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2020
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TEXTO A
Tais momentos de ira são pedaços de revolta passiva contra a mulher. É uma longa luta, esta. A raiva do Batola
demora muito, cresce com o tempo, dura anos. Ela, silenciosa e distante, como se em nada reparasse, vai-lhe trocando
as voltas. Desfaz compras, encomendas, negócios. Tudo vem a fazer-se como ela entende que deve ser feito. E assim
tem governado a casa.
Batola vai ruminando a revolta sentado pelos caixotes. Chegam ocasiões em que nem pode encará-la. De olhos
baixos, põe-se a beber de manhã à noite, solitário como um desgraçado. O fim daquelas crises tem dado que falar: já
muitas vezes, de há trinta anos para cá, aconteceu a gente da aldeia ouvir gritos aflitivos para os lados da venda. Era o
Batola, bêbado, a espancar a mulher.
Tirando isto, a vida do Batola é uma sonolência pegada. Agora, para ali está, diante do copo, matando o tempo
com longos bocejos. No estio, então, o sol faz os dias do tamanho de meses. Sequer à noite virá alguém à venda
palestrar um bocado. É sempre o mesmo. Os homens chegam com a noitinha, cansados da faina. Vão direito a casa e
daí a pouco toda a aldeia dorme.
Manuel da Fonseca, «Sempre é uma companhia», in O Fogo e as Cinzas, Lisboa, Editorial Caminho, 2011.
1. Explica o motivo desta já longa e cada vez mais intensa revolta de Batola contra a mulher.
3. A vida do Batola decorre entre a raiva e a sonolência. Expõe, justificando, a tua perspetiva sobre a possível
relação entre os dois factos.
NEVOEIRO
É a hora!
Valete, Fratres.
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática
4. Interpreta o título.
6. Identifica o recurso expressivo evidenciado no verso “Este fulgor baço da terra” (v.3) e explica a sua
expressividade.
O que faz uma mulher com uma máscara de vaca na cabeça, a posar para uma foto junto ao simbólico
Portão da Índia, em Deli? A obrigar a sua sociedade a refletir. Sobre o quê? Sobre o facto de haver um interesse e
ímpeto maiores quanto à proteção das vacas no seu país do que para a defesa e celeridade de justiça nos casos
das agressões feitas às mulheres, cujos direitos mais básicos, incluindo a sua integridade física e emocional,
5 continuam a ser violados diariamente.
A ideia partiu do fotógrafo indiano Sujatro Ghosh, que perante a discussão acesa quanto à criminalização das
agressões feitas às vacas no seu país – animais considerados sagrados por aqueles seguidores da religião hindu −
começou a questionar-se sobre o que levaria a que os direitos das mulheres gerassem tal entusiasmo. «Perturba-me
que no meu país as vacas sejam consideradas mais importantes do que as mulheres. Quando uma mulher é violada,
10 demora muito mais tempo a obter justiça do que uma vaca.»
Para percebermos um bocadinho melhor o que leva o jovem fotógrafo a fazer esta comparação, podemos olhar
para alguns dados referentes à Índia. Hoje em dia, uma agressão deliberada feita a uma vaca − sem que esse
mesmo ato resulte do processo normal da morte do animal para consumo − pode levar a uma pena de quase dez
anos de prisão. Uma lei amplamente aplaudida pelos extremistas hindus, que mesmo assim estão atualmente a
15 tentar fazer chegar ao parlamento a discussão da pena de morte para estes crimes. Ou seja, há um movimento
claro, ativo e com cariz de urgência para que se dê condições de segurança e que seja feita justiça às vacas
sagradas. Ao mesmo tempo, há todo um cenário de violência perpetuado sobre o sexo feminino que – embora gere
hoje mais discussão pública e política – continua a ser socialmente aceite, com a justiça a falhar redondamente no
que lhe compete.
20 Se olharmos para os dados oficiais de 2015, por exemplo, chegamos a quase 35 mil casos de abuso sexual
que foram reportados às autoridades indianas, sendo que a justiça apenas atuou em menos de 20% destes casos.
