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ÁSATRÚ, HEATHEN E

OUTROS NOMES
Publicado em março 5, 2016 por Andreia Marques

Há mais ou menos um milênio atrás, os povos conhecidos como germânicos


ainda (em alguns lugares) mantinham sua cultura não-cristã, e faziam os
primeiros contatos com essa religião do oriente.

Este contato nem sempre foi fácil: o cristianismo ocidental cresceu nas
cidades romanas, e encontrando os povos germânicos, com sua cultura
primariamente rural, não sabiam exatamente como lidar com isso.

Mas eventualmente, a conversão aconteceu, pouco a pouco, e estes povos —


que até então seguiam os diversos deuses germânicos — passaram a adotar
o jeito novo de ser. Era assim que eles se referiam à nova religião, porque nas
línguas germânicas antigas, a palavra “religião” não existia.
Religião nunca foi algo distinto dentro da cultura germânica — ela permeava
todos os aspectos da vida desses povos, não existia como algo “à parte” de sua
cultura. Assim, ela não tinha um nome. Era simplesmente a maneira como
eles faziam e sempre fizeram as coisas. Este caminho se opunha ao jeito
antigo, pagão, gradualmente abandonado pelos diversos povos germânicos.
Eventualmente, os séculos passaram e grupos distintos de pessoas, em países
distintos, começaram a lançar as raízes do movimento de reavivamento da
religião germânica pré-cristã.

Mas, no mundo moderno, foi preciso dar um nome a essas coisas. E muitos
nomes (e como consequência, vertentes) surgiram dentro deste movimento.

Um dos termos mais usados no Brasil em referência ao paganismo germânico


é Ásatrú (seus membros sendo chamados de ásatruár), um termo islandês que
significa basicamente “fé nos Æsir” (ou, alternativamente, fiel aos Æsir),
alternativamente grafado como Asatru, sem acentos (ou Åsatro em algumas
línguas escandinavas).
Usado originalmente pela organização islandesa Ásatruárfélagið, o termo
tornou-se bastante popular com o passar dos anos (e com o crescimento da
popularidade desta organização no exterior), mas vem decrescendo em uso em
favor do termo mais genérico heathen, sobre o qual já falei em outro post.
Assim, o nome Ásatrú vem caindo em desuso, e passa a tornar-se uma
vertente, uma mais focada nos povos escandinavos, em especial aquele da
Islândia.
(Em alguns meios, inclusive, o termo pode ser considerado meio pejorativo,
como um iniciante, um “noob”, mas isso não é exatamente relevante ou real.
Fica apenas como aviso, caso você, ásatruár assumido, encontre essas
pessoas.)

Em contrapartida, o termo heathen vem ganhando popularidade como uma


forma mais genérica que contempla todas as vertentes e possíveis
regionalismos da religião. Assim, atualmente, heathen é considerado gênero
que engloba basicamente todas as variações.
E existem outras, muitas outras.

Há o Odinismo, movimento originado no romantismo Völkish alemão,


herdado pela dinamarquesa Else Christensen e propagado com uma agenda
fortemente racialista e neo-nazista. O termo, atualmente e especialmente no
Brasil, não é necessariamente associado ao racialismo; muitas pessoas usam
apenas como sinal de sua crença em Odin, mas a história diz o contrário, e é
sempre bom tomar cuidado com tais “impressões” inocentes.

Existem as vertentes conhecidas como Vanatrú, que focam mais nos deuses
Vanir que nos deuses Æsir — variação essa muitas vezes encontrada em
conjunto com a Ásatrú, como Ásatrú Vanatrú.

Existe o Theodismo, que possui um foco fortemente reconstrucionista a nível


socio-cultural, incluindo hierarquia e estrutura social antigas, no contexto
anglo-saxão, criado por Gárman Lord.

Além, há a Forn Siðr ou Forn Sed (lit. “caminho antigo”), que possui variantes
na Dinamarca, Suécia e Noruega.

E outras como Thursatrú, Rökkatrú, neopaganismo nórdico, paganismo


nórdico… quase todas com suas próprias crenças, peculiaridades e variações
distintas.

Eu, a autora, me identifico, quando necessário, como heathen. Às vezes uso o


termo ásatruár por ser mais comum e reconhecido no Brasil, embora não
esteja muito alinhado com minha própria prática ou ideologia.

Pode parecer bobagem ficar pensando sobre que nome usar, e quando, e quais
são as implicações de um nome ou outro. Mas palavras têm significado, e
quando nos declaramos isso ou aquilo, é sempre bom estamos cientes da
forma como somos vistos e interpretados por outrem, para não termos
surpresas desagradáveis.

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