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Exame a Nível de Escola

Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho

Prova Escrita de Português

12.º Ano de Escolaridade

Prova 527/1ª Fase 6 Páginas

Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos 17/07/2020 às 09h30

2020

Utilize apenas caneta ou esferográfica de tinta indelével azul ou preta.

Não é permitido o uso de corretor. Sempre que precisar de alterar ou de anular uma resposta, risque, de forma

clara, o que pretende que fique sem efeito.

As respostas ilegíveis ou que não possam ser claramente identificadas são classificadas com zero pontos.

Para cada item, apresente apenas uma resposta. Se apresentar mais do que uma resposta a um mesmo item, só a

primeira será classificada.

É proibida a recolha da(s) folha(s) de rascunho para classificação.

As cotações dos itens encontram-se no final do enunciado da prova.

Exame a Nível de Escola - Secundário Página 1 de 6


GRUPO I

TEXTO A

✓ Lê atentamente o seguinte excerto do conto Sempre é uma companhia, de Manuel da Fonseca.

Tais momentos de ira são pedaços de revolta passiva contra a mulher. É uma longa luta, esta. A raiva do Batola
demora muito, cresce com o tempo, dura anos. Ela, silenciosa e distante, como se em nada reparasse, vai-lhe trocando
as voltas. Desfaz compras, encomendas, negócios. Tudo vem a fazer-se como ela entende que deve ser feito. E assim
tem governado a casa.
Batola vai ruminando a revolta sentado pelos caixotes. Chegam ocasiões em que nem pode encará-la. De olhos
baixos, põe-se a beber de manhã à noite, solitário como um desgraçado. O fim daquelas crises tem dado que falar: já
muitas vezes, de há trinta anos para cá, aconteceu a gente da aldeia ouvir gritos aflitivos para os lados da venda. Era o
Batola, bêbado, a espancar a mulher.
Tirando isto, a vida do Batola é uma sonolência pegada. Agora, para ali está, diante do copo, matando o tempo
com longos bocejos. No estio, então, o sol faz os dias do tamanho de meses. Sequer à noite virá alguém à venda
palestrar um bocado. É sempre o mesmo. Os homens chegam com a noitinha, cansados da faina. Vão direito a casa e
daí a pouco toda a aldeia dorme.
Manuel da Fonseca, «Sempre é uma companhia», in O Fogo e as Cinzas, Lisboa, Editorial Caminho, 2011.

✓ Responde corretamente às questões que te são apresentadas:

1. Explica o motivo desta já longa e cada vez mais intensa revolta de Batola contra a mulher.

2. Apresenta e justifica a reação da mulher face aos sentimentos do marido.

3. A vida do Batola decorre entre a raiva e a sonolência. Expõe, justificando, a tua perspetiva sobre a possível
relação entre os dois factos.

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TEXTO B

✓ Lê atentamente o poema Nevoeiro, de Mensagem, da autoria de Fernando Pessoa.

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,


Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.


Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

Valete, Fratres.
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática

✓ Responde corretamente às questões que te são apresentadas:

4. Interpreta o título.

5. Caracteriza Portugal de acordo com o conteúdo do poema, apoiando-te em elementos textuais.

6. Identifica o recurso expressivo evidenciado no verso “Este fulgor baço da terra” (v.3) e explica a sua
expressividade.

