do confronto ao mesmo tempo que define, por um
dos números da produção com os do conjunto já importante de elementos, a
consumo, mostrando até que ponto sa­ que outros vão seguidamente juntar-se,
ANAIS 1)0 INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA *59

QUADRO DO CONSUMO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS

CONDIÇÕES DE ABASTECIMENTO Importação máxima


Consumo médio anual no decénio.
Produtos (referido ao decénio
Percentagem
de antes da guerra) Por produção Por importação para o consumo
nacional

Alimentos

Trigo De 300 a 350.000 ton. 7°% 30% 189.000 ton.—51 o/o


Milho De 550 a 600.000 ton. 93% 7% 174.000 ton.—28 %
Arroz 40.000 toneladas 45°/° 55% 30.000 ton.—75%
Azeite De 450 a 470.000 hl. 100 %
Vinho 6 milhões de hl. 100 %
Carnes 58.000 toneladas 10 °/o em 1913(1)
Manteiga De 750 a 800 ton. 97% 3% 62 ton.—8%
Queijo 6 400 toneladas 9 2% 8% 567 ton.—8%
Ovos 300 milhões 100 o/0

Matérias primas
Cortiça De 15 a 20.000 ton. 100 o/0
Lãs 5.800 toneladas 86 0/0 14 % 1.444 ton.—22 % (2)

(D— Referidos à cidade de Lisboa.


(2) — Referidos ao excedente da importação sôbre a exportação.

as características do respectivo con­ após os cereais e farináceos, como há


sumo. que incorporar no grupo das matérias
Verifica-se desde logo a insuficiência primas, o algodão, como elemento de
da produção agrícola, sobretudo revelada primeira importância, e conjuntamente,
no desequilíbrio para os cereais, quanto as peles, que foram, por exemplo, du­
a alimentos, e no das lãs, quanto a ma­ rante a guerra, um pesado encargo; e
térias primas, desequilíbrios que pesa­ como há que citar também, neste ba­
damente oneram a economia nacional. lanço económico-agrícola, o consumo de
E ainda sob êste aspecto a lista dos en­ adubos, perante o qual está igualmente
cargos está longe de completar-se; é em regime deficitário, a produção.
que outros produtos teem de juntar-se, Pode fazer-se, para o quinqílénio de
e não dos que menos interessam pelo antes da guerra, um apanhado de todos
seu quantitativo, ao consumo e, pelo seu os valores que definem o nosso deficii
valor, à economia do País, para que para produtos agrícolas, ou com a agri­
seja suficientemente exacto o esboço da cultura intimamente relacionados, agru-
situação. pando-os no quadro que segue.
De facto, entre os alimentos de pri­ Com um déficit à roda de 21 mil con­
meira necessidade há que incorporar o tos, abstraindo de adubos e máquinas,
açúcar, logo ocupando o segundo lugar saldou pois, a produção nacional do con-
ióo ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Valores pagos
les que teem estudado o assunto; em
ao estrangeiro em resumo, até à entrada dêste século o
no quinquénio
consumo não excederia 250.000 T., ao
1939-1913 passo que pelas médias das produções
de 1906 a 1908 e respectivas importa­
CEREAIS (I) 7.000 contos ções foi já calculado (Ezequiel de Cam­
LEGUMES (2)
500 contos pos, op. cit.) um acréscimo para 305.000
AÇÚCAR (3) 2.700 contos T.; actualmente cita-se como sendo de
CARNES (4)
500 contos
350.000 T. o consumo médio; e até o

número de 365.000 T. foi já calculado
1.000 contos
por processo indirecto (Anselmo de An­
PELES 1.500 contos
drade, op. cit.), partindo do conceito de
ALGODÃO 5.300 contos que não menos de 45 °/o da população
ADUELAS 900 contos do continente se alimenta, ao presente,
OUTRAS MATÉRIAS PRIMAS (5) 1.800 contos com pão de trigo, e à razão de 400 gr.
ADUBOS 1.100 contos
por habitante e por dia. É pois mani­
MAQUINAS
festo que tem crescido o consumo, já
150 contos
paraacompanhamento do acréscimo nor­
Total dos valores. . . . 22.450 contos
mal da população, já porque, facto inte­
ressante, cada vez vai sendo maior —
(1) Trigo 58 °/ol milho 17 °/0, arroz 25%.
(2) Favas. como atrás se referiu—a quota parte
(3) Não inclue a importação colonial. dessa população utilizando para seu con­
(4) Refere-se ao déficit do gado vacum.
(5) Tabaco, Sementes oleosas, Linho, Pasta para papel. sumo êste tipo de pão. Citou se a êste
N. B.—Ver no quadro das importações e exportações a respeito a percentagem de 45 °/o actual­
justificação dêstes números aproximados.
mente prevista e correspondendo a 2,5
milhões de habitantes; pois, em 1900,
tinente, as suas contas para com o con­ não excederia 42 °/o, a referida percenta­
sumo de produtos agrícolas, absorven­ gem. Não é de pequena importância
do, as substâncias alimentícias discrimi­ esta tendência, em vista das condições
nadas, não menos de 51 °/0 dêsse déficit, actuais do abastecimento.
e os cereais e farináceos, à sua parte, Quanto ao arroz, outro dos cereais que
cêrca de 35 %. Larga margem, portanto, mais sobrecarregara a nossa importação,
para que se intensifique a nossa produ­ foi dito o bastante, em paralelo com a
ção até pelo menos atingir uma situa­ sua produção, a respeito do consumo.
ção de equilíbrio. Das carnes, igualmente algo se disse
Tem interêsse, para terminar, o dizer bastante elucidativo, convindo ter pre­
da evolução sofrida, no consumo preci­ sente nesta altura o que foi referido ao
samente, para aquêles produtos alimen­ tratar dos gados, servindo a demons­
tares cujo valor mais fere as atenções. trar a pequenez da capitação para 0 seu
Do consumo de trigo, em primeira consumo e a relativa escassez dos pró­
mão, pode dizer-se que há escassez de prios recursos.
elementos estatísticos seguros, e daí di­ Finalmente, do açúcar, pode também
vergência de opiniões por parte daque­ dizer-se que o respectivo consumo ca-
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 161

racteriza-se em primeiro lugar por uma meros redondos, no valor estatístico de


capitação ainda baixa, inferior à de 3.350 contos; destas, 25.458 T. foram
muitos países europeus; está avaliada de açúcar estrangeiro no valor de
em 6ks,5 por habitante e por ano, quan­ 2.697 contos; e as restantes 9.542 T., de
titativo éste que, tratando-se de um gé­ açúcar colonial português no valor de
nero de primeira necessidade, só have­ 653 contos; as colónias satisfizeram pois
ria vantagem em elevar, conseguindo 28% da importação.
do mesmo passo o barateamento do O confronto daquele número global
produto. À importação recorre o país com outros anteriores, denota também
por completo, para se abastecer, visto um sensível aumento de consumo; a
que o continente nada produz e tôdas importação de 1910 ficou em 33.000 T.,
as tentativas, agora mais uma vez em para subir em 1913 a 39.000 T. No
via de renovação, para o cultivo e fabrico nosso País, como em outros, éste pro­
da beterraba sacarina teem fracassado duto é daqueles que vão ganhando
entre nós. De 1900 a 1913 importa- terreno no arraçoamento das popula­
ram-se, em média anual, 35.000 T., nú­ ções.

III—Aspectos da balança comercial para os produtos agrícolas;


SEU SIGNIFICADO ECONOMICO

Considerando, como primeiro se fêz forte déficit de cereais, o principal en­


para o consumo, no movimento comer­ cargo (cêrca de 85°/o do total dos sal­
cial externo assentando directamente dos negativos), absorvendo o trigo, dos
sôbre a exploração agrícola, apenas os 6.850 contos que àquele correspondem,
artigos que dalgum modo se correspon­ não menos de 60 °/o; para os legumes,
dem em importação e exportação, e que hortaliças e frutas, como insuficiência,
são, no conjunto, o que fundamental­ o abastecimento em favascom um déficit
mente importa para dar um balanço às de cêrca de 500 contos; e como princi­
condições daquele movimento perante palmente importante na exportação, o
os naturais recursos da nossa agricul­ fornecimento de frutas, de tudo resul­
tura; e considerando ainda aquêles ar­ tando um superavit em volta de 1.000
tigos, como adubos e máquinas, cuja contos; para o azeite e vinho, aspecto
presença condiciona aquela exploração mais valioso da exportação, cêrca de
agrícola, pode organizar-se com os nú­ 11.000 contos de benefício, dos quais
meros da estatística aduaneira para 99°/o para o segundo dêstes produtos
antes e durante a guerra, o quadro elu­ (cujo valor corresponde proximamente à
cidativo, adiante inserto, exprimindo alta percentagem de 70% do total dos
médias anuais. saldos positivos); para os produtos de
Um rápido exame dêste quadro re­ origem animal um superavit relativa­
vela, para antes da guerra, a seguinte si­ mente baixo (94 contos), que a importa­
tuação, que poderemos considerar como ção de queijos principaimente contraria,
normal: i.°—em matéria de substâncias e a exportação de ovos principalmente
alimentares, no decénio 1904-1913, um alimenta; 2.0—as trocas de valores de­
11
IÔ2 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

rivadas do comércio de animais vivos, contos) num total de 9.700 contos, e a


resumem-se também em superavit de situação liquidará finalmente com um
algumas centenas de contos (854 no de­ déficit, pelo que respeita às relações
cénio) sendo elementos de maior valia, comerciais do Portugal agrícola com o
para o lado desfavorável da balança, o estrangeiro, no valor de 3 a 4 mil con­
gado vacum (déficit em volta de 500 tos, em média anual.
contos), e para o lado favorável, o gado O significado económico dêste resul­
lanígero (superavit em volta de 500 con­ tado não pode apreender-se com rigor
tos, igualmente) e os animais vivos não emquanto êle for assim considerado iso­
especificados (principalmente galinhas) ladamente; há que integrá-lo no apura­
no valor de 755 contos; 3.0—para ma­ mento geral do nosso comércio externo,
térias primas um superavit semelhante para definir-lhe as justas proporções
(830 contos no decénio), sendo seu prin­ perante a situação criada ao país pelo
cipal factor a exportação de cortiça no estado da sua balança comercial. É
valor de 4.000 contos (o segundo pro­ esta integração que adiante vai ser feita
duto em importância, depois do vinho), com uma análise sucinta daquele esta­
e figurando em contraposição, como do, a única que, para um problema de
principais encargos os déficits de lã e ordem tão geral, pode ter lugar em traba­
peles (2.700 contos); 4.0 — e em conclu­ lho de carácter especializado como êste é.
são, acrescidos os valores de adubos e Primeiramente, porém, convirá apro­
máquinas, um superavit global de 6.000 ximar, conforme o quadro, a situação
contos, números redondos, pelo encon­ derivada do estado de guerra, daquela
tro dos diversos saldos. que acaba de ser apreciada. Produzi­
O atentar neste resultado pode con­ ram-se, de facto, no nosso comércio ex­
duzir a um juízo errado contra o qual é terno, em sua conseqtlência, alterações
preciso desde já estabelecer a correcção bastante fortes em relação à normali­
devida; de facto, o benefício que êle tra­ dade, para que mereçam ser aqui con­
duz, embora pequeno se considerarmos sideradas.
que se trata de um país que tem como A começar também pelas substâncias
principal fonte de recursos a produção alimentares verifica-se: i.°—que as con­
agrícola, é desde logo anulado quando dições do abastecimento de cereais fo­
agora se complete com outros produ­ ram, mais do que nunca, pesadas para
tos derivados da agricultura, e que por nós; a importação do trigo quási atin­
método no quadro acima não ficaram giu nos três anos de 1915 a 1917 a mé­
inscritos, a respectiva lista de produtos dia de 130.000 T., no valor de 10.550
e artigos de comércio; que se juntem contos; o ano de 1916 foi sobretudo no­
à soma dos encargos os valores do tável (184.000 T. no valor de 17.000
açúcar estrangeiro, do algodão, do ta­ contos), e se não fôra, em 1917, ter bai­
baco, das sementes oleosas excedendo xado consideràvelmente esta importação
o fornecimento colonial, do linho e da (55.000 T. no valor de 7.693 contos, a
matéria prima vegetal para papel (res- que é preciso, porém, juntar pelo menos
pectivamente, no decénio, números re­ 1.425 contos de farinha de trigo), a mé­
dondos, 2.600, 5.300, 700, 500, 320, 280 dia elevar-se-ia ainda mais. É para no-
Importação Exportação
Saldos referidos Saldos referidos
Artigos de comércio ao decénio 1904-1915 ao triénio 1915-1917
1904-1913 1904-1913 1915-1917 1915-1917 1904-1915 1904-1913 1915-1917 1915-1917
Quantidades Valores Quantidades Quantidades Valores Valores
Valores Valores Quantidades Valores

Alimentos:
Trigo.......................................................... 91.219 Ton. 4.029 Contos 129.799 Ton. 10.S50 Contos — _
Milho..........................................................
Arroz...........................................................
36.701 » 1.119 » 13.601 » 682 » — _ — — _
— _ _
25-833 » 18.725 » 6.850 Contos
Hortaliças e legumes verdes. . . .
1.702 » 2.077 » — — — _ _ — íq.qoQ Contos
— 115 » — 118 » (*) xo.549 ton. 182 Contos (2) 11.607 Ton. 303 Contos
Legumes secos não especificados . (*> 964 » __ _
37 » 531 » 29 » (*) 5.848 » 184 » 5.85° » 307 »
Legumes secos—favas......................... 17.061 » 3.736 » — —
534 » 239 » — — _ —
Frutas verdes e sêcas......................... 40 » 38 » (*) 31.290 » I-4I4 » 30.407 » 1.639 » + 1.054 Contos + 1.885 Contos
Azeite.......................................................... —
— — — 266.000 Decai. 56x » í*) 346.000 Decai. 913 »
Vinho.......................................................... 970.010 Hect. 1.515.318 Hectol. _ _
— — — 10.813 » 15.476 » + ix.374 Contos + 16.389 Contos
Carnes ...................................................... 378 » 124 » 203 » 45 * 784 lon. 221 » 927 1 011. 304 »
Manteiga..................................................... (*) _ —
22 » 12 * — — — — — —.
Queijo...................................................... 506 » 214 » (*) 119 » 97 * 44 » 14 » (*) 48 » 20 »
Ovos.......................................................... — —
— — — 20.000.000 209 » 12.OOO.oco 132 » + 94 Contos + 314 Contos
Animais vivos: Totais dos alimentos. + 5.672 Contos + 5.279 Contos
Gado asinino.......................................... (*) 21.700 Cabeças 216 Contos — — (*) 22.443 Cabeças 234 Contos —
»
»
lanígero..........................................
caprino..........................................
40.600
8.301
» 80
18
» 152 Cabeças 0,4 Contos 303.870
76.490
»
»
578 »
156 »
19. H2 Cabeças
I2.562 »
_
51 Contos _
— _
__
» » — — 52 » — —
» cavalar.......................................... 7.500 » 390 » 1.060 » 137 » 7.400 » 369 » — — __
» muar.............................................. 6.960 » 516 » 446 » 43 » 7.940 » 56x » 851 » 135 » — —
» suíno................................................................. 36.200 421 » 128 » 2,1 » 35.088 » 429 » 1.4Ò6 » 16 » — —
» vacum........................................................... 45.100 » I.IIO » 2-551 » 78 » 12.552 • » 532 » (*) 1.621 »
124 » — —
Não especificados............................................... I. 621.000 » 755 138 » 854 Contos 256 Contos
— — » 300.OOO » 4- 4-
Matérias primas:
Cortiça (3)...................................................................... — _ __ (*) 80.232 Ton. 4-555 Contos 70.175 Ton. 3.806 Contos
Lã....................................................................................... 3.458 Ton. (*)
1.277 Contos 1.175 Ton. 1-333 Contos 1.117 » 135 » (*) 851 » 198 » — __
Peles................................................................................. 3-040 » 2.001 » (*)
4.175 » 4.170 » 1.911 » 308 » (*) x.691 » 651 » ___ ___
Madeira............................................................................. — 820 » 471 » — 845 » — 1.424 » — ___
Aduelas............................................................................. 5-127 Milh. 915 » (*) 2.513 Milh. 1.031 » — — — 4- 830 Contos — 926 Contos

Adubos...................................................................... 102.786 Ton. 1.180 » 52.262 Ton. 644 » (*) 5-743 » 35 42.659 » 535 » — x.145 Contos _ 109 Contos
'
Máquinas agrícolas . .............................. — (*) 159 » — 20 » — — — 159 Contos — 20 Contos
Totais gerais. . . . + 6.052 Contos 4- 4.480 Contos

(1) Refere-se ao ano de 1915.


(2) Refere-se ao ano de 1916.
(3) Inclue a exportação de rôlhas no va!or médio de 800 a 900 contos e na quantidade média de 4.C00 Ton.
N. B. Todos os números acompanhados pelo sinal (*) referem-se, quando nas colunas do decénio, não ao apuramento de 10 anos, mas apenas ao quinquénio 1909-1913, e quando nas colunas do triénio a apuramento por igual incompleto, no geral referente aos anos de 1915 e
1916.—Não figuram neste quadro alguns produtos aliás de menos importância que, pelas entradas e saídas, sensivelmente se equilibram nos valores.—Nas colunas dos saldos o apuramento de cada número é feito por grupos de artigos, dos quais o último de cada grupo é o inscrito na
mesma linha em que se encontra o número respectivo.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 163

tar, com êste produto, como com outros, quénio de 1909-1913, reduzido também,
que o aumento de valor não resulta em compensação, o movimento de en­
apenas—é bem de ver porquê—do au­ trada, à quinta parte; 6.°—que as maté­
mento do quantitativo importado, mas rias primas passaram, de um saldo po­
também do acréscimo no valor unitá­ sitivo de 630 contos, para um saldo ne­
rio; o trigo importado no triénio, em gativo de 926 contos, sendo a causa
média anual, excedeu em 45% aquêle desta gravosa mudança, sobretudo, um
que fôra importado, em média, no de­ acréscimo de cêrca de 2.000 contos no
cénio de antes da guerra, e todavia o valor da importação de peles, mais de­
valor do primeiro excedeu, à sua parte, rivado, como para o trigo, do aumento
em não menos de 150% o valor do se­ do valor unitário, do que da quanti­
gundo; em resumo, a importação dos dade importada; esta cresceu 35% e o
cereais custou o dôbro do que vinha valor 100%, sôbre o que haviam sido
anual mente custando antes da guerra e em média no decénio; 7.0—que o déficit,
absorveu, para o total dos saldos nega­ em resultado da importação de adubos
tivos, em volta de 95 % do seu valor; e máquinas, baixou a */io do que era,,
2.0—que na classe dos legumes e fru­ pelas restrições do consumo, que já fo­
tas, a situação continuou sendo de supe­ ram apreciadas em outra altura dêste
ravit, agora acrescido de 800 contos trabalho, e ao mesmo tempo, pelo acrés­
por se ter reduzido a metade, o valor da cimo anormal da exportação do pri­
importação de favas, ao mesmo tempo meiro daqueles artigos; 8.°—que, em
que teve um aumento de 500 contos a resultado de tôdas as alterações, o saldo
exportação, em globo, de hortaliças, fru­ positivo total baixou de 6.052 contos,
tas e legumes; 3.0—que o superavit de­ para 4.480 contos, diminuindo de cêrca
vido ao comércio de azeite e vinho teve de 27%, precisamente numa altura em
um aumento de 5.000 contos, dos quais que, como adiante se dirá, só um con­
nada menos de 91% para o vinho; a siderável aumento podia atenuar as di­
exportação média dêste artigo atingiu ficuldades económicas do País.
pela primeira-vez a elevada cifra de Se, como se fêz para a situação nor­
1.515.318 hectolitros no valor de 15.476 mal, colocarmos aquêle saldo a par dos
contos, o qual absorve, no total dos restantes encargos em alimentos e ma­
saldos positivos da média anual do térias primas importadas, a inscrever
triénio, não menos de 82 %; 4.0—que no Deve do País agrícola perante o es­
os produtos de origem animal deram trangeiro, o desconto a fazer é, em mé­
também superavit maior, mas principal­ dia anual, no triénio, aproximadamente
mente porque as importações diminuí­ de 16.500 contos (só de algodão 9.900
ram; 5.0—que o saldo positivo, para o contos), donde um déficit final de 12.000
comércio de animais vivos, ficou nota­ contos, suplantando até ao quádruplo o
velmente enfraquecido, passando de 854 que se apurou para antes da guerra.
contos a 256 contos, porque todo o mo­ Demonstrado fica pois à evidência o
vimento de saída de gados, a dar cré­ que, sob o aspecto que ora nos ocupa,
dito às estatísticas, reduziu-se ao sexto teve de pernicioso para nós o estado de
do que fôra, em média anual, no quin­ guerra; e vai ver-se de seguida, sempre
164 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

no campo económico, quando abraçado nosso estudo, considerar o estado do


o conjunto da balança comercial, como comércio até antes da guerra (ano de
se multiplicaram os seus malefícios. 1913), seguindo o mesmo caminho tra­
A evolução experimentada num pe­ çado em outras partes dêste trabalho.
ríodo de 47 anos, dos quais os dois úl­ Referindo-nos sempre ao gráfico, ve­
timos já em plena guerra, pelo nosso rifica-se que num período de cêrca de
comércio especial (importação para con­ 40 anos, a terminar já com o de 1913, o
sumo e exportação nacional e nacionali­ comércio especial aumentou em valor
zada), traduz-se em um acréscimo no 65.000 contos, números redondos, atin­
total de 127 milhares de contos, números gindo neste ano a elevada cifra de 124.264
redondos — 58 milhares em 1870, 185 contos (88.978 de importação, 35.286 de
milhares em 1916—ou seja mais do que exportação); proximamente duplicou o
a triplicação do valor inicial, repartido comércio especial neste lapso de tempo,
êste acréscimo pela importação e pela mas, ao passo que a importação quási
exportação, nas percentagens de 74 °/o e triplicava (de 33.000 contos para 89.000),
26"/o, respectívamente. Ao passo que o a exportação sofria apenas um acréscimo
valor das importações quási quadriplicou, de metade sobre o seu primitivo valor (de
não chegou, o das exportações, a tornar- 24.000 contos para 35.000). Para uma as­
-se duas vezes e meia superior ao que era. censão rápida na curva das importações,
O embaraço económico desta situação há antes, na das exportações, uma rela­
é fácil de prever para um país cuja ba­ tivamente pequena divergência ascen­
lança comercial tem tôda a importância sional sôbre o estado de estacionamento.
no saldar dos seus créditos e débitos, No decénio de antes da guerra, que
visto como são, no conjunto, de menos nos tem servido de referência, da situa­
valor para nós, as chamadas exporta­ ção atrás indicada resultou um déficit
ções e importações ocultas—à parte o médio anual de 33.000 contos, em fun­
que respeita a empréstimos e dinheiro ção, como segue, dos saldos das diversas
dos emigrados- muito aproximadas em classes da pauta:
conseqúência, as duas balanças, comer­
i.°—Animais vivos.. 882,2 contos Superavit
cial e económica, a ponto de servir bem,
2.0— Matérias primas
a primeira, para definir as condições para artes e indús­
económicas da Nação. trias............................ 21.6x8,9 contos Déficit
Representa o gráfico seguinte, elabo­ 3.0 — Fios, tecidos, fel-
rado em face dos Anuários do Comércio tros e respectivas
obras.......................... 5-471.3 contos Déficit
e Navegação, de 1913 e 1916, a evolução
4.0— Substâncias ali­
acima referida. mentares .................. 19,8 contos Déficit
Ressalta dêste gráfico, desde logo, a 5.0— Aparelhos, ins­
anormalidade da situação criada pela trumentos, máqui­
guerra, que imprimiu ao comércio do nas e utensílios em­
ano de 1916 uma variação brusca, com pregados na ciência,
nas artes, na indús­
um extraordinário aumento no valor das tria e na agricul­
importações. É justamente em face desta tura; armas, embar­
anormalidade que interessa primeiro, ao cações e veículos.. 5.952,4 contos Déficit
165
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

MILHARES DE CONTOS

ISO /
170 /
COMÉRCIO ESPECIAL

160
CONVEKÇÕES:
/

ISO Total ------------------ /


Importação para consumo ---------------------_

140 Expcrtnçio nacional • nacionalizada-----------------------


/
430
/ /
120
% /
1
. »o
j
j
100
i
ao / t
/ 4 V j

80 /
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S 5 O 2 5

6.°—Manufacturas di­ breza do nosso solo em jazigos de mi­


versas......................... 3-540,3 contos Déficit nério (dela derivou cêrca de metade do
Taras...................... 126,0 contos Déficit
déficit desta classe da pauta), e pelo
Não é da nossa alçada o exame deta­ insuficiente abastecimento de lãs e peles,
lhado destes números, mas, num simples quanto a matérias primas vegetais. De­
golpe de vista, apreende-se a escassez pendemos depois, grandemente, do es­
dos recursos nacionais em matérias pri­ trangeiro, quanto a fiação e tecidos,
mas para artes e indústrias, denunciada, comodêle dependemos no fornecimento
como é sabido, principalmente pela po­ de máquinas de tôda a sorte.
i66
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Fica, em resumo, apenas quási em perior a 38.000 contos, foi principal­


campo a agricultura, como produtora mente devido, para as substâncias ali­
de matérias primas, como geradora mentares, à importação de trigo (mais
de alimentos e criadora de gados, a dar 10.000 contos), para as matérias primas
vigor à actividade nacional, a servir de de origem animal, à importação de peles
base à criação das riquezas. É pois e coiros, para as de origem vegetal, à
nesta altura que a situação atrás expos­ importação de algodão e tabaco (prin-
ta, no apuramento das contas que lhe palmente influindo o aumento de pre­
respeitam, vem a pêlo ser considerada, ços), para as de origem mineral, à im­
para se chegar à conclusão de que, sob portação de carvão e ferro (absorvendo,
o pêso das suas elevadas responsabili­ também pelo extraordinário agravamen­
dades económicas, a exploração agrícola to do custo, não menos de metade daque­
da terra, entre nós, não corresponde ainda la diferença). Com relação ao ano ante­
a estas responsabilidades e carece de rior, de 1915, que foi, pode dizer-se, nor­
intensificar-se,de multiplicar os esforços, mal em confronto com as médias de 1912
aliás já grandes, que emprega, em têr- a 1914, o total das importações aumen­
mos de criar maior riqueza e de corri­ tou de 53.000 contos, números redondos,
gir as deficiências naturais que, em ou­ sendo cêrca de 4/3 désse aumento devido
tros aspectos, nos couberam em sorte. ao carvão, e não menos de outro têrço
Para terminar êste estudo, faça-se devido a prod utos que a nossa agricultura
agora um paralelo entre os números precisa esforçar-se por fornecer (só ao
acima e aquêles que decorreram do trigo, à sua parte, corresponde 4/õ).
estado de guerra, utilizando para isto Em contrapartida, a exportação cres­
os dados de 1916. ceu ainda, com respeito a 1915, de 22.000
Com um valor no total de 185.325 contos, devido êste acréscimo, em não
contos, o comércio especial de 1916 de­ menos de 5o°/o, à produção agrícola e
compôs-se em 129.310 contos de impor­ participando nêle, na alta percentagem
tação para consumo e 56.015 contos de de 47 %, o aumento do valor da expor­
exportação nacional e nacionalizada; isto tação dos nossos vinhos. Não trazem
é, a situação apresentou um déficit de estes números alteração, antes dão mais
73.295 contos, que excedeu em cêrca de fôrça, às breves considerações feitas
110% o déficit médio anual no decénio atrás como crítica da situação econó­
de antes da guerra. Êste excedente, su­ mica normal.

