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Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 2

ÍNDICE
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 3

INTRODUÇÃO
Como enfrentar-se a uma audiência.
Preparar e estruturar o discurso
Normas básicas para escrever o discurso
Ensaiar o discurso
Falar bem em público

COMO PREPARAR O SEU PRIMEIRO DISCURSO E


ENFRENTAR O NERVOSISMO
O plano para um discurso eficaz
Objectivo
Material do discurso
Organização
Organização
Adaptação ao público
Recursos visuais
Linguagem
Apresentação
Como enfrentar o nervosismo
Comportamentos específicos
Nervosismo persistente

AS COMEMORAÇÕES FAMILIARES
Casamentos
Casamentos [situações não convencionais)
Como escrever o seu discurso de casamento
Brindes e citações para utilizar em discursos de
casamentos
Anedotas e histórias divertidas para os casamentos
Festas de compromisso e despedidas de solteiro
Outras comemorações familiares
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O ÂMBITO SOCIAL E PROFISSIONAL


Ordem dos discursos
Apresentação dos conferenciantes ou convidados
Dar as boas-vindas e os agradecimentos
Discursos para chamamentos
Cerimónias de entrega de prémios
Discurso do convidado de honra
Conferências e seminários
Discursos de negócios
Homenagens póstumas
Discursos ao ar livre
Debates públicos
Discursos que fizeram história

RECURSOS PARA INCLUIR NO DISCURSO


Maneiras simpáticas de começar o discurso
Anedotas
Histórias
Citações, provérbios e pensamentos

FRASES ADEQUADAS PARA SITUAÇÕES DIFÍCEIS


Questões básicas a considerar
Nas relações pessoais
Situações difíceis na vida conjugal
Situações difíceis no âmbito profissional
Situações de luto
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INTRODUÇÃO
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NÃO SE ASSUSTE, não é tão difícil assim. Também


podemos oferecer à nossa audiência um discurso eficaz e
brilhante ou essas palavras tão gratas e bem acolhidas que se
requerem em determinadas ocasiões. Adquirir valor e
confiança em si próprio e pensar com calma e clareza,
quando nos dirigimos a um grupo de pessoas, não apresenta
nem a décima parte da dificuldade que a maioria das pessoas
supõem. Algumas pessoas, é verdade, têm mais facilidade
para isto, mas lembre-se, não é um dom que a natureza
concede a um número limitado de oradores afortunados, mas
sim uma faculdade como outra qualquer. Cada pessoa pode
desenvolver os seus dotes latentes, contanto que esse seja o
seu desejo e que dedique um mínimo de tempo e esforço.

COMO ENFRENTAR-SE A UMA AUDIÊNCIA


Possivelmente, o seu principal desejo de falar
correctamente em público seja o de vencer o nervosismo e
aprender a pensar estando de pé e falar com confiança, além
da facilidade diante de qualquer auditório ou público.

Tempo, paciência e perseverança

Bem, na verdade tudo exige o seu tempo, a sua


paciência e a sua insistência. Mas parece ser que o
adestramento e a prática fazem desvanecer, em pouco tempo,
o temor ao público, ao auditório, inspirando valor e confiança
em si próprio. Se serve de consolo, os oradores mais
eloquentes da sua época também se encontraram
aterrorizados por esse medo e essa timidez tão mortificantes.
“A boca enche-se de algodão e o pulso palpita
enlouquecidamente”, “a língua prende-se ao paladar e impede
que se articule as palavras”, estes são apenas alguns
exemplos que vários oradores comentam sobre os seus
primeiros discursos em público.
Não nos enganemos, falar em público requer certa
responsabilidade, certa hesitação, certo esforço e certa
excitação. Cícero já dizia, há 2.000 anos, que todo discurso
público de verdadeiro mérito se caracteriza pelo nervosismo.
Algumas pessoas, ainda quando estão habituadas a falar em
público não podem evitar certa hesitação poucos momentos
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antes de começar, ainda que também admitem que


rapidamente conseguem fazer com que esta desapareça e
adquirem serenidade e entusiasmo.
No entanto, o que devemos fazer exactamente?
Sobretudo, não esmorecer diante dos primeiros tropeços que
nos façam pensar que isto não é do nosso domínio, que
estamos a perder tempo. E não demoraremos muito em
confirmar que isso não é bem assim.

Mesetas na linha de aprendizagem

Quando começamos a aprender algo, seja oratória, seja


uma língua, ou qualquer outra disciplina, não avançaremos
de modo uniforme e constante. Não, não aprenderemos
gradualmente, mas sim com “golpes” repentinos. Depois
parece que ficamos inactivos durante certo tempo e inclusive
podemos retroceder e perder parte do terreno que ganhámos.
Estas fases de estancamento, ou ainda de retrocesso são bem
conhecidas pelos psicologistas, que as identificam como
“mesetas na linha de aprendizagem”. As pessoas que se
preparam para falar bem em público às vezes permanecem
estancadas durante semanas em uma dessas mesetas. Por
mais que se apliquem, não sabem como sair delas. É quando
acontece o risco do abandono. Mas se se persiste, de repente,
de um dia para o outro, sem saber como nem por quê,
descobre-se que se fez um grande progresso. Recupera-se a
altura como uma ave. Subitamente se adquire naturalidade,
força e confiança nos discursos.

O cérebro é uma maravilha.Nunca deixa de trabalhar,


desde que nascemos, até o momento em que começamos um
discurso.

Recuperar o domínio de si próprio

Se temos perseverança, logo apagaremos essas


angústias e temores, excepto esse temor inicial, que por outro
lado não deixará de ser um temor inicial. Após as primeiras
fases, recobraremos o domínio de nós próprios. E então, por
fim, falar será um autêntico prazer.
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Pensar no sucesso é um sucesso

Pensaremos no sucesso, nestes conhecimentos de


oratória. Imaginemo-nos falando em público com perfeito
domínio de nós próprios. Todos nós podemos fazer isto.
Pensemos que triunfaremos. Pensemos de verdade e logo já
se irá fazendo o necessário para conseguir o êxito.
A coisa mais valiosa que uma pessoa que deseja falar
em público pode adquirir é a confiança em si própria, a
certeza da sua capacidade de lograr os seus propósitos.

Perguntar a um orador reconhecido

Ainda que pareça uma tolice, nos momentos de


desalento, um determinado orador que para nós seja digno de
exemplo pode ajudar-nos a dirigir as nossas dúvidas,
pensemos, por exemplo em Abraham Lincoln, Benjamin
Franklin, Napoleão entre outros. Podemos conseguir um
retrato de qualquer um deles, e perguntar-lhe o que teria feito
em circunstâncias semelhantes. Não ria. Isso pode
acostumar-nos a esclarecer as dúvidas e a orientar um pouco
o caminho que devemos seguir.

PREPARAR E ESTRUTURAR O DISCURSO


Algo para dizer

É necessário ter a certeza de que sabemos algo que as


pessoas imprescindivelmente devem conhecer. Se desejamos
falar em público, num determinado momento, devemos sentir
uma necessidade soberana de preparar o nosso discurso
antes de o pronunciar e ter algo preciso e necessário para
dizer, algo que definitivamente não possa ficar sem ser dito.
De certa maneira, sentimo-nos atraídos pelas pessoas que,
quando falam, denotam que têm algo, tanto no seu cérebro
como no seu coração, uma mensagem real que tratam de
comunicar ao nosso cérebro e ao nosso coração. Um discurso
bem preparado e sentido já está quase pronunciado.
Uma das principais razões que nos leva a ler este livro
consiste em obter uma orientação, confiança, valor e
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segurança, e portanto não cabe nenhuma dúvida que


descuidar da preparação dos discursos pode acarretar
nervosismo e fracasso. Nesta situação é lógico que os
oradores não se sintam precisamente cómodos frente à
audiência: “penso que nunca terei suficiente experiência para
falar sem hesitar quando não tenho nada que dizer”, disse
certo dia Abraham Lincoln, na Casa Branca. Por isso, se
queremos ter confiança, seria melhor recorrer àquilo que a
produz, ou seja, uma boa preparação?

Começar a se preparar

A leitura pode servir de ajuda, mas se apenas


abarcamos certa quantidade de pensamentos já elaborados e
fazemo-los nossos, imediatamente faltará algo importante na
exposição. Os ouvintes possivelmente não conseguirão definir
o que é que falta, mas não sentirão entusiasmo pelo seu
orador.
Talvez você leve muito tempo repassando os seus
próprios pensamentos, alimentado as suas próprias
convicções, vendo as coisas sob o seu ponto de vista
particular, vivendo as suas próprias experiências pessoais.
Com tudo isto, certamente que já acumulou um material
riquíssimo para os seus discursos e possivelmente ainda não
se deu conta disso.
Quando tentarmos falar sobre algum tema é
conveniente que este esteja suficientemente digerido e
assimilado.
A título de exemplo, numa aula onde se tratava de
adquirir domínio e destreza na hora de falar em público, um
aluno percebeu que se aproximava a hora de praticar e não
tinha o seu discurso preparado. Foi a um quiosque e, quando
estava no metro, leu um artigo sobre a economia de algumas
empresas. Na verdade, não tinha nenhum interesse especial
no artigo, mas devia falar sobre algum tema a fim de
preencher o tempo estipulado.
Quando chegou o momento, levantou-se e tentou falar
de forma amena, mas contundentemente, sobre o artigo.
Qual foi o resultado? O aspirante não tinha assimilado o que
tratava de dizer: “trato de dizer, trato de dizer...”, essa foi a
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frase que estava tratando, tentando. Não havia no seu


espírito nenhuma mensagem que irrompesse, e não havia
nenhum gesto ou tom da sua voz que o afirmara
inconfundivelmente. Por esse caminho não podia esperar que
o auditório pudesse ficar mais impressionado do que ele
mesmo ficara. Constantemente se referia ao artigo,
explicando que o seu autor tinha dito tal o qual coisa, mas
não o que ele pensava a respeito, a sua posição diante do
problema.
O professor disse-lhe: “...Não temos nenhum interesse
no autor desse artigo, entre outras coisas porque não o
vemos. No que sim estamos interessados é em si e nas suas
ideias. Fale sobre o que pensa pessoalmente, não sobre o que
disseram os demais. Dê um pouco mais de si. Por quê não
nos fala sobre este assunto na semana próxima? Por quê não
lê o artigo novamente, tentando destacar o problema e
comentar se está de acordo ou não com o autor do artigo? Se
está, pense nas sugestões que oferece e exponha-as com
observações extraídas da sua própria experiência. E se, pelo
contrário, não está de acordo com ele, explique-nos o porquê.
Faça deste artigo o ponto de partida para um novo discurso”.
O aluno aceitou a sugestão, releu o artigo e percebeu
que não estava de acordo com o autor do mesmo. Neste
momento não o desenvolveu precipitadamente, mas sim o
deixou crescer. Era como um “filho” do seu próprio cérebro, e
desenvolvia-se, crescia tal como os filhos na realidade. O
assunto tornava-se cada vez mais vigoroso e extenso,
enquanto reflectia sobre ele nos momentos que tinha
disponíveis.
Quando o incipiente orador voltou a falar sobre este
tema já tinha algo que era realmente seu, como remate, o
facto de estar em desacordo com o autor contribuiu para
tornar a sua exposição ainda mais brilhante. Nada dá tanto
jogo como os desacordos.

Como preparar-se?

Uma vez aqui, certamente se perguntará: em quê


consiste preparar-se? Preparar um discurso significa reunir
os pensamentos próprios, as ideias próprias, as convicções
próprias, as necessidades próprias. Toda a nossa vida está
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repleta de sensações e de experiências. O preparo implica em


pensar, considerar, recordar e escolher dentre estas
sensações e experiências aquelas que nos parecem melhores,
para as polir, pensar e tecer umas com as outras. Apenas
necessitamos um pouco de concentração, pensar, com uma
meta definida.
Os discursos de Dwight Moody fizeram história. Ele
sempre comentava: “Não é nenhum segredo. Quando escolho
um tema escrevo o título deste tema na parte externa de um
envelope. Tenho muitos envelopes deste tipo. Se quando
estou a ler encontro algo que convém a algum destes temas,
anoto a informação no envelope correspondente e deixo estar
durante mais um tempo. Quando necessito um novo
discurso, reviso todos os envelopes acumulados. Entre os que
encontro aí e os resultados dos meus próprios estudos, já
tenho suficiente material. Assim, continuamente reviso os
meus roteiros, tiro algo de aqui, acrescento algo ali, etc.
Nunca envelhecem.”
Jesus de Nazaré, para preparar os discursos, também
tinha um modo digno de se levar em conta. Jesus necessitava
constantemente distanciar-se das pessoas, pensar, meditar,
considerar, tomar distância para se sentir menos
“contaminado” e observar melhor o que na realidade
acontecia. Um dia foi sozinho ao deserto, aí meditou e jejuou
durante 40 dias e 40 noites. “Desde então – disse São Mateus -,
Jesus começou a predicar”.
Certamente o leitor pensará que o seu desejo não é ser
precisamente um orador famoso, mas sim que já tem
suficiente com saber pronunciar alguns discursos, dirigir
algumas frases com certa relevância de vez em quando, se se
apresenta a oportunidade. Bem, pois não importa, siga
igualmente as indicações que apresentamos aqui e quando
chegue o momento dar-se-á conta de que tem bastante
informação; isso é sempre melhor que o contrário.

O discurso

Sobre quais temas podemos falar quando pratiquemos


ou ensaiemos este método de aprendizagem? Sobre qualquer
coisa que nos interesse. Se for possível, nós mesmos
escolheremos o tema e, quando for o tema que nos escolhe,
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ainda será melhor. Devemos evitar o erro de querer abarcar


muitos aspectos numa conferência curta. Quem muito
abarca, pouco abraça. Apanhe um ou dois pontos de vista e
tente desenvolvê-los adequadamente. Considere-se bem-
aventurado se o consegue nesse período.
Marque o tema com uma semana de antecedência,
como mínimo, para que possa pensar nele durante algum
tempo. Faça todas as perguntas possíveis a respeito do
assunto. Suponha que tem de falar sobre as causas que o
motivaram a ler este livro. Neste caso, talvez se pergunte:
quais são as minhas dificuldades? O quê espero obter com
estes conhecimentos? Já falei alguma vez em público?
Quando? O quê aconteceu? Conheço alguém que esteja a
progredir mais na sua vida graças à confiança em si mesmo,
no seu potencial, na sua capacidade de falar
convincentemente? E, ao contrário, conheço alguém que não
tenha possibilidades de alcançar as suas metas por falta
destas qualidades? Procuremos ser explícitos e narremos a
vida dessas pessoas, sem mencionar nomes.
Se conseguimos colocar-nos de pé, pensar com lucidez
e falar durante dois ou três minutos, teremos conseguido o
objectivo proposto nos nossos primeiros discursos.
Se se dedica um pouco de tempo à escolha e
organização do material, podemos ter a certeza de que não
vamos esquecer nada, porque estaremos a falar das nossas
próprias observações, dos nossos próprios desejos, da nossa
própria experiência.
Outro tema, igualmente fácil para começar a adquirir
confiança, pode ser a nossa profissão, exactamente as causas
que nos motivaram a trabalhar no que trabalhamos.
Narremos as nossas primeiras lutas, os insucessos sofridos,
as esperanças abrigadas, os triunfos logrados. Façamos uma
narração interessante, baseada nas nossas próprias
experiências pessoais. Se essa história real, íntima, for
contada com modéstia e sem sombra de petulância, que tanto
irrita, construir-se-á um material surpreendente que em
poucas ocasiões fracassa.
Devemos evitar fazer do nosso discurso uma exposição
abstracta porque costuma ser aborrecedora. Vamos
acrescentando-lhe uma sucessão de exemplos e de juízos de
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valores gerais. Pensemos nos casos concretos que


observemos, e nas verdades fundamentais que tais exemplos
específicos ilustram. Veremos que esses casos concretos são
mais fáceis de lembrar que os actos e mais fáceis de expor, e
tornam a nossa exposição mais brilhante e fluida.

O caminho mais seguro para chegar à inspiração é o da


preparação. (Lloyd George)

Quando vamos preparar o nosso discurso também é


muito proveitoso, na medida em que nos permita o tempo, ler
livros ou artigos, ir à biblioteca e pesquisar, investigar, saber
o que os outros pensaram, o que disseram sobre o mesmo
assunto. Mas devemos evitar que, seja o que for que leiamos,
as nossas ideias fiquem deslocadas. Isso não deve acontecer
jamais!

A rotina de falar

Se esperamos ter um pouco de tempo livre para


preparar ou planejar o nosso discurso, possivelmente nunca
cheguemos a tê-lo realmente. Em contrapartida, dedicar-nos
àquilo que é habitual, quotidiano, que se costuma fazer quase
sem pensar, é mais factível. Então, por quê não dedicamos
algumas horas por semana, exclusivas, a esta actividade?
Apenas duas ou três horas por semana, não é muito e não
demoraremos em obter resultados surpreendentes.

Material de reserva

O facto de reunir mais informação do que depois vamos


utilizar não é nenhuma tolice. Mas sim, exactamente o
contrário. Trata-se de adquirir um poder de reserva, de
compreender que as coisas são conhecidas e sabidas de
antemão, ainda que não cheguem a serem expressadas. Se
nos familiarizarmos com o tema sobre qual temos que falar,
sentir-nos-emos tão sólidos, tão fortes, tão objectivos na
nossa atitude mental, que seremos ao mesmo tempo
irresistíveis e inconquistáveis.
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NORMAS BÁSICAS PARA ESCREVER O


DISCURSO
“Não procuremos palavras, mas sim factos e ideais, e
incessantemente aparecerão as palavras não procuradas”. O
sábio Horácio escreveu estas palavras há 2.000 anos, ele era
conhecedor da dificuldade de escrever quando não se tem
claras as ideais.
Quando já conhecemos o tema que vamos tratar e
temos suficiente informação para elaborar o nosso discurso,
já é hora de que conheçamos algumas “normas” básicas que
nos permitam escrever o discurso de maneira clara, correcta
e eficaz. Ainda que não exista nenhuma regra infalível para
solucionar o problema da disposição, ainda que não existam
planos ou fórmulas que se adaptem à maioria dos discursos,
sim, podemos indicar alguns conselhos gerais que poderão
ser úteis em muitos casos. O sociólogo André Siegfried propõe
o seguinte esquema, que ele denomina pesquisa de um
método de trabalho intelectual e onde constam onze
conselhos:

Método André Siegfried

3 Sacudir a preguiça mental.


3 Observar antes de discutir: respeitar o facto,
observando-o tal como é e não acreditar unicamente
no que se deseja acreditar.
3 “Mastigação” e “digestão” dos factos.
3 Medir e pesar as coisas, comparando-as com aquelas
que lhe são afins.
3 Situar o assunto.
3 Administrar bem a memória: lembrar os factos
importantes e esquecer o resto.
3 Proceder como um general na guerra: recrutamento de
factos e ideias, mobilização e concentração nos lugares
de combate.
3 Ter sempre presente o motivo essencial que faz actuar
os homens na vida (factor psicológico).
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3 Não devemos acreditar em nada só porque os outros


digam. A verdade deve instalar-se no nosso espírito
graças ao próprio esforço.
3 Saber apresentar o problema: determinar um eixo
central do assunto e não se separar dele, e se for
necessário separar-se, não o perder de vista. Um
problema bem apresentado é um problema meio
resolvido.
3 Elaborar um esquema e propor as soluções possíveis.

Ainda que haja planos mais simples, como o seguinte,


que ajudaram a muitos estudantes e pessoas interessadas na
oratória:

3 Mostrar algo que está mal: “eis aqui uma situação que
deveria ser remediada.”
3 Mostrar como se pode remediar: “deveríamos fazer isso
ou aquilo...”
3 Pedir a cooperação: “os senhores deveriam ajudar por
isso ou por aquilo...”

Método de Woodrow Wilson

O presidente estadunidense costumava começar com


uma lista dos temas sobre os quais queria falar, ordenando-
os mentalmente. Logo escrevia tudo em taquigrafia para
ganhar tempo. Feito isso, copiava tudo à máquina, mudando
algumas frases, corrigindo os parágrafos e acrescentando
material à medida em que avançava.

Método Theodore Roosevelt

Roosevelt também tinha o seu modo particular de


preparar os seus discursos. Procurava obter todos os dados
possíveis, revisava, ponderava, julgava e criticava-os,
chegando às suas conclusões com uma sensação incomovível
de segurança. Com todas estas notas, começava a ditar
rapidamente a um gravador para que o seu discurso tivesse
impetuosidade, espontaneidade e uma aura de vitalidade.
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Logo, passava-o para o papel, revisava, apagava, mudava,


acrescentava, resumia, para finalmente ditar outra vez.
Constantemente, chamava a críticos para que o
escutassem enquanto ditava ou lia um discurso. Mas jamais
discutia com eles sobre o tema em questão, já que este já o
tinha resolvido, e resolvido de maneira irrevocável. O que ele
queria que lhe dissessem era o que não tinha que dizer, mas
sim como dizê-lo. O trabalho de ditar, gravar e revisar
proporcionava-lhe uma excelente ajuda na sua preparação.
Familiarizava-o com o material, com a ordem dos pontos,
outorgando-lhe uma segurança que dificilmente poderia ter
obtido de outra maneira.

É aconselhável empregar notas?

As notas durante a preparação não apenas são viáveis,


mas também são recomendáveis. Podem ser proveitosas para
as consultar enquanto ensaiamos o discurso a sós. Bem,
talvez também nos sintamos mais cómodos se as temos no
bolso, pouco antes de fazer o discurso, mas, tal como as
ferramentas que se levam nos automóveis, apensas se
utilizam no caso de emergência.
Apesar de tudo, se vemos que devemos usar notas,
procuraremos que sejam muito breves e com letras grandes e
claras. Existem ocasiões em que o emprego de notas é sinal
de prudência. Por exemplo, algumas pessoas, nos dois ou
três primeiros discursos que pronunciam ficam tão nervosas
que lhes é impossível lembrar do discurso que tinham
preparado. Como consequência, esquecem o material que
com tanto cuidado prepararam, escapam do caminho e
vagam errantes e tropeçando repetidamente. Portanto,
também não há nenhum inconveniente, nestes casos, de ter
notas muito sintéticas nas primeiras tentativas.
É claro que não devemos abusar nunca das notas.
Quando possamos, devemos prescindir delas. Teremos
presente que ler as notas nos discursos dificulta esse
contacto tão precioso e recomendável que existe entre o bom
orador e o seu público. Favorecem um ambiente de
superficialidade e podem provocar uma certa falta de
confiança no falante.
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ENSAIAR O DISCURSO
O método que nunca falha para desenvolver a
confiança em nós mesmos quando falamos em público
consiste, simplesmente, em falar. Theodore Roosevelt
comentava em seu momento que para vencer essa intensa
excitação nervosa, que muitas vezes não tem nada a ver com
a timidez, não se requer valor, mas sim domínio do sistema
nervoso, serenidade: “...Isto só se pode conseguir através da
prática. Deve-se, através do hábito e repetidos exercícios de
domínio, chegar a vencer os nervos. Isto é em grande parte
uma questão de costume. Costume no sentido de esforço
repetido e de repetido exercício de força de vontade”.
Sem via de dúvidas, o medo nasce da ignorância e da
falta de segurança; definitivamente, é o resultado da falta de
confiança, de não saber do que cada um é capaz - e não
saber isto é originado pela falta de experiência. Quando
acumulemos uma série de grandes experiências triunfais, os
temores abandonar-nos-ão. Uma coisa é certa: o modo mais
seguro de aprender a nadar é lançar-se à água, arriscando-
se, é claro, a passar por mais de um apuro.

Como começar um discurso

É importante preparar um começo interessante, algo


que arrebate a atenção imediatamente. É de suma
importância, porque a mente dos ouvintes ainda está fresca e
é relativamente fácil impressionar. Saibamos que logo que
estivermos diante de um auditório, este dirigir-nos-á a sua
atenção. Isso é natural e inevitável. Não será difícil que nos
dirija a sua atenção durante os primeiros cinco segundos,
mas sim durante os primeiros cinco minutos. Se perdemos
esta atenção, será duplamente difícil reconquistá-la. Assim,
devemos começar com algo interessante logo na primeira
frase.
A seguir apresentamos várias chaves que podem ajudar
a atrair imediatamente a atenção do auditório:
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3 Se despertamos a curiosidade, suscitaremos um


grande interesse na medida em que avançamos no
discurso, mantendo o auditório em suspense.
3 Também é válido começar com uma narração
interessante; o público sente um grande afã por que
lhe narrem coisas interessantes.
3 Se começamos com um exemplo preciso será muito
mais fácil que nos entendam e sigam com um interesse
sempre vivo, logo, também poderemos continuar com
observações gerais.
3 Mostrar um objecto pode ser a maneira mais simples
de atrair a atenção do público.
3 Propor uma pergunta no começo do discurso é um dos
métodos mais seguros e eficazes para abrir a mente
dos ouvintes e entrar nela.
3 Começar com uma citação precisa. As palavras de um
homem famoso e reconhecido sempre atraem a
atenção.
3 Mostrar como o tema afecta os principais interesses do
auditório. Se começamos com algum ponto que toque
directamente os interesses individuais do auditório,
não poderíamos fazer outra coisa senão atrair a
atenção. Todos nós sentimos o maior interesse pelo
que nos respeita de forma contundente e
transcendentalmente.
3 Utilizar um começo surpreendente e extraordinário
como por exemplo: “...Os senhores sabem que o som
de uma mosca que caminha sobre um painel de vidro
pode transmitir-se por radiofonia até o coração do
continente africano, e aí fazê-lo bramar como se fosse
as cataratas do Niágara?”

Uma vez vistos estes pequenos truques já podemos


começar a compor e ensaiar um bom começo do nosso
discurso. Procuraremos não fazer com que este começo seja
muito formal, tentemos fazer com que pareça
desembaraçado, inevitável, como fruto da casualidade, que
não tenha essa aparência estudada e preparada. Deve soar
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como algo espontâneo, natural e humano, como quando


relatamos um conto a outra pessoa.

Como acabar o discurso

O final, o como acaba, é realmente o ponto mais


estratégico de um discurso. O que se diga ao finalizar a
conferência, as últimas palavras que restam soando nos
ouvidos do auditório são as que provavelmente se recordarão
por mais tempo. Por isso, é necessário saber de antemão e
muito bem definido com quais ideias ou imagens vamos
terminar. Devemos ensaiar o final várias vezes, ainda que não
seja necessário empregar as mesmas palavras, as mesmas
frases cada vez que o façamos. Mas sim, devemos traduzir
claramente as ideias em palavras.
“Um discurso improvisado é alterado durante o seu
pronunciamento.” Às vezes temos de o contar para fazer
frente a circunstâncias imprevistas, para harmonizar com as
reacções dos ouvintes. Portanto, não está demais contar com
dois ou três finais, mais ou menos previstos, no caso de que
algum deles nada tenha a ver.
Também, para conseguir um bom final, podemos
recorrer a alguns truques que nos facilitam uma despedida
bem “arrematada”:

3 Resumir, repetir e esquematizar brevemente os


principais pontos tratados. Até em discursos de apenas
três ou quatro minutos, o orador pode chegar a
desenvolver tantos pontos distintos que no final o
auditório não os recorde claramente. Um político
irlandês aconselhava: “primeiro, digamos o que vamos
dizer-lhes. Segundo, digamo-lo. E terceiro, digamos-
lhes o que lhes dissemos.”
3 Exortar a acção. O orador quer que se faça algo, por
isso argumenta o quão proveitoso e necessário que
pode ser para todos.
3 Apresentar uma cortesia sincera ao auditório. Se
conseguimos fazer com que o auditório se sinta
contente e tratado com honra e respeito, de forma
sincera, já teremos concluído o discurso de uma
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 20

maneira admirável. No entanto, mais uma vez


ressaltamos que para que seja eficaz, o nosso discurso
tem de parecer sincero, porque do contrário parecerá
artificial, falso. Assim, nada de extravagâncias ou
adulações pedantes que possam arruinar toda a
exposição.
3 Provocar o riso. O que não significa cozinhar e cantar.
Mas, se temos facilidade para o fazer, além do material
para tanto, o fechamento é um bom momento para
desatar os sorrisos, risos e inclusive gargalhadas.
3 Citar versos apropriados. Se temos a estrofe adequada
para arrematar o discurso seria ideal. A citação poética
realça, dignifica, embelece e presta individualidade à
exposição.
3 Citar alguma passagem da Bíblia. Seremos muito
afortunados se temos a oportunidade de fazer uma
citação bíblica, porque geralmente produzem um efeito
contundente.
3 Gerar um clímax. O clímax ou culminação é uma
maneira muito popular de rematar o discurso. Mas
frequentemente é difícil e não se adapta a qualquer
pessoa, nem a qualquer tema, ainda que quando bem
feito resulta excelente. É como escalar uma montanha,
escalada que se faz mais vigorosa a cada frase.

Depois de pesquisar, estudar e provar, como mínimo,


uma boa conclusão e um bom começo, procuraremos que
ambos não se encontrem muito separados. Devemos terminar
sempre um pouco antes que o deseje o auditório: o cansaço
aparece bem pouco tempo depois de ter alcançado o auge da
popularidade.

FALAR BEM EM PÚBLICO


Diz-se que, na realidade, deveríamos pensar melhor
diante de um grupo de pessoas que a sós, já que a presença
de vários interlocutores que escutam estimula e alenta. Não
são poucos os conferencistas que afirmam que a presença de
um auditório é um estímulo, uma inspiração que obriga o
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 21

cérebro a trabalhar cada vez com mais astúcia e clareza.


Portanto, em tais circunstâncias, factos e ideias que não
pensávamos dominar saltam de repente aos nossos olhos,
esperando que nos sirvamos deles no momento oportuno.

Vamos lá

Alguns oradores veteranos aconselham, para se livrar


desse nervosismo tão incómodo, encontrar algo para fazer
diante do auditório: mostrar algo, escrever algumas palavras
no quadro, indicar algum ponto num mapa, mover a mesa,
abrir uma janela, apanhar alguns livros ou papéis, ou mesmo
qualquer outro movimento contribuirá para que nos sintamos
mais cómodos.
Ainda que nem sempre seja fácil encontrar uma
desculpa para fazer estes movimentos, utilizemo-los se
podemos, mas apenas nas primeiras vezes. As crianças não
se agarram às cadeiras uma vez que já aprenderam a andar.
Quando saibamos de quê vamos falar, adiantemo-nos à
tribuna com energia e respiremos profundamente:

Na tribo de Peuls, na África central, quando um


jovem chega à virilidade e quer casar, é obrigado
a celebrar o ritual da flagelação. As mulheres da
tribo reúnem-se, cantando e batendo palmas ao
ritmo dos tambores. O candidato adianta-se nu
da cintura para cima. A seguir, um homem que
empunha um chicote começa a castigar o rapaz,
golpeia a sua pele nua, chicoteia as costas onde
se vão marcando hematomas, o sangue começa
a fluir e aparecem feridas cujas cicatrizes
durarão toda a vida.
Durante esta surra, um venerável juiz da
tribo coloca-se aos pés da vítima para ver se se
mexe ou se apresenta o mais mínimo sinal de
dor. Para superar a prova com sucesso, o
torturado não só deve aguentar tudo isto, como
também, enquanto lhe açoitam, deve cantar um
hino de louvor.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 22

Certamente, não é necessário chegar a este ponto, mas


é bom ter sempre presente que em todos os tempos e em
todos os lugares, os homens admiraram o valor. De modo
que, por muito que o coração bata forte dentro do nosso
peito, devemos avançar com passo firme, deter-nos, aguentar
como o jovem da África Central e, tal como ele, proceder como
se estivéssemos contentíssimos.
Bem direitos, mas demonstrando toda a naturalidade
do mundo, dirigir-nos-emos ao auditório com convicção e
começaremos a falar com confiança, como se todos eles
fossem nossos devedores. Imaginemos que se reuniram aí
para nos pedir uma prolação. Este efeito psicológico ser-nos-á
de grande proveito.

Cuidar da elocução

Um auditório espera que o orador não dê rodeios


inúteis e que fale como se estivesse a falar com duas ou três
pessoas. Da mesma maneira, mas não com o mesmo volume
de voz, pois poucos poderiam ouvir. Para não perder a
naturalidade, torna-se necessário falar com maior energia
diante de 40 pessoas do que diante de uma só. Isto é
precisamente o que o auditório quer: um tom natural, com
um volume um pouco mais alto. Esta naturalidade não se
deve apreciar; os ouvintes não devem reparar na maneira de
falar, mas apenas nas razões.
Há mais uma coisa além das palavras, e é o "sabor"
com que estas são ditas. Não importa o que nós dizemos, mas
sim como dizemos; o desejo de fazer ver o que vemos e de
fazer sentir o que sentimos.

O domínio da eloquência apenas se consegue através do


domínio do tema que se pretende tratar (Lloyd George)

Somos oradores únicos

Cada um de nós, considerado psicologicamente, é uma


síntese sistemática de elementos afectivos, intelectuais e
activos, diversos pela sua origem, coordenados de maneira
diferente e segundo as suas relações complexas. Não existe
no mundo outra pessoa que seja igual a nós. Temos
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 23

individualidade. Como oradores, esta é a nossa preciosa


virtude.

Como ser naturais?

Insistimos mais uma vez, o único método para adquirir


naturalidade é a prática. Se enquanto praticamos temos a
sensação de que estamos a ser muito cerimoniosos, paremos
por um instante e digamos mentalmente: “O que acontece?
Acorda! Este não é o caminho!”. Imaginemos que nos
dirigimos a um ouvinte, esquecemos os outros, e
conversamos com este. Suponhamos que ele nos fez uma
pergunta e que estamos a responder. Se isto acontecer, o
nosso discurso deveria ser imediata e inevitavelmente mais
familiar. Pensemos que isto é precisamente o que aconteceu.
Também podemos perguntar-nos a nós mesmos e depois
responder às questões. Por exemplo, num dado momento do
nosso discurso podemos interromper-nos e dizer: “Talvez
alguém queira saber quais são as provas em que me baseio.
Tenho provas suficientes e vou expô-las imediatamente...”. E
imediatamente responderemos à pergunta suposta. Isto pode
ser feito com toda a naturalidade do mundo. Ajudar-nos-á a
romper a monotonia do discurso tornando-o mais directo,
agradável e íntimo.
Por outro lado, a sinceridade e o entusiasmo
contribuirão também à naturalidade. Quando nos sentimos
dominados pela paixão, a nossa verdadeira personalidade
emerge à superfície. O calor dos seus sentimentos destrói
todas as barreiras. Procede e fala com espontaneidade. É,
simplesmente, natural.

As quatro coisas que nos fazem naturais

Quando estamos a falar com outra pessoa e o tema nos


implica e preocupa, inconscientemente aplicamos quatro
“normas” preciosas, que outorgam naturalidade ao discurso e
apoiam o seu conteúdo. Sejamos conscientes de quais são:

3 Acentuamos as palavras importantes de uma frase para


subordinar as que não são importantes. Quando
conversamos, enfatizamos certas sílabas e a seguir
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 24

pronunciamos as seguintes mais rapidamente.


Fazemos o mesmo com as frases. Fazemos com que
uma ou duas palavras importantes destaquem sobre
as outras.
3 O nosso tom de voz, na conversação, percorre toda a
escala, desde a nota mais alta até a mais grave, e vice-
versa. Não sabemos por que, mas não importa
demasiado. O verdadeiramente importante é que
aprendemos sozinhos, quando éramos crianças, sem
querer nem saber como. O que é que acontece então,
quando diante de um auditório a voz adquire um tom
monótono, sem vida e aborrecedor? Quando formos
conscientes de estar a falar nesse tom monótono, que
geralmente costuma ser um tom alto, paremos por um
momento e digamos a nós próprios: "Hás-de ser mais
humano, mais natural”. Quando começamos num tom
e continuamos com o mesmo, aqueles que nos
escutam, em pouco tempo deixam de nos dar atenção
3 Variamos a velocidade do discurso, e dizemos de uma
maneira rápida as palavras de pouca importância
detendo-nos por mais tempo nas que queremos
destacar. Isto é agradável, natural, inconsciente e
científico. É, em definitiva, uma das melhores
maneiras de fazer ressaltar um conceito com suficiente
vigor.
3 Fazemos uma pausa antes e depois das ideias
importantes. Alguns oradores, antes de começar,
costumam dirigir uma olhada para o recinto,
recriando-se durante alguns instantes nessa pausa
intencionada. Isto atrai irresistivelmente a atenção de
todos e é fácil que se produza na sala um profundo
silêncio. Este recurso é utilizado também quando
desejam destacar um parágrafo, logrando o máximo de
intensidade na atenção e interesse dos seus ouvintes.
Os momentos onde efectuar as pausas não estão
sujeitos a nenhuma regra, trata-se melhor de uma
questão de temperamento, de sentido e de sentimento.
A pausa, esse silêncio premeditado, não deixa de ser
um instrumento poderoso, demasiado importante para
o descuidar.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 25

Se queremos falar com naturalidade, e já descobrimos


o quão naturais podemos ser quando mantemos
conversações quotidianas. No entanto, devemos ter presente
que se aplicamos a nossa maneira quotidiana de conversar ao
nosso discurso em público, provavelmente precisaremos de
um grande número de aperfeiçoamentos para paliar as
nossas asperezas (falar com voz desagradável, cometer erros
gramaticais, mostrar-nos trôpegos, ofender...). Tentemos
então aperfeiçoar o nosso método de conversar para depois
podermos “conversar” em qualquer auditório.

A respiração

A respiração é o fundamento da voz, é a matéria-prima


com a qual construímos as palavras. O domínio da respiração
constitui o primeiro passo para o melhoramento da voz.
Se usarmos adequadamente a respiração, obteremos
tons completos, profundos, redondos; tons atraentes, não
sons gritantes nem ásperos; tons que agradam, que se
deixam escutar facilmente.
Mas, qual é a respiração correcta? Sem dúvida, a
respiração diafragmática. É a respiração que empregávamos
quando éramos crianças. É também a que empregamos agora
quando estamos deitados; é quando respiramos livremente.
Não sabemos exactamente por quê é tão difícil respirar
apropriadamente se não estamos na posição horizontal.
Este é o nosso trabalho: empregar o mesmo método de
respiração quando estamos de pé que quando estamos
deitados. O exercício que devemos fazer é o seguinte:
Deitamo-nos de costas e respiramos profundamente.
Observaremos que a actividade principal do processo se
concentra no centro do corpo. Quando respiramos
profundamente nesta posição não alçamos os ombros.
Os pulmões, esponjosos e porosos, enchem-se de ar e
necessitam estender-se. Encaixotados pela parte de cima e
das costas por uma caixa cujas paredes formam as costelas,
a espinha dorsal e o esterno, a parte que mais fácil se
expande é o “solo” da caixa, formado por um delgado e
enorme músculo que serve ao mesmo tempo de “tecto” do
abdómen. Este potente músculo, o diafragma, arqueia-se
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 26

como uma abóbada. Assim, sempre deitados, respiraremos


profundamente e apoiando os dedos da mão justo por
debaixo do esterno. Sentiremos desta forma o movimento do
diafragma, a contracção e expansão do mesmo. Apoiaremos
agora as mãos sobre os costados da caixa, sobre as
extremidades inferiores das costelas, e respiraremos
profundamente. Não é verdade que agora sentimos como os
pulmões empurram as costelas flutuantes?
Seria conveniente que praticássemos esta respiração
diafragmática durante cinco minutos ao deitar-nos e durante
cinco minutos antes de nos levantar. À noite, esta respiração
vai fazer com que acalmemos os nervos convidando-nos ao
sonho. De manhã, acordaremos mais despejados e animados.
Se fizermos isto habitualmente, não só melhoraremos a voz,
mas também a nossa saúde em geral.

O repouso absoluto

Um famoso cantor de ópera dizia que o repouso é o


fundamento de uma boa voz. Aprendamos então a relaxar
todo o corpo porque todo ele influi nas cordas vocais. É bem
simples. O importante não é o que temos de fazer, mas o que
não devemos fazer. À noite, quando estivermos deitados de
costas na cama e depois de ter respirado com o diafragma,
pensaremos que somos um saco de algodão. Imaginemos que
toda a energia dos braços das pernas, do pescoço, flúi para o
centro do corpo. A nossa mandíbula relaxa-se e fica
entreaberta. Todo o nosso corpo pesa enormemente sobre a
cama, como se nunca mais o pudéssemos levantar. Agora,
respiramos profundamente, lentamente, naturalmente, sem
pensar em nada, apenas em estar cómodos e no repouso
completo.
Uma vez experimentada a deliciosa sensação deste tipo
de repouso, introduzamo-la no nosso dia-a-dia.
Quando façamos isto e dominemos a respiração,
estaremos perto de lograr uma boa voz, que poderá ser a
delícia de todos aqueles ouvintes que a escutem.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 27

COMO PREPARAR O SEU


PRIMEIRO DISCURSO E
ENFRENTAR O
NERVOSISMO
Com a gentileza de International
Thomson
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 28

O valor é a resistência ao medo, o domínio do medo, não a sua


ausência.
(Mark Twain, Pudd’nhead Wilson, 1894)

Quando o professor Martins terminou de explicar o


objectivo do curso, anunciou que na aula seguinte todos
apresentariam um discurso curto sobre uma experiência
pessoal, a fim de quebrar o gelo com o público.
“Eu gostaria que todos fizessem um discurso de dois a
três minutos. O objectivo da tarefa consiste na vossa
familiarização com os passos de preparação do discurso e
com o valor de considerar e de usar as experiências pessoais
nos futuros discursos maiores.”
A primeira reacção de André foi de pânico, mas
conforme o professor Martins explicava brevemente os passos
básicos de preparação e dava alguns conselhos práticos para
vencer o nervosismo, André pensou, “agora que conheço os
passos lógicos e o método a seguir para apresentar uma
comunicação, penso que poderei consegui-lo!”
Neste curso, talvez já lhe tenham designado uma tarefa
similar. Então o que devemos fazer? A melhor maneira de
enfrentar o nervosismo que todos os oradores experimentam
é colocar-se de pé, frente ao público, tão rápido como seja
possível. Tenham ou não designado uma tarefa similar para
si, e sem importar como se sente agora, e assim estará de
acordo com André: “Penso que poderei consegui-lo”
Dependendo dos objectivos específicos do seu curso, do
número de estudantes na sua classe e do número e extensão
dos discursos previstos, o seu “quebra-gelos” pode ser um
discurso narrativo curto, a modo de introdução pessoal, na
qual relacione uma experiência pessoal, ou um discurso
curto a um tema com o qual já tenha tido grande experiência
pessoal.
Na primeira parte deste capítulo dar-lhe-emos um
esquema dos passos a seguir na preparação de um discurso
eficaz, os mesmos serão analisados na segunda parte. Nesta
parte também examinaremos os métodos para enfrentar o
nervosismo que se produz no momento de pronunciar um
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 29

discurso. Ainda que o capítulo esteja estruturado para lhe


proporcionar ajuda na narração de uma experiência pessoal
(algumas vezes é denominado discurso narrativo), os passos
introduzidos aqui são essencialmente os mesmos para
qualquer discurso.