Casos esses que devem ter uma dimensão tremendamente maior, uma vez que estes são apenas aqueles que
chegam às autoridades. Há uns meses, um estudo sobre a realidade criminal de Deli mostrava que apenas um em
cada 13 casos de abuso sexual chegava às autoridades. Em comparação, 1 em cada 3 roubos de telemóveis, por
25 exemplo, era reportado à polícia. Por razões culturais, sociais, familiares e religiosas, uma larga percentagem das
mulheres e meninas vítimas deste tipo de violência continua a não denunciar o crime. O estigma fala mais alto. E a
justiça – tal como a mentalidade discriminatória instituída naquele país − não acompanha a necessidade urgente de
mudança.
Tudo isto deu que pensar a Sujatro Ghosh, que decidiu então usar a sua arte e o poder do humor para fazer
30 um protesto, que tinha como ponto de partida fotografar mulheres, de diferentes esferas sociais, com máscaras de
vaca em vários pontos da sua cidade, desde zonas turísticas, a edifícios governamentais, transportes públicos ou até
mesmo dentro das suas próprias casas. Porque não só na rua? «Porque as mulheres são vulneráveis em todos os
lugares», explica o fotógrafo.
As fotos foram publicadas na sua página de Instagram e rapidamente fizeram furor e galgaram fronteiras. Aliás,
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Sujatro Ghosh já está na estrada para fazer imagens noutros pontos do país de mulheres com cabeça de vaca. Esta
comparação – acompanhada pelos relatos pessoais das mulheres fotografadas - serve para provocar, para agitar
consciências, para gerar reações imediatas. Reações que levam a uma reflexão, algo que ajudará, certamente, a
melhorar o ritmo do passado no que toca à igualdade entre géneros num país perigosamente patriarcal.
Num país onde os números referentes a questões tão graves quanto o assédio e abuso sexual, casamentos
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forçados, casamento infantil, violência doméstica ou tráfico humano ganham proporções verdadeiramente abjetas, é
realmente chocante que uma vaca – por mais sagrada que possa ser considerada por determinada religião e por
mais respeito que mereça enquanto animal – tenha mais atenção do que as mulheres no que toca a agentes de
autoridade, líderes religiosos e decisores políticos.
É, contudo, importante perceber que o que está em causa nesta série de fotografias não é uma redução de
45 proteção aos animais no país, neste caso as vacas. Trata-se sim de pedir mais coerência no que toca à justiça e às
suas prioridades naquela sociedade, com os seus desafios concretos (e que são tantos). No caso da Índia, uma
sociedade que ainda relega as mulheres para um segundo patamar enquanto cidadãs e, até mesmo, enquanto seres
humanos, privando-as dos seus direitos mais básicos, entre eles, a justiça, a liberdade e a dignidade.
Paula Cosme Pinto, «Índia: mais justiça para as vacas do que para as mulheres», in Expresso, 12 de julho de 2017
3. A frase «Para percebermos um bocadinho melhor o que leva o jovem fotógrafo a fazer esta comparação,
podemos olhar para alguns dados referentes à Índia.» (linhas 11-12) prepara o leitor para a
(A) caracterização da atualidade indiana no que diz respeito à criminalidade.
(B) listagem de informações sobre a história da Índia.
(C) caracterização da sociedade indiana em geral.
(D) caracterização da atualidade indiana no que se refere a vacas/mulheres.
6. Classifica a oração subordinada sublinhada na expressão «Quando uma mulher é violada, demora muito mais
tempo a obter justiça do que uma vaca.»
7. Indica a função sintática desempenhada pelos elementos sublinhados no segmento textual «(…) uma sociedade
que ainda relega as mulheres para um segundo patamar (…)» (linhas 46-47).
«A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um
povo de escravos.»
António Lobo Antunes, entrevista ao Diário de Notícias, 18 de novembro de 2003
Partindo da perspetiva exposta na citação acima reproduzida, e num texto bem estruturado, com um
mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresenta uma reflexão sobre a relação entre cultura,
leitura e liberdade.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustra cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.
Questões Cotação
Grupo I
1……………………………….. 17 pontos
2……………………………….. 17 pontos
3……………………………….. 17 pontos
4………………………………. 17 pontos
5………………………………. 16 pontos
6………………………………. 16 pontos
Grupo II
1…………………………………. 7 pontos
2…………………………………. 7 pontos
3…………………………………. 7 pontos
4…………………………………. 7 pontos
5…………………………………. 7 pontos
6…………………………………. 5 pontos
7…………………………………. 5 pontos
8………………………………… 5 pontos
Subtotal……………………… 50 pontos