IV—Condições da exportação de produtos agrícolas.


A concorrência de outros países

Se o País tem de contar em primeiro suas relações externas, para obter a


lugar com a valorização dos próprios maior soma dos seu valores de troca.
recursos naturais, pela exploração agrí­ Ressalta do simples encarar nesta cir­
cola, para abastecer-se e criar o núcleo cunstância que é dum interêsse máximo,
mais forte da sua riqueza interior, com no campo da economia nacional, o conhe­
ela tem que contar, e conta também, nas cimento das condições em que se en­
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 167

contra a nossa exportação de produtos Claro que as duas escalas, a dos va­
agrícolas, do grau de desafogo, da vita­ lores e a das quantidades, não condi­
lidade que vem manifestando, das suas zem, sabido como é que o preço unitário
possibilidades e dos riscos a que por­ dos vinhos generosos sobreleva, em mui­
ventura está sujeita. É agora um rápido to, o dos vinhos comuns. Para um espaço
exame destas questões que fará o objecto de tempo mais restrito, o decénio de
dêste último estudo.' 1904 a 1913, que tem sido estudado, o
Está já dito que ocupam o primeiro exame detalhado da nossa exportação
e segundo lugar na exportação, respec- vinícola pode traduzir-se em números
tivamente, o vinho e a cortiça. No decé­ no quadro que segue na página 170.
nio de antes da guerra, para uma expor­ Fica posta em evidência a importân­
tação, em média anual, no valor de 32.000 cia, para êste ramo do nosso comércio,
contos, números redondos, 48 °/o per­ em condições normais, dos mercados
tencem àqueles dois produtos em con­ inglês e brasileiro, 0 primeiro para os
junto, 34 °/o para 0 vinho, 14% Para a vinhos generosos, o segundo para os
cortiça. No triénio de 1915-1917, para vinhos comuns, em especial; e ainda,
uma exportação, em média anual, no va­ para êste último tipo, a relativa impor­
lor de 48.000 contos, 40 °/o pertencem tância, susceptível de notável incremento,
ainda aos mesmos dois produtos, para do mercado colonial (África Portuguesa).
o vinho 32 0/0 e 8 °/o para cortiça. Com­ A anormalidade do ano de 1916 tra­
preende-se o interêsse que tem o consi­ duz-se, para um total de 2.309.682
derar estes dois aspectos do nosso co­ hectolitros, no valor de 23.332 contos,
mércio externo, para o estudo das con­ em uma saída excepcional de vinhos
dições económicas nacionais. comuns para França, nada menos de
Dá idéia do que tem sido a evolução 1.260.292 hectolitros, quantitativo que
da exportação vinícola, o gráfico inserto só encontra correspondência nos recua­
na página 168, elaborado com os dados dos anos de 1886 e 1888 e cujo apareci­
do Anuário do Comércio e Navegação mento esporádico não pode tomar-se à
—ano de 1916. conta de uma tendência que se define,
Deduz-se do gráfico que o nosso como não pode dar lugar a fundadas
comércio de exportação de vinhos vem esperanças de alargamento do consumo
mantendo-se, sem muito fortes oscilações externo. Outros países aumentaram
dentro de um período de não menos de também, sensivelmente, os seus consu­
80 anos, variando, na escala dos valores, mos, por exemplo a Dinamarca e a In­
em volta da média de 11.000 contos, glaterra para os vinhos comuns; igual­
dos quais cêrca de 52 °/o para o vinho mente, e de um modo mais pronunciado,
do Pôrto, 40 % para os vinhos comuns ainda, os mesmos dois países para o vi­
e 8 % para o vinho da Madeira. nho do Pôrto, bem como a Noruega,
Só em 1916 sobrevém uma alteração que, à sua parte, quintuplicou o respec-
brusca, especialmente devida a um acrés­ tivo consumo.
cimo, verdadeiramente excepcional, no Mas é todavia do conhecimento geral
valor da exportação dos vinhos comuns, o que tem de instável, de aleatório, o
facto êste que adiante será considerado. comércio dêste produto na época que
i68 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

MIUtAKtS 02 ©COTOS
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 169

atravessamos e como todos os países quantitativos e valores da cortiça expor­


produtores estão lançados no campo de tada, em média anual, no qílinquénio
uma feroz concorrência. Portugal, pos­ de 1909-1913 e no triénio de 1915-
suidor de tipos inconfundíveis de vinho, -1917: 80.232 T. no valor de 4.555 con­
como o Pôrto e o Madeira, para só fa­ tos para o primeiro caso, 70.175 T. no
lar dos generosos, por demais tem valor de 3.806 contos para o segundo.
sentido, não obstante ser o único país Pelo que respeita às quantidades ex­
capaz de levar ao mercado mundial portadas estes números são denuncia­
estes primores da produção vinícola, os dores de progresso recente; é assim
duros efeitos dessa concorrência, ao que nos quatro anos decorridos de 1904
mesmo tempo que as conseqúências da a 1907 a cortiça saída não excedeu em
campanha geral travada contra o con­ média anual 58.000 T. (Constàncio
sumo de vinhos, sobretudo de alta gra­ Roque da Costa, op. cit.); porém, pelo
duação, pelas populações. Nascem da­ que respeita ao valor do produto não
qui as actuais dificuldades com a colo­ há melhoria de situação; ao contrário,
cação dos vinhos portugueses na No­ por isso que, por exemplo, pela estatís­
ruega e na Bélgica. tica, tanto valeram aproximadamente as
A par dos competidores leais, que 80.000 T. da média de 1915-1917, como
evidentemente os tem, principalmente as 65.000 T. de 1907 (4.555 contos con­
no grupo dos vinhos de pasto, em que tra 4.405).
outros países produtores teem justa­ E sabido como o comércio de cortiça
mente, e desde muito, a sua reputação atravessou uma crise bastante difícil da
feita, surgem os competidores sem es­ qual muito se ressentiu 0 País; essa foi
crúpulos a que dão vida as poucas exi­ a própria crise da indústria rolheira
gências, a falta de afinamento do pala­ mundial que, tendo atingido 0 máximo
dar do grosso dos consumidores; e é da produção e consumo de 1895 a I9°°
tocar em assuntos de todos bem sabido, (Produção e Indústria Corticeira, Oli­
e sempre na ordem do dia, o referir veira Soares, Amaral Neto, Nunes Me­
aqui tôda a série de falsificações e de xia, 1912), data culminante em preços,
abastardamento a que tem estado sujei­ para o produtor português, decaiu de­
to, nos mercados estrangeiros, o comér­ pois rapidamente pela descoberta e pro­
cio dos nossos vinhos de mais justificado gressivo emprêgo dos discos como su­
renome. Para citar caso bem recente cedâneo das rolhas. Porém, a partir
não há mais que lembrar a questão das de 1905-1906 o mercado consumidor
mistelas agora debatendo-se em França, torna a fortalecer-se, porque depressa
com assaz grosso escândalo, nascida de haviam surgido para a matéria prima,
um negócio dúbio, mais uma vez em de­ em disponibilidade relativa, novos usos
trimento do comércio vinícola nacional. e variadas formas de aplicação.
Segue-se o falar da cortiça, produto Daí uma garantia, que parece relativa­
também rico para nós, no tocante à ex­ mente firme, de não faltar ao nosso co­
portação. mércio êste forte apoio. E de facto 0
Estão citados no mapa das importa­ País, pelo quantitativo exportado, ocupa
ções e exportações, atrás inserto, os sempre um lugar de destaque, porque,
170 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

MÉDIAS ANUAIS NO DECÉNIO DE 1904-1919

VINHO DO PORTO VINHOS COMUNS VINHO DA MADEIRA

Países Percen­ Países Percen­ Países


de destino tagem de destino tagem de destino
para o para o
Percentagem Percentagem Percentagem
total total
dos consumos dos consumos dos consumos

B.<

ON

V = Valor. Q = Quantidade

se produz mais de metade da cortiça do acima, 0 valor unitário antes tende a


mundo, conforme está indicado nos ma­ diminuir. Prende-se esta circunstância
pas da produção e exportação, a maior com o modo de ser da nossa exportação,
parte da matéria prima produzida vai que tem que apreciar-se em poucas pa­
lançá-la no mercado externo, à frente lavras.
dos restantes, poucos, produtores. Portugal é sobretudo, quanto à corti­
Nem da diminuição acima consignada ça, um exportador de matéria prima
para a exportação do triénio 1915-1917 em bruto ou ligeiramente trabalhada,
devem resultar apreensões: essa dimi­ e é em mínima parte um exportador de
nuição foi consequência lógica do estado produto manufacturado. Por exemplo,
de guerra e natural é que desapareça na exportação de 1913, das 93.000 T.
em seguida; de facto um dos maiores exportadas, saíram em bruto ou quási
consumidores da cortiça portuguesa era (aparas, pranchas, serradura, cortiça
a Alemanha—em 1913 absorveu 16 °/o virgem), mais de 95 °/o (88.457 T.), no
da nossa exportação; e foi precisamente valor de 3.913 contos, só para as duas
êste o mercado que depois nos faltou. primeiras categorias, e como produto
Não é porém, já assim, de bom aspecto, manufacturado, dalguma importância,
a valorização com que se apresenta a apenas 3.960 T. de rolhas, no valor de
cortiça nacional; o Pais, em face do muito 890 contos. Esta relatividade tem per­
que exporta, não logra benefícios propor­ sistido ; é o aspecto normal.
cionados e, o que é pior, como se disse Outros países, produtores como o
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 171

nosso, que, ao mesmo tempo que pro­ aliás demonstradas, para a boa quali­
dutores, são fortemente industriais da dade da mesma produção", quere isto
cortiça, realizam com uma menor capa­ dizer que pode vir a reforçar os núme­
cidade de produção um benefício muito ros, relativamente baixos, que hoje a
mais sensível; tal é o caso da nossa vi­ estatística do movimento comercial lhes
zinha Espanha que, por exemplo, ven­ atribue, se 0 único obstáculo a remover
deu ao estrangeiro, em 1905, 7.102 con­ fôr o de descobrir, no meio produtor,
tos de cortiça, emquanto que as nossas maiores possibilidades.
vendas ficaram em 3.664 contos apenas. Há porém que contar com a caracte-
Deduz-se da situação, a priori, que o rística, que quási sempre acompanha a
país precisa de lançar-se justamente nossa produção, do seu elevado custo
nesta corrente da intensificação da in­ -recorde-se o que ficou dito em outra
dústria corticeira, como única forma de altura dêste trabalho, sobretudo o que
conseguir maior soma de valores — respeita aos nossos encargos de mão
dado que dum aumento da exportação de obra—, característica que na luta pela
da matéria prima, com carácter aturado, conquista dos mercados, nos embaraça
não haverá muito a esperar, porque grandemente a marcha.
outros produtores, sobretudo os novos Concretamente, alguma cousa pode
produtores, de grandes possibilidades, referir-se nesta ordem de idéias. Ve­
— o caso da Argélia — virão a certa ja-se o caso da exportação do azeite:
altura tolher-nos o passo. Todavia para êste produto, o principal consumi­
mais uma vez aqui a concorrência criará dor externo vem sendo o Brasil; de
fortes embaraços, porque na colocação 213.322 decalitros exportados em 1913,
dos produtos desta pressuposta indus­ mais de metade (111.041 decalitros) ti­
trialização, em larga escala, haverá o veram aquêle destino; e todavia êste
País que defrontar-se com tôda a soma mercado não nos está assegurado, como
dos interesses alheios desde muito cria­ está por exemplo para os nossos vinhos
dos, e com tôda a actividade dos centros comuns; di-lo nos seguintes têrmos no
de produção desde muito trabalhando Inquérito para a Expansão do Comércio
com boa margem de lucros e a preço Português no Brasil, de 1916, o nosso
barato, em termos de se tornar difícil, cônsul naquele país: «também é nosso
uma acção de competência com alguns o primeiro lugar na exportação de
visos de bom resultado. azeite, mas aí a nossa situação é peri­
Se, como fecho, juntarmos agora a êste gosamente estacionária e não acompa­
quadro em que figuraram, para a pro­ nhou o aumento do consumo que foi
dução agrícola, os nossos mais impor­ de 50 % no decénio citado—refere-se a
tantes recursos actuais de exportação, 1902-1911—, ao passo que as vendas
alguns outros produtos que nos sobe­ da Espanha septuplicaram e as da
jam do consumo e vamos colocando no França e Itália duplicaram. É pois evi­
estrangeiro, as frutas, hortaliças e legu­ dente que, se não acelerarmos a nossa
mes, e o azeite, verificaremos que o marcha, não tardaremos a ser alcança­
País tem condições para o alargamento dos...». Podem ficar por aqui as refe­
da sua produção, como tem condições, rências e pode dar-se por findo o estudo
I72 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

das condições da nossa exportação e do de base bastante para algumas das


que ela tem a temer em matéria de apreciações com que, seguidamente, vai
concorrência. O que está dito serve terminar êste trabalho.

V—Conclusão

Não é ao autor que compete extratar agora, porquanto já tem sido feita, para
de quanto veio sendo exposto, o que ali completar a vista de conjunto sôbre a
há de fundamental e mais característico situação.
para definir, com o possível rigor, o es­ De facto deve ainda repetir-se que, se
tado em que se encontra, no ponto de a agricultura portuguesa não fornece
vista económico, a agricultura nacional. nesta hora ao País todos os recursos
Alguém fará êsse trabalho de síntese, que as suas possibilidades explorativas
para esta como para outras memórias deviam garantir-lhe, tem sido, em todo
similares. Por outra parte, no decorrer o caso, grande o seu esforço no sentido
dos diversos estudos, supomos que foram de cumprir a sua missão e grandes de­
postas bastante a claro as conclusões vem resultar, quando somadas, para um
que êles comportam, para que seja dis­ balanço da nossa actividade, as energias
pensável, ainda mesmo apenas para fa­ dispendidas em valorizar o solo agrícola
cilitar a tarefa alheia, pôr em maior des­ nacional. Há o direito de julgar assim
taque, nesta altura, o significadodequanto duma agricultura de cujo trabalho pôde
se expôs. Mas é ainda conveniente, para escrever-se, com rigor, esta apreciação,
complemento da tarefa de que nos in­ duma eloqúente simplicidade:
cumbimos, deixar aqui expressas umas ...«Em tais condições—o autor refe­
impressões últimas, a traduzir em pou­ re-se às dificuldades de capital — não
cas palavras, no fecho desta memória. temos que censurar o atrazo agrícola,
Suponho que três teses ficaram aqui só temos que admirar o muito que a
demonstradas, a primeira de que a agri­ agricultura nacional fêz, nem reparar
cultura portuguesa trabalha muitas ve­ no tempo que levou a realizá-lo. Arro­
zes em meio ingrato, que urge melho­ teou-se uma enorme área de charneca,
rar na medida do possível; a segunda alargou-se por dezenas de milhares de
de que, para estas condições de meio, a hectares a superfície ocupada pelos
mesma agricultura está antes mal do montados e pelos pinhais, fez-se a sur­
que bem apetrechada; a terceira de que, preendente reconstituição dos vinhedos
em conseqílência, a produção é no ge­ arrazados pela filoxera, aumentou-se a
ral insuficiente e cara, e os seus exce­ cultura da vinha, apesar da invasão de
dentes, quando surgem, não asseguram tôdas as doenças que a deprimem, au­
à balança comercial todo o impulso fa­ mentou consideràvelmente o olival por­
vorável de que ela carece; supondo, tuguês, intensificou-se e desenvolveu-se
repetimos, que a estas afirmações feitas a cultura de trigo até quási duplicá-la,
conseguimos juntar as suficientes pro­ melhorou sensivelmente o gado, a al­
vas, uma quarta afirmação deve ainda faia, o fabrico dos lacticínios, do vinho
fazer-se agora, ou, melhor, repetir-se e do azeite.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 173

Para conseguir tudo isto, certamente sempre presente dos seus recursos. É
muito para os nossos recursos actuais assim que êle fere a nota do muito que
e pouco para o que podia e devia ser, se trabalha além para o pouco que se
foi preciso o trabalho de mais de 60 aufere em lucros, «the maximum of labor
anos e quási exclusivamente o realizou yields only a minimum of profit», e nos
a grande cultura, aproveitando os feli­ diz como a concorrência de produções
zes ensejos da valorização da cortiça, mais baratas, ao favor da riqueza do
da alta dos preços do vinho, do azeite, meio, não permite à Itália o alargamento
do trigo e do gado, acontecimentos oca­ na conquista dos mercados; é assim,
sionais e felizes, alguns custando, aliás, ainda, que o autor, pondo em destaque
sensível sacrifício em benefício nacional; a insuficiência das condições de trans­
quási todo êste sacrifício em benefício porte, mostra, a propósito, a necessidade
do capitalista, do grande proprietário, de corrigir até ao máximo, por largas
da grande indústria e do intermediário, obras de melhoramento, as imperfeições
ficando nas mãos do agricultor apenas do meio; e é assim finalmente que êle
o resíduo insignificante do lucro das não se esquece de salientar como, no
grandes operações que êle só realizou, jôgo do seu comércio externo, a Itália
e que o juro usurário e a astúcia comer­ está na situação difícil, que em grande
cial principalmente aproveitaram... » parte a natureza lhe criou, de ter de
(do Relatório da Junta do Crédito importar artigos de primeira necessi­
Agrícola, 1913). dade, ao passo que apenas pode lançar
Não há que negar à lavoura, para que na exportação outros que veem sendo
esta a inscreva no seu Haver, nas contas de cada vez menos insubstituíveis no
para com a Nação, tôda aquela obra a consumo das populações.
custo realizada, como não há que negar IQuantos pontos de contacto, ao citar
ao obreiro humilde dessa obra, ao traba­ estas referências, entre a situação da
lhador agrícola português, as qualida­ Itália e a situação portuguesa! Que se
des de aplicação, de resistência e de acompanhem nos seus detalhes, a par
sobriedade que o fazem notado, sobre­ das apreciações indicadas acima, aque­
tudo em regiões distantes, sofrendo por las que ficaram exaradas ao longo desta
vezes o embate de civilizações bem di­ memória e por vezes a impressão será
versas, e não poucas as agruras de um de que foi para nós, e em nosso favor,
expatriamento a que não faltam nem a que Ellis Darker usou da sua crítica
rudeza do trabalho, nem tão pouco a inteligente.
acção depressiva de um meio inóspito. De facto, à situação agrícola do País
No seu interessante estudo sôbre a é preciso opor-se, para bem da sua eco­
situação económica da Itália, ao sair nomia, mais do que uma profunda remo­
dos dias tormentosos da guerra, J. Ellis delação nos processos, o desenvolvi­
Darker (Economic Statesmanship) soube mento de uma acção vasta de melhora­
encontrar, em defesa de uma causa justa, mento do meio, que o conquiste, que o
a sugestiva definição, por um lado, do corrija, que o adapte emfim à cultura, e
esforço levado a cabo pela agricultura logo venha dar alento às iniciativas e
daquele país e, por outro, a escassez avigorar as energias, com as quais deve
174 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

poder contar-se, desde que esteja assim o Estado Português, no momento pre­
preparada, para as emprêsas, em vez do ciso em que, saído o País da guerra,
fracasso ou da quási esterilização dos es­ êle está, mais do que nunca, falho de re­
forços, umasuficientegarantiade sucesso. cursos, lançar mãos a uma obra de ta­
,;Mas pode acaso aquele a quem com­ manho vulto?
pete, de direito, a maior soma dêste tra­
balho necessário de fomento, pode acaso Lisboa, Novembro de 1919.
Campo Experimental de Meteorologia Agrícola
do Instituto Superior de Agronomia

AS OBSERVAÇÕES METEOROLÓGICAS DE 1914 A 1919 PELO PROFESSOR

Filippe Eduardo de Almeida Figueiredo


O pôsto meteorológico, que funciona Este Campo Experimental foi esta­
no Campo Experimental de Meteorolo­ belecido em Setembro de 1914 e desde
gia Agricola do Instituto Superior de então tem funcionado até hoje, recaindo
Agronomia, na Tapada da Ajuda, tem as observações, por emquanto, sôbre o
por fito colhêr os dados necessários número de horas de sol descoberto, a
aos estudos e experiências realizadas temperatura do ar e a do solo a om,3o,
no mesmo Campo para as demonstrações as chuvas e a humidade do solo à
da Cadeira de Física Agrícola e para a mesma profundidade, que são estes os
elucidação dos diversos problemas scien- principais elementos para o estudo da
tificos, segundo a orientação pessoal do acção do clima sôbre as culturas (1).
respectivo professor; bem como servir Os resultados das observações relativas
aos exercícios práticos dos alunos, e for­ aosanosde 1914a 1918, foram por mim pu­
necer aos professores das Cadeiras de blicados em folheto avulso, mas repetem-
culturas, os elementos meteorológicos, -se agora, juntamente com as de 1919,
de que porventura careçam para os para que fiquem arquivadas nestes Anais
seus trabalhos culturais. tôdas as observações desde 0 seu início.