O PLANO PARA UM DISCURSO EFICAZ


Em todo o caso, se você é um agente de vendas que
trabalha na campanha publicitária para Procter and Gamble,
ou é um treinador que trata de motivar a sua equipa antes de
enfrentar o seu grande rival, ou um estudante que vai
pronunciar um discurso na aula, necessita ter um plano de
discurso – uma estratégia para alcançar o seu objectivo – se
deseja ter grandes probabilidades de sucesso.
Em quase todos os casos, o plano para um discurso
eficaz fundamenta-se nas respostas às seguintes perguntas:

3 Qual é o meu objectivo neste discurso?


3 Onde posso encontrar a informação que necessito para
alcançar este objectivo?
3 Como posso organizar e estruturar esta informação
para alcançar o meu objectivo?
3 Como posso adaptar melhor o meu discurso ao
público?
3 Quais são os recursos visuais que posso utilizar para
transmitir perfeitamente a informação?
3 Em quê devo centrar a minha atenção ao praticar a
linguagem do discurso?
3 Em quê devo centrar a minha atenção ao praticar a
apresentação do meu discurso?

Na seguinte parte deste livro responderemos


pormenorizadamente estas sete perguntas. De momento,
desejamos dar-lhe as respostas básicas que lhe ajudarão com
o seu discurso “quebra-gelo”.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 30

Objectivo do discurso: o que você deseja que os seus ouvintes


saibam, pensem ou façam.

Objectivo

1. Qual é o meu objectivo neste discurso? O seu objectivo


de discurso é a declaração do que você deseja que o seu
público saiba, pense ou faça. Para alcançar tal objectivo, deve
começar com a escolha de um tema. Independentemente de
que você seja um orador de renome ou que esteja a preparar
o seu primeiro discurso, o conselho para determinar o que
dizer é o mesmo: seleccione um tema que conheça e que seja
importante para você.
André Gil (cujo resumo do discurso e o discurso em si
aparecem quase ao final deste capítulo, nas figuras 2 y 3)
recebeu algumas instruções para falar sobre uma experiência
pessoal. Teve em consideração várias experiências que
considerava bem-humoradas e que a turma gostaria de ouvir.
Quanto ao seu tema, seleccionou “a história do armário”,
uma experiência vergonhosa que teve lugar na academia de
ginástica local: pensou que alguém tinha roubado a sua
roupa.
Devido ao facto de que um discurso está desenhado
para ser pronunciado diante de um público num cenário
particular, antes de o planificar deve pensar no público ao
qual vai dirigido, a fim de prever o seu nível de interesse no
tema, a sua habilidade para compreender o conteúdo do
discurso e a sua atitude para consigo e para com o tema.
Com base em tais previsões e nas informações que dispõe
com respeito ao seu público incluindo-se o género, a cultura,
a faixa etária, o nível cultural, a ocupação, a faixa salarial e a
participação num colectivo. Quando estude estes factores,
avalie o material que produz alguma reacção no público, e
com certeza obterá uma resposta. Ainda que na vida real os
seus públicos variarão consideravelmente em cada uma
destas características, para efeitos desta tarefa de abertura,
suponha que grande parte do seu público compartilhará a
maioria das suas características pessoais.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 31

O cenário também deve ser levado em conta. No geral,


os pontos relevantes são: o tamanho do público, quando se
dará o discurso, onde se pronunciará, as instalações
necessárias para tal efeito, o tempo limite e a tarefa
específica. De novo, dado que estará a falar no mesmo salão
de actos durante todo o período lectivo, é conveniente que
determine qualquer peculiaridade do espaço que necessite
considerar. O mais importante para este primeiro discurso é
o tamanho do público e o seu limite de tempo.
André Gil pensou que os colegas identificar-se-iam com
a sua experiência, dado que a maioria dos estudantes já
passou pelo medo de esquecer o seu número de armário, ou a
combinação da fechadura ou bem, pela própria perda dos
seus objectos.
Também sabia que o discurso estava dirigido a um
público de aproximadamente vinte colegas de classe, e que a
tarefa consistia num discurso narrativo, sendo que o seu
limite de tempo era de três minutos.
Uma vez que tenha em mente o tema e que tenha
analisado o público e o cenário, poderá formular o seu
objectivo de discurso. Qualquer discurso tem um objectivo
geral e um específico que o orador se propõe a alcançar. Para
os discursos dentro da sala de aula, o seu objectivo geral
quase sempre é determinado pela tarefa. Talvez lhe designem
um discurso informativo, onde desejará que o seu público
compreenda a sua informação; ou talvez um discurso
persuasivo, onde desejará que o seu público acredite em algo
ou que actue de uma maneira particular. Para efeitos de um
discurso “quebra-gelo”, o objectivo talvez seja fazer com que o
seu público desfrute ao ouvir a sua experiência pessoal.
O seu objectivo específico articula exactamente o que
deseja que o seu público compreenda, pense ou faça. Por
exemplo, para um discurso informativo, Gabriel, membro da
equipa de basquetebol talvez enuncie o seu objectivo, “eu
desejo que o meu público compreenda como fazer um
lançamento com salto”. Ling, uma estudante nascida na
China, talvez formule o seu objectivo dizendo: “eu desejo que
o público tenha uma visão geral da cultura chinesa”. Para
efeitos desta tarefa narrativa, o seu objectivo tenderá a ser
pronunciado como o de André.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 32

Dado que a tarefa de André foi um discurso narrativo, o


seu objectivo geral consistiu em fazer com que o seu público
desfrutasse da sua experiência. Especificamente, André
desejava que o público risse pelo facto de se dar conta que a
sua roupa não tinha sido roubada.

Material do discurso

2. Onde posso encontrar a informação que necessito para


alcançar este objectivo? Para qualquer discurso é
necessário contar com a informação objectiva procedente de
fontes de pesquisa manual e electrónica que você julgar
convenientes. Não obstante, sem levar em conta o discurso,
também é possível utilizar algumas das suas experiências
humorísticas, emocionantes ou interessantes. Por isso é
muito importante seleccionar um tema que conheça, a fim de
acrescentar a informação decorrente da sua própria
experiência, com o qual logrará dar um maior sentido ao
discurso. Por exemplo, Gabriel, que está na equipa de
basquetebol, poderá fazer o seu discurso sobre o lançamento
com salto melhor que qualquer outra pessoa sem experiência
no desporto. Por quê? Pois, porque os lançamentos com salto
constituem grande parte da sua experiência. Do mesmo
modo, Ling, a jovem nascida na China, poderá pronunciar
um discurso sobre a cultura chinesa melhor em comparação
a alguém que não teve a mesma experiência directa.
Com respeito às suas tarefas de classe de maior nível,
será fácil para si obter material a partir do seu próprio
conhecimento e experiências, observações, entrevistas,
pesquisas de opinião pública e investigações. Para efeito de
um discurso “quebra-gelos”, frequentemente, terá que extrair
a informação principalmente da sua própria experiência.
Quanto à narração sobre a experiência pessoal de
André, ele só teve que reconstruir os detalhes da sua
experiência na academia de ginástica.
Se lhe pedirem que narre num discurso a sua
experiência pessoal, talvez deseje formulá-lo em torno aos
seguintes elementos da narrativa:
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 33

A narrativa geralmente tem um ponto central; o clímax,


ao redor do qual se constroem os detalhes. Pense
cuidadosamente no ponto central da sua história.

A narrativa desenvolve-se com detalhes de apoio que


proporcionam a ambientação e enriquecem a história,
com o fim de que o ponto central obtenha o seu máximo
efeito. Trate de seleccionar e de desenvolver os detalhes que
intensificam o impacto.

Frequentemente a narrativa inclui o diálogo. A história é


mais divertida para os membros do público quando escutam
o que se expõe através do diálogo.

A narrativa frequentemente é humorística. Ainda que nem


toda a narrativa seja divertida, o humor serve para manter a
atenção do público e ajuda a estabelecer o vínculo entre este
e o orador.

Organização

3. Como posso organizar e estruturar esta informação


para alcançar o meu objectivo? QUALQUER discurso bem
organizado consta de uma introdução, um corpo central e
uma conclusão. Dado que é mais fácil trabalhar sobre uma
introdução quando se conhece o conteúdo de um discurso, é
melhor começar por organizar o corpo central do discurso
antes de levar em conta a introdução ou a conclusão. Ao
longo do processo, talvez prefira elaborar o perfil ou resumo.
Ainda que a sua inclinação pode centrar-se em “redigir” o
discurso conforme aparece na sua mente; nos seguintes
capítulos poderá observar que os discursos podem ser
organizados e desenvolvidos melhor se primeiro elaborarmos
um resumo.
Talvez deseje começar por redigir os principais pontos
cuidadosamente, seguindo um padrão de organização que
comunique claramente o material. Dois dos padrões de
organização mais comuns são o cronológico e o temático
(posteriormente analisaremos os tipos de organização que se
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 34

pode usar nos seus discursos informativos e persuasivos).


Mediante o padrão cronológico, você segue uma ordem em
sequência a partir do primeiro acontecimento até o último.
Assim, se o seu discurso sobre a sua experiência pessoal
versar sobre algo que lhe aconteceu, é provável que organize
a informação com os pontos principais: o que ocorreu
primeiro, depois e no final. Em algumas circunstâncias,
talvez considere que o seu discurso fique melhor apresentado
de maneira temática.

Cronológico: ordem que vai em sequência do primeiro ao


último sucesso.

O padrão temático segue uma ordem de encabeçamentos.


Por exemplo, Ling poderia ter uma experiência que se
interprete de uma maneira pelos seus pais chineses e outra
totalmente diferente pelos seus colegas de aula americanos.
Assim, para contrastar as duas interpretações, ela escolhe
falar sobre a experiência sob os dois pontos de vista.

Temático: ordem de encabeçamentos

Dado que na maioria das experiências pessoais os


sucessos se apresentam conforme vão acontecendo,
geralmente se narram em ordem cronológica. Por exemplo,
André Gil estruturou o seu discurso sobre a sua experiência
pessoal em três partes.
Depois de ter perfilado o corpo do discurso, faça um
rascunho da introdução que capte a atenção do público e
sirva de guia para continuar com o desenvolvimento do
discurso. Dado que não é possível garantir que o seu público
prestará plena atenção no discurso, encontre a maneira de
atrair a atenção ao seu tema desde o princípio. Num discurso
curto inicial, poderia começar por propor uma pergunta ou
fazer um comentário humorístico ou surpreendente.
André Gil começou o seu discurso com um comentário
humorístico: “Faz pouco tempo entrei na academia de
ginástica local com o propósito de praticar levantamento de
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 35

pesos, de tal sorte que resultou difícil para as pessoas


estabelecerem a diferença entre Arnold Schwarznegger e
André Gil.”
É desejável que, com a conclusão do discurso, o
público lembre o que você acaba de relatar. Não obstante, o
discurso narrativo frequentemente termina com uma
conclusão decorrente do clímax. Por exemplo, quando leia o
discurso de André, poderá reparar que para um defeito ainda
maior, ele finaliza com o próprio clímax. Se bem um discurso
maior tem uma introdução, um corpo central e uma
conclusão claramente delineados, o discurso narrativo conta
com uma única história unificada.
Quando pense que terminou, revise o resumo
elaborado anteriormente para certificar-se de que as partes
estão de acordo com o seu objectivo. Para qualquer discurso
que pronuncie, é importante elaborar o discurso em papel
para lhe ajudar a verificar a lógica e a clareza da organização
que teve em mente. Um perfil completo inclui as partes
essenciais da introdução, os pontos principais, os pontos
subordinados mais importantes do corpo do discurso e o
ponto de apoio chave, as transições de secções e as partes
chave da conclusão.
Quando terminar o seu discurso de experiência
pessoal, a estrutura deve ficar assim:

Tema:
Introdução: (começo, enunciado de abertura)
História: (o corpo ou parte central do discurso)
Clímax: (fim do discurso ou conclusão)

Ainda que alguns oradores experientes sejam capazes


de desenvolver uma estrutura mental, a maioria de nós
necessita ver em papel o que planejamos fazer. Se as partes
do discurso flúem de maneira lógica, partindo de uma à
outra, o público poderá seguir o seu discurso.
O perfil ou resumo do discurso narrativo de André Gil
aparece na figura 2; observe que é muito breve. Um perfil
geralmente contém menos de um terço de palavras do
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 36

discurso real (veja o discurso de André na figura 3. Isto


brinda a André com a oportunidade de acrescentar a
informação de maneira diferente cada vez que ponha em
prática a elaboração de um discurso.
Ainda que o perfil para um discurso narrativo não
inclua todas as partes que deverá usar num discurso maior,
o formato ilustra o objectivo específico, as três partes do
discurso e os símbolos utilizados para designar os principais
pontos e os pontos subordinados.

Adaptação ao público

4. Como posso adaptar melhor o meu discurso ao


público? Uma vez que tenha organizado correctamente o seu
discurso, começará a tarefa da sua adaptação ao público
específico.
A adaptação consiste em relacionar os interesses e as
necessidades do público de maneira verbal, visual e vocal.
Ainda que um orador eficiente tenha clareza das
necessidades do público em todas as etapas do processo de
preparação, a adaptação é especialmente importante quando
a estrutura básica do discurso ficar estabelecida.

Adaptação: relação do discurso com os interesses e as


necessidades do público.

Particularmente para o primeiro discurso, a maneira


mais fácil de se adaptar ao seu público é através da criação
de uma linguagem comum, usando pronomes pessoais e
possessivos (tais como eu, os senhores, nós, tu e nosso) e
lançando perguntas retóricas (perguntas que não esperam
realmente a resposta do público). Por exemplo, talvez comece
o seu discurso dizendo, “Estou certo que todos nós tivemos
experiências das quais nos esquecemos muito rápido...” ou
“Lembram-se de como era então quando os senhores...?”
Mais adiante analisaremos outras maneiras de personalizar a
informação. À medida que adquira maior habilidade,
observará que está capacitado para transmitir a sua
informação de maneira que o seu público perceba que você
está a pensar neles enquanto está a falar.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 37

André usou os pronomes pessoais e outros meios para


criar um terreno comum ao relatar a sua experiência pessoal.

Recursos visuais

Os recursos visuais esclarecem, dão ênfase e transmitem


melhor a informação.

5. Quais são os recursos visuais que posso utilizar para


transmitir de maneira óptima a informação? Você pode
criar um apoio visual, inclusive para um discurso muito
curto, que lhe ajude a esclarecer, a dar ênfase ou optimizar a
informação verbal. O público tende a compreender e a reter
melhor a informação quando a recebe através da vista e do
ouvido. Ao usar objectos, modelos, gráficos, representações
pictóricas, projecções e gráficos de computador em forma
criativa, os oradores eficientes podem maximizar o efeito da
sua informação.
Ainda que os recursos visuais sejam menos frequentes
nos discursos narrativos curtos, como o de André Gil, os
oradores profissionais tendem a dar um uso mais eficaz aos
recursos visuais nas suas maiores apresentações
informativas e persuasivas.

Linguagem

6. Em quê devo centrar a minha atenção quando pratique


a linguagem do discurso? As ideias comunicam-se com o
público através de mensagens verbais e não verbais, assim,
escolha cuidadosamente a redacção dos principais pontos e
os materiais de apoio. Se não pensou sobre como expressar
melhor as suas ideias principais, corre o risco de perder uma
grande oportunidade para as comunicar de maneira eficiente.
Nas sessões de prática insista na clareza, força, ênfase e na
conveniência da linguagem.
No seu discurso narrativo, André Gil tratou de ser tão
específico como lhe foi possível ao relacionar os detalhes para
que o público tivesse uma imagem mental viva dos
acontecimentos.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 38

Apresentação

7. Em quê devo centrar a minha atenção ao praticar a


apresentação do meu discurso? Ainda que um discurso
esteja constituído por palavras, o que determina a sua
eficácia radica principalmente no uso da voz e na
gesticulação. Talvez queira apresentá-lo de maneira
entusiasta, com variação de voz e de ênfase, e com um bom
contacto visual (olhando para o público enquanto fala).
Posteriormente, analisaremos como alcançar estes objectivos.
De momento, enquanto se prepara para o seu primeiro
discurso, apenas imagine como aparenta e como soa quando
está a falar a um amigo sobre algo que lhe aconteceu.
Provavelmente olhe directamente para a pessoa enquanto
está a falar com ela, dado que está emocionado, a sua voz
talvez mostre entusiasmo; e como está a pensar activamente,
a sua cara e as suas mãos talvez reflictam os seus
sentimentos.
Bem poucas pessoas podem apresentar discursos de
maneira eficaz sem um treino considerável. O objectivo
consiste em treinar o seu discurso até que possa pronunciá-
lo espontaneamente, ou seja, pronunciar um discurso
ensaiado, perfilado e praticado até que as ideias
fundamentais tenham sido afirmadas na mente, mas
variando a redacção a cada vez que se pratique, assim como
na apresentação real. Ao fixar na mente os pontos principais
da sequência, você poderá estender ou recortar a história ao
incluir ou excluir pormenores da experiência.

Oratória extemporânea:
Apresentação de um discurso que é ensaiado, perfilado e
praticado até que as ideias fundamentais sejam fixadas na
mente, variando a redacção de uma prática a outra, bem como
o pronunciamento real.

O número de vezes que necessite treinar o discurso


será variável, conforme a situação. Quando o discurso
contém ideias que não lhe são familiares, talvez terá de
praticar tantas vezes como for necessário antes de o
pronunciar eficazmente ou de que adquira segurança para o
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 39

apresentar dentro do tempo limite. Por outro lado, quando as


ideias são familiares, será fácil alcançar os seus objectivos
com pouca prática. Ainda que o seu material narrativo tende
a ser recortado com facilidade, será necessário treinar várias
vezes para reduzir a ansiedade característica na maioria dos
oradores principiantes

A prática do discurso requer colocar-se de pé num cenário que


seja similar ao do discurso real e apresentá-lo em voz alta.

Para praticar, encontre um local onde tenha espaço


suficiente para colocar-se de pé e imagine as pessoas
sentadas em frente. É possível praticar num salão de actos
vazio, melhor. Não obstante, também é possível ter uma ideia
da situação ao praticar no seu quarto ou sala. Se dispõe de
um gravador, grave a sua sessão de prática. Quando estiver
pronto, pronuncie o seu discurso completo uma vez. Não se
detenha. Se tropeçar com dificuldades não se preocupe, e
siga adiante até terminar. Depois, escute a fita ou revise o
discurso mentalmente. Visualize a forma do discurso; decida
o que necessita mudar. Assim examine-o a fundo
imediatamente. Se não lhe agrada o resultado, revise-o mais
uma ou duas vezes – pode ser antes de dormir.
André Gil praticou o seu discurso várias vezes antes do
dia marcado para a sua exposição. No seu discurso, André
falou com entusiasmo e manteve um bom contacto visual
com os seus colegas de turma.
O seguinte perfil e a figura 1 resumem os passos a
seguir de um plano de discurso eficiente que evolui a partir
das respostas às sete perguntas.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 40

Figura 1
O plano de discurso eficaz é o produto destes sete passos:

Primeiro
Determine o objectivo

Segundo
Reúna a informação

Terceiro
Organize a informação

Quarto
Desenvolva uma estratégia

Quinto
Crie alguns recursos visuais

Sexto
Treine o texto do discurso

Sétimo
Treine a exposição do discurso.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 41

I. Determine um objectivo de discurso específico que possa


adaptar-se ao seu público.
A. Escolha um tema da área de matérias que conhece e
que seja de interesse para si.
B. Analise o seu público.
C. Analise o seu cenário.
D. Articule o seu objectivo ao determinar a resposta que
deseja receber do seu público.

II. Descubra, reúna e avalie a informação que possa usar no


seu discurso.
A. Pesquise as fontes, de maneira manual e electrónica,
que lhe proporcionarão informação de qualidade.
B. Registe em fichas a informação que considere
relevante para o seu objectivo de discurso específico.

III. Organize, estruture e desenvolva o seu material de


maneira que se adapte melhor ao seu público em particular.
A. Escreva um enunciado de tese que indique dados
específicos do objectivo do discurso.
B. Resuma os pontos importantes em forma de
enunciados completos que sejam claros, paralelos e
cheios de significado.
C. Ordene os pontos importantes, seguindo um padrão
de organização que satisfaça as necessidades do
público.
D. Crie as transições de secção que lhe servirão como
sinais.
E. Elabore uma introdução que capte a atenção do
público, que fixe o tom, que faça ver a sua boa vontade,
que sustente a sua credibilidade e que sirva de guia
para o corpo central do discurso.
F. Escreva uma conclusão que resuma o material e que
feche o discurso numa nota alta.
G. Revise e complete o perfil do discurso.
H. Prepare as notas do orador a partir da estrutura.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 42

IV. Desenvolva uma estratégia para adaptar o material ao seu


público específico de discurso.
A. Estabeleça um terreno comum.
B. Adapte-se ao nível de interesse do público.
C. Adapte-se ao nível de compreensão do público.
D. Adapte-se à atitude do público para consigo.
E. Adapte-se à atitude do público para com o seu tema.

V. Crie recursos visuais para esclarecer, dar ênfase e


optimizar a informação verbal.

VI. Treine o discurso até que a redacção seja clara, intensa,


enfática e apropriada.

VII. Treine o discurso até que a exposição seja entusiasta,


expressiva, fluida, espontânea e directa.
A. Use a voz e a acção do corpo para desenvolver uma
boa qualidade conversacional.
B. Ensaie o discurso até que possa pronunciá-lo
espontaneamente dentro do tempo limite.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 43

COMO ENFRENTAR O NERVOSISMO


A pergunta que se apresenta com muita frequência
com relação à oratória é “o que é que posso fazer com o meu
nervosismo?” Em efeito, quase todo o mundo afirma ter
experimentado o nervosismo quando se refere à prática de
falar em público; a boa notícia é que todos nós podemos
aprender a vencer esse nervosismo. Seja entendido como
pânico cénico, pânico ao discurso, timidez, reticência,
apreensão ao discurso ou qualquer outro termo, o sentimento
é essencialmente o mesmo: o medo ou a ansiedade em torno
à interacção com a oratória.

Nervosismo: estado de temor ou ansiedade em torno à


interacção com a oratória.

Nervosismo cognoscitivo: pensar no nervosismo que se vai


experimentar.

Nervosismo de comportamento: características do


nervosismo expressadas fisicamente.

Ainda que possamos sentir algum grau de nervosismo


em qualquer situação, a maioria de nós o experimenta com
maior intensidade quando temos que falar em público. Algo
deste nervosismo é cognoscitivo, ou seja, costumamos
pensar sobre os nervos que nós sentiremos nessa situação.
Grande parte do nosso nervosismo é de comportamento, ou
seja, fisicamente expressamos certas características. Por
exemplo, talvez experimentemos cãibras abdominais,
transpiração nas palmas das mãos, a boca seca e o uso de
expressões vazias, sem sentidos, ou muletas, como “hum”,
"como”, “sabes", "compreendes", "percebes...”. As pessoas
podem evitar falar em público, mas se se vêem obrigadas a
expressar-se diante de muita gente fazem-no durante o tempo
mais curto possível.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 44

Para ajudar a enfrentar o nervosismo tenha em mente


que o medo não é um assunto que consiste em estar ou não
estar: é uma questão de grau. A maioria de nós está incluída
num grupo entre dois extremos de carência total de
nervosismo e de medo total. O ponto chave é que o
nervosismo em relação com a prática do discurso em público
é normal.
A maioria de nós acredita que estaria melhor se se
livrasse totalmente do nervosismo. Mas Gerald Philips
descobriu, trás muitos anos de estudo, que o nervosismo não
é necessariamente negativo. Ele destacou que “o processo de
aprendizagem tem mais efeito quando o organismo está num
estado de tensão”. Em efeito, um pouco de nervosismo ajuda-
nos a ter um desempenho melhor: se manifestamos
indiferença no momento de pronunciar um discurso,
provavelmente não faremos um bom trabalho.
Dado que ao menos um pouco de tensão é construtivo,
o objectivo não é eliminar o nervosismo, mas sim aprender a
enfrentá-lo. Philips cita os resultados de pesquisas sobre o
nervosismo do orador com grupos de estudantes. Descobriu
que quase todos eles ainda experimentavam certo grau de
tensão, mas a maioria já sabia como enfrentar o seu
nervosismo. Philips afirma que: “aparentemente aprenderam
a manejar a tensão: já não a vem como uma desvantagem e
continuaram com o que tinham de fazer”.
Assim, podemos concluir que quase todas as pessoas
que falam em público, bem seja a primeira vez ou a
quinquagésima, experimentam um pouco de nervosismo.
Agora veremos alguns pontos que deverá considerar quando
prepare o seu primeiro discurso.

Conselhos sobre a tecnologia


A Internet oferece uma grande variedade de fontes sobre o
tema da apreensão pelo discurso. A maioria oferece sugestões
que as pessoas têm considerado muito úteis. Se deseja obter
ideias e/ou histórias da vida real adicionais sobre o pânico
cénico, abra as páginas de busca como a Yahoo!, Lycos ou
Infoseek, marque “speech apprehension” ou “stage fright” e
leia os segmentos de informação que lhes pareçam mais
interessantes.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 45

1. Apesar do nervosismo, podemos lograr terminar o


nosso discurso. Muitas pessoas incomodam-se com o facto
de se sentirem nervosas a ponto de não poder funcionar.
Talvez para si não lhe pareça divertido sentir “palpitações”,
mas ainda assim pode pronunciar um discurso eficaz. Ao
longo de todos os meus anos de docência, já escutei centenas
de discursos de estudantes. Em todo esse tempo, só conheci
dois estudantes que estavam incapacitados para pronunciar
um discurso. Também encontrei aqueles que esqueciam algo
do que planejaram dizer e outros que se desviavam do seu
discurso planificado, mas todos eles pronunciaram o seu
discurso. Ainda mais, alguns estudantes que afirmaram ter
estado petrificados de medo, apresentaram realmente
discursos excelentes.
A experiência ensina-nos que algumas pessoas tidas
como nervosas com relação à prática do discurso falado,
certamente, pensam que o nervosismo prejudica o seu
desempenho. Não obstante, temos suficientes casos de
famosos conferencista que confessam ter experimentado
nervosismo e ainda assim desempenharam o seu papel a
níveis tão altos, que podemos concluir que o nervosismo em
si não é necessariamente prejudicial para o desempenho.
Barbra Streisand e Abraham Lincoln confessaram ter
experimentado grande nervosismo antes de enfrentar o seu
público, e mesmo assim em nenhum caso o seu desempenho
se viu prostrado pelo nervosismo.

2. Contrariamente ao que se poderia supor, os ouvintes


não se dão conta do medo que você sente. A ideia de que o
público se dá conta do medo que o orador experimenta,
comummente, gera mais medo. Não obstante, o facto é que os
membros do público poucas vezes são conscientes do
nervosismo de uma pessoa. Por exemplo, um estudo clássico
descobriu que inclusive os instrutores de discurso
desconsideram em grande parte o pânico cénico que uma
pessoa experimenta.

Ainda que a maioria dos oradores confessam experimentar


nervosismo ante a possibilidade de pronunciar um discurso
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 46

importante, os sinais externos de angústia são em grande


parte atenuados quando o orador está bem preparado e
praticou o suficiente de antemão.

3. Quanto melhor preparado estiver, melhores serão as


possibilidades de enfrentar o nervosismo. A maioria das
pessoas demonstra um nervosismo extremo por não estar
bem preparada ou por pensar que não está bem preparada.
Segundo Geral Philips, um enfoque positivo para enfrentar o
nervosismo é “(1) aprender como tentar, (2) tentar e (3) ter
sucesso”. Este livro ajudar-lhe-á a se preparar para
pronunciar os seus discursos e a lograr mais tentativas com
sucesso. Quando reconheça que está verdadeiramente
preparado prestará menos atenção ao seu nervosismo.
Sentir-se-á capacitado para se convencer a si próprio de que
pode realizar um bom trabalho. O estudo realizado por
Kathleen Ellis reforça as descobertas prévias da pesquisa, no
sentido de que a competência em oratória auto-reconhecida
dos “estudantes” é sem dúvida um importante factor de
predição da sua ansiedade pela oratória.”

4. Quanto mais experiência obtenha no discurso falado,


melhores serão as suas possibilidades de enfrentar o
nervosismo. Os principiantes experimentam um pouco de
temor porque não têm experiência em oratória. À medida que
pronuncia discursos e se dá conta do progresso realizado com
respeito a tais discursos, você ganhará mais confiança em si
próprio e preocupar-se-á menos com qualquer que seja o
estado de nervosismo que possa vir a experimentar. As
pesquisas demonstraram que o medo na comunicação em
cursos básicos se reduz quanto maior for a experiência em
discursos públicos.

5. Os oradores experientes aprendem a canalizar o seu


nervosismo. Tal como já mencionámos anteriormente, o
nervosismo que sentimos é, até certo ponto, algo positivo. É
necessária certa dose de nervosismo para conseguir o melhor
desempenho. O que se deseja é que o nervosismo seja
dissipado ao começar o discurso. Assim como os jogadores de
futebol, que afirmam que o nervosismo desaparece uma vez
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 47

que começa o jogo, assim também os oradores afirmam que o


seu nervosismo desaparece quando começam a falar.

Comportamentos específicos

Os seguintes itens consistem em alguns


comportamentos específicos que os oradores podem usar
para controlar o nervosismo. O nervosismo enfrenta-se desde
o processo de preparação e até o momento em que o orador
começa verdadeiramente o discurso.

1. Escolha um tema com o qual se sinta à vontade. Um


tema insatisfatório constrói os alicerces para um estado
mental/psicológico que quase garante a presença do
nervosismo no momento de pronunciar o discurso. Pela
mesma razão, ao contar com um tema que conheça bem e
que seja importante para si, constrói os alicerces para um
experiência de discurso satisfatória.

2. Tome o tempo necessário para preparar bem o seu


discurso e treinar, treinar e treinar. Se você procurar apoio
em qualquer canto e tratar de encontrar material, organizá-
lo, escrever um esboço e praticar o discurso, em uma ou duas
horas, quase certamente garantirá o fracasso e destruirá a
sua confiança. Por outro lado, se pratica cada dia durante
uma semana antes da tarefa, experimentará
consideravelmente menos pressão e aumentará a sua
confiança.
A experiência no preparo, a extensão e a dificuldade do
discurso afectarão o seu plano. Por exemplo, os oradores
experientes frequentemente começam a pesquisar um mês
antes da data em que devem pronunciar o discurso;
posteriormente, reservam uma semana completa para o
ensaio e a revisão.
O preparo pleno inclui o tempo necessário para os
ensaios. Pratique o seu primeiro discurso pelo menos duas ou
três vezes. O seu objectivo consiste em criar hábitos que
controlem o seu comportamento durante o próprio discurso.
Se a aventura amorosa dos norte-americanos com o atletismo
profissional ensinou alguma coisa, foi que a cuidadosa
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 48

preparação capacita os atletas (ou os oradores) a enfrentar


satisfatoriamente e superar a adversidade. Entre oponentes
relativamente iguais, a equipa vencedora é aquela que está
mental e fisicamente melhor preparada para a competição.
Quando um atleta diz, “vou entrar nessa competição tão bem
preparado quanto me seja possível”, é muito provável que o
faça bem. Por exemplo, a concentração mental e a atitude
vencedora de Michael Jordan são os elementos que lhe
ajudam a fazer a diferença que conduz à vitória em tantos
jogos. Neste sentido, a elaboração de discursos é como o
atletismo. Se tem a certeza de ter preparado tudo
cuidadosamente e de ter praticado bem o seu discurso, você
fará um bom trabalho do qual poderá orgulhar-se.

3. Trate de programar o seu discurso num horário que


seja psicologicamente melhor para si. Quando se
programam os discursos, trate de escolher a hora que melhor
lhe convenha. Sente-se melhor quando “acaba de uma vez
por todas”, ou seja, quando é a primeira pessoa a falar no
dia? Se for assim, ofereça-se como voluntário para o
apresentar primeiro. Caso contrário, salvo quando esteja a
falar, não passe o tempo divagando sobre si mesmo ou sobre
o seu discurso. No momento em que a aula comece, já terá
feito tudo o que pode para se preparar. Centre a sua mente
nos outros discursos e trate de prestar atenção no que cada
orador está a dizer. Quando chegue a sua vez, estará tão
relaxado como lhe seja possível.

4. Controle a ingestão de alimentos e bebidas. Justo antes


de falar não coma pratos pesados, isto lhe pode causar dores
de estômago ou fazer com que se sinta excessivamente
pesado. Evite estimulantes como a cafeína e o açúcar, porque
podem aumentar o seu nervosismo. Também evite beber leite;
os produtos lácteos podem produzir certa mucosidade que
pode afectar a sua voz negativamente. O melhor é tomar água
antes de um discurso. Se sente a boca seca, trate de chupar
um rebuçado de menta um pouco antes da sua vez para
falar.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 49

5. Visualize experiências de oratória bem sucedidas. A


visualização é uma técnica para reduzir o nervosismo que
implica no desenvolvimento de uma estratégia mental e o
facto de se imaginar a si mesmo, “Bem, se eu estivesse nessa
situação eu faria...” Tais enunciados constituem uma forma
de visualização. Joe Ayres e Theodore S. Hopf, dois
pesquisadores que levaram a cabo estudos sobre a
visualização, descobriram que se as pessoas visualizam a si
mesmas atravessando um processo completo, possuem muito
mais e melhores possibilidades de ter sucesso quando se
encontram nessa situação”.
A visualização foi utilizada como um meio importante
para melhorar as possibilidades desportivas. Um dos
exemplos é o estudo dos jogadores tratando de melhorar as
suas percentagens de lançamentos perigosos. Os jogadores
dividiram-se para formar três grupos. Um dos grupos nunca
tinha praticado, outro grupo praticou e o terceiro grupo
visualizou a prática. Como era de se supor, aqueles que
praticaram melhoraram muito mais que os que não o fizeram.
O que parece surpreendente é que aqueles que apenas
visualizaram a prática melhoram quase tanto como aqueles
que praticaram. Imagine o que ocorre quando visualiza e
pratica ao mesmo tempo
Ao visualizar a apresentação de um discurso, as
pessoas não apenas podem diminuir a sua apreensão geral,
mas também se informaram para ter menos pensamentos
negativos na hora de falar. A visualização começa bem
sucedida durante os períodos de treino. Veja a si mesmo,
tranquilo, sorridente, conforme se aproxima do pódio. Repita
mentalmente que você tem boas ideias, que está bem
preparado e que o seu público deseja escutar o que lhes tem
a dizer. Veja o público a assentir com a cabeça enquanto fala
e aplaudir quando você termina.

Visualização: técnica para reduzir o nervosismo que


compreende o desenvolvimento de uma estratégia mental e o
imaginar-se a si próprio empregando tal estratégia com
sucesso.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 50

Os oradores, tal como os atletas, têm a tendência a estarem


especialmente nervosos antes de começar a sua tarefa. Não
obstante, assim como os atletas, a sua ansiedade se vê
diminuída quando centram mais a sua atenção no que estão a
fazer que nos seus sentimentos.

6. Repita para si mesmo afirmações positivas antes de se


aproximar do estrado. Por exemplo, talvez se diria a si
mesmo, “Estou emocionado por ter a oportunidade de
compartilhar esta informação com a classe” ou “Fiz o melhor
que pude para me preparar e agora me sinto pronto para
falar”. Tais enunciados ajudam-lhe a alcançar um estado de
ânimo positivo. Ainda que estas afirmações não sejam
mágicas, pelo menos podem transportar-nos ao caminho
correcto.
Pelo contrário, se se encontra ocupado num diálogo
negativo consigo mesmo, confronte os seus enunciados
negativos com alguns positivos. Por exemplo:
Se descobrir a si mesmo dizendo, “Tenho medo”,
intervenha e diga, “Não, só estou emocionado”.
Se descobrir a si mesmo dizendo, “Tenho medo de
esquecer uma parte do discurso”, diga “Tenho preparadas as
minhas fichas e notas. Se me esqueço de alguma coisa farei
uma pausa, olharei rapidamente as minhas notas e seguirei
adiante”.
Se descobrir a si mesmo dizendo, “Sou um mal orador –
o que é que estou a fazer aqui?” diga, “Hoje eu estou a fazer o
melhor que posso e isso é suficiente”.

7. Faça uma pausa durante alguns segundos antes de


começar. Quando chegue ao estrado, detenha-se alguns
segundos antes de começar a falar, e sorria ao seu público.
Respire um pouco profundamente enquanto estabelece o
contacto visual com o público, isso pode ajudar-lhe a colocar
a sua respiração em ordem. Mova-se de um lado a outro
durante os primeiros enunciados; às vezes, alguns gestos ou
um passo de um modo ou de outro é suficiente para romper a
tensão.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 51

Nervosismo persistente

Quando o nervosismo do orador representa um


problema real? Quando o medo é tão grande que uma pessoa
não pode terminar de fazer o discurso. Pesquisas recentes
demonstram que um número pequeno de estudantes se vê
afectado adversamente pelos seus sentimentos com relação à
prática do discurso em público. Infelizmente, a maioria destes
estudantes responde abandonando o curso. Não obstante
essa não é a resposta à ansiedade pelo discurso. Em todas as
áreas de conhecimento, as pessoas tem de fazer discursos: as
pessoas têm de se colocar de pé diante dos seus semelhantes,
de pessoas de outras organizações, clientes e outras pessoas
para explicar as suas ideias. Ainda que nunca é muito tarde
para obter ajuda, um curso universitário de oratória
representa o melhor momento de começar a trabalhar sobre a
maneira de enfrentar o nervosismo provocado pelo discurso.
Inclusive se os seus temores provam que são mais uma
percepção que uma realidade, é importante encontrar tempo
para conseguir ajuda.
Para começar, veja o seu professor fora da sala de aula
e fale com ele sobre o que está a sentir. O seu professor deve
ser capaz de oferecer ideias para consultar algumas pessoas
ou programas aos quais poderia assistir. Algumas pessoas
têm a necessidade de programas especiais, segundo
demonstram os resultados obtidos durante anos de pesquisa
sobre a apreensão na comunicação, realizada por Virgínia
Richmond e James McCroskey.
Um dos programas mais populares consiste na
dessensibilização sistemática, por meio da qual as pessoas
aprendem por meio de técnicas para o relaxamento muscular
profundo, a fim de visualizar a sua participação numa série
de situações de comunicação, enquanto permanece num
estado de profundo descanso. Dado que falar do
“relaxamento” é mais fácil que a sua realização, tais
programas centram a sua atenção no ensino dos
procedimentos sobre o mesmo. O processo envolve a tensão e
o relaxamento consciente dos grupos de músculos, a fim de
aprender a reconhecer a diferença entre os dois estados.
Posteriormente, enquanto se encontra num estado de
relaxamento, imagine-se a si mesmo em situações sucessivas
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 52

mais angustiantes; por exemplo, imagine que está a pensar


sobre o seu discurso, que está a prepará-lo para pronunciar e
que finalmente está apresentando-o. O objectivo ulterior
consiste em lograr que as pessoas experimentem o
relaxamento e a calma quando se vejam a si mesmas dando
um discurso, e logo transferir esse sentimento de calma ao
evento de oratória real. A ordem de tranquilidade funciona.
Outro programa é o da reestruturação cognoscitiva,
no qual se estimula a identificação de conclusões irracionais
sobre a comunicação. Posteriormente, atacam-se estas
conclusões de maneira lógica, numa tentativa de demonstrar
aos indivíduos que devem mudar a sua maneira de pensar. A
reestruturação cognoscitiva não só ajuda a identificar as
conclusões ilógicas que as pessoas sustentam, mas também
proporciona a instrução individualizada para formular
conclusões mais apropriadas. Com o tempo as pessoas
podem condicionar-se a si próprias para superar os seus
medos e optar por um enfoque mais positivo na sua
comunicação. Várias comunidades oferecem este tipo de
programa.
Lembre-se que há poucos estudantes de oratória que
experimentaram um temor tão grande de forma que não
pudessem pronunciar um discurso. O propósito do curso de
oratória consiste em ajudar o aluno a aprender e a
desenvolver as habilidades que lhe permitirão alcançar o
sucesso, ainda quando se sinta muito angustiado.

Dessensibilização sistemática: forma de tratamento para


reduzir o nervosismo e que envolve o uso de técnicas de
relaxamento enquanto expõe as pessoas ao estímulo objecto do
seu medo.

