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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO


EE754 – ONDAS GUIADAS

Linhas de Transmissão:
Carta de Smith e Casamento
Prof. Lucas Heitzmann Gabrielli
Linha de transmissão sem perdas
Recordamos as expressões para uma linha sem perdas:
𝑍(𝑧) 1 + Γ(𝑧)
=
𝑍0 1 − Γ(𝑧)
𝑧
Γ(𝑧) = Γ𝐿 𝑒 𝑗2𝛽𝑧 = Γ𝐿 𝑒 𝑗4𝜋 𝜆
𝑍𝐿 − 𝑍 0
Γ𝐿 =
𝑍𝐿 + 𝑍 0
A transformação do coeficiente de reflexão ao longo da linha não é nada além de uma rotação,
sendo assim muito mais simples que a expressão para 𝑍(𝑧) em função de 𝑍𝐿 e tan(𝛽𝑧).

Por esse motivo é conveniente trabalharmos graficamente no plano ℜ{Γ(𝑧)} × ℑ{Γ(𝑧)}, uma vez
que ele é limitado por |Γ(𝑧)| ≤ 1. Desse modo, qualquer valor de impedância (normalizada por
𝑍0 ) pode ser representado dentro dessa região circular.

Mapeando-se a relação entre 𝑍(𝑧) e Γ(𝑧) nesse plano, o tratamento completo da linha de
transmissão pode ser efetuado graficamente. O gráfico resultante é chamado Carta de Smith.
A Carta de Smith
Γ𝑖
É a representação da transformação 1
˜
𝑅=0

˜ 𝑍(𝑧) 1 + Γ(𝑧) 1
𝑍(𝑧) = = 3
𝑍0 1 − Γ(𝑧)
˜ 1 1
𝑋= 1
no plano ℜ{Γ(𝑧)} × ℑ{Γ(𝑧)}.
3
3
3
Separando as partes real e imaginária de
𝑍˜ = 𝑅˜ + 𝑗𝑋
˜ e Γ = Γ𝑟 + 𝑗Γ𝑖 , podemos
−1 0 1
Γ𝑟
escrever:
2
˜
𝑅 1 2 −3
󰚱Γ𝑟 − 󰚲 + Γ𝑖2 = 󰚛 󰚜 − 13
1+𝑅˜ 1+𝑅˜ −1

1 2 1 2
(Γ𝑟 − 1)2 + 󰚛Γ𝑖 − 󰚜 =󰚛 󰚜
˜
𝑋 ˜
𝑋
−1
Localização de impedância
𝑍0 = 50 Ω 𝑍𝐿1 = (10 − 𝑗35) Ω 𝑍𝐿2 = (100 + 𝑗75) Ω

𝑗1,5

Γ𝐿2 =0,53 ∠29,7°


˜𝐿2 =2+𝑗1,5
𝑍

˜0 =1
𝑍
0,2 2

˜𝐿1 =0,2−𝑗0,7
𝑍
Γ𝐿 1 =0,76 ∠−108,5°

−𝑗0,7
Transformação de impedância

Transitar pela linha representa caminhar ao


0,208
0,291
longo da curva de |Γ(𝑧)| constante:
𝑧
Γ(𝑧) = Γ𝐿 𝑒 𝑗2𝛽𝑧 = Γ𝐿 𝑒 𝑗4𝜋 𝜆
˜𝐿 =2+𝑗1,5
𝑍
Quando transitamos da carga para o gerador
estamos diminuindo o valor de 𝑧, ou seja,
girando o vetor complexo no sentido horário.

0,15𝜆 Ao transitarmos do gerador para a carga,


giramos o vetor no sentido anti-horário.
˜
𝑍(−0,15𝜆)
As escalas ao redor Carta são normalizadas
pelo comprimento de onda guiado, ou seja,
representam |Δ𝑧|
𝜆 . Devido ao fator 4𝜋, a cada
˜
𝑍(−0,15𝜆)=0,66−𝑗0,98
0,141 0,5𝜆 damos uma volta completa (período).
0,358
Pontos de interesse
As posições de mínimos e máximos de 0,156
0,156𝜆
|𝑉 (𝑧)| estão localizadas nos cruzamentos
da circunferência de |Γ𝐿 | constante com o
eixo de valores reais de Γ(𝑧). 0,094𝜆

O VSWR pode ser lido diretamente no ˜in =1+𝑗0,85


𝑍

ponto de máximo.
𝑍in Min Max
0 0,25
VSWR=2,28
𝑍0 𝑍𝐿

˜𝐿 =0,86−𝑗0,78
𝑍
|𝑉 (𝑧)|

0,106𝜆
𝑧
−1,8𝜆 0 0,144𝜆
−0,144𝜆
−0,394𝜆 0,356
Determinação de carga por calibração