TABELA I
ANO DE 1914

Número Temperatura Chuva


de horas
do ar
de Sol do solo
Quantidade
Número
a 0,30 em de dias
descoberto Média Máxima Ml Ima milímetros

Setembro...................... 26 511 21 21°,8 35°.3 15°,I 24°>4 4.2 I

Outubro........................... 25ih 47/ I7°>4 33°,2 8°,9 20o,7 143,8 IO

Novembro...................... I54h 57' 12o,9 20°,9 x4°>7 89,5


6o,4 12
Dezembro...................... 10411 1' ii°,5 i8°,i 2°,3 13°,3 266,6 25

(1) A observação dos instrumentos meteorológicos está a cargo do respectivo auxiliar


o Sr. Abilio Trovisqueira, que muito bom serviço tem prestado.
i76
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

TABELA II

A.KTO DE 1015

Número Temperatura Chuva .


de horas
do ar Quantidade ■
de Sol do solo
em
Número
a 0,30 de dias
descoberto Média Máxima Mínima
milímetros

Janeiro........................... 131*119' 9°>7 17o,0 2°,0 10o,9 ui,8 18


Fevereiro...................... 107*1441 10,°8 i6°,9 i56.6
2o,1 ll°,I 19
Março............................ I44h 49' 13°,2 21o,8 2°,6 14o,I 181,0 18
Abril.............................. 233*1 47' J3°.9 25o,6 6o,2 I5°.6 24,2 8
Maio............................... 237*1 28’ 17o,2 23o,8 9°,5 20°;3 60,5 11

Junho...................... 324*1 30' 20°,I 33°»9 10o,6 24o,0 3


1,0
Julho............................. 363*1 0' 22°,5 35°»7 12°, I 26o, 1 0,8 2
Agôsto.......................... 353h i5' 22°,7 35°>3 I3°>° 26o, 5 0,0 0
Setembro.................... 248*1 36' 20°,7 32o,2 7°»° 24°>5 18,6 9
Outubro......................... 208*1 20' 17°,2 29o,7 10o,2 20“,7 13.9 5
Novembro.................... II 1*1 32' I3°»7 21°,2 6o, 7 i5°,7 209,4 21
Dezembro..................... 101*1 51' 12°,9 i8°,8 3o, 1 i3°.8 121,0 20

Ano................................ 2.566*1 II7 i6°,2


35°.7 2o,O i8°,6 898,8 134
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 177

TABELA III

AXO DE 1918

Número Temperatura Chuva


de horas
do ar
de Sol do solo
Quantidade
em
Número
a 0,30 de dias
descoberto Mídls Máilma Mínima
milímetros

Janeiro........................... 195b 10' 9°,8 i7°>7 2o, I ii°,8 40.3 5

Fevereiro..................... J55h 40' 10°,7 17o,8 4°,i n°,8 106,5 16

Março............................ i58h 32' IIo,2 i6°,7 2o,6 12o,1 171,0 25

Abril............................. 2Ó2h 2lV 14°,4 25o,6 3°)8 i6°,4 16,2 5

Maio............................... 259h 4' I?°»4 31o,0 6o,9 20°,0 59.7 10

Junho ............................ 34lh 43' I9°>9 3i°,4 ii°,0 23°,2 14,8 1

Julho............................. 323h 07' 20°,9 35°.6 12°,2 24°>4 27.7 4

Agôsto........................... 344h 56' 22°,5 36o,6 14o,6 26o,2 . 0,6 1

Setembro...................... 24611 45' 2X°,5 33°,9 12°,3 24o,6 48,8 6

Outubro......................... 193h 59' i8°,3 29o,4 8°,8 20°,5 19,0 4

Novembro.................... 142b 40' 13°,6 21o,9 5°.6 I5°>3 169,6 12

Dezembro..................... I2Xh 39' ii°,9 i8°,9 2o,3 12o,7 118,6 20

Ano................................. 2.745h 36' 16o,0 36o,6 2o,I 18o,3 792,8 109


178 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

TABELA IV

ANO DE 1817

Número Temperatura Chuva


de horas
do ar Quantidade
de Sol do solo Número
a 0,30 em de dias
descoberto Média Máxima Mínima
milímetros

Janeiro.......................... I3ih 0' 9°i5 17°,I 2°,I io°,8 167.3 17


Fevereiro...................... I20h 2' I0°,0 17o,6 o°,6 il°,i 167,1 14
Março............................ 2I3h 20' IIo,5 I9°,9 2°,7 I3°4 94,6 13
Abril............................... 234h n' 13o,7 27o,0 3°,7 15o,2 49,4 10
Maio............................... 246b 37/ i6°,9 28o, 9 9°,8 19o,0 72,2 10
00

Junho............................. 32811 22'


H

33°,4 10o,0
On

23o,3 5.9 3 .
Julho............................. 3Ó6h 271 22°,8 37°,4 13°,4 25o,1 0,4 1
Agôsto.......................... 347h 49' 21°, I 32o,8 ii°,6 24o,6 . 1,2 I
Setembro................ ... 325h 35' 2I°,8 33°,9 I2°)4 24o, 1 0,0 0
Outubro......................... 2Q9h 35' 16o,6 27o,7 6°,5 20°,5 35,9 8
Novembro.................... 244h 35' 13°,4 23o-3 3o,6 14o,5 0,0 0
Dezembro.................... i52h 3' 8°,2 i6°,9 -o°,7 9o,8 37-° 7

Ano.............................. 2.919b 36' I5°>4 37°,4 *°°,7 17o,6 631,0 84


ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 179

TABELA V

ANO DE 10 18

Número Temperatura Chuva


de horas
do ar Quantidada
de Sol do solo
em
Número
a 0,30 de dias
descoberto Média Máxima Mínima
milímetros

Janeiro......................... 96h54' IIo,I 20o,5 -0°,6 IIo,I 222,5 21


Fevereiro...................... 2i3h 55' ii°,7 21°, 7 3o,9 12°, I 43,5 4
Março............................. 172^ 26' 12o,3 23°,O 4o,2 13o,O 57,6 15
Abril.......... .................... I92h 54' 13o,2 22°,4 4o,6 14°,3 77,6 J5
Maio............................... 3oóh io' 17o,6 30o,9 8°,o 19o,6 20,3 6
Junho............................ 329h 43' 21°,2 34°,0 IO°,2 24o,0 i,4 2
Julho............................. 333h 20' 22°,6 36°,5 13°,7 24°,9 0,8 1
Agôsto........................... 339h IO' 23o,6 37°>9 I4°>9 25o,9 i,4 1
Setembro .. •.............. i89h 24' I9°9 29°)5 12o, 3 21o,3 205,2 9
Outubro......................... 203^ 58' I5°»2 26°)5 5°.o 16o,5 I3,i 3
Novembro................... I55h 24' J3°i4 20°, I 6o,6 I3°>9 124,4 *5
Dezembro..................... mh 12' 10o >7 i6°,9 2°, I ii°,4 60,1 12

Ano................................. 2.6441130' 16o,0 37°,9 -o°,6 I7°.3 827,9 104


i8o ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

TABELA VI

A.3VO DE 1818

Número Temperatura Chuva


de horas
do ar Quantidade
de Sol do solo
em
Número
a 0.30 de dia
descoberto Média Máilma Mínima
milímetros

Janeiro......................... II2h IÇ' io°,o 16°,7 ■l°»o IO°,2 134.9 15


Fevereiro..................... Ó4h 34’ 12°,5 17°,9 4°.9 12°, 7 I9".3 23

Março............................. i7ih 43' 120,4 18o,9 4°, 1 13o,6 49.2 12

Abril.............................. 244h 39' x3°«9 280,4 5°.i 16o,0 59.8 10

Maio............................... i1 16o,9 32o,0 6°,5 26,0


321*1 2 L°,3 5

Junho............................. 33Óh 55' 21*1,7 35°>5 11o,2 2Õ°.5 23.8 6

Julho............................. 3°5h 5' 21o, 3 37°>5 9o,2 25o) 3 2,0 1

Agôsto.......................... 35óh 0' 24°>5 S9°>7 14°,4 27o,0 0,0 0

Setembro.................... 1991116' 21°,9 39o.2 12°,6 24°7 1,0 2

Outubro........................ i68h 40' 16o,9 26o, 1 8o,0 17°>4 36.1 6

Novembro.................... 140*» 52' J2°,2 19o,9 4o,2 12°, 9 160,1 16

Dezembro.................... 116*1 30' IO°,8 i8°,8 4°-5 10o,9 82,2 11

Ano................................ 2-537h 34' 16o,3 39°,7 -i°,o 18o,2 772.4 107


TABELA VII

Elementos médios relativos aos 5 anos (1915 a 1919)

J F M A M J J A S 0 N D Ano

Temperatura do ar............................... 10,0 ii,i 12,1 13,8 17,2 20,5 22,0 22,9 21,2 16,8 i3,3 10,9 16,0

Média das máximas........................... 14,1 15.1 16,0 18,5 21,9 26,2 27,6 28,9 26,7 21,9 *7.4 14,6 20,7
Média das mínimas. ......................... 6,7 7,7 8,3 9,o 12,2 *4,7 16,5 17,0 *5.9 12,1 9-6 7.8 11.5
Temperatura do solo a 0,30............. 11,0 n,8 13,2 15.5 20,0 24,0 25,2 26,0 23,8 I9>1 *4-5 ii,7 18,0

r quantidade em mm............. 135.4 134,2 no,7 45,4 47,7 9,4 6,3 0,6 54.7 23,6 132,7 83,8 784,5
Chuva j
[número de dias................... 15.0 15.2 16,6 9,6 8,4 3,o 1,8 1,0 6,2 5.4 12,4 14,0 108,6

Insolação ................................................. i33h 20' I32h 23' I72h io' 233h 34' 27 4h 4' 332h 15' 338h 12' 348h 14' 24*h 55' i9Ôh 54' i59h 1' I20h 39' 2.682h 41'
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 181

Insolação.—O número de horas de ma, se bem que também nêle se regis­


sol descoberto, registado pelo helió- tasse a menor mínima: foi, pois, dos
grafo de Campbell, foi êste ano de cinco, aquêle em que a amplitude da
2.537b 34/> da sua comparação com os oscilação térmica anual foi maior.
anos anteriores, vê-se que êste foi o
Méd. Már. Min. Amplitude
menos insolado:
1915.... l6,2....
Número de horas Fracção
35.7» .. 2,0.. • 33.7
1916.... 16,0.... 36,6.. .. 2,1.. »
de sol descoberto de insolação 34.5
1917.... .. -0,7.. » 38,1
1915....... .... 2.566hn/...... ■••• 57>9 15.4— 37.4-
1918.... 16,0.... .. -0,6.. •• 38,5
1916...... •••• 2-745h36'...... .... 61,8 37)9»
16,3....
1917...... .... 2.9^36'...... .... 65,9 1919.... 39.7- .. -1,0.. » 40.7
1918...... .... 2.644b 30'...... 59)7
1919...... -••• 2.537b 34'....... Na tabela VI se vê qual foi a marcha
57)3
da temperatura no decurso do ano.
Média.... 2.682h 41'........... 60,5

A fracção de insolação, isto é, a per­ Temperatura do solo.— Nesta mesma


centagem do número de horas em que Tabela VI se pode fazer a comparação
o sol de facto brilhou sôbre o número da temperatura do ar com a do solo,
total de horas em que êle deveria bri­ nos diversos meses da ano, e notar-se
lhar, do nascimento ao ocaso, se não que esta última foi sempre superior
houvesse nuvens que o encobrissem, foi àquela.
para cada um dos meses dêste ano: Neste ano, além da observação feita
a om,3o, observou-se também a tempe­
F racção F racção
de insolação de insolação
ratura a om,8o; eis os resultados das
duas observações:
T» ........ 37»1 J- ...... 67,7
F. ........ 21,4 A. ...... 84)8 a om^o a om,8o Dif.
M ........ 46,5 S.. ...... 53.4 J.......... .. 10,2.........- 12,5......... - +2,3
A ........ 61,9 O. ...... 48,8 .. +0,8
F........ • • 12,7......... - *3.5.........
M ........ 72.7 N. ........ 46,5
M.... •• *3.6......... - I5.1......... + i.5
J. ....... 76»° D., ........ 39.5 A.... .. 16,0............ 16,6......... ... +0,6

0 maior número de horas de sol M.... •• 21.3......... -0,5


T. ..
coube ao mês de Agosto e o menor J .. 25.^......... ... 24,4......... ... — I.T

número a Fevereiro, que recebeu pouco J......... - 25>8......... •• 25>7......... ... —0,1
A.... 0,0
menos da quarta parte. •• 27>°......... - 27»°.........
S........ - 24.7......... - 25.9......... ... + 1,2
O.... +4»1
Temperatura do ar.— Apesar de ser - i7.4......... - 21,5.........
o ano de 19T9 aquêle, dos cinco, que re­ N.... - *2,9......... *6,7......... -• +3.8
cebeu menor insolação, não deixou por D.... - 10,9....... ••• *3.8......... ... +2,9

isso de ser o mais quente de todos,


como se vê pela comparação das respec- Desde Janeiro até Abril a tempera­
tivas médias; sendo ao mesmo tempo tura a om,8o é superior à temperatura a
aquêle em que se notou a maior máxi­ ora,3o; em Maio, Junho, Julho e Agosto
182 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

passa a ser inferior, voltando de novo sido um ano perfeitamente normal, co­
a ser-lhe superior nos restantes meses. mo o mostra a sua média, sensivelmente
Quando a temperatura diminue com igual à média do referido período.
a profundidade, quere dizer que o calor A totalidade da chuva caída neste ano
penetra no solo; quando aumenta é que, foi de 772mm,4, o que, tendo a Tapada
pelo contrário, o calor sai do solo. Ve­ uma área de 100 hectares (proxima­
mos, pois, que êste ano o calor come­ mente), corresponde a 772.400 metros
çou a penetrar no solo da Tapada em cúbicos de água.
Maio, atingindo, a ora,8o de profundi­ Desta chuva total coube a cada mês
dade, a sua máxima no mês de Agosto; a seguinte fracção:
iniciando-se em Setembro a saída do Fracção Número
calor, saída que se prolongou por todo pluviométrica de m3

o inverno, alcançando a mínima no J....... 17.5.......... I34.9OO


mês de Janeiro. F....... 25»5.......... I97.3OO
M.... 6,4.......... 49,200
Chuva.— No ano de 1919, no Campo A..... 7,7.... ..... 59.800
Experimental de Meteorologia Agrícola M..... 3.4.......... 26.000
do Instituto, o udómetro indicou uma j...... 3.i.......... 23.800
quantidade de água de 772mm,4 repartida j...... o.3.......... 2.000
por 107 dias. A..... O
O confronto com os anos anteriores S....... 0,1.......... 1.000
dá-nos o seguinte: O..... 4.7.......... 36.IOO
Quantidade Número Intensidade N..... 20,7.......... 160.IOO
de dias média D...... 82.200
1915........ . 898,8... .. I34.... .. 6,7
1916........ . 792,8.... .. IO9.... •• 7.3 Fevereiro e Novembro foram os me­
1917........ . 631,0.... .. 84.... ses mais fortemente contemplados, ca­
•• 7.5
1918........ . 827,9.... .. IO4.... .. 8,0 bendo quási nada a Julho, Agosto e
*9*9........ • 772»4— .. IO7.... .. 7,2 Setembro.
Médias.. . 784,6.... .. 107,6..
•• 7.3 Uma grande parte desta água evapo­
rou-se de novo, uma outra escoou-se à
Se as médias dum período de cinco superfície do solo e uma terceira parte
anos se pudessem considerar suficientes foi infiltrada na terra.
para caracterizarem a pluviosidade na É esta última parte que nos conviria
Tapada da Ajuda, o ano de 1919 teria conhecer com a máxima aproximação.
TRABALHOS DOS ALUNOS
0 distrito de Viseu
ESTUDO DEMOGRÁFICO

TRABALHO APRESENTADO AO LENTE DA CADEIRA DE ECONOMIA RURAL PELO ALUNO

José Joaquim da Costa Lima


O distrito de Viseu, pertencente à dados por pastores—e assim é que se
província da Beira Alta, é limitado ao vêem quási sem vegetação as cumiadas
norte pelos distritos de Vila Real e e parte das encostas de várias serras.
Pôrto, a oeste pelo de Aveiro, ao sul Dos 501.870 hectares, área do dis­
pelo de Coimbra, a leste pelo da trito, 297.327,67 hectares pertencem a
Guarda e a nordeste pelo de Bragança. terras cultivadas e 204.542,33 hectares
E a sua área de 5.018,7okma. são incultos (isto segundo a estatís­
Tem êste distrito 24 concelhos, dos tica agrícola de 1902, última publicada).
quais o maior em superfície é o de Daqui é fácil ver-se que as percenta­
Viseu com 507,iokm2. gens da superfície cultivada e da inculta
Sob o ponto de vista agrícola dire­ para a área total do distrito são respec-
mos que o aproveitamento do solo de­ tivamente 59,24% e 40,76%.
pende da sua natureza. É êle em quási Apesar de grande a percentagem de
tôda a sua totalidade derivado de grani­ área inculta ela é contudo inferior à do
tos, xistos precâmbricos e câmbricos, continente (56,87 % de cultivada e
sendo dêstes últimos que é formado o 43»T3 % de inculta).
solo da região vinhateira do Douro. A percentagem de superfície cultiva­
Embora seja mais freqilente os gra­ da, não só no distrito de Viseu, mas
nitos originarem solos férteis do que os mesmo no continente, diminuiu de 1874
xistos, a verdade é que em alguns a 1902.
pontos, como nos arredores de Viseu, Segundo esta última estatística a área
estes últimos, produzem solos ricos, ao cultivada do distrito de Viseu está dis­
passo que os granitos solos áridos. tribuída do seguinte modo pelas diferen­
Como as demais terras que lhe ficam tes culturas:
ao norte, na província de Trás-os-Mon- Área Percentagem
tes, são estas um tanto fracas, por via (em hectares) para
de regra, pobres em cal. a área total

As regiões mais montanhosas estão Culturas arvenses e hor-


quási inteiramente incultas—o que não tícolas............................ 118.620,45 39,89

quere dizer improdutivas, visto que al­ Matas (carvalho, pinhei-


ro e mais essências)... I08.489.O4
gumas serras conhecemos nós, onde, a 37,5°
Vinhas............................... 29.440,49 9,90
nosso ver, com vantagem se faz o apro­ Olivais............................... 15923,03 5,35
veitamento do solo com rebanhos de Amendoeiras, figueiras e
ovelhas, ou de cabras e ovelhas, guar­ outras árvores de fruta 8.162,85
2,75
i86 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Soutos................................... 7-673.53 2,59 do Minho, mas, como os dêste, criados


Montados (azinheira e so­ em videiras de enforcado.
breiro)............................... 5.925,24 2,02
Há olivais espalhados por tôda a
Contudo, estes números devem estar parte; vão bem nas grandes altitudes,
hoje em dia longe da verdade; não só sendo estas quási sempre superiores a
por muitas matas terem sido abatidas, 400 metros. E precisamente nos conce­
talvez com ferocidade e ganância dema­ lhos do extremo norte e nordeste, a sa­
siadas, devido ao elevado preço que ber, S. João da Pesqueira, Tabuaço,
nestes últimos anos as madeiras teem Armamar, que a produção de azeite é
atingido, mas também por muitos soutos maior. O azeite, na maioria dos casos,
terem desaparecido, já por análogas é fabricado em lagares de vara com
razões, já devido à terrível «doença moinhos movidos a sangue; há muitos
dos castanheiros» que tanto os tem dizi­ moinhos a água e apenas 2 a vapor, 1 a
mado. petróleo eia electricidade (Quinta da
Por outro lado temos conhecimento Insua, Penalva do Castelo). Já há gran­
de que, nestes últimos anos, a oliveira de número de prensas de preparo e
tem sido plantada em larga escala. apenas 10 hidráulicas.
Também o Douro, a primeira região Pomares, há-os magníficos nos vales
do nosso país atingida pela filoxera, se do Dão e do Douro, sendo daqui repu­
está reorganizando embora lentamente. tados como dos melhores, os seus laran­
São características de tôda a parte jais. A amendoeira e a figueira encon­
montanhosa do distrito, a cultura do tram-se nos concelhos que marginam o
centeio seguida de largo pousio e a rio Douro, aonde se encontram irregu­
apascentação de rebanhos transuman- larmente dispostas, de permeio, em
tes nas serranias. Nas terras de la­ tôrno das vinhas e, mais raramente, em
meiro cultiva-se o milho ou a batata larga cultura.
durante o verão e, no inverno, essas ter­ Dos cereais, os que teem maior im­
ras são semeadas de erva para a ali­ portância são o milho e o centeio. O
mentação do gado. primeiro (cuja produção total em 1916
A vinha encontra-se em muitos con­ foi de 26.689.232 litros) encontra-se
celhos com uma feição nitidamente pre­ principalmente nos concelhos de S. Pe­
dominante. Em primeiro lugar citare­ dro do Sul, Viseu, Vouzela, Castro
mos os concelhos de S. João da Pes­ Daire e Resende, isto é, na parte oci­
queira, Armamar, Tabuaço e Lamego, dental do distrito, a partir do Douro,
que fazem parte da região vinícola do estendendo-se entre o Paiva e o Vouga
Douro, tão célebre pelos seus preciosís­ e entrando na bacia hidrográfica do Dão.
simos e m und ialmente conhecidos vinhos O segundo (cuja produção total no
do Pôrto. Temos ainda a região produto­ mesmo ano foi de 6.252.227 litros) pre­
ra dos vinhos do Dão, com razão consi­ domina nas terras pobres, de maior al­
derados como sendo dos melhores vinhos titude, nos concelhos do centro do dis­
de pasto do nosso País. Finalmente há trito; é Castro Daire o concelho de
ainda, nos vales do Paiva e do Vouga, maior produção; seguem-se-lhe depois
vinhos verdes de qualidade inferior aos Vila Nova de Paiva, Penedono, Viseu,
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 187

Moimenta da Beira, Sátão, Tabua- S. Pedro do Sul e Mortágua os que


ço, etc. maior quantidade de cortiça produzem.
Relativamente aos outros cereais di­ Os soutos de maior importância do
remos apenas que o trigo predomina nosso País encontram-se na Beira ser­
nos concelhos do Norte — Resende, rana, de que o distrito de Viseu faz
S. João da Pesqueira, Lamego, Castro parte; a castanha é aproveitada na ceva
Daire, Tabuaço-; a aveia quási unica­ dos suínos, na maioria de raça Bízara
mente no concelho de Mortágua e parte com os quais se fazem os afamados
de Viseu—; finalmente, o arroz, em pe­ presuntos de Lamego. São os maiores
quena quantidade—i2.899quilosem 1916 criadores de gado suíno os concelhos
—nos concelhos de Lamego e Moimenta de Tondela, Viseu, Nelas, Carregai,
da Beira (estatística agrícola de 1916). Mangualde e Sátão.
O feijão encontra-se mais ou menos Além dos suínos, temos, como ri­
na mesma região do milho, mas não queza pecuária, o gado ovino com gran­
indo tanto para o Norte e alastrando-se de importância, e ainda o caprino; são
mais para o Centro e o Sul; são conce­ os mantanhosos concelhos de Penedo­
lhos de maior produção os de Viseu, no, S. João da Pesqueira e Tondela os
S. Pedro do Sul, Mangualde, Vouzela, que acusam uma maior produção de lã.
Castro Daire, Tondela, Carregai. Em Temos o gado bovino com a raça Arou-
1916 a produção total no distrito foi de queza, própria do distrito, que se es­
2.162.299 litros. tende principalmente pelos concelhos
A fava produz-se em pequena quan­ de S. Pedro do Sul e Castro Daire, e
tidade (um total de 30.367 litros) e a Mirandesa, oriunda de Trás-os-Mon­
principalmente no concelho de S. João tes, que se encontra mais ou menos es­
da Pesqueira. palhada por tôda a parte.
Quanto à batata diremos que a de Pena é que tivesse por completo
regadio predomina nos concelhos do desaparecido a cultura do bicho da
Norte—Lamego, Penedono, Viseu, Re­ sêda, que outrora fôra assaz importante
sende—; a de sequeiro nos do Centro em certos concelhos, como por exem­
e Sul—Viseu, Mangualde, Mortágua, etc. plo, no de Sernancelhe.
Em 1916a produçãototalfoide22.749.740 Predomina o trabalho caseiro. Em
quilos, provindo 14.837.177 quilos da ba­ certos concelhos, como nos de Viseu,
tata de regadio e 7.912.563 quilos da de Carregai e Mangualde, a indústria tem
sequeiro. contudo tomado certo desenvolvimento.
O pinheiro bravo abunda em todo o E assim sabemos que nestes últimos
distrito, onde encontra óptimas condi­ anos se tem desenvolvido bastante as
ções de desenvolvimento. Encontra-se explorações mineiras de volfrão e urâ­
aqui, muito, o carvalho pardo da Beira nio.
(Quercus Tozza, Bosc.), bem como o carva­ Prepondera a pequena propriedade, e
lho português (Q. Lusitanica, Latn.). Há é frequente, o proprietário, pela impos­
ainda algumas azinheiras e sobreiros, sibilidade que tem de cultivar terras
mas em muito menos quantidade; são distantes umas das outras, arrendar al­
os concelhos de Santa Comba Dão, gumas delas; a renda é então paga em
*88 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

milho e em outros géneros. Na região de homens; a cada 100 homens corres­


vitícola do Douro é comum o proprie­ pondem 120,7 mulheres.
tário não viver na sua «quinta», visitan­ É êste distrito bastante denso, como
do-a apenas por ocasião das vindimas; o são em geral os distritos do norte; a
neste caso tem então permanentemente sua densidade é de 83,03 habitantes
na quinta um «caseiro» assalariado que por quilómetro quadrado e, segundo a
fiscaliza e superintende em todos os classificação de Bento Carqueja, está
trabalhos culturais. êle, por isso, incluído na zona de aglo­
O relêvo acidentado do distrito obri­ meração média.
ga, em muitas regiões, a serem feitos a Quanto à instrução o mesmo censo
braço todos os diferentes amanhos do diz-nos que há 335.628 analfabetos e
solo. Daqui o prevermos que nessas re­ apenas 81.116 indivíduos que sabem ler
giões deve haver uma grande densidade e escrever ! Que desproporção: me­
de população e um grande número de nos de % de indivíduos (19,46%) que
trabalhadores por hectare de terreno sabem ler e escrever e mais de 4/s
cultivado; é o que veremos adiante. (80,54%) de analfabetos para a popula­
ção total do distrito!
Feita assim uma ligeira descrição do E a dentro da população agrícola são
distrito de Viseu sob o ponto de vista semelhantes estas proporções, embora,
agrícola, entremos propriamente no seu como é natural, ainda um pouco agra­
estudo demográfico. vadas. Assim, segundo a estatística
agrícola de 1900 encontramos no dis­
A população de facto do distrito de trito de Viseu 85,40% de analfabetos e
Viseu, segundo o último censo (1911), é 14,60% de indivíduos que sabem ler e
de 416.744 habitantes, constituída por escrever.
188.789 homens e 227.955 mulheres. O quadro que segue mostra a distri­
Como na grande maioria dos nossos buição da população do distrito de Vi­
distritos, vemos aqui também ser o nú­ seu pelos seus 24 concelhos, por ordem
mero de mulheres superior ao número decrescente de densidades.
Quadro X

Concelhos N.° de freguesias N,° de povos Área População Densidade

Lamego............................ 23 267 i56,4° 31-093 207,2


Resende............................ 15 I20,60 17.568 167,8
315
Il8,20
Carregai.................... 7 38 13.302 115.6
Sinfães.............................. 17 429 242,10 24.327 112,2
I3.8l6
Nelas.......................... 6 33 125,50 110,7
Viseu................................ 32 297 5°7»10 54.I65 109,8

