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1 PROFESSOR FERNANDO BOBERG- DIREITO PENAL

Acadêmico: Magno Salatiel de Sousa Leite 5º A

A lei nº 12.015, de 07 de agosto de 2009, alterou o entendimento do Título VI do


Código Penal, que outrora denominava -se “Crimes contra os costumes
“dessa maneira foi atualizado para “Crimes contra a dignidade sexual “.
Migrou o artigo 214 para o 213, dessa forma criando crime único para duas
condutas.
Anteriormente, entendia que, o agente que praticasse conjunção carnal, e logo
em seguida outro ato libidinoso com a vítima, mediante violência ou grave
ameaça, deveria responder por concurso material dos crimes de estupro e
atentado violento ao pudor, nos termos do artigo 69 CP, pois havia duas
condutas distintas. Atualmente, se, em um mesmo contexto fático agente
força a vítima à conjunção carnal e, em seguida, submete-a a outro ato
libidinoso, pratica somente um crime.
Seguindo algumas jurisprudências, temos a seguinte:
O Tribunal de Justiça de São Paulo decide que:[...] acusados que após
estuprarem a vítima com ela praticarem atos libidinosos diversos da
conjunção carnal. Delitos, portanto, autônomos. Quando o ato
libidinoso se destaca como perversão, fora do prelúdio para a
conjunção carnal, passa a constituir entidade autônoma, a prevista no
artigo 214 do CP (TJ/SP. AC. Rel. Des. Camargo Sampaio. RT
513/379).

[...] nem se argumente que o delito de atentado violento ao pudor


estaria absorvido pelo estupro, porquanto, em verdade, não se trata de
crimes da mesma espécie e a “fellatio in ore” e não constitui mero
prelúdio da conjunção carnal, até porque foi posterior (TJ/SP. AC. Rel.
Des. Jarbas Mazzoni. RJTJSP 126/461 e RT 652/275).

Reconhecida a existência de dois contextos distintos e, dessa forma, de crimes


autônomos, também havia divergência na doutrina e na jurisprudência acerca do
concurso a ser reconhecido: formal, material ou crime continuado.
Havia quem entendesse tratar-se de concurso formal, pois o agente, mediante
uma só ação, praticava dois ou mais crimes.
Outrossim, existia posicionamento minoritário que entendia que, sendo o estupro
e o atentado violento ao pudor crimes contra os costumes e visando, um e outro,
à satisfação do instinto sexual mediante violência, tratava-se de continuação
delituosa, sobretudo se praticados contra a mesma vítima.
Entretanto, a maioria da doutrina e da jurisprudência considerava inaceitável tal
continuidade. Defendia não serem crimes da mesma espécie. Além disso, os
desígnios eram diversos: no estupro o fim era a prática da conjunção carnal; já
no atentado violento ao pudor, o fim era diferente. Nesse sentido:

Embora do mesmo gênero, os crimes de estupro e atentado violento ao


pudor não são da mesma espécie, o que afasta a continuidade e
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corporifica o concurso material. Habeas Corpus conhecido; pedido


indeferido (STJ. HC 10.162. Rel. Min. Edson Vidigal. 5ª Turma. j.
02.09.1999, p. 106. No mesmo sentido: STF. HC 74.630/ MG. Rel. Min.
Ilmar Galvão. 1ª Turma. DJU, 07.03.1997).

Acreditava-se que somente poderia ser reconhecida a continuidade delitiva se


houvesse a prática de diversos estupros, na forma simples ou qualificada,
tentados ou consumados; ou diversos atentados violentos ao pudor, na forma
simples ou qualificada, tentados ou consumados.

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça concluiu pelo concurso de crimes


entre as condutas consistentes em conjunção carnal e outro ato libidinoso,
mesmo após o advento da Lei 12.015/2009, que promoveu alteração do
Código Penal relativamente aos crimes contra a dignidade sexual.

É de conhecimento geral que essas condutas passaram a compor um só tipo


- estupro, motivo pelo qual algumas vozes (inclusive dentro do próprio STJ)
se levantaram no sentido de afastar a possibilidade de concurso. Neste
sentido a 6ª. Turma decidiu nos processos de HC 129398/RJ, HC 114054/MT
(continuidade delitiva) e HC 144870/DF (crime único).

Entretanto, com raciocínio diametralmente oposto, à 5ª Turma, segundo


notícia veiculada no site do STJ, “ao interpretar a Lei n. 12.015/2009, que
alterou a redação dos artigos do Código Penal que tratam dos crimes contra
a liberdade sexual, a Turma adotou a tese de que o novo crime de estupro é
um tipo misto cumulativo, ou seja, as condutas de constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso, embora reunidas em um
mesmo artigo de lei, com uma só cominação de pena, serão punidas
individualmente se o agente praticar ambas, somando-se as penas. O
colegiado entendeu também que, havendo condutas com modo de execução
distinto, não se pode reconhecer a continuidade entre os delitos.” (Grifamos).

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