O curto-circuito de calibração serve para ˜sc =𝑗1,9


𝑍 in
determinarmos o comprimento elétrico da
0,172𝜆
linha de transmissão (com ambiguidade de 0,297
0,5𝜆).
˜𝐿 =1,76+𝑗1,32
𝑍
1. Determinamos a impedância de entrada
com terminação em curto-circuito 𝑍˜insc
2. Caminhamos até a carga de ˜sc =0
𝑍
curto-circuito (𝑍˜𝐿sc = 0) determinando
𝐿

o comprimento elétrico da linha


0,172𝜆
3. Conectamos a carga desconhecida no
˜in =0,6−𝑗0,8
lugar do curto, obtendo 𝑍˜i na entrada 𝑍

4. Caminhando a mesma distância em


direção à carga sobre a circunferência
de |Γ𝐿 | constante, determinamos a carga
0,125
Determinação de carga com linha fendida
0,5𝜆
4

Tensão [V]
0,149𝜆
2
˜𝐿 =0,79+𝑗1,00
𝑍 1 0,350𝜆 0,149𝜆

0
40 30 20 10 0
Min VSWR=3
Escala [cm]

1. Com o curto-circuito, determinamos 𝜆 e


uma referência (por ex. em 20 cm)
2. Com a carga, determinamos o VSWR e
traçamos a circunferência |Γ𝐿 | constante
0,350𝜆
3. A partir de um mínimo da carga vamos até a
referência no sentido do gerador ou da carga
Casamento de impedâncias
• Evitar reflexão de potência para o gerador
• Impedância de entrada independente do comprimento exato da linha

Alguns tipos de rede de casamento:

• Transformador de quarto de onda (para cargas resistivas)


• Casador de toco simples
• Casador de toco duplo
• Redes de elementos concentrados
• Transformador multiseção (banda larga)

𝑍in = 𝑍0

Rede de
𝑍0 casamento
𝑍𝐿
Transformador de quarto de onda
Recordamos a transformação de impedância provocada por uma linha de transmissão sem perdas
de comprimento 𝜆4 e impedância característica 𝑍𝑚 ∈ ℝ:
𝑍𝐿 + 𝑗𝑍𝑚 tan(𝛽ℓ) 𝑍2
𝑍in = 𝑍𝑚 = 𝑚
𝑍𝑚 + 𝑗𝑍𝐿 tan(𝛽ℓ) 𝑍𝐿
Desejamos utilizar esse trecho de linha para casar a carga com outra linha sem perdas de
impedância 𝑍0 . Assim:

𝑍in = 𝑍0 ⇒ 𝑍𝑚 = 󰞎𝑍0 𝑍𝐿

Notamos que esse casamento somente é possível quando 𝑍𝐿 ∈ ℝ, i.e., quando a carga é
puramente resistiva.
𝑍in = 𝑍0 𝜆
4

𝑍0 𝑍𝑚 𝑍𝐿
Casamento com toco simples
Quando o casamento não é possível com o transformador de quarto de onda, uma alternativa é
o uso de pequenos trechos de linha terminados em curto ou aberto e posicionados em série ou
paralelo com a linha principal para efetuar o casamento.

ℓ 𝑍0 ℓ 𝑍0
𝑑 𝑑

𝑍0 𝑍0 𝑍𝐿 𝑍0 𝑍0 𝑍𝐿

𝑍in = 𝑍0 𝑍in = 𝑍0

Devemos determinar os comprimentos ℓ e 𝑑 da rede de casamento. No caso do toco em paralelo


é mais conveniente trabalharmos com admitâncias ao invés de impedâncias.
Admitâncias na Carta de Smith
0,104

A admitância normalizada encontra-se


na Carta de Smith na circunferência de ˜in =0,34+𝑗0,70
𝑌
|Γ| constante no ponto diametralmente
oposto à impedância normalizada. 0,13𝜆
0,224
˜𝐿 =3+𝑗2
𝑍

1 1
𝑌 = 𝑌0 =
𝑍 𝑍0
𝑌 𝑍 1 ˜𝐿 =0,23−𝑗0,15
𝑌
𝑌˜ = = 0 = 0,474
𝑌0 𝑍 𝑍˜ 0,13𝜆

1−Γ 1 + (−Γ)
∴ 𝑌˜ = = ˜in =0,55−𝑗1,13
𝑍
1+Γ 1 − (−Γ)

0,354
Toco simples em paralelo

Sabemos que uma linha terminada em curto ou


aberto apresenta em sua entrada apenas componente
susceptiva de admitância, assim 𝑌ℓ = 𝑗𝐵 com 𝐵 ∈ ℝ.