Santa Comba Dão.... 8 66 116,80 102,9


11.173
Mangualde................. . 18 118 219,40 21.2l8 102,2
Armamar......................... 17 49 114,40 IO.979 98,7
Penalva do Castelo.... 12 106 142,50 I3-052
98,2
Tarouca............................ 10 44 103,90 9.789
95,5
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 189

Concelhos N.° de freguesias de povos Área População Densidade

Tondela...................... 25 209 368,30 3O.656 84,9


188,40 76,7
Vouzela...................... 12 119 !4-157
Sátão.......................... 10 IOI 207,50 13.297 66,3

Tabuaço..................... 17 9.2II 66,0


34 144,90
Moimenta da Beira... 20 46 218,30 I4.IOO 65.7
Oliveira de Frades... 12 64.9
110 I51,00 9-393
Penedono.................. 9 109,10 6-537 61,4
34
S. Pedro do Sul........ 20 243 374.20 21.293 59.5
Castro Daire............. 21 165 21.986
377,20 59,4
Sernancelhe.............. • 17 38 222,50 IO.242 47,8
S. João da Pesqueira. 14 276,40 II.894
32 47,1
Vila Nova de Paiva... 7 169,60 6.624
19 39,4
Mortágua................... io 90 244,40 9.067 37,6
Com esta disposição, êste Quadro capital do distrito, única cidade verda­
imediatamente nos mostra serem os deiramente importante.
concelhos de N W. —Laraego, Resende, A pequena densidade dos concelhos
Siníães — que possuem maior densi­ de S. João da Pesqueira e Tabuaço
dade. que vimos serem dos concelhos do dis­
De momento, pondo Viseu de parte, trito de Viseu aquêles que mais azeite,
vemos seguir-se em densidade a zona lã, vinho e trigo produziam, é por certo
do S — SE — Carregai, Nelas, Santa devida à sua área abranger os terrenos
Comba Dão, Mangualde. de pascigo do gado lanígero, terrenos
Relacionando isto com a distribuição incultos e de grande extensão compara­
das culturas, feita na introdução, vere­ dos com a área cultivada. E devido à
mos que é precisamente nos terrenos sua pequena densidade que para estes
com cursos de água, mais férteis, mais concelhos vem imensa gente de fora,
produtivos, duma diferenciação maior por ocasião das vindimas, para efectuar
de culturas e com fáceis meios de co­ a colheita e transporte das uvas e a fei­
municação, que a população é mais toria do vinho.
densa. Mas o valor numérico que exprime a
Mesmo os concelhos de S. Pedro do densidade nem sempre nos dá uma
Sul, Vouzela, Oliveira de Frades, Cas­ idéia nítida da forma como a população
tro Daire, que gozam destas caracterís- está repartida pelos diferentes pontos
ticas, mas todos de pequena densidade, do distrito. Procuremos por isso rela­
devem êste facto a, tendo uma desigual cionar o número de povos de cada con­
distribuição de população, possuírem celho com a respectiva população e
grandes tratos de terreno inculto per­ seguidamente com a densidade.
tencentes às serras de Caramulo e Mon- Para isso formamos primeiramente o
temuro. seguinte quadro com o número médio de
O concelho de Viseu tem grande den­ almas que cabe a cada povo dum dado
sidade, não só por análogas razões de concelho, dividindo a sua população pelo
fertilidade, como também por incluir a respectivo número de povos existentes,
190 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Quadro II Viseu (pois é a população das cidades


Concelhos N.° de alma* por povo de Lamego e Viseu que eleva a ambos
Lainégo.......................... 116,5 êles as médias de almas de cada povo
Resende......................... 55,7 a uma quota superior a 100), Resende,
Carregai........................ 350,0 Sinfães, Oliveira de Frades, S. Pedro
Sinfães.......................... 56,7 do Sul.
Nelas.............................. -18,6 Com todos os elementos que agora
Viseu............ 182,4 possuímos vemos que entre os primei­
Santa Comba Dão........ !77.9 ros se encontram os concelhos de relêvo
Mangualde..................... 179,8 menos acidentado e de grande densi­
Arraamar...................... 224,0 dade— Carregai, Nelas, Tarouca, Moi­
Penalva do Castelo...... 123,1 menta—e aqueles em que, sendo pe­
Tarouca......................... 222,5 quena a sua densidade por causa dos
Tondela......................... 146,7 incultos, as suas abundantes produções
Vouzela.......................... 118,9 de exportação (vinho, lã, azeite; etc.)
Sátão.............................. 131,6 mais desenvolvimento dão aos povos
Tabuaço......................... 270,9 existentes, embora pertencentes a re­
Moimenta da Beira...... 3°6,5 giões acidentadas—Armamar, Tabuaço,
Oliveira de Frades...... 85,4 Sernancelhe, S. João da Pesqueira e
Penedono...................... 192,2 Vila Nova de Paiva.—O quadro I mos­
S. Pedro do Sul........... 86,5 tra-nos que todos êles possuem um pe­
Castro Daire................. 133,2 queno número de povos.
Sernancelhe.................. 269,0 Entre os segundos se encontram os
S. João da Pesqueira... 371,6 concelhos de terrenos muito produtivos,
Vila Nova de Paiva...... 348,6 mas com relêvo acidentado que facilita
Mortágua....................... 100,7 e favorece a dispersão e fracionamento
da população—Resende, Sinfães, Viseu,
Estando êste quadro disposto por or­ Lamego, Oliveira de Frades, S. Pedro
dem decrescente das densidades, pode­ do Sul — todos êles de grande número
mos desde já salientar o facto de não de povos.
variarem paralelamente os valores das Resumindo e concluindo, verificamos
densidades e os dos números médios assim com estes dados que: a)adensidade
de almas que cabem a cada povo. de população aumenta com a fertilidade
Tomando, para têrmo médio, a média e produtividade do solo e com a facilidade
compreendida entre 100 e 200 habi­ de meios de comunicação; b) o desen­
tantes por povo, mostra-nos o qua­ volvimento dos povos é favorecido, não
dro II que teem grande número de al­ só pelos rápidos meios de comunicação
mas os povos dos concelhos de Carre­ e pela abundância de produção, como
gai, Nelas, Armamar, Tarouca, Tabuaço, também pela natureza desta (sendo os
Moimenta da Beira, Sernancelhe, S. João produtos mais favoráveis para tal aquê-
da Pesqueira e Vila Nova de Paiva. les em que a sua saída da região, o seu
Com pequeno número de almas apa­ comércio, se impõe); c) um relêvo aci­
recem-nos os concelhos de Lamego, dentado favorece a dispersão dos povos:
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 191

podem estes, contudo, adquirir certo partição da população quanto ao número.


desenvolvimento quando se realizam as Passemos agora a analisar a constituição
condições enunciadas em b). da população do distrito de Viseu se­
Temos assim estudada a forma de re­ gundo os seguintes grupos deidades:
Quadro XXX
Idades Total Homens Percentagem Mulheres Percentagem

De o a 20 anos.......... 186.755 93.878 50,3 °/o 92.877 49,7%


De 20 aos 40 anos..... 107.762 44.009 40,9 °/o 63.753 59,1 %
De 40 aos 65 anos..... 94-OI9 38-769 4X,3 % 55-25° 58,7 %
De mais de 65 anos... 28.208 12.133 43,1 % *6.075 56,9%
Vemos predominarem, numa propor­ produtivas, isto é, dos 20 aos 65 anos,
ção bem evidente, o número de indiví­ percentagem esta que dá para cada 100
duos pertencentes ao. primeiro grupo homens mais de 143 mulheres.
de idades; todavia achamos pouco natu­ Sôbre êste assunto voltaremos adian­
ral a percentagem de 44,8 °/o para a te, pois é à emigração principalmente
população total do distrito, por nos pa­ masculina que atribuímos estes males.
recer demasiada. Vejamos agora quais as profissões do­
Por outro lado notamos, infelizmente minantes no distrito. Segundo o censo
também, que é verdadeiramente pas- de 1911 a distribuição da população por
mosa a pequena percentagem de ho­ profissões encontra-se estabelecida se­
mens precisamente nas idades mais gundo indica o quadro que segue:

QundrO XV

Distribuição da população do distrito de Viseu por profissões

Trabalhos agrícolas............................................................... 309.056


Indústria................................................................................... 60.298
Comércio................................................................................ 13.452
Pessoas vivendo exclusivamente dos seus rendimentos... 10.283
Profissões liberais................................................................... 6.511
Improdutivos....................................................... ........ .......... 5.928
Transportes................... 4.608
Trabalhos domésticos....................................... 2.303
Administração pública............................................................ 2.134
Fôrça pública.......................................................................... 1.838
Na extracção de minério................................. .-.................... 303
Caça e pesca.................................................... 30

Com a disposição dada a êste qua- número de indivíduos a elas dedica-


dro, as diferentes, profissões sucedem- dos.
-se segundo a ordem decrescente do É, como vemos, a agricultura qu£
192 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

ocupa a maioria da população, mon­ habitantes, correspondendo-lhe a densi­


tando a 74 % da população total, a per­ dade de 79; segundo o censo de 1900 era
centagem de indivíduos entregues a tra­ de 402.259 habitantes com a densidade
balhos agrícolas. de 80; finalmente, segundo o último
Segundo a estatística agrícola de 1900, censo, o de 1911, ela é de 416.744 habi­
a população agrícola era de 310.729 ha. tantes sendo a sua densidade de 83,03.
bitantes e a área cultivada na mesma A densidade da população tem pois au­
data devia andar por 297.327,67 hecta­ mentado contínua, mas vagarosamente.
res (pois esta era a área cultivada em Pelos números apontados vemos nós
1902 e em dois anos pequena pode ser ter havido um aumento de população
a diferença); a estes números corres­ de 25.729 habitantes, desde 1890 até
ponde pois a cota de 1,045 habitantes 1911, 0 que corresponde ao aumento
por hectare cultivado. médio anual de 1.225 habitantes, ou
Vemos aqui a confirmação do que seja à cota de crescimento médio anual
havíamos aventado na introdução. Com de 3,03 por 1.000 habitantes.
efeito, a cota elevada de 1,045, à 9ual Pelo que respeita à população agrí­
corresponde a cota de 0,957 hectares cola não se passam as coisas precisa­
por cultivador, não é mais que a con- mente pela mesma forma. De 1890
seqtlência lógica de todos os factos an- para 1900 houve um aumento de 15.355
teriormente apontados: a grande densi­ indivíduos ou seja de 5,94 °/oo habitantes
dade, o fraccionamento da propriedade anualmente; contudo de 1900 a 1911
rústica, a feição particular que toma a houve um decréscimo, tendo a sua po­
pequena e média exploração agrícola pulação de 310.729 habitantes passado
num país acidentado. para 309.056 habitantes, isto é, um de­
Na extracção do minério dá-nos ainda créscimo anual de 0,488 °/oo. Procure­
o quadro IV como estando nela ocupa­ mos explicar estes factos.
dos 303 indivíduos; contudo, com 0 de­ A população total aumentou, mas pou­
senvolvimento que nestes últimos anos quíssimo, e, para fazermos melhor idea
tem havido na exploração mineira, é disso, comparemos o valor da respec-
natural que êsse número seja pequeno tiva cotajde crescimento médio anual,
para a actualidade. Porventura se po­ que vimos ser de 3,03, com o valor da
deriam ainda fazer considerações análo­ mesma cota relativa à população total
gas para algumas das outras profissões. do continente, considerada também no
Estudada a população sob o ponto de mesmo período de 21 anos, a qual é de
11,52! É uma diferença assustadora!
vista estático, segundo os diferentes as­
Podemos dizer dum modo geral que
pectos de número, densidade, sexo, ins­
a natalidade é sempre inferior à do con­
trução, repartição, idade e profissões,
tinente (exceptuando em 1903 em que
os quais achamos de principal interêsse
lhe foi ligeiramente superior). Mas por
para nós, entraremos no seu estudo
dinâmico. outro lado, também a mortalidade, na
maioria dos anos do período conside­
A população do distrito de Viseu se­ rado, é menor no distrito que no con­
gundo o senso de 1890 era de 391.015 tinente. E assim é que estas diferenças
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA *93

tôdas, dentro da natalidade e da morta­ valor seja devido à grande emigração


lidade, até certo ponto se compensam que nêle se dá.
e no mesmo gráfico vemos ser sensi­ Mas agora vejamos o que se passa
velmente igual ao do continente o acrés­ com a população agrícola.
cimo fisiológico do distrito. Como vimos, esta, tendo aumentado
Sendo, pois, como vemos, o cresci­ até 1900, diminuiu de 1900 para 1911.
mento fisiológico do distrito sensivel­ São com certeza os efeitos da emigra­
mente igual ao do continente, porque ção, que aqui mais ainda se fazem sen­
será tão pequena, em relação ao conti­ tir, os causadores dêste fenómeno; con­
nente, a quota de crescimento real mé­ tudo, vejamos se tem alguma influên­
dio anual no distrito de Viseu? cia a mudança de profissão, ou o urba­
Prevê-se fàcilmente que êsse pequeno nismo.

Quadro "V

N.° de indivíduos que as exercem


Profissões
1900 1911
Trabalhos agrícolas................................................................ 3IO-729 309.056
Pesca e caça............................................................................ 64 3°
Extracção de minério............................................................. 213 303
Indústria................................................................................... 53-503 60.298
Transporte.............................................................................. 4.788 4.608
Comércio.................................................................................. 13-595 I3-452
Fôrça pública.......................................................................... 2-459 1.838
Administração pública........................................................... 1.631 2.134
Profissões liberais............................... .................................... 5-525 6.511
Pessoas vivendo exclusivamente dos seus rendimentos... 839 10.283
Trabalhos domésticos............................................................ 5-318 2.303
Improdutivos. Profissões desconhecidas........................... 3-595 5.628

Por aqui se vê que aumentou imenso Estes números mostram bem clara-
o número de indivíduos entregues à mente a tendência que há para aumento
administração pública, os improdutivos no número de indivíduos entregues a
e de profissão desconhecida e as pessoas ocupações pouco penosas. Talvez se
que vivem exclusivamente dos seus ren­ pudesse daqui deduzir que é aspiração
dimentos; também aumentaram, mas em de muita gente ganhar somente o indis­
proporção muito menor, os empregados pensável para viver, logo que isso se
na extracção de minério, os de profissões traduza em trabalhar pouco, ou apenas
liberais e os empregados na indústria. trabalhar enquanto se não adquirem bens,
Diminuiu o número daqueles que se em quantidade tal, que bastem para ga­
dedicam à caça e pesca, dos ocupados rantir uma vida descuidada e pouco la­
com trabalhos domésticos, com traba­ boriosa, num futuro próximo.
lhos agrícolas, na fôrça pública, em Contudo, queremos crer que estas
transportes e no comércio. idéias de preguiça, de indolência, não
13
194 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

sejam as preponderantes; e assim, em­ 8.696. Houve pois um decréscimo (1);


bora algo de verdade haja nestas supo-^ para aqui não se dirigiu a população
sições, parece-nos antes que a diminuição agrícola.
da população agrícola não é devida, na Não queremos com isto dizer que em
sua essência, a uma troca de profissão, absoluto não tenha havido urbanismo;
mas sim muito principalmente à emi­ apenas demonstramos que êste se não
gração. fêz notar nas duas únicas cidades do
Quanto à influência do urbanismo na distrito. Para as cidades importantes
diminuição da população agrícola, veja­ do continente, como são Lisboa, Pôr-
mos. to, etc., é naturalíssimo que muita gente
É claro que nos vamos referir apenas tenha partido principalmente nestes úl­
às cidades dêste distrito, visto não po­ timos tempos; todavia, à data a que
dermos fazer êsse estudo relativamente estes dados estatísticos se referem, tudo
à população agrícola do distrito de Vi­ nos leva a crer que seja a emigração a
seu e às cidades dos outros distritos, verdadeira causa de todos os factos
sem possuirmos determinados elemen­ que temos estudado.
tos que por completo nos faltam. Mas, antes de entrarmos propriamente
O aumento de população nas duas no assunto da emigração, temos ainda
cidades do distrito—Viseu e Lamego— que tratar uns aspectos de especial in-
é evidente que pode ser devido, quer a terêsse para nós.
um aumento no seu cresci mento , fisio­ A nupcialidade neste distrito é sem­
lógico, quer ao urbanismo. pre inferior à nupcialidade no conti­
Ora a população da cidade de Viseu nente. Quer isto dizer que é pequeno
em 1900 era de 8.057 habitantes e em o número de casamentos que anual­
1911 ela era de 8.167. mente se realizam (2).
Durante êste período de n anos houve Por outro lado, a percentagem de
pois um aumento de no habitantes, ou nascimentos ilegítimos no distrito é
seja de 10 habitantes por ano; daqui é sempre superior à mesma percenta­
fácil calcular-se que foi de 1,24 a quota gem no continente.
de crescimento médio anual da popula­ Daqui se infere que a índole da gente
ção, na cidade de Viseu, durante o mes­ desta região não é por certo de uma
mo período. moral muito alevantada; porém, como
Atendendo ao pequeno valor dêste desculpa, ou melhor, como explicação,
número podemos concluir por afir­ diremos que a nós nos parece ser isso
mar que não houve urbanismo, que devido à grande densidade de popula-1 2
não houve retirada da gente do campo
para esta cidade, e que o ligeiro au­ (1) Com o desenvolvimento da vila da Ré­
mento de população que nela se nota é gua tem esta cidade ido perdendo a pouco e
devido ao seu natural crescimento fisio­ pouco a sua primitiva importância.
(2) Quisemos nós comparara nupcialidade
lógico.
com a matrimonialidade; mas a falta de ele­
Com relação à cidade de Lamego mentos, e daí a imprecisão dos resultados a
temos que a população em 1900 era de que por ventura chegássemos, foram razões
9.471 habitantes e em 1911 apenas de que nos levaram a desistir de tal intento.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 195

ção no distrito de Viseu e ainda à grande Guarda, em segundo o do Pôrto (com


emigração da parte masculina da popu­ a cidade) e em terceiro lugar o de Vi­
lação, como veremos. seu. Se considerarmos à parte a ci­
dade do Pôrto, ocupará o distrito de
De muitas conclusões apenas esboça­ Viseu o segundo lugar.
das e que até aqui apresentámos, vamos É com efeito muito grande a emigra­
nesta parte final do nosso estudo ter a ção neste distrito.
respectiva confirmação. O quadro seguinte mostra-nos o seu
Em 1916 ocupa Viseu o terceiro lu­ valor nos diferentes anos de 1900 a
gar entre os distritos de maior emigra­ 1916, com a distinção de sexos e ida­
ção; em primeiro lugar, vem o da des.
Quadro VI
EMIGRAÇÃO MAIORES DE 14 ANOS MENORES DE

A110 Total Varões Fêmeas Total Varões Fêmeas 14 ANOS


2.20Ó 468 I .884 1.526 358
1900 1.738 322
2.316 517 2.OO5 1.607 358
I9OI 1 *799 311
1902 2.592 2.O37 555 2.235 1-833 402 357
I903 2.801 2.29I 5*o 2.497 2.099 398 304
2.688
I9°4 3-569 2.92O 649 3.220 532 349
1905 3.842 671 524 460
4*5r3 4-053 3-529
1906 4.836 734 3-833 608
4.102 4.44I 395
888 4.776 4.036 464
1907 5-240 4.352 740
1908 4.648 5.306 491
5-797 1.149 4-331 975
4.961 3.895 1.066 909
1909 4.502 3-593 459
5.416 4.28r 4.002
1910 1-135 4-979 997 437
1911 6.971 6. no 4.646 1.464 861
5 • J94 r-777
11.764 8.211 9.864 7.126 2.738
1912 3-553 T .900
9.609 6.771 2.838
1913 H-733 7-963 3-77° 2.124
1914 3.069 1.699 1.370 2.411 1-321 1.090 658

1915 2.232 1.809 1.032


!-257 975 777 423
1916 2.072 838 1.234 1.604 562 1.042 468

Vemos assim que a emigração total no ano de 1900, porém, com a diferença
no distrito é sensivelmente de i/7 da capital de que, ao passo que neste ano
emigração total do Continente. era muito superior o número de homens
A partir de 1900 foi sempre aumen­ ao número de mulheres entre os emi­
tando a tendência para a emigração; e grantes, em 1916, no Continente, homens
assim é que esta atingiu o seu máximo e mulheres entram em percentagens
em 1912 e 1913. Em 1914 sobreveiu a sensivelmente iguais, e, no distrito de
grande guerra e a emigração brusca­ Viseu, o número de mulheres excede
mente diminuiu, até ao ponto de, em em 1/3 o número de homens.
1916, ela ser, no total, sensivelmente Portanto, embora no total as emigra­
igual, em valor, à emigração que se deu ções nos anos de 1900 e 1916 tenham
J96 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

sido sensivelmente iguais, elas teem o número de mulheres emigrantes au­


contudo significados bem diferentes: menta em maior proporção que o nú­
em 1900 emigravam sobretudo homens mero de homens e, em 1916, atinge um
na esperança de melhorarem de situa­ valor superior a êste quási em 50 °/o.
ção, voltando ou tencionando voltar mui­ Pelo valor dos números registados
tos de entre estes, depois de haverem no quadro VI se vê que foi a principal
angariado alguns patacos — que por ve­ emigração da parte masculina e de maior
zes prefaziam belas somas—à sua terra idade, a causadora de encontrarmos,
natal; em 1916 são principalmente mu­ quando do estudo estático da popula­
lheres, ou famílias em massa, que emi­ ção, uma tão pequena percentagem de
gram; vão reUnir-se aos que em anos homens na sua idade mais produtiva.
anteriores haviam já emigrado e não. Vejamos agora quem emigra. Quem
pensam agora em voltar; é uma emi­ pegar nas estatísticas de emigração se­
gração em massa a que se deu, mas gundo as divisões profissionais nelas
esperamos que ela não tenha continua­ estabelecidas, nota que a grande massa
ção. de emigrantes é constituída na sua essên­
Virifica-se quão brusca foi a diminui­ cia por operários agrícolas, agriculto­
ção no número de emigrantes do ano res, indivíduos de ocupações domésticas
1913 para o de 1914. De 27,99 emi­ e sem profissão definida, isto é, na sua
grantes por 1.000 habitantes em 1913, maior parte por gente que vivia para a
passa era 1914 para 7,29 °/oo. terra e da terra. Desde o último censo
Esta proporção de emigrantes por (1911) até ao ano de 1916 emigraram
1.000 habitantes, é, no distrito de Viseu, nada menos de 13.976 trabalhadores
sensivelmente igual ao dôbro da do agrícolas; isto em 6 anos e quando a
Continente. Não exageramos pois ten­ emigração foi obrigada a diminuir de­
do dito que era muito grande a emigra­ vido à guerra que estalou em 1914!
ção neste distrito. O que mais sofre com a emigração
Pelo que respeita à idade, mostra-nos vê-se que é a agricultura.
o quadro VI que o número de menores Observamos que a emigração agrí­
que emigraram se mantinha sensivel­ cola, isto é, somente de trabalhadores
mente constante até 1910, aumentando, agrícolas e jornaleiros, anda por cêrca
sim, mas muito ligeiramente; é depois de metade do valor da emigração total;
de 1910 que o seu número cresce imen­ todavia notamos com certo prazer que
so e rapidamente, coincidindo assim a paitir de 1913 é mais brusco o decrés­
êste fenómeno com a mudança do regí­ cimo na emigração agricola que na emi­
men e as convulsões sociais internas gração total; por outras palavras, ao
em que a essa data o nosso país se de­ passo que em 1913 era de 42,2 % a
batia. Dos maiores de 14 anos é fácil percentagem de trabalhadores agríco­
ver-se no mesmo quadro, como, até las e jornaleiros para a massa total
1910, foi sempre enorme o número de emigrante, depois ela foi baixando su­
homens emigrantes, atingindo o seu cessivamente até atingir em 1916 ape­
máximo em 1912 e 1913, para seguida­ nas o valor de 19,9 %•
mente ir diminuindo até 1916; entretanto Mas neste acidentado distrito não
ANAíS DO INSTITUTO SUPERIOR D E AGRONOMIA 197

basta que ela diminua, pois isso forçoso em 1903 ela era de 55,34 °/o, em 1907
era dar-se, visto ser impossível à popu­ de 58,06 °/o e em 1916 de 70,46 %•
lação actual sustentar uma tão grande E curioso notarmos o seguinte acêrca
emigração; era preciso sustá-la de vez, dos países do destino:
não por meios represssivos mas por Em 1900 o maior número de emi­
uma administração interna sã e compe­ grantes, 1801, dirigiram-se para o Bra­
tente, que, para o bem do nosso país sil, um menor número, 138, para a
protegesse a agricultura de forma a esta, África Ocidental e finalmente um pe­
por uma vida desafogada e lucrativa, queno número de emigrantes para a
poder reter e chamar a si tantos braços África Oriental (apenas 21) e outros
que a necessidade e a falta de recursos paízes da América do Sul (só 2).
internos, dela afastaram. A emigração, como vimos, foi aumen­
As estatísticas elaboradas sôbre o tando, mas dirigindo-se quási na totali­
número de passaportes passados no dade para o Brasil, sendo cada vez
distrito de Viseu, dão-nos, para o ano menor a emigração para África.
de 1916, 451 emigrantes que sabem ler Em 1910 começa contudo a emigra­
e escrever e 1.076 analfabetos. Isto ção para a América do Norte, e nos
dá-nos uma percentagem de 70,46 °/o anos imediatos ela dá-se, relativamente
de analfabetos. Notemos que esta percen­ a êste país e ao Brasil, pela forma se­
tagem tem vindo sempre aumentando: guinte :
1910 1911 1912 1915 1914 1915 1916