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GRUPO II

Índia: mais justiça para as vacas do que para as mulheres

O que faz uma mulher com uma máscara de vaca na cabeça, a posar para uma foto junto ao simbólico
Portão da Índia, em Deli? A obrigar a sua sociedade a refletir. Sobre o quê? Sobre o facto de haver um interesse e
ímpeto maiores quanto à proteção das vacas no seu país do que para a defesa e celeridade de justiça nos casos
das agressões feitas às mulheres, cujos direitos mais básicos, incluindo a sua integridade física e emocional,
5 continuam a ser violados diariamente.
A ideia partiu do fotógrafo indiano Sujatro Ghosh, que perante a discussão acesa quanto à criminalização das
agressões feitas às vacas no seu país – animais considerados sagrados por aqueles seguidores da religião hindu −
começou a questionar-se sobre o que levaria a que os direitos das mulheres gerassem tal entusiasmo. «Perturba-me
que no meu país as vacas sejam consideradas mais importantes do que as mulheres. Quando uma mulher é violada,
10 demora muito mais tempo a obter justiça do que uma vaca.»
Para percebermos um bocadinho melhor o que leva o jovem fotógrafo a fazer esta comparação, podemos olhar
para alguns dados referentes à Índia. Hoje em dia, uma agressão deliberada feita a uma vaca − sem que esse
mesmo ato resulte do processo normal da morte do animal para consumo − pode levar a uma pena de quase dez
anos de prisão. Uma lei amplamente aplaudida pelos extremistas hindus, que mesmo assim estão atualmente a
15 tentar fazer chegar ao parlamento a discussão da pena de morte para estes crimes. Ou seja, há um movimento
claro, ativo e com cariz de urgência para que se dê condições de segurança e que seja feita justiça às vacas
sagradas. Ao mesmo tempo, há todo um cenário de violência perpetuado sobre o sexo feminino que – embora gere
hoje mais discussão pública e política – continua a ser socialmente aceite, com a justiça a falhar redondamente no
que lhe compete.
20 Se olharmos para os dados oficiais de 2015, por exemplo, chegamos a quase 35 mil casos de abuso sexual
que foram reportados às autoridades indianas, sendo que a justiça apenas atuou em menos de 20% destes casos.
Casos esses que devem ter uma dimensão tremendamente maior, uma vez que estes são apenas aqueles que
chegam às autoridades. Há uns meses, um estudo sobre a realidade criminal de Deli mostrava que apenas um em
cada 13 casos de abuso sexual chegava às autoridades. Em comparação, 1 em cada 3 roubos de telemóveis, por
25 exemplo, era reportado à polícia. Por razões culturais, sociais, familiares e religiosas, uma larga percentagem das
mulheres e meninas vítimas deste tipo de violência continua a não denunciar o crime. O estigma fala mais alto. E a
justiça – tal como a mentalidade discriminatória instituída naquele país − não acompanha a necessidade urgente de
mudança.
Tudo isto deu que pensar a Sujatro Ghosh, que decidiu então usar a sua arte e o poder do humor para fazer
30 um protesto, que tinha como ponto de partida fotografar mulheres, de diferentes esferas sociais, com máscaras de
vaca em vários pontos da sua cidade, desde zonas turísticas, a edifícios governamentais, transportes públicos ou até
mesmo dentro das suas próprias casas. Porque não só na rua? «Porque as mulheres são vulneráveis em todos os
lugares», explica o fotógrafo.
As fotos foram publicadas na sua página de Instagram e rapidamente fizeram furor e galgaram fronteiras. Aliás,
35
Sujatro Ghosh já está na estrada para fazer imagens noutros pontos do país de mulheres com cabeça de vaca. Esta
comparação – acompanhada pelos relatos pessoais das mulheres fotografadas - serve para provocar, para agitar
consciências, para gerar reações imediatas. Reações que levam a uma reflexão, algo que ajudará, certamente, a
melhorar o ritmo do passado no que toca à igualdade entre géneros num país perigosamente patriarcal.
Num país onde os números referentes a questões tão graves quanto o assédio e abuso sexual, casamentos
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forçados, casamento infantil, violência doméstica ou tráfico humano ganham proporções verdadeiramente abjetas, é
realmente chocante que uma vaca – por mais sagrada que possa ser considerada por determinada religião e por
mais respeito que mereça enquanto animal – tenha mais atenção do que as mulheres no que toca a agentes de
autoridade, líderes religiosos e decisores políticos.
É, contudo, importante perceber que o que está em causa nesta série de fotografias não é uma redução de
45 proteção aos animais no país, neste caso as vacas. Trata-se sim de pedir mais coerência no que toca à justiça e às
suas prioridades naquela sociedade, com os seus desafios concretos (e que são tantos). No caso da Índia, uma
sociedade que ainda relega as mulheres para um segundo patamar enquanto cidadãs e, até mesmo, enquanto seres
humanos, privando-as dos seus direitos mais básicos, entre eles, a justiça, a liberdade e a dignidade.