Reestruturação cognoscitiva: forma de tratamento para


reduzir o nervosismo que ajuda as pessoas a identificar as
conclusões ilógicas que sustentam e proporciona a instrução
individualizada para a formulação de conclusões mais
apropriadas.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 53

RESUMO
A preparação de um discurso implica em responder as
seguintes sete perguntas: (1) Qual é o meu objectivo neste
discurso? (2) Onde posso encontrar a informação que
necessito para alcançar este objectivo? (3) Como posso
organizar e estruturar esta informação para alcançar os meus
objectivos? (4) Como posso adaptar melhor o meu discurso ao
público (5) Quais são os recursos visuais que posso utilizar
para transmitir de maneira eficaz a informação? (6) Em quê
devo centrar a minha atenção ao praticar a linguagem do
discurso? e (7) Em quê devo centrar a minha atenção ao
praticar a apresentação do meu discurso?
Todos os oradores sentem-se nervosos ao aproximar-se
o momento de pronunciar o seu primeiro discurso. O
nervosismo decorrente da apresentação do mesmo pode ser
cognoscitivo (na mente) ou comportamental (que se expressa
fisicamente). O nervosismo consiste mais propriamente numa
questão de grau, que de ter ou carecer dele.
Dado que pelo menos um pouco de tensão constitui um
elemento construtivo, o nosso objectivo não é desfazer-se do
nervosismo, mas sim aprender como o enfrentar. Como quase
todas as pessoas que falam em público sentem um pouco de
nervosismo, nós necessitamos estar conscientes de várias
realidades. Apesar do nervosismo, você pode terminar o seu
discurso, inclusive diferente do que possa pensar, os ouvintes
dificilmente percebem o medo que você sente. Não se esqueça
que quanto mais experiência obtiver, e quanto melhor
preparado estiver, maiores serão as suas possibilidades de
enfrentar o nervosismo. De facto, os oradores experientes
aprendem a canalizar o seu nervosismo de maneira que lhes
ajude a conseguir melhorar o seu desempenho.
Ainda quando o nervosismo for normal, você pode usar
vários comportamentos específicos que lhe ajudem a
controlá-lo. (1) Escolha um tema com o qual se sinta à
vontade. (2) Tome o tempo necessário para o preparar e
treinar, treinar e treinar. (3) Trate de programar o seu
discurso para o momento que seja psicologicamente melhor
para si. (4) Controle a ingestão de alimentos e bebidas antes
da apresentação. (5) Visualize experiências de oratória bem
sucedidas. (6) Repita para si algumas afirmações positivas
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 54

que lhe dêem auto-confiança antes de se aproximar do


estrado. (7) Ao chegar ao estrado faça uma pausa, durante
alguns segundos antes de começar o discurso.
Se o nervosismo for verdadeiramente prejudicial para o
seu desempenho, consulte o seu professor fora da sala de
aula para lhe explicar o que está a sentir. O seu professor
poder dar ideias quanto às pessoas que pode consultar ou os
programas aos quais poderá assistir.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 55

ENFOQUE NAS HABILIDADES

Como preparar um discurso sobre uma experiência


pessoal
Prepare um discurso (narrativo), com uma duração de dois a
três minutos, sobre uma experiência pessoal. Pense sobre as
experiências que teve, sobretudo nas bem-humoradas, as
quais estão cheias de suspense e dramatismo, e logo
seleccione a que pense que o seu público desfrutará mais
quando a escute.
A figura 2 ilustra a classe de estrutura apropriada para um
discurso narrativo curto. A figura 3. é um exemplo do
discurso de um estudante, proporcionado com o fim de
cumprir esta tarefa.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 56

FIGURA 2
Estrutura do discurso sobre uma experiência pessoal.

Discurso narrativo
Objectivo específico: desejo que o meu público ria
abertamente quando relate o momento em que me dei conta
que a minha roupa não tinha sido roubada.

Introdução
I. Matriculara-me numa academia de ginástica local com o
propósito de parecer algum dia a Arnold Schwarzenegger.

Corpo central (desenvolvimento)


I. Voltei ao meu armário depois do meu habitual treino
exaustivo
A. O cadeado estava entreaberto.
B. A minha roupa, carteira e as minhas chaves tinham
desaparecido.
II. Fui correndo à cabina do encarregado para notificar o roubo
A. Descrevi o ocorrido
B. Implorei ao encarregado que chamasse a polícia.
III. Voltei ao meu armário para esperar a polícia.
A. Para a minha surpresa, o cadeado da porta estava
fechado
B. Quando abri a porta, a minha roupa estava no seu
lugar.
C. Simplesmente tinha procurado no armário errado!

Conclusão
I. Completamente desconcertado, tentei reunir o valor
suficiente para admitir o meu erro.
II. Mas ocorreu o contrário, pensava comigo mesmo: “Acho que
sairei pela porta dos fundos”.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 57

FIGURA 3
Discurso sobre uma experiência pessoal
Há pouco tempo matriculei-me numa academia de
ginástica com o propósito expresso de fazer levantamento de
pesos e com a esperança de que algum dia fosse difícil para a
gente encontrar diferenças entre eu e o Arnold
Schwarzenegger. Um dia, depois do treino exaustivo
quotidiano, retornei ao meu armário e notei que o cadeado
estava aberto. E pensei: Seu estúpido! Essa é uma maneira
segura de ter problemas”. E quando abri o armário os meus
medos foram confirmados: não estavam aí nem a minha
carteira, nem as minhas chaves, nem as minhas calças.
Estava furioso. Nem sequer poderia conduzir de volta à casa.
Saí correndo à procura do encarregado, que se encontrava no
escritório. Comecei a gritar: “Chame a polícia, fui roubado!”
“O quê aconteceu?”, perguntou o encarregado
“Fui roubado!”, repeti
“Tem certeza?”, disse
“Claro que sim”, respondi. “Fechei com cadeado o meu
armário e a minha roupa desapareceu!”
“Está bem”, respondeu, “Chamarei a polícia”
Como sabia que a polícia ia demorar em vir, pensei que
talvez voltando à cena do crime poderia encontrar alguma
evidência – talvez o ladrão teria deixado cair alguma peça das
minhas roupas ou talvez teria deixado cair um cartão de
crédito da carteira. Assim, pois, aproximei-me pela segunda
vez e me dei conta de que o cadeado estava bem posto no
orifício, na parte inferior do cabo, como devia estar
normalmente. “Grande!” disse, “agora que tudo passou, lembro
que pus o cadeado no seu lugar”. Assim, pois, abri o cadeado e
logo, ao abrir a porta, descobri que as minhas calças, a minha
carteira e as minhas chaves estavam aí. Ruborizei-me
imediatamente: tinha procurado no armário errado.
O quê poderia fazer? Pensei: “Não tem problema, sou um
cavalheiro, ou não? Posso lidar perfeitamente com isso, não é?
Vou engolir o meu orgulho e direi ao encarregado, “Cometi um
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 58

erro. Lamento que tenha chamado a polícia. Na realidade, eu


mesmo ligarei para me desculpar directamente com a polícia”.
Dirigia-me, com passos firmes ao escritório do
encarregado, sentindo-me muito decidido e orgulhoso do meu
comportamento. Mas detive-me e pensei, “Não, é melhor sair
pela porta dos fundos.”
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 59

AS COMEMORAÇÕES
FAMILIARES
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 60

As comemorações familiares são ocasiões excepcionais


nas quais se reúnem os membros da família para celebrar um
acontecimento especial. Devem ser encontros relaxados e
agradáveis, uma oportunidade para reencontrar as pessoas
que habitualmente não podemos ver. Precisamente por isso é
importante que tudo corra bem, que os convidados desfrutem
da reunião e que os anfitriões vivam-na como uma
oportunidade para mostrar o seu afecto, e não como um
“tormento”.
Nas reuniões familiares, o protocolo é muito mais
relaxado que qualquer outro tipo de actos, o fundamental é
que a família divirta-se e que se reafirmem os laços de
carinho que unem os seus membros. Portanto, neste tipo de
actos os discursos devem ser simples, tratando de agradecer
a participação dos convidados e de mostrar a alegria que
supõe o facto de encontrar a todos nessa circunstância
concreta.
Outro ponto a favor do orador “familiar” é que todos os
participantes estão dispostos a passar bem, e portanto, o seu
sentido crítico é menor que o habitual. Além do mais, são
pessoas da sua família, pessoas que lhe amam, e isso
também pesa na hora de escutá-lo.

CASAMENTOS
Os discursos de casamento são fáceis: apenas é
necessário observar algumas regras fundamentais, seguir
bons conselhos e um pouco de preparação e de prática. Isso é
tudo que necessita para que o seu discurso tenha sucesso.
Devemos considerar que o tempo para os discursos num
casamento são relativamente curtos e por isso não requerem
muito preparo, no entanto, não esperemos receber a
iluminação da inspiração divina no último momento, porque
o mais certo é que com a emoção, com os nervos e com a
novidade percamos a capacidade para recordar ou acabemos
confundindo-nos a nós mesmos.
Por outra parte, a audiência está predisposta a passar
bem e não esperam que você faça um discurso de um orador
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 61

profissional. Curto e divertido são as palavras-chave para


estas ocasiões.
Um discurso de casamento terá sempre dois objectivos:
em primeiro lugar, tratar de felicitar os noivos e de lhes
desejar uma vida em comum muito feliz; o segundo objectivo
consiste em agradecer os presentes por sua participação na
cerimónia. Lembre-se que o matrimónio é um dos passos
mais importantes que damos na nossa vida, assim, é normal,
que num momento tão transcendente, queiramos estar
acompanhados e rodeados das pessoas que amamos. Por isso
é importante agradecer os convidados por sua presença; sem
eles, a cerimónia não estaria completa.

Os brindes: curtos e dinâmicos

Durante uma cerimónia de casamento também é


habitual fazer um brinde, geralmente no final do almoço ou
jantar, durante as sobremesas e antes que os noivos cortem a
torta de casamento.
Você deve levar em conta que as pessoas que o
escutarão não querem e nem esperam um discurso longo e
sério. O que esperam são algumas palavras simples e
sinceras e fazer um brinde cordial e divertido. Lembre-se que
o importante num casamento é compartilhar a felicidade; os
discursos apenas são uma parte mais da festa, e não a mais
destacada.
Agora falaremos da etiqueta de um casamento formal,
mas saiba que estas cerimónias também podem ser semi-
formais ou mesmo informais. Pode-se, evidentemente,
adaptar os conselhos oferecidos ao tipo de celebração que
participemos.
O melhor conselho é perguntar aos noivos sobre o tipo
de cerimónia que se vai celebrar, desta maneira evitam-se as
surpresas desagradáveis.

O casamento é uma instituição extraordinária, no entanto


quem é que quer viver numa instituição?
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 62

Lembre-se também que cada cultura tem as suas


próprias normas de cerimónia, ou seja, uma cerimónia de
casamento católica não é igual a uma judia, asiática ou
escocesa. Informe-se dos costumes e desejos dos celebrantes.
Num casamento formal de tradição europeia os espaços
reservados para os discursos são curtos, quatro ou cinco
minutos, e costumam incluir um brinde. Geralmente se fala
no final da refeição, antes de cortar a torta de casamento. Se
quisermos, podemos anunciar o nosso brinde ou o discurso
fazendo soar de forma bem suave uma das taças de cristal.
A ordem dos discursos é bastante lógica. O pai da
noiva é quem deve começar, depois dele fala o noivo e, por
último, o padrinho. O padrinho costuma ser o encarregado de
pedir silêncio e apresentar o primeiro orador.

O discurso do pai da noiva

O pai da noiva será o primeiro a falar. Se não estiver


presente por qualquer motivo, substituir-lhe-á a pessoa que
ele mesmo escolher, ou a pessoa de maior idade na família.
Falará em seu próprio nome e no da sua esposa e pode
expressar:
3 As boas-vindas aos familiares dos noivos e a todos os
convidados.
3 O orgulho que sentem pela sua filha.
3 Alguma anedota sobre a preparação do casamento.
3 Alguma historia da infância da noiva.
3 Felicitar o noivo.
3 Alegria por ter conhecido o noivo e a sua família.
3 A sua confiança na felicidade do novo casal.
3 Alguns conselhos ao casal que inicia a sua nova vida
em comum.
3 Agradecimento aos convidados por terem
compartilhado com eles esses momentos de felicidade.
3 Um brinde pela saúde e felicidade dos noivos.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 63

Exemplo 1
SENHORAS E SENHORES, esse momento de
falar em público me deixa um pouco nervoso. De
facto, a última vez que o fiz foi na minha própria
cerimónia de casamento. E já faz alguns anos
disso. Estamos muito agradecidos em contar com
a vossa presença num dia tão importante para a
nossa família. Importante porque duas pessoas
excepcionais decidiram unir as suas vidas.
Nos casamentos todo mundo costuma dizer
“espero que sejam felizes”. Eu sei efectivamente
que o serão, porque se amam. Estou certo de que
a nossa Júlia será uma boa esposa para o João e
de que ele será um bom marido para ela.
Por isso peço-lhes que brindem comigo,
levantem as vossas taças e brindemos pela
felicidade deste jovem casal. [Pausa] [Pela nossa
Júlia e pelo nosso João]

Exemplo 2
Hoje estamos a celebrar o casamento da
Maria e do Paulo. É o dia mais importante da sua
vida e aí os encontramos, tão sorridentes...
Espero que vocês, nossos convidados, possam
desfrutar tanto deste dia como eles.
Bem, quero dizer a todos muito obrigado por
estarem aqui. A minha esposa e eu estamos
felizes por poder compartilhar este dia com a
família e com os amigos. Eu gostaria de nomear
especialmente os pais de Paulo, Emília e João, as
avós e avôs, os padrinhos e todos os demais
familiares. Estes fizeram uma longa viagem para
poder estar hoje connosco. Muito obrigado.
Para aqueles que ainda não conhecem bem a
nossa Maria, eu direi que a sua mãe e eu
estamos muito orgulhosos dela. Sim, já sei que
todos os pais dizem o mesmo. Ela sempre pensa
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 64

primeiro nos demais, o Paulo sabe muito bem


disso.
E o que eu poderia dizer sobre o noivo? O
Paulo é um rapaz extraordinário, desde que o
conhecemos tem sido amável e carinhoso com
todos nós. Atende perfeitamente ao ideal de genro
que qualquer pai desejaria.
Tenho certeza de que serão um casal feliz tal
como também o fomos nós. Agora peço a todos
que levantem as suas taças e que brindem
comigo. Brindemos pela saúde e pela felicidade
dos noivos. [Pausa] ¡Pela Maria e pelo Paulo!

Exemplo 3
PARA MIM É UM PRAZER desejar à Júlia e ao
Mário muitíssimas felicidades no seu casamento.
A minha esposa e eu recebemos hoje o Mário na
nossa família e, como um filho, damos-lhe as
boas-vindas. De facto, já o consideramos da
família e já faz tempo, desde que a nossa Júlia
fez-nos saber os sentimentos que os unem.
A Júlia e o Mário não demoraram muito
tempo em decidir casar-se, logo se deram conta
de que foram feitos um para o outro. Nem sempre
é assim, enquanto cuidávamos dos preparativos
para esta cerimónia contaram-me a história de
um casal curioso.
Este casal tinha quatro anos de noivado. A
cada noite, o homem visitava à dama na sua
casa. Ela preparava-lhe um jantar extraordinário
e depois ambos se sentavam juntos para
contemplar o fogo da lareira. Certa noite, depois
do jantar e enquanto contemplavam o fogo, ela
disse-lhe: “Querido” Não pensas que deveríamos
começar a pensar em casamento?” “Casamento” –
exclamou ele –, Santo Deus, o que é que somos
agora?
Outro dia ouvi um rapaz perguntar aos seus
amigos por que os homens casados vivem mais
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 65

que os solteiros. Nenhum deles podia dar uma


explicação lógica, até que um de eles disse: “não
é que vivam mais, é que a vida para eles faz-se
mais longa”.
Os casais depois de casados costumam ter as
suas diferenças, certamente todos os casados
desta sala já o sabem perfeitamente, no entanto,
também sabem que essas discussões sempre têm
solução se o casamento for sólido.
Júlia, Mário, eu lhes desejo toda a felicidade
do mundo. Penso que se prepararem a vossa
mente para ser felizes, certamente o serão.
Senhoras e senhores, quero fazer um brinde
pela saúde e felicidade dos noivos. Acompanham-
me?

Exemplo 4
QUERIA COMEÇAR DIRIGINDO algumas
palavras aos noivos. Juntos formam um bonito
casal, façam com que o vosso casamento seja
feliz. Sim, queridos, o vosso casamento, assim
como a vossa vida, dependerá do que vocês façam
dele.
Quando o Jaime veio pedir-me a mão da
Marta pensei: sim, a minha filha já encontrou um
bom rapaz. Desde então e até hoje, todas aquelas
pessoas com as quais tenho falado reforçaram
essa ideia, por isso quis mencioná-lo no meu
discurso.
Eu poderia comentar todos os tópicos e frases
feitas sobre o matrimónio e sobre a vida de
casado, certamente todos já terão ouvido
centenas de vezes. No entanto, prefiro lembrar
uma pequena parábola, com a esperança de que
possa ajudar a este novo casal: “Senhor, dai-me
serenidade para aceitar as coisas que não posso
mudar, a coragem para mudar aquelas que sim
posso mudar, e a sabedoria para ver a diferença”.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 66

Marta e Jaime, continuem amando-se como


hoje, e que Deus os abençoe coroando a vossa
vida com saúde, dinheiro e felicidade.
Senhoras e senhores, convido a todos para
brindar comigo em honra aos noivos.

Exemplo 5
TODOS AQUELES que têm de fazer um
discurso, excepto os profissionais, sentem o
mesmo. Um pouco antes não se lembra nem uma
palavra sequer, mas quando se levanta, todas
aparecem de repente na cabeça.
No entanto, o pai da noiva não tem outro
remédio senão falar, são as normas, tenho que
propor um brinde aos noivos.
Algo assim como “Deus abençoe ambos”, etc.
A etiqueta afirma que esse é o privilégio do pai da
noiva. Privilégio? Não me parece a palavra
adequada. Se observarem os meus joelhos
poderão ver como estou a tremer.
O principal motivo deste discurso é a nossa
filha, que hoje vai embora com o Jorge. Ela
sempre foi uma rapariga extraordinária e penso
que soube escolher um bom marido.
Ainda que já não sejam solteiros, devem
aprender muito sobre o matrimónio. A primeira
lição é que a esposa é o primeiro e o mais
importante. Acreditem; aqui fala a voz da
experiência.
Vocês acabam de entrar no “Clube dos
Casados” e gostaria de lhes dizer algumas coisas
sobre essa nova vida. Cuidem bem um do outro,
porque o amor que os uniu hoje é o melhor
tesouro que vocês podem ter.
Jorge, não te esqueças que uma boa esposa e
a saúde são as melhores riquezas que se pode
ter. E a jóia mais apreciada por um homem é o
coração da mulher que ama. A Teresa sempre foi
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 67

o nosso orgulho e a nossa maior felicidade. Estou


certo de que será uma esposa extraordinária.
Quero terminar com uma citação de Martin
Lutero: “Não há nenhuma relação tão alegre,
amistosa e encantadora como o matrimónio”.
Agora vocês já estão casados, Teresa e Jorge,
e queremos demonstrar-lhes os nossos melhores
desejos com um brinde. Senhoras e senhores,
pela Teresa e pelo Jorge!

O discurso do noivo

O noivo costuma ser o segundo a falar, e o faz em seu


próprio nome e no da sua esposa. No seu discurso deve
incluir o agradecimento à família da noiva e a todos os
convidados por sua presença e pelos seus obséquios. Finaliza
a sua fala brindando pelas damas de honra ou pela madrinha
da noiva.
Ainda que não esteja acostumado a falar, como
mínimo, o noivo deve dizer algumas palavras breves antes do
brinde. Pode expressar as seguintes ideias:

3 Agradecer as palavras e o brinde do pai da noiva.


3 Agradecer o pai da noiva pela concessão da mão da sua
filha.
3 Mostrar agradecimento pela cerimónia de casamento e
pela recepção.
3 Agradecer o acolhimento da família da noiva no seio
familiar.
3 Comentar o quanto se sente feliz e afortunado ao ter
casado com a noiva.
3 Prometer ao pai da noiva que a cuidará e a amará.
3 Comentar o quanto se sente afortunado por formar
parte da família da noiva.
3 Agradecer aos pais de ambos pela educação recebida.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 68

3 Responder a algum conselho dado pelo pai no seu


discurso.
3 Contar alguma historia sobre como se conheceram os
noivos ou de algum problema que superaram juntos.
3 Agradecer a todos os presentes pela sua presença e
pelos seus votos de felicidade.
3 Agradecer o padrinho pela sua colaboração, assim
como a todos aqueles que o ajudaram
3 Mostrar a sua admiração pela beleza das damas ou
madrinhas do casamento e agradecer a sua
colaboração.
3 Brindar pelas damas de honra.

Exemplo 1
SENHORAS E SENHORES, em primeiro
lugar, a Rita e eu queremos agradecer ao António
pelas suas palavras e pelos seus votos de
felicidade. E não faz falta dizer que nós estamos
muito contentes por estar aqui.
À Ester, minha sogra desde hoje, tenho que
agradecer todo o entusiasmo e esforço que
empenhou na organização deste grande dia. O
nosso mais sincero agradecimento. A ti, também,
António, que colaborou no planificação desta
festa.
Não quero esquecer-me dos meus pais, eles
sempre foram maravilhosos comigo.
Só posso dizer que hoje me sinto o homem
mais feliz do mundo. Os meus pais são
maravilhosos, os meus sogros fantásticos e,
sobretudo, a minha esposa é linda, inteligente e
trabalhadora. Bem, ela tem muito mais
qualidades, no entanto, não tenho tempo de
comentar todas...
Além do mais, hoje estão comigo os meus
familiares e os meus melhores amigos. A minha
esposa e eu agradecemos a todos por
compartilharem connosco estes momentos e pela
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 69

generosidade e carinho que nos têm


demonstrado.
Estamos especialmente contentes por ter
entre nós a Maria, a prima da Rita, que fez uma
longa viagem desde São Paulo para nos
acompanhar.
Ah! E por aí vejo o João, o nosso padrinho,
impaciente por falar... Obrigado por ser o
padrinho perfeito.
Também queria dedicar algumas palavras à
nossa madrinha, Carla, que não só está
lindíssima, mas que também é uma pessoa
maravilhosa e a melhor amiga que uma pessoa
pode ter. Foi sempre um grande apoio para a Rita
nos momentos de nervos durante a preparação
do casamento.
Senhoras e senhores, por favor, levantem
comigo as suas taças e brindemos todos em
honra da Carla. Pela Carla!

Exemplo 2
SENHORAS E SENHORES, quero dizer
algumas palavras; em primeiro lugar, eu gostaria
de agradecer os nossos pais pelo seu apoio e por
esta maravilhosa recepção.
Também quero que todos levantem as vossas
taças e brindem comigo pela nossa madrinha
encantadora, Luísa. Ela contribuiu enormemente
para fazer deste dia o mais feliz das nossas vidas.
Por isso o meu primeiro brinde é para ela. [Pausa]
Pela nossa madrinha!
Mas o que realmente converte este dia no
melhor da minha vida é a rapariga maravilhosa
que tenho sentada ao meu lado. Não tenho
palavras suficientes para explicar-lhes todas as
qualidades que fazem dela a mulher da minha
vida, só posso dizer que quando a conheci soube
que era com ela com quem quero viver todos os
meus dias.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 70

Em nome da Maria e no meu próprio, quero


agradecer à Ana e ao José, os pais da Maria, pela
maravilhosa recepção que nos ofereceram. Eles
demonstraram a sua grande generosidade
organizando esta festa extraordinária e
acolhendo-me na sua família como mais um filho.
Estamos felizes de que estejam todos aqui
connosco, e agradecemos-lhes muito. Mais ainda
sabendo que alguns de vocês tiveram de fazer
uma longa viagem para nos acompanhar.
Também quero dirigir-me aos meus pais e
agradecer-lhes tudo o que fizeram por mim: os
seus cuidados, a educação, o facto de estar ao
meu lado nos momentos duros... em definitiva, as
suas contínuas demonstrações de amor. Vocês
são maravilhosos e eu os amo.
A Maria e eu também queremos
cumprimentar os nossos amigos, alguns deles
também vieram de longe. Muito obrigado, sem
vocês não seria o mesmo.
Oh, António, padrinho, não pense que te
esquecemos. Tu és um padrinho magnífico e
temos de te agradecer todo o esforço que nos
dedicaste. Lembro-te que tu serás o próximo a
falar, amigo. Finalmente quero agradecer a todos
pela vossa generosidade e carinho. Espero poder
fazê-lo pessoalmente muito em breve.
Sinceramente, muito obrigado a todos!

Exemplo 3
EM PRIMEIRO LUGAR, quero agradecer a
todos os que estão aqui, desfrutando do nosso
casamento. A minha esposa e eu estamos felizes
por poder compartilhar com todos este dia tão
feliz.
Penso que é o momento adequado para
agradecer os meus pais por terem sido tão bons
comigo. Espero que a Júlia e eu saibamos ser tão
bons pais como vocês.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 71

A minha esposa e eu queremos agradecer a


todos pelos presentes maravilhosos que nos
fizeram. Nunca esqueceremos a vossa
generosidade e carinho.
Também o meu mais sincero muito obrigado
para o padrinho. Ele esforçou-se muitíssimo para
que tudo saísse perfeito. Tu conseguiste, Luís!
Também quero destacar a valiosíssima
contribuição da madrinha. Obrigado, Isabel, sem
a tua ajuda este dia não teria sido tão perfeito.
É por isso que eu quero dedicar este brinde à
nossa madrinha encantadora. Senhoras e
senhores, pela nossa madrinha!

Exemplo 4
QUANDO CONHECI A MARTA pensei que era
a pessoa mais encantadora do mundo, no
entanto não imaginei que pouco tempo depois
estaria aqui, comemorando o nosso casamento!
O nosso amor foi crescendo pouco a pouco,
como uma torta feita de ternura e cumplicidade.
Quero expressar o meu mais sincero
agradecimento ao meu sogro pelas coisas
maravilhosas que acaba de dizer e pela sua
generosidade comigo.
Também estamos muito agradecidos às
nossas mães. Por tudo, por terem sido mães, com
tudo o que isso significa.
Não queremos esquecer-nos de agradecer ao
padre João Manuel, que oficiou a cerimónia, e
também a todos os membros da sua paróquia
pela sua colaboração.
A todos os presentes, por nos acompanhar
neste dia e pelas demonstrações de carinho e
generosidade que nos tem oferecido.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 72

A Marta pediu-me que felicite especialmente à


madrinha, Cristina. A sua ajuda fez com que
tudo fosse mais fácil. Ela aguentou
pacientemente os ataques de nervos dos dias
prévios à comemoração. Todos nós estamos
muito agradecidos a ti.
Aos rapazes e raparigas que ainda são
solteiros quero dizer-lhes que abram bem os
olhos, nesta sala há um montão de bons
partidos. Se se despertam pode que o próximo
ano voltemos a nos reunir para comemorar outro
casamento.
Senhoras e senhores, levantemos as nossas
taças e brindemos por Cristina, a nossa
madrinha maravilhosa; [Pausa] Pela madrinha!

Exemplo 5
Sim, COMO AS PESSOAS DIZEM, o
casamento é uma lotaria, e eu ganhei o prémio
máximo e sinto-me como o homem mais feliz do
mundo.
Tenho muita sorte por ter encontrado a Sara,
e porque ela aceitou ser a minha esposa.
Contudo, tenho ainda mais motivos para me
sentir um felizardo...
Os pais da Sara hoje oferecem esta recepção
como demonstração da sua grande generosidade.
É uma sorte que estejam do nosso lado e apoiem
como o fizeram até hoje. Penso que ninguém
jamais pode ter melhores sogros.
Depois estão vocês, sim, todos vocês. A nossa
família e amigos. Vocês são uma parte
fundamental da nossa vida.
Obrigado a todos por estarem aqui, e pelo
quão generosos vocês tem sido sempre connosco.
Por último, quero expressar a nossa gratidão
à Maria, a nossa madrinha encantadora. Hoje ela
foi de grande ajuda para todos. Além do mais,
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 73

certamente todos já se deram conta, hoje está


ainda mais bela. A Sara me disse que não me
esqueça de lhe agradecer a ajuda que prestou e a
sua paciência nos dias prévios à cerimónia.
É um grande prazer para mim propor um
brinde em honra à nossa madrinha.
Senhoras e senhores, por favor, levantem as
suas taças comigo e bebamos à saúde da
madrinha.

Exemplo 6
A MINHA ESPOSA E EU... Nossa! Creio que é
a primeira vez que o digo em voz alta. Soa bem,
não é? Bem, a minha esposa e eu queremos
agradecer a vossa presença neste importante
momento da nossa vida.
Especialmente queremos expressar o nosso
agradecimento aos seus pais por esta recepção
esplêndida. A verdade é que não sei por que
sempre foram tão bons comigo, não posso
explicar e não sei se mereço.
Firmemente lhes prometi fazer feliz à sua
filha, e estou muito disposto a cumpri-lo. Se ela
não for feliz, como então eu poderia sê-lo? É
Impossível.
Quanto aos meus pais, não há palavras que
possam expressar tudo o que sinto por eles.
Sempre estiveram ao meu lado,
incondicionalmente. Só espero poder ser tão bom
pai como eles. Também agradecemos a todos
vocês, nossa família e amigos, sem vocês esta
festa não seria tão agradável.
Agora permitam-me lembrar algumas
palavras de um dos sex symbols do nosso século,
a actriz Marilyn Monroe. Certa vez ela disse: “Não
me importa viver num mundo de homens,
contanto que me deixem ser mulher”. A estrela do
cine era, sem dúvida, de uma beleza fascinante,
como o é também a minha querida esposa, assim
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 74

como a nossa maravilhosa madrinha. É o


momento de brindar em sua honra.
A nossa madrinha foi de grande ajuda
durante os preparativos desta celebração, por
isso sempre estaremos agradecidos a ti, Cris.
Por favor, levantem as suas taças e brindem
comigo pela saúde e pela felicidade da madrinha.
Pela Cristina!

Exemplo 7
ESTE É O DIA MAIS FELIZ e mais
maravilhoso de toda a minha vida. Obrigado a
todos por colaborar com a vossa presença para
tanta felicidade. Todos foram muito carinhosos
connosco e estamos muito agradecidos.
Especialmente aos nossos pais, por terem sido
tão bons, por terem criado tão bem os seus filhos
e por nos preparar para saber desfrutar deste
momento.
Enviaremos a todos cartões postais durante a
nossa lua-de-mel, no entanto, se não os
receberem a tempo, não se aborreçam, já
sabemos como funcionam os correios!
Nas histórias de amor sempre temos a
impressão de que os apaixonados vivem num
mundo próprio, feliz e doce, distanciados da
realidade. Assim é como nos sentimos Isabel e
eu, e penso que essas sensações aumentarão
durante a viagem.
Queremos agradecer a ajuda que nos
prestaram tanto o nosso padrinho como a nossa
madrinha. Sem eles, isto não estaria acontecendo
tão bem. O padrinho procedeu de forma
admirável, sobretudo no dia em que se deixou
“levar” por diversas lojas até encontrar o traje
adequado,
Tenho muita sorte, uma esposa fantástica,
um grande padrinho e uma madrinha
excepcional.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 75

Senhoras e senhores, proponho-lhes um


brinde em homenagem à nossa madrinha. Ergam
as suas taças e brindemos pela nossa madrinha!

O discurso do padrinho

O padrinho fala em nome da madrinha para agradecer


as palavras que o noivo dedicou a esta. O seu discurso deve
ser simples e divertido, mas se você não for um bom
humorista experiente, não tente ser muito cómico. Não há
nada pior que o silêncio que se produz após um chiste mal
contado. É melhor contar alguma história simples que faça
sorrir a todos.
O padrinho pode expressar:
3 O agradecimento da madrinha pelas palavras do noivo.
3 Mais alguns elogios dedicados à madrinha.
3 Admiração pela noiva, mencionando como o noivo é
um afortunado por casar-se com ela.
3 Felicitações aos noivos.
3 Um brinde pela felicidade do casal.
3 Agradecimento aos anfitriões da recepção.
3 Um brinde aos anfitriões.
3 Um brinde pelos amigos ausentes.
3 O anúncio do programa previsto para o resto da festa.

Exemplo 1
SENHORAS e SENHORES, em primeiro lugar,
eu quero dar um beijo carinhoso à nossa
madrinha, Carla [o beijo à madrinha faz parte da
tradição]. Quando nos casamos, no ano passado,
a Márcia e o João foram os nossos padrinhos.
Por isso é um duplo prazer agradecer o noivo
pelas suas palavras e pelo seu brinde em
homenagem à madrinha e, evidentemente,
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 76

também lhe agradeço por ter confiado em mim


para ser o padrinho do seu casamento.
O João já leva vários dias tentando saber
quais eram as piadas que eu contaria hoje.
Depois de passar toda a semana procurando as
mais adequadas para a ocasião, chega ele, muito
esperto, e o que faz? Rouba-me o melhor. Vejam
todos, Márcia veja bem com que tipo de homem
te casas. Um ladrão de piadas!
Ainda bem que não lhe contei nada sobre a
minha citação. Todo padrinho que se preze deve
guardar muito bem uma boa citação para o seu
discurso. A minha é de Tennyson: “Uma boa
madrinha faz uma boa noiva”. Neste caso,
cumpriu-se totalmente, basta olhar para a
Márcia. Ela foi uma madrinha extraordinária e
hoje é uma noiva maravilhosa.
Quero agradecer aos anfitriões, pela
magnífica festa que nos prepararam. Também
desejar aos noivos o melhor para a sua nova vida
em comum.

Exemplo 2
SENHORAS, SENHORES, AMIGOS. Existe
alguém por aqui que não seja nem uma senhora,
nem um senhor ou nem um amigo? Bem, eu só
queria estar seguro de não deixar de mencionar a
todos.
Os casamentos são uma boa desculpa para
fazer uma festa. Por isso eu estou aqui! Bem, sem
falar que também se pode comer de graça.
Mas falemos em sério, este é o casamento do
meu melhor amigo, o Paulo, que tem a sorte de
ter a Maria como esposa. Eles pediram-me que
fosse o padrinho do seu casamento e... como
poderia negar-me!? Para mim é um grande
privilégio.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 77

Devo agradecer a todos pelo brinde e pelas


palavras dedicadas à madrinha. Em seu nome,
obrigado, Paulo.
Depois disso, o padrinho deve mencionar os
votos de felicidade, prosperidade, etc. Com
certeza todos estão de acordo em que a Maria e o
Paulo formam um casal extraordinário e todos
desejamos a eles o melhor.
Finalmente, um conselho para o Paulo.
Quando tiveres algo que fazer no teu novo lar não
deixes para amanhã. Isso permitirá que vocês
desfrutem de uma vida feliz, que é o que eu
desejo para os dois. E tu, Maria, lembre-se de
sorrir sempre como hoje.
Recebam os meus melhores votos, Maria e
Paulo, e que sejam muito felizes!

Exemplo 3
ESTOU DESFRUTANDO MUITO neste
casamento. Tudo está funcionando tão bem como
um relógio. Todos os convidados estão bonitos e
elegantes. A noiva e a sua madrinha estão
belíssimas, realmente é para se fotografar. E,
efectivamente, fizeram-lhes uma boa quantidade
de fotos das quais eu quero uma cópia. São o
mais bonito deste dia!
Todo o mundo está contente, inclusive
aqueles que têm de fazer um discursinho! O
noivo hoje também tem um aspecto
extraordinário. Não lhes parece? Bom, essa era a
minha responsabilidade até que lhe entreguei os
anéis, já sabem. A partir de agora é a Júlia, a sua
esposa, quem deve encarregar-se desses
detalhes.
Estou desfrutando tanto deste casamento que
espero que a Júlia e o Mário convidem-me
também para as suas próximas festas como esta.
Não, não é que eu queira fazer uma apologia da
bigamia. Me refiro às bodas, os aniversários de
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 78

casamento, de prata, rubi e ouro, obviamente.


Espero que todos nós voltemos a reunir-nos para
celebrar.
Agora devo agradecer as palavras dedicadas à
madrinha de casamento, tão encantadora que
converteu num prazer os preparativos da
cerimónia.
Nós dois estamos muito agradecidos pelas
palavras que lhes foram dedicadas e pela ajuda
que nos prestaram para que este dia fosse assim,
mágico. Obrigado a todos!

Exemplo 4
QUANDO O JAIME ME PEDIU que fosse o
seu padrinho, eu aceitei sem pensar. Não sabia
que o padrinho tinha que fazer um pequeno
discurso. Bem, sou solteiro e não assisti a muitas
cerimónias de casamento. Ninguém me avisou
nada sobre o discurso até esta mesma semana.
Demasiado tarde para mim.
Durante esta semana tentei convencer a
Marta e o Jaime para esquecer desta incómoda
tradição. Não tive sucesso, como podem ver.
Também estive procurando alguém que
escrevesse algumas linhas para mim, no entanto
nada, ninguém quis ajudar-me...
Penso que o Jaime é consciente do difícil que
é para mim estar a falar diante de tantas pessoas
e saberá apreciar o meu esforço.
Até o momento, tudo está saindo muito bem;
cruzem os dedos e certamente tudo terminará
ainda melhor.
Pois bem, todos vocês são encantadores, já
estou a falar a um bom tempo e ninguém boceja.
Todos nós desejamos muita felicidade a este
casal que está ao meu lado. Não queria cair
nesses tópicos de ser dois em um e essas
coisas...
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 79

A madrinha e eu mesmo desejamos o melhor


para os dois. O pai da noiva pediu que brindemos
pela felicidade dos dois e eu quero responder-lhe
com outro brinde. A madrinha está agradecida
em poder compartilhar esta felicidade com todos.
Todos nós agradecemos-lhe muitíssimo a sua
ajuda nos preparativos e também por estar
belíssima e radiante hoje. Ela pediu-me que os
dissesse como está contente que transmitisse a
todos os seus votos de felicidade.
O seu desejo e o meu é que os noivos tenham
uma longa e feliz vida em comum, e que se
lembrem sempre da felicidade deste momento.
Obrigado a todos!

Exemplo 5
QUEM ME CONHECE JÁ SABE que fazer um
discurso não é o meu forte. Ao contrário, isso me
dá um pânico terrível. Apesar de tudo é uma
grande honra ser o padrinho de casamento do Luís
e da Juliana, é um dia muito importante para eles
e muito especial para todos nós que lhes amamos.
Confesso que passei dias e dias preparando-
me para este momento, procurando citações
divertidas, lembrando das anedotas do Luís,
repassando estes horríveis chistes sobre o
matrimónio. Ao final, decidi fazer um discurso o
mais breve e sincero possível.
Ao fim e ao cabo, o que de verdade importa é
que duas pessoas maravilhosas, e às quais todos
amamos, decidiram começar uma vida juntos,
formar uma família. Penso que não necessitam
retórica inútil, mas muito amor e paciência.
Todos nós desejamos que a sua nova vida
seja muito feliz, eles merecem-no. Também a
nossa madrinha merece o nosso mais sincero
agradecimento. É admirável a dedicação
empenhada nos preparativos da cerimónia.
Senhoras e senhores, muito obrigado a todos!
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 80

Exemplo 6
QUANDO O TONI PEDIU-ME para ser o seu
padrinho de casamento eu tentei dizer que não;
lamento, aterrorizava-me ter de fazer o discurso,
no entanto, ele convenceu-me de que só tinha de
dizer algumas palavras de agradecimento. Ele
disse: “Eu proporei o brinde pela madrinha e tu
terás que agradecer em seu nome, nada mais”.
Nesse caso não podia negar.
A verdade é que me sinto lisonjeado por fazê-
lo. A nossa madrinha maravilhosa está muito
agradecida por todas as demonstrações de
cortesia que recebeu de todos. Todos trataram-na
com muito carinho, todos elogiaram a sua beleza,
o seu bom gosto, a sua elegância, a sua simpatia,
tudo. O único que poderia fazer para retribuir
tanta amabilidade é agradecer sinceramente
todas as demonstrações de simpatia.

Discurso da noiva

Não é necessário que a noiva faça qualquer discurso


durante a comemoração de um casamento; de fato, nem o
protocolo nem a tradição indicam que se deva fazê-lo. No
entanto, as tradições também mudam e as noivas de hoje já
não são aquelas inocentes criaturas recém saídas do seio
materno. Muitas delas ostentam cargos de responsabilidade e
não estão acostumadas a ficar em segundo plano, enquanto
que os “homens da família” falam por elas e delas.
Actualmente os discursos da noiva estão a popularizar-
se. Costumam ser os seus próprios amigos que lhes pedem
que pronunciem algumas palavras, de tal forma que a
maioria das noivas prepara um breve discurso para a
ocasião.
O ideal seria que a noiva falasse depois da fala do seu
marido, desta forma as suas palavras seriam uma réplica às
dele. No entanto se o noivo terminar o seu discurso com um
brinde dedicado à madrinha, seria uma descortesia da noiva
tomar a palavra imediatamente. Nesse caso, é melhor que
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 81

espere que o padrinho termine de falar, assim não dará a


impressão de estar subtraindo o protagonismo da madrinha.
O discurso da noiva costuma ser muito breve; o mais
apropriado é dedicar algumas palavras para expressar a
alegria do momento e agradecer a todos os convidados pela
sua presença.

Exemplo 1
SENHORAS E SENHORES, queridos
familiares e amigos. Para mim é um prazer poder
agradecer a participação de todos nesta
maravilhosa festa. Não vou falar muito, apenas
quero dizer que a vida está cheia de surpresas e
que conhecer e amar o Jaime é a melhor coisa
que aconteceu na minha vida.
Também quero dedicar algumas palavras aos
meus pais, os melhores do mundo, e aos meus
queridos avós; em fim, a toda a família e amigos
que nos acompanham hoje: muito obrigada, sem
a vossa presença este dia não seria perfeito.

Exemplo 2
AMIGOS, FAMÍLIA. ALGUÉM DISSE-ME:
“Não fales, limita-te a cortar a torta de casamento
e a sorrir”. Certamente seria mais fácil, no
entanto todos já me conhecem...
Só quero agradecer os meus pais pela
paciência que tiveram comigo durante toda a
minha vida, e especialmente nos últimos dias.
Muito obrigada, também por esta festa
extraordinária.
Levo dias a pensar em como poder expressar
a minha gratidão a todos os que estão hoje
connosco e a verdade é que não encontrei
nenhuma forma. Penso que o melhor é propor
um brinde. No entanto, neste caso sou eu quem
brinda por todos vocês: brindo pelo meu
maravilhoso marido, pela sua encantadora
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 82

família e pelos seus amigos. Levanto a minha


taça pela vossa saúde e pela vossa felicidade [a
noiva bebe um pouco].

Exemplo 3
QUERIDA FAMÍLIA E AMIGOS, apenas quero
dizer algumas palavras de agradecimento. Hoje é
um grande dia para mim, sinto-me muito feliz e
grande parte dessa felicidade devo aos meus pais.
Eles sempre estiveram ao meu lado, apoiaram-me
em tudo o que fiz e sempre me fizeram sentir
muito querida.
Também quero agradecer à minha grande
amiga Alice, porque sempre esteve aí, e porque
apesar de sofrer com os meus piores defeitos
continua a dar-me apoio e carinho. Obrigada.
Evidentemente, esta celebração não seria tão
alegre se não contasse com a vossa presença.
Sim, inclusive os pequenos Antoninho e Manuel,
que estão a divertir-se muito com a sua guerra de
migalhas... Obrigada a todos.
Não quero estender-me mais, a festa deve
continuar. Espero que todos estejam desfrutando
tanto como eu.