Para o Brasil.......................... 5.409 6.902 11.577 II-4I3 2*914 2.017 T-559


Para a América do Norte...... 5 48 132 278 141 205 368

Daqui vemos nós que a emigração mente, igualmente por causa da guerra
para a América do Norte aumentou até mas continuou, desde então, sempre a
1913, diminuiu em 1914 com a guerra, diminuir.
mas continuou a aumentar nos anos Mas vejamos ainda o seguinte que é
imediatos. digno de nota.
Para o Brasil aumentou até 1912 con­ Estes números que apresentei, pode­
servando-se depois sensivelmente cons­ mo-los ainda decompor, para os 3 últi­
tante até que em 1914 diminue brusca- mos anos, segundo o sexo, e temos:
1914 1915 1916

f Homens... 1.590 I.IOI 599


Para o Brasil. j Mulheres 1.324 916 960
Para a América do Norte. f Homens... 98 150 223
I Mulheres. 43 55 i45
Vê-se pois daqui que foram nestes Para a América do Norte é sempre
anos para o Brasil quási tantos homens 0 número de homens muito superior
como mulheres, e em 1916 roais mulhe­ ao número de mulheres.
res que homens. Talvez possamos daqui concluir que,
i98 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

em procura de fortuna, há uma certa da classe artífice com a cota anual de


tendência em a emigração aumentar 32831. A estes valores correspondem
para a América do Norte. respectivamente os capitais de 278820 e
Encaremos agora a emigração sob o 646820 vencendo juros a 5 %.
ponto de vista financeiro. Com estes elementos vejamos qual o
Determinou Bento Carqueja, para o valor da emigração do distrito de Viseu
nosso país, depois de laboriosos cálculos, no prazo de 10 anos a terminar em 1916.
que aos 12 anos um indivíduo perten­ Durante êste período 0 número total
cente à população agrícola custa em de emigrantes foi de 59.255 indivíduos
média 123834 e na mesma idade um dos quais 50.970 maiores de 14 anos e
pertencente à classe dos artífices e ope­ 8.285 menores.
rários custa 240827. Procuremos a percentagem em que en­
Calculou o mesmo economista que tram na emigração total os operários agrí­
um indivíduo da classe agrícola, para colas, jornaleiros, indivíduos entregues
compensar a sociedade das despesas a ocupações domésticas e os sem pro­
feitas com o seu sustento, deveria con­ fissão, aos quais atribuiremos o capital-
tribuir em média, entre os 22 e os 60 -homem que Bento Carqueja determi­
anos, com a cota anual de 13891 e o nou para um indivíduo da classe agrícola.
Quadro "Vil

N.° total de emig. Operários agrícolas Ocupações domést. . Sem profissão


4.854 2.564 I.O87
1907 J5
1908 5-385 2.9IO I .211
32
1909 4-518 2.614 28 I.O97
1910 4.914 2.587 22 I.I50
1911 6.OI4 2.902 20 I.723
1912 IO.77I 4.60I 3-856
52
*9*3
IO.84I 4-578 72 4-145
1914 2.510 921 608 526
669 468 299
1915 i-739
1916 604
i-527 305 37°
53.073 (') 24.651 1,921 15.464
46,4 °/o 3,6% 29,1 %
Percentagem para
a emigração total: 79,i %
Temos pois, 79,1 °/o dos 50.970 indivíduos maiores de 14 anos, que dá 40.317
Os restantes 20,9% relativos às outras profissões.................................... 10.653
Por outro lado 79,1 % dos 8.285 indivíduos menores de 14 anos.............. 6.553
Os restantes 20,9% de menores relativos às outras profissões............ 1.732(i)

(i) O número total de emigrantes indicados nos quadros estatísticos da emigração por
profissões não condiz com o indicado no quadro da emigração por sexos e idades. Estas
diferenças não nos importam, pois, do quadro VII que apresentamos, só aproveitamos percen­
tagens, que podemos tomar como certas.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 199

Como dissemos, vamo-nos agora ser­ dizendo que a emigração também não
vir dos valores para capital-homem de­ data de 1907, apenas, e que muitos dos
terminados por Bento Carqueja para as indivíduos que emigraram em anos an­
duas classes de indivíduos a que acima teriores, ainda vivem e não voltaram
fizemos referência. Todavia, entrando em 1916.
em linha de conta com 0 capital mobi­ Em 1904 avaliava Basílio Teles em
liário, por via de regra reduzidíssimo, 10.000 contos a quantia, de proveniên­
que o emigrante leva consigo, adopta- cia brasileira, que anualmente entrava
remos para os trabalhadores agrícolas, em Portugal, abstraindo das que só
de ocupação doméstica e sem profissão, representavam o pagamento das mer­
o valor unitário de 3oo$oo para cada cadorias que exportamos para lá.
emigrante maior de 14 anos e para os Depois disso já Bento Carqueja fixou
emigrantes das outras classes, também em 20.000 contos a importância anual
maiores de 14 anos, o valor unitário de das remessas que os emigrantes portu­
680800. Cometemos assim um ligeiro gueses fazem à sua pátria.
êrro por excesso, pois os valores que Embora seja enorme a diferença entre
Bento Carqueja determinou referem-se os dois números citados, é de notar que
a indivíduos de idade compreendida a emigração também aumentou muitís­
entre os 22 e os 60 anos, mas preferi­ simo, como vimos, de 1900 para cá.
mos proceder assim neste ponto da Admitindo êste último número, veja­
questão, atentas as conclusões a que mos quanto caberá ao nosso distrito.
pretendemos chegar. Para os menores A emigração total do distrito de Vi­
de 14 anos atribuímos a cada indivíduo seu anda por da emigração total do
das primeiras classes o valor de 130800 continente. Contudo, não devemos es­
e a cada uma das classes restantes o quecer que os emigrantes que a com­
valor de 250800. põem são na grande maioria, pobres
0 número total de emigrantes, rela­ trabalhadores agrícolas e indivíduos sem
tivo ao período de 10 anos considerado, profissão definida. Portanto, a impor­
representa por consequência um capi­ tância das economias e das remessas
tal de que êles fazem para a sua região, terá
40.317x300800 = 12.095.100800 de ser forçosamente inferior a */7 da
1 o. 653 X 680S00 = 7.244.040800 totalidade vinda para o continente.
6.553 Xi3°800= 851.890800 A importância dos vales postais vin­
1.732 X 250800 = 433.000S00 dos do Brasil para o distrito de Viseu
anda por l/u da importância total en­
20.624.030800
viada para o continente.
Estes 21.000 contos, arredondando, Calculando nós também, por analo­
representam para nós o capital emi­ gia, à falta de quaisquer outros dados,
grante proveniente do distrito de Viseu. em */i4 da importância anual das remes­
Poder-nos-ão retorquir que não é bem sas que os emigrantes portugueses fazem
assim, pois muitos emigrantes incluídos para Portugal, o valor das mesmas re­
nesta verba poderão já ter morrido ou lativas ao nosso distrito, obtemos a
reemigrado, ao que nós responderemos, soma de 1.428.571800.
200 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

. Baseados nestes números vemos fi­ da capacidade natural do terreno. Mas


nalmente que, numa média geral, cada primeiramente aparece-nos 0 ataque fi-
emigrante do distrito de Viseu envia loxérico que consigo trouxe a perda da
anualmente para a sua região cêrca de melhor das suas riquezas. Com efeito,
7 % do valor que lhe atribuímos como a reconstituição das vinhas atacadas
capital-homem. pelo terrível mal, exigia, além do co­
Por conseguinte, não obstante o ter­ nhecimento imediato da doença e do
mos atribuído um grande valor ao ca­ modo de a combater, grandes capitais
pital emigrante, relativo ao distrito de para a sua realização. Muito tempo
Viseu, e termos, por outro lado, cal­ levou a ter-se o perfeito conhecimento
culado num baixo valor a cota que lhe da doença e a encontrar-se o remédio
cabe da importância total das remessas eficaz; os capitais, seguidamente, não
enviadas do Brasil, nós vemos ser gran­ chegavam com facilidade e a fraco juro
de, ser de 7 °/o, o juro que o dito capi­ às mãos do lavrador. Tudo assim con­
tal lhe rende. tribuiu para que só muito tardia e len­
Por acaso nós teremos o direito de tamente se procedesse à replantação
concluir daqui que a emigração é um dos vinhedos.
bem ou um mal? De forma nenhuma, Nas regiões não puramente vinícolas,
tudo depende de circunstâncias várias já vimos como o feitio montanhoso do
que passaremos a examinar depois de distrito se opunha ao desenvolvimento
procuradas as causas da emigração dos povoados primitivos.
neste distrito. Portanto, na impossibilidade de ali­
Emigra quem não encontra no seu mentar e expandir em tais circunstân­
meio determinados recursos necessários cias uma população densa, numa região
à satisfação dos seus desejos. Por ve­ de tão pequena indústria, deu-se a emi­
zes estes desejos nascem duma ambição gração. Demais, esta, era facilitada
desmedida e daí o serem quiméricos por vis engajadores que se entregavam
sonhos de riqueza e ventura que condu­ a tão odioso tráfico.
zem à emigração pobres desgraçados Seguidamente, a emigração vai au­
que a ignorância não permitiu que mais mentando, mas irregularmente; emigra-
claro vissem. Foi o que em tempos su­ va-se não só pela incerteza das colhei­
cedeu connosco, sendo o Brasil o país tas, aspereza do clima devida em parte
do destino, e o que hoje em dia ainda a uma irregular arborização, dificuldade
não deixou por completo de se dar. nos meios de comunicação, como tam­
Porém, estas ideias nunca veem de bém com o deslumbrante horizonte de
per si só; surgem quando se dá na progresso em que as outras nações se
mesma ocasião qualquer fenómeno so­ embrenhavam, progresso que nós não
cial ou económico de primordial impor­ acompanhávamos.
tância, que, se não obriga, pelo menos Em 1911, depois da mudança de ins­
contribue grandemente para a efectiva- tituições, a emigração aumenta duma
ção da emigração. maneira colossal. As convulsões sociais,
A densidade da população do distrito as lutas internas dessa época, acompa­
de Viseu está por certo bastante àquém nhadas do mau ano agrícola de 1911-12,
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 201

pela chuva demasiada que caiu, moti­ agrícola e se proteger a sério a nossa
varam tal incremento. agricultura, então a emigração dimi­
Depois disso, com a guerra de 1914 nuirá; e mau era que não diminuísse,
foi a emigração obrigada a diminuir. pois que, nesse caso, uma emigração
Não temos dados estatísticos que nos como a que estudamos, passava a ser
permitam ir além nas nossas considera­ prejudicial. Mas diminuiria certamente,
ções, mas parece-nos bem que é apenas porque numa região acidentada como
devido à falta duma boa administração esta, é sempre preciso um grande
interna, esta grande emigração. núméro de braços para os diferentes
Estimule-se a associação; por inter­ trabalhos culturais, pois não raras são
médio do crédito agrícola, ponham-se à as parcelas que não permitem o em-
mão do lavrador capitais baratos; esta­ prêgoda mais singela máquina agrícola.
beleçam-se muitos postos agronómicos Todavia, continuando tudo como até
de investigação, cada um dêles para es­ aqui—no que não cremos—, uma emi­
tudar, apenas, a agricultura na região gração assim é um bem, porque, se
que lhe estiver adstrita; por êles se en­ se não soube aproveitar cá dentro os
sine o lavrador, bem como o jornaleiro. braços que saem, ao menos o dinheiro
E, feito isto, logo que se deixar de su­ que por êles entra na sua terra natal,
gar, ao máximo grau, a nossa riqueza compensa, como vimos, a sua perda.
Notícia acerca da Biblioteca do Instituto (1853-1920)
POR

Carlos Simões
CONSERVADOR DA BIBLIOTECA

Surpreendidos com a publicação inesperada cidativa como a notícia redigida pelo paciente
dos «Anais», não podemos, por falta de tempo, conservador da mesma, Sr. Carlos Rodrigues
desenvolver, como desejaríamos, êste subsídio Simões; porque a maioria dos informes forão
para a história da biblioteca. colhidos nas actas do Conselho superitendente
Ponderado e justificado o motivo da estrei­ do Instituto, ou seja, numa fonte privativa.
teza de âmbito desta notícia, acrescentaremos Esse trabalho ficámos devendo ao professor-
ainda que nos tivemos de cingir em grande -bibliotecário Dr. António Correia da Silva
parte a um outro trabalho que escrevemos an- Rosa, que incumbiu ao já citado conservadora
teriormente e que foi publicado no «Boletim sua brilhante cooperação nesta obra, motivo
Bibliográfico da Academia das Sciências de porque registamos o nosso agradecimento a
Lisboa». Preferimos todavia esta situação que ambos».
*
não nos satisfaz, a deixarmos de ver mencio­ * *
nada a biblioteca nos presentes «Anais». O tra­ Quando recebemos a circular pedindo uma
balho anterior a que fizemos referência e que noticia histórica acêrca desta Biblioteca, para
nos foi solicitado numa circular de Setembro ser publicada no «Boletim Bibiográfico da
de 1914 pelo Sr. Inspector da Biblioteca da Academia das Sciências de Lisboa», vimos
Academia das Sciências de Lisboa, enfermava logo que a tarefa não seria fácil devido a não
de alguns erros e omissões que presentemente existir nela nenhum documento que dissesse
são corrigidos. Introduzidas as emendas, tras- respeito à sua história.
ladá-lo-emos para aqui na íntegra, na parte que Esperávamos todavia levar a bom cabo a
diz respeito ao período anterior à separação do nossa investigação, apelando para as belas fa­
Instituto Superior de Agronomia da Escola de culdades de memória do Ex.mo Sr. Professor
Medicina Veterinária. Depois desta data se­ José Veríssimo de Almeida, Director do Insti­
remos mais extensos, dentro dos limites do tuto, que conhecia todo o passado dêste esta­
possível, dada a falta de tempo para coligir­ belecimento, porque, vindo para êle logo após
mos notas para seu maior desenvolvimento. a sua criação, como aluno, durante mais de
O nosso trabalho, quando publicado no «Bo­ meio século foi nêle professor, e, foi-o de uma
letim», foi acompanhado de palavras elogiosas, forma tão distinta e brilhante que, tendo inte­
que aqui mantemos, não porque essas palavras grado a sua vida de sábio e trabalhador infati­
nos façam impar de vaidade, mas porque signi­ gável na vida do Instituto, concorreu bem alta­
ficam uma honra para o Instituto no qual as mente para os seus gloriosos fastos. Esperan­
faremos recair. çados estávamos, pois, na elucidação que cer­
Conservando, pois, a mesma ordem por que tamente nos dispensaria o Sr. Veríssimo de
o nosso trabalho foi publicado no «Boletim Almeida, quando nos veio surpreender o seu
Bibliográfico da Academia das Sciências de falecimento, deixando-nos então bem embara­
Lisboa»—Segunda Série, volume I—Fascículo çados para contribuir para o «Boletim Biblio­
número 3—Março de 1916, passamos a fazer a gráfico», com a notícia solicitada.
a sua transcrição. Não dispondo nem de tempo, nem da lan­
terna de Diógenes, para procurarmos um ho­
BIBLIOTECA DO INSTITUTO SUPERIOR
mem... que esclarecesse o mistério da origem
DE AGRONOMIA
e antepassados da Biblioteca do Instituto Su­
«Nunca qualquer investigação, a que proce­ perior de Agronomia, resolvemos lançarmo-
dêssemos acêrca desta Biblioteca, seria tão elu­ -nos sòzinhos na caligitiosa senda da investiga-
204 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

çõo, procurando uma frincha por onde se es­ Art. 136.0—Ao bibliotecário incumbe:
coasse um ténue raio de luz por mais tremu- i.° A compra, conservação e classificação
lante que fôsse. dos livros e mais objectos da Biblioteca, que
Se a nossa canceira não foi coroada dum estarão todos debaixo da sua imediata respon­
resultado que nos deixasse satisfeitos, não foi sabilidade.
também em absoluto infrutífera. 2.0 A fiscalização do serviço e polícia da
O que podemos apurar aqui fica registado Biblioteca.
em esparsas e mal cerzidas notas, já porque 3.0 Apresentar, antes do i.° de Dezembro, ao
não pretendemos fazer literatura erudita, já Conselho, o orçamento da despesa que haja de
porque o terreno é sumamente árido para nêle fazer-se no ano seguinte com a compra e en­
plantarmos flores de retórica. cadernação de livros, assinaturas dos jornais,
O ensino agrícola em Portugal foi instituído, tendo-se prèviamente entendido para êsse efeito
no período da ditadura da regeneração, por de­ com os professores das diversas cadeiras.
creto de 16 de Dezembro de 1852, dos minis­ 4.0 Dar às somas, que o govêrno destinar
tros Duque de Saldanha, Rodrigo da Fon­ para a Biblioteca, o destino que pelo Conselho
seca Magalhães, António Maria de Fontes Pe­ da Escola houver sido determinado.
reira de Melo e António Aluízio Jervis de 5.0 Fazer todos os anos o inventário da Bi­
Alouguia. blioteca,' consignando as perdas de livros e ava­
Criado o «Instituto Agrícola» e «Escola Re­ rias que encontrar, e acompanhando-o das de­
gional de Lisboa», sai no Diário do Governo, vidas explicações.
datada de 15 de Julho de 1853, o seu primeiro Art. 137.0—Os livros serão distribuídos às
regulamento. pessoas que os requisitarem, sendo a requisi­
Em sessão do Conselho Escolar de 3 de Março ção feita por escrito, devidamente assinada.
de 1853, o professor Dr. José Vicente Barbosa Art. 138 o—As pessoas que frequentarem a
du Bocage apresentou e foi aprovada, a parte, Biblioteca serão afendidas na ordem por que
do mencionado regulamento que diz respeito se apresentarem; sendo porém alunos do Ins­
à Biblioteca. tituto precederão aos estranhos.
Transcrevemo-lo por ser a primeira refe­ Art. 139.0—Nenhum livro poderá sair da Bi­
rência que encontrámos acêrca desta reparti­ blioteca, excepto para serviço de qualquer dos
ção, e, por mais de um título, o acharmos um lentes do Instituto.
documento bastante curioso. Art. 14o.0—Nenhum lente poderá ter em sua
casa mais de oito volumes por uma vez, nem
DA BIBLIOTECA E DO BIBLIOTECÁRIO demorar em seu poder uma obra mais de
quinze dias.
Art 132.0—Haverá no Instituto Agrícola uma § i.°—Exceptuam-se das disposições do ar­
biblioteca, composta de obras publicadas nos tigo precedente os livros e atlas que os pro­
diversos ramos das sciências agrícolas, de pu­ fessores precisarem ter nos seus gabinetes
blicações periódicas, e de todos os livros ele­ para seu estudo particular, precedendo autori­
mentares que o Conselho houver adoptado para zação do Conselho.
compêndios. § 2 °—O Conselho da Escola poderá igual­
Art. 133.0—A Biblioteca estará aberta todos mente autorizar qualquer dos professores a
os dias; nos não santificados das dez horas até demorar em sua casa alguns dos livros da Bi­
às quatro da tarde, e nos santificados das doze blioteca que não sejam habitualmente consul­
às três da tarde. tados pelos alunos, por um prazo maior que o
Art. 134.°—Os alunos do Instituto Agrícola marcado no artigo antecedente.
teem entrada na Biblioteca, e bem assim as Art. 141.0—Na Biblioteca da Escola man­
mais pessoas decentes, que a quiserem fre- ter-se-á a ordem e o mais completo silên­
qúentar. cio.
Art. 135.0—Servirá de bibliotecário um dos Art. 142.0—As pessoas que pertubarem a
lentes substitutos do Instituto agrícola, nomea­ ordem serão advertidas, e no caso de reinci­
do pelo govêrno, sob proposta do Conselho da direm, serão mandadas sair imediatamente
Escola- dêste estabelecimento.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 205

*
A Escola Veterinária Militar, que tinha sido
criada por alvará de 29 de Março de 1830, no
*
govêrno de D. Miguel, e instalada na Luz, foi
O Instituto esteve primitivamente instalado por decreto de 8 de Agosto de 1833, levantada
num pequeno edifício situado na Quinta da do estado decadente em que se encontrava, e
Bemposta (quinta hoje pertencente à Escola de passada para a Calçada do Salitre.
Guerra), emquanto o governo não realizou a A carta de lei de 28 de Abril de 1848, que
aquisição e adaptou para o fim destinado, o lhe dá uma nova organização, cria-lhe uina Bi­
Palácio da Cruz do Taboado, antiga residência blioteca, como estabelecimento anexo à Escola.
da Infanta D. Ana de Jesus, filha de D. João IV. Uma disposição da carta de lei diz que a
Logo que se concluíram as obras, foram mu­ Biblioteca será composta das melhores obras
dadas para a Cruz do Taboado as aulas e a sôbre veterinária, e dá-lhe, como bibliotecário
secretaria. o lente da i.a cadeira.
Da instalação da Biblioteca no edifício adap­ No artigo 21.0 do citado decreto de 5 de De­
tado, e dos livros que lhe serviram de fundo, zembro de 1855, fica exarado: «Tôda a mobí­
encontrámos uma elucidativa descrição no lia e materiais da extinta Escola serão transfe­
«Relatório sôbre os trabalhos escolares, pro­ ridos para o Instituto Agrícola e conveniente­
cessos, operações e serviços rurais instituídos mente aplicados aos usos do novo estabeleci­
no Instituto Agrícola e Escola Regional de Lis­ mento». É sobremaneira lógico, devido à dis­
boa durante o ano escolar de 1853-1854 pelo posição dêste artigo, que os livros vindos da
Conselheiro José Maria Grande, director do Escola de Veterinária, dessem ingresso na Bi­
mesmo Instituto». É do teor seguinte a refe­ blioteca do Instituto. Efectivamentc assim foi
rência: «Colocou-se a Biblioteca em uma ou­ porque no «Relatório dos Trabalhos Escola­
tra sala assaz apropriada para o estudo. res» de 1855-1856», do Conselheiro José Maria
«A mobília desta sala é cómoda e de bom Grande, encontramos êste relato. A nossa
gôsto. Não há por ora na Biblioteca um grande Biblioteca foi também consideràvelmente enri­
número de obras; mas as que ali existem são quecida não só pela agregação da da Escola
muito escolhidas e próprias para o ensino, Veterinária, e dum bom número de obras, que
tanto das sciências agronómicas, como daque­ se mandaram comprar em Inglaterra e França
las que lhes são subsidiárias. mas ainda por outras oferecidas ao Instituto,
«À colecção mandada vir de Londres e de e nomeadamente pelas que lhe foram remeti­
Paris, que compreende um certo número de das pela Direcção do Comércio e Indústria,
obras agrícolas de distinto merecimento, vie­ sempre solícita pelo progresso e melhoramento
ram juntar-se uma colecção completa das obras desta escola.
publicadas pela nossa Academia Real das Sciên­ Interessando-nos saber quais as obras que
cias, e outras de igual natureza da Sociedade por essa ocasião deram ingresso na Aiblioteca,
das Sciências Médicas e da Sociedade Farma. dirigimo-nos à Secretaria da Escola de Medi­
cêutica Lusitana. cina Veterinária, onde apesar do bom acolhi­
«Fazendo neste lugar menção destas ofertas mento e da boa vontade dos seus empregados,
permita-se-me que consigne também aqui os que nos patentearam o arquivo, por mais que
agradecimentos do corpo catedrático àquelas procurássemos, não encontrámos nem inventá­
ilustres associações. A Biblioteca tem além rios nem outros quaisquer documentos que dis­
disto recebido, e continua a receber, algumas sessem respeito à entrada dos livros da escola
publicações periódicas agrícolas, tanto france­ extinta, na Biblioteca do Instituto Agrícola.
sas como inglêsas.» E seja dito desde já, também, que pouco
Como fica transcrito, bem auspiciosos foram mais pudemos apurar acêrca dos livros entra­
os começos da Biblioteca; pena foi que de dos na biblioteca; mesmo os que vieram por
futuro nem sempre lhe dedicassem as atenções compra até antes dos fins de 1911, para os enu­
dos primeiros tempos. merar necessário nos seria rebuscarmos tôdas
Por decreto de 5 de Dezembro de 1855, é as facturas dos livreiros fornecedores, e isto,
encorporado no Instituto Agrícola o ensino ve­ que nos traria um trabalho fastidioso, em nada
terinário. interessaria esta notícia.
206
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Percorrendo as actas do Conselho Escolar, 3°—Dr. Joaquim Eleutèrio Gaspar Gomes


