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Pelo que percebi, todos os autores buscam traçar diferenças entre a Filologia e a
Linguística, embora nenhum se comprometa a situar a Filologia entre as ciências, se
está mais para as humanas ou mais para a linguagem, o que advém, a meu ver, do fato
de não determinar que papel tem a cultura no estudo filológico, se é objeto, pré-
requisito e/ou resultado. Dubois, por exemplo, põe-na inteiramente no âmbito da
História.
Bastante precisa pareceu-me a definição de Koogan-Houaiss. Xavier-Mateus também
o são, mas ao mesmo tempo breves demais. Mattoso Camara e Jota apresentam ponto
de vista semelhante ao dos anteriores, mas pecam por restringirem o campo da
Filologia aos textos literários. Bastante completa é a definição de Carreter, embora a
sua partição entre “antigamente” e “modernamente” tenha ficado vaga. Absolutamente
vaga, por outro lado, é a definição de Crystal.
À parte ficam as definições de Silveira Bueno e Miazzi. Por não se tratar de
dicionários, o parecer é mais completo, porém enquanto o primeiro apresenta pontos
incontestavelmente falhos, a segunda se sobressai pela precisão. Silveira Bueno diz
não ter havido diferença entre o filólogo e o gramático na Antiguidade, mas Bassetto
demonstra o contrário nos seus Elementos de Filologia Românica. Além disso,
restringe o campo de trabalho à literatura e a metodologia é idealista, vaga.
Para concluir, gostaria de deixar uma contribuição já implícita no texto de Carreter.
Diz esse autor que a Filologia se tornou “a ciência que estuda a linguagem, a literatura
e todos os fenômenos da cultura de um povo ou de um grupo de povos por meio de
textos escritos”. Essa referência converge com a definição que dá Leite de
Vasconcelos (citada por Mattoso Camara), a saber, “o estudo da nossa língua em toda
sua plenitude, e o dos textos em prosa e verso, que servem para a documentar”. Se
acrescentamos aí a fala, temos, vejam, o sentido do termo “filologia” tal como é usado
na Espanha hoje. Quem se licencia em Letras por alguma universidade espanhola
recebe o título de filólogo; aliás, o nome da licenciatura é Filologia. Se vocês
consultarem o sítio da Faculdade de Filologia da tradicionalíssima Universidad de
Salamanca (em http://campus.usal.es/~filologi/index.shtml), por exemplo,
comprovarão que essa Filologia não é nada mais nada menos que as nossas Letras.
Assunto: DIaletos e linguas e Mirandês
Resposta para: Resposta
Categoria: FILOLOGIA: História e Definição de Filologia
Finalmente, depois de 20 dias viajando, tenho um tempo pra responder a sua resposta.
Bom, vamos por partes, você disse : « Se assumirmos o termo “dialeto” (…) apenas
como variante, sem mais hierarquias, a nossa vida já fica bem mais fácil. »
Deixo aqui, sobre este assunto, uma tradução que fiz para um trecho do livro Aspects
of Language de William J. Entwistle (1953)(Tenho certa dificuldade de acessar
bibliografia em português aqui onde estou e por isso acabo muitas vezes recorrendo a
coisas escritas em outras línguas)
****
Caio,
Se não for engano meu, o termo dialeto também já se tornou recorrente, ao menos na
Linguística brasileira, na acepção de “variante”, e no caso das variedades americanas
das línguas europeias, não vejo problema metodológico em chamá-las de dialetos, ou
melhor, sistemas de dialetos, que contêm um alto grau de afinidade com os seus
congêneres europeus, também sistemas de dialetos. A meu ver, essa afinidade é o
laço que amarra a variação numa língua histórica.
Respondendo meio a você meio ao Entwistle, na minha intervenção não tencionei
oferecer uma definição puramente linguística de língua, e sim distinguir o lado
(sócio)político e o lado (sócio)linguístico, e isto para conceder jurisdição à
Linguística sobre o seu objeto, senão ficamos dependendo de parlamentos para saber
se é um dialeto ou uma língua.
Acrescento e vou mais longe: forçar os fatos políticos contra os fatos linguísticos
resulta no erro em que cai Schuchardt, sem perceber, de outra forma não teria se
divertido. Ora, o francês e o italiano são as línguas oficiais de dois poderosos estados
europeus e possuem enormes patrimônios literários. Se o que não apresenta essas
duas condições é dialeto, então tudo o que está entre o francês e o italiano são
dialetos. O problema é que de Roma a Paris nem tudo, ou melhor, grande parte, não
se apensa nem ao italiano nem ao francês; é o que é. Por que é tão difícil reconhecer
que nesse entretanto há línguas distintas do italiano e do francês? Os dialetos da
bacia do Pó são tão diferentes do italiano e do francês quanto o catalão o é do
espanhol e do francês. Não constituem um diassistema, uma língua ou um ente per si,
como queiram, só porque não conta com o exército do reconhecimento oficial que
tem o catalão ou uma armada à altura da literatura catalã?
Para concluir, acho que se nos engajamos na causa do ensino de língua que acolhe as
várias normas, é incoerente hesitarmos em apontar o dedo em casos como o do
leonês, e afirmar: é uma língua, e tem tanto direito de participar da vida dos seus
usuários quanto a outra única oficial.
Assunto: O QUE DIFERENCIA LÍNGUA DE DIALETO?...
Resposta para: Resposta
Categoria: FILOLOGIA: História e Definição de Filologia
Portanto, dizer que um modo de falar é dialeto de uma língua é o mesmo que dizer
que as línguas têm grande variedades, sejam geográficas ou diatópicas(dialeto
interamnense, dialeto gaúcho, dialeto moçambicano etc), sejam sociais ou
diastráticas (linguajar da malandragem, linguajar da juventude, linguajar acadêmico
etc.) ou de registros ou diafásicas (linguagem escrita e linguagem oral; linguagem do
bilhete e linguagem do requerimento; linguagem técnica e linguagem literária).
Em regra, a maioria das pessoas falam de dialeto pensando apenas nas variedades
geográficas ou diatópicas.