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Referência: BORÓN, Atilio; SADER, Emir, GENTILI, Pablo.

Capítulo I - Balanço
do Neoliberalismo, de Perry Anderson. BORÓN, Atilio; SADER, Emir, GENTILI,
Pablo. Pós-Neoliberalismo: as Políticas Sociais e o Estado Democrático.  Paz &
Terra, 1995. P. 9-23. 

O fenômeno Neoliberalismo apareceu logo após a Segunda Guerra Mundial,


especialmente na região da Europa e da América do Norte, onde já predominava o
Capitalismo, foi uma forte reação teórica e política contra a ação intervencionista do
Estado de bem-estar social.

Uma mensagem do estudioso Hayek é drástica: “Apesar de suas boas intenções, a


socialdemocracia moderada inglesa conduz ao mesmo desastre que o nazismo
alemão – uma servidão moderna”.

Após três anos, em 1947, enquanto as bases do Estado de bem-estar na Europa do


pós-guerra efetivamente se construíam, não somente na Inglaterra, mas também em
outros países, Hayek convocou aqueles que compartilhavam sua orientação
ideológica para uma reunião na pequena estação de Mont. Pèlerin, na Suíça.

Fundou-se assim a Sociedade de Mont Pèlerin, uma espécie de franco-maçonaria


neoliberal, altamente dedicada e organizada, com reuniões internacionais a cada
dois anos. Com o intuito de combater o keynesianismo e o solidarismo reinantes e
preparar as bases de outro tipo de capitalismo, duro e livre de regras para o futuro.

Porem as condições para esse trabalho não eram favoráveis, visto que o capitalismo
avançado estava entrando numa longa fase de ápice sem precedentes – sua idade
de ouro –, apresentando o crescimento mais rápido da história, nas décadas de 50 e
60.

A economia nessas regiões entrou em algumas crises, então os teóricos do


Neoliberalismo (Hayek e outros) argumentavam que essas crises estavam
localizadas no poder excessivo dos sindicatos, da evolução do movimento operário e
consequentemente na ação parasitária do Estado, quando aumentava cada vez
mais os gastos sociais.
Para os estudiosos o jeito era manter um Estado forte, rompendo com o poder dos
sindicatos, controlar o dinheiro, reduzir os gastos sociais e as intervenções sociais. 

A estabilidade monetária precisava ser o maior proposito de qualquer governo.


Então seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos gastos
com bem-estar, e a restauração da taxa “natural” de desemprego, ou seja, a criação
de um exército de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos.

O crescimento retornaria quando a estabilidade monetária e os incentivos essenciais


houvessem sido restituídos.

Na Inglaterra, o governo Thatcher foi eleito, o primeiro regime de um país de


capitalismo avançado abertamente muito interessado em pôr em prática o programa
neoliberal. Quase todos os países do norte da Europa ocidental, com exceção da
Suécia e da Áustria, também viraram à direita.

De agora em diante, a onda de direitização desses anos tinha um fundo político para
além da crise econômica do período.

É importante lembrar que o ideário do neoliberalismo havia sempre incluído, como


componente central, o anticomunismo.

Os líderes dos países com o capitalismo avançado, por ações Neoliberalista,


adquiriram a emissão monetária, elevaram as taxas de juros, baixaram
drasticamente os impostos sobre os rendimentos altos, cancelaram controles sobre
os fluxos financeiros, tiveram níveis de desemprego massivos, influenciaram greves,
impôs uma nova legislação anti-sindical e cortaram significativamente os gastos
sociais. 

Por exemplo, nos Estados Unidos, o principal para o neoliberal era a competição
militar com a União Soviética, fracassa-la e assim derrubar o regime comunista da
Rússia.

Com menos coragem, os países europeus, com governo de direita e de base


católica, faziam um neoliberalismo com mais cautela, mantendo a ênfase da
disciplina orçamentária e nas reformas fiscais, sem cortar drasticamente os gastos
sociais nem intervir muito contra os sindicatos.
Vários países resistiram ao neoliberalismo, mas acabaram sendo envolvidos por ele,
como a França, que entre 1982 e 1983, viu-se forçado pelos mercados financeiros
internacionais a mudar a posição pela política neoliberal e dar prioridade à
estabilidade monetária.

Em quase todas as experiências com neoliberalismo ocorria uma hegemonia dele


enquanto ideologia a ser incorporada. Portanto o neoliberalismo tinha começado
tomando a socialdemocracia como uma inimiga central, em países de capitalismo
avançado, provocando um conflito mútuo por parte da socialdemocracia, apesar de
que cedo ou tarde, até parte dos governos de social democracia se mostraram
decididos em aplicar esta política.