achámos, na sessão de 25 de Abril de 1866, que —Não encontrámos nenhuma acta de que
o Sr. professor Álvares Pereira tinha apresen­ conste a sua nomeação, mas vimos que na
tado uma carta de uma Sociedade dos Estados sessão dc 1 de Julho de 1857, êste profes­
Unidos, oferecendo alguns livros ao Instituto. sor deu conta dos trabalhos de catalogação da
Sòmente encontrámos mais, digno de especial Biblioteca.
menção, em Dezembro de 1864, um agradeci­ 4 Professor Alvares Pereira—Em sessão
mento ao sábio botânico, Dr. Frederico Wel- do Conselho de 23 de Fevereiro de 1863, o
witsch, pela oferta do livro que a Biblioteca Sr. Dr. Gomes pede a sua exoneração, que lhe
conserva: «Ulustrations des chênes de 1’Europe é concedida depois de se lançar na acta um voto
et d'Orient avec quelques données sur la pro- de louvor pelos serviços prestados. Na mesma
babilité de les cultiver dans 1’Europe Centrale sessão é nomeado o Professor Álvares Pe­
—Rassemblés, decrits et en partie découverts reira.
par Docteur Théodore Kotschy—Ouvrage con- 5.0— Professor João de Andrade Corvo —
tenant 40 tableaux, impression à 1'huileaccom- Nas actas do Conselho nada encontramos refe­
pagnés du texte en français, allemand et latin. rente à nomeação dêste ilustre estadista, sábio
Vienne et OlmQs, 1862 — Edouard Holzel — e homem de letras. Colocamo-lo aqui, devido
Libraire Éditeur». 1 volume enc. Texto inum. a informações que roputamos fidedignas.
450 X 280.» 6Professor Alvares Pereira—Este Sr. pro­
Não vamos descrever aqui o que foram e a fessor volta a ocupar o lugar de bibliotecário
importância que tiveram para o Instituto os até ser nomeado o Prof. Dr. Silva Rosa.
decretos de 29 de Dezembro de 1864, 8 de Abril 7.0— Dr. António Correia da Silva Rosa —
e 2 de Dezembro de 1869, 2 de Dezembro de Nomeado em sessão de 14 de Novembro de
1886, 8 de Outubro de 1891, 6 de Outubro de 1887, por proposta do Professor Veríssimo
1896 e 4 de Novembro de 1897, porque isso de Almeida. Nesta mesma sessão o Dr. Silva
está circunstanciado e superiormente escrito Rosa propõe que a biblioteca seja mudada para
no livro: L’cnseignemcnt superieur de l’agricul- outro local onde haja mais sossêgo e espaço (1).
ture en Portugal dos Srs. Profs. Cincinato da 8.° — Professor João Ferreira da Silva —
Costa e D; Luiz de Castro. Em tôdas essas refor­ Não encontrámos nenhuma acta que trate da
mas, como se vê nos regulamentos delas con- nomeação dêste professor, mas na sessão de 8
seqiientes, a Biblioteca é sempre mantida. Nos de Maio de 1897, 0 Sr. Ferreira da Silva declara
capítulos que dizem respeito à Biblioteca, se não poder fazer o inventário e catálogo por
por vezes alteram certas disposições regula­ falta de pessoal.
mentares, êsses regulamentos são todavia sem­ Em sessão de 8 de Novembro de 1897 êste
pre iguais na essência. professor pede a exoneração de bibliotecário,
Antes de passarmos a tratar do estado actual que o Conselho aceitou, depois de lhe agrade­
da Biblioteca, criada pelos decretos de 12 de cer os serviços prestados.
Abril, 19 de Agôsto e 24 de Outubro de 1911, 9Professor Henrique dc Mendia—Nenhu­
que desligaram o ensino veterinário do agro­ ma acta menciona a nomeação dêste profes­
nómico, vamos dar uma nota extraída dos li­ sor, mas cremos que devia ter sido após a exo­
vros das actas dos Conselhos Escolares, acêrca neração do Sr, Ferreira da Silva.
dos professores bibliotecários que a tiveram a io.°—Professor João Ferreira da Silva —
seu cargo desde o seu início até ao presente. Em sessão do Conselho Escolar de 5 de Janeiro
de 1898. foi nomeado novamente êste pro­
ORDEM CRONOLÓGICA
fessor no impedimento do Prof. Mendia. Pouco
DOS PROFESSORES BIBLIOTECÁRIOS
depois esta nomeação tornou-se efectiva, con-
i.°—Dr. Tomas de Carvalho— Proposto pelo
Conselho Escolar em sessão de 14 de Junho
de 1854. («) Esta proposta teve andamento e a Biblioteca
2.0 — Dr. Lucas José de Sá e Vasconcelos — foi deslocada da sala onde infimamente funcionava o
Nomeado em sessão de Conselho de 16 de Ou­ «Gabinete de Nosologia» para um edifício isolado
(antiga aula de desenho), onde se conservou até à
tubro de 1856. mudança do Instittuto para a Tapada da Ajuda.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 207

servando-se o Prof. Ferreira da Silva até à data 1911 é colocado na Biblioteca da Escola de
da separação das duas Escolas, passando então Medicina Veterinária.
para a Biblioteca da Escola de Medicina Vete­ IV — Carlos Rodrigues Simões—Actual con­
rinária. servador. É nomeado para a Biblioteca do
11 o—Dr. António Correia da Silva Rosa— Instituto Superior de Agronomia, por decreto
Em reunião do Conselho Escolar do Instituto de 22 de Agôsto de 1911. Tomou posse aos
Superior de Agronomia, de 30 de Outubro de treze dias de Setembro de 19rr. (Livro de posses
içir, é nomeado o Dr. Silva Rosa, actual do Instituto Superior de Agronomia, pág. 3).
professor bibliotecário, que em 1887, como já Temos ainda para juntar à lista do pessoal
nos referimos, exercera as mesmas funções na auxiliar da Biblioteca mais uma nota. Sabendo
Biblioteca, então comum aos dois cursos do nós que o Ex.mo Sr. António Romão dos Passos,
extinto Instituto de Agronomia e Veterinária. Ilustre colaborador de jornais agrícolas, dis­
tinto e devotado bibliófilo e coleccionador da
* Bibliografia Agrícola Portuguesa, tinha estado
* * em época indeterminada a catalogar os livros
E já que apresentamos uma lista dos pro­ da Biblioteca, dirigimo-nos a êste senhor, que
fessores-bibliotecários, apresentamos também amàvelmente nos indicou que a sua estada na
a dos conservadores. Biblioteca tinha sido pelos fins de 1895. Efec-
O lugar de conservador ê criado no Regu­ tivamente procurando na correspondência do
lamento do decreto de 29 de Dezembro de 1864, Instituto de Agronomia e Veterinária, dêsse
e a êle se referem por esta forma os artigos ano, encontramos a sua nomeação: «Ordem de
75.0 e 76.0. serviço n.° 108—Determina S. Ex.a o Ministro,
Art. 75.0—O serviço interno da Biblioteca é que o empregado António Romão dos Passos,
desempenhado por um empregado com o nome actualmente comissionado na Secretaria dêsse
de conservador da biblioteca, que será nomeado Instituto, passe a servir na Biblioteca do mesmo
pelo director sob proposta do bibliotecário. Instituto, encarregando-se especialmente, sob
Art. 76.°—Um regimento especial regulará ordens de S. Ex.a o Director, da catalogação
o serviço interno da Biblioteca, bem como as de livros e de jornais scientíficos ali existentes.
funções do conservador da mesma. —Direcção dos Serviços Agrícolas, em 26 de
Outubro de 1895. (a) Elvino de Brito.»
O Sr. Romão dos Passos, não só catalogou,
CONSERVADORES
mandou alargar os armários e arrumou parte
I. — Antônio Gonçalves Pontes—Foi aluno do da Biblioteca, como ainda lhe ofereceu algu­
curso de «Lavrador Veterinário», desde 1858 a mas obras. Foi todavia curta a sua estada na
1867 em que fêz acto grande. Sendo empregado Biblioteca, porque pouco depois passava a pres­
jornaleiro, aparece nas fôlhas do pagamento, tar serviço como Inspector na Companhia do
como conservador da biblioteca, desde Julho Crédito Predial.
de 1865 até Setembro de 1876, onde estão men­ «Ainda antes de entrarmos no estado actual
cionados apenas cinco dias de vencimento. da Biblioteca, diremos que os Srs. Profs. Cin-
II — Higitio Gonçalves Pontes—Era irmão do cinato da Costa e I). Luiz de Castro, no seu
anterior e foi nomeado conservador, por des­ livro Uenseignement superieur de Vagriculture
pacho de 26 de Setembro de 1876. en Portugal, publicado em 1900, computam em
«Em sessão de 19 de Julho de 1898, o Sr. pre­ cinco mil o número das obras de agronomia e
sidente noticia o falecimento do conservador veterinária existentes na Biblioteca do então
Pontes, propondo um voto de sentimento, que Instituto de Agronomia e Veterinária.
foi aprovado.» Não tendo nós encontrado, por maiores
III — José Maria Teixeira de Carvalho—No­ pesquisas Que fizéssemos, mais nenhuma nota
meado por despacho ministerial de 25 de Ju­ que possa interessar esta notícia passaremos a
lho de 1898. No «Livro de posses do Instituto tratar da Biblioteca presentemente.
de Agronomia e Veterinária», vem exarado que Como já acima mencionamos, os decretos de
tomou posse aos trinta dias do mês dé Julho 12 de Abril, e 19 de Agôsto de 1911, reformando
de 1898. Por decreto de 30 de Setembro de o ensino agronómico, criaram o Instituto Su­
208 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

perior de Agronomia e a Escola de Medicina assim a sua colecção. Muitas ficaram trunca­
Veterinária. A Biblioteca que, até então fóra das, por terem desaparecido volumes que as
comum aos dois cursos, sofreu por consequên­ compunham. Só com o decorrer do tempo te­
cia o mesmo efeito da reforma, dividindo-se mos conseguido coordená-las, fazendo voltar
em dois anexos, cabendo cada um à sua escola. os volumes perdidos, ou adquirindo-os nos al­
Após a constituição dos dois estabelecimentos farrabistas, quando os topamos. Os jornais,
foi em Conselho Escolar nomeada uma comis­ revistas e publicações periódicas estavam numa
são encarregada de fazer a separação das obras lástima. Desde 1896 que não eram encaderna­
existentes, como consta dum auto arquivado das; meses levámosa coleccioná-los, preenchen­
nesta Biblioteca (Instituto Superior de Agro­ do as faltas com a aquisição de novos números.
nomia), do qual damos um resumido extracto: Este era o quadro, e bem triste, do estado em
Aos três dias do mês de Abril de 1912, a co­ que se encontravam as espécies. Os serviços
missão composta pelos Srs. Professores, Dr. da Biblioteca não desmanchavam o conjunto.
António Correia da Silva Rosa, João Fer- Encontrámos um velho catálogo, falho de in­
reira da Silva e Manuel Diogo da Silva, dicações bibliográficas, onde havia muitos
secretariados pelos conservadores das duas anos não dera entrada um verbete. O livro de
bibliotecas, Josê Maria Franco Teixeira de registo das obras era acessório que não exis­
Carvalho e Carlos Rodrigues Simões, pro­ tia, e as saídas por empréstimo eram lançadas
cedeu à separação dos livros, ficando perten­ em bocados de papel, desordenadamente.
cendo à Biblioteca do Instituto Superior de Descrevendo o estado em que encontrámos
Agronomia tòdas as obras de agronomia e a Biblioteca, não carregamos de tintas negras
sciencias relativas, e à Biblioteca da Escola a pintura; o que fica escrito é a verdade, dita
de Medicina Veterinária, tôdas as obras de sem rodeios nem exageros.
medicina veterinária e humana. Os livros re­ Devido a esta desorganização, a frequência
ferentes ao estudo de matérias comuns às duas de leitores era quási nula. Só três meses de­
escolas foram divididos, passando para a Bi­ pois da nossa entrada é que ela começa a ser
blioteca da Escola de Medicina Veterinária os freqúentada, porque conforme os serviços se
que constam duma relação apensa ao auto. iam regularizando, iam também as consultas
*
aumentando de número. (Vidé mapa N.° 1.
Movimento de leitores e volumes consultados
* * no ano de 1912).
Cessamos neste ponto a transcrição do que *

publicámos no «Boletim Bibliográfico», para


com mais largueza tratarmos da Biblioteca :í! *
após a separação das escolas. Não tivemos que continuar um trabalho, ti­
Herdámos do Instituto de Agronomia e Ve­ vemos que fazer obra nova. Como o mal era
terinária cêrca de 4.000 volumes, que nos ser­ profundo, ainda algumas vezes durante a reor­
viram de fundo à actual Biblioteca. ganização ficámos embaraçados, devido a erros
O estado de abandono e desleixo em que que de longe vinham. Limpas, ordenadas e
encontrámos estas espécies, era espantoso. arrumadas as espécies, o Sr. Professor-biblio­
Era um caos! As obras amontoavam-se em­ tecário mandou proceder à sua catalogação.
pilhados nos vãos das janelas, as mesas de Para facilitar a consulta, mas indo talvez con­
leitura vergavam às rumas de livros e pelos tra as regras da biblioteconomia, principiámos
armários, em confusão de formatos e de sciên- por organizar um catálogo sistemático ou por
cias, estava o resto da livraria. matérias. Desde já diremos que as leis gerais
Foi o actual professor bibliotecário, Sr. Dr. aplicadas às grandes Bibliotecas, nem sempre
António Correia da Silva Rosa, o primeiro a quadram bem às pequenas livrarias e, sobretu­
dar o exemplo na arrumação. Dias a fio, úteis do, quando estas teem um carácter e um fim es­
e feriados, passou sôbre um escadote, ordenan­ pecial, como a do Instituto Superior de Agro­
do e arrumando os livros nos armários. Foi um nomia. Por isso o Sr. Professor-bibliotecário,
trabalho insano, porque as obras de mais de olhando mais às necessidades pedagógicas do
um volume achavam-se dispersas, dificultando que às regras estabelecidas, não só arrumou as
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 209

espécies por sciências como também assim e Sousa, a par de algumas discordâncias acêrca
ordenou a sua catalogação. Em oito anos de da organização actual da biblioteca, faz-se in­
adopção proveitosa dêste sistema, está a con­ teira justiça ao trabalho havido para a tornar
firmação do seu bom resultado. Os alunos do numa utilidade. Este senhor que, por mais duma
Instituto, querendo preparar um estudo sôbre vez.noseutrabalhotem palavras que muito nos
determinado assunto, encontram reunidas as desvanecem, sobretudo por serem ditas por
obras não só no catálogo como nas estantes. pessoa autorizada no assunto, logo no prefácio
E se ainda, pelo grande movimento de con- da sua obra nos faz as seguintes referências:
sulentes (muito maior do que em escolas de «Sabíamos porém que o Instituto Superior
superior população de alunos), se pode tirar de .Agronomia, de que fomos aluno, acabava
corolários em favor do sistema descrito, estes de ser transferido da sede onde existia desde
são esmagadores em sua defesa. As dificul­ a sua fundação, em 1853, para as suas novas
dades de aproveitamento dos espaços são instalações na Real Tapada da Ajuda, e que
bem compensadas com a rapidez com que os para aí se andava- transferindo a sua biblio­
leitores encontram o que desejam. teca. Pequena em si, pois que de pouco mais
Além do catálogo por matérias, concluído de 8.oco volumes consta, esta biblioteca esti­
em poucos meses, mais tarde outros se ini­ vera sempre muito desorganizada; apenas
ciaram em harmonia com o «Regulamento Ge­ nestes últimos anos, o seu actual director, coad­
ral do Instituto Superior de Agronomia», apro­ juvado por um zeloso conservador e lutando
vado pelo decreto n.° 867 de 16 de Setembro com mil dificuldades, procura remediar ma­
de 1914, que no artigo 43.0 diz: Ilaverá 11a bi­ les que de longe veem.
blioteca três catálogos: um por obras, outro «Cheios de reconhecimento, não podemos
por autores e outro por matérias. deixar de registar aqui tôda a benevolência e
Encetámos ainda um catálogo ideográfico, solicitude que encontrámos no ilustre profes­
que, contendo já algumas centenas de verbe­ sor bibliotecário Dr. António Correia da Silva
tes, foi interrompido por motivos especiais. Rosa e no digníssimo conservador Sr. Carlos
Prolixo seria descrever o critério que tem Rodrigues Simões, sempre que a S. Ex.as, nos
presidido à redacção dos verbetes e remissas dirigimos pedindo esclarecimentos e informa­
que é, com pequenas variantes, o indicado ções.»
em recentes tratados de biblioteconomia e «O Sr. Dr. Silva Rosa fôra nosso professor
usado geralmente em tôdas as bibliotecas e sabíamos por experiência própria o auxílio
organizadas. que presta a todos que se lhe dirigem ou que
Com a reorganização da Biblioteca foram de S. Ex.a dependem.»
criados livros de registo de entrada de obras, «O Sr. Simões, que não tínhamos o gôsto
inventários e registos de empréstimos. Só de conhecer, atendeu-nos como se fôssemos
aos Professores do Instituto é dado requisi­ de antigas relações e cremos podê-lo contar
tarem livros para consulta. Devido a esta no número dos nossos amigos. Ao seu tra­
excelente medida, durante oito anos, apenas balho, zêlo e dedicação se deve principalmen­
um volume se extraviou da Biblioteca. te, como tantas vezes teremos ocasião de o
As obras em triplicado e as truncadas, pas­ fazer notar, o contraste entre a organização
sadas da Biblioteca para um depósito, tam­ que a Biblioteca actualmente apresenta e a
bém foram inventariadas e catalogadas. que em outros tempos tinha e de que resulta
Fica aqui relatado, a largos traços, quais os um número cada vez maior de consulentes.»
serviços de reorganização que tornaram o O Sr. Dr. José Saldanha de Oliveira e Sousa
caos numa biblioteca ordenada e frequentada, na sua dissertação, que por mais dum título é
que tem merecido dos que a visitam referên­ uma obra de superior merecimento, onde o
cias elogiosas. seu autor, a par de profundos conhecimentos
Numa dissertação intitulada «Reorganização de biblioteconomia, revela, em opiniões pró­
da Biblioteca do Instituto Superior de Agro­ prias, muita justeza de critério, descreve deti­
nomia» (I. S. A.), do engenheiro-agrónomo, di­ da e desenvolvidamente, de páginas 6 a 28, os
plomado com o curso de bibliotecário-arqui­ nossos trabalhos realizados desde 1912 a 19x8.
vista, Sr. Dr. José Luiz Saldanha de Oliveira Aproveitando o ensejo para aqui fazermos

14
210 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

públicos os nossos agradecimentos a S. Ex.a, sesem respeito. Desde então, freqúentando


pela forma tão cativante como nos fêz justiça, leilões de livros, escabichando pelas poeiren­
esperamos continuar sempre merecendo-lhe tas prateleiras dos alfarrabistas e em caminha­
o mesmo conceito, principalmente agora que das à Feira da Ladra, temos conseguido com
o Sr. Dr. Oliveira e Sousa, como assistente trabalhos e canceiras realizar uma já assaz nu­
das cadeiras de Economia Rural, Agricultura merosa colecção de volumes e folhetos, entre
Comparada e História da Agricultura, coopera os quais se encontram algumas espécies raras.
na grandiosa obra do Instituto, que tão glorio­ Assim, a par de obras de Felix Avelar Bro-
sas tradições conta na difusão da sciência tero, Domingos Vandelli, João António Dalla-
agronómica. Bela, Silvestre Gomes Morais (Vicencio Alar-
* te), Fr. José Mariano da Conceição Veloso e
dos colaboradores das «Memórias Económicas
:H * da Academia Real das Sciências de Lisboa»
A Biblioteca desorganizada que recebemos e das «Memórias da Agricultura» da mesma
estava ainda atrasada em face do movimento Academia, possue a biblioteca livros do gale­
scientífico. O Sr. professor-bibliotecário, ata­ go João António Garrido e de Fr. Theobaldo
cando êsse mal, fêz assinaturas de novas re­ de Isu Maria, que desde meados do século xviii
vistas e jornais e adquiriu numerosas obras até aos princípios do século xix, em curiosos
modernas, que vieram enriquecer as várias e picarescos tratados de agricultura, ensina­
secções. Pouco a pouco fomos reatando re­ vam a cultura da terra e o valor e proprie­
lações com escolas, entidades e estabeleci­ dades mèzinheiras das plantas.
mentos scientificos tanto do País como do Procurando reunir as obras dos professores
estrangeiro. Não foi tarefa fácil conseguirmos que teem passado pelo Instituto, conseguiu o
ser bem acolhidos nos nossos pedidos de pu­ Sr. professor-bibliotecário que tôdas as espé­
blicações, porque devido a não se acusar a cies guardadas em uma estante denominada
recepção, os envios para a Biblioteca desde há arquivo, existente na sala do Conselho (antigo
muito tinham sido interrompidos. Hoje rece­ edifício do Instituto), e a cargo do falecido
bemos boletins e publicações dos Institutos, professor Sr. Augusto de Figueiredo, ingres­
Escolas agrícolas e entidades do Brasil, Fran­ sassem na Biblioteca. Na colecção, alguns pro­
ça, Itália e Bélgica, e últimamente, devido à fessores não estavam representados e outros,
montagem na Biblioteca duma secção de expe­ quási todos, o eram muito deficientemente.
dição de publicações do Instituto, consegui­ Actualmente todos estão representados na Bi­
mos pôr-nos em relação com cêrca de vinte blioteca, tendo engrossado por forma consi­
Universidades e Escolas dos Estados-Unidos derável o número de obras saídas dessa pleia-
da América. Usando o mesmo processo, te­ de ilustre, que o Sr. professor Dr. Filipe
mos recebido boletins da Argentina, Japão, Eduardo de Almeida Figueiredo tão brilhan­
Suécia e Dinamarca. Esperamos ainda que as temente descreve no seu livro «O antigo Ins­
relações da Biblioteca mais se ampliem e de­ tituto Agrícola e a sua obra» (1852 a 1911). A
senvolvam com a permutadospresentes Anais. propósito désse livro, transcrevemos da bio­
Posta a Biblioteca em dia com o movimento grafia do Sr. Dr. Silva Rosa, uma referência na
scientífico e principalmente no que diz respei­ qual o autor presta preito à desvelada dedica­
to à sciência agronómica, uma grande lacuna ção dêste Sr. professor à Biblioteca. «Encarre­
havia ainda a preencher; era encetarmos uma gado pelo Conselho Escolar da reorganização
colecção da bibliografia agrícola portuguesa. e direcção da Biblioteca tem-se havido neste
Não se compreendia que o principal estabele­ cargo por forma a tornar êste anexo do Instituto
cimento de ensino agrícola do país tivesse a um verdadeiro modêlo, não só enriquecendo-a
sua Biblioteca desprovida do que se tem pu­ com as melhores e mais modernas obras sô­
blicado em português sôbre êste ramo de sciên­ bre as diversas especialidades agrícolas e agro­
cia. O Sr. professor-bibliotecário, criteriosa- nómicas, como tem conseguido, com grande
mente assim o pensou, determinando que para diligência, formar uma colecção de tôdas as
a Biblioteca fóssem adquiridas tôdas as espé­ obras sôbre assuntos agrícolas escritas em Por­
cies que à bibliografia agrícola portuguesa dis- tugal, e algumas hoje de bastaute raridade.»
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 211