Exemplo 4
QUERO AGRADECER a todos por terem
convertido o meu sonho em realidade. Desde
muito pequena já sonhava com uma cerimónia de
casamento como esta, com toda a minha família
e amigos rodeando-me. Todos belíssimos e
elegantíssimos, a rir e a se divertir. E,
evidentemente, também sonhava com um noivo
maravilhoso como o Francisco, carinhoso,
compreensivo, divertido e... bonitão!
É maravilhoso ver como os sonhos podem
converter-se em realidade. Obrigada a todos!
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 83

CASAMENTOS (SITUAÇÕES NÃO


CONVENCIONAIS)
Os discursos tradicionais de casamento baseiam-se em
convenções, mas em determinadas situações é necessário
desviar-se um pouco do convencional, transformar a tradição
para manter o ambiente desejado. A vida actualmente
apresenta circunstâncias que não se contemplam na
tradição: noivos que moram juntos antes do casamento, mães
e pais solteiros, segundo casamento, etc.
Agora mostraremos como podemos adaptar os
discursos a estas novas situações sem perder o encanto da
tradição:

O pai da noiva não está presente

Quando a mãe da noiva é viúva, o discurso e o brinde


que corresponderiam ao pai costuma ser feito pelo homem de
maior idade na família ou um amigo de confiança.

Exemplo 1
SENHORAS E SENHORES, PAULA, é para
mim uma grande honra que me façam um
pedido para realizar o brinde pelos noivos.
Quando me propuseste não pude negar-me.
A Paula disse-me: “Tens de fazê-lo, conheces a
Marta desde que levava fraldas!”. Suponho que
é uma boa razão e espero que o João não fique
aborrecido comigo por conhecê-la antes que ele.
A Paula e a Marta pediram-me que não me
esquecesse de mencionar o Mário, o pai da
Marta. Como poderia deixar de fazê-lo!? O Mário
foi um grande amigo, um pai e marido
extraordinário. Sei que agora está a ver-nos lá
de cima, sentindo-se orgulhoso da sua
“filhinha”.
Certamente agora contar-nos-ia uma piada
divertidíssima, com essa graça que só ele tinha.
Eu não vou fazê-lo, pois nunca pude fazê-lo tão
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 84

bem como o Mário. No entanto, quero falar do


casalzinho que está reunido aqui. Os dois são
encantadores, estão juntos desde que
estudavam no instituto e formam um casal
simpatissíssimo. Todos nós que estamos aqui
presentes desejamos o melhor para eles, uma
longa e feliz vida juntos. Por favor, levantem as
vossas taças comigo em nome da sua felicidade.
[Pausa] Pela Marta e pelo João!

Quando o falecimento for recente


Caso o falecimento seja recente, a mãe da noiva pode
dedicar breves palavras à memória do seu esposo. O mais
apropriado seria fazê-lo antes dos discursos, inclusive
durante a mesma cerimónia de casamento. Desta forma não
se interromperá a comemoração.
Estas palavras podem ser pronunciadas pela mãe da
noiva, ou pedir a algum amigo ou parente que o faça em seu
nome.

Exemplo 2
SENHORAS E SENHORES, a família do
Xavier pediu-me que dissesse algumas palavras
em seu nome. Faço-o encantado. Todos sabem o
quanto o Xavier esperou este dia, infelizmente ele
já não está entre nós. Talvez queiram honrar a
sua memória mantendo um momento de silêncio
em sua honra, serão 15 segundos. [Pausa, 15
segundos de silêncio].
Penso, sinceramente, que este mundo era
melhor quando o Xavier estava connosco.
Conhecê-lo enriqueceu a minha vida e a de
muitos outros que tiveram a sorte de o conhecer.
[Pausa] Agora sigamos desfrutando deste grande
dia da Ana e do Luís.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 85

Outra possibilidade é incluir as palavras de


homenagem ao falecido dentro do discurso do familiar ou
amigo designado para falar em nome do pai da noiva.

Exemplo 3
SENHORAS E SENHORES, para mim é uma
honra e um prazer estar aqui e contribuir à
celebração do casamento da Carmem e do Vítor.
Todos já sabem que o pai da Carmem, o
Eduardo, foi o meu melhor amigo. Conhecíamo-
nos desde pequenos, jogávamos futebol na rua,
estudávamos juntos, começámos a sair com as
raparigas juntos, em fim, éramos inseparáveis.
Lembro-me que quando a Carmem apresentou o
Vítor à família, o Eduardo contou-me a boa
impressão que lhe causara o noivo da sua filha.
Inclusive começou a imaginar o casamento.
Hoje ele sentir-se-ia muito feliz. Ainda que
não esteja entre nós, todos o temos presente no
nosso coração e na nossa memória. Vítor
converteu-se em mais um membro da família,
todos apreciamos as suas grandes qualidades, é
carinhoso, trabalhador, e podemos notar como
está muito apaixonado pela Carmem, é o genro
perfeito.
E sobre a Carmem... o que é que poderia
dizer da Carmem?! Está belíssima, adoramo-la e
sentimo-nos muito orgulhosos dela. Estou
convencido de que estes jovens terão uma vida
maravilhosa juntos, no entanto, quero que
lembrem as palavras de A.R Herbert: “o momento
crítico do casamento é o pequeno-almoço”. Sejam
generosos um com o outro, sobretudo nessas
horas da manhã. É a chave de um bom
casamento!
À Carmem e ao Vítor todos nós desejamos um
longo, feliz e próspero futuro juntos.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 86

Agora, senhoras e senhores, levantem as suas


taças e brindemos todos pela Carmem e pelo Vítor!

O amor é uma tolice feita por duas pessoas


(Napoleão)

Os noivos viveram juntos

Os tempos mudaram e as normas sociais não são tão


rígidas. É comum que se casem dois jovens depois de
conviver durante algum tempo. Nestes casos, a cerimónia de
casamento não varia quase nada e os discursos seguem
sendo importantes. Então, quando o pai da noiva prepara o
seu, deve considerar a circunstância peculiar deste
matrimónio.

Exemplo
SENHORAS E SENHORES, hoje é o grande
dia da Rosa e do José. O mundo gira hoje
seguindo o seu ritmo, e nós temos a sorte de
poder desfrutar desse momento junto a eles.
São dois jovens muito independentes, todos
nós os conhecemos. Insistiram em encarregar-se
eles mesmos dos preparativos da cerimónia e
desta comemoração. Até das facturas! Não são
formidáveis; já faz três anos que decidiram viver
juntos, e nós como pais, ficamos um tanto
desconcertados. Somos de outra geração. No
entanto parece ser que o tempo lhes deu a razão,
formam um casal sólido como poucos e agora
estamos todos felizes com eles.
Desde então foram passo-a-passo, vivendo a
sua vida e convertendo uma casinha de solteiros
num autêntico lar.
Há poucos meses, o José veio à casa, queria
dizer-me algo importante, vinha pedir a mão da
minha filha, Rosa. Nada podia comprazer-me
mais. Quando o disse à minha esposa, a Patrícia,
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 87

respondeu-me tão tranquila: “Não pensas que já


são o casal mais casado do mundo? E é verdade.
Hoje firmaram o seu contrato de matrimónio.
O meu trabalho como pai do noivo é propor um
brinde em sua honra. É um trabalho muito
agradável.
Senhoras e senhores, peço-lhes que ergam as
suas taças e dirijam-nas à Rosa e ao José, e
brindem comigo desejando-lhes uma longa vida
juntos, com saúde e sucesso em tudo que
empreendam. [Pausa] Pela Rosa e pelo José.

A noiva é mãe solteira

Quando a noiva tem um filho de uma relação anterior,


os convidados podem encontrar-se com uma situação
incómoda. É aconselhável que o pai da noiva mencione esta
circunstância no seu discurso de forma positiva. Assim,
evitar-se-ão surpresas se durante a cerimónia uma criança
chama a noiva por “mamãe”.

Exemplo
SENHORAS E SENHORES, nada no mundo
poderia fazer-nos mais felizes a mim e à minha
esposa, Carmem, que ver a nossa filha, Maria,
tão radiante de felicidade como está hoje.
Estamos felizes de que possam compartilhar este
dia tão especial connosco. Conhecemos o marido
da Maria, Fernando, desde que era uma criança e
sabemos que é uma pessoa generosa e
inteligente. E também é muito bonito! Segundo a
minha esposa, é claro...
Alguns de vocês já conhecem essa
preciosidade que não para de sorrir e brincar pelo
solo, é a Marta, a filha da Maria. O Fernando
também quer muito a sua nova filhinha, basta
ver como olha para ela. Durante a cerimónia, a
pequena Marta estava a perguntar-me: O que
estão a fazer a mamãe e papai?
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 88

Realmente estamos muito orgulhosos de que


o Fernando seja agora legalmente o seu pai. Os
pais do Fernando, a Sílvia e o José, também são
pessoas maravilhosas. Acabam de se converter
em avós de repente e mostram-se encantados
com a ideia.
É um grande prazer para mim propor um
brinde aos noivos. Estou certo de que todos
permitir-me-ão introduzir uma novidade na
tradição para poder incluir um brinde à pequena
Marta, posto que ela forma parte deste
matrimónio.
Senhoras e senhores, peço-lhes que levantem
comigo as suas taças pela felicidade dos noivos e
da sua filhinha. [Pausa] Pela Maria e pelo
Fernando, e também pela Martinha.
Que Deus abençoe a sua vida em comum.

A mãe da noiva ou outra mulher faz o brinde

Não há nenhuma razão, excepto a tradição, para que a


pessoa que proponha o brinde pelos noivos seja um homem.
Em algumas circunstâncias, a mãe da noiva será a melhor
opção para o discurso. Talvez os pais da noiva estejam
divorciados ou o pai, por motivos de saúde, não possa ir ao
casamento.
Talvez a mãe da noiva tenha casado em segundas
núpcias recentemente e o padrasto da noiva está de acordo
que seja ela quem o faça. Ou, simplesmente, porque os noivos
preferem que seja a mãe que faça o discurso e o brinde.
Actualmente, a noiva pode pedir a um amigo ou amiga
íntima que faça o brinde. Uma amiga íntima sempre será
uma boa escolha e é difícil que recuse a proposta.

O prato mais perigoso que um homem pode comer é a torta de


casamento.
(Provérbio popular)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 89

Exemplo 1
SENHORAS E SENHORES, queridos amigos.
É um prazer encontrar a todos aqui,
compartilhando o casamento da Laura e do
Mateus.
Como muitos já sabem, a Laura é a minha
filha, e como sempre estivemos muito unidas, ela
e o Mateus pediram-me que fosse eu quem
pronunciasse algumas palavras em sua
homenagem. Para mim foi uma surpresa muito
agradável; a partir desse momento estive
absolutamente encantada com a ideia. A Laura e
eu fomos muito felizes na nossa vida familiar.
Não somos apenas mãe e filha, também somos
amigas.
Estou convencida de que o Mateus é o marido
adequado para a minha filha, sinto-me muito
feliz ao ver como hoje tornaram realidade o
projecto comum que ambos traçaram para as
suas vidas. Suponho que se fui uma “supermãe”
também poderei ser uma “supersogra”.
O certo é que já tenho uma nova família. Os
pais do Mateus, a Luísa e o João, aceitaram-me
como mais um parente na sua família. Tenho
muito que lhes agradecer, entre outras coisas
sem a sua ajuda não teria podido organizar esta
comemoração. Obrigado a ambos!
Bom, agora devo dedicar algumas palavras ao
casal. Vi durante toda a cerimónia as suas caras
de felicidade e isso fez-me mudar os votos que
pensava dedicar-lhes. Todos já o sabem,
felicidade, saúde, sucesso...
Queridos Laura e Mateus, quando as nuvens
cubram os raios do sol, agarrem-se ao vosso
amor e sejam felizes, como o são hoje. Senhoras e
senhores, por favor, ergam as suas taças e
brindem comigo pelos noivos. [Pausa] Pela Laura
e pelo Mateus.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 90

Exemplo 2
AMIGOS, PARECERÁ ESTRANHO que seja a
madrinha que inicie os discursos e o brinde pelos
noivos. Foi a própria Sandra que me pediu que o
fizesse, posto que de todos os seus amigos e
amigas, eu sou a que faz mais tempo que a
conhece. Também sou a mais faladora, devemos
reconhecer tudo...
A Sandra e eu conhecemo-nos desde a pré-
escola, já faz vinte e dois anos. Brincávamos
juntas e fomos sempre à mesma classe. Ela era
uma menina encantadora, muito esperta e uma
grande amiga. Eu era muito travessa, a típica
criança que sempre se mete em problemas. Em
fim, éramos inseparáveis.
Isso até que o Tomás apareceu. A partir desse
momento, para a Sandra tudo era porque o
Tomás isso, porque o Tomás aquilo, porque o
Tomás aquilo outro... uma chatice! Mas, em vez
de nos separar, os noivos (sim, eu também tinha
um) fizeram com que seguíssemos sendo as
melhores amigas do mundo.
Ao terminar os estudos, a Sandra e eu
continuamos juntas. Nós duas começamos a
trabalhar no Banco Nacional. Acostumamo-nos
aos faxes, correios electrónicos e mensagens na
caixa postal para poder ver-nos tão
frequentemente como antes.
E esta é a minha vida! Até que, faz um ano,
este casalzinho anunciou-me o seu compromisso.
Lembre-se, muitos de vocês estiveram na sua
festa e certamente a recordarão tão bem como eu.
Nessa festa me comprometi a ser a madrinha de
casamento da Sandra e a preparar este
discursinho...
Bem, chega o momento de mais seriedade. À
Sandra e ao Tomás, sinceramente, desejo aos
dois toda a felicidade do mundo. Estou certa de
que todos os presentes estão de acordo comigo e
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 91

acompanhar-me-ão neste brinde pelos recém


casados.
Ergam as vossas taças e brindemos pela
Sandra e pelo Tomás. Boa sorte e que sejam
muito felizes!

Segundo casamento

O segundo casamento é o triunfo da esperança sobre a


experiência.
(Samuel Johnson)

Quando a noiva, o noivo, ou ambos, casam-se pela


segunda vez, bem seja porque ficaram viúvos ou porque se
divorciaram, o ideal é que um amigo encarregue-se do
discurso e do brinde.
Nestes casos, costuma-se fazer apenas dois discursos,
o primeiro já citado antes e a réplica a este por parte do
noivo.
Seria de muito mal gosto entrar em detalhes dos
casamentos anteriores.
Este tipo de discurso costuma ser mais breve que os de
um primeiro casamento.

Exemplo 1
SENHORAS E SENHORES, é um grande
prazer para mim propor um brinde pela Sandra e
pelo Manuel. Todos os casamentos são especiais,
e os segundos o são duplamente. São uma
renovação da felicidade e da esperança.
Penso que todos nós ficamos muito felizes
quando a Sandra e o Manuel marcaram uma
data para o seu casamento. Depois de um
noivado tão longo, por fim decidiram tornar
realidade o seu sonho.
Manuel, tu já sabes o quão feliz que me faz o
facto de que tenha decidido dar-te a ti mesmo
outra oportunidade para ser feliz. Estamos certos
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 92

de que o conseguirá. Todos nós desejamos ao


casal uma longa e feliz vida juntos. Como já te
disse certa vez: “o melhor ainda está por vir”.
Agora levantem as suas taças e brindem
comigo pela felicidade dos recém casados.
Senhoras e senhores [pausa], um brinde pela
Sandra e pelo Manuel!

A réplica do noivo costuma ser o último discurso da


cerimónia e geralmente é bastante breve.

Exemplo 2
SENHORAS E SENHORES, AMIGOS, a minha
esposa e eu estamos felizes por encontrar a
todos, aqui, connosco, num dia tão especial.
Agradecemos a todos, de todo o coração, pelos
vossos votos de felicidade, compreensão e
generosidade.
A Susana e eu sentimo-nos lisonjeados pela
generosidade da minha querida filha e do meu
genro, a Ana e o Xavier.
Eles insistiram muito para que celebrássemos
esta recepção no seu próprio lar. Agradecemos-
lhes muitíssimo por essa grande demonstração
de amor para connosco. A Susana também
insistiu muito para que lhes agradecesse
publicamente por terem acolhido no vosso
coração a sua filha Teresa. É maravilhoso sentir
que de novo somos uma família feliz.
Não quero estender-me mais. Outra vez muito
obrigado a todos por estarem connosco e espero
que voltemos a nos reunir nas próximas
comemorações. Obrigado!
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 93

Discurso feito por um convidado de classe

Em alguns dos grandes casamentos é possível


encontrar uma pessoa de renome na lista dos convidados e
que seja esta que realize o discurso em honra aos noivos. Por
certo, deve ser alguém que conheça o casal e que esteja
disposto a falar num discurso que deve ser mais longo que o
habitual. Este convidado especial pode ser um membro
destacado de qualquer âmbito da vida pública: um
empresário famoso, um membro destacado do mundo
académico, um representante eclesiástico, um desportista,
um artista...
Nestes casos, o discurso do convidado será o único na
cerimónia. Como já dissemos, costuma ser um discurso mais
longo que o habitual; se se replicase com as três ou quatro
falas tradicionais, a cerimónia acabaria parecendo um
simpósio e aborrecendo os convidados.
Os discursos substituem-se por algumas palavras
brevíssimas que introduzem o brinde. Por exemplo, o pai da
noiva pode dizer:

PADRE GONÇALO, SENHORAS E


SENHORES, quero agradecer-lhes sinceramente
por estarem hoje connosco celebrando este dia
feliz. Peço-lhes que alcem as suas taças e
brindem comigo pela saúde e pela felicidade dos
noivos. [Pausa] Pela Maria e pelo Jaime.

O meu pai deu-me um bom conselho para preparar os


discursos: seja sincero, seja breve e sente-se.
(James Roosevelt)

Depois, o padrinho faz a réplica, muito breve,


agradecendo à madrinha pela sua colaboração, e apresenta o
convidado especial. Ele mesmo ou o noivo agradecer-lhe-ão
as suas palavras quando tiver terminado o seu discurso. Nem
todas as pessoas distintas têm experiência ou soltura em
falar diante do público; antes de pedir a alguém que o faça,
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 94

pense bem. Lembre-se de que um casamento é uma festa e


que todos os convidados devem desfrutar.

Exemplo
SENHORAS E SENHORES, QUERO começar
com algumas palavras de William Penn: “casa-te
só por amor, mas procure que a tua amada
mereça o teu amor”.
A Carmem e o Miguel casaram-se hoje por
amor. Nós, que temos a sorte de conhecer os
dois, sabemos que eles merecem todo o amor e a
felicidade do mundo.
Não se casaram às pressas, a sua decisão não
foi fruto de uma paixão repentina. Deram-se um
tempo, foram conhecendo-se até estarem seguros
um do outro.
Faz alguns séculos costumava-se dizer:
“casa-te primeiro, o amor virá depois”. No entanto
para este casal penso que é mais apropriado este
outro provérbio: “casamento com paz é o paraíso
na terra; com brigas, é viver no purgatório”.
Carmem, lembra-te daquele que diz que um
homem, rei ou vassalo pode ser feliz sem
importar a sua condição sempre que encontre a
paz no seu lar.
Carmem e Miguel, vocês já são prisioneiros
do casamento e estão a ponto de formar o vosso
próprio lar. Espero que as palavras de outros
possam ajudá-los nessa nova vida que estão
prestes a empreender.
Comecemos com Cervantes: “tu és o rei do
teu próprio lar, tanto como qualquer monarca no
seu trono”. Alguém mais moderno disse: “A casa
de um homem é o castelo da sua esposa”. E para
acabar há uma que pessoalmente me parece
muito interessante: “A decoração de uma casa
são os amigos que a frequentam”.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 95

A ambos, Carmem e Miguel, desejo-lhes a


serenidade suficiente para aceitar o que não se
pode mudar, a coragem para melhorar o que se
pode melhorar, e a inteligência para saber
diferençá-lo.
Que Deus lhes abençoe e dê saúde e
felicidade aos dois, todos os dias da sua vida!

Casamentos muito informais

Nos casamentos mais informais é mais apropriado fazer


somente brindes breves. Podem fazê-los o pai da noiva, o
padrinho, ou qualquer outro convidado ou convidada que
conheça bem os noivos.
O noivo responderá a todos os presentes com algumas
palavras de agradecimento:

QUERO PROPOR UM BRINDE pela Marta e


pelo Luís, para lhes desejar toda a felicidade na
sua vida conjugal. Que todos os vossos
problemas sejam tão pequenos como a rolha
desta garrafa! (Pausa) Pela Marta e pelo Luís!

COMO ESCREVER O SEU DISCURSO DE


CASAMENTO
Já lhe oferecemos alguns exemplos de discursos de
casamento como uma ideia para que lhe sirva de modelo na
hora elaborar o seu. Procure o que se aproxime mais à sua
situação [pai da noiva, padrinho, etc.) e mude os nomes e as
anedotas.
Se dispõe de pouco tempo, essa é a melhor opção. Com
o formato básico pode-se acrescentar e tirar o que quiser para
o adaptar ao seu gosto e torná-lo seu.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 96

Você mesmo também pode escrevê-lo; algumas pessoas


sentem um verdadeiro terror de fazê-lo, no entanto, não é tão
difícil. Seguindo algumas normas elementares e bons
conselhos você pode fazê-lo sem nenhum problema.
A primeira norma consiste em lembrar que deve
escrever para falar, não para ler. Isso é o que caracteriza um
bom orador. Infelizmente, a maioria das pessoas paga a sua
inexperiência escrevendo algo parecido a uma redacção
escolar ou uma peça literária. Faça a prova: grave a si próprio
lendo algo em voz alta e depois grave uma conversação
quotidiana. A diferença é enorme!
Uma vez assumida a primeira norma seja muito
cuidadoso com a gramática; não é necessário retirar da
estante todos seus livros escolares mas, no entanto, sim, deve
reler várias vezes o texto.
Utilize frases curtas, isso fará com que os seus
ouvintes possam segui-lo facilmente. Pode ligar os diferentes
parágrafos com conjunções tais como “e”, “mas” e similares.
Não utilize palavras que não está habituado a usar, parecerá
forçado.
Não inclua palavras de gírias ou muito coloquiais;
certamente você sentir-se-ia mais relaxado, no entanto, talvez
algum convidado fique incomodado ou não lhe entenda.
Lembre-se de que qualquer discurso deve ter o seu
princípio, meio e fim. Para recordar melhor esta estrutura
será muito útil fazer um esboço ou esquema onde se pode
anotar o que quiser dizer em cada fase do discurso. Quando o
tiver claro não lhe custará nada desenvolver cada uma das
partes.
Pode informar-se sobre como foram os preparativos do
casamento e inclui-lo no seu discurso, ou observar alguns
detalhes da cerimónia e inclusive mencionar aquilo que lhe
tenha chamado a atenção.
Faça uma lista com os pontos que queira tratar e anote
junto a estes as ideias que se lhe vão ocorrendo. A seguinte
guia pode ser-lhe de utilidade:
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 97

Se for o pai da noiva

3 Dar as boas-vindas a todos.


3 Agradecer a ajuda de...
3 Mencionar como está belíssima...
3 Falar da trajectória profissional da noiva.
3 Mencionar como se sente orgulhoso.
3 Dar as boas-vindas ao noivo e elogiá-lo.
3 Aconselhar-lhe (pode encontrar diversas citações
apropriadas neste livro).
3 Desejar-lhes felicidade.
3 Brindar pelos noivos.

Se for o noivo

3 Agradecer os seus pais pela recepção.


3 Agradecer ao pai da noiva pelas suas palavras.
3 Agradecer a toda a família pelo seu acolhimento na
mesma.
3 Agradecer os próprios pais por tudo o que fizeram.
3 Agradecer o padrinho (fazer alguma piada a respeito).
3 Explicar como se conheceram, como se apaixonaram e
como ela é maravilhosa.
3 Elogiar a madrinha e brindar por ela.

Se for o padrinho

3 Agradecer em nome da madrinha pelo brinde.


3 Agradecer os generosos presentes dos convidados.
3 Agradecer o noivo por permitir ser o seu padrinho
(incluir alguma anedota).
3 Elogiar a noiva.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 98

3 Falar do noivo (com humor).


3 Desejar-lhes felicidade (pode incluir alguma citação).
3 Agradecer os pais pela recepção, e a todos os
convidados por sua presença.

O padrinho deve citar o nome da madrinha (talvez


tenha algum sobrenome), perguntar à noiva se vai querer
falar e averiguar se há algum tema que possa incomodar a
família. Cuidado com as piadas! Por mais simpática que
pareça a história, pode ser um mal momento lembrar que o
avô era um alemão desmiolado que fugiu para Paris e gastou
todo o seu dinheiro (sobretudo se a avó está presente no
casamento e teve que sofrer este problema...).
Depois faça outro esboço com a parte central do texto
desenvolvida. Certifique-se de que estão incluídos todos os
temas anotados na lista anterior.
Não se esqueça de utilizar frases curtas e simples que
possa dizer sem necessidade de ler. Tome como exemplos os
discursos e brindes que se encontram neste livro.
Tenha em conta que uma fala de quatro ou cinco
minutos compreende cerca de 500 palavras. Reconte as
palavras e ajuste o seu discurso ao tempo que deseja
empregar; se for necessário, ensaie em voz alta
cronometrando a duração. Se ficou curto sempre podemos
incluir alguma anedota, citação ou chiste (pode procurar
entre as que lhe oferecemos neste livro). De todas as formas,
sempre é melhor que fique a que se estenda muito.
No caso de ultrapassar o limite de tempo, releia o texto
e procure tudo aquilo que se possa eliminar sem alterar o
significado do seu discurso, ou a continuidade do mesmo.
Lembre-se de verificar outra vez que não está a esquecer
nada importante, para isso use a lista anterior.
O seguinte passo é passar a limpo o discurso e ensaiá-
lo até sentir-se familiarizado com ele. Se for possível, diga-o
diante de uma pessoa, isso servir-lhe-á de prova e poderá
ajudar-lhe a melhorar tanto o texto como a apresentação oral.
Não deve esquecer-se de que é fundamental fazer o seu
discurso com naturalidade, falando e não lendo.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras - 99

Quanto aos cumprimentos iniciais, pode utilizar os


mais tradicionais. A fórmula “senhoras e senhores” será
sempre bem aceite, no entanto alguns casos requerem outro
tratamento. Por exemplo, quando exista algum convidado
especial o correcto é fazer uma menção ao mesmo. De tal
maneira que você poderia iniciar o seu discurso dizendo:
Senhor Rafael, senhoras e senhores, “General Martins,
senhora e senhores”, “Senhor Figueiras, senhoras e
senhores...”

As últimas palavras de um homem casado sempre são: de


acordo, compre-o”.
(N.P. Willis)

Se lhe corresponde fazer o brinde pelos noivos, fale


directamente aos convidados e dirija a sua vista aos mesmos,
não aos noivos. Pense que o que está fazendo é pedir aos
primeiros que se somem ao seu brinde.
Tente dividir o seu olhar entre todos os convidados; não
se centre em apenas um, isso poderia incomodá-lo.
Tudo isto pode parecer-lhe muito complicado, no
entanto basta com que faça algumas provas na sua casa e
verá que é mais fácil do que agora lhe parece. Ademais, todos
sabem que você não é um orador profissional e supõem que
estará nervoso. Não serão muito exigentes, e lembre-se
sempre: são a sua família e estão desejando divertir-se...
O padrinho pode começar agradecendo aos noivos que
escolheram a ele. A melhor forma de o fazer é utilizar o bom
humor, assim quebrará o gelo e relaxará um pouco.
É recomendável que fale com os outros oradores para se
certificar de que ninguém vai repetir uma anedota ou uma
citação no seu discurso. Se não puder falar com os outros
oradores, tenha sempre alguma anedota ou citação de reserva.
Se não lhe ocorrem formas originais de começar o seu
discurso sirva-se dos exemplos que lhe propomos a seguir.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -100

Ideias para começar o discurso de casamento.

3 Senhoras e senhores, não sou muito original, mas...


3 Senhoras e senhores. Os senhores já esperavam que eu
dissesse isso, não é verdade?
3 Senhoras e senhores, quem disse que os elogios não
funcionam?
3 Senhoras e senhores, este é o dia mais feliz da minha
vida e a responsável disso é esta mulher maravilhosa
que está sentada ao meu lado.
3 Senhoras e senhores, o noivo está esperando para poder
dizer-lhes que este é o dia mais feliz da sua vida. Mas,
digam-me aqueles que estão casados, essa felicidade
não virá a baixo depois de hoje?
3 Senhoras e senhores, quando cheguem à minha idade
descobrirão que começam a perder três coisas. Primeiro
perderão a memória [pausa e suspense]... ¡Não me
lembro das outras duas!”
3 Bem, amigos, todos dizem que o casamento é algo
positivo. Estive a pensar muito nisso nestes últimos dias
e... penso que é certo. Se não fosse pelo casamento, os
maridos e as esposas teriam que discutir com
desconhecidos!
3 Senhoras e senhores. Há quem diga que o casamento é
como uma loto. Nesse caso, eu ganhei o maior prémio!
3 Senhoras e senhores, sinto-me um pouco estranho
respondendo em nome da madrinha, porque como
podem ver: Eu não sou a madrinha!
3 Amigos, já sei que o mais habitual é chamar-lhes
“senhoras e senhores”...
3 Senhoras e senhores, obrigado pela sua breve
introdução. Estou agradecido por todos os elogios que
inventaram sobre mim.
3 Senhoras e senhores, certamente todos já conhecem as
três regras básicas deste tipo de discurso: levantar-se,
falar e sentar-se. Não vou decepcioná-los, isso é
justamente o que eu vou fazer.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -101

3 Senhoras e senhores, há um momento atrás eu


comentava ao meu novo sogro como estava nervoso só
em pensar na ideia de fazer este discurso, então ele
disse-me: “não te preocupes, ninguém espera que um
noivo tão loco como tu faça nada sério”. E, claro, agora
não posso decepcioná-los.

BRINDES E CITAÇÕES PARA UTILIZAR NOS


DISCURSOS DE CASAMENTOS
As citações servir-lhe-ão para acrescentar um molho
especial ao discurso, no entanto, não abuse delas e parecerá
muito pretensioso para um simples discurso de casamento.
A seguir apresentamos alguns exemplos de citações
integrados ao convite para brindar num casamento. Tenha
em conta que alguns escritores possuem uma visão muito
cínica sobre o casamento – use-as se lhe parece conveniente,
no entanto, trate de dar uma visão positiva e sobretudo,
procure não incluir nada que possa ser agressivo para os
seus ouvintes. Os casamentos são festas descontraídas, mas
isso não significa que se possa dizer qualquer coisa.

Exemplo 1
SENHORAS E SENHORES, QUERO propor
um brinde pela saúde dos noivos. Recordo as
palavras de William Congreve: “Ainda que o
casamento faça de marido e mulher um só, eu
penso que faz dois tontos.”
Basta olhar para este casal de tontos, para
ver que não parece que nenhum dos dois seja
consciente da imprudência que cometeram. Ou
melhor, eu diria que estão tão fascinados.
E também olhando para todos os senhores,
com o perdão, vejo um montão de casais loucos
que, tal como a minha esposa e eu, levam muito
tempo desfrutando dessa loucura e, no entanto
todos nós parecemos muito satisfeitos com a
nossa insensatez. Por isso prefiro esta outra
citação do cínico Congreve: “o mais sensato que
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -102

um homem pode fazer é encontrar a mulher


adequada para ele”.

Exemplo 2
CERTO DE QUE TODOS CONHECEM estas
palavras, não sei se são um refrão ou formam
parte de uma canção popular, mas dizem: “o
amor é o que faz girar o mundo”. Qualquer
criança em idade escolar sabe que o mundo gira
porque não pode parar de rodar sobre o seu eixo.
No entanto, ao olhar para a Marta e o Miguel,
penso que é absolutamente certo que é o amor
que faz girar “o mundo deles”...
Exemplo 3
HÁ UMA CANÇÃO QUE DIZ “Por que eu sou
sempre a madrinha, e nunca a noiva?”. Bem, eu
gostaria de mudar um pouco a letra: “Por quê sou
sempre o padrinho, e nunca o noivo?” Porque
este é o terceiro casamento no qual sou o
padrinho, e eu gostaria de deixar de ser amador e
passar à primeira divisão.

As citações podem ser cínicas, divertidas, picantes, no


entanto nunca ofensivas. Nunca inclua comentários
desagradáveis ou que possam agredir os ouvintes. Pense que
o que nos parece divertido, pode ser uma crueldade para a
outra pessoa.
Eis algumas citações que pode introduzir no seu
discurso ou brinde:

Sobre o casamento e o amor

3 O amor é o melhor. (Robert Brouming)


3 O amor é melhor que o ouro e que todas as riquezas.
(John Lydgate)
3 O amor é o que faz girar o mundo. (Anónimo)
3 Se nunca foste amado, nunca viveste. (John Gray)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -103

3 Duas almas, no entanto, só um pensamento, dois


corações num único batimento. (Maria Loweil)
3 As mulheres foram feitas para serem amadas, não para
ser compreendidas. (Oscar Wilde)
3 Tudo pelo amor, e nada pelo interesse. (Edmund
Spencer)
3 O devir do verdadeiro amor nunca é um caminho plano.
(William Shakespeare)
3 O melhor e o mais bonito deste mundo não se pode ver
nem tocar. Só se pode sentir no coração. (Helen Keller)
3 O amor consola como o resplendor do sol depois da
chuva. (William Shakespeare)
3 Lá onde estiver, num paraíso maravilhoso, só uma coisa:
tu. (Alejandro Sanz)
3 Casar-se significa que se encontras uma boa mulher,
serás feliz; e se encontras uma má, serás filósofo.
(Sócrates)
3 O que amaste ficará, o resto é apenas cinzas. (São
Agostinho)
3 O amor é como o fogo. Vêm antes a fumaça os que estão
fora que as chamas os que estão dentro. (Jacinto
Benavente)
3 Uma mulher inteligente que lê o contrato de casamento e
casa merece arcar com as consequências. (Isadora
Duncan)
3 O que o amor faz, ele mesmo o desculpa. (Molière)
3 Nos assuntos de amor, os loucos são os que têm mais
experiência. De amor não perguntes nunca aos
prudentes; os prudentes amam prudentemente, que é o
mesmo que não ter amado nunca. (Jacinto Benavente)
3 O casamento é uma espécie de amizade reconhecida
pela polícia. (Robert L. Stevenson)
3 O casamento é uma instituição extraordinária, mas
quem quer viver numa instituição? (Groucho Marx)
3 O amor é a poesia dos sentidos. (Honoré de Balzac)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -104

3 O amor sem admiração é apenas amizade. (Aurore


Dupin)
3 O casamento divide em duas a tristeza, dobra as
alegrias e quadruplica as despesas. (G.K. Chesterton)
3 Um homem que diz poder ver através de uma mulher
está perdido. (Groucho Marx)
3 Amor e casamento, amor e casamento, vão juntos como o
cavalo e a carroça. (Sammy Cahn)
3 O amor é como a febre: surge e aumenta contra a nossa
vontade. (Marte Henri Beyle)
3 Quem pode dizer quanto ama, pequeno amor sente.
(Francesco Petrarca)
3 A idade não protege do amor, no entanto o amor protege
da idade. (Jeanne Moreau)
3 É divertido pensar que quando o homem estava sozinho
na terra, sem nada que o preocupasse, veio e criou o
casamento. (Robert Frost)
3 O matrimónio é popular porque combina a máxima
tentação com o máximo de oportunidades. (George B.
Shaw)
3 Casar é muito bom, não casar é ainda melhor. (São
Agostinho)
3 O casamento tem alguns inconvenientes, no entanto ser
solteiro não é nada agradável. (Samuel Johnson)
3 O amor não é só um sentimento; também é uma arte.
(Honoré de Balzac)
3 Frequentemente o homem ama pouco, enquanto que a
mulher ama muito e raramente. (Jan Basta)
3 O amor é como o fogo, que se não se comunica se apaga.
(Giovani Papini)
3 Seduzimos valendo-nos de mentiras e pretendemos ser
amados por nós mesmos. (Paul Geraldy)
3 Se te casas, lamentá-lo-ás, se não te casas também o
lamentarás. (Soren Kierkegaard)
3 Deus, o melhor casamenteiro, junta os vossos corações
em um só. (William Shakespeare)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -105

3 A felicidade dos casados é o sonho para atrair os outros


tontos para o casamento. (Samuel Pepys)
3 O segredo de um casamento feliz é perdoar-se
mutuamente por se casar. (Sacha Guitry)
3 Uma pessoa pode sentir-se só, ainda que muita gente a
queira. (Do diário de Ana Frank)
3 O amor nunca morre de fome, senão, com frequência, de
indigestão. (Ninon de Lenclos)
3 O amor pode ser um passatempo e uma tragédia.
(Isadora Duncan)
3 Certamente existem muitas razões para os divórcios;
mas a principal sempre foi e sempre será o casamento.
(Jerry Lewis)
3 O amor é cego, no entanto o casamento restaura-lhe a
vista. (G.C. Lichtenberg)
3 Mantém os teus olhos bem abertos antes do casamento,
e meio fechados depois dele. (Benjamin Franklin)
3 Nenhuma pessoa se ama tão pouco a si mesma.
(Benjamin Whichcote)
3 Advertência a propósito do casamento: não o faça.
(Punch)
3 Os casamentos são feitos no céu. (Lord Tennyson)
3 Há seis requisitos para se ter um casamento feliz; o
primeiro é ter fé e os outros cinco são confiança. (Elbert
Hubbard)
3 O amor é a mais nobre fraqueza do espírito. (John
Dryden)
3 O melhor casamento seria aquele que pudesse reunir
uma cega com um marido surdo. (Michel de Montaigne)
3 O amor nasce da lembrança, vive da inteligência e morre
por esquecimento. (Ramón Llull)
3 Casa-te; e se por casualidade encontras uma boa
mulher, serás feliz; se não, serás filósofo, o que sempre
é útil para um homem. (Sófocles)
3 O amor é como a maionese: quando se corta, deitamos
fora e começamos outra vez. (Enrique Jardiel Poncela)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -106

3 O casamento baseia-se na teoria de que quando um


homem descobre uma marca de cerveja com um sabor
particular, deixa tudo para consegui-la. (George Jean
Nathan)
3 O amor é uma tolice feita por dois. (Napoleão)
3 O amor tem entrada fácil e saída difícil. (Lope de Vega)
3 O amor: é só uma eternidade que não se alcança. (Percy
B.Shelley)
3 O amor dos jovens não está no coração, mas sim nos
olhos. (William Shakespeare)
3 O amor que nasce subitamente é o que mais demora em
curar-se (Jean de Bruyetildere)
3 Para Adão o paraíso é onde estava Eva.(Mark Twain)
3 Dizem que o homem não é homem enquanto que não
ouve o seu nome nos lábios de uma mulher. (Antonio
Machado)
3 O casamento consiste em tratar de solucionar entre dois
os problemas que jamais surgiriam se estivesse a sós.
(Eddy Cantor)
3 Um casal feliz é como uma longa conversação que
parece muito curta. (André Maurois)
3 O homem que não amou apaixonadamente ignora a
parte mais bela da vida. (Stendhal)
3 O amor não consiste em olhar-se um ao outro, mas sim
em olhar na mesma direcção. (Antoine de Saint Exupéry)
3 Amar é o mais poderoso feitiço para ser amado.
(Baltasar Gracián)
3 Sempre há um pouco de loucura no amor, e por outro
lado sempre há um pouco de razão na loucura.
(Friedrich Nietzsche)
3 Só há um amor até a morte: o último. (Jacinto
Miquelarena)
3 O amor é um espírito dentro de duas formas. (Percy B.
Shelley)
3 Qualquer homem pode chegar a ser feliz com uma
mulher, contanto que não a ame. (Oscar Wilde)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -107

3 Temer o amor é temer a vida, e os que temem a vida já


estão meio mortos. (Bertrand Russell)
3 Há quem teme o desejo de amar, no entanto não a
capacidade de amar. (Giovani Papini)
3 A liberdade é incompatível com o amor. Um amante é
sempre um escravo. (A.L. Germaine)
3 A distância não existe quando nos separemos, a
distância existirá quando não voltarmos. (Alejandro
Sanz)

Segundo casamento

3 O triunfo da esperança sobre a experiência. (Dr. Samuel


Johnson)
3 Somos os segundos; e seguimos tentando. (Lema
publicitário de Avis)
3 Quando os viúvos disparatam sobre o segundo
casamento, eu aposto que o dia do casamento já está
decidido. (Henry Fielding)
3 Ainda não sou tão velho nem tão simples. Não estou o
bastante preparado para me casar outra vez. (W. S.
Gilbert)
3 Sócrates morreu de overdose de matrimónio. (Resposta a
uma pergunta num exame)
3 Escolhi a minha esposa e ela escolheu o seu vestido de
noiva. Nenhum dos dois acertou com a qualidade.
(Oliver Goldsmith)

Maridos e mulheres

3 Ser marido é um trabalho à jornada completa. (Arnold


Bennett)
3 Todos os maridos são iguais, no entanto têm diferentes
caras de longe. (Ogden Nash)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -108

3 Um marido é um homem que dois minutos depois de cair


no travesseiro, ronca como um helicóptero. (Ogden Nash)
3 As últimas palavras de um homem casado sempre são:
“de acordo, pode comprar”. (N.P. Willis)
3 Ser um marido é como qualquer outro trabalho, é mais
quando se gosta do chefe. (Anónimo)
3 O marido modelo é aquele que, quando sua mulher sai,
lava os pratos. Os dos dois! [N.P. Willis)
3 Um bom marido faz uma boa esposa. (N.P. Willis)
3 Maridos, amem as vossas esposas, e não sejam cruéis
com elas. (Bíblia)
3 Quem segue a sua esposa em tudo é um ignorante.
(Talmud)
3 A esposa ideal é uma mulher com um marido ideal.
(Tarkingtion)
3 Quando uma mulher se casa, é o mesmo que saltar um
desfiladeiro no gelo em pleno Inverno, faz-se uma vez e
lembra-se por toda a vida. (Maxim Gorky)
3 Todos os homens que chegaram longe estão convencidos
de que o conseguiram por si mesmos. As suas esposas
sorriem e deixam que acreditem. É sua melhor pilhéria.
Todas as mulheres sabem disso. (J.M. Barrie)
3 Os homens que dizem que as suas mulheres não sabem
fazer chistes mas esquecem o que lhes fizeram com eles.
(Oscar Wilde)
3 Não podes ter segredos com a tua mulher, ela sempre os
averiguará. (Oscar Wilde)

Vários

3 Nunca discutas na mesa, quem não estiver faminto terá


o melhor argumento. (Richard Whately)
3 Noventa e nove por cento dos atritos da vida quotidiana
são produzidos pelo tom de voz. (Arnold Bennett)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -109

3 Tudo o que uma mulher faz o homem pode fazer em


dobro. Por sorte, isso não é muito difícil. (Charlotte
Whitton)
3 Não há nenhum lugar como o lar, depois de que todos os
demais estão cerrados. (Anónimo)
3 A grande pergunta que nunca consegui responder é: O
que é que querem as mulheres? (Sigmund Freud)
3 O prato mais perigoso que um homem pode comer é a
torta de casamento. (Provérbio)
3 Não há nada no mundo como a devoção de uma mulher
casada; isso é algo que todos os solteiros sabem muito
bem. (Oscar Wilde)
3 Às vezes cito-me a mim mesmo, isso anima a minha
conversação. (George B. Shaw)
3 O dinheiro não pode comprar a felicidade, no entanto
pode pagar o salário de um grupo de assessores para
que estudem o problema. (Bill Vaughan)
3 Quando um homem senta-se com uma linda rapariga
durante uma hora, parece-lhe que passou um minuto.
No entanto, se se senta numa chapa quente durante um
minuto, o tempo parecer-lhe-á muito mais longo que uma
hora. Isso é a relatividade. (Albert Einstein)
3 Às vezes um homem apaixona-se por um sorriso e
comete o erro de se casar com a rapariga inteira.
(Stephen Leacock)
3 O meu pai deu-me um bom conselho para preparar os
discursos: seja sincero, seja breve e sente-se. (James
Roosevelt)
3 Se não encontras petróleo em dez minutos, desista e
deixe de perfurar. (Oscar Wilde)
3 As mulheres têm os seus defeitos, os homens têm
apenas dois: tudo o dizem e tudo o que fazem.
(Anónimo)
3 Ela é uma rapariga extraordinária. O nosso noivado foi
rápido e furioso. Eu fui rápido, e ela, furiosa. (Max
Kauffmann)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -110

3 Os homens são como os peixes; nunca se meteriam em


problemas se mantivessem a sua boca fechada.
(Anónimo)

Os brindes informais

Os brindes, necessariamente, não têm de ser sempre os


tradicionais sobre a saúde, a felicidade, etc. Neste livro você
encontrará alguns exemplos não tão formais. Pode utilizá-los
naquelas ocasiões onde a pompa é substituída pela simpatia.