Nos anos 70 o principal do neoliberalismo era deter a grande inflação, porem isso
não ocorreu naturalmente, muito menos em todas as experiências, muito delas
apresentaram percentual negativo. 

Nos lugares em que as taxas de desemprego foram altas, houve um crescimento


significativo do neoliberalismo e consequentemente do mercado. Em geral, o
programa neoliberal se mostrou realistas e obteve êxito. Porem todos os esforços
implementados pelo neoliberalismo têm apenas uma finalidade: a reanimação do
capitalismo avançado mundial, restaurando taxas altas de crescimento, etc. 

Em outra perspectiva, acredita-se que a desregulamentação financeira foi mais


adequada à inversão especulativa, do que mesmo a especulativa. Independente de
algumas derrotas políticas, o projeto neoliberal continua a demonstrar uma força
impressionante e se expressa até nos países em que seus governantes se
assumem como opositores.

Assim ele continua dando seus avanços de desenvolvimento, seja por políticas mais
drásticas, sejam pela queda de outras correntes, como o comunismo, a exemplo do
que aconteceu na Europa Oriental (União Soviética).

Na América Latina se é considerada como a terceira experiência de neoliberalismo,


no mundo, onde ocorreram grandes cenas desta forma de política econômica.
De inicio o Chile adotou esse projeto, no governo de Pinochet se começou seus
programas: promovendo desregulação, desemprego massivo, repressão sindical,
redistribuição de renda em favor dos ricos, privatização de bens públicos. Ocorrendo
cerca de dez anos antes da experiência da Inglaterra e suas bases teóricas estavam
mais para o paradigma norte-americano do que austríaco.

Esse neoliberalismo chileno acreditava na abolição da democracia e na instalação


de uma cruel ditadura militar.

Os outros países latino-americanos que provaram desta experiência foram Bolívia,


Argentina, México e Venezuela.

A América Latina também foi espaço para o aumento do neoliberalismo


‘progressista’, que mais tarde foi expandido no Sul da Europa.

O autor chama a atenção de que seria arriscado concluir que somente regimes
autoritários podiam impor com êxito políticas neoliberais na América Latina. Mostra
também que a região que mais teve avanços econômicos, apresentado nos últimos
anos, é pouco neoliberal e correspondem às economias do extremo oriente que são:
Japão, Coréia, Formosa, Cingapura, Malásia;

O potencial do neoliberalismo trata-se de um movimento ideológico, em escala


verdadeiramente mundial, uma doutrina coerente, autoconsciente, militante,
lucidamente decidido a transformar o mundo à sua imagem, em sua ambição
estrutural e sua extensão internacional.
Sendo assim, é um movimento ainda inacabado e que trilha pelas vertentes da
economia, do social, do político e ideológico, trata-se de um movimento hegemônico,
mesmo que milhões de pessoas ainda não acreditem em suas receitas e assim
resistam aos seus regimes.

Nisto qualquer balanço atual do neoliberalismo só pode ser provisório. É um


movimento ainda inacabado. Por hora, porém, é possível dar um julgamento acerca
de sua atuação durante quase 15 anos nos países mais ricos do mundo, a única
área onde seus frutos parecem maduros.
Economicamente, o neoliberalismo fracassou, não sendo capaz de nenhuma
revitalização básica do capitalismo avançado.

Socialmente, ao contrário, o neoliberalismo conseguiu muitos dos seus objetivos,


criando sociedades marcadamente mais desiguais, embora não tão desestatizadas
como queria.

Política e ideologicamente, contudo, o neoliberalismo alcançou êxito num grau com


o qual seus fundadores provavelmente jamais sonham, propagando a simples ideia
de que não há alternativas para os seus princípios, que todos, seja confessando ou
negando, têm de adaptar-se a suas normas.

Provavelmente nenhuma sabedoria convencional conseguiu um predomínio tão


abrangente desde o início do século como o neoliberal hoje. Este fenômeno chama-
se hegemonia, ainda que, naturalmente, milhões de pessoas não acreditem em suas
receitas e resistam a seus regimes.

A tarefa de seus adversários é a de oferecer outras receitas e preparar outros


regimes. Somente não há como prever quando ou onde vão surgir. Historicamente,
o momento de mudança de uma onda é uma surpresa.

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