As dissertações inaugurais manuscritas que Med. Doct. et in horto medico Amstelasdameni


estavam guardadas na «casa forte» e a cargo professoris botanici, Academiae Cassareae Na-
da secretaria do antigo Instituto, também pas­ turae Curiosorum Socii; qui varia adjecitSyno-
saram para a Biblioteca. A colecção, na qual nyma, suasque Observationes. Amstelaedami;
faltavam muitas teses, estava mal conservada, Apud-Meinardum Uytwerf. mdccl-mdcclv».
o que levou o Sr. professor-bibliotecário a (Duplo frontispício Latim-Holandês). Vol. l.°
mandá-la encadernar, deixando-lhe todavia (Duas gravuras, uma com o retrato de Rum-
ficar as capas e as fôlhas de guarda das primiti­ phius e outra com o retrato de Burmannus) 82
vas brochuras. A muito custo, depois que estas grav., 32 inum. 200 pág.—Vol. 2.0, 87 grav., 270
espécies estão na nossa posse, já conseguimos pág.—Vol. 3.0 141 grav., 218 pág.—Vol. 4.0 82
rehaver cinco extraviadas, havendo entre estas grav, 154 pág.—Vol. 5° 184 grav., 4 inum., 492
uma que andou trinta anos fora do Instituto. pág.—Vol. 6.° 90 grav., 4 inum., 256 pág. (Aden-
As dissertações inaugurais e de concurso, da) 29 grav. 1 inum., 74+20 de índice Univer-
impressas, também estavam muito truncadas, salis, 1 inum., pág. 6, vol. 310X170.(No catálogo
o que nos obrigou a comprar algumas em al­ da livraria de Jesus da Academia das Sciências
farrabistas, para conseguirmos completar a de Lisboa, tem a notação de Rara).
colecção. «Hedricum van Rheede, van Draakensteinet
Sôbre êste motivo mais teríamos a dizer, Johannem Casearium-Arnoldus Syen-Joannes
mas para obviar a detalhes, citaremos que nas Commelinus-Johannem Munnicks-Théodorum
nossas caixas de arrumação guardamos cêrca Janson, Ab. Almeloveen-Abrahamus a Poot—
de mil folhetos em português sôbre assuntos Hortus Indicus Malabaricus, continens Regni
agrícolas, agronómicos, sciências e artes rela­ Malabarici apud Indos celeberrimi omnis ge-
tivas e derivadas. neris Plantas rariores, Latinis, Malabaricis,
Por um apanhado feito em 22 de Novembro Arabicis & Bramanum Characteribus nomini-
’ de 1918, contamos existentes na biblioteca busque expressas, una cum Floribus, Fructi-
2.784 obras em diversos idiomas e 2.795 em bus & feminibus, naturali magnitudine à peri-
português ou de autores portugueses. Por tissimis pictoribus delineatas, & ad vivum ex-
esta estatística bem se pode avaliar as aten­ hibitas. Addita insuper accuratâ earunden des-
ções que nos tem merecido a colecção da bi­ criptione, quâ colores, odores, sapores, faculta-
bliografia agrícola portuguesa. tes,& praecipuae in Medicinâ vires exactissime
«Encerrando esta biblioteca obras de alto demonstrantur. Adurnatus. Amstelodami,
valor scientífico, não possue, todavia, incuná- Sumptibus—Jannis van Someren et Joannis
bulos nem manuscritos preciosos. van Dyck. Anno ci d idc lxxviii—cio idc chi.
«Registaremos apenas como dignas de men­ Tom. I—Pars I, 57 fig., 16 inum. 110 pág., 1 In­
ção especial, da secção de botânica, as obras dex. Pars II—56 fig., 8 inum., 110 pág., 1 In­
seguintes: Georgii Everhardi Rumphii, Med. dex, Tom. II—Pars III—64 fig., 24 inum., 87
Doct, Hanavensis, Mercatoris Senioris, & in pág., 1 Index. Pars IV—61 fig., 4 inum., 125 pág.,
Amboina Consulis, nomine Plinii Indici cele- 1 Index. Tom. III—Pars V—60 fig., 8 inum., 120
bris, & Membri Inlustris Societatis Academiae pág. 1, Index. Pars VI—61 fig., 8 inum., 109 pág.,
Naturas Curiosorum Germaniae. Herbarium 1 Index. Tomo IV—Pars VII—59 fig., 4 inum.,
Amboinense, plurimas conplectens arbores, 111 pág., 1 Index. Pars VIII—51 fig., 4 inum.,
frutices, herbas, plantas terrestres, & aquaticas, 97 pág., 1 Index. Tômo V—Pars IX—87 fig.,
quae in Amboina, et adjacentibus reperiuntur 8 inum., 170 pág., 1 Index. Pars X—94 fig.,
insulis adcuratissime descriptas juxta earum 4 inum., 187 pág., 1 Index. Tômo VI—Pars XI
formas, cum diversis denominationibus, cultu­ —65 fig., 4 inum., 133 pág., 1 Index; Pars XII
ra, uso, ac virtutibus. Quod et insuper exhibet & última—79 fig., 4 inum., 151 pág., 9 Index.
varia insectorum animaliumque genera, pluri- —6 vol. 295 X 165.
ma cum naturalibus eorum figuris depicta. Om- «Fr. José Marianno da Conceição Velloso.—
nia magno labore ac studio muitos per annos Petro, nomine ac império primo Brasiliensis
conlecta, & duodecim conscripta libris. Nunc Imperii-Perpetuo defensore imo fundatore—
primum in lucem edita, & in Latinum sermo- Scientiarum artium litterarumque—Patrono
nem versa, cura et studio Joannis Burmanni, et cultore jubente—Florae Fluminensis.
212 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

nes—Nunc primo ed natur—Eddit Domnus risco, devido a uma inundação causada pela
Frater Antonius da Arrabida, Episc de Ane- chuva num anexo da Biblioteca, onde os vo­
muria Caesareoe Magestatis a Consilus, nec lumes se acumulavam à espera que se cons­
non Confessor, Capelani Maximi Coadjutor, truíssem os armários da grande sala de leitura.
Studiorum Principum ex Imp. Stirpe Modera- Felizmenle providenciámos a tempo, e imi­
tor & Imperial Publicaeque Bibliotecae in tando o processo de Antoine Alexandre Bar-
Urbe Fluminensi Praefectus. Parisiis ex off. bier, usado na mudança da Biblioteca do
lithogr. Senefelder—Curante F. J. Knecht. «Conseil d’État», à falta dos cento e vinte
1827. Vols. I, 153 Tabs., II. 156 Tabs., III, 168 granadeiros (un peu intelligcnts), mobilizámos
Tabs., IV, 189 Tabs., V, 135 Tabs., VI, 1x3 todo o pessoal menor, e de mão em mão for­
Tabs., VII, 164 Tabs., VIII, 164 Tabs,, IX, 128 mando cadeia, os volumes foram postos em
Tabs., X, 143 Tabs., XI, 127 Tabs. Vols. 11 lugar seguro.
450X265. (Esta obra já foi adquirida depois Durante perto de dois anos, a consulta da
da separação das bibliotecas (1). Biblioteca foi prejudicada com a falta de ar­
mários, limitando-nos durante êsse tempo a
* fornecer aos leitores um determinado número
* *
de obras, que por serem de constante con­
O decreto de 12 de Dezembro de 1910, do sulta, tínhamos arrumado em três velhos ar­
então Ministro do Fomento Sr. Dr. Manuel de mários vindos do antigo Instituto.
Brito Camacho, entrega ao Instituto a Tapada Apesar de desguarnecida a sala de leitura,
da Ajuda e nesse local manda construir o por ocasião da sessão solene de abertura das
novo edifício escolar. aulas do ano lectivo de 1918-1919, realizámos
As obras da sua construção foram ultima­ uma exposição das obras do ilustre professor
das no 2.0 semestre de 1917, começando a fa­ João Inácio Ferreira Lapa.
zer-se a mudança da Biblioteca, em Novem­ Desde há muito que por ordem do Sr. pro­
bro do referido ano. Bem acondicionados em fessor-bibliotecário vínhamos coligindo as re­
caixotes, saíram os livros do antigo palácio feridas obras. O mesmo senhor,em homenagem
da infanta D. Ana de Jesus, chegando sem à memória de Ferreira Lapa, mandou-as enca­
prejuízo de maior monta ao novo edifício eri­ dernar luxuosamente nas oficinas de A. David.
gido na Tapada da Ajuda, antiga mata, man­ As peles e os dourados a ferros especiais em­
dada murar pelo Marquês de Pombal para os pregados nas encadernações, constituem um
exercícios cinegéticos de D. José I. precioso trabalho artístico, digno de admiração.
Na sua obra «Le livre» diz Alberto Cim, a Aproveitando o ensejo da abertura das aulas,
propósito de mudanças de bibliotecas: «Lors- organizámos a dita exposição, que foi inaugu­
qu'i 1 ne s’agit que de meubles, trois démena- rada em 12 de Janeiro de 1919 pelo Presidente
gements, dit le proverbe^valent un incendie; da República, Ex.mo Sr. Canto e Castro, com a
«lot\squ’il s’agitde livres, deus déménagements assistência dos Srs. Ministros da Agricultura e
équivalent à tous les incendies du monde...» Colónias, Director e corpo docente do Instituto,
A algumas encadernações roçadas se limi­ professores de ensino superior, Associações
taram as avarias da no»sa mudairça. Mais tar­ agrárias e individualidades em destaque nas
de sim, é que as espécies correram grave1 .sciências. A exposição, que depois foi muito
visitada, tinha também como interessante uma
porção de documentos vários, cartas de cur­
(1) As estampas de Florae Fluminensis, foram desenha­
das por Fr. Francisco Solano. As estampas que faltavam so, diplomas de condecorações e de sociedades
nos volumes 4.0 Estampa 107. 6° Estampa 113, 7.0 Estam­ scientificas nacionais e estrangeiras, às quais o
pa 92. io.° Estampa 50, 55, 56 e 141. n.° Estampa 31, foram eminente professor Ferreira Lapa pertenceu.
primorosamente copiadas do exemplar da Biblioteca Na­
Como por mais dum motivo pode interessar
cional, pelo, entflo desenhador dèste Instituto, Júlio Me­
nezes (nota do conservador, extraída do verbete de cata­ aos estudiosos, deixamos aqui inserido o ca­
logação da referida obra). tálogo das obras que estiveram expostas.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 213

CATÁLOGO DAS OBRAS DO PROFESSOR JOÃO INÁCIO FERREIRA


LAPA, EXPOSTAS NA BIBLIOTECA DO INSTITUTO SUPERIOR
DE AGRONOMIA, EM 12 DE JANEIRO DE 1919

Almanach do Lavrador (Colaboração com ^ Discurso inaugural pronunciado na sessão


João Felix Pereira) ânuos de ]866-1867-1868- solemne da abertura das aulas no Instituto
-1869-1870 1871—Lisboa, Typ. de José da Cos­ Geral de Agricultura, no anno lectivo de 1876-
ta Nascimento Cruz 1865 a 1870. 124 X 69. 1877. Lisboa Typ. da Academia Real das
Sciências 1876. 37 pags. 162X90.
/ Bagaço (Os) de purgueira, mendobi, linha­
ça e côco para adubo das terras e engorda Discurso inaugural proferido na sessão so­
dos gados. Lisboa, Imprensa Nacional, 1884. lemne da abertura das aulas do Instituto Ge­
30 pags. 121 X 72. ral de Agricultura no anno lectivo de 1877-
1878. Lisboa, Typ. do Jornal O Progresso,
Cathecismo popular de agricultura ou pe­ 1879. 43 pags. 170 X 90.
quena encyclopedia agrícola para as escolas
primarias, e para as quintas de ensino. (Cola­ I Discurso inaugural recitado na sessão so­
boração com Silvestre Bernardo Lima). Lis­ lemne da abertura das aulas do Instituto Ge­
boa, Imprensa de Francisco Xavier de Sousa, ral de Agricultura no anno lectivo de 1879-
1856. 171 figs. VIII-[—272 pags. 130 X 83. 1880. Lisboa, Imprensa Nacional 1879.17 Pa8s-
219 X 125.
Chimica agricola ou estudo analytico dos
terrenos, das plantas e dos estrumes. Lisboa. ■ Discurso inaugural recitado na sessão so­
Typ. da Academia Real das Sciências 1875. lemne da abertura das aulas do Instituto Ge­
59 figs. XI+508 pags. 1-(-Errata. 165 X 90. ral de Agricultura no anno lectivo de 1880-
1881. Lisboa, Imprensa Nacional 1880.21 pags.
'■/ Compendio popular de mechanica e suas 219 X 126.
principaes applicações. Lisboa, Typ. do Cen­
tro Commercial 1855.104 figs. 130 pags. 146X75. ^ Discurso inaugural recitado na sessão so­
lemne da abertura das aulas do Instituto Ge­
V Compendio popular de pliysica e chimica ral de Agricultura no anno lectivo de 1881-
applicadas á industria. Lisboa, Typ. do Cen­ 1882. Lallemant Fréres, 1881. Typ. Lisboa, 13
tro Commercial 1854. Vol. I Physica, 147 figs. pags. 246 X 158.
154 pags. Vol. II Chimica, 23 figs. 96 pags.
146 X 75. Discurso inaugural recitado na sessão so­
lemne da abertura das aulas do Instituto Ge­
J Compendio popular de Zoologia ou brevís­ ral de Agricultura no anno lectivo de 1882-1883.
sima descripção do reino animal. Lisboa, na Lisboa. Typ. da Academia Real das Sciências
Typ. do Centro Commercial 1856. 158 figs. 1882. 31 pags. 168X90.
102 pags. 146 X 75.
Discurso inaugural recitado na sessão so­
Conferencias agrícolas. III Conferencia feita lemne da abertura das aulas do Instituto Ge­
na Real Associação central da agricultura por- ral de Agricultura no anno lectivo de 1883-
tuguêza. Typ. Universal de Thomaz Quintino 1884. Lisboa, Imprensa Nacional, 1883, 46 pags.
Antunes 1867. l9 Paos. 178X106. 168 X 90.

J Discurso inaugural proferido no dia da ses­ Discurso inaugural recitado na sessão so­
são solemne da abertura das aulas do Insti­ lemne da abertura das aulas do Instituto Ge­
tuto Geral de Agricultura. (Anno lectivo de ral de Agricultura, no anno lectivo de 1884-
1870-1871). Lisboa, Typ. Universal de Thomaz 1885, no qual se comprehende o Relatório do
Quintino Antunes, 1870. 13 pags. 220 X 125. mesm estabelecimento referido, no anno de
214 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

1884. (Publicado na «Gazeta dos Lavradores», das Obras Publicas Comércio e Industria, pela
de pags. 145 a 153) 247 X 155. comissão nomeada em portaria de iode Agos­
to de 1866. (Colaboração com o Visconde de
Discurso inaugural e relatório recitado na Vila Maior e A. A. de Aguiar». Lisboa, Im­
sessão solemne da abertura das aulas do Ins­ prensa Nacional, 1867. 704-1404-79 págs. 198
tituto Geral de Agricultura, no anno lectivo X 110.
de 1885-1886, celebrada no dia 24 de Outubro
de 1885. Lisboa, Imprensa Nacional, 1885. 35 ^ Memória (Segunda) sobre os processos de
pags. 170 X 90. vinificação empregados nos principaes cen­
tros vinhateiros do continente do reino, apre­
Discursos recitados no Instituto Geral de sentada ao illustríssimo e excellentíssimo se­
Agricultura, actualmente Instituto de Agro­ nhor Ministro das Obras Publicas, Commércio
nomia e Veterinária, e na Escola prática e Industria, em resultado da excursão mandada
central de agricultura, por ocasião da aber­ fazer pela portaria de 24 de Agosto de 1867. (Co­
tura das respectivas aulas (J. I. Ferreira Lapa laboração com o Visconde de Vila Maior e A.
e Gualdino Augusto Gagliardini). Lisboa, Im­ A. de Aguiar). Lisboa, Imprensa Nacional, 1868.
prensa Nacional, 1887, 36 pags. 176 X 90. 214-23 figs. 254-1284-84 pags. 198 X no.

Discurso inaugural proferido na sessão so­ / Miscellanea rural. Lisboa, 1871. (Os «seis
J lemne da abertura das aulas do Instituto de
Agronomia e Veterinária no ano lectivo de
almanachs do lavrador» reunidos em um vo­
lume).
1887-1888. Lisboa, Imprensa Nacional, 1888,
31 pags. 175 X 90. ^ Relatorio da analyse dos vinhos apresenta-
. dos na Exposição agrícola de Lisboa, 1884.
Discurso inaugural recitado na sessão so­ Trabalho executado no Instituto Geral de
lemne da abertura das aulas e distribuição de Agricultura. Lisboa, Imprensa Nacional, 1886,
prémios aos alunos do Instituto de Agronomia 109 pags. 245 X 157.
e Veterinária no anno lectivo de 1888-1889. Lis­ (/ Relatório da commissão nomeada para es­
boa, imprensa Nacional, 1888.15 pags. 175 X 90.
tudar a influencia da resinagem no Pinhal de
Leiria. (Colaboração com Bernardino de Bar-
y Discurso inaugural recitado nasessãosolem-
ros Gomes e Jayme Batalha Reis). Lisboa,
ne da abertura das aulas e da distribuição de
Imprensa Nacional, 1881, 41 págs. 178 X 90.
prémios aos alunos do Instituto de Agronomia
e Veterinária no anno lectivo de 1889-1890. Lis­ ^ Relatório do estudo industrial e chimico
boa, Imprensa Nacional, 1890, 53 pags. 175X 90. dos trigos portuguezes, reduzidos a vinte e
nove tipos vulgares.
Discurso inaugural recitado no dia da ses­ Trabalho executado no Instituto Agrícola,
são solemne da abertura das aulas do Insti­ sob os auspícios da repartição,de agricultura
tuto de Agronomia e Veterinária para o anno do Ministério das Obras Públicas, Commércio
lectivo de 1889-1890. Lisboa, Imprensa Nacio­ e Industria. Lisboa, Imprensa Nacional, 1862,
nal, 1891. 176 X 90. 81 pags. 165 X 90.
/ Explanações ao pensamento de se crear V Relatorio da missão agrícola na província
uma companhia auxiliadora da indústria vi­ do Minho, desempenhada pelo commissário
nícola. (Relator João Ignácio Ferreira Lapa). do govêrno João Ignácio Ferreira Lapa, no
Lisboa, Typ. do «Jornal do Commércio», 1888. (p ano de 1870, desde 15 de Agosto a 15 de Se­
31 pags. 165 X 90. tembro. Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, 38
figs. 108 pags. 216 X 132.
J Memória sobre os processos de vinificação
^ Revista da agricultura na Exposição univer­
empregados nos principaes centros vinhatei­
ros do continente do reino, apresentada ao sal de Paris de 1878. Lisboa, Imprensa Nacio­
illustríssimo e excelentíssimo senhor ministro nal, 1879, 118 figs. 170 pags. 233 X 138.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA ai5

Tabella e considerações acêrca do regimen «Gazeta dos Lavradores». Lisboa, Lallemant


alimentar médio portuguez. (Publicado no re­ Fréres, 1879. 223 X 157.
latório da dfrecção geral do commércio e in­
dustria acerca dos serviços dependentes da Jornal official de agricultura. 4 vols. Lisboa,
repartição de agricultura desde a sua funda­ tip. do jornal «O Progresso», 1877-1880. 223 X
ção até 1870. Lisboa, Imprensa Nacional, 1873. 125.
De pags. 27 a 35. 240 X 145.
Revista da exposição agrícola de Lisboa,
Tabella geral do estudo agronomico comer­ 1884. Lisboa, Typ. Portugueza 1885, 402 pags.
cial e chimico de vinte e nove typos de trigos 232 X 147.
portugueses; trabalho executado no Instituto
Agrícola por ordem da repartição de agricul­ Biblioteca do Instituto Superior de Agro­
tura do Ministério das Obras Publicas, Com- nomia, 18 de Janeiro de 1919.
mercio e Industria. (Colaboração com João
de Andrade Côrvo). Lisboa, Imprensa Nacio­ *
nal, 1862, 29 figs. im, 880 X im,i8o.
* *

Technologia rural ou artes chimicas, agrí­ Finalmente, em Julho de 1919, chegaram os


colas e florestaes. armários da Biblioteca, construídos no Pôrto,
Parte I—Bebidas fermentadas, vinhos cer­ nas oficinas de J. Ferreira da Silva, Limitada.
vejas, vinagres, álcoois, 107 figs. XII4-382 págs. A sua colocação foi rápida, assim como rápida
Parte II—Azeite, lacticínios, cereaes, fari­ foi a arrumação das espécies pelas estantes.
nhas, pão e féculas, 59 figs 279 pags. A grande sala de leitura está situada no an­
Parte III —Productos sacharinos, florestaes, dar nobre do edifício do Instituto, apanhando
textis, animais e salinos, 48 fig. 351 pags.-f-i a parte central da fachada principal. A sala
errata. 3 vols. Lisboa, Typ. da Academia Real mede 20m,8o de comprimento por iom,io de
das Sciencias, 1865-1868-1871, 163 X 90. largura. Em volta corre uma elegante galeria
de castanho, servida por uma dupla escadaria
Technologia rural, etc. correctamente lançada. A iluminação faz-se
Parte I—Bebidas fermentadas, 134 figs. 586 por catorze grandes janelas dispostas lateral­
pags.-|-i errata. mente, deitando umas para a Tapada e outras
Parte II—Azeites, lacticínios, ceriaes, fari­ para o claustro. Quatro grandes mesas ladea­
nha, pão e féculas, 80 figs. 321 pags. Segunda das por dez confortáveis cadeiras servem
edição correcta e augmentada. 2 vols. Lisboa, para a consulta dos leitores. O conservador
Typ. da Academia. Real das Sciencias, 1874- tem um lugar reservado na sala para presidir
1879. 1^3 X 90. à leitura. A sua secretária está sobre um es­
trado, ficando por detrás da sua cadeira a es­
Technologia rural, etc. tante dos catálogos sôbre a qual brevemente
Parte I—Produtos fermentados. 176 figs. será pôsto um plinto com o busto do profes­
734 pags. 1 errata. Terceira edição correcta e sor Ferreira Lapa. As estantes de castanho,
augmentada. Lisboa, Typ. da Academia Real que formam um corpo único por debaixo da
das Sciencias, 1885, X 90. galeria, são intervaladas, por cima desta, de­
vido aos vãos das janelas. As estantes que
JORNAIS E REVISTAS EM QUE COLABOROU ficam na galeria do lado das escadarias e as
correspondentes na outra parede são mais
Archivo (O) rural, 16 vols. Lisboa, Imprensa amplas e salientes, Jendo uma o escudo na'
União Typographica 1858-1876, 220 X 125. cional em perfeita obra de talha e a outra o
Boletim do Ministério das Obras Publicas, relógio da sala. As prateleiras são móveis,
Commércio e Industria, n.° 3, Março de 1856, sendo 0 seu alceamento feito por meio de
de pags. 148 a 149 e n.° 8, Agosto de 1858, de cavilhas de latão. As portas dos corpos supe­
pags. 168 a 198. Lisboa, Imprensa Nacional, riores são envidraçadas e as dos inferiores de
1854 a 1858, 200 X 125. madeira. Esta forma das portas dos corpos
216 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

inferiores tem o grave defeito de conservar dos pelo mesmo já referido motivo, fica tam­
as espécies ocultas. bém patente qual o movimento de leitores e
Pena é que a êste defeito outros erros de volumes consultados, por sciências, nos anos
construção da sala se juntem, sendo os prin­ de 1917, 1918 e 1919.
cipais o da distribuição da luz e os grandes Em mapas mais sucintos que vão desde 1912
espaços roubados pelos janelões. O tom de a 1919 (n.°s 1 a 8) pode bem avaliar-se a con­
carvalho velho e a galeria dão à Biblioteca corrência que a Biblioteca tem tido após a sua
um aspecto grave e um tanto conventual. reorganização. Crescendo o seu movimento
Todavia, do vasto edifício do Instituto Supe­ de 1912 a 1914, atinge o máximo nos anos de
rior de Agronomia, é sem dúvida, a Biblioteca 1915 e 19x6. Decresce em 1917 e 1918, devido
a secção mais bela, interessante e a melhor à mobilização de grande parte dos alunos que,
instalada. honrando as tradições gloriosas do nome por­
Os gabinetes anexos, um dêles, mobilado tuguês, foram chamados a combaterem em
com velhas peças trazidas do antigo Instituto, França e nas nossas colónias. Em 1919 volta
é destinado ao Sr. professor bibliotecário, e a aumentar o número de leitores e volumes
outro mais vasto, ainda desguarnecido, desti­ consultados, e o movimento dos meses do i.°
na-se à consulta dos Srs. professores. Sôbre trimestre do presente ano leva-nos a presu­
êste gabinete, temos a opinião que aprovei­ mir que encerraremos o ano de 1920 com uma
tado para a idéia prevista, nêle se guardem cifra muito superior à de 1919.
os reservados, instalando-se ali também um Sendo a Biblioteca privativa dos professo­
pequeno museu da Biblioteca. res e alunos do Instituto, ela é acessível to­
Esperamos ainda que, em breve, na sala de davia aos estudiosos que a queiram frcqilen-
leitura, sejam guarnecidos por meio de sane­ tar. E sendo assim, raro é o mês em que
fas os tais celebrados janelões e que a ilumi­ pessoas estranhas ao Instituto não venham
nação eléctrica venha substituir a luz de pe­ procurar à Biblioteca elementos para os seus
tróleo nas consultas nocturnas. trabalhos; dessas pessoas temos sempre reco­
lhido e registado palavras de louvor para os
* serviços da Biblioteca.
Segundo o regulamento geral do Instituto
* *
Superior de Agronomia de 16 de Setembro
Aumentando dia a dia o número das espé­ de 1914, art, 44.0, a Biblioteca estará aberta
cies, a Biblioteca conta hoje cêrca de 10.000 todos os dias úteis, durante o ano escolar,
volumes. desde as 10 às 16 horas e durante as férias
Como anteriormente dissemos, recebemos das 11 às 15 horas.
4.000 volumes quando tomámos posse da Bi­ § único. Na véspera de exames finais a Bi­
blioteca. Isto equivale a dizer que durante blioteca estará aberta das 20 às 23 horas, e,
sessenta anos êsse foi o número de volumes sendo domingo, das 11 às 17. Êste pará­
reunidos. Em confronto, durante os últimos grafo foi alterado em 1915, em virtude duma
oito anos, conseguimos, por compra e por disposição do Conselho Escolar, que delibe­
ofertas, dotar a Biblioteca com 6.000 volumes. rou que a biblioteca esteja aberta à consulta
Em face dêstes algarismos as pessoas que nocturna, durante o ano lectivo, excluindo fe­
lerem esta notícia que avaliem do trabalho e riados, das 20 às 22 horas.
da dedicação que o pessoal desta secção tem Estando a ser elaborado um novo regula­
dado à florescente Biblioteca do Instituio Su­ mento geral do Instituto, a pedido do Sr. pro­
perior de Agronomia. fessor Dr. Alberto Correia Pinto de Almeida,
No mapa n.° 12, organizado a pedido relator dêsse projecto, fizemos um esbôço
da Direcção Geral da Estatística — Repar­ dum regulamento interno da Biblioteca, que
tição Central, para ser publicado no Anuá­ entregámos a S. Ex.a.
rio Estatístico de Portugal, encontram-se Presentemente o pessoal da Biblioteca é
as existências de espécies nos anos de 1917, composto de: um professor bibliotecário, um
1918 e 1919 e a sua distribuição pelas secções conservador, um guarda e um servente. As
da Biblioteca. Nos mapas 9, 10 e n, organiza­ atribuições dêste pessoal estão tôdas exara­
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 217

das no regulamento geral do Instituto Supe­ ções que muito nos penhoram, e nomeada­
rior de Agronomia. O actual guarda ajuda mente à Secção de Publicidade e Biblioteca
em determinados serviços o conservador da da Secretaria de Agricultura do Estado de
biblioteca. Este empregado, o Sr. José A. S. Paulo, Sociedade Nacional de Agricultura
Gomes Ferreira, dentro das suas atribuições, (Rio de Janeiro) e Delegação Executiva da
tem sido um cooperador da Biblioteca, assíduo Produção Nacional (Rio de Janeiro).
e zeloso. Pela nossa parte, além de tôdas as publica­
* ções do Instituto, distribuídas por intermédio
da Biblioteca, do nosso depósito teem saído
* *
envios para a Biblioteca da Universidade de
Cabe certamente nesta notícia fazermos pú­ Coimbra, Biblioteca e Arquivo do Ministério
blico agradecimento a tôdas as entidades que do Comércio, Biblioteca da Academia das
teem contribuído para o desenvolvimento da Sciências de Lisboa, University of Illinois
Biblioteca oferecendo-lhe livros para as suas (E. U. A.), Biblioteca do Instituto das Missões
colecções. Como é impossível citar sem omis­ Coloniais (Sernache do Bonjardim), Biblioteca
são todos os que teem concorrido para a pros­ do Instituto Industrial de Lisboa e Biblioteca
peridade da Biblioteca, destacaremos aquêles, da Escola Industrial Fonseca Benevides.
aos quais esta mais deve. Em geral todos os
Srs. professores do Instituto se teem interes­ *
sado pelos progressos da Biblioteca, mas se­
* *
ria injusto que não nos referíssemos em es­
pecial aos Srs. Drs. Rebelo da Silva, Filipe É tempo de fecharmos estas esparsas, rápi­
de Figueiredo, Sousa da Câmara, Pereira das e mal cerzidas notas, subsidiárias da his­
Coutinho, Joaquim Rasteiro, D. Luís de Cas­ tória e evolução da Biblioteca do Instituto
tro, Carlos de Melo Geraldes e o falecido Superior de Agronomia. F.screvendo-as, ti­
professor Sr. Augusto de Figueiredo. Alguns vemos a intenção de desobrigar-nos das or­
professores também tem aumentado o nú­ dens recebidas e de não querermos que no
mero das nossas espécies, transferindo para primeiro número dos «Anais do Instituto», a
a Biblioteca livros adquiridos pelas verbas Biblioteca passasse em silêncio. Logo de
das suas cadeiras. São êles os Srs. Drs Re­ princípio vimos que nos seria difícil levá-las
belo da Silva, Joaquim Rasteiro, Rui Mayer a bom a caminho, por isso nos justificámos
e Lima Basto. antecipadamente.
De pessoas estranhas ao Instituto, apraz-nos Agora, que o trabalho esta terminado, ainda
destacar e agradecer as suas ofertas, aos mais ressalta, na sua aridez insulsa e mes­
Srs. António Romão dos Passos, Drs. Júlio quinha, a razão do que dissemos. Portanto
Henriques, J. A. Ferreira da Silva e F. Gomes não se nos oferecendo relatar mais nada
Teixeira. Devido aos seus numerosos e va­ que possa interessar os que procurem co­
liosos envios, também muito devemos à Aca­ nhecer o que tem sido a Biblioteca desde
demia das Sciências de Lisboa, Arquivo do 1853 a 1920, concluiremos esta notícia com a
Ministério das Colónias, Direcção Geral da frase latina: Finis coronat opus.
Estatística, e Biblioteca e Arquivo do Minis­
tério do Comércio. Biblioteca do Instituto Superior de Agrono­
Ao Brasil somos também devedores de aten­ mia, 12 de Abril de 1920.
2l8 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

