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UNIVERSIDADE PAULISTA

CAROLINE SANCHEZ CASTILLO


MAIKE TROSTDORF MENDONÇA
THULLIO OLIVI ALMEIDA

CONSTRUÇÕES INDUSTRIALIZADAS EM CLT (CROSS LAMINATED TIMBER)

ARARAQUARA
2017
CAROLINE SANCHEZ CASTILLO
MAIKE TROSTDORF MENDONÇA
THULLIO OLIVI ALMEIDA

CONSTRUÇÕES INDUSTRIALIZADAS EM CLT (CROSS LAMINATED TIMBER)

Trabalho de conclusão de curso para a


obtenção do título de Graduação em
Engenheiro Civil apresentado à
Universidade Paulista – UNIP.

Orientador: Prof. Dr. Johnny Soares de


Carvalho
Coorientador: Prof. Dr.º Guilherme Corrêa
Stamato.

ARARAQUARA
2017
FICHA CATALOGRÁFICA

C352c Castillo, Caroline Sanchez

Construções industrializadas em CLT (Cross Laminated Timber) / Caroline


Sanchez Castillo. Araraquara – 2017.

69f. col.

Orientador (a): Prof. Dr. Johnny Soares de Carvalho.

Coordenador (a): Prof. Dr. Guilherme Corrêa Stamato.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Paulista,


Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia, Araraquara, 2017.

1. Construções industrializadas em CLT. 2. Cross Laminated Timber. 3.


Madeira laminada cruzada. 4. Construções sustentáveis.
CDU 624.011.1
CAROLINE SANCHEZ CASTILLO
MAIKE TROSTDORF MENDONÇA
THULLIO OLIVI ALMEIDA

CONSTRUÇÕES INDUSTRIALIZADAS EM CLT (CROSS LAMINATED TIMBER)

Trabalho de conclusão de curso para a


obtenção do título de Graduação em
Engenheiro Civil apresentado à
Universidade Paulista – UNIP.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

_______________________________
Prof. Dr.
Universidade Paulista – UNIP
________________________________
Prof. Dr.
Universidade Paulista – UNIP
DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho aos nossos pais, pelo amor, paciência e apoio
incondicional, ao professor Guilherme Corrêa Stamato, que se tornou um grande
amigo, a à memória de Jonei Gouveia Alves, a mais triste ausência.
AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus, por nos guiar e proteger durante essa


longa jornada, durante todo o processo de pesquisas e viagens em prol de nosso
trabalho.
Aos nossos pais pelo incentivo, por nos apoiarem em todos os momentos e
por acreditarem em nossos sonhos e projetos.
Aos nossos amigos, que compreenderam os muitos finais de semana e
feriados em que estivemos trabalhando em nossa pesquisa, e também pelos
momentos de descontração que nos ajudaram a tomar fôlego para continuar.
Aos nossos mestres, em especial ao professor Guilherme Corrêa Stamato,
pela sua dedicação e paciência, nos disponibilizando todo o suporte no pouco tempo
que lhe coube, pelas correções e incentivos diante do projeto a ser realizado, e por
de bom grado nos receber em sua casa e em sua empresa, a Stamade, para nos
ensinar, e ao professor Johnny Soares de Carvalho que nos orientou durante este
trabalho.
À empresa Crosslam, por nos receber e contribuir ricamente com nossa
pesquisa, bem como à Lucimara Araújo, pela sua paciência em conduzir nossa visita
e tirar nossas dúvidas.
E por fim, à Universidade Paulista, por nos dar a oportunidade de
desenvolver este trabalho.
“O êxito da vida não se mede pelo
caminho que você conquistou, mas sim
pelas dificuldades que superou no
caminho.”
Abraham Lincoln
RESUMO