3 Pelos amigos: “Que a sorte seja tão generosa consigo,


assim como vocês foram com os vossos amigos”.
3 Pelo marido: “Homem entre as crianças; criança entre
os homens; e sempre adorável.
3 Pelos noivos: “Longa vida e felicidade porque a vossa
longa vida será a minha felicidade”.
3 Pelos noivos: “Encantar-nos-ia ser novamente
convidados para as vossas bodas de ouro.
3 Pela noiva: “Divide tudo com o teu marido, inclusive as
tarefas do lar”.
3 Pelo noivo: “Hoje nos deixa por uma vida melhor. No
entanto, nós não te deixaremos jamais”.
3 Pelo noivo: “Que vivas tanto como queiras, e que o que
queiras dure toda a tua vida.
3 Pelos noivos: “Vivam hoje como se fosse o último dia! E
lembrem-se de que este é o primeiro dia do que resta
das vossas vidas”.
3 Pelo noivo: “A esse nervoso, instável, inquieto,
impaciente, incómodo e no entanto invejável colega, o
noivo”.
3 Pela noiva: “Lembre o teu marido de que está em
período de prova, podes devolvê-lo ou trocá-lo, no
entanto jamais se poderá devolver o amor”.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -111

3 Pela madrinha: “Que hoje se converta em realidade o


refrão que diz que uma madrinha feliz faz um
casamento feliz”.
3 Pelos noivos: “Quando se deslizem pela galeria da vida,
as estilhas estarão do outro lado”.
3 Pelos noivos: “Desejo saúde, desejo felicidade, riqueza,
desejo ao casal todo o céu. E o quê mais eu poderia
desejar aos noivos?”
3 Pelos noivos: “O casamento é uma instituição. O
casamento é amor. O amor é cego. Logo, casamento é
uma instituição para cegos”.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -112

ANEDOTAS E HISTÓRIAS DIVERTIDAS PARA


OS CASAMENTOS
Os tempos mudaram e agora nos discursos de
casamento podemos introduzir algumas anedotas divertidas e
inclusive algumas piadinhas. Por certo, isso não inclui os
comentários cruéis, as anedotas embaraçosas nem as piadas
de mal gosto.
O padrinho tem entre as suas funções a de ser uma
espécie de “animador” da comemoração, e portanto os
convidados esperam que o seu discurso seja divertido. As
anedotas divertidas e o humor fazem com que os discursos
ganhem mais vida e que se escutem da melhor maneira. A
maioria de nós não tem o talento humorístico dos
profissionais, no entanto, não se preocupe, não lhe fará falta.
Se o humor não é o seu forte, melhor procurar
anedotas divertidas, situações curiosas nas quais já
estivemos envolvidos, juntamente com os noivos. Tente,
também, adaptar os chistes à situação. Desta forma serão
melhor aceites e você não parecerá um simples contador de
piadas.
A seguir apresentamos uma selecção de comentários
humorísticos apropriados para os casamentos; use-os se lhe
parece conveniente.

Para o pai da noiva

Quando a Marta era miúda, chegou em casa


gritando que uma menina lhe agredira. A sua
mãe perguntou-lhe: “Foi uma das mais velhas?
Revidaste o golpe?” disse – e a Marta disse –
“Não, não, eu lhe bati primeiro”.

Æ
Aviso para a noiva. Trate-o como o teu
bichinho de estimação, três refeições por dia,
muito amor e uma boa correia.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -113

Æ
As coisas mudaram. Quando nós saíamos do
trabalho, regressando à casa, costumávamos
perguntar: “O quê é que faremos para o jantar?”
Agora a pergunta é: “O quê é que
descongelaremos?”

Æ
Dois homens, sentados à beira do rio,
estavam a pescar. Era uma manhã de domingo e
os sinos das igrejas estavam a soar. “Sinto-me
um pouco culpado – diz um deles –, deveríamos
estar na igreja, em vez de estarmos aqui
pescando”. “Eu não me sinto culpado – diz o
outro – de todas formas eu não poderia ir à igreja
hoje, a minha mulher está doente”.

Æ
A melhor maneira de lembrar para sempre o
aniversário da tua mulher consiste em esquecê-lo
uma única vez.

Æ
Uma recém casada diz ao seu marido:
“Querido, estava passando as tuas calças e
queimaram-se; têm um furo terrível!. “Não te
preocupes, querida, este traje tem duas calças”.
“Sim, eu já sei – diz ela –, usei o outro para pôr
um remendo no furo”

Æ
Adão: Eva, realmente me amas?
Eva: E a quem vou amar senão?
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -114

Æ
Todos dizem que o casamento ensina
moderação, prudência, fidelidade e outras
virtudes que nós, os solteiros, não necessitamos
para nada.

Para o noivo
André é uma pessoa realmente tolerante.
Sempre diz: “Seja tolerante com aquelas pessoas
com as que não estás de acordo. Elas têm o
direito a terem as suas estúpidas opiniões”.

Æ
No nosso primeiro encontro, o pai da Carmem
disse-me que ela tinha dito que estava a fazer o
último retoque na sua maquiagem, no entanto,
desceria logo. Então acrescentou: “Pronto para
uma partida de xadrez?”.

Æ
Tenho uma receita infalível para curar todos
os males. Apenas se necessita uma vela e uma
garrafa de champanhe. Acendes a vela, bebes a
taça e esperas cinco minutos. Depois bebes outra
taça e repetes até que se apague a vela. Podes
continuar até esgotar três velas. Por último,
assopras e dormes.

Æ
Ela: Casar-nos-emos logo?
Ele: Querida, ainda temos que economizar
muito para comprar a nossa casa.
Ela: Poderíamos morar com os teus pais.
Ele: É impossível, eles ainda estão a morar
com os seus!
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -115

Æ
É curioso como as mulheres preferem os homens
com passado. Claro, um homem com presente é
muito popular.

Para o padrinho
Duas senhoras maduras estão a falar de
matrimónio: “Há vinte anos que não vejo o meu
marido – diz uma – ele saiu para comprar uma
couve-flor e não voltou mais”. “E então o que
fizestes?” – pergunta a outra – “Ah! Eu abri uma
lata de ervilhas...”

Æ
Assim é o casamento de um meteorologista.
Duas frentes de chuva encontram-se, e depois sai
o sol.

Æ
Muitos casais são infelizes nos seus
casamentos, mas felizmente eles não sabem.

Æ
A Maria e o Jorge formam um casal muito
independente. Não penso que isso seja ruim,
salvo quando enviam felicitações de natal
individuais às mesmas pessoas;

Æ
António, lembre-se de que em nenhum lugar
é como estar em casa. Sobretudo quando já se
cerraram todos os lugares fora!
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -116

FESTAS DE COMPROMISSO E DESPEDIDAS


DE SOLTEIRO
As festas de compromisso não são muito cerimoniais.
Normalmente os convidados não esperam ouvir grandes
discursos, preferem mover-se livremente, conversar com os
demais e desfrutar de uma festa animada. Se lhe corresponde
fazer um discurso de compromisso, apenas tem de seguir o
seguinte exemplo:

Exemplo
ESTA NOITE ESTAMOS a festejar porque o
Xavier presenteou à Marta um anel de
compromisso. Congratulamo-nos e desejamos-
lhes que sejam muito felizes. Os dois são muito
afortunados, ninguém pode dizer que a Marta
deu o “golpe do baú”. De facto, é o Xavier que sai
ganhando com este compromisso, pois a Marta
convertê-lo-á num verdadeiro latifundiário.
Obrigado por permitir que compartilhemos
este momento, e obrigado por serem nossos
amigos. Um cínico dizia-me outro dia que o
compromisso é o momento em que as raparigas
estão a perguntar-se se não podiam ter
encontrado alguém melhor.
A Marta não pensa nisso. Ela está a desejar
que chegue logo o dia em que o Xavier ponha-lhe
o anel de casamento. E nós também o esperamos
com impaciência e desejamos-lhes boa sorte.
No entanto, haverá um terceiro anel, em
torno ao qual nos reuniremos outra vez para dar-
lhes as nossas felicitações. Não imaginam qual é
este terceiro anel? O anel de dentição, é claro.
Quero fazer um brinde pela Marta e pelo
Xavier. E que Deus seja bondoso com eles,
dando-lhes saúde e felicidade. Pela Marta e pelo
Xavier!
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -117

Despedidas de solteiro

As festas de despedida de solteiro são muito flexíveis,


apenas se trata de que os amigos do noivo e ele mesmo saiam
para se divertir sem as suas noivas ou esposas. O único que
está proibido neste tipo de festas são as alusões à noiva,
como é, como foi, o seu aspecto ou anatomia. Algum estúpido
comentário sobre essas questões poderia arruinar a festa e
estragar o casamento.
Às vezes, a despedida consiste num simples jantar
entre amigos, e então os discursos são uma parte importante
da festa. Oferecemos um exemplo que pode ser utilizado
como guia.

Exemplo
ESTA É A ÚLTIMA NOITE de solteiro do João.
Não sei que tipo de vírus tão estranho que o
atacou para se comprometer num casamento.
Mas não posso acreditar que ele está tão “ligado”
em alguém.
Talvez seja porque ele ouviu aquilo de que a
vida conjugal é mais barata. Eu acredito que isso
só é certo no natal. O resto do ano é uma asneira.
Parece que o João não tem dúvidas. Sugiro-
lhe que calcule quanto lhe vai custar a lua-de-
mel. Isso é apenas uma pequena parte do que lhe
espera. Depois dessas mini férias terá outro
chefe.
Não pensem que eu tenho algo contra a Cris.
Ela é uma rapariga extraordinária e sem via de
dúvidas, ela será uma esposa maravilhosa para o
João.
Espero que quando tu sejas um velhinho que
continues a gostar dessa capacidade de
conversação da Cris, lembra-te que todo o
casamento é para sempre...
Talvez o problema seja que o João está
cansado da vida de solteiro, de ir por aí de flor em
flor, uma após a outra.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -118

Penso que isso já não ocorrerá mais. Só um


milagre pode salvar o nosso amigo do casamento.
E já sabemos que nos nossos dias não acontecem
muitos milagres. Inclusive tem gente que nem
sabe o que são os milagres. Um exemplo disso
era um sujeito de um pequeno povoado
longínquo, que pediu ao padre da sua paróquia
que lhe explicasse o que era um milagre. Depois
de longas explicações, o aldeão pediu que o padre
desse um exemplo, porque ainda não entendia. O
padre disse: “Sim, claro, vire para trás”. O sujeito
virou-se e o padre deu-lhe um bom pontapé no
traseiro.
“Notaste um pontapé?” – perguntou-lhe.
“Claro, como não notaria? Que pontapé!” –
respondeu.
“Bem, pois isso teria sido um milagre se não
tivesses notado” – concluiu o padre.
Pobre Joãozinho! Vai receber uns bons
pontapés esta noite. Começa a guardar certo
remorso na cabeça. Confesso, estou implicando
com ele só por puro egoísmo. Tenho medo de que
se tranque, quando esteja casado, no seu lar e
esqueça dos amigos do passado.
Desejo-lhe a melhor e maior sorte. Sei que
este casamento será um sucesso total. E então,
bebamos por isso!

Apresentação de artistas

Em algumas despedidas costuma-se contratar a


artistas de diversos tipos; podem ser profissionais ou amigos
com alguma qualidade artística.
Nestes casos é conveniente que alguém exerça o papel
de organizador-animador. O melhor é que seja o próprio
padrinho, excepto se alguém do grupo tem experiência na
organização deste tipo de actos. O programa das actuações
deve planificar-se cuidadosamente e o animador deve prever
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -119

as actuações com antecedência. Quanto à duração, o mais


apropriado é que cada número dure um máximo de dez
minutos, desta forma ninguém terá tempo de se cansar.
O animador encarregar-se-á de apresentar cada
actuação; pode fazê-lo tal como se vê no seguinte exemplo:

Exemplo
FAZ MUITO TEMPO, os senhores casavam-se
imensamente nos seus castelos, até que alguém
inventou os artistas. Agora teremos o prazer de
desfrutar com o trabalho de alguns dos melhores.
Mas antes, sentem-se e fiquem à vontade.
Está previsto que durante os intervalos entre as
actuações todos podem aproximar-se ao balcão
para pedir bebidas. Se se encarregam também de
servir os amigos, agradecê-lo-ão.
Cavalheiros, tenho o prazer de lhes
apresentar o show de [nome do artista].

Uma vez terminadas as actuações, pode continuar


assim:
Tenho certeza de que querem agradecer-me
pelo espectáculo extraordinário que acabámos de
ver. A duração dos aplausos parece-me uma
prova convincente da vossa satisfação. Muito
obrigado. Brindo pela nossa amizade e pelo vosso
bom gosto para o espectáculo.

Há outro tipo de despedidas de solteiro muito mais


habituais. Costumam celebrar-se em algum estabelecimento
de hotelaria. Neste caso, as actuações têm um carácter mais
privativo e a bebida corre mais alegremente.
A organização também costuma ser por conta do
padrinho, que é quem se encarregará de fazer uma estimativa
dos custos da festa, para que cada convidado contribua com
a sua parte.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -120

Neste tipo de festa não se fazem discursos, nem é


necessário que o padrinho apresente os artistas, pois disso
encarregar-se-á alguém do local. O habitual é que se façam
muitos brindes e que se adornem com chistes ou com
anedotas divertidas.
Lembre-se de que ainda que seja uma festa muito
informal, muito mais livre que o habitual, não deve perder-se
o bom gosto. Evite os chistes cruéis e grosseiros.

Brinde humorístico

Nas despedidas de solteiro é muito habitual que,


enquanto se servem as bebidas, façam-se brindes de carácter
humorístico para continuar bebendo com alegria.
Eis aqui um exemplo no qual participam todos
participantes da festa. No caso de que eles não o conheçam, é
melhor que se entregue uma cópia a cada uno.

Exemplo 1
Animador (A): Estamos todos aqui?
Participantes (P): Estamos.
A: Como cavalheiros
P: Sim
A: E às mulheres
P: amamos,
A: Mas ante tudo,
Todos: (Bebamos, bebamos, bebamos)
A: Já bebeu o nosso pai Adão?
P: Bebeu.
A: Bebeu a nossa mãe Eva?
P: Ah, quão boa era!
A: Quem bebe,
P: fica bêbado.
A: Quem fica bêbado,
P: dorme.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -121

A: Quem sonha,
P: Não peca.
A: Quem não peca,
P: Vai para o céu,
A: E posto que ao céu vamos,
Todos: bebamos, bebamos, bebamos.
A: Ah! líquido infernal! Que te criaste entre
verdes matas e até ao homem mais cabal lhe
fazes andar a gatas.

Exemplo 2
A: Por elas.
P: Pelas mais belas,
A: Pelas de traseiro grande,
P: Pelas de pescoço longo,
A: Pelas que oferecem os seus lábios
desinteressadamente
P: Ainda que estejam cheios de teias de aranha.
A: Pelas mulheres.
Todos: Não! Pelas garrafas!

Exemplo 3
A: Veio Deus ao mundo?
P: Veio.
A: E para quem vinho?
P: Para todos Ele veio.
A: E como veio?
P; Em botas.
A: E a mulher?
P: Nua.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -122

Exemplo 4
A: Se Deus, bêbados não tem
P: Será porque nos convém.
A: Antes que não nos conhecíamos,
P: Bebíamos.
A: Agora que nos conhecemos.
P: Bebemos.
Todos: Pois bebamos, bebamos, bebamos, até que
nos conheçamos.

OUTRAS COMEMORAÇÕES FAMILIARES


Bodas de prata e de ouro

Nas bodas de prata, os casais ainda são o


suficientemente jovens para fazer com que esta seja uma
celebração divertida.
Os discursos constituem uma mistura de informalidade
e seriedade.

Exemplo 1
CORREM POR AÍ MUITAS HISTÓRIAS sobre o
casamento, a maioria costuma ser pouco
alagadora para a mulher. Já sabem aquelas
como: “um bom marido é aquele que lava a louça
quando lhe pedem e seca-os quando lhe dizem”.
“Cada vez que discutas com a tua mulher, as
palavras votar-se-ão contra ti”. “O casamento é
um descobrimento, e alguns ficam com cada
descobrimento...!”. Se alguém quer comprovar a
veracidade destes chistes apenas tem de
comparecer a uma celebração como esta.
Um casal que tem 20 anos de feliz
matrimónio diz que o segredo da sua felicidade
consiste em que cada um pense do outro que é o
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -123

seu melhor amigo. A palavra para designar a


todos os demais amigos é “nossos”.
Francisco e Maria, hoje estamos celebrando
as vossas bodas de prata. 25 anos é muito
tempo. Depois de tantos anos, pensam que ainda
se reconhecem um ao outro?
Fisicamente, é evidente que sim. No entanto
penso que a sua personalidade foi mudando com
o tempo. Ambos deram tudo ao outro e
receberam tudo do outro. Foram como um só. E
cada um é hoje o produto dessa união.
Congratulamo-nos em compartilhar com eles
esta celebração e esperamos reunir-nos de novo
nas suas bodas de ouro. E agora o brinde: Saúde
e muitos anos de felicidade para o Francisco e a
Maria!

Numa boda de ouro, os discursos podem ser mais


sentimentais. Costumam estar presentes os filhos, os netos e
talvez um bisneto. O seguinte exemplo é adequado para a
ocasião:

Exemplo 2
HOJE ESTAMOS A CELEBRAR um
acontecimento bem pouco frequente nos nossos
dias. Cinquenta anos de casamento não são
pouca coisa. De facto, cinquenta anos em
qualquer trabalho hoje em dia é um record. E o
casamento é um trabalho, tens de trabalhar nele
para que funcione bem e dure tanto tempo. A
Isabel e o Henrique trabalharam muito bem,
dando e recebendo, amando e sendo amados,
como parte indivisíveis de um todo.
Há cinquenta anos, a Isabel e o Henrique
eram dois jovens cheios de energia e ambições
preparando-se para uma nova vida juntos. Custa
acreditar nos tipos de chistes que se contavam
sobre o casamento naqueles dias. “Em cada lar
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -124

há dois ingredientes para um assassinato


perfeito: um marido e uma esposa.
Ou este outro: “Em casa, eu tomo as decisões
importantes e a minha mulher decide os
detalhes”. “Quais decisões são as importantes?”
“Não sei, em vinte anos de casados ainda não
tomei nenhuma”. Suponho que no seu tempo
deviam ser muito divertidos. Em cinquenta anos
de vida conjugal, a Isabel e o Henrique terão
escutado muitos chistes como estes, terão rido e
inclusive terão repetido.
Outro dia, ouvi por casualidade que um
homem perguntava a outro se acreditava na
reencarnação. Respondeu rapidamente. “Oh, sim,
quero ser o segundo marido da minha esposa”.
Certamente que essa também é a ambição de
Isabel e do Henrique, se é que temos uma
segunda oportunidade de vida.
Eles podem estar muito orgulhosos um do
outro. A sua família também está muito feliz com
eles. Penso que agora mesmo as lembranças
estão acumulando-se na sua memória. Este é um
momento para os sentimentos e para as
felicitações.
Sinto-me muito honrado de ter o privilégio de
propor um brinde em honra de duas pessoas tão
encantadoras como a Isabel e o Henrique.
Que Deus conceda a eles muitos anos de
felicidade em companhia da vossa família, amigos
e vizinhos. Senhoras e senhores, ergam as taças
comigo. Pela Isabel e pelo Henrique! Que Deus os
abençoe!

Baptizados

Os baptismos não são festas de grandes discursos, mas


sim celebrações íntimas nas quais se costuma dizer poucas
palavras.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -125

Exemplo
OUTRO DIA, uma criança perguntava à sua
mãe: “A cegonha é quem traz as crianças. – Sim –
disse a mãe –·” “E o Senhor alimenta-as a cada
dia?” “Sim, querido” “E os reis magos dão-lhes
presentes.” “Sim!” “Então, o que é que fazem os
pais?”
Eu gostaria de dizer a esta criança o quê é
que faz um pai. Nós não estaríamos aqui
desfrutando desta festa sem um pai. Mas este
não é momento de filosofar sobre a figura do pai.
Estamos aqui para felicitar o João e a Marta pela
maravilhosa criança que tiveram. Tenho certeza
de que os encherá de orgulho e felicidade”.
Desejo, sinceramente, que a felicidade que
reflectem hoje os seus rostos, sempre os
acompanhe.
Tenho a certeza que serão excelentes pais e
tomarão a decisão acertada em cada momento.

Maior idade

As festas de comemoração da maior idade devem ser


muito divertidas, portanto não deixa lugar para discursos
muito longos.
Em alguns lugares a tradição consiste em presentear
ao homenageado uma chave de ouro, como símbolo da sua
nova condição de adulto. Se se quer fazer um discurso o
momento mais adequado será antes de entregar o obséquio.

Exemplo
SENHORAS E SENHORES, a maturidade é
muito honorável, costuma dizer-se. No entanto, a
verdade é que a melhor é quando se tem dezoito
anos. É o aniversário que com mais ansiedade
esperamos. O mais desejado por todos. O que
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -126

melhor lembramos. Mais adiante, muitas pessoas


gostam de lembrar dos seus aniversários, mas
não a idade que cumprem.
Mas todos aqui são ainda muito jovens para
pensar nisso. Têm por diante toda a vida.
Permitam-me que lhes dê um conselho de
George B. Shaw. “Não resistas às tentações,
provem tudo e escolham o bom e desprezem o
mal”.
Reunimo-nos aqui para felicitar o João, que
hoje alcançou a maior idade. Por isso peço-lhes
que brindem comigo pela sua saúde e felicidade.
Que ambas te acompanhem durante toda a tua
vida. Bebamos por isso.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -127

O ÂMBITO SOCIAL E
PROFISSIONAL
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -128

Nestes dois meios é bastante habitual o


pronunciamento de discursos. Costuma-se pedir ao anfitrião
que dedique algumas palavras. Este deixa a entender que não
esperava e... tira do bolso algumas notas preparadas para a
ocasião.
Quando se trata de actos protocolares é o
Departamento de Relações Exteriores, Relações Públicas ou
Imprensa que se encarrega de elaborar o discurso. Mas na
maioria das ocasiões é melhor limitar-se a algumas breves
palavras ditas com sinceridade. Os discursos longos e lidos
costumam aborrecer, ainda mais depois de um farto e
suculento almoço.
Se o discurso deve ser pronunciado durante o almoço
ou o jantar, o momento adequado pode ser:

3 No final da sobremesa, quando se sirva o café e os


licores, sempre que se sirvam em outra mesa.
3 Cinco minutos depois de servidos o café e os licores, se
se servem na mesma mesa.

Ordem dos discursos

Para os discursos que se façam fora das refeições e com


mais de um orador é necessário estabelecer de antemão uma
ordem de actuação.
Segundo o protocolo, deve começar e terminar pela
pessoa de mais alta categoria funcional. Vejamos um
exemplo: inaugura-se um congresso político em Lisboa e os
oradores a intervir são: o anfitrião; o presidente da câmara da
cidade; o presidente; o vice-presidente e o presidente do
congresso. Seguindo o protocolo, a ordem ficaria assim:

3 O presidente, que cumprimenta todos os presentes e


cede a palavra sucessivamente aos seguintes.
3 O vice-presidente do congresso.
3 O presidente do congresso.
3 O presidente da câmara da cidade.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -129

3 Termina outra vez o presidente com algumas palavras,


para dar por inaugurado o congresso.

Um acto deste tipo tem una breve duração,


aproximadamente 20 minutos, o que supõe mais o menos 5
para cada orador.
Em algumas ocasiões é possível combinar com os chefes
de protocolo das Câmaras e governos, de forma que possa
começar o anfitrião, seguido pelo prefeito, que dá as boas
vindas aos assistentes, e deixar o presidente encerre o acto.
Tenha presente que nos actos empresariais o protocolo pode
ser mais aberto que nos actos institucionais.

APRESENTAÇÃO DOS CONFERENCIANTES


OU CONVIDADOS
A base de toda apresentação é lembrar bem o nome do
convidado. Parece óbvio, no entanto, os nervos do momento
podem criar uma situação desagradável. Evite esse problema
tendo o nome ou nomes anotados claramente em papel. Não
pense que é um erro tão estranho: em 1970, durante as
eleições gerais do Reino Unido, o dirigente de um dos partidos
políticos tinha de apresentar o Sr. Edward Heath, facendo-lo
da seguinte maneira:
“Depois de pouco tempo transcorrido desde que o
nosso convidado de honra fosse eleito o líder do nosso
partido, o seu nome já era algo familiar na boca de todo o
mundo. Tenho a honra e o prazer de lhes apresentar o nosso
primeiro-ministro, o senhor... eeeeh...mmmm... eee...”. O
auditório certamente não teve uma boa impressão de
nenhum dos dois.
A tão conhecida fórmula “o convidado de hoje não
necessita apresentação” costuma ser interpretada como que o
apresentador não se deu ao trabalho de se informar
previamente. Não é tão difícil obter a informação sobre
qualquer convidado, é possível recorrer a uma bibliografia ou
perguntar aos seus colaboradores. Caso não disponha de
tempo para a pesquisa, pergunte ao próprio convidado.
Aproxime-se momentos antes e diga-lhe algo assim: “Vou ter
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -130

de apresentar o Sr. à nossa audiência. Como deseja que o


faça? A qual dos seus cargos prefere que me refira?
Em todo caso é melhor informar-se bem, já que
algumas pessoas preferem destacar algumas facetas e manter
outras em segundo plano. Imagine que deve apresentar
alguém que ascendeu socialmente partindo de uma origem
humilde. Pode que goste de o destacar ou, ao contrário,
prefira mantê-lo oculto.
O melhor é recorrer aos aspectos mais conhecidos
sobre a vida do convidado. Tente intercalar elogios à sua
empresa ou à sua família, mas evite dizer coisas como:

3 “Estamos muito contentes por ter ao nosso lado o Sr. X.


Será um prazer escutar o filho de alguém tão importante
na nossa indústria...”
3 “Este distinto senhor é o Sr. X, membro de uma
afamada família...”
3 “Infelizmente, o Sr. X não pode comparecer a esta
reunião. No entanto temos a sorte de que o Sr. Y tenha
consentido dedicar-nos algumas palavras.”

Tente outras fórmulas mais adequadas, como o


seguinte exemplo:

Esta empresa sempre se orgulhou dos seus


vínculos familiares. Muitos de nós somos amigos
e colegas do Sr. António Farias, e sentimos uma
grande satisfação ao ver que o seu filho Gabriel
participa de forma tão activa na nossa fundação.
Ainda que ele seja muito jovem, já colheu
grandes frutos. Ele foi, é e esperamos que
continue a ser um grande colaborador,
contribuindo com a nossa fundação com o seu
saber fazer e o seu vigor. Senhoras e senhores,
com todos os presentes, o Sr. Gabriel Farias.

No caso de que o orador previsto não possa assistir e


tenha que ser substituído, não se desculpe. Nessas
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -131

circunstâncias temos várias alternativas. A primeira consiste


em omitir o facto; evidentemente se saberá de todas as
formas, no entanto é menos violento se não se diz nada. A
outra possibilidade consiste em tentar sacar proveito da
presença do convidado. Por exemplo:

Senhoras e senhores, todos nós lamentamos


a súbita indisposição do senhor Garcia, o nosso
convidado. No entanto, alegrar-lhes-á saber que
ele está a melhorar rapidamente. Não pensem
que nos abandonou, acabou de chegar um
telegrama no qual nos envia os seus
cumprimentos. Estou certo de que todos estão de
acordo em lhe responder expressando o nosso
desejo de uma rápida recuperação.
Quero agradecer ao senhor Santos pela sua
boa disposição para se unir a nós. É mais uma
demonstração da sua lealdade para com a nossa
empresa.

Logicamente, os convidados muito conhecidos não


devem apressar-se. Seria ridículo apresentar um presidente
de governo ou o proprietário da empresa.

DAR AS BOAS-VINDAS E OS
AGRADECIMENTOS
Como já dissemos anteriormente, corresponde ao
anfitrião dar as boas-vindas e os agradecimentos.
Geralmente, a apresentação, as boas-vindas e os
agradecimentos unem-se no mesmo discurso, a não ser que
se faça em dias diferentes. Em tal caso, no primeiro dia
daríamos as boas-vindas e agradeceríamos a presença, e no
último dia agradeceríamos a participação. A seguir
apresentamos alguns exemplos de discursos com
apresentações, agradecimentos, e boas-vindas.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -132

Exemplo 1
SENHOR PRESIDENTE, SENHOR
SECRETÁRIO de Estado, damas e cavalheiros.
Todos nós estamos agradecidos ao ministro por
se reunir com a grande família do nosso sector
quando lhe teria sido mais fácil e agradável
passar este tempo com a sua própria família.
Apreciamos as suas palavras e o facto de que
tenha doado tempo da sua vida privada para
estar hoje com todos nós.
Há já algum tempo, eu perguntei a um amigo,
que trabalha como chefe de segurança de uma
grande empresa, como ele definiria o seu
trabalho. Respondeu-me: “Encarrego-me dos
acidentes”. Assim, seguindo esta linha, o ministro
está a cargo do desemprego, das carreiras
profissionais dos nossos jovens. Cada dia
enfrenta-se com os nossos problemas e com os
seus, com imensa serenidade e, para o bem de
todo o país, desejamos-lhe muito sucesso.
Em certa ocasião comentou-se que um
estadista é um político morto. Orgulhamo-nos de
poder contar com estadistas vivos, como o nosso
convidado, que se ocupam dos problemas do
país. [Mencionar alguns dos temas tratados pelo
convidado].
Gostava de agradecer novamente, ao ministro
pelo apoio que nos tem demonstrado, com a sua
presença, e peço-lhes que se unam a mim para
lhe expressar o nosso afecto.

Exemplo 2
SENHORAS E SENHORES. LAMENTO
profundamente, não ter podido conhecer, até esta
noite, o nosso convidado, pessoalmente, é claro.
Assim como todos, conhecia-o há já tempo
através dos meios de comunicação e sempre lhe
admirei pela sua luta para melhorar as condições
de vida dos mais desfavorecidos. A oportunidade
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -133

que hoje nos reúne não está marcada por tons


dramáticos, mas sim de boas-vindas.
Senhor [nome do convidado], todos nós lhe
estamos muito agradecidos e confiamos que nos
acompanhará em muitas outras ocasiões.
Desejamos a melhor sorte no seu trabalho e
expressamos-lhe o nosso reconhecimento por nos
falar dela.

Exemplo 3
SENHOR PRESIDENTE, COLEGAS e amigos.
É muito estranho assistir uma reunião de [...]
sem que a presida o senhor X. Nos últimos anos
ele foi o exemplo vivo do melhor que há na nossa
organização. É muito o que lhe devemos
agradecer.
Quero agradecer-lhe pela maneira tão amável
para se referir a mim. Foi cordial, generoso e
muito preciso. Eu posso afirmar que as suas
qualidades de [...] e [...] foram uma constante no
seu trabalho e ajudaram a criar uma vigorosa
organização.
Somos, na grande maioria, individualistas, por
isso fazemos este trabalho. Podemos não estar de
acordo com a forma de servir os interesses dos
nossos clientes. No entanto, todos estamos unidos
em nossa admiração pelo senhor X.
Permitam-me lembrar alguns dos seus êxitos
[comentar o maior número deles].
Agora que termina a sua vida laboral
sabemos que, como membro honorário da nossa
organização, oferecer-nos-á as mesmas boas-
vindas da mesma forma tão cálida, simples e
afectuosa que quando ostentava o cargo mais
alto.
O nosso amigo trabalhou durante anos
connosco e deu vida à nossa organização.
Agradecemos-lhe por isso, e desejamos para ele o
melhor.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -134

Exemplo 4
SENHORAS E SENHORES. Na insubstituível
ausência do nosso presidente, pediram-me que,
em nome dos convidados, agradecesse os
anfitriões por este extraordinário lunch.
Especialmente, desejo agradecer os nossos
convidados pela honra da sua companhia e das
suas palavras entusiastas. Para mim, é um
mistério como conseguem suportar física e
psiquicamente as suas contínuas viagens por
todo o mundo.
Um dos nossos hóspedes é advogado; o outro
é um economista. Quando a justiça e o dinheiro
se unem numa mesma plataforma, é evidente que
nos encontramos ante uma causa comum.
Escutamos com prazer os seus discursos e
podem ter a certeza de que nos sentimos felizes
de nos associar ao seu trabalho (falar algo sobre
esse trabalho).
Todos estamos imersos nele, e agradecemos
os convidados por aumentar o nosso grau de
participação. Esperamos que muito em breve
voltemos a encontrá-los entre nós, e que da
próxima vez a sua estância seja muito mais
prolongada.

Exemplo 5
SENHOR PRESIDENTE, DAMAS e
cavalheiros. Como a maioria dos presentes,
também passei muitos anos, sem dúvida, felizes,
mas difíceis e sufocantes, nos nossos antigos
locais. Por isso sinto um autêntico prazer ao
anunciar a inauguração deste novo edifício.
Pensem em tudo o que podemos fazer agora.
Poderemos mover-nos mais livremente, virar a
cadeira sem provocar um acidente, inclusive
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -135

tomar o café sem deixar um colega sem o


pequeno-almoço.
Falando em sério, estaremos em condições de
aumentar o nosso negócio e, por tanto, os nossos
benefícios, proporcionando uma grande
satisfação ao nosso director e aos accionistas.
Estaremos em condições de fazer o nosso
trabalho com mais economia, rapidez e
comodidade. Quero remarcar que, precisamente,
o ambiente de trabalho dos empregados foi um
factor prioritário no desenho do novo edifício.
Senhor presidente, damas e cavalheiros: este
é um tempo para construir. Os tijolos, o cimento,
a argamassa... tudo está pronto. Agora temos de
edificar o negócio tal como o expressamos com as
nossas palavras. Agradeço aos arquitectos, os
senhores X e Y; a todos os senhores, que
aceitaram com a melhor boa vontade as
incomodidades da mudança, e os organizadores
desta recepção. Com grande prazer, declaro
inaugurado o edifício...

Exemplo 6
SENHOR PRESIDENTE, DAMAS e
cavalheiros. Neste ramo industrial não somos tão
dispendiosos como os colegas da construção
naval. Não arrebentamos garrafas de champanhe
sobre os navios. Substitui-la-emos por um bom
vinho para o brinde.
Em primeiro lugar, brindaremos pela
prosperidade da nossa empresa. O esforço que
hoje iniciamos é de vital importância para todos.
Em segundo lugar, beberemos à saúde de
todos aqueles cujo esforço e empenho tornaram
esta exposição em realidade, desde a presidência
até os pintores, carpinteiros e pessoal da limpeza.
O nosso mais sincero agradecimento a todos eles.
Por último, brindaremos pelo futuro do nosso
novo produto (explicar os detalhes).
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -136

Sinto-me muito orgulhoso de poder inaugurar


esta exposição. Senhor presidente, damas e
cavalheiros, declaro inaugurada a exposição...

DISCURSOS PARA CHAMAMENTOS


Se o cinema é a sétima arte, a oitava há de ser, sem
dúvida, a arte de angariar dinheiro do público. É uma
actividade que requer muita habilidade, prudência e
capacidade de adaptação às circunstâncias. A pessoa que
quer arrecadar fundos para uma instituição benéfica, para
uma fundação ou para qualquer finalidade tem de conseguir
o dinheiro moeda por moeda. Consegui-lo ou não dependerá
do público e da motivação.
Há quem dê dinheiro unicamente por generosidade,
mas os interesses pessoais e os sentimentos de culpa
costumam ser os motivos mais poderosos e habituais.
Algumas pessoas dedicam o seu tempo e esforço a
conseguir um fim benéfico, outras não o fazem nem nunca o
farão. Mas estas últimas podem dar parte do dinheiro que
ganharam enquanto não lutavam por causas nobres. Ambas
maneiras de ajudar são igualmente válidas. Se quer que
entreguem dinheiro, faça-o saber de forma delicada:

Alguns de nós temos a possibilidade de


dedicar o nosso tempo a esta causa. Outros não
têm a mesma possibilidade, mas quero fazer-lhes
um chamamento especial. Os senhores podem
pôr os meios e nós faremos o trabalho. Esta
tarefa necessita urgentemente até a última
moeda que possa contribuir.

Outra grande dificuldade para o orador é estimular o


interesse pessoal. Convencer uma pessoa jovem e sã a dar
dinheiro para ajudar os idosos e vítimas de doenças graves,
pode ser muito difícil. Lembre que essa situação é transitória,
que um dia os jovens também serão velhos, que pode perder
o seu emprego ou a sua saúde a qualquer momento. Desta
maneira converte a sua contribuição num investimento de
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -137

futuro, no caso de que venham a necessitar... Obviamente,


não pode dizê-lo de forma tão crua; utilize uma fórmula como
esta:

Peço ajuda, incitando-lhes para que a


considerem como uma expressão de gratidão pelo
facto de não se verem obrigados a recorrer a esta
grande instituição benéfica na qualidade de
necessitados. Espero que nenhum de nós se veja
nunca na necessidade de ocupar uma das camas
da nossa clínica X, que ninguém tenha que
receber um subsídio procedente do nosso fundo.
Mas, quem sabe o que pode ocorrer no futuro?
(Faça uma pausa significativa). Não obstante,
ainda no caso de que escapemos à necessidade
deste tipo de ajuda, como todos desejamos,
podemos sentir-nos orgulhosos por estarmos tão
perto dos que sim o necessitam. São pessoas que
trabalharam bem, que ganharam cada centavo
que recebem, que sofreram o infortúnio que nós
pudemos evitar (...).

Tenha sempre em conta a possibilidade de utilizar as


vantagens fiscais ao seu favor.
Também é habitual lançar mão da “chantagem subtil”.
Consulte o seu principal fornecedor e diga-lhe: “-Pedro, a
nossa organização necessita conseguir dez milhões. Posso
contar com dez por cento como vossa doação?
Pedro sente-se “atado” e diz: “Certamente, mas tu
poderás publicar um anúncio no programa da tua festa
benéfica?” Os dois ganham algo, é uma troca lícita.
Esta mesma táctica pode ser usada nos actos públicos.
Olhe para os seus provedores enquanto fala, especialmente
no momento de pedir o dinheiro. Talvez desviem o olhar, mas
terão de abrir a carteira. Ao comparecer ao acto já se
supunha que deviam fazê-lo.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -138

O dinheiro não pode comparar a felicidade, mas pode pagar


um grupo de assessores para que estudem o problema. (Bill
Vaughan)

Outra possibilidade é abordar antes do discurso e


perguntar a quantia da sua contribuição. Durante o discurso
dê a conhecer a sua generosa contribuição, isso será um bom
estímulo para os outros convidados. Sentir-se-ão obrigados a
igualar ou melhorar as suas doações até um nível que seja
digno de se anunciar. Lembre a todos de que é por uma boa
causa, nenhuma das suas “vítimas” nunca dirá que se
arrepende da sua doação.
Considere que quando se trata de conseguir dinheiro
alheio para os desfavorecidos, uma pessoa não pode permitir-
se o luxo de se envergonhar ou de se preocupar pelas
possíveis respostas negativas.
O melhor momento para “entrar directamente no tema”
e conseguir algo dos “bolsos” dos seus convidados é quando
estes estão aturdidos pelo efeito de uma comida abundante e
das suas comovedoras palavras (efectivamente, o vinho e os
licores também ajudam). Se percebe que estão de boa
vontade, alegres e receptivos, aproveite o momento. Peça-lhes
o dinheiro nesse momento ou escreva-lhes no dia seguinte, a
dizer:
Foi muito agradável desfrutar da sua
companhia. Remeto-lhe a ordem de débito na sua
conta corrente. Estou seguro de que poderei
conseguir contando com a sua generosa ajuda no
futuro.