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224 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

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Botânica e botânica agrícola j

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Engenharia geral e agrícola,


Agricultura geral, culturas

Enciclopédias e dicionários
Zoologia, zoologia agrícola

Economia política e agrícola


logia, exterior dos animais
Patologia vegetal e parasi-
Ampelografia e viticultura

Zootécnia, anatomia, fisio ­


Arboricultura e pomologia

tura; Análise, Microscopia


Horticultura e jardinagem

e sua aplicação à agricul­

Mesologia, física agrícola


Geologia e paleontologia
Sciências físico-químicas
Biologia e microbiologia
Silvicultura e economia

Pedagogia, ensino gera!

Dissertações inaugurais
arvenses e pratenses

topografia e geodesia
domésticos e higiene
e assuntos relativos
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Agricultura colonial

Geografia e história

Dissertações Mss.

e biblioteconomia
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e aquicultura

Matemáticas
e fotografia

Bibliografia
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Adquiridos em 1918 . . 291 32 18 27 6 28 21 1 7 2 15 8 6


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Adquiridos em 1919 . . 512 64


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Biblioteca do Instituto Superior de Agronomia, em 26 de Abril de 1920.


SERVIÇOS DA SECRETARIA

Notas Estatísticas de 1910 a 1919

Secretário: José Maria Augusto Chaves Cruz


(decreto de 22 de Agosto de 1911)

Engenheiro-agrónomo (1908).

Pertence ao quadro agronómico do Ministério da Agricultura por decreto


de 14 de Março de 1914.
Anteriormente exercera o cargo de aspirante da Alfândega de Lisboa
(1899 a 1911).

MOVIMENTO DOS ALUNOS


N ú m e ro de alu n o s m atricu lad o s

Aproveitamento
N ú m e ro to tal de alu n o s m a tri ­

N ú m ero d e m atricu las

Exames

T e rm in a ra m 0 cu rso

D efen d eram tese


D e sistê n c ia s ou faltas
no i.° ano

P e rd a s d e ano
culados

R ep ro v açõ es
A provações

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I9H-1912................................ 60 280 6
30 324 44 274 —- 4 5
1912-1913................................ 88 467 108
44 359 347 12 — 4 4
1913-1914................................ 96 85 8 6
34 515 43° 422 — 3
1914-1915................................ 116 606 107 484 6
44 499 12 3 9
1915-1916................................ 796 90 706 666 26
5i 137 14 9
1916-1917............ ................. 109
3* 557 i*5- 442 424 9 9 10 5
1917-1918................................ 22 487 81 406 398 6
99 2 14 7
1918-1919................................ 326 680 628 604 26
33 52 11 13 9
228 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Estatística dos estudantes que frequentaram o Instituto Superior


de Agronomia nos anos lectivos de 1911-12 a 1918-19 com designação
das respectivas províncias e distritos

NÚMERO DE ESTUDANTES

PROVÍNCIAS DISTRITOS <N


H
co
H
IO vO CO ON
M M H M H M
H N1 -T IO vò l
O cò
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Õ* H
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ON
M H M H H M

Braga.................. I I — — 2 '2 4 5
Viana do Castelo — 2 2 I
2 I I 1

Vila Real............ 2 2 2 7 9 6 3 5
Trás-os-Montes
Bragança........... I
5 3 5 6 7 8 7
Pôrto.................. I 6 5 7 15 12 11 13

Douro.............. Coimbra............. 4 3 3 2 1 — — 1

Aveiro................ 3 3 5 4 4 3 3 1

Beira-Alta...... Viseu.................. 1 2
3 5 4 3 3 3
Guarda.............. 2
4 4 6 5 4 1 2
Beira-Baixa.....
Castelo Branco... — — — 1 1 — — 1

Lisboa................ 27 3i 37 38 42 38 36 49
Extre madura... Santarém............ 5 8 6 6 10 6 3 4
Leiria.................. — — — — 2
4 3 4
Évora........................... 2 1
4 5 7 5 7 4
Alentejo.......... Beja................................ 2
4 3 3 3 2 2 2

Portalegre............... — 3 3 2 2 i — 3
Algarve................ Faro................................ — — 1 j 2 1 1 —

Ilhas adjacentes
Angra do Heroísmo.................... 3 3 3 6 4 3 2
3
Ponta Delgada................................... — 3 6 5 4 1 1 5
Horta....... 1

Funchal .. 3 4 3 6 4 1 i 3
Províncias ultramarinas:
Cabo Verde.......................... 1 1 — — — — — —
S. Tomé e Príncipe.................... — — — — 1 . 1
2 2
Angola... — 1 — 2 2 — 1
2
índia.......... 1 — 2 2 3 4 3 3

Países estrangeiros......................................... — 1 1
2 2 4 3 3

Total geral (contados individual-


60 96 116 126
mente).................. . . 88 T37 109
99
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 229

Relação dos alunos que terminaram o curso desde o ano de 1900,


com a indicação dos títulos das teses que apresentaram,
e dos valores obtidos no acto final (1

1900

Domingos Alberto Tavares da Silva... Considerações sôbre a necessidade


da cultura intensiva dos cereais
panificáveis...................................
Alfredo de Fraga Gomes...................... A doença da cana do açúcar pro­
duzida pelo Coniothyrium melas-
porum (Berk.) Sacc. na Ilha da
Madeira........................................
Martinho de França Pereira Coutinho... A cultura no concelho de Cascais. 13
José Eduardo de Calça e Pina da Camara
Manuel.................................................. Considerações acêrca do vinho e
seu fabrico................................... 14
José Franco Pereira de Matos.............. Algumas palavras sôbre a cultura
da alfarrobeira............................. 11
Alberto Correia Pinto de Almeida...... Piscicultura d’água doce, contribuY-
para o seu desenvolvimento em
Portugal........................................ 16

1901

Francisco de Freitas Meyrelles do Canto As plantas da borracha, sua cultura


e Castro................................................ e exploração................................ 12
Francisco Simões d’Almeida Margio-
chi.......................................................... A beterraba forraginosa................. 13
Diogo de Castro Constâncio.................. A oliveira. Considerações acêrca
da sua cultura.............................. 12
Luís Ferreira Roquette........................... Contribuição ao estudo da fermen­
tação alcoólica dos mostos......... 15
Fernando Barbosa y Pego.................... Sôbre a cultura da amendoeira no
Algarve (Breves considerações)... 11
José de Sousa Tavares........................... O azeite............................................ 15
José Luís Parreira Lança....................... Adubos verdes................................ 10

(1) Esta lista é a continuação da que vem publicada no livro — UEtiseignetnent supe-
rieur de VAgriculture en Portugal (1900) dos professores Cincinato da Costa e D. Luís de Castro.
230 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

1902

Henrique Acciajuoli de Sá Nogueira... Orysicultura comparada em Portu-


gal e na Itália.............................. 11
António Maria Hortas Camões............. Fabiico do queijo no Norte-Alen-
tejo e 0 seu melhoramento...... 10
Eduardo Alberto Lima Basto................ Fermentação alcoólica.................... J5
José Martins Leitão................................. Montados de azinho no distrito de
Beja.............................................. 12
Mário Augusto de Mendonça................ Leveduras seleccionadas............... *5
Manuel de Clamouse Browne Van-Zel-
ler Júnior.............................................. Fabrico da manteiga...................... 12
João da Costa Carvalho Talone........... Cerveja sob 0 ponto de vista té-
cnico e analítico.......................... 11
João Francisco da Silva Fialho.;.......... Trigo (hibridação e selecção)...... T4
João Braga............................................... Leite................. ................................ 14
Carlos Eugênio de Melo Geraldes....... Da variabilidade da secreção ga-
lactogénea..................................... !5

1903

José Firmo de Sousa Monteiro............. O cloreto e sulfato de potássio..... 11


Virgílio Augusto Bugalho Pinto............ De algumas questões relativas às
associações vinícolas de produção 15
Pedro Paulo Mascarenhas Júdice.......... Sindicatos agrícolas........................ *5
Carlos Augusto da Costa Abranches de
Albuquerque........................................ Plantação da vinha......................... 13
Fernando Le-Cocq................................... Cultura da oliveira......................... 12

J9°4

José de Sousa de Menezes e Vascon­


celos ...................................................... Cultura da laranjeira...................... 16
José Vitorino Gonçalves de Sousa........ A conservação da fruta fresca...... 12
João Augusto Boavida............................ Construções rurais........................ 11
Aníbal Franco Barros da Fonseca........ Cultura do linho.............................. 13
Manuel de Medeiros Tavares................ Híbridos (produtores directos)...... 10
Adriano Francisco da Costa e Sousa... Contribuição para 0 estudo das
substâncias taninosas e sua ex­
ploração florestal......................... 16
Adolfo Armando Bordalo Temperaturada fermentação alcoó­
lica.'............................................. 14
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 231

João Francisco Tierno......................... O gado bovino mirandês.............. 19


Octávio Félix Vecchi .............. A pasteurização dos vinhos. ... 13

1905

Os prados naturais no norte de Por­


José António de Moura Pegado. . . . tugal............................................. 13
Raimundo Ricardo Gião Varela .... Algumas palavras sôbre avicultura
— Os Galideos............................ IO
Gil Pedro Paulo Guedes Cabral Cor-
reia de Queirós (Conde da Foz) . . Lavouras.......................................... 13
Carlos Iglézias Viana............................ A raça brava do Ribatejo .... *5
Carlos Ferreira Castanheira das Neves . A vaca turina e a sua exploração
industrial e agrícola para 0 abas­
tecimento de leite à capital. . . 13
Acrísio Canas Mendes..................... Um caso especial de arborização. 13
José Luís de Saldanha Oliveira e Sousa . Regimen da propriedade rural em
Portugal...................................... 15
Luís Maria de Melo e Sabbo.............. A arborização das serras.............. 16
Francisco Cabral Pais........................ O motor de essência em agricultura. 15
António Fernandes Afonso Júnior . . A azeitona para conserva .... 12
Joaquim Manuel dos Santos Garcia . . 0 Tojo. Cultura e seu aproveita-
mento como forragem.............. 13
Francisco de Paula Raposo de Andra­
de e Sousa de Alte Esparragosa . . Lagares de azeite........................ 13
Pedro de Castro Pinto Bravo.............. A exploração das abelhas .... 14

1 906

João Jacinto Seabra............................... Destilação de vinhos e bagaços. . 14


José Avelino da Silva e Mata.............. Lavoira mecânica......................... 14
Octávio Solano Bandeira de Melo. . . O cacau .......................................... 14
António Blanco Fialho......................... Cultura e exploração do sobreiro. 16
Augusto Sant’Iago Barjona de Freitas . A Purgueira................................... *5
Pedro Celestino Caldeira Castelo Branco A debulha dos cereais no norte do
Alentejo....................................... 15
Filipe Félix e Silva................................ Breve estudo sôbre a serra leste do
Algarve ....................................... 12
Vasco Jardim.......................................... Culturas forçadas............................ 11
Diogo Folque Possolo........................ ... O algodão..................... ... 11
João Eleutério Cardoso........................ Registador gráfico e automático . IO
António Augusto Garcia de Andrade . A garroba, sua cultura.................. J5
232 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

1907

Artur de Menezes Correia de Sá e


Castro................................................. O eucalyptus globulus.......... .11
Mário Miller Pinto de Lemos.............. As culturas da Vilariça. ..... 14
José Justino de A morim........................ O Minho rural....................... 15
João António Gomes............................ Conservação das uvas de mesa. . 12
Mário de Azevedo Gomes..................... Apecctos da questão do Açúcar.
O abastecimento de Portugal
pela produção nacional e pela
importação................................... 17
Olímpio Pires. Habitações económicas para os ope­
rários rurais em Portugal (Subsí­
dio para a resolução do problema
das)........................................ 15
Augusto Leite Pereira Bretes Jardim . O crédito agrícola e o pequeno agri­
cultor .......................................... 13
Fernando César Correia Mendes . . . Cultura do coqueiro em Goa. . . 12

1908

José Maria Augusto Chaves Cruz . . A vinha e 0 vinho de Colares . . 14


Artur José Baptista............................ Breves considerações sôbre a in-
dústria da moagem em Porlugal. IO
Fernando de Sant’Ana da Lança Cor
deiro................................................. Breves estudos sôbre adubos para
trigo............................................. 11
Filipe Gonçalves Tormenta.............. Fabrico do azeite............................ 14
José 'Augusto Fragoso..................... A cultura do pinheiro bravo . . . 14

1909

Joaquim Lobo de Miranda Júnior . . A cultura da figueira no Algarve. 13


Luís Rebelo Valente........................ Agaves e Foucroyas. Sua cultura
em Angola e Cabo Verde . . . 14

1910

Carlos Jerónimo Humberto Bobone . Frutas verdes. Exportação e con-


servaçâo....................................... 12
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 233

1911

Mário Pedro de Alcântara Vieira de


Sá........................................................ O Alentejo. Sua descrição geral.
Principais produções e projecto
de irrigação............................ T4
Francisco Avelino de Sousa Amado. . Prados, forragens. Sua prepara-
ção e conservação ..................... x5
Egídio Rijo Inso...................................... A associação na agricultura . . . 16
Francisco Pereira Coutinho................. Rearborização das nossas serras . 12

i 912

João Maria de Lacerda Leitão.............. Conservação dos vinhos de pasto. IO


Eduardo de Serpa Ferreira................. Cultura da oliveira........................ 11
Vítor Salgueiro Pinto da Costa .... Conservação das forragens. . . . 12
Antero Leite Machado........................ Descrição das principais culturas
da Veiga de Chaves................. 11
Rui Ferro Mayer................................... A comercialização da agricultura.
Aspectos do problema em Por-
tugal............................................. 19

1913

Diniz de Castro e Sousa de Almeida


Sarmento............................................. A emigração e a crise agrícola. . 13
Manuel LibAnio Altredo Ribeiro da Silva
de Bragança...................................... 0 gado ovino em Portugal. . . . 15
Armando de Freitas Zuzarte Cortesão . A teoria do mutação e 0 melhora­
mento das plantas. (Estudo tre-
matológico)................................ 16
Manuel Eduardo Araújo da Costa Cor-
reia da Silva...................................... O sisal—sua importância, cultura e
tecnologia................................... 11

1914

Mário Artur Pais da Cunha Fortes . . Um problema de irrigação .... 16


José Ferraz Simões............................... Comerciação e valorização das nos-
sas frutas e legumes................. 16
234 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Fernando de Almeida Belo................. Essências florestais exóticas a cul­


tivar em Portugal..................... 14
Rozindo Moniz da Maia......................... As epifítias em Portugal.............. 13
Álvaro de Noronha Sales e Castro . . Algumas palavras sôbre a agricul-
cultura e indústrias dela deriva­
das nas colónias portuguesas . 14
Mário Júlio Neves da Fontoura . . . . Tecnologia da palmeira do azeite. 13

*915

Domingos Arala Pinto......................... Breves considerações sôbre o gado


Humberto Botelho de Almeida Leitão caprino.................................. 10
e Cunha............................................. Dry-farming e algumas considera­
ções sôbre a sua aplicação ao
nosso país.............................. 10
Alfredo Luís Ferreira............................ Sumo de uva........................... n
Augusto Ruela...................................... A chicória para café (nas proximi­
dades de Aveiro)................ 14
Jorge Henrique dos Santos Machado . Os adubos catalíticos............ 18
Pedro Avelino Joice............................... O café nas nossas colónias .... 12
João Duarte Bravo Madail..................... A cultura do arroz em Portugal . n
Jácome de Orneias Bruges................. A Ilha Terceira. Notas sôbre a
sua agricultura, gados e indús­
trias anexas........................... 17

1916

Eduardo Sousa de Almeida................. O gado asinino............................ 10


José Espinola Betencourt Júnior. . . . Adubos rádio-activos..................... 19
António Augusto Antunes Júnior . . . O Sacharomyces Ellipsoideus na
indústria vinícola........................ 13
Manuel Magalhães Barbedo Pinto. . . Subsídios para o estudo dos amen­
doins das colónias portuguesas. 12
Jaime Boaventura de Azevedo . . . . Breves considerações sôbre a aná­
lise química das terras.............. 19
Abílio Caídas Nobre da Veiga . . . . A olivicultura em Portugal. ... 10
Júlio Eduardo dos Santos..................... O vinho do Pôrto, seu passado,
presente e futuro. Produção.
Comércio. Estatística................. 16
César Augusto Vieira Subsídio para o melhoramento e
estudo das lãs portuguesas. . . 17
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 235

1917

Rodolfo Leão Afonso Pinho............... Considerações sobre a aptidão dos


pinhais para a galinicultura . . 11
António Augusto Montalvão Machado. Beterraba sacarina. Sua introdu­
ção nos afolhamentos do conti­
nente sob os pontos de vista
cultural e económico................. 15
Aurélio Botelho Moniz......................... Um ensaio orisícola no Alentejo . 12
Mário Kol de Alvarenga......................... Fomento agrícola nacional (notas
para um estudo)........................ 11

1918

Augusto Sanches Barjona de Freitas . Ante-projecto de correcção do Ri­


beiro da Casa............................ 16
Artur Saraiva de Castilho..................... A amendoeira e a sua exploração
económica................................... 16
Augusto Sanches Barjona de Freitas . A região de Manteigas. (Solo, clima,
população e agricultura) .... 16
João Inácio Formosinho Bentes. . . . Do Báldio Serra Grande de Serpa. 12
Francisco de Paula Leite..................... Os laranjais de Setúbal, sua cultura
e economia............................... 11
Júlio Gardé Alfaro Cardoso................. Contribuição para o estudo da ma­
deira de pinho bravo. (Simples
esboço micrográfico).................. 16
Aires Epifânio Mariano de Santana Mi­
randa..................................................... Ecologia florestal............................ 16

1919

Tobias Guedes de Sequeira................. Breves palavras acerca do Douro. 16


José Pereira Fialho Júnior................. A batata no concelho de Aldeiaga-
lega.............................................. 10
Mário dos Santos Pato......................... Pateira de Fermentelos.................. 17
Floriano Sobral Rocha......................... O concelho da Maia sob o ponto
de vista agrícola......................... 13
José Mateus de Almeida de Mendia. . Projecto de ordenamento da Mata
Nacional denominada Casal da Le­
bre .............................................. 17
João José de Matos Parreira.................. A oliveira no Algarve.................. 13
236 ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA

Álvaro Godolfim de Matos Cordeiro. . Condições mesológicas da cultura


do trigo e suas principais doen­
ças criptogâmicas..................... 13
Aurélio Marcos Pereira........................ A ilha de S. Miguel sob o ponto
de vista agrícola........................ 13
José Miguel Raposo de Oliveira. . . . Triticicultura. Estudo regional . n

Relação dos alunos do Instituto que foram mobilizados por motivo


da guerra
ALUNOS QUE TOMARAM PARTE NA CAMPANHA EM ÁFRICA

Eduardo Henriques de Almeida Souto.


Henrique Rocha.
Carlos Ernesto Helbling.
Henrique Carlos de Moura.
Francisco Monteiro Grilo, abandonou o Instituto.
Raúl Augusto da Silva Guardado.
Alfredo Martins de Carvalho, morto em combate.
José Rangel Coelho de Almeida, abandonou o Instituto.

ALUNOS QUE TOMARAM PARTE NA CAMPANHA EM FRANÇA

José Sebastião de Torres Vaz Freire.


Gabriel Rocha de Gouveia, morto em combate.
António Luís dos Santos Nunes.
Aurélio Marcos Pereira.
Lúcio Coelho da Fonseca Magalhães.
José Gonçalves Martinho.
António Luís Guerra de Seabra.
José Garcez Pereira Caídas.
José Pereira Fialho Júnior.
Jorge José de Melo Ferreira de Aguiar, morto.
António Bandeira Peixoto.
António Augusto Monteiro de Amaral. >
Jacinto Bicudo de Medeiros.
António Vaz Pacheco do Canto e Castro.
Alfredo Alberto da Silveira e Lorena.
Amílcar Aguiar Ferreira.
Abílio de Barros e Sousa.
Augusto César Justino Teixeira.
Manuel de Almeida de Ávila.
Abel de Sousa Moutinho, condecorado.
Eduardo da Fonseca Guerreiro, cruz de guerra de 2.a classe, morto em combate.
ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA 237

ALUNOS QUE FORAM MOBILIZADOS E FIZERAM SERVIÇO EM PORTUGAL

Alberto Xavier de Portugal Proença.


Francisco José Caldeira de Mendanha.
Humberto Alves Morgado de Andrade.
António Manuel de Monte Pereira.
Laurentino Pereira Coelho.
Edmundo Seirós da Cunha.
Manuel Joaquim da Mata Antunes Barradas
Ricardo Correia Gião.
Jacinto Gusmão de Vasconcelos Franco.
Leovegildo Queimado Franco de Sousa.
Nuno Teles da Silva.
Aurélio da Costa Bizarro.
Carlos António Bernardino Santos Paz.
António de Paula Brito.
António de Figueiredo Gomes de Sousa.
João Henriques Camacho.
José Máximo Saraiva.
João Afonso Figueira Machado.
Guilherme Eduardo Scheppard da Cruz.
Pedro Carlos Castanheira Viana, abandonou o Instituto.
Manuel Saraiva Vieira.
Joaquim Correia da Silva.

ALUNOS QUE ABANDONARAM O INSTITUTO POR SE TEREM MATRICULADO


NA ESCOLA DE GUERRA

Lereno Antunes Barradas.


António Dário Vieira.
António Maria Marrocos Taborda Ramos.
Alfredo Alberto da Silveira e Lorena.
Alexandre Adelino Fernandes de Sousa.
Francisco Oscar Rodrigues de Morais Carvalho.
Manuel Maria Coelho Júnior.
José Maria de Sousa Cyrne de Madureira.
Luís Pereira Coutinho.
Frederico Augusto Lopes da Silva Júnior.
José Soeiro.
Vergilio Pereira Estrêla de Oliveira.
António Eduardo Abreu Faria.
Mateus AntÓDio Sepúlveda e Sampaio.

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