Este estudo apresenta o sistema de construção industrializada com madeira


laminada cruzada ou CLT (Cross Laminated Timber) no âmbito da construção civil.
Através de revisão bibliográfica de literatura existente e de visita técnica em uma
fabricante de CLT, foi realizado o detalhamento da metodologia de execução
parcialmente industrializada. Observou-se que o sistema, amplamente utilizado na
Europa e América do Norte, apresenta inúmeras vantagens, como a redução do
tempo de construção, isolamento térmico e acústico, além de ser constituído por
material sustentável. É possível observar através deste estudo que a intenção da
madeira laminada cruzada é oferecer uma solução em madeira engenheirada
versátil, de baixa emissão de carbono e competitiva em termos que substituem e
complementam as opções existentes, oferecendo uma opção adequada para
algumas aplicações que atualmente utilizam concreto, alvenaria e aço. Apesar disso,
por ser uma tecnologia trazida recentemente para o Brasil e também devido à
fatores culturais, o CLT ainda é bastante desconhecido no meio da construção civil
brasileira, onde a construção é caracterizada por sistemas construtivos incertos de
prazos e qualidade, além de grande produção de resíduos. É no sentido da
apresentação de uma alternativa construtiva viável, racional e eficiente que o
presente estudo se justifica, esperando resultados positivos na direção da
modernização da atual construção civil brasileira.

Palavras-chave: CLT. Cross laminated timber. Madeira laminada cruzada.


Construções industrializadas em madeira. Construções sustentáveis.
ABSTRACT

This study presents the industrialized building system with cross laminated timber or
CLT (Cross Laminated Timber) regarding to the construction industry. Through
literature review and technical visit in a manufacturer of CLT, was described the
methodology of partially industrialized construction system. It was observed that the
system, widely used in Europe and North America, presents numerous advantages,
such as reducing the time of construction, thermal and acoustic insulation, in addition
to being composed of sustainable materials. Through this study is possible to see
that cross laminated timber offers a solution in wood engineering, with low-carbon
emisions being competitive in terms that it can replace and supplement the existing
options, offering an appropriate option to some applications that currently uses
concrete, masonry and steel. Despite this, as this technology was brought recently to
Brazil and also due to cultural factors, the CLT is still quite unknown in the middle of
the brazilian civil construction, where the construction is characterized by uncertain
deadlines and quality, and high waste production. This study intents to presente a
viable constructive alternative, rational and eficiente, expecting positive results
toward the modernization of the current brazilian construction.

Keywords: CLT. Cross laminated timber. Industrial timber constructions. Sustanable


buildings.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Eixos principais da madeira p. 19


Figura 2 Comportamento da madeira à compressão p. 21
Figura 3 Tracionamento da madeira p. 22
Figura 4 Cisalhamento p. 22
Figura 5 Presença de nós da madeira p. 24
Figura 6 Inclinação das fibras de madeira p. 24
Figura 7 Tratamento da madeira em autoclave p. 28
Figura 8 Camadas de painéis de CLT p.29
Figura 9 Edifício The Cube, Londres p. 30
Figura 10 Casa Habitech, construída em Blumenau, Santa Catarina p. 31
Figura 11 Reflorestamento de pinus p. 32
Figura 12 Estrutura de um painel de CLT p.33
Figura 13 Diagrama de tensões normais e de corte na secção p. 35
transversal
Figura 14 Detalhe da emenda tipo finger-joint p. 38
Figura 15 Corte transversal representativo de uma parede exterior p. 39
em madeira
Figura 16 Correção dos defeitos da madeira p. 44
Figura 17 Emendas do tipo finger-joint p. 44
Figura 18 Montagem dos painéis p. 45
Figura 19 Prensa à vácuo p. 46
Figura 20 Pórtico CNC p. 46
Figura 21 Etapas da fabricação do CLT p. 47
Figura 22 Ligações e vedações nos painéis p. 50
Figura 23 Fita betuminosa utilizada na vedação dos painéis p. 51
Figura 24 Estanqueidade do ar, pontos de infiltração p. 52
Figura 25 Estanqueidade ao ar p. 52
Figura 26 Pormenorização da aplicação da fita para selagem p. 53
Figura 27 Cortes nos painéis para instalações elétricas e hidráulicas p. 55
Figura 28 Painéis dispostos na horizontal p. 56
Figura 29 Painéis dispostos na vertical p. 57
Figura 30 Içamento de um painel de CLT p. 58
Figura 31 Típico edifício CLT de dois andares que mostra várias p. 59
conexões entre os painéis do chão e da parede
Figura 32 Conexão painel-painel tipo spline interno p. 60
Figura 33 Conexão parede-parede p. 60
Figura 34 Conexão parede-pavimento p. 61
Figura 35 Suportes metálicos de fixações telhado-parede p. 62
Figura 36 Placas de metal exterior p. 63
Figura 37 Detalhes de conexão com um espaço entre a parede CLT p. 63
e a base de concreto
Figura 38 Suportes metálicos instalados no local p. 64
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Vida útil de projeto p. 27