Assim, já utilizando as admitâncias normalizadas,


𝑌0 ℓ
devemos ter no ponto de conexão do toco:

𝑌˜𝑑 + 𝑌˜ℓ = 1 ⇔ 𝑌˜𝑑 = 1 − 𝑗𝐵


˜
𝑌ℓ 𝑑
Isso significa que o comprimento 𝑑 deve tal que
𝑌0 𝑌0 𝑌𝐿 a carga seja transformada em uma admitância
normalizada com parte real unitária no ponto de
𝑌in = 𝑌0 𝑌𝑑 conexão.

O toco, por sua vez, deve ter comprimento ℓ tal que


sua susceptância de entrada anule a de 𝑌˜𝑑 .
Toco simples em paralelo: exemplo
0,109
0,167

𝑑=0,058𝜆
𝑌0 ℓ
˜𝐿 =0,50+𝑗0,68
𝑌
˜𝑑 =1+𝑗1,17
𝑌
𝑌ℓ 𝑑

𝑌0 𝑌0 𝑌𝐿 ˜ →∞
𝑌
0,25

𝑌in = 𝑌0 𝑌𝑑

˜𝐿 =0,7−𝑗0,94
𝑍
𝑍0 = 50 Ω, 𝑍𝐿 = (35 − 𝑗47) Ω
ℓ=0,111𝜆
𝑑 = 0,058𝜆
⋯ ⇒ 󰛑
ℓ = 0,111𝜆 ˜ℓ =−𝑗1,17
𝑌
0,361
Toco simples em paralelo: solução 2
0,138
0,109 ˜ℓ =𝑗1,17
𝑌

𝑌0 ℓ

˜𝐿 =0,50+𝑗0,68
𝑌ℓ 𝑑 𝑌

𝑌0 𝑌0 𝑌𝐿 𝑑=0,223𝜆

˜ →∞
𝑌
0,25
𝑌in = 𝑌0 𝑌𝑑

˜𝑑 =1−𝑗1,17
𝑌
𝑍0 = 50 Ω, 𝑍𝐿 = (35 − 𝑗47) Ω
˜𝐿 =0,7−𝑗0,94
𝑍
𝑑 = 0,223𝜆 ℓ=0,388𝜆
⋯ ⇒ 󰛑
ℓ = 0,388𝜆
0,332
Procedimento
1. Localizar 𝑌˜𝐿 diametralmente oposto a 𝑍˜𝐿 na circunferência de |Γ𝐿 | constante

2. Mover-se em direção ao gerador até uma das interseções com a circunferência 𝐺˜ = 1

3. Determinar a condutância normalizada 𝑌˜𝑑 da interseção e o comprimento de linha 𝑑


percorrido

4. Localizar a admitância da extremidade do toco (zero ou infinita)

5. Mover-se em direção ao gerador até atingir a susceptância 𝑌˜ℓ = 1 − 𝑌˜𝑑 .

6. Determinar o comprimento do toco 𝑙 percorrido.

Normalmente prefere-se a solução de menor comprimento, a menos que haja algum impedimento
prático. Caso seja preciso, sabemos ainda que é possível adicionarmos trechos de 𝜆2 sem
alteração das impedâncias de entrada.
Casamento com toco duplo
Oferece maior flexibilidade mecânica e de sintonização, pois a posição dos tocos ao longo da
linha pode ser fixada arbitrariamente, sendo apenas os comprimentos dos tocos responsáveis pelo
casamento. Estes podem ser conectados em série ou paralelo, com terminações em aberto ou
curto-circuito.
Da mesma maneira que para o toco simples 𝑌˜𝑑
deve estar sobre a circunferência de 𝐺˜ = 1,
˜
enquanto ℓ2 serve para anular a susceptância 𝐵:
𝑌0 ℓ2
ℓ1 𝑌0 𝑌˜𝑑 = 1 − 𝑗𝐵
˜

Assim, 𝑌˜𝑎 estará sobre a mesma circunferência


𝑌ℓ2 𝑑 𝑌ℓ1 rotacionada no sentido da carga de uma
distância 𝑑 conhecida.
𝑌0 𝑌0 𝑌𝐿
O valor de ℓ1 é então escolhido para transportar
𝑌𝐿 para a circunferência rotacionada com:
𝑌in = 𝑌0 𝑌𝑑 𝑌𝑎
𝑌ℓ1 = 𝑌𝑎 − 𝑌𝐿
Toco duplo em paralelo: exemplo

