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risco ou de rubricas, conceito esse que evoluiu para os denominados fatores potenciais
de acidentes.
Embora haja algumas identidades, o termo não deve ser confundido com os
chamados fatores de riscos da técnica do mapa de riscos. Conforme enunciado por
Nahas; Vago (2002), “fator de risco é uma condição ou um conjunto de circunstâncias
que têm o potencial de causar danos à saúde, à integridade física das pessoas, ao
ambiente, ao processo ou aos equipamentos, ou seja, é tudo aquilo que tem o potencial
de causar danos”.
É possível que seja regra geral, mas com certeza na indústria há um elevado grau
de dependência entre as políticas de segurança e manutenção; o fracasso de uma não
significa o sucesso da outra. Nesse caso, em particular, a comunicação, tanto como
manifestação cultural, quanto como política normativa da empresa, desempenha
importante papel no estabelecimento de um regime cooperativo entre as atividades de
manutenção e as exigências da segurança. O acidente da Piper Alpha1 é exemplo
histórico do quão grave pode se tornar a não comunicação de uma intervenção da
manutenção a uma equipe que está assumindo o seu turno de trabalho (Paté-Cornell,
1993). Na aviação civil, segundo Reason; Maddox (1998), a percepção da importância
da manutenção para a segurança dos vôos comerciais teve radical transformação após o
acidente do B-737 da Aloha Airlines ocorrido em 1988.
1
O acidente com a plataforma Piper-Alpha ocorreu em 6 de julho de 1988 no Mar do Norte; matou 167
pessoas e gerou perda material da ordem de bilhões de dólares (Paté-Cornell, 1993).
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● os atos inseguros das pessoas são responsáveis pela maioria dos acidentes.
Segundo Heinrich (1941), o acidente seria causado por uma seqüência linear de
fatores que culminariam na lesão, de modo que “a ocorrência de uma lesão passível de
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Na ilustração original de Heinrich (1941), essa peça do dominó é referida como ato inseguro e risco
material ou mecânico. Na adaptação aqui realizada optou-se pela linguagem que é a mais conhecida, que
é a do ato inseguro e condição insegura.
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Defesas
PERIGO
Perdas
Riscos
Fatores Organizacionais
ACIDENTE
3
A metodologia SOURCE™ (Seeking Out the Underlying Root Causes of Events) é baseada em
metodologia desenvolvida pelo Departamento de Energia da Westinghouse Savannah River Corporation
em 1991 (USA, 1999).
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uma “causa básica que pode ser razoavelmente identificada e que a gerência tem meios
de controle para corrigir”.
No modelo do ato inseguro versus condição insegura, dois desses três grupos
apareceriam associados, como se fossem as duas faces da mesma moeda, de maneira
que o acidente seria causado por uma falha individual ou por uma falha da engenharia
ou, quiçá com mais propriedade, por uma falha técnica, de caráter operacional. Talvez
por tomar duas pretensas categorias de causas em consideração, essa visão tenha
assumido, enganosamente, ares de visão abrangente para a interpretação dos acidentes
de trabalho e venha se perpetuando no arsenal de recursos que os profissionais de
segurança e saúde no trabalho das empresas mobilizam para realizar a investigação e
análise de acidentes.
emissão de CAT4 e foram investigados pela CIPA da empresa. Por conta disso, uma das
principais fontes de informação foi o Anexo II da Norma Regulamentadora 5, que
vigorou até 23 de fevereiro de 1999, quando foi publicado o texto atual da
regulamentação da CIPA. Desse Anexo II, que está reproduzido na Figura 9, a seguir,
foram compiladas e processadas as informações do tópico “Investigação do Acidente”
das fichas relativas a 125 acidentes investigados pelas respectivas Comissões Internas
de Prevenção de Acidentes.
4
A sigla CAT refere-se à Comunicação de Acidente de Trabalho que deve ser feita pela empresa nos
termos do Artigo 336 do Decreto Nº 3.048, de 6 de maio de 1999 (Saliba; Saliba, 2002)
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ANEXO II DA NR 5
EMPRESA ..............................................................................................................................
ENDEREÇO ...........................................................................................................................
NOME DO ACIDENTADO................................................................................................
IDADE................................................OCUPAÇÃO .............................................................
.......................................................
ENCARREGADO
INVESTIGAÇÃO DO ACIDENTE
........................................................
MEMBRO DA COMISSÃO
Fonte: Atlas (1998).
Figura 9. Anexo II da Norma Regulamentadora 5 vigente até 1999.
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Tabela 3
Quantidade %
Descuido, negligência,
desatenção, exposição
54 37,77
desnecessária ao perigo
Improvisação 4 2,80
Tabela 4
Conscientizar, orientar,
insistir em maior atenção, 86 59,7
disciplinar
Insistir no uso de
16 11,1
Equipamento de Proteção
Individual
Melhorar treinamento na
3 2,1
tarefa
Melhorar equipamento,
mudar processo,
inspecionar 32 22,2
periodicamente, eliminar
condições inseguras,
melhorar sinalização
Tabela 5
Quantidade %
Tabela 6
Responsável Quantidade %
Acidentado 69 55,2
Empresa 8 6,4
Subtotal 83
Voltando ao estudo realizado por Heinrich (1941) nos EUA, após definição da
natureza dos fatores quanto à previsibilidade, ele apresenta, para a fração posta como
previsíveis, uma classificação quanto aos fatores causais que é a seguinte: 10% dos
acidentes previsíveis foram causados por condições inseguras de trabalho, enquanto
88% teriam sido causados por atos inseguros dos trabalhadores. Um resumo gráfico
dessa classificação é exposto na Figura 10, a seguir:
Acidentes
elidir qualquer possibilidade de aprendizado que poderia ser gerado pela investigação e
análise de acidentes e atua como mecanismo de culpabilização do trabalhador.