Tabela 2 Dados comparativos dos principais materiais estruturais p. 34
Tabela 3 Especificações técnicas da CLT p. 37
Tabela 4 Especificações de painéis de laje p. 37
Tabela 5 Especificações painéis de parede p. 38
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................15
2. OBJETIVO............................................................................................................16
3. JUSTIFICATIVA...................................................................................................17
4. METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO...............................................18
5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................19
5.1. Madeira como material estrutural..............................................................19
5.1.1 Propriedades físicas da madeira.............................................................................19
5.1.2 Propriedades mecânicas da madeira......................................................................22
5.1.3 Fatores que influenciam nas propriedades da madeira........................................24
5.1.4 Classificação estrutural e durabilidade da madeira...............................................26
5.1.5 Tratamento da madeira.............................................................................................28
5.2 Cross laminated timber (CLT)....................................................................30
5.2.1 Propriedades estruturais do CLT.............................................................................33
5.2.2 Especificações técnicas............................................................................................37
5.2.3 Durabilidade................................................................................................................39
5.2.4 Desempenho térmico e acústico..............................................................................39
5.2.5 Resistência sísmica e ao fogo..................................................................................40
5.2.6 Vantagens e desvantagens do sistema construtivo com CLT.............................41
6. ESTUDO PARCIAL DE CASO............................................................................44
6.1. Etapas de fabricação do CLT.....................................................................44
6.1.2. Etapa 2: Emendas.....................................................................................................45
6.1.3. Etapa 3: Montagem dos painéis...............................................................................45
6.1.4. Etapa 4: Colagem e prensa......................................................................................46
6.1.5. Etapa 5: corte e fresamento.....................................................................................47
6.1.6. Etapa 6: Acabamento................................................................................................48
6.2. Sistema construtivo com CLT: Montagem na obra..................................49
6.2.1. Fundações..................................................................................................................49
6.2.2. Piso..............................................................................................................................50
6.2.3. Cobertura....................................................................................................................51
6.2.4. Vedações externas e internas..................................................................................51
6.2.5. Fachada......................................................................................................................52
6.2.6. Instalações elétricas e hidráulicas...........................................................................54
6.3. Transporte dos painéis de CLT..................................................................56
6.4. Içamento e manipulação dos elementos de CLT.....................................58
6.5. Conexões......................................................................................................59
6.5.1. Conexões painel-painel.............................................................................................60
6.5.2. Conexões parede-parede.........................................................................................61
6.5.3. Conexões parede-pavimento...................................................................................62
6.5.4. Conexões telhado-parede.........................................................................................62
6.5.5. Conexões parede-fundação.....................................................................................63
7. RESULTADOS E CONCLUSÕES.......................................................................66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................68
15