O discurso não deve parecer uma entidade


independente do projecto para o qual arrecada fundos. O
apelo à generosidade tem de se vincular à campanha prévia e
posterior ao discurso. Deve ajustar o discurso ao público e às
circunstâncias de cada caso.
A pessoa que pede dinheiro não pode perder muito
tempo a falar. Só necessita alguns minutos para dizer tudo.
Obviamente, nunca deve provocar uma atitude negativa do
público. Diga o que disser, há de criar um estado de ânimo
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -139

propício para que contribuam com recursos económicos. Tem


de se saber quando deve parar.
Considere a audiência como uma laranja suculenta:
devemos exprimi-la, mas sem chegar a tirar seus caroços. A
sua intuição ou a sua psicologia indicar-lhe-ão quando deve
deter-se.
Nunca leia um discurso numa reunião para
arrecadação, tudo o que disser deve sair do coração. Deve
fazer com que o público se sinta feliz; quando acabe o acto, os
assistentes devem estar contentes. As pessoas sabem
reconhecer a sinceridade de quem lhes pede dinheiro.
No seguinte exemplo aproveita-se a circunstância feliz
de inaugurar um asilo de idosos para recordar a necessidade
de continuar contribuindo com recursos económicos:

Exemplo 1
SENHOR PRESIDENTE, SENHORAS E
SENHORES. Um sábio diferenciava as obras de
caridade em diferentes categorias conforme o
mérito. A mais baixa de todas é aquela na qual o
beneficiário e o donatário se conhecem
mutuamente. Em primeiro lugar estão aquelas
em que ambas as partes se desconhecem
absolutamente. Esta residência foi criada graças
à generosidade das pessoas da nossa cidade,
particulares, empresas grandes e pequenas, que
contribuíram assim para que outros possam
desfrutar na velhice.
Há muita retórica sobre a velhice, os anos
dourados, a terceira idade, os bem merecidos
anos de repouso... Por certo, deveria ser assim:
idílica. Mas com muita frequência esses anos são
de solidão, pobreza e desamparo.
Não será o caso daqueles que vivam nesta
residência. Aqui terão intimidade nos seus
próprios quartos, companhia nas salas sociais,
atenção médica e toda a classe de ajuda que
necessitem.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -140

Tivemos mais problemas para seleccionar os


residentes que para conseguir o dinheiro. Como
escolher a tão poucos entre tantos necessitados?
A quem seleccionamos para uma vida confortável
e a quem deixamos dormir na rua? Todos eles
trabalharam, todos o merecem.
A minha função hoje é dupla. Primeiro, uno-
me a todos os senhores no orgulho e na
satisfação do que já conseguimos. Segundo,
incito a todos para trabalhar juntos para
melhorar e ampliar o asilo.
Faz alguns anos fui visitar um milionário a
fim de lhe pedir uma contribuição para a
construção de um edifício para uma obra
beneficente. Ele respondeu-me: “Como pensam
equipá-lo, conseguir o pessoal e sufragar as
despesas de manutenção uma vez aberto? Estou
cansado de doar dinheiro para construir edifícios
e que logo voltem a pedir-me dinheiro para lhes
manter.”
Agora temos um edifício, que pagaram muitas
pessoas. E temos também dinheiro suficiente
para cobrir as despesas durante (...) meses. Os
Senhores sabiam que o custo por residente é de
(...) por ano?
Assim, pois, agradecendo-lhes a todos a sua
amabilidade e generosidade, a sua presença hoje
e a ajuda prestada, permito-me pedir-lhes o seu
apoio no futuro. Apenas encerramos uma etapa
quando começamos outra.
Senhor presidente, senhoras e senhores. Com
o maior orgulho e na segura esperança de que
este asilo proporcionará comodidade e felicidade
aos seus habitantes, declaro inaugurado o
edifício.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -141

CERIMÓNIAS DE ENTREGA DE PRÉMIOS


Nas cerimónias de entrega de prémios o fundamental é
a sinceridade. Todos nós gostamos que nos elogiem, um
elogio sincero sempre é bem recebido, mas lembre-se sempre
de manter certa moderação. Nestes casos, o exagero produz o
efeito contrário: “O senhor Santos é o empresário mais
brilhante, honrado e amável, um exemplo de virtudes
comerciais...” Ninguém acreditará, nem mesmo o senhor
Santos. Compare com esta outra:

Exemplo 1
COMEÇAREI DIZENDO QUE o senhor Santos
foi o cérebro de uma importante e próspera
empresa. Vendo o grau de competitividade que
tomava o mundo empresarial, tomou a
desagradável decisão de endurecer as acções
comerciais da sua empresa, com o qual conseguir
a sobrevivência desta.
Por outra parte, sempre se esforçou em
manter a reputação da empresa e continuou a
manter algumas relações satisfatórias com
fornecedores, clientes e empregados.
Por ter sabido manter numa boa posição a
empresa sem perder a honestidade, pela sua
capacidade para impulsionar o bem-estar da
empresa sem perder a integridade, por ter
aumentado a reputação da empresa e a sua
própria, por tudo isso, alegramo-nos de estar
reunidos nesta homenagem e expressamos o nosso
pesar pelo anúncio da sua próxima reforma.

Também pode tratar-se da homenagem a um


empregado após anos de dedicação à empresa:

Exemplo 2
O TÍPICO NESTES CASOS é oferecer um
relógio, mas achamos pouco apropriado: a partir
de agora já não tem de estar sujeito a um
horário. Pensamos que é melhor este jogo de café.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -142

Entregamos-lhe com todo o agradecimento,


admiração e reconhecimento da empresa.
Também queremos fazer constar o afecto e a
consideração dos seus colegas de trabalho, que
colaboraram na aquisição deste pequeno obséquio.
Todos esperamos que sirva para lhe recordar o
carinho sincero que temos e o nosso
agradecimento pelos anos de dedicação à empresa.
Desejamos que desfrute de uma longa
reforma em companhia da sua esposa e com uma
excelente saúde. Esperamos que nos visite com
frequência, aqui sempre receberá um carinhoso
acolhimento dos seus colegas e amigos.

Devemos evitar os falsos elogios, o sentimentalismo


barato e as falas exageradas e rebuscadas. É preferível
limitar-se a algumas palavras simples, sinceras e sensíveis,
que possam ser realmente apreciadas pelo homenageado.
Para que o seu discurso soe sincero, evite a retórica e
os exageros, e elimine os efeitos melodramáticos ou teatrais
(como lágrimas e suspiros) e frases como “estou tão
emocionado que não posso dizer nada”. Nunca utilize
superlativos, não soam sinceros. O melhor louvor faz-se com
algumas breves e serenas palavras.

Receber prémios

Se recebemos um prémio, devemos preparar-nos para a


avalanche de elogios que vamos receber. Observemos como
responderam algumas personagens conhecidas:

3 Agradeço esta generosa elegia que me dispensou o


senhor Smith. (Adlai E, Stevenson)
3 Há uma diferença entre um discurso laudatório como
este, dedicado a uma pessoa viva, e uma oração
fúnebre em homenagem a um defunto. No primeiro caso,
já que não se trata do último, há pelo menos uma
pessoa que está disposta a acreditar que tudo o que se
disse é verdade. (Chaim Weizmann)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -143

As fórmulas mais comuns para responder são:

3 Em primeiro lugar, quero agradecer as amáveis


palavras com as que o senhor X se referiu à minha
esposa e a mim. Estamos sinceramente agradecidos,
ainda que nos conformaríamos com que a metade dos
elogios correspondessem à realidade.
3 Agradeço-lhe profundamente, senhor presidente, pela
generosidade ao referir-se à minha organização e a
mim. Faremos todo o possível para corresponder às
suas amáveis atenções.

A sinceridade é importante para quem tem de fazer os


elogios. Da mesma forma, o receptor dos mesmos deve
manter uma atitude de modéstia e decoro. Seria terrivelmente
descortês e falto de sinceridade dar respostas como:

3 Ainda que sejam certas, o senhor não deveria ter dito


tais coisas.
3 As suas palavras são demasiado curtas.

A falta de modéstia só está permitida para com os


demais, de forma que se pode dizer: “Tudo o que se disse
sobre a minha esposa é certo. Estou muito orgulhoso dela... é
uma jóia preciosa”.
O seguinte passo é responder aos elogios exaltando a
pessoa ou a organização que oferece a homenagem:

Exemplo 1
FOI UMA GRANDE SORTE para mim ter
trabalhado nesta empresa durante tanto tempo.
Sinto-me como uma pessoa privilegiada por ter
podido trabalhar com todos os senhores. Agora
os deixarei mas, no entanto, espero vê-los com
frequência.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -144

Exemplo 2
O SENHORES FORAM muito amáveis ao
outorgar-me este prémio, ainda que a minha
intenção seria precisamente homenagear os
senhores. As honras deveriam recair sobre quem
as merece de verdade. Tentarei equilibrar a
balança indicando a grande importância que tem
o trabalho desta organização, sobretudo dada a
situação actual (...)

Exemplo 3
O SENHOR FOI muito amável ao falar tanto
de mim. Todos os que estão aqui presentes
sabem que a maior parte das virtudes que me
atribuíram, na realidade, pertence ao Senhor X.
Esta empresa tem a sorte de contar com alguém
como ele na sua direcção.

Exemplo 4
QUERO TERMINAR O MEU DISCURSO
agradecendo o Senhor X, pelas suas palavras.
Obrigado a todos, queridos colegas, pela sua
generosidade e pelo seu bondoso obséquio. A
minha esposa e eu o conservaremos sempre,
junto com as lembranças que nos unem a todos
vocês. Boa sorte a todos.

Exemplo 5
AO ACEITAR ESTE OBSÉQUIO, agradeço a
honra que nos fazem a mim e à minha
organização, em cujo nome o recebo. Os meus
colegas e eu estamos contentes de ter podido
fazer o nosso trabalho de forma satisfatória.
Comprometemo-nos a superar os sucessos
passados devido aos quais hoje nos
homenageiam. Muito obrigado a todos.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -145

Quando receba um prémio ou reconhecimento inclua


alguma pequena história, lembranças e tudo o que lhe sirva
para expressar a sua satisfação, no entanto, termine sempre
com algumas palavras de agradecimento.

DISCURSO DO CONVIDADO DE HONRA


Quando formos o convidado de honra de um acto
pedir-nos-ão que pronunciemos algumas palavras. E neste
caso é melhor tê-las preparadas.
Devemos lembrar de adequar o nosso discurso à
organização e às pessoas que o escutarão. Leia com atenção
os seguintes exemplos.

Exemplo 1
SENHOR PRESIDENTE, SENHORAS E
SENHORES. Existem pessoas cuja incapacidade
resulta evidente porque perderam algum membro
ou porque alguma parte do seu corpo não
funciona adequadamente. Quero felicitar esta
organização porque ajuda a estas pessoas a fazer
o melhor uso possível das suas faculdades e
porque estimula a todos os presentes a aproveitar
a sua mente e a compensar com a inteligência as
dificuldades físicas.
Estamos moralmente obrigados a fazer o
melhor uso daquilo que temos: esta organização
ajuda os seus membros a reconhecer este facto e
a explorar todas as suas faculdades ao máximo.
São muitos, demasiados, os portadores de
deficiências que se vêm obrigados a permanecer
na sua casa sem mais estímulo que o televisor.
Os senhores ajudarão a integrá-los na sociedade,
direito inalienável, dado que fazem parte da
sociedade. Para eles é uma grande satisfação
contribuir ao bem social com o seu esforço.
Os membros do comité também são
portadores de deficiências físicas, no entanto,
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -146

trabalhando duro, conseguiram ajudar os demais


e enriquecer a sua própria vida com isso.
Assim, pois, felicito o comité pelos seus
esforços, dando as boas-vindas aos numerosos
sócios que nos acompanham hoje. Sinto um
imenso prazer por ser o seu convidado de honra e
por apoiar o seu trabalho. Dou-lhes os meus
mais sinceros agradecimentos pelo seu convite.
Que a festa continue...!

Exemplo 2: comemoração escolar


SENHOR DIRECTOR, pais, alunos e alunas.
Participo desta cerimónia na qualidade de
representante da comissão do governo de escola.
Isso não significa muito, sou apenas um dentro
do colectivo que colabora na direcção da escola
junto com os professores e o pessoal auxiliar
para que vocês, os alunos, desenvolvam o seu
potencial.
O quê é que faz desta escola um centro
diferente dos outros? Por quê me sinto sempre
tão orgulhoso dos meus vínculos com a escola?
Primeiro, [...].
Segundo, [...].
Terceiro, [...].
Talvez todos conheçam a história de Henrique
VIII. Mas... que época estranha, não é verdade?
Vou dizer-lhes o mesmo que ele a todas as
suas esposas: “Não lhes deterei por muito
tempo”.
Ele nunca disse isso? Bem, já sabemos que
algumas das melhores anedotas não são
totalmente certas. Mas o que, sim, sabemos com
certeza é que Carlos II fez com que
desenterrassem Oliver Cromwell e que, seguindo
as ordens do rei, cortaram-lhe a cabeça, e
cravaram-na numa lança, e aí a mantiveram
durante seis anos, exposta no telhado de
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -147

Westminster Hall, a antiga sala do palácio de


Westminster, que é a única parte do Parlamento
britânico que se conserva quase igual a quando
se construiu.
O que não se pode provar é a velha história
segundo a qual a cabeça de Cromwell esteve
gotejando sangue todos esses anos. Uma noite,
no entanto, houve uma terrível tempestade e a
cabeça caiu no chão com um sinistro estrondo.
Nesse momento, um enorme gato esfomeado saiu
a correr da cripta, apanhou a cabeça entre as
suas presas, e já estava a fugir para a saída
quando o sargento de armas desembainhou a
espada, atravessou o gato e recuperou a velha
cabeça de Cromwell.
A seguinte parte do relato é certa. Levou-se a
cabeça ao Sidney Sussex College de Cambridge,
onde se enterrou e onde ainda se conserva. Não
lhes aconselho que usem esta versão da história
nas vossas provas, no entanto se algum dia forem
visitar Westminster Hall, olhem com atenção para
as paredes, porque ainda se pode ver o sangue de
Cromwell.
Em fim, não gostaria de acabar como o pobre
Cromwell por ter roubado muito tempo. Quero
desejar-lhes um bom curso, felicitar-lhes por um
ano de esforços e sucessos e desejar-lhes felizes
férias [ou o que requeira a ocasião]. Boa sorte a
todos!

Exemplo 3: entrega de prémios


SENHOR DIRECTOR, PAIS, alunos e alunas.
É maravilhoso ser o primeiro da turma, a alma
da escola, delegado ou monitor, não é verdade?
Inclusive estar no último ano dá uma espécie de
status especial. Tu já és maduro, veterano, os
novos admiram-te e sentem inveja. Infelizmente,
quando uma pessoa chega ao cimo já começa a
escorregar para baixo e voltamos a ser "novatos"
mais uma vez.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -148

Todos os que abandonam hoje a escola


começam já a sentir um pouco de nostalgia.
Quando comecem na nova escola ou no trabalho
terão de voltar a começar outra vez desde o
primeiro degrau.
Quem hoje ganhou um prémio, receba as
minhas mais sinceras felicitações. Vocês
guardarão este momento de alegria e triunfo na
vossa memória durante muito tempo. No entanto,
não estarão acima dos vossos novos colegas,
ainda que eles não tenham sido premiados.
Talvez, na próxima oportunidade seja a sua vez
de ganhar.
Os prémios têm também uma parte triste,
muitos de vocês trabalharam duro e tiveram o
reconhecimento público que merecia tanto
esforço. Não se desanimem, chegará o vosso
momento.
Lembrem-se de todos esses triunfadores que
durante anos receberam prémios e felicitações.
Passados os anos, quem os lembrará? Estão
desfrutando tranquilamente do esquecimento
público.
Para além da entrega de prémios, coisa que
agrada muito, o meu trabalho hoje limita-se a
desejar a todos boa sorte, estejam onde
estiverem. Espero que as vossas ambições e
sonhos possam cumprir-se.
Aos que ficam, também quero dizer que lhes
esperam muitos bons momentos. Este ano vocês
passarão a um curso superior. Desfrutem-no.
Jimmy Durante, um famoso humorista norte-
americano, disse em certa ocasião: “Sejam
amáveis com as pessoas que encontrem no vosso
caminho para cima, porque voltarão a encontrá-
las quando forem para baixo”.
A todos os que hoje vão para cima ou para
baixo, aos que estão estabilizados, boa sorte, e
obrigado por me convidar para compartilhar este
dia com vocês.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -149

Exemplo 4: convidado a um acto beneficente


SENHORAS E SENHORES. ALGUMAS
PESSOAS pensam nas casas só como bens
imóveis para comprar e vender. Todos nós que
estamos aqui acreditamos que o lar é algo que
está unido ao conceito de pessoa. Por isso
mesmo, é uma vergonha que exista tanta gente a
viver em condições ínfimas.
É uma honra para mim estar com todos vocês
porque há já muito tempo que conheço a vossa
luta para dar um tecto aos desfavorecidos e
ajudá-los a criar raízes e afrontar a vida com
dignidade.
Estes são os desafios. Primeiro, solucionar o
problema físico, dar-lhes um lugar onde viver
com certo bem-estar. Em segundo lugar, aceitar o
facto de que muitas pessoas não se sentem
capazes de afrontar a sua circunstância actual.
Nesta categoria encontramos muitos dos
desfavorecidos e deserdados da nossa sociedade.
Eles não estão organizados, ninguém os
representa porque não estão registados como
cidadãos, vagam sem rumo num mundo que
prefere torcer o nariz e olhar para o outro lado.
Da mesma maneira que alguns ignorantes
aconselham os que padecem de depressão que
“tirem essas ideias da cabeça”, com o que só
pioram a situação, quem conseguiu o sucesso na
vida não costuma entender os que não
conseguiram vivê-la adequadamente.
Esta organização [falar dos objectivos].
Esta organização [mencionar o que se
conseguiu].
Esta organização [falar dos problemas
pendentes e da forma de os solucionar].
Só posso expressar os meus mais sinceros
ânimos à organização, aos que lutam por ela e
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -150

aos que ajudam de qualquer maneira possível.


Sempre que me necessitem estarei feliz em
colaborar. Não imaginam até que ponto fico feliz
em ter algo que ver com vocês e com o vosso
trabalho.

CONFERÊNCIAS E SEMINÁRIOS
Muitos empresários e directores têm medo a falar em
público, inclusive dos temas nos quais são especialistas. As
conferências e seminários têm a sua própria técnica, e
dominá-la é fácil se se propõe a fazê-lo.
Os objectivos da conferência podem ser muito diversos:
apresentar um produto para captar novos clientes ou reforçar
a fidelidade dos actuais, ou formar os delegados numa
disciplina útil nas suas tarefas habituais. Em qualquer caso,
deve-se ter muito claro o quê é que se pretende conseguir
com a conferência, do contrário não terá sucesso.
Uma conferência tem de ser animada; por mais árido
que o tema possa parecer, há que encontrar a maneira de
torná-lo interessante para a audiência. Actualmente
dispomos de temas audiovisuais que, com engenho e boa
vontade, podem converter qualquer dissertação num
espectáculo.
De todas formas, a tecnologia não suplanta a um bom
orador, que deve seguir as normas habituais de qualquer
discurso que já mencionamos anteriormente. No entanto,
neste caso é muito mais importante que seja um grande
conhecedor do tema a tratar, que saiba entrar em
comunicação com o público assistente, que tenha um bom
estilo e habilidade ao falar.

A Terra é um teatro, mas a obra tem um elenco deplorável.


(Oscar Wilde)

Seja qual for a quantidade de pessoas que escutam e a


sua classe social, o orador deve mostrar o máximo de
respeito, e se pretende que a próxima vez voltem a escutá-lo
terá de os entreter.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -151

O fracasso das conferências por aborrecimento é


responsabilidade dos organizados e de quem fala. O público
que assiste, a audiência, não está obrigado a escutar. Podem
ir tomar um café ou visitar a cidade.
Tente chegar ao lugar onde deverá falar com
antecedência, assim poderá verificar a ambientação do local,
quais aparelhos funcionam correctamente, o tipo de público e
o seu estado, a acústica, etc. Seja especialmente cuidadoso
com os seguintes aspectos:

3 Gosta da disposição do cenário, do estrado ou da


mesa?
3 Como poderá aproveitar melhor a instalação de som?
3 Pode tirar o microfone do seu suporte, mover-se com
ele e graduá-lo? Em todo caso, verifique se está à
altura adequada para si. Lembre-se da terrível imagem
da rainha Isabel II na sua visita aos Estados Unidos: o
serviço de protocolo desconhecia a altura da rainha e
esta falou diante de todo o mundo com o microfone
que lhe ocultava completamente o rosto.
3 Verifique os projectores, o seu funcionamento e
situação. Tente conseguir um ajudante que se
encarregue dos slides e do manejo dos projectores.
3 Procure conseguir tudo aquilo que o ajude a estar
cómodo: garrafas ou jarras de água com o seu copo,
papel para tomar notas, chás ou bebidas refrescantes
para os intervalos, etc.
3 No caso de que cobre pela sua participação, verifique
se as condições estão claras para ambas as partes; é
sempre melhor confirmá-las por escrito.
3 Verifique se há normas referentes ao consumo de
tabaco.
3 Tente que a sala se encha a partir das primeiras filas;
no caso de que não se ocupe totalmente é muito difícil
convencer os do fundo para que passem às primeiras
filas e você terá a sensação de falar no vazio.
3 Confirme a localização das salas de descanso; se estão
separadas, evitar-se-á o ruído nos intervalos. Se a
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -152

separação são apenas painéis, prepare-se para o


desastre.
3 Se vai ser apresentado por alguém, assegure-se de que
essa pessoa tenha toda a informação pertinente.
3 Confirme que têm à mão todos os documentos e
materiais que necessita para fazer uma boa
apresentação.

DISCURSOS DE NEGÓCIOS
Comissões gerais de sociedades

Quanto maior for a duração da reunião, mais


possibilidades existirão de que se produzam discussões e
conflitos. O discurso do presidente deve marcar o tom, ao
expor os dados fundamentais que devem saber os accionistas
e indicar as perspectivas de futuro.
Tenha em conta que este informe costuma publicar-se,
isso significa que deve ser especialmente cuidadoso no seu
preparo. Agora, já podemos ler o discurso que o presidente
dos armazéns Mark & Spencer dedicou aos seus accionistas
há algum tempo:

Exemplo 1
DURANTE OS ÚLTIMOS SEIS MESES, a
recessão económica agudizou-se, ao mesmo
tempo que crescia o desemprego e mantinha-se a
inflação elevada. Em tais circunstâncias, os
nossos índices de vendas são estimulantes,
sobretudo se levarmos em conta o seu aumento
durante os meses de Agosto e Setembro. Este
aumento fundamentalmente se deve a uma
melhora na oferta de confecção de qualidade de
produtos alimentares, campos nos quais, com a
cooperação dos nossos fornecedores, recebemos
de maneira substancial o preço de inúmeros e
importantes artigos. Os nossos artigos de
confecção valem apenas 2% mais que há um ano,
e 8% mais que os de alimentação. Conseguiu-se
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -153

tudo isso mantendo-se imutáveis os nossos altos


níveis de qualidade.
Se a tendência actual continuar, confiamos
que o benefício final do exercício será satisfatório.
Seguimos com a nossa inveterada política de
“comprar produtos britânicos”. Nos últimos anos,
vários dos nossos principais fornecedores
inverteram importâncias substanciais no mais
moderno equipamento. Graças a uma estreita
colaboração com eles, na maioria dos casos
pudemos enfrentar o desafio da confecção
importada.
No dia 1 de Abril, três meses antes que no
ano anterior, concedemos ao nosso pessoal o
aumento de salários. Devido a isso, e em
comparação com o exercício anterior, os custos
incluem uma quantidade adicional em conceito
de aumento de salários durante um trimestre;
esta soma ascende a quase 3,75 milhões de
libras. Desta forma, completa-se a actualização
das nossas revisões salariais, que nos anos
futuros terão sempre lugar no começo do mês de
Abril.
As nossas sucursais no Canadá estão a
progredir. Com relação ao continente, afrontamos
problemas económicos similares aos do Reino
Unido. Uma parte substancial da mercadoria
vendida é de manufactura britânica, e as
margens de benefício ressentiram-se pelo
fortalecimento da libra.
O conselho de administração decidiu repartir
um dividendo à conta de 1,5 pêni por acção, o
mesmo que no ano anterior; pagar-se-á no
próximo dia 16 de Janeiro àqueles accionistas
cujos nomes figurem no registo de accionistas no
dia 14 de Novembro deste ano.
[...] O diagnóstico sobre o nosso sector é
muito claro: há que solucionar a debilidade que
produziu a recessão. Para isso necessitaremos
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -154

capital e investimento, no entanto, e sobretudo,


confiança e ânimo.
Acabou-se o tempo em que cada industrial
tentava estrangular as actividades dos demais. É
o momento de trabalharmos juntos em prol da
sobrevivência do sector e compreender que a
crise de um é um sinal de tempestade para os
demais.
Por isso, meus colegas e eu próprio propomos
os seguintes passos, que têm o objectivo de expor
os nossos problemas ao governo e demandar a
sua colaboração. Primeiro, [...]. Segundo, [...].
Terceiro, [...].
Estas são as propostas que submetemos à
sua consideração e peço-lhes que as aprovem por
unanimidade. Necessitamos toda a confiança que
nos possam dar, e uma política decidida e bem
orientada que, entre todos, saberemos levar a
cabo.

Sindicatos e órgãos directivos

Já comentámos antes que devemos dirigir-nos sempre


ao nosso auditório com o máximo respeito, seja qual for a sua
idade, sexo ou condição social. Grande parte do sucesso de
um discurso baseia-se em tratar o ouvinte como a um igual.
Os sindicatos são extraordinariamente sensíveis às
aparentes condescendências, ainda que sejam apenas uma
máscara para tapar a timidez.
Quanto mais jovens e menos formadas sejam as
pessoas às que falemos, maior será a sua capacidade para
descobrir a falta de sinceridade. Os sindicatos só serão
enganados uma única vez, na próxima já não confiarão nas
nossas palavras. A chave para falar com os empregados,
especialmente aos sindicados, está em compartilhar com eles
a informação, as inquietudes e as esperanças com
sinceridade e franqueza. Em definitiva, temos de conseguir
colocar-nos à sua altura.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -155

Exemplo 2: ao comité de empresa


SENHORAS E SENHORES. AGRADEÇO-
LHES que tenham aceito participar nesta
reunião. Quero expor-lhes a situação na qual nos
encontramos, os nossos planos e esperanças
para o futuro.
O nosso secretário, Manuel Alvarez, que está
junto a mim, trouxe as últimas estatísticas. Eu
trago um resumo para cada um dos senhores.
Uma vez que acabemos a exposição, o Sr. Manuel
ficará muito satisfeito de se unir a mim para
responder a todas as suas perguntas. As contas
que temos adiante marcam à direcção a pauta
das nossas obrigações e perspectivas. Também
lhes darão uma ideia de qual é a situação do
negócio do qual todos nós dependemos.
Lembro-lhes que o período coberto pelo
informe é o ano compreendido de [...] a [...],
assim, procedo a fazer um resumo:
Primeiro: durante este período, o volume de
vendas baixou de [...] a [...].
Segundo: a nossa folha de pagamento cresceu
[...] a [...].
Terceiro: o número de dias de trabalho
perdidos por absentismo e doenças aumentou de
[...] a [...].
Quarto: e, por favor, considerem a seguinte
informação como estritamente confidencial, em
termos gerais, no início deste período tínhamos
em carteira pedidos suficientes para nos manter
ocupados durante [...] semanas. Nestes
momentos temos uma perspectiva segura apenas
até [...].
Os nossos planos de futuro são os seguintes:
Faremos o máximo esforço para manter a
folha actual. Se, em algum momento, vemo-nos
obrigados a reduzi-la, tentaremos fazê-lo de
forma natural. Ou seja, não substituindo aqueles
empregados que nos abandonem. No entanto, se
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -156

se faz inevitável uma redução do quadro


funcional – volto a insistir que acreditamos que
não ocorrerá –, trataremos o problema com todos
os sindicatos implicados e procuraremos que se
faça da forma menos traumática possível.
De todas formas, repito que estou convencido
de que não chegaremos a essa situação. O
conselho e direcção estão dispostos a fazer tudo o
que for necessário para manter a empresa unida.
Agora podem formular todas as perguntas que
queiram. Responderemos com absoluta
sinceridade que estamos convencidos de que
todos trabalhamos unidos pelo futuro da
empresa.

Exemplo 3: aos colegas de direcção


AGRADEÇO SINCERAMENTE QUE tenham
comparecido a esta reunião. Alguns dos Senhores
tiveram que se deslocar de muito longe, muito
obrigado. Era muito importante reunir todos para
decidir a maneira com a qual possamos obter o
melhor proveito desta oportunidade que se
apresentou de repente.
Primeiro quero fazer algumas considerações
sobre as notas que lhes foram entregues. Quero
que dêem especial atenção nos seguintes pontos.
Primeiro, [...]. Segundo, [...]. Terceiro, [...].
O conselho de direcção julga que deveriam
tomar-se as medidas que a seguir expomos.
Queremos conhecer a vossa opinião antes de
tomar uma decisão. Primeiro, [...]. Segundo, [...].
Terceiro [...].
Esperamos os vossos comentários e
contrapropostas. Valoramos as vossas críticas e
apreciamos a vossa ajuda, sem ela não
estaríamos aqui.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -157

Exemplo 4: conversa com a equipa comercial


PEDI À EQUIPA de vendas que se reunisse
comigo para planejar juntos o futuro do negócio.
No passado, os clientes vinham a nós pelo nosso
conceituado renome. Hoje somos nós que temos
de os perseguir e chegar antes que a
concorrência.
Pedro Crespo, o nosso chefe de produto,
apresentar-lhes-á o produto que lançaremos no
mercado imediatamente e que será o centro dos
nossos esforços. Pedro... [Fala Pedro].
Agora os senhores já conhecem a novidade do
produto e os nossos projectos. Centremo-nos no
objectivo de tirar o melhor proveito desta nova
oportunidade. A prosperidade da empresa e a
nossa própria estão em jogo.

HOMENAGENS PÓSTUMAS
Alguma vez podemos ver-nos obrigados a pronunciar
algumas palavras em acontecimentos de luto na família, com
colegas de trabalho ou amigos. As normas para estes
discursos são as que já conhecemos, no entanto, devemos
levar em conta algumas considerações específicas deste tipo
de actos:
3 Nunca diga nada negativo sobre o falecido, no entanto,
procure que os seus sentimentos sejam sinceros e, se
pode ser, merecidos.
3 É muito importante ter tacto (leia o último item deste
livro). Todos esperam que resuma as ideias e imagens
felizes que querem recordar do falecido; essas
lembranças servem para dar alento e consolo aos mais
próximos. Através dessas palavras, os familiares
recebem o carinho de todos os assistentes e recordam
a imortalidade do defunto porque as suas obras
sobreviverão no tempo.
3 A extensão da elegia deve ser breve, mais ou menos o
tempo de uma oração.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -158

Exemplo
SENHORAS E SENHORES, COLEGAS e
amigos. Antes de começar tentarei expressar a
dor que sentimos todos pela perda do nosso
querido colega e director, o Sr. X.
Ele foi um homem muito entusiasta que
contagiava a todos com a sua energia e com a
sua capacidade de iniciativa. Sempre se manteve
fiel aos seus amigos e à sua empresa à qual
dedicou muitos anos com sucessos inumeráveis.
A organização que criou, especialmente a rede de
fábricas, permanecerão no futuro como um
permanente tributo ao seu talento empresarial.
Nós, os seus amigos e colegas, sentiremos a
sua falta. A empresa, também. Peço a todos um
minuto de silêncio em memória do Sr. X.

DISCURSOS AO AR LIVRE
Não é muito frequente celebrar discursos ao ar livre,
assim, convém estar preparado. Podem dar-se nas portas de
uma fábrica, numa feira, numa festa popular “ou ao pé de
uma obra”. Pode ver-se obrigado a falar na inauguração de
uma praça ou monumento da cidade. Seja como for, deve ter
em conta algumas normas básicas:

3 Assegurar-se de que poderão ouvi-lo; pense que nos


espaços abertos a voz se transmite com muito mais
dificuldade e chega mais débil. Se há um microfone ou
megafone, use-o. Antes de começar o acto verifique o
seu funcionamento.
3 Nesta circunstância pode mover-se com mais liberdade
que num lugar fechado, aproveite-o.
3 A teatralidade parece menos falsa. Pode utilizar
recursos de oratória antiga.
3 Talvez o público não se aproxime se não lhe atraímos.
Às vezes é necessário aumentar o volume da voz para
que prestem atenção no orador.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -159

3 Não tenha medo de fazer pausas... esperar...


demonstrar de todas as formas possíveis que está
tranquilo e seguro de si mesmo.
3 Ainda que o público o ataque verbalmente, não se deixe
dominar pelo pânico. Mantenha-se firme e sereno ante
as provocações.
3 Fale alto, sem medo a perder a voz. Pior seria se
perdesse o público.

DEBATES PÚBLICOS
Nestes actos, o público tem a possibilidade de conhecer
um mínimo de dois pontos de vista diferentes sobre um
mesmo tema. A vantagem para o orador é que não tem de
preparar um discurso de antemão, ainda que deva prever as
perguntas ou temas que sairão em questão.

Nunca discutas à mesa, quem está faminto sempre terá o


melhor argumento. (R. Whately)

A organização costuma proporcionar lápis e papel aos


assistentes mas, em todo o caso, leve o seu próprio bloco de
notas e a sua caneta.
Quando lhe façam uma pergunta, tome nota e escreva
ao lado as primeiras ideias que lhe ocorrem para respondê-la.
Se não lhe ocorre nada, indique ao moderador que cede o
turno ao outro participante. Enquanto os demais estão a
falar, pense na sua resposta. Se segue sem saber quê dizer,
apenas acrescente: “estou de acordo com o que se falou”.
Não dê respostas precipitadas e pense sempre antes de
responder. Não diga nada de que possa arrepender-se. Cada
resposta deveria ser como um pequeno discurso: ordenada,
concisa e concreta. Esta é a maior dificuldade dos debates:
parecem improvisados, no entanto deve prepará-los bem.
É bem possível que o moderador ou outro participante
interrompam-o, aceite-o com serenidade. Pense que um
debate é menos formal que um discurso, e não tenha medo a
cortar o fio para retomá-lo mais tarde. Se se perde não se
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -160

preocupe, com toda a tranquilidade do mundo diga: “Onde


estava antes da divertida interrupção do senhor X?”. O
moderador não verá nenhum inconveniente em retomar o fio
condutor.
Os participantes num debate são conscientes de que o
público quer divertir-se, por isso são frequentes as sátiras,
ainda que dentro dos limites da correcção, faça piadas com
espírito desportivo e tente replicar com engenho e agudeza.
Evite a agressividade e a hostilidade. A crueldade e a
grosseria não têm justificativa. Trata-se de demonstrar
engenho, não de atacar o próximo.

DISCURSOS QUE FIZERAM HISTÓRIA


Alguns discursos merecem ser recordados pela sua
importância histórica e pela sua boa construção; os dois a
seguir são um claro exemplo. Leia-os com atenção como fonte
de inspiração. Ambos são obras prima da oratória.

Martin Luther King: “Tenho um sonho...”


Eu tenho um sonho, que as minhas quatro
pequenas crianças vão um dia, viver numa nação
onde elas não serão julgadas pela cor da pele,
mas pelo conteúdo do seu carácter.

Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um


sonho, que um dia, no Alabama, com os seus
racistas malignos, com o seu governador que tem
os lábios gotejando palavras de intervenção e
negação; nesse justo dia, no Alabama, meninos
negros e meninas negras poderão unir as mãos
com meninos brancos e meninas brancas como
irmãs e irmãos.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -161

Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um


sonho, que um dia, todo vale será exaltado, e
todas as colinas e montanhas virão abaixo, os
lugares ásperos serão aplainados e os lugares
tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor
será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é a nossa esperança. Esta é a fé com que
regressarei para o Sul. Com esta fé nós
poderemos cortar da montanha do desespero
uma pedra de esperança. Com esta fé nós
poderemos transformar as discórdias estridentes
da nossa nação numa bela sinfonia de
fraternidade. Com esta fé nós poderemos
trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para
ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e
quem sabe nós seremos um dia livres.
Este será o dia, este será o dia quando todas
as crianças de Deus poderão cantar com um
novo significado "O meu país, doce terra de
liberdade, eu canto-te. Terra onde os meus pais
morreram, terra do orgulho dos peregrinos, de
qualquer lado da montanha, ouço o sino da
liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem


de se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da
liberdade no extraordinário topo da montanha de
New Hampshire. Ouvirei o sino da liberdade nas
poderosas montanhas de Nova Iorque. Ouvirei o
sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies
da Pensilvânia. Ouvirei o sino da liberdade nas
montanhas cobertas de neve do Colorado. Ouvirei
o sino da liberdade nas ladeiras curvas da
Califórnia. Mas não é só isso. Ouvirei o sino da
liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de
Vigilância do Tennessee. Ouvirei o sino da
liberdade em todas as colinas do Mississipi, em
todas as montanhas, ouvir-se-á o sino da
liberdade.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -162

E quando isto acontecer, quando nós


permitirmos soar o sino da liberdade, quando nós
deixarmos ele soar em toda moradia, em todo
vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós
poderemos acelerar aquele dia quando todas as
crianças de Deus, homens pretos e homens
brancos, judeus e gentios, protestantes e
católicos, poderão unir as mãos e cantar nas
palavras do velho spiritual negro, “Livres afinal,
livres afinal!. Agradeço ao Deus todo-poderoso,
nós somos livres afinal! "

Jawahar-lal Nehru: “Uma glória partiu”


O primeiro-ministro da Índia dirige-se à Assembleia
Constituinte em Nova Delhi três dias depois do assassinato
de Mahatma Gandhi:

O que podemos, pois, dizer hoje sobre ele,


excepto mostrar a nossa humildade? Não
valemos o bastante para o enaltecer, a ele, a
quem não pudemos seguir de forma adequada e
necessária. É quase uma injustiça referir-nos à
sua pessoa com palavras, quando o que exigiu de
nós foi trabalho e sacrifício; e ele conseguiu, em
boa medida, levar este país a cotas de sacrifício
que não haviam sido igualadas em nenhum outro
lugar: nos últimos tempos, no entanto,
sucederam coisas que sem dúvida fizeram-lhe
sofrer enormemente, ainda que o seu rosto cheio
de bondade nunca perdeu o seu sorriso e da sua
boca jamais saiu uma palavra amarga para
ninguém. No entanto, tem de ter sofrido por
causa dos erros desta geração que educara,
porque nos distanciáramos do caminho que ele
mostrou. E, ao final, pela mão de um dos seus
filhos – pois, depois de tudo, é tão filho seu como
qualquer outro hindu –, a mão desse filho acabou
com a sua vida.
Num tempo futuro a história julgará este
período que atravessámos, os triunfos e os
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -163

fracassos. Nós encontramo-nos ainda muito


próximos para ser juízes justos e para
compreender o que aconteceu. Tudo o que
sabemos é que houve uma glória e já não a há;
tudo o que sabemos é que agora não existe nada
mais senão escuridão, ainda que esta seja menos
sombria porque, quando olharmos no interior dos
nossos corações, encontraremos ainda a chama
viva que ele acendeu aí. Se essas chamas
permanecem, não haverá escuridão nesta terra e
seremos capazes, com o nosso esforço, com a sua
lembrança e seguindo os seus passos, de a
iluminar novamente; pois, pese a nossa
pequenez, teremos ainda o fogo que aventou em
nós.
Ele talvez tenha sido o maior símbolo da Índia
do passado, e atrever-me-ia a dizer também que
da Índia do futuro. Hoje, quando nos
encontramos neste perigoso fio do presente, entre
o passado e um incerto porvir, temos de afrontar
todo o tipo de perigos, e o maior deles é a falta de
fé que nos domina, o sentimento de frustração
que nos envolve, o desfalecimento do nosso
coração e o nosso espírito ao ver esfumar-se os
ideais que nos pertenceram e comprovar como
todas aquelas grandes coisas das quais
falávamos se tornam palavras vazias e a vida
toma um rumo diferente. No entanto, pese a
tudo, tenho a esperança de que esse tempo passe
logo.
Ele se foi, e sobre toda a Índia brota o
sentimento de ter ficado desamparada, desvalida.
Todos nós experimentamo-lo, e duvidamos da
nossa capacidade para nos desembaraçar dessa
sensação; contudo, unidos a esse sentimento há
também outro de profundo agradecimento por ter
sido permitido à nossa geração compartilhar a
vida deste ser extraordinário. Nos tempos
vindouros, séculos e talvez milénios depois de
que nós tenhamos passado, as pessoas
recordarão ainda o tempo em que este homem de
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -164

Deus caminhou sobre a Terra, e lembrarão de


nós que, ainda que pequenos, pudemos seguir os
seus passos e pisar sobre o solo por onde os seus
pés passaram. Façamo-nos dignos dele.
Uma glória partiu, e o sol que nos aquecia e
iluminava foi-se com ela, enquanto que trememos
no frio e na escuridão. No entanto, ele não teria
desejado que nos sentíssemos assim. Ao fim e ao
cabo, aquela glória que contemplamos durante
tantos anos, aquele homem que portava o fogo
divino, também nos transformou; e ao fim e ao
cabo, os seres que hoje somos foram moldados
por ele durante esses anos, e muitos de nós
tomamos de aquele fogo divino como uma tocha
que nos fortaleceu e animou-nos a trabalhar de
uma ou outra forma na direcção que nos
indicava. Por isso, quando lhe enaltecemos as
nossas palavras parecem mais insignificantes e
não deixamos de enaltecer a nós mesmos. Os
homens grandes, os homens eminentes, têm
monumentos de mármore e bronze edificados em
sua honra; entretanto, este portador do fogo
divino conseguiu no decorrer da sua vida ser
cobiçado em milhões e milhões de corações, e
assim todos nós participamos, de alguma forma,
da matéria da qual estava feito, ainda que num
grau infinitamente menor. Por este caminho
chegou a toda a Índia, não só aos palácios, aos
centros intelectuais ou às assembleias, mas
também à mais miserável aldeia, às cabanas
onde habitam os que sofrem. Vive nos corações
de milhões de seres, e viverá pelo resto dos
tempos.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -165

RECURSOS PARA INCLUIR


NO DISCURSO
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -166

Uma anedota engenhosa dentro de um discurso é como


o sal nas mãos de um bom cozinheiro. Um pouco de humor
pode ser uma chispa de imaginação, uma citação mordaz
para provocar o sorriso; todas estas “notas de cor” são
sempre muito bem recebidas pela audiência.
Para preparar este capítulo foi necessário recorrer a
centenas de notas recompiladas durante anos em discursos e
actos de celebração. Todas as anedotas, citações e piadas
foram utilizadas com sucesso.
Todos nós sabemos que a graça de uma piada, anedota
ou citação recai, em grande parte, na graça com que se
explica. Ensaie antes e peça a opinião das pessoas mais
próximas.
Algumas destas anedotas encaixarão perfeitamente no
seu discurso, outras não. A maioria pode adaptar-se aos
casos específicos. Você mesmo pode mudar, conforme o seu
gosto, tudo o que lhe pareça necessário.