Paula Cosme Pinto, «Índia: mais justiça para as vacas do que para as mulheres», in Expresso, 12 de julho de 2017

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✓ Escolhe a única opção correta para cada item.

1. O conteúdo do primeiro parágrafo permite ao leitor perceber a denúncia


(A) da corrupção que envolve a Justiça no tratamento de crimes contra as vacas.
(B) da similitude entre o tratamento que a Justiça faz de crimes contra as vacas e contra as mulheres.
(C) do contraste entre o tratamento que a Justiça faz de crimes contra as vacas e contra as mulheres.
(D) da corrupção que envolve a Justiça no tratamento de crimes contra as crianças.

2. No segundo parágrafo, Paula Cosme Pinto


(A) explica o papel das mulheres indianas na sociedade, segundo o fotógrafo Sujatro Ghosh.
(B) descreve a profissão do fotógrafo Sujatro Ghosh.
(C) explica o facto económico que esteve na origem da atitude do fotógrafo Sujatro Ghosh.
(D) explica o facto político que esteve na origem da atitude do fotógrafo Sujatro Ghosh.

3. A frase «Para percebermos um bocadinho melhor o que leva o jovem fotógrafo a fazer esta comparação,
podemos olhar para alguns dados referentes à Índia.» (linhas 11-12) prepara o leitor para a
(A) caracterização da atualidade indiana no que diz respeito à criminalidade.
(B) listagem de informações sobre a história da Índia.
(C) caracterização da sociedade indiana em geral.
(D) caracterização da atualidade indiana no que se refere a vacas/mulheres.

4. A sequência «Tudo isto» (linha 29) refere-se


(A) ao conteúdo do parágrafo anterior.
(B) ao conteúdo da frase anterior.
(C) aos estigmas indianos.
(D) à discussão política sobre agressões a vacas.

5. O parágrafo iniciado na linha 34


(A) explica o impacto que as fotografias publicadas tiveram em todo o mundo.
(B) exemplifica os resultados da pesquisa feita pelo fotógrafo.
(C) explica o impacto que as fotografias tiveram na Índia.
(D) explica o poder do Instagram.

✓ Responde corretamente e de forma breve às seguintes questões.

6. Classifica a oração subordinada sublinhada na expressão «Quando uma mulher é violada, demora muito mais
tempo a obter justiça do que uma vaca.»

7. Indica a função sintática desempenhada pelos elementos sublinhados no segmento textual «(…) uma sociedade
que ainda relega as mulheres para um segundo patamar (…)» (linhas 46-47).

8. Identifica o referente do pronome «eles», na última linha do texto.

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GRUPO III

«A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um
povo de escravos.»
António Lobo Antunes, entrevista ao Diário de Notícias, 18 de novembro de 2003

Partindo da perspetiva exposta na citação acima reproduzida, e num texto bem estruturado, com um
mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresenta uma reflexão sobre a relação entre cultura,
leitura e liberdade.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustra cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.

Questões Cotação

Grupo I
1……………………………….. 17 pontos
2……………………………….. 17 pontos
3……………………………….. 17 pontos
4………………………………. 17 pontos
5………………………………. 16 pontos
6………………………………. 16 pontos

Subtotal…………………. 100 pontos

Grupo II
1…………………………………. 7 pontos
2…………………………………. 7 pontos
3…………………………………. 7 pontos
4…………………………………. 7 pontos
5…………………………………. 7 pontos
6…………………………………. 5 pontos
7…………………………………. 5 pontos
8………………………………… 5 pontos

Subtotal……………………… 50 pontos

Grupo III 50 pontos

Total: 200 pontos

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