1. INTRODUÇÃO

De acordo com os autores Calil Junior, Lahr e Dias (2003), a madeira como
material de construção é versátil, facilmente obtida e, além de ser uma fonte
renovável, também possui alta resistência em relação ao seu peso específico.
Outros materiais estruturais são produzidos por processos altamente poluentes,
antecedidos por agressões ambientais consideráveis para a obtenção de matéria-
prima. Os referidos processos requerem alto consumo energético e a matéria-prima
retirada da natureza jamais será reposta. Assim, a madeira torna-se o mais
ecológico dos materiais.
No Brasil, a madeira é utilizada para múltiplas finalidades. Na construção civil,
seu uso se destaca na solução de problemas relacionados a coberturas,
cimbramentos, transposição de obstáculos, armazenamento, linhas de transmissão,
obras portuárias, além de ser muito empregada na fabricação de componentes para
edificação, como portas, caixilhos, lambris, forros, pisos e móveis. É evidente, então,
que a madeira tem significativo potencial para os mais diversos usos (CALIL
JUNIOR; LAHR; DIAS, 2003).
A madeira, em seu estado natural, possui características próprias que podem
ser modificadas com tecnologias modernas, conferindo-lhe maior resistência a fim
de ser utilizada como principal material de estrutura e vedação, como é o caso do
CLT (Cross Laminated Timber) ou laminado de madeira cruzada, sendo este o mais
novo produto de engenharia introduzido no mercado mundial nos últimos 20 anos.
(CALIL JUNIOR, R. LAHR; DIAS, 2003)
A laminação cruzada, de acordo com Calil Neto (2011), melhora as
propriedades estruturais dos painéis por meio da distribuição de força ao longo das
fibras da madeira em ambos os sentidos, o que praticamente elimina qualquer
retração significativa ou deformação dos painéis. Podem suportar grandes cargas,
possibilitando construções com vários pavimentos. Em função de sua incrível força,
rigidez, estabilidade, durabilidade e leveza, é uma alternativa competitiva para os
materiais estruturais tradicionais popularmente utilizados no Brasil.
16

1.1 OBJETIVO

É cada vez maior a necessidade de se reduzir o tempo e o desperdício nas


construções, bem como de se utilizar materiais sustentáveis em obra. Partindo
desse princípio, a proposta do CLT (Cross Laminated Timber) é oferecer soluções
para as mais diversas situações, trazendo como benefícios flexibilidade no design,
rápida instalação, diminuição do desperdício, leveza e eficiência energética a preço
justo.
Arquitetos, engenheiros, designers e profissionais da construção e indústria
estão cada vez mais voltando-se para o CLT para realização de diferentes projetos.
Tecnologias construtivas industrializadas devem ser compreendidas como aliadas
no combate à degradação ambiental. Considerando a expressiva redução na
produção de resíduos nos canteiros e menor utilização de água, possibilitada por
uma construção seca, sistemas construtivos em CLT propõem ser significativamente
menos poluentes quando comparados a outros materiais.
O objetivo deste trabalho é estudar a eficiência do CLT (Cross Laminated
Timber) como material estrutural e de vedação. Como objetivo específico, este
estudo irá analisar seu processo de fabricação, estudar os sistemas construtivos em
suas etapas de montagem e verificar se a eficiência do CLT satisfaz o processo de
redução do tempo na construção no que diz respeito a custos de mão-de-obra e
sustentabilidade de material.
17

2. JUSTIFICATIVA

Na Europa e América do Norte observa-se uma diversificação dos materiais e


métodos construtivos, enquanto que no Brasil predominam as obras em concreto e
alvenaria, materiais não sustentáveis, e que apresentam alto consumo energético
em sua produção, maior consumo de água, além de gerar grande quantidade de
resíduos (ALMEIDA, 1990).
Visto que a proposta do CLT é se apresentar como alternativa sustentável ao
concreto e tão resistente quanto a alvenaria, e sua introdução no Brasil é muito
recente, este estudo é importante porque propõe estudar a fabricação desse
material e seu desempenho estrutural, afim de verificar se essa nova tecnologia de
engenharia em madeira pode se tornar mais conhecida, ajudando a quebrar o
paradigma de que construções em madeira são ultrapassadas e que é possível
agregar conforto e eficiência em uma construção sustentável.
18

3. METODOLOGIA DO TRABALHO ACADÊMICO

Esse estudo buscar-se-á, por meio de pesquisa exploratória feita a partir de


levantamento bibliográfico que se encontra secção três destinada a materiais e
métodos, desenvolver pesquisas e acompanhamento dos processos fabris em visita
técnica à empresa Crosslam, localizada no município de Suzano, São Paulo, para
analisar o processo de montagem dos painéis de CLT utilizados em obras.
Além disso, o acompanhamento dos processos fabris foi realizado com o
propósito de se confirmar as vantagens do uso de CLT, como a redução do tempo
de construção, os resíduos e os custos de mão-de-obra, já que se considera que
este tipo de material seja sustentável.
19