MANEIRAS SIMPÁTICAS DE COMEÇAR O


DISCURSO
Tal como Henrique VIII disse a cada uma das
suas sucessivas esposas: Não te reterei por muito
tempo...”

Æ
Na última vez que o presidente tinha de me
apresentar e rogaram-lhe que fosse breve, ele
começou: “Senhoras e senhores, quanto menos
se diga sobre o Sr. Lopes, melhor”. Com isso, o
Sr. Presidente queria dizer-me: “O senhor quer
falar agora ou deixamos que sigam desfrutando
um pouco mais?”.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -167

Uma senhora comentou ao orador depois de


que este terminasse a sua comunicação: “Hoje o
Sr. não estava em boa forma, não é, senhor
Soares?”
Outra mulher que escutara as suas palavras
dirigiu-se ao conferenciante: “Lamento o que
ocorreu, mas, por favor, não faça caso à senhora
Green. É uma cabeça oca, sem personalidade...,
limita-se a repetir o que escuta ao seu redor”.

Æ
Permitiram-me falar antes que o Sr. X, devido
ao facto de que tenho vários compromissos no dia
[diga uma data dos próximos dois meses], os
quais eu gostaria de cumprir.

Æ
Vejo-me na obrigação de pronunciar um
grande número de discursos, e receio que em
algumas ocasiões hei de recorrer ao mesmo
material. As palavras que lhes vou dirigir a seguir
são basicamente uma repetição da apresentação
que fiz na semana passada em [nome da prisão
mais próxima]. Peço desculpas a se há alguém no
público que já as tenha escutado [certifique-se
antes de que não há nenhum ex-presidiário entre
o público].

Æ
Quando, numa recepção, apresentaram
várias personalidades à rainha da Espanha,
comentei-lhe que devia ser esgotante dirigir-se a
tantos desconhecidos ao mesmo tempo. E ela
respondeu-me: “Não é tão difícil como parece. Na
verdade, nem sequer tenho de me apresentar.
Parece ser que todos sabem quem sou!”
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -168

Æ
Mark Twain disse certa vez: “Posso viver de
um elogio durante dois meses. Pois bem, você já
me proporcionou elogios para vários anos”.

Æ
Presidente: “Hei-nos aqui de novo em outro
congresso anual, depois de transcorrido um
ano...”

Æ
Um sacerdote recém ordenado chegou como
auxiliar a uma paróquia rural e observou com
desânimo o seu superior que dormia cada vez
que ele pronunciava o seu sermão semanal. No
entanto, não fez nenhum comentário até o dia
que aquele começou a roncar. Finalizado o
serviço dirigiu-se ao pároco veterano e
perguntou-lhe com grande amabilidade:
“Lamento mencioná-lo, mas não lhe parece um
mal exemplo que o meu superior durma durante
o sermão?”
E o superior replicou-lhe: “Em absoluto,
precisamente é uma demonstração de que confio
em si!”

Æ
Num congresso de humoristas, todos
conheciam bem as piadas dos outros que se
limitavam a usar números. Um homem subiu no
palco e disse: “35”. Todos os assistentes
permaneceram em silêncio, excepto dois que se
matavam de rir nos seus acentos. Ao perguntar-
lhes por que riam, o primeiro respondeu: “É que
me causou graça como o contou”. E o segundo:
“Nunca a tinha escutado”.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -169

Æ
O que um homem de negócios deve aprender
é quando pronunciar os discursos. Uma vez
aprendido isso, torna-se mais sábio e saberá
quando não deve pronunciá-los.

Æ
Enquanto se dirigia a um numeroso grupo de
pessoas, um político mostrou a sua preocupação
pelo funcionamento do microfone.
– Os que estão atrás podem ouvir-me bem? –
perguntou.
– Eu não lhe ouço – gritou uma voz do fundo.
– Sim, eu lhe ouço – disse um dos que
estavam sentados à frente. – O senhor do fundo
poderia trocar de lugar comigo?”.

Æ
“Todos estão a escutar-me bem...? Fico feliz,
pois, eu também posso ouvi-los”.

Æ
Um convidado a um jantar, farto de escutar a
verborreia do orador, passou uma nota ao
presidente onde dizia: “Por quê não acabam com
isso golpeando-lhe a cabeça com o seu bastão?”
O presidente tomou o bastão, no entanto,
escapou-lhe da mão e golpeou o convidado de
honra, sentado do outro lado. Então, enquanto o
pobre homem deslizava lentamente em baixo da
mesa, ouviu-se o seu gemido: “Golpeiem-me
outra vez, porque eu ainda lhe ouço!”.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -170

ANEDOTAS
Anedotas de casais, casamentos e amor

Uma mulher pergunta a uma amiga que acaba de casar


com um idoso milionário:
– Como vai a vida sexual com o teu novo esposo?
– Pois estamos com a tratamento.
– Com a tratamento?
– Sim, ele trata e eu minto.

Æ
No leito de morte, um homem diz à sua esposa:
– Maria, antes de morrer, quero confessar-te que fui
infiel com a tua melhor amiga.
– E por quê pensas tu que te envenenei?

Æ
Entre amigas:
– O meu marido gosta tanto de contrariar que, se se
afogasse, teríamos de buscá-lo rio acima.

Æ
Um homem casado procura emprego numa empresa
dirigida por uma mulher e o secretário pergunta-lhe:
– Não lhe importará receber ordens de uma mulher?
– Não, sentir-me-ei em casa.

Oponho-me às relações sexuais antes do casamento pelo


perigo de chegar tarde.

Æ
Iam dois recém casados num vagão quando o comboio
entra num túnel. Ao sair, o noivo diz à noiva:
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -171

– Se chego a saber antes que era tão longo, faríamos


amor.
E ela responde:
– Ah... não foste tu?

Æ
O marido chega em casa e encontra a sua esposa com
outro homem, desnudos na cama:
– Mas, Maria, quem é este homem?
– Olhe, Zé, dói muito ter de lhe dizer assim, no entanto
a verdade é que um dia tu descobririas... Este é o Sr. que nos
paga as facturas!”
– Pois, cubra-o, senão ele vai apanhar frio.

Æ
– Olá viva, Mariano, sabes que me separei?
– Pois, rapaz, já era hora! Nunca te teria dito, mas a
tua mulher já tinha dormido com todos da cidade, com os da
cidade ao lado, com alguns turistas e inclusive com o padre.
(Até eu fiz com ela várias vezes!)
– Ouça, que de quem me separei foi do meu sócio...

Æ
– Querida, quando cumpramos as nossas bodas de
prata, vou levar-te a Cancum.
– E quando cumpramos as de ouro?
– Quem sabe...? é possível que eu passe para apanhar-
te.

Æ
– A minha mulher está a enganar-me com um
electricista.
– E como é que sabes?
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -172

– Outro dia não encontrava os chinelos, procurei em


baixo da cama e encontrei uma chave de fendas.
– Pois a minha está a enganar-me com um canalizador.
– E como é que sabes?
– Outro dia não encontrava os chinelos, procurei em
baixo da cama e encontrei um maçarico.
– Pois a minha mulher está a enganar-me com um
cavalo.
– E como é que sabes?
– Outro dia não encontrava os chinelos, procurei em
baixo da cama e encontrei um jóquei.

Æ
Uma amiga pergunta à outra:
– Como é? Tu e o teu marido por fim entraram em um
acordo?
– Sim.
– E quando foi isso?
– Quando nos separamos!

Æ
Dois velhinhos de 80 anos vão fazer amor e ele
pergunta:
– Maria, onde queres que façamos hoje?
– No chão – responde ela.
– No chão? Por quê?
– Para sentir algo duro.

Æ
Uma mulher está com o seu amante e de repente chega
o marido.
– Rápido! Pela janela que apenas estamos no primeiro
andar.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -173

– Mas, Júlia, se está a chover canivetes e assim, nu,


vou apanhar uma pneumonia.
– Corre, corre, que o meu marido é um animal!
O homem sai nu e encontra-se com alguns sujeitos que
fazem footing. O homem une-se a eles correndo para
dissimular.
– E você sempre corre assim? – perguntam-lhe.
– É muito saudável, tu te sentes mais livre e não
estraga o traje desportivo.
– E sempre usa um preservativo?
– Não, não, só quando chove.

Æ
Um casal comemora o seu aniversário. A mulher
pergunta:
– Querido, o que é que me compraste para comemorar
o nosso aniversário?
– Uma tumba no cemitério.
Naturalmente, a bronca é descomunal. No ano
seguinte:
– Querido, o que é que me compraste para comemorar
o nosso aniversário?
– Nada; se ainda não usaste o que te comprei no ano
passado...

Æ
– Meu amor, hoje é o nosso aniversário de casamento.
Por quê não matamos um frango?
– E que culpa tem o frango? Por quê não matamos o
teu irmão, porque foi ele quem nos apresentou?

Os homens com mais de 40 anos têm problemas para


encontrar mulheres com o seu próprio nível de maturidade; por
isso saem com mulheres de 20.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -174

Æ
– Depois de vinte anos de casamento sigo apaixonado
pela mesma mulher.
– Que bonito!
– Sim, mas no dia que a minha esposa descubra...

Æ
Um homem chora no túmulo de outro:
– Por quê foste embora? Por quê abandonaste este
mundo? Por quê?
O guarda do cemitério, compadecido, pergunta-lhe:
– Era da sua família?
– Não, foi o primeiro marido da minha esposa.

Æ
A esposa pergunta:
– Onde está o livro Como viver cem anos? Não o
encontro.
– Eu escondi, podia ser que o lesse a tua mãe.

Æ
– Bom dia, querida sogra, lembra-se do que me disseste
outro dia... que daria meia vida por uma melancia?
– Sim, filho.
– Pois aqui trago duas.

Æ
A senhora diz à criada:
– Veja! Acabo de descobrir que o meu marido sai todos
os dias com a sua secretária.
– Não posso acreditar! A senhora está a dizer isso para
me deixar com ciúmes.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -175

Æ
– Acreditas no amor livre?
– E eu te acorrentei alguma vez?

Guerra dos sexos

O homem pergunta a Deus:


– Por quê fizeste a mulher tão bela?
– Para que te apaixonasses por ela. – Responde Deus.
– E então, por quê a fizeste tão tonta?
– Para que se apaixonasse por ti.

Æ
Por quê se suspendeu a prática da circuncisão?
Porque os médicos temem que possa causar um dano
cerebral.

Æ
Por quê a psicanálise é mais breve para o homem que
para a mulher?
Porque quando se tem de falar da infância, os homens
ainda estão aí.

Æ
Por quê as tribos de Israel demoraram tanto para
atravessar o deserto?
Porque os homens não pararam para perguntar qual
direcção tomar.

Æ
Deus criou o homem e disse:
– Realmente posso fazê-lo melhor.
E então criou a mulher.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -176

Æ
Por quê os homens preferem as louras e tontas?
Porque procuram companhia intelectual.

Æ
O que se entende imediatamente ao ver um homem
bem vestido?
Que a sua mulher tem muito bom gosto.

Æ
Por quê os homens são como os ovnis?
Porque não se sabe de onde vêm, qual é a sua missão,
nem quanto tempo vão permanecer.

Æ
Por quê os homens são como o clima?
Porque, faças o que faças, não poderás mudá-los.

Æ
Qual é a diferença entre um homem e um bebé?
Um pode ser permanentemente queixoso e até
insuportável, o outro é apenas um bebé.

Æ
Por quê os homens são como os diplomas?
Porque demoras anos para conseguir um e, uma vez
conseguido, não sabes o quê fazer com ele.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -177

HISTÓRIAS
Abraham Lincoln

Na sua prática legal, Abraham Lincoln tratava de evitar


o litígio sempre que podia. Em certa ocasião, apareceu um
homem que queria levar ao tribunal um pobre devedor que
lhe devia 2,50 dólares. Por muito que se esforçasse Lincoln, o
reclamante estava empenhado em se vingar do devedor.
Vendo que não havia maneira de o aplacar, Lincoln anunciou
que os seus honorários giravam em torno de 10 dólares,
preço que o reclamante aceitou. Lincoln deu metade desta
quantia ao devedor, que com toda a felicidade confessou a
sua culpa perante o juiz e pagou os 2,50 dólares da dívida.
No ponto máximo da guerra civil estadunidense,
Lincoln referiu-se, durante um discurso aos habitantes do
Sul, como “seres humanos que estão equivocados”. Depois do
discurso, uma senhora idosa aproximou-se furiosa e
perguntou-lhe como era possível que lhes chamasse dessa
maneira, se eles estavam a disparar contra os soldados da
União.
– Deveria vê-los como inimigos irreconciliáveis aos que
hão de combater. – Concluiu a senhora.
– Senhora – respondeu Lincoln – por acaso não destruo
os meus inimigos quando os converto em amigos?

Mahatma Gandhi

Em 1931, Gandhi visitou o duce Mussolini, na Itália.


Durante a sua visita levou consigo a cabra que naquela época
acompanhava-o por todas as partes. Os filhos de Mussolini
zombaram dele quando o viram, no entanto, Mussolini
repreendeu-lhes severamente:
– Este homem que estão a ver, com a sua cabra e tudo,
está a fazer os alicerces do império britânico estremecer.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -178

Alfredo, o Grande

Alfredo, o Grande, foi o rei dos saxões da Inglaterra


durante o século IX. Foi um rei comprometido com a defesa
do seu país e com a alfabetização, motivos pelos quais foi um
dos monarcas mais populares da época.
Durante o seu reinado, a Inglaterra foi invadida pelos
daneses, que inicialmente gozaram de uma grande vantagem
numérica e obtiveram inúmeras vitórias. Numa das batalhas,
o exército de Alfredo foi dizimado e cada qual teve que se
salvar como pode. O próprio rei teve que se disfarçar de
pastor e fugir pelos bosques. Esteve a vagar sem rumo
durante vários dias, até que chegou a uma cabana de
lenhadores no bosque. Estava cansado e faminto, e assim
chamou à porta e pediu à esposa do lenhador que lhe desse
algo para comer e um lugar para descansar.
A mulher olhou o fugitivo maltrapilho que tinha diante
de si e não se deu conta de que estava diante do próprio rei
em pessoa.
– Está bem – disse-lhe – Tu podes ver estas tortas que
estão a assar no forno? Cuida para que não se queimem,
enquanto vou ao estábulo e, quando volte, comeremos
ambos.
O rei aceitou e sentou-se em frente do forno, mas logo
os seus pensamentos dirigiram-se para a situação da guerra.
Ficou intrigado a pensar nos daneses, no seu exército ferido e
na forma com que lutaria contra o inimigo. Enquanto
pensava, não se deu conta de que as tortas estavam a
queimar.
Passado um momento, a esposa do lenhador regressou
e qual foi a sua surpresa, que colocou as mãos na cabeça, ao
ver a cozinha cheia de fumaça e as tortas totalmente
queimadas. O rei seguia sentado em frente do forno, sem se
dar conta da situação.
– Maldito mandrião – gritou a mulher –, olha o que
fizeste! Agora nenhum dos dois vai comer nada.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -179

E nisto chegou o lenhador, que reconheceu o rei e, em


pânico, dirigiu-se à sua mulher:
– Cala-te! Tu não sabes que estás a repreender o rei da
Inglaterra?
A mulher, horrorizada, atirou-se aos pés do rei,
suplicando o seu perdão, no entanto, este fez com que se
levantasse e respondeu:
– Tens toda a razão em repreender-me. Eu disse que
cuidaria das tortas e não o fiz. Grande ou pequeno, quando
alguém aceita um dever, deve cumpri-lo.

Willy Brandt

Certa vez, aquele que seria chanceler alemão e prémio


Nobel da Paz, Willy Brandt, foi convidado na sua época de
alcaide de Berlim Oeste para visitar o grande auditório Mann
de Telavive. Brandt expressou o seu agradecimento e
admiração ao povo de Israel por ter dedicado um imponente
auditório ao grande escritor alemão Thomas Mann. O
anfitrião amavelmente corrigiu o seu convidado, indicando
que o auditório assim se chamava em homenagem a um tal
Frederic Mann, da Filadélfia.
– E o que é que este homem escreveu? – perguntou
Brandt.
– Um cheque – foi a lacónica resposta.

O “conselho” de Samuel Goldwyn

Durante uma época difícil, o escritor de teatro


estadunidense Michael Arlen foi a Nova Iorque em 1994. Para
matar a saudade fez uma visita ao famoso restaurante 21. No
balcão encontrou-se com Samuel Goldwyn, que lhe ofereceu
um conselho bastante estúpido: disse-lhe que se dedicasse às
corridas de cavalos. Depois de se despedir, encontrou a Louis
Mayer, um velho conhecido que lhe perguntou pelos seus
planos de futuro.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -180

– Estive a conversar com o Samuel Goldwyn –


comentou Arlen, dubitativamente.
– Não me diga nada mais. Quanto te ofereceu? –
interrompeu bruscamente Mayer.
– Não o suficiente, – respondeu Arlen de forma evasiva.
– Aceitarias 15.000 dólares por trinta semanas? –
perguntou Mayer.
– E desta vez não coube nenhuma dúvida: a resposta
foi “sim”.

A pobreza de Balzac

Certa noite, durante a época de pobreza na vida de


Honoré de Balzac, um ladrão invadiu o seu apartamento, e
pôs as suas mãos em obra, tratando de forçar a fechadura da
secretária. Estava totalmente absorto no seu trabalho quando
ouviu uma risada sarcástica procedente do quarto. Era
Balzac, que se supunha que estava a dormir.
– E de quê estás a rir? – perguntou o ladrão.
– Rio porque me parece engraçado o risco que o senhor
corre ao entrar aqui, de noite, tentando encontrar dinheiro
num lugar onde o seu legítimo dono não encontra nem
sequer uma moeda durante o dia.

Leon Tolstoi

Nas suas últimas horas, muitos companheiros de


Tolstoi tentavam sem sucesso que este se reconciliasse com a
Igreja ortodoxa russa, coisa que Tolstoi negava com todas as
suas forças.
– Nem mesmo nas sombras do vale da morte – dizia
Tolstoi – dois mais dois não fazem seis.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -181

Catão

Um soldado apresentou-se ante Catão tremendo de


medo, a dizer que recebera um sinal que indicava maus
augúrios.
– E o quê é que ocorreu consigo? – perguntou Catão.
– Foi algo sumamente estranho: enquanto dormia um
rato roeu a minha sandália. É algo terrível e indica maus
presságios.
– No te assustes – respondeu Catão aparentando
seriedade –, é um acontecimento completamente normal.
Muito pior teria sido se a sandália devorasse o rato.

Cristãos?

Em 1948, durante a guerra que travaram os judeus e


os seus vizinhos árabes, o embaixador estadunidense Warren
Austin declarou ante as Nações Unidas que ambos os povos
deviam procurar vias de solução pacífica para os seus
problemas, “como bons cristãos”.

Heróis

Quando o rei da Pérsia, Xerxes, marchava contra a


Grécia, nas suas filas infiltrou-se um general grego,
Arcesilau. Disfarçado de soldado persa assassinou o nobre
Mardónio. Capturado e atado, foi levado em presença de
Xerxes, que lhe perguntou por que tinha cometido tal acto.
– Pensava que te matava a ti, Xerxes, inimigo dos
gregos! – respondeu o general.
Frente a semelhante ousadia, Xerxes ordenou que
torturassem o general para que revelasse os planos do seu
exército.
Arcesilau, adiantando-se aos seus algozes, pôs uma
das mãos no fogo e aí a deixou até que ficasse totalmente
queimada, sem murmurar nem o mais mínimo lamento de
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -182

dor e sem mostrar marca alguma de sofrimento na sua face.


Feito isto, voltou-se para Xerxes e, ofensivo, disse-lhe:
– Qualquer grego faria isto, pois nenhum de nós jamais
dirá nada que seja de proveito para o inimigo.
Depois disso, e para demonstrar as suas palavras,
introduziu a outra mão no fogo.
– Detenha-se! – Exclamou Xerxes, assombrado por
semelhante demonstração de valor. Retire esta mão do fogo,
pois a tua coragem comoveu-me. Marcha com os teus, já que
sem dúvida um homem tão valente não demorará a cair
novamente nas nossas mãos.

Isaac Newton

Isaac Newton foi eleito membro do parlamento britânico


em 1689. Compareceu durante muitos anos ao seu escanho
ainda que nunca interviesse. Em certa ocasião, Newton
levantou-se durante uma sessão e fez-se um grande silêncio
para escutar as suas palavras. Tudo o que Newton fez foi
pedir que fechassem uma janela que estava aberta porque
fazia muita corrente de ar.

Galeno e o riso

Galeno, um dos médicos mais famosos da antiguidade,


foi requerido para tratar a mulher de um aristocrata romano.
O seu médico habitual administrara-lhe ervas para curar um
suposto mal, no entanto, a mulher não experimentava
melhora alguma.
Galeno apanhou-lhe o pulso, e enquanto sentia a
pulsação, casualmente mencionou o nome de um actor com o
qual se relacionava à mulher no diz-que-diz-que do povo. Ao
ouvir o seu nome, imediatamente o pulso disparou. Então,
Galeno agachou-se e sussurrou-lhe algo no ouvido que a fez
soltar uma prolongada gargalhada. O riso foi o início da sua
cura e é um dos primeiros exemplos documentados do
tratamento psiquiátrico de doenças psicossomáticas.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -183

As matemáticas de von Neumann

John von Neumann (1903-1957) tinha o costume de


escrever no quadro-negro as soluções dos problemas que
propunha. Obviamente, os estudantes perguntavam-lhe como
elaborar os problemas pois não tinham suficiente com a
solução. Certa vez, um deles tentou ser mais diplomático e
em lugar de perguntar directamente como se fazia o
problema, disse-lhe:
– Professor, este problema poderia fazer-se de outra
forma?
– Deixe-me pensar... hummm... Sim!
E continuou a escrever as soluções no quadro.

Da próxima vez que alguém lhe diga que a sua palavra vale
tanto como o seu dinheiro, apanhe o seu dinheiro. (Alec
Douglas)

Nixon-Castro

Em 1959 celebrou-se um encontro entre o então vice-


presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, e o líder
cubano Fidel Castro. Tal como já se esperava, o encontro foi
um completo desastre. Conta-se que justo antes de começar a
reunião, enquanto a delegação cubana estava a esperar,
entrou um funcionário norte-americano declamando
orgulhosamente:
– Apresento-lhes o Sr. X, responsável pelos assuntos
cubanos. Ao qual, Castro respondeu:
– E eu que pensava que o responsável pelos assuntos
cubanos era eu!
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -184

Bismarck

Quando o chanceler alemão adoeceu, com um câncer já


desenvolvido, a sua mulher, Johanna, chamou um médico
jovem para que o examinasse.
– Não gosto de perguntas! – Foi a resposta que deu
Bismarck ao doutor quando este começou a perguntar sobre
a sua doença.
– Então procure um veterinário! – responde o médico
sem titubear – Eles não perguntam nada aos seus pacientes.

Insultos engenhosos

Certa vez, George B. Shaw, que não podia suportar a


Churchill, enviou-lhe duas entradas para ver uma estreia
sua. Na nota dizia: “Uma entrada é para o senhor, e a outra,
para um amigo seu, se é que o tem”.
Imutável, Churchill desculpou-se informando que lhe
era impossível assistir, e se seria possível dispor de entradas
para a segunda noite, “se é que haverá”.

Æ
Cícero, um dos mais famosos oradores da história, com
frequência era atacado pela sua origem plebeia. Numa
ocasião tinha como adversário o nobre romano Nepote, que
reiteradamente perguntou durante o seu discurso:
– Depois de tudo isso, quem é o seu pai?
Após escutar pacientemente como esta pergunta surgia
uma e outra vez, Cícero, ao final, interrompeu o prepotente
romano com as seguintes palavras:
– A sua mãe fez com que para si esta pergunta seja
difícil de responder.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -185

Æ
George B. Shaw, devido ao seu agudo engenho e sátira,
teve em vida inúmeros inimigos entre a alta sociedade
britânica. Em certa ocasião, um jovem lord perguntou-lhe.
– Senhor Shaw, sendo o seu pai um modesto alfaiate
irlandês, pergunto-me como o senhor não o é também?
Ao que Shaw rapidamente contestou:
– Desculpe-me, mas penso que me assalta a mesma
dúvida: sendo o seu pai um perfeito cavalheiro, como é que o
senhor não o é também?

Æ
Numa das recepções da Commonwealth, caracterizada
pelo glamour e pela presença de altas personalidades dos
países membros, o chefe de protocolo aproximou-se a
Churchill e comentou-lhe ao ouvido que havia visto como um
dos ilustres convidados escondia no seu bolso um saleiro de
prata. Churchill, rapidamente, escondeu no seu bolso o
pimenteiro que fazia jogo com tal saleiro. No final do jantar,
Churchill aproximou-se do convidado ladrão e murmurou:
– Ouça, senhor, já nos descobriram. Penso que será
melhor que deixemos os dois saleiros no seu lugar.

Æ
Numa ocasião na qual Goethe e Beethoven se
encontravam a passear juntos, Goethe comentou como se
sentia incómodo com os incessantes cumprimentos que os
viandantes lhe dirigiam.
– Não deve preocupar-se, Excelência – respondeu
Beethoven – talvez os cumprimentos sejam para mim.

Æ
Óscar Levant, pianista e amigo íntimo de George
Gershwin, numa ocasião protestou que sempre que viajavam
em comboio, Gershwin ficava com a liteira debaixo e, em
contrapartida, ele tinha que se conformar com a de cima.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -186

– É inevitável, Óscar – contestou Gershwin – é a


diferença entre talento e genialidade.

Sabedoria

Perguntaram a Zenão de Eleia, discípulo de


Parménides, o famoso paradoxo de Aquiles e a tartaruga, se
os sábios podiam apaixonar-se.
– Claro que sim! – respondeu Zenão.
– Então, os sábios actuam do mesmo modo que os
tontos e os néscios? – perguntaram-lhe.
– Nem muito menos – respondeu o filósofo –, os néscios
pensam saber por quê amam, os tontos inclusive dão as suas
razoes, mas só os verdadeiros sábios sabem que não existem,
que ninguém sabe por quê nasce o amor e nem por quê
morre.

Giotto e Dante

Quando o poeta italiano Dante conheceu pela primeira


vez os filhos de Giotto, o artista do Renascimento, ficou
surpreendido pela sua feiura:
– Como?! – Exclamou – Tu crias figuras tão belas para
os demais e, no entanto, as tuas próprias são tão
deformadas.
Giotto, imutável, contestou:
– É que eu faço as figuras para os demais durante o
dia.

Benjamin Franklin

Quando Benjamim Franklin era jovem, cometeu um


erro do qual se lembraria durante toda a sua vida.
Apaixonou-se loucamente por um apito da sua loja local. Tal
era a sua obstinação que quando por fim encheu o cofrinho,
lhe faltou tempo para rompê-lo e ir à loja. Acumulou todas as
moedas encima do balcão e pediu o apito, sem perguntar nem
sequer quanto valia.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -187

Logo voltou pelo caminho, tocando alegremente o apito


por todo o percurso e inclusive dentro de casa. Estava louco
de alegria, até que a sua mãe e os seus irmãos lhe
perguntaram quanto pagara pelo apito; ao ouvir a inverosímil
resposta, puseram-se a rir em longas gargalhadas.

O pseudónimo de Asimov

Devido à similitude de estilos entre Arthur C. Clarke e


Isaac Asimov, a este último frequentemente lhe atribuem
algumas obras do primeiro. Uma das mais famosas obras de
Clarke é “O fim da infância”. Em certa ocasião, uma jovem
comentou a Asimov:
– Dr. Asimov, realmente não penso que “O fim da
infância” esteja à altura do resto das suas obras.
– Bem, querida – respondeu Asimov –, por isso a
escrevi com um pseudónimo.

Condecorações

Durante a guerra franco-prussiana de 1870, um


príncipe alemão queixou-se ao chanceler Otto von Bismarck
de que a Cruz de Ferro, a mais alta condecoração prussiana,
era entregue facilmente às gentes que não a mereciam.
– Excelência – respondeu Bismarck –, isto é inevitável.
Terá que se condecorar um certo número de pessoas ainda
que apenas por motivos decorativos e de protocolo. Pense
que, no final das contas tanto o senhor como eu também a
temos.

Humildade

Certa vez, enquanto Mahatma Gandhi subia num


comboio, uma das suas sandálias caiu na via. Gandhi e os
seus acompanhantes trataram de a recuperar, mas sem
nenhum sucesso, pois o comboio já estava em marcha. Ante
a surpresa de todos com total calma, ele tirou a outra
sandália e jogou na via.
– Por quê fizeste isto? – perguntaram-lhe.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -188

– O pobre homem que encontrar a sandália jogada na


via – respondeu – desta maneira terá um par que possa usar.

Æ
Tycho Brahe, um dos mais famosos astrónomos de
todos tempos, morreu de “educação excessiva”.
O astrónomo tinha esquecido de ir à casa de banho
antes do banquete oferecido pelo barão de Rosenberg e os
seus bons modos impediram-lhe de desculpar-se durante o
mesmo. O banquete fez-se interminável e, no final, a sua
bexiga arrebentou literalmente, causando-lhe uma infecção
que acabou com ele em duas semanas.

Jorge Luís Borges

Durante a época da ditadura peronista na Argentina, o


escritor Jorge Luis Borges negou-se a pendurar no seu
escritório um retrato do ditador. Isto motivou a sua expulsão
da Associação de Escritores. Numa noite, um ardente
peronista chamou à sua casa e ameaçou de morte à mãe de
Borges, a ela e ao seu filho.
– Bem, senhor – contestou a mãe de Borges – se quer
matar o meu filho, é muito fácil: ele sai todos os dias às oito
da manhã do seu escritório e o único que tem de fazer é
esperá-lo. Quanto a mim, já tenho oitenta anos e se quer
matar-me, mais vale que se apresse, pois é possível que eu
morra antes.

CITAÇÕES, PROVÉRBIOS E PENSAMENTOS


Acção

O homem que diz “não se pode fazer” será


surpreendido por alguém que o faça. (Anónimo)

Æ
Vale mais actuar expondo-se a arrepender-se disso,
que arrepender-se de não ter feito nada. (Boccacio)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -189

Alegria

Se exagerássemos as nossas alegrias, como fazemos


com as nossas penas, os nossos problemas perderiam muita
importância. (Anatole France)

Amizade

Um amigo é alguém com quem se pode não fazer nada


e desfrutar disso. (Anónimo)

Æ
Aceitar um favor de um amigo é fazer-lhe outro. (John
C. Collins)

Æ
Se queres encontrar amizade em qualquer parte,
doçura e poesia, leve-as sempre contigo. (George Duhamel)

Æ
É meu amigo aquele que me socorre, não quem me
compadece (Thomas Fuller)

Æ
Um amigo é aquele que sabe tudo de ti e apesar disso
ama-te. (Elbert Hubbard)

Æ
Os amigos: uma família cujos indivíduos livremente se
escolhem a si próprios. (Alphonse Karr)

Æ
Deus me livre das inimizades de amigos! (Lope de Vega)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -190

Æ
Os verdadeiros amigos têm de se aborrecer de vez em
quando. (Louis Pasteur)

Æ
Um homem não faz amigos: reconhece-os à medida que
os vai encontrando. (Isabel Paterson)

Æ
Existem poucos laços de amizade tão fortes que não
possam ser cortados pelo cabelo de uma mulher. (Santiago
Ramón y Cajal)

Æ
Sabem que quando uma pessoa é amiga de si própria,
também o é de todo o mundo. (Séneca)

Æ
Não penso que os amigos sejam necessariamente as
pessoas que mais gostemos, são meramente as pessoas que
estiveram aí primeiro. (Peter Ustinov)

Æ
Se os nossos amigos nos fazem favores, pensamos que
nos devem isso como amigos, no entanto não pensamos que
não nos devem a sua amizade. (Marquês de Vauvenarges)

Æ
Qualquer pessoa pode simpatizar-se com as penas de
um amigo; mas simpatizar-se com os seus sucessos requer
uma natureza delicadíssima. (Oscar Wilde)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -191

Queda

O homem que se levanta é ainda maior que o que


nunca caiu. (Concepção Arenal)

Æ
Quem já está em baixo não terá que temer a queda.
(John Bunyan)

Æ
Se tu cais sete vezes, levanta-te oito. (Provérbio chinês)

Æ
Cair é permitido; levantar-se é obrigatório. (Provérbio
russo)

Constância

Os que renunciam são mais numerosos que os que


fracassam. (Henry Ford)

Æ
A constância é a virtude com a qual todas as demais
dão frutos. (Arturo Graf)

Æ
O génio começa as grandes obras, no entanto só o
trabalho acaba-as. (Joseph Joubert)

Æ
O talento é algo corrente. Não escasseia a inteligência,
mas a constância. (Doris Lessing)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -192

Æ
O homem mais lento, que não perde de vista o fim, vai
sempre mais veloz que o que vai sem perseguir um objectivo
fixo. (Gotthold W. Lessing)

Democracia

A democracia, tanto nacional como social, precisa do


transparente equilíbrio dos próprios interesses satisfeitos. (G.
Janer)

Dinheiro

Sou um homem de princípios, no entanto um dos meus


princípios é a utilidade. (Lloyd George)

Æ
Daquele que opina que o dinheiro pode fazer tudo, cabe
suspeitar com fundamento que será capaz de fazer qualquer
coisa por dinheiro. (Benjamin Franklin)

Æ
A magnitude das quantidades de dinheiro parece variar
de modo notável conforme tenha-se de pagar ou cobrar.
(Aldous Huxley)

Æ
Há tantas coisas na vida mais importantes que o
dinheiro! Mas custam tanto...! (Groucho Marx)

Æ
Ao cão que tem dinheiro deve-se tratar por senhor cão.
(Provérbio árabe)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -193

Æ
Quando se trata de dinheiro, todo o mundo é da
mesma religião. (Voltaire)

Dissuasão

A dissuasão implica na existência de poderes, em


empregá-los e no conhecimento por parte do adversário de
que se fosse necessário, fazer-se-ia uso deles. (Abba Ebban)

As Idades do homem

Envelhecer é o único meio de viver muito tempo. (D. F.


Auber)

Æ
A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, mas
com muito esforço. (Jean L. Banault)

Æ
Dos meus disparates de juventude, o que me dá pena
não é tê-los cometido, mas sim não poder voltar a cometê-los.
(Perre Benoit)

Æ
O homem nasce sem dentes, sem cabelo e sem ilusões.
E morre igual: sem dentes, sem cabelos e sem ilusões.
(Alejandro Dumas)

Æ
Comummente se joga em cara à juventude o acreditar
que o mundo começa com ela. É certo. No entanto, a velhice
pensa ainda mais frequentemente que o mundo acaba com
ela. O que é pior? (C. Friedrich Kebbel)

Æ
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -194

Todos nós desejamos chegar à velhice e todos nós


negamos quando já chegámos. (Francisco de Quevedo)

Inimigos

Consulta o olho do teu inimigo porque é o primeiro que


vê os teus defeitos. (Antístenes)

Æ
As inimizades ocultas e silenciosas são piores que as
abertas e declaradas. (Cícero)

Æ
Quem não tem inimigos, também não costuma ter
amigos. (Baltasar Gracián)

Æ
Escolha cuidadosamente os seus inimigos. Certifique-
se de que são importantes, porque a sua própria importância
depende deles. (Nalum Goldmann)

Erros

Se eu vivesse a minha vida outra vez, cometeria os


mesmos erros, mas mais depressa. (Tallulah Bankhead)

Æ
Equivocar-se e, apesar disso, outorgar confiança ao
meu ser interior; isto é o homem. (Gottfried Benn)

Æ
Gostaria de viver eternamente, pelo menos para ver
como em cem anos as pessoas cometem os mesmos erros que
eu. (Winston Churchill)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -195

Æ
Os erros possuem o seu valor, ainda que só em
algumas ocasiões; nem todo o mundo que viaja à Índia
descobre a América. (Erich Kastner)

Qualquer esforço resulta ligeiro com o hábito. (Tito Lívio)

O homem que não comete erros usualmente não faz


nada. (Edward J. Phelps)

Esforço

O homem dedica-se a desejar em voz alta aquilo que


jamais se esforça em alcançar. (Noel Clarasó)

Æ
Mantém viva em ti a faculdade do esforço, submetendo-
a a cada dia a um pequeno exercício gratuito. (Williams
James)

Experiência

A experiência sempre dá o melhor conselho, no entanto


sempre os dá muito tarde. (A. da Houssaye)

Æ
Um jovem em anos pode ser velho em horas se não
perdeu tempo. (Francis Bacon)

Æ
Se pudéssemos vender as nossas experiências ao preço
que nos custam, todos seríamos milionários. (Abigail van
Buren)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -196

Felicidade

Ter tudo para ser feliz não é, de maneira alguma, uma


razão para sê-lo. (J. Normand)

Æ
O segredo da felicidade reside mais propriamente em
dá-la que em esperá-la. (L.M. Normand)

Æ
A felicidade é algo que não depende da posição, mas
sim da disposição. (J G. Pollard)

Æ
Para fazer a paz é preciso dois, mas para fazer a guerra
basta um só. (M. Chamberlain)

Æ
O homem há de marcar um final para a guerra. Porque
senão, a guerra marcará um final para o homem. (J.F.
Kennedy)

Æ
Quando os ricos fazem a guerra são os pobres que
morrem. (Jean Paul Sartre)

Fazer

O melhor prazer na vida é fazer o que a gente diz que


não podes fazer. (Walter B. Geoth)

Æ
Vale mais actuar arriscando-se a se arrepender disso,
que se arrepender de não ter feito nada. (G. Boccaccio)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -197

Æ
As coisas não são difíceis de fazer, o que é difícil é
colocar-se na situação de fazê-las. (Constantin Brancusi)

Æ
Um homem que decide fazer algo sem pensar em outra
coisa supera todos os obstáculos. (Giacomo Casanova)

Ira

Um sábio colérico deixa de ser um sábio. (Talmud)

Justiça

O júri está composto por doze pessoas escolhidas para


decidir quem tem o melhor advogado. (Robert L. Frost)

Æ
O homem justo não é aquele que não comete nenhuma
injustiça, mas sim aquele que podendo ser injusto não quer
sê-lo. (Menandro)

Juventude

A juventude sabe o que não quer antes de saber o que


quer. (Jean Cocteau)

Æ
É melhor malograr a própria juventude que não fazer
nada nela. (G. Courteline)

Æ
Se a juventude é um defeito, é um defeito que se cura
muito rápido. (James R. Lowell)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -198

Livros

Um bom livro é aquele que se abre com expectação e se


fecha com proveito. (Louise M. Alcott)

Æ
Um lar sem livros é como um corpo sem alma. (Cícero)

Æ
O autor que fala dos seus próprios livros é pior que a
mãe que só fala dos sus filhos. (Benjamin Disraeli)

Aquele que lê muito e anda muito vê muito e sabe muito.