𝑌0 ℓ2
ℓ1 𝑌0 𝑑

˜𝐿 =0,50+𝑗0,68
𝑌ℓ2 𝑑 𝑌ℓ1 𝑌

𝑌0 𝑌0 𝑌𝐿 ˜𝑎 =0,50+𝑗0,12
𝑌
˜ →∞
𝑌
0,25
𝑌in = 𝑌0 𝑌𝑑 𝑌𝑎

𝜆 ℓ1 =0.169𝜆
𝑍𝐿 = 0,7 − 𝑗0,94, 𝑑=
8
⋯ ⇒ 𝑌˜ℓ1 = 𝑌˜𝑎 − 𝑌˜𝐿 = −𝑗0,55 ⇒
˜ℓ1 =−𝑗0,55
𝑌
⇒ ℓ1 = 0,169𝜆
0,419
Toco duplo em paralelo: exemplo

𝑌0 ℓ2
ℓ1 𝑌0

𝑌ℓ2 𝑑 𝑌ℓ1 𝑑
˜𝑑 =1+𝑗0,71
𝑌

𝑌0 𝑌0 𝑌𝐿 ˜𝑎 =0,50+𝑗0,12
𝑌 ˜ →∞
𝑌
0,25

𝑌in = 𝑌0 𝑌𝑑 𝑌𝑎

𝜆
𝑍𝐿 = 0,7 − 𝑗0,94, 𝑑= ℓ2 =0.151𝜆
8
ℓ1 = 0,169𝜆
⋯ ⇒ 󰛑 ˜ℓ2 =−𝑗0,71
𝑌
ℓ2 = 0,151𝜆
0,401
Procedimento
1. Localizar 𝑌˜𝐿 diametralmente oposto a 𝑍˜𝐿 na circunferência de |Γ𝐿 | constante

2. Traçar a circunferência 𝐺˜ = 1 rotacionada de 𝑑 em direção à carga

3. Determinar o ponto 𝑌˜𝑎 em uma das interseções entre a circunferência rotacionada


anteriormente e a circunferência 𝐺˜𝑎 constante

4. Determinar 𝑌˜ℓ1 = 𝑌˜𝑎 − 𝑌˜𝐿 e o comprimento do toco ℓ1 que produz essa susceptância partindo
de um curto ou aberto

5. Mover 𝑌˜𝑎 sobre a circunferência de |Γ𝑎 | constante por um trecho de tamanho 𝑑, obtendo 𝑌˜𝑑
com condutância unitária

6. Determinar 𝑌˜ℓ2 = 1 − 𝑌˜𝑑 e o comprimento do toco ℓ2 que produz essa susceptância partindo
de um curto ou aberto

Dependendo do valor da carga e da distância entre os tocos, é possível que não haja solução
para o casador de toco duplo (𝑌˜𝑎 não pode ser determinado). Neste caso pode-se alterar 𝑑 ou
introduzir um novo trecho de linha entre a carga e o primeiro toco para corrigir o problema.
Exercícios
1 Um sistema de TV operando à frequência de 550 MHz deverá alimentar um conjunto de 3
antenas do tipo dipolo para compor o padrão de radiação desejado. A potência deve ser dividida
igualmente entre cada umas das antenas, que apresentam impedâncias de entrada de 50 Ω. A
impedância de saída do transmissor é também de 50 Ω. Dimensione um transformador de quarto
de onda para a alimentação do conjunto.

2 Uma linha de transmissão sem perdas de 75 Ω é usada para medir uma carga desconhecida
a 300 MHz. A medição resulta em uma impedância de entrada de (30−𝑗15) Ω. Terminando-se
a linha em aberto, a impedância medida na sua entrada foi de 𝑗240 Ω. Determine a impedância
da carga e o comprimento mínimo da linha de transmissão sabendo que seu fator de velocidade
é 0,833. Plote o padrão de onda estacionária ao longo da linha quando esta é terminada pela
carga desconhecida.

3 Projete um casador de toco duplo em paralelo com terminações em aberto para casar uma
linha de transmissão de 50 Ω a uma carga de (25+𝑗10) Ω. A linha tem fator de velocidade 0,666
e opera a 1,0 GHz. A distância entre os tocos deve ser 3/8 do comprimento de onda. Qual será
a impedância vista na rede de casamento projetada se a carga for substituída por 50 Ω?
4 Projete um casador de toco simples em série com terminação em aberto para casar uma linha
de transmissão aérea de 50 Ω a uma carga de (15+𝑗40) Ω a 5 GHz.
5 A figura seguinte é gerada por umas linha aérea coaxial fendida de 50 Ω terminada por
um curto-circuito (linha tracejada) e por uma caraga desconhecida (contínua). Determine a
frequência da medição, o VSWR com a carga desconhecida e a impedância dessa carga.

16
14
12
10
Tensão [V]

8
6
4
2
0
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Escala [cm]

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