5
Oliveira (1997) registra que cada um dos tipos elencados se faz acompanhar de uma ilustração
caricatural.
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Diz-se que o livre arbítrio é uma ilusão porque nosso espaço de ação é sempre limitado pelas
circunstâncias locais (Reason, 1997).
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Mas depois que passei a conhecer aquele mundo subterrâneo das relações de
trabalho, eu venho afirmando com todas as letras, que nenhum acidente ocorre por
acaso, porque o trabalhador quis se acidentar, ou se descuidou. Não existe legalmente, o
que antigamente a ideologia ‘prevencionista’ chamava de ato inseguro. Mas essa cultura
de que o acidente acontece por culpa do empregado existe até hoje.
Reason (1993) afirma que a precisão de nossa previsão dos erros depende
enormemente da qualidade da nossa compreensão dos fatores envolvidos na produção
desses erros, assim como a discriminação das causas é condição imprescindível à
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Na Conferência realizada em Genebra, no dia 22 de junho de 1993, a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) adotou a Convenção de número 174 versando sobre a PREVENÇÃO DE GRANDES
ACIDENTES INDUSTRIAIS que envolvam substâncias perigosas cujas conseqüências resultem na
exposição de trabalhadores, população e meio ambiente a riscos imediatos ou de médio e longo prazo. A
Convenção OIT 174 foi ratificada no Brasil pelo Congresso Nacional, através do Decreto Legislativo nº
246/2001 e sancionada pela Presidência da República por meio do Decreto 4.085, de 15.01.02 e entrou
em vigor no País a partir de 02 de agosto de 2002.
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Assim, com o propósito de examinar a produção dos erros com o mesmo olhar
sistêmico, Reason (1993) afirma que a compreensão dos fatores de produção desses
erros só será possível com o suporte de uma teoria que contemple e articule os
principais aspectos presentes, que são: a natureza da tarefa e as condições nas quais ela
é realizada, os mecanismos que regem a atividade e as particularidades do sujeito.
Isso posto, o grau de complexidade do sistema sob foco atua como fator
determinante para a profundidade da leitura que se consegue fazer. Quanto mais simples
os sistema, com mais facilidade se empreende com sucesso uma abordagem sistêmica.
No entanto, para a maioria dos erros, nossa capacidade de apreensão da interação
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Doutrina é o conjunto de princípios que servem de base a um sistema filosófico, científico etc.
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Na discussão que faz sobre os erros humanos, Reason (1990) associa a noção de
erro à noção de intenção, de maneira inseparável; para ele, se existe o propósito de fazer
um inventário das diferentes formas que o erro assume, é producente começar pela
examinação dos variados tipos de comportamento intencional.
Não
Não Ação involuntária
ou sem intenção
Havia intenção
Havia intenção na
premeditada na
ação?
ação?
Sim
Ação espontânea ou
Sim subsidiária
Não
Ação não
As ações ocorreram intencional (falha ou
conforme previsto? lapso)
Sim
Não
As ações atenderam Ação intencional
os fins propostos? mas com falha
Sim
Seale (1980) apud Reason (1990) introduziu uma diferenciação importante a ser
considerada na análise das ações intencionais, que comporta a intencionalidade sempre
mas não necessariamente uma intencionalidade planejada ou premeditada. É necessário
ter claro que o desenrolar de uma intenção premeditada ou planejada comporta duas
classes de ações, quais sejam: as ações intencionais e as ações sem intenção.
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De acordo com Reason (1990), ações não intencionais ocorrem devido a falhas
da memória que impedem a realização da atitude planejada, constituindo um lapso, ou
alguma falha como falta de atenção que provoca a realização da ação equivocada, o que
constituiria um deslize.
As ações intencionais são de dois tipos: erros e violações. Erros ocorrem quando
a compreensão, o conhecimento ou julgamento, numa determinada situação, são
deficientes e uma ação é planejada e executada de uma maneira tal que não redunda no
resultado desejado. Violações são ações intencionais que, por várias razões não estão
em conformidade com as regras vigentes, padrões e normas. Exceto atitudes deliberadas
como a sabotagem, a motivação envolvida na ocorrência de uma violação não é a de
causar mal ou dano, mas freqüentemente é simplesmente “completar a tarefa” (Gibb;
Hayward; Lowe, 2001).
Schein (1985) apud Höpfl (1994) define cultura como o conjunto de “assunções
básicas e crenças que são compartilhadas pelos membros de uma organização”.
Fornecendo outros elementos para a conceituação de cultura dentro da organização,
Schein (1985) apud Maximiano (1997) afirma que “cultura é a experiência que o grupo
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Robbins (1990) apud Maximiano (1997) sugere alguns indicadores para que a
cultura organizacional possa ser identificada e analisada, que são os seguintes:
Turner (1978) apud Höpfl (1994) afirma que os acidentes principais têm um
“período de incubação”, no qual ocorrem uma série de eventos não registrados ou
percebidos; isso contraria o pensamento estabelecido nas organizações de que o sistema
opera de uma maneira definida e os riscos existentes já foram caracterizados. Sathe
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(1983) apud Höpfl (1994) argumenta que “as pessoas sentir-se-ão compromissadas com
os objetivos da organização quando identificam em tais objetivos alguma ligação
emocional. As crenças e os valores compartilhados que compõem a cultura ajudam a
gerar essa ligação”.