(Cervantes)

Æ
Os livros têm o seu orgulho: quando se emprestam, não
voltam nunca mais. (Theodor Fontane)

Æ
Encontro a televisão muito educativa. Cada vez que
alguém a liga, retiro-me a outra habitação e leio um livro.
(Groucho Marx)

Æ
Há duas classes de escritores geniais: os que pensam e
os que fazem pensar. (Joseph Roux)

Loucura

Louco: assim se chama um homem com ideias novas,


até o momento em que tem sucesso. (Mark Twain)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -199

Æ
Se a gente nos ouvisse os pensamentos, poucos de nós
escaparíamos de estar encarcerados como loucos. (Jacinto
Benavente)

Æ
Quando todo o mundo está louco, ser prudente
constitui uma loucura. (Paul Samuelson)

Maldade

O pior que fazem os maus é obrigar-nos a duvidar dos


bons. (Jacinto Benavente)

Æ
O mundo não está em perigo devido às pessoas más,
mas sim pelas que permitem a maldade. (Albert Einstein)

Æ
É possível confiar nas pessoas más, elas não mudam
jamais. (William Faulkner)

Æ
Um louco é capaz de atirar uma pedra num lago, mas
nem mesmo cem homens sábios são capazes de recuperá-la.
(Provérbio grego)

Æ
Para fazer o mal qualquer um é poderoso. (Frei Luis de
León)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -200

Morte

O nascimento e a morte não são dois estados distintos,


mas sim dois aspectos do mesmo estado. (Gandhi)

Æ
Como não me preocupou nascer, não me preocupo em
morrer. (Federico Garcia Lorca)

Mundo

O mundo é de quem nasce para o conquistar e não de


quem sonha que pode conquistá-lo. (Fernando Pessoa)

Æ
Não lhe demos ao mundo armas contra nós mesmos,
porque as utilizará. (Gustave Flaubert)

Æ
Em resumidas contas, neste mundo, cada qual
consegue o que merece. No entanto só aqueles que alcançam
o sucesso reconhecem-no. (Georges Simenon)

Pais e filhos

Os nossos pais estragam a primeira metade da nossa


vida, os nossos filhos, a segunda. (Clarence S. Danow)

Æ
Muito têm de fazer os pais para compensar o facto de
ter filhos. (Friedrich Nietzsche)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -201

Passado, presente e futuro

O único elemento que pode substituir a dependência do


passado é a dependência do futuro. (John Dos Passos)

Æ
Esqueçamos o que já ocorreu, pois é possível lamentar-
se, refazer-se. (Tito Lívio)

Æ
O passado fugiu, o que esperas está ausente, mas o
presente é teu. (Provérbio árabe)

Æ
Existe um passado que se foi para sempre, mas
também existe um futuro que ainda é nosso. (F.W Robertson)

Jornalismo e propaganda

A notícia é tudo aquilo que alguém em algum lugar


tenta reprimir, o restante são anúncios. (Lord Northcliffe)

Política

A consequência de não pertencer a nenhum partido


será porque incomodarei a todos. (Lord Byron)

Æ
Um político pensa nas próximas eleições; um estadista
na próxima geração. (James F. Clarke)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -202

Religião

Oponho-me a toda superstição, seja muçulmana,


cristã, judia ou budista. (Bertrand Russell)

Æ
O cristianismo poderia ser bom, se alguém tentasse
praticá-lo. (George B. Shaw)

Æ
Cada qual interpreta à sua maneira a música dos céus
(Provérbio chinês)

Riqueza

A riqueza é como a água salgada; quanto mais se bebe,


mais sede dá.(Schopenhauer)

Æ
É preciso ter o apetite do pobre para gozar da riqueza
do rico. (Antoine Rivarol)

Æ
É menos desagradável ver um pobre mendigar que um
rico; um cartaz publicitário é como um rico que mendiga.
(Anónimo)

Segredos

Se sei algo que tu ignoras, sabes que não posso dizê-lo,


e se não sei algo que tu também não sabes, de todas formas,
não me escutarás. (Anónimo)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -203

Æ
A vaidade de que os demais saibam que nos confiaram um
segredo costuma ser uma das principais razões para o
desvelar. (Samuel Johnson)

Æ
Quando se revela um segredo, a falta é daquele que
confiou. (La Bruyére)

Æ
Se queres que outra pessoa guarde o teu segredo,
guarde-o tu mesmo. (Séneca)

Ser humano

Não devemos perder a fé na humanidade, que é como o


oceano: não se suja só porque algumas das suas gotas estão
sujas (Gandhi)

Æ
O homem sempre pensa ser mais do que é e estima-se
menos do que vale. (Goethe)

Sobreviver

O porco-espinho talvez seja menos atraente que um


coelho, mas tem maiores possibilidades de sobreviver e
menos de ser ingerido. (Anónimo)

Tentações

Não culpes o rato, mas sim o buraco na parede. (Talmud)

Æ
Se eu ganho mais que tu, isso é uma “diferenciação” e
se tu ganhas mais que eu, constitui uma “anomalia”.
(Anónimo)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -204

Trabalho e relações laborais

Há duas classes de liderança. Uma consiste em ir na


frente e dirigir daí; a outra, em esperar para ver aonde vão as
pessoas, dar uma volta rápida e colocar-se no comando.
(Julius Berman)

Æ
“Pedimos aos senhores directores que aproveitem os
serviços das suas secretarias durante as primeiras horas da
manhã”. (Cartaz no quadro de anúncios de uma companhia
de seguros)

Æ
Risco calculado é quando os engenheiros fazem os
cálculos e o piloto corre o risco. (Piloto anónimo das linhas
aéreas)

Vida

Perguntam-me por quê compro arroz e flores? Compro


arroz para viver, e flores para ter algo por quê viver.
(Confúcio)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -205

FRASES ADEQUADAS
PARA AS SITUAÇÕES
DIFÍCEIS
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -206

QUESTÕES BÁSICAS A CONSIDERAR


Falar com tacto

“Antes tivesse ficado com a boca fechada!” Certamente


que alguma vez você já pensou nisso depois de dar uma
resposta inadequada a uma situação difícil. Isso já passou
com todos nós, porque nem sempre estamos preparados para
dizer o correcto em cada situação. Em algumas ocasiões, as
nossas respostas ferem os demais sem que nós sejamos
conscientes de como nem por quê.
Neste capítulo tratamos de como evitar esses
incidentes. Seguindo algumas regras simples poderemos dizer
o que pensamos sem ferir os sentimentos dos nossos
semelhantes, dar notícias desagradáveis da melhor forma
possível e responder de maneira assertiva em situações
comprometedoras.
Costumamos dizer que este ou aquele assunto deve
tratar-se com muito tacto, no entanto ninguém nunca nos
ensinou em quê consiste e como se faz. Tacto é a capacidade
de reconhecer a delicadeza de uma situação e dizer o mais
apropriado e o mais considerado. Para tanto é necessário ser
sensível, entender os demais e ser capaz de falar com eles de
forma afirmativa sem que se ofendam. Também se necessita
um pouco de prudência e habilidade para fazer que se sintam
melhor depois de conversar connosco.
Se pensa que lhe será difícil comunicar-se com os
demais, continue a ler e você verá que é fácil aprender a “ter
tacto”. Só tem de seguir as sete regras básicas para sair
vitorioso nas conversações difíceis.

Pensar antes de falar

A primeira norma para prevenir os “deslizes verbais” é


pensar as coisas antes de as dizer. É fácil evitar um
comentário infeliz se antes pensarmos durante alguns
segundos no que queremos dizer e como vamos dizê-lo. Pare e
pense:
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -207

3 Como me sentiria se alguém me dissesse isso?


3 O quê quero conseguir com as minhas palavras?
3 Quê resposta espero?
3 As minhas expectativas são razoáveis?
3 Quem se beneficiará do que eu disser?
3 Como se sentirão os demais depois de que eu tenha
falado?
3 Os meus comentários são proveitosos ou daninhos?

Na maioria das vezes basta colocar-se no lugar da


outra pessoa para proceder com tacto. Os seus próprios
sentimentos servirão de medida para calcular as
possibilidades de ferir o próximo. Se pensa que você pode
sentir-se incómodo com o que vai dizer, tenha a certeza de
que o seu interlocutor também o fará. Em tal caso, repense
as palavras e procure a melhor forma de dizê-las.

Desculpe-se rápido depois de se enganar

Todos nós já nos enganamos alguma vez; quando lhe


aconteça, deve reagir rapidamente, lembre-se do velho ditado:
“Errar é humano e rectificar é dos sábios”. Preste atenção na
resposta do seu interlocutor na sua linguagem verbal e
corporal, e poderá ver se você está a dizer algo incorrecto, e
nesse caso:

3 Peça desculpas rapidamente;


3 Reconheça o seu erro;
3 Não tente dar uma explicação longa e complicada,
certamente acabará piorando a má impressão causada;
3 Volte a desculpar-se com muita humildade;
3 Mude o tema da conversa por outro mais distendido.

Por exemplo: uma colega de trabalho apresenta o seu


marido a uma amiga, Marta, e esta diz: “Sara, pensei que o
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -208

teu marido fosse mais jovem”. Logo se dá conta de que


cometeu um erro, a expressão de desgosto de Sara o
evidencia. Marta pode salvar a situação seguindo os pontos
anteriores:

Desculpe, Sara! Sinto muito, mas como


sempre falas dele de uma forma tão “juvenil”, dei
por certo de que era um rapaz novo. Não
imaginava que um homem tão distinto... Por
certo, disseram-me que vocês tiveram alguns dias
de férias. E o que é que fizeram?

Conversar não é competir

Numa conversa ninguém deve sentir-se como perdedor


ou ganhador; não se trata de competir, mas sim de
compartilhar.
Algumas pessoas gostam de impressionar os outros,
encurralando-lhes com a sua verborreia até que aceitam a
sua opinião como própria. Esses estilos de conversa tão
agressivos certamente impressionam... mas negativamente.
Depois de algumas conversas deste tipo ninguém desejará
repetir a experiência.
Conversar é debater, intercambiar informação,
opiniões, ideias e sentimentos.
Se quer ser um conversador com tacto, não seja
agressivo; exponha as suas ideais e escute as do seu
interlocutor com respeito, é a única maneira de conversar.

Escolha o momento adequado

Certifique-se de que a pessoa com a qual quer falar


está à disposição para escutar. Não há uma fórmula que lhe
permita calcular qual é o melhor momento; de facto, não
costuma existir um momento perfeito. Conforme-se com o
melhor momento possível, segundo o caso.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -209

Ainda que não saibamos quando é melhor, sim,


conhecemos quais são os piores momentos para iniciar uma
conversa:

3 Quando estiverem na rua ou rodeados de amigos ou


colegas de trabalho;
3 No momento em que o outro acaba de chegar do
trabalho;
3 Recém levantado, na primeira hora da manhã;
3 Quando um dos dois está aborrecido ou de mal humor.
3 Quando houver distracções como a televisão, o
telefone, as crianças, etc.
3 Justo antes, durante ou imediatamente depois de fazer
o amor.

Terá mais possibilidades de sucesso se tenta:

3 Combinar um momento adequado para ambos;


3 Ir ao directo ao tema, propor o tema sem rodeios;
3 Não insistir em obter um acordo ou respostas
imediatos;
3 Mostrar-se disposto a escutar.

Em definitiva, trata-se de entender a outra pessoa e


dar-lhe tempo para que pense no assunto.

Centre-se na conduta, não na personalidade

Uma pessoa adulta já tem a sua personalidade


completamente definida. É quase impossível que você ou eu,
ou quem quer que seja, possa mudá-la. Em contrapartida,
sim, podemos conseguir que alguém abandone um
comportamento determinado. É mais fácil mudar as acções
concretas que os traços do carácter da pessoa.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -210

Tente isolar os comportamentos concretos que quer


mudar; desta forma não põe em questão o indivíduo, mas sim
unicamente os actos concretos, mensuráveis e evitáveis.
Por exemplo, se o seu colega de trabalho é muito
nervoso você não poderá “transformá-lo” numa pessoa
tranquila, mas sim pode convencê-lo para que não mova
compulsivamente os pés em baixo da mesa.
Também pode ocorrer que uma pessoa próxima seja
excessivamente perfeccionista e esteja constantemente a
corrigir as suas palavras, apontando os seus erros ou
acrescentando pormenores nas histórias. Se isso lhe parece
desagradável, fale com ela. A próxima vez que lhe corrija, diga
algo assim:

Podemos falar um momento em particular?


(...) Já sei que fazes para o meu próprio bem, mas
cada vez que me corriges ou me contradizes
sinto-me como um estúpido. Sei que não é essa a
tua intenção, mas é bastante incómodo e não só
para mim, o demais também notam e se
aborrecem. Acreditas que poderias deixar passar
esses detalhes ou, pelo menos, não corrigi-los em
público?

Descobrir os sentimentos ocultos

Muitas vezes, a falta de tacto é consequência de não


saber interpretar os sentimentos alheios. Por exemplo,
suponha que você quer iniciar um negócio e quando o explica
à sua família lhe dizem que o seu plano não é próprio de uma
pessoa responsável. Não cometa o erro de lhes dizer: “Pois
cuidem dos vossos assuntos, o dinheiro é meu e farei o que
quiser com ele”.

Os homens são como os peixes: nunca se meteriam em


problemas se mantivessem a sua boca fechada. (Anónimo)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -211

Esta reposta é própria de uma criança na defensiva.


Pense nos sentimentos ocultos da sua família. É possível que
queiram proteger-lhe de um erro que eles já cometeram
antes. Ou talvez o seu plano não lhes parece o
suficientemente sólido para que você aposte tudo nesta carta.

Uma vez descobertos os sentimentos ocultos nessa


opinião, poderá responder com tacto, sem que a sua família
sinta-se ofendida e sem que você pareça uma criança
exasperada. Tente algo assim:

Agradeço muito a vossa opinião e o vosso


conselho, mas penso que nestes assuntos vocês
são muito precavidos. Há algo mais que queiram
dizer-me a respeito?

Escutar a reacção

Muitas vezes deixamo-nos levar pelo nosso afã de


convencer, de dominar a conversação, e esquecemos do que
está a pensar e a sentir a outra pessoa.
Se prestarmos atenção nas reacções do nosso
interlocutor, poderemos saber se nos escuta com atenção e se
entende o que estamos a dizer.
Muitos malentendidos começam porque não fazemos
nada para confirmar se a pessoa que nos escuta está a
entender o que lhe estamos a dizer.
Com estas sete normas básicas, a sua capacidade de
comunicação aumentará consideravelmente. Ensaie até que
se convertam em algo mecânico, e não se esqueça deste
outros pontos:

3 Seja directo, cortês e mostre-se tranquilo;


3 Não seja rude nem agressivo;
3 Não leve a mal os conselhos que lhe dêem, ainda que
não os tenha pedido;
3 Não seja paternalista, superior ou sarcástico;
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -212

3 Seja consciente de que nem todos temos o mesmo nível


de vocabulário, nem entendemos da mesma maneira
as expressões coloquiais;
3 Não faça insinuações nem ataques pessoais;
3 Diga primeiro a parte fundamental da sua mensagem,
depois acrescente os detalhes que sejam necessários;
3 Não espere que os demais estejam sempre de acordo
consigo ou que façam caso dos seus conselhos;
3 Preste atenção nos sentimentos ocultos;
3 Não peça a ninguém mudanças impossíveis;

NAS RELAÇÕES PESSOAIS


As relações pessoais são muito delicadas, baseiam-se
na confiança e necessitam de tempo para se desenvolver. Um
comentário pouco apropriado pode acabar com uma amizade,
acabar com uma relação deteriorada ou impossibilitar
qualquer probabilidade de reconciliação. O pior de tudo é
que, na maioria das vezes, nem sequer temos uma má
intenção. Ao contrário, muitos dos “desastres comunicativos”
que organizamos têm a intenção de ajudar o próximo ou de
resolver um problema.
É necessário ser muito cuidadoso com o que falamos,
expressar-se abertamente e oferecer as nossas sugestões de
forma amável.
Nas próximas linhas encontrará situações habituais
entre amigos, casais e familiares – onde facilmente podemos
ferir os sentimentos do outro –, além da melhor forma de
resolvê-las. Pense que se trata de exemplos bastante comuns,
no entanto não os considere como a única maneira de tratar
cada assunto. Deve adaptar estes exemplos à situação
específica com a qual se depare. Adapte o vocabulário à sua
linguagem habitual e, sobretudo, seja sincero.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -213

Situações difíceis com os amigos

Um amigo necessita de ajuda profissional


Pode ser que um dos sus amigos ou amigas esteja a
passar por um período difícil. Talvez, agoniado pelos seus
problemas pessoais, não pára de ligar e pedir o seu conselho
e apoio. Você vê, sem poder fazer nada, que ele comete os
mesmos erros constantemente sem jamais chegar a ser
consciente do verdadeiro problema.
É bastante natural que o nosso primeiro passo ante
qualquer problema seja buscar a ajuda de um amigo, mas
nem todos os problemas podem solucionar-se simplesmente
com uma conversa amistosa. Há questões que apenas podem
ser resolvidas com a ajuda de um profissional.
Nestes casos, o mais difícil é convencer o outro de que
consulte um profissional sem que pense que estamos a ser
condescendentes, muitos críticos ou que simplesmente
pretendemos livrar-nos dele.

Os gregos, ao referirem-se a um verdadeiro amigo, dizem: “já


dividi o pão e o sal com ele”.

O seu amigo será mais receptivo se você converte a sua


sugestão em perguntas que ele mesmo responderá. Descarte
as críticas aos seus erros e não tente oferecer-lhe uma
solução concreta. Comece propondo um resumo breve da
situação que lhe causa sofrimento ao seu amigo, e depois
faça a pergunta com muita suavidade. Observe os exemplos:

Tenho a impressão de que os teus problemas


estão a deixar-te muito frustrado e abatido.
Nunca pensaste em consultar um profissional
para que te ajude a encontrar alguma solução?

Æ
É evidente que estás muito confuso com X.
Por quê não tenta esclarecê-lo com um terapeuta
que possa oferecer-te ajuda profissional? Penso
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -214

que o faria muito melhor que eu. Além disso, não


perdes nada ao experimentar.

Æ
Se estás tão preocupado e não sabes o que
fazer, por quê não procuras a ajuda de um
profissional?

Se percebe que o seu amigo segue com dúvidas e diz


algo parecido a isto:

Oh! Não sei. A ideia de ir a um especialista


deixa-me nervoso. Nunca sabes o que vai
perguntar-te ou o que quer averiguar sobre ti!
Aliás, não penso que seja capaz de contar tais
coisas a um desconhecido.

Você pode responder-lhe da seguinte maneira,


procurando adoptar um tom compreensivo:

Entendo que lhe cause um pouco de


impressão uma decisão assim, mas um bom
especialista pode ajudar-te a olhar par o teu
interior e tirar as tuas próprias conclusões.
Conheço um muito bom e com ele certamente te
sentirás muito cómodo. Por quê não ligas para ele
e esperas para ver o que te diz?

Você está aborrecido, alguém fere os seus sentimentos


Alguma vez um amigo disse ou fez algo que o
incomodou profundamente? Certamente sim, mas nem por
isso tem de perder uma amizade valiosa em outros aspectos.
Quando um amigo comete um erro, você deve dizê-lo
com cuidado, seguramente ele não tinha a intenção de
lastimá-lo. Provavelmente o seu amigo não era consciente de
estar a atacar os seus sentimentos. Talvez pensava que o seu
comportamento não lhe ofendia, ou tinha a certeza de que a
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -215

amizade que lhes une permitir-lhe-ia fazer ou dizer qualquer


coisa.
Quando esclareça a situação seja compreensivo, fale
com calma, sem rodeios desnecessários e com um tom de voz
suave. O diálogo poderia ser, mais ou menos, tal como segue:

Quero que saibas que me doeu muito o facto


de que tu... (tenha feito ou dito tal ou qual
coisa).
- Um momento! O quê é que eu fiz para te
incomodar tanto? Nada. Aquilo que disse era só
uma piada...
- Pode que não o fizesses com má intenção,
mas sempre estás fazendo piadas sobre (...)
diante de todo o mundo. Isso me faz sentir
muito mal, inclusive aborrecido. O quê lhe
parece se tentas dizer coisas boas sobre mim,
em vez dessas piadas?
- Claro! Eu só queria ser simpático e
divertido, não sabia que estava a incomodar-te.
(E você pode encerrar o assunto:) – Já sei
que não o fazias conscientemente, por isso eu
pedi que deixasses de fazê-lo. Mas não façamos
uma tempestade num copo de água. De acordo?

O divórcio de um amigo
O quê podemos dizer a um amigo que há anos arrasta
um péssimo casamento, quando por fim decide divorciar-se?
Evidentemente, não vamos demonstrar alegria, nem lhe
pediremos detalhes escabrosos, nem enumeraremos os
defeitos da sua esposa.
O mais provável é que esse amigo se encontre num
torvelinho de emoções. Desde o alívio, por ter terminado com
algo doloroso, até a depressão motivada pela impotência de
ter encontrado uma solução. É uma situação muito delicada
que requer muito tacto e que pode dar lugar a comentários
dos quais se arrependa depois.
Vejamos uma lista de coisas que não deve dizer:
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -216

3 Todos nós pensávamos que vocês formavam o casal


perfeito. O que aconteceu?
3 Pensei que o seu casamento era para sempre. Por quê
deixá-lo assim, após um pequeno contratempo?
3 Não posso acreditar! O vosso casamento, tão sólido, e
acabou-se...
3 Estava a esperar para ver quanto tempo aguentarias
tragando os teus sentimentos.
3 Quem pediu o divórcio?
3 Há alguém mais?
3 O quê foi que disse a família?

É difícil encontrar as palavras adequadas para um


momento assim, mas se pode dizer:

3 Sinto muito que as coisas tenham acabado assim.


3 Um divórcio é muito duro, no entanto tu superarás. Tu
és um sobrevivente.
3 Como te sentes?

Você quer ultrapassar a barreira da amizade


Uma das situações mais delicadas que podem dar-se
numa amizade é quando um dos dois quer passar a uma
relação mais “romântica”. É difícil propor essa mudança sem
fazer figura de parvo e sem que o outro se incomode.
Surge uma infinidade de perguntas: Sentirá o mesmo
que eu? É uma boa ideia apaixonar-se de um amigo? Quais
são os riscos?
Uma mudança deste tipo pode ser um grande sucesso.
Se tudo corre bem, a união de amizade e amor dará como
resultado um casal perfeito. No entanto, se a coisa não
funciona, talvez não se possa salvar a amizade.
Para mais segurança é melhor que, antes de dizer
qualquer coisa, repense seriamente a natureza dos seus
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -217

sentimentos e as possibilidades dessa relação. Se não tem


uma resposta clara, o melhor a fazer é manter a amizade tal
como está. Se, ao contrário, pensa que existe a possibilidade
de que a relação funcione, tente dizer algo como isto:

Sabes que saí com outras pessoas, mas


ninguém me fez sentir tão bem como quando
estou contigo. O que quero dizer é que eu
gostaria que fossemos algo mais que amigos.

Æ
Percebo que nos divertimos muito quando
estamos juntos, sinto-me muito bem contigo,
mas eu gostaria que saíssemos a sós mais
frequentemente. Gosto muito de você e penso que
deveríamos ser mais que amigos.

Æ
Não estou seguro de que seja uma boa ideia
dizer-te isto, no entanto o que sinto por ti mudou
muito desde algum tempo. Quero ser algo mais
que um amigo para ti.

SITUAÇÕES DIFÍCEIS NA VIDA CONJUGAL


Explicar um segredo

Revelar algum aspecto oculto da nossa vida não é fácil,


principalmente porque não sabemos como a outra pessoa
reagirá.
Pode ser que o seu segredo aborreça ou magoe os
sentimentos da outra pessoa. Talvez também se mostre
compreensiva e dê menos importância, ou que se disponha a
ajudar a resolver o problema.

Quando se revela um segredo, a falta é daquele que o confiou.


(La Brunyère)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -218

Antes de pensar em contar o seu segredo, é


aconselhável que se façam algumas perguntas a si próprio.
Pense nas possíveis consequências do que vai dizer e como
isso pode afectar a sua relação no futuro. Alguns dos
segredos que guardamos tão cuidadosamente não são mais
que águas passadas e a outra pessoa pode entendê-lo assim.
De qualquer forma, pense que, numa relação conjugal, se o
outro descobre por outro lado, pode sentir-se mal. Leia esta
lista:

3 Contrair AIDS ou uma doença sexualmente


transmissível;
3 Ter sido vítima da violência no passado;
3 Os problemas com o álcool ou com as drogas;
3 Ter alguma doença mental ou deficiência física;
3 Estar arruinado;
3 Ter sido sequestrado alguma vez;
3 Ter cumprido condena na prisão.

Segredos como estes são difíceis de explicar. Se tem


alguma doença contagiosa é fundamental que avisar a outra
pessoa como medida preventiva e pelo bem da relação.
Quando queremos ter uma relação séria e estável é
necessário ser muito sincero e falar abertamente dos
problemas, quaisquer que sejam.
Quanto a como dizê-lo, é importante encontrar um
momento em que ambos possam falar com calma. Pode
começar dizendo:

Devo dizer-te algo muito difícil e


desagradável! Tenho herpes, as impigens
aparecem e desaparecem. Não é nada realmente
grave, no entanto estou muito incómodo. Queria
dizer-te, pois tens direito a sabê-lo antes que
tenhamos mais intimidade. Entenderia se
quiseras terminar a nossa relação agora.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -219

Lembre-se de que a sinceridade costuma ser um ponto


a favor de quem confessa. Vejamos diversas formas de
começar a falar dos segredos:

3 Agora que começamos a nos conhecer, há algo que


sempre escondi, mas quero que tu saibas...
3 Estou a seguir um tratamento porque no meu
casamento anterior fui vítima da violência. Ainda estou
a aprender a canalizar a minha ira e os meus medos.
3 Fui alcoólatra e drogado. Deixei há cinco anos, não foi
fácil, no entanto não tive nenhuma recaída, nunca.
3 Uma vez estive arruinado, em falência, no entanto
agora a minha situação financeira é muito sólida.
3 Diagnosticaram-me um câncer de pele há seis anos
atrás. Tenho seguido o tratamento e está a funcionar,
no entanto eu pensei que devias saber.
3 Eu consumia muitas drogas e álcool.
3 Expulsaram-me do instituto aos quinze anos, no
entanto voltei a estudar até conseguir o diploma da
secundária.
3 Estive durante um período na prisão.
3 Estive casado e divorciei-me três vezes.
3 Quando era criança fui vítima de abuso sexual.

Muita gente teme que ao revelar o seu segredo perderão


a pessoa amada; de facto isso ocorre algumas vezes, mas
tenha em conta que uma relação não pode assentar-se sobre
segredos e verdades ocultas.
Considere os sentimentos do outro, dê a ele a ocasião
de expressar o que sente e ofereça-se para esclarecer todas as
dúvidas que possam surgir. Uma atitude aberta resultar-lhe-
á muito proveitosa. Prove com dizer:
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -220

Agora que já conheces o meu segredo, queres


que falemos sobre isto. O que é que pensas
depois da minha confissão?

Contudo, tenha algumas precauções:

3 Há segredos que é melhor não serem revelados. Não se


sinta pressionado, decida o que pense ser melhor para
a sua relação e para si próprio.
3 Em caso de dúvida, guarde o segredo até conhecer
melhor a outra pessoa.
3 Não tem por que revelar nada do seu passado
sentimental ou sexual no início da relação.
3 Se se sente culpado por algo, fale primeiro a sós com
algum representante da sua igreja ou com algum
advogado. Servir-lhe-á de orientação e ajuda para
antes discutir com o seu cônjuge.

Terminar uma relação

Imagine um casal: namoram há um ano e alguma vez


falaram em casar ou morar juntos no futuro. Em princípio, a
sua relação era muito apaixonada, no entanto ultimamente
se esfriou muito. Já conversaram sobre a situação, mas sem
chegar a propor uma separação.
Ela quer terminar porque não vê que a relação tenha
futuro, ainda que ele goste muito dela. Por outra parte, ele,
adora fazer amor com ela. Ambos estão presos numa situação
que reflecte um velho ditado: “mais vale o mal conhecido que
o bom por conhecer”.
Terminar uma relação é sempre muito difícil, mas não
se pode manter-se num estado de “hibernação”. Quando se
quer terminar com uma relação é necessário dar uma breve
explicação e deixar claro que a responsabilidade é de ambos.
Pode recorrer a algum dos seguintes exemplos:
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -221

Não é nada fácil para mim dizer isso, mas a


nossa relação não avança como eu queria. Os
nossos valores e gostos são muito diferentes.

Æ
Já não estamos tão bem como antes. Sempre
andamos a discutir e isso não é bom para
nenhum dos dois. Tentamos que funcionasse,
mas algo não funciona. Penso que é o momento
de terminar.

Æ
Temos expectativas diferentes desta relação.
Tenho a certeza de que tu serás mais feliz com
outra mulher. Penso que o melhor é que
comecemos a sair com outras pessoas.

Se o outro propõe: “Pensas que podíamos continuar a


ser amigos? Você responde: “Claro, por quê não? Seguro que
como amigos nos daríamos melhor”. De todas formas, pense
que na maioria dos casos, quando se acaba, acabou, e
costuma ser preferível...

Pedir em casamento

Quando um casal leva certo tempo de relação, aparece


uma voz fininha no interior que diz: “Quero casar com esta
pessoa”. Isso significa que já está pronto para aceitar a ideia
do casamento. Então, só falta decidir-se a pedi-lo e esperar a
resposta.
É um momento importante e não deve permitir que
uma má proposição estrague tudo. É fundamental escolher
bem as palavras. Não diga nunca:

3 Queres que nos comprometamos? Se verdadeiramente


me amas, vais casar comigo?
3 Vamos experimentar, para ver o quê acontece.
3 Casa comigo ou procurarei outra pessoa.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -222

3 A minha mãe está cansada de que viva com ela


em casa, por que não casamos?
3 O meu assessor fiscal disse que terei uma boa
redução se eu casar antes de 31 de Dezembro. O
que achas?
3 Façamos oficial a nossa relação. Uma certidão de
casamento é só um papel e não vai mudar os
meus sentimentos.

Como propor um casamento


Se deseja casar com outra pessoa, deverá fazer a sua
proposição de forma romântica. Procure o local, o momento e
a situação adequados e diga:

3 Não posso viver sem ti. Queres casar comigo?


3 Amo-te e quero viver contigo o resto da minha vida.
Queres casar comigo?

Como podes ver, trata-se de ir directamente ao


assunto, porém sem perder o romantismo. Desde já, isso não
lhe garante que o casamento resulte bem, nem sequer que
aceitem a sua proposta. No entanto, ao menos terá dado uma
boa impressão.

Cancelar o casamento

Você está prometido, mas não tem certeza de que esse


casamento seja uma boa ideia. Pense que o namoro é um
período de reconhecimento mútuo e de estudo de
compatibilidade. Se algo vai mal, o melhor que pode fazer é
cancelar o casamento.

O casamento divide em dois a tua tristeza, dobra as tuas


alegrias e quadruplica as tuas despesas.
(G.K. Chesterton)
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -223

Certamente, o cancelamento causará muita tristeza a


muitas pessoas, mas será sempre melhor que viver um
casamento infeliz. Leia algumas formas de propor o
cancelamento:

Tenho algo importante que dizer. Sei que vai


ser muito difícil para ti e sinto muito por ter de o
fazer. Penso que cometeremos um grande erro se
casamos.

Talvez lhe respondam: “Um grande erro? Não posso


acreditar no que estás a dizer! O que é que estás a dizer com
isto?”. Então, você pode dizer:

Levo semanas a pensar na situação e cheguei


à conclusão de que os nossos valores e os nossos
gostos são muito diferentes para que pensemos
em casamento. Fiz muito mal em aceitar a tua
proposta. Tenho que terminar o nosso
compromisso. Lamento.

Se então lhe replicam: “Como é que lamentas? E agora


o que é que eu vou dizer à minha família?”, responda com
sinceridade:

Sei que é duro para ti, mas não vou casar.


Não é culpa de ninguém. Nunca seríamos felizes
juntos.

Se lhe dizem: “Então, por quê aceitaste quando te


pedi?”, responda sinceramente:

Pensava que te amava o suficiente para casar


contigo, mas estava enganada.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -224

Pedir o divórcio

A decisão de romper um matrimónio é uma das mais


duras; dor, confusão e medo misturam-se na mente de quem
está a passar mal. Comunicar essa decisão ao cônjuge supõe
um peso emocional grandíssimo. Dada a sua importância, é
necessário que prepare bem as suas palavras. Faça um
pequeno resumo do que quer dizer. Ensaie em voz alta, ouça-
se a si mesmo.
Se tem receio de alguma reacção muito indignada
procure um lugar público e diga algo parecido a isto:

É muito difícil dizer-te isto, mas eu pensei


muito no tema. Quero que nos separemos. O
nosso casamento já não funciona, e quero o
divórcio. Temos que discutir os detalhes, tenho a
certeza de que vamos chegar a um acordo
amistoso, mas isso é melhor deixá-lo para mais
adiante.

Æ
Decidi que quero o divórcio. Não é culpa de
ninguém. Mas é que já não funciona, ambos
somos responsáveis. Vou pedir o divórcio e
esclarecemos os detalhes mais adiante.

Talvez o seu conjugue negue-se a aceitar os factos e


responda: “O quê vai acontecer com a gente? O que
acontecerá com as crianças? Os meus pais podem ter algo!
Responda com:

Pensei muito e está decidido. O que os


demais pensam é um assunto teu, não me
interessa. Isto é assunto nosso e das crianças;
não será fácil para ninguém, mês superaremos
tudo.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -225

Explicar o divórcio a uma criança

Um divórcio pode ser muito traumático para uma


criança. Os pais devem tentar protegê-la, mas sem tentar
enganá-la.
Todos os especialistas estão de acordo que devem ser
ambos os pais que expliquem a situação às crianças. Devem
ser sinceros e dar explicações simples, que a criança possa
entender. Algo parecido a isto:

Quando o teu pai (ou mãe) e eu decidimos


casar, amávamo-nos muito. Tivemos momentos
muito felizes, sobretudo quando chegaste tu, mas
tudo isso mudou. A nossa família funcionou
muito bem durante um período, mas
ultimamente discutimos muito. Ambos somos
muito infelizes vivendo juntos. Por isso pensamos
que é melhor separar-nos. Se nos divorciamos,
não teremos que viver juntos mais tempo.

Não transfira às crianças o seu sofrimento. E enfatize


que nenhum dos dois abandonará os seus filhos.

Ainda que já não continuemos a morar


juntos, o vosso pai e eu sempre os amaremos,
não deixaremos de nos ver nem de ser os vossos
pais.

Quando se apresenta esta situação, as crianças tem


muitas dúvidas concretas que devem ser respondidas de
forma clara:

3 O que acontecerá comigo?


3 Com quem vou morar?
3 Onde morarei?
3 Quem vai tratar de mim?
3 Vou ver os meus avós?
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -226

Você deve preparar-se para lhes dar respostas


apropriadas e para os apoiar emocionalmente. Se, passado
algum tempo, a criança não supera a situação, deveria
pensar-se em procurar a ajuda de um profissional.

Louco: assim se chama um homem com ideias novas, até o


momento em que alcança o sucesso.”
(Mar Twain)

SITUAÇÕES DIFÍCEIS NO ÂMBITO


PROFISSIONAL
Pedir um aumento

Antes de se colocar diante do chefe para pedir o


aumento de salário, lembre-se que os seus problemas
económicos não lhe afectam a ele.
Para conseguir o aumento tem de ir preparado, deve
apresentar exemplos concretos do seu trabalho e deve ter
muito claro o que vai dizer.
Escolha um momento de tranquilidade, tente que
durante uns dez minutos não lhes interrompa ninguém.
Entre no escritório do chefe e diga:

Gostaria que conversássemos sobre a minha


colaboração no departamento. Há pouco tempo,
consegui (tal ou qual contrato ou benefício para a
empresa), mas sou capaz de mais. Sei que neste
departamento estão a produzir-se muitas
mudanças e eu gostaria de assumir mais
responsabilidades. O que é que o senhor opina?

Se o que quer é um aumento rápido:


Como Convencer e Persuadir com as Palavras -227

Gostaria de falar com o senhor sobre um


aumento. Eu desempenho um bom trabalho, e
ambos sabemos que as minhas tarefas actuais
estão acima das funções do meu posto. Por isso
gostaria que se repensasse a relação entre o meu
trabalho e o meu salário.

Suponhamos que lhe responde: “De acordo, quanto


quer?” Então, esteja preparado para dizer uma quantia
concreta:

Estaria bem X (quantia) por hora (ou dia, ou


mês). É o que se paga na indústria às pessoas
que desempenham as minhas funções.

As objecções do chefe

Certamente o seu chefe também estará preparado para


esta situação, é possível que lhe diga: “Quer um aumento,
porque o dinheiro não lhe alcança. Não podemos ir dando
todo o dinheiro que nos pedem assim, sem mais!”. Responda
algo como:

Eu já sei que o orçamento é limitado. No


entanto, há outras maneiras de compensar o
esforço. Eu poderia aumentar a minha comissão
ou dar-me a oportunidade de me encarregar das
contas.

E o chefe: “Sinto muito, mas não há novos postos no


departamento. Aliás, estamos a fazer cortes na nossa folha de
pagamento”. Você:

Nesse caso talvez poderia transferir-me a


outro departamento onde haja melhores
oportunidades. O que lhe parece se
estudássemos essa possibilidade?
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -228

O chefe diz: “Bem, não gostaria de o perder, o senhor é um


dos melhores trabalhadores do departamento”. Você
responde:

Aprecio muito a sua opinião sobre o meu


trabalho. Precisamente por isso estou a pedir-lhe
o aumento.

O chefe: “O problema é que se lhe concedo, todo o


departamento esperará o mesmo. O que é que vou dizer aos
outros?”. Você:

Não sou do sindicato e não estou a falar em


nome ninguém, mas no meu próprio. Apenas
pretendo melhorar as minhas oportunidades
nesta empresa. Isso é um erro?

O chefe: “Não é nenhum erro, no entanto estou certo de que o


meu superior dirá que não”. Você:

Fico feliz que o senhor esteja de acordo que


eu mereça. Por quê não diz isso ao seu superior?
Se ele negar, talvez entre os dois encontrem outra
forma de compensar a um trabalhador como eu.

O chefe: Lamento, no entanto não posso dar-lhe falsas


esperanças. Eu sei que é impossível que lhe atendam o seu
pedido”. Você:

Entendo. Agradeço-lhe muito que me tenha


dedicado estes minutos. Podemos voltar a
discuti-lo dentro de três meses, mais ou menos?
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -229

Comunicar uma demissão

Para muitos chefes despedir um empregado é a pior


parte do trabalho. Um chefe não só deve ter em conta as leis
que protegem o trabalhador, mas também os seus
sentimentos.
Quando não reste mais alternativa senão a demissão, o
melhor é manter a calma, ser profissional e empático. Pode
começar dizendo:

Sr. X, vemo-nos obrigados a despedi-lo. Nas


últimas semanas tentei explicar-lhe os erros que
devia corrigir, no entanto não constatei nenhuma
mudança.

Outra possibilidade é:

Sr. X, depois de pensar muito, decidi


prescindir dos seus serviços. Penso que ambos
estamos de acordo que é o melhor para todos.

SITUAÇÕES DE LUTO
Nas situações de luto, as pessoas procuram consolo e
ânimo nos amigos e familiares. Ajudá-las não é um trabalho
exclusivo dos profissionais. Um amigo pode ser um bom
salva-vidas num momento de incerteza, alguém em quem
apoiar-se num momento difícil.
Não é necessário que você tenha passado pelo mesmo
sofrimento que a pessoa a quem quer ajudar. Se for capaz de
entender a sua dor, pode ser-lhe de grande utilidade, ainda
que você não seja viúvo(a) nem tenha perdido um filho; a sua
empatia bastará para mitigar a dor.
A ajuda que deve prestar baseia-se no reconhecimento
dos sentimentos, não em esconder ou negá-los. A pena deve
entender-se para poder aceitá-la.
O luto é uma resposta natural das pessoas para
qualquer tipo de crise, morte, divórcio, demissão ou perda
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -230

material. Aparece em maior ou menor medida cada vez que


perdemos algo que nos é valioso. Não vale a pena que tente
classificar e etiquetar o tipo de luto que o outro está a sentir.
Isso não lhe vai servir para entender os sentimentos que
estão a aflorar.
Quando alguém falece, os sobreviventes têm de
enfrentar uma nova realidade que afecta muitos aspectos da
sua vida. Para os ajudar, deve ter em conta algumas variáveis
importantes:

3 O tipo de relação que mantinham, qualitativa e


quantitativamente falando;
3 As circunstâncias da morte.
3 A rede de ajuda e suporte com a que conta.
3 O impacto que tiveram as perdas anteriores.
3 Outros problemas pessoais.
3 A forma como a pessoa afectada tem, normalmente,
para enfrentar os problemas.

O leque de reacções que a pena produz é muito amplo,


e vai desde o aborrecimento à tristeza, passando pela negação
religiosa. A maioria é passageira; depois de um tempo, o
indivíduo voltará aos seus valores e comportamentos de
sempre.
Algumas pessoas acreditam que não é bom mencionar
a pessoa ausente, assim que costumam obviar o nome ou
mudam de conversa se alguém introduz alguma lembrança. A
pena não desaparece por ocultar o tema; ao contrário, os
sentimentos latentes costumam aflorar de forma traumática.
Leia com atenção estes diálogos e observe as diferenças
existentes entre eles:

- Outro dia estive a falar com o Jaime, o meu


vizinho. Estivemos a lembrar daquelas férias em
que acampamos com o Zé e as crianças.
Divertimo-nos muito naquele Verão.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -231

- Sim, o Zé adorava ir com as crianças ao


campo. Agora, ir sem ele já não será o mesmo...
[chorando],
- Sinto muito! Eu não devia ter tocado no
tema. Deixei-te triste.

Æ
- Outro dia estive a falar com o Jaime, o meu
vizinho. Estivemos a lembrar daquelas férias,
quando acampamos com o Zé e as crianças.
Divertimo-nos muito naquele Verão.
- Sim, o Zé adorava ir com as crianças ao
campo. Agora, ir sem ele já não será o mesmo...
[chorando],
- Tens razão. Sentiremos muitas saudades
dele neste Verão. Sobretudo tu sentirás muito a
sua ausência.
- É verdade. Agora devo acostumar-me a fazer
tudo sozinha. Sabes, às vezes esqueço e ponho-
lhe os talheres na mesa. Quando me dou conta
fico muito triste.
-Deve ser muito duro lembrá-lo em todas
essas pequenas coisas quotidianas...

Nesta segunda versão, a viúva chora, no entanto


continua a falar e expressar o que sente. A conversa é
relaxada e fluida. Muitas viúvas dizem que lhes reconfortam
falar do seu marido porque está morto, mas existiu e fez parte
da sua vida. Não podem simular que nunca existiram.

Uma pessoa pode sentir-se só, ainda quando muita gente a


ame.” (Diário de Ane Frank)

Devemos dar ânimo aos que sofrem para que


expressem o seu sofrimento, é a única maneira de poder
chegar a aceitar os factos.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -232

O período de luto é necessário para que a nossa mente


assuma a nova situação. Pense nos rituais antigos. Neles
oferecem-se muitas formas de demonstrar a pena e de a
aceitar para poder superar a perda.
Perguntas como “Como estás?”, tornam-se difíceis de
responder com sinceridade e mostrar os sentimentos. A
resposta natural a esta pergunta sempre é dizer “bem,
obrigado”. É o que nos ensinaram a dizer e é o que esperamos
ouvir.
É melhor utilizar perguntas abertas, que permitam
falar à pessoa afectada:

3 Como vão as coisas por aí?


3 O que aconteceu desde a última vez que nos vimos?
3 Fala-me das crianças... Como estão a assimilar?
3 Como estás a enfrentar isso?

O que nunca se deve dizer:

3 Pensa nos outros pais que só tinham um filho. Tu tens


outros dois.
3 O que aconteceu contigo não é tão ruim como o que
aconteceu com os Srs. Ela era muito jovem quando o
seu marido morreu. Ao menos o teu marido pôde
conhecer os seus netos.
3 É uma sorte que tenha morto tão rápido. Não sabes o
muito que sofreu X com a doença do seu marido.

Com comentários deste tipo só conseguirá incomodar a


quem os receba. Não esqueça que as tragédias alheias não
aliviam o sofrimento próprio, ao contrário, tendem a o
aumentar. O que nunca se deve fazer:

3 Dar conselhos.
3 Usar frases feitas ou clichés.
Como Convencer e Persuadir com as Palavras -233

3 Criticar o que lhe dizem.


3 Mudar de tema.
3 Minimizar a situação.
3 Pretender curar a ferida; algumas não se fecham
nunca.

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