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.1. Madeira como material estrutural

De acordo com os estudos de Almeida (1990), o desenvolvimento tecnológico


mundial da madeira como material estrutural cresceu substancialmente nas últimas
décadas, aumentando a industrialização das construções em madeira, além do
surgimento de novos produtos à base de madeira, tais como o MDF (medium
density fibreboard) e o OSB (oriented strand board).
A madeira como material estrutural normalmente se encontra em diferentes
formas, como: madeira em tora, madeira serrada, madeira laminada colada, madeira
compensada e madeiras reconstituídas. O comportamento estrutural desses
diferentes tipos de madeiras está relacionado com o arranjo da estrutura interna que,
dependendo da forma final do produto, resulta em maior ou menor grau de
anisotropia (ALMEIDA, 1990).
Normalmente, as madeiras reconstituídas têm propriedades isotrópicas o que
garante seu excelente desempenho estrutural, diversificando seu emprego nas
construções. Portanto, sua aplicação como material estrutural exige um domínio do
conhecimento da estrutura interna dos diferentes tipos de madeira para orientar as
técnicas de detalhamento das ligações e de regiões especiais das estruturas,
garantindo-se a segurança e durabilidade das construções de madeira (ALMEIDA,
1990).
Neste capítulo serão abordados aspectos importantes da estrutura interna da
madeira e suas propriedades estruturais, bem como a aplicação dos atuais critérios
de dimensionamento da NBR 7190/1997.

4.1.1 Propriedades físicas da madeira

Para Calil Junior, Lahr e Dias (2003), conhecer as propriedades físicas da


madeira é de grande importância porque estas propriedades podem influenciar
20

significativamente no desempenho e resistência da madeira utilizada


estruturalmente.
Entre as características físicas da madeira cujo conhecimento é importante
para sua utilização como material de construção, destacam-se: anisotropia,
umidade, densidade, retratibilidade e inchamento (variação dimensional), e
durabilidade natural. Segundo Calil Junior, Lahr e Dias (2003), a anisotropia
dá-se quando o material apresenta diferentes propriedades de acordo com a direção
analisada. Estas direções principais, mostradas na figura abaixo, denominam-se:

a) Direção longitudinal – L: é a direção da altura da árvore, coincidente com o


comprimento das peças;
b) Direção tangencial – T: é a direção tangencial aos anéis de crescimento da
árvore;
c) Direção radial – R: é a direção radial, considerando a seção da árvore como
circular.

Na direção longitudinal (L), a madeira apresenta maior resistência e rigidez.


Tradicionalmente, as propriedades da madeira são referidas, para utilização
estrutural, nas direções paralela às fibras da madeira (longitudinal) e no sentido
perpendicular às fibras (radial e tangencial). Por apresentarem direções principais
que são ortogonais entre si, diz-se que a madeira tem comportamento “ortotrópico”
(CALIL JUNIOR; LAHR; DIAS, 2003).

Figura 1 - Eixos principais da madeira


Fonte: RITTER (1990)
21

Já a umidade pode ser observada quando a árvore é cortada, o que faz com
que ela tende a perder rapidamente a água livre existente em seu interior para, a
seguir, perder a água de impregnação mais lentamente. A umidade na madeira
tende a um equilíbrio com a umidade e temperatura do ambiente em que se
encontra (CALIL JUNIOR; LAHR; DIAS, 2003).
O teor de umidade de uma madeira é dado pela relação entre o peso da água
contida no seu interior e o seu peso no estado completamente seco, expresso em
porcentagem (MORESCHI, 2005). Desse modo, o teor de umidade correspondente
ao mínimo de água livre e ao máximo de água de impregnação é denominado de
“ponto de saturação das fibras”. Para as madeiras brasileiras, essa umidade
encontra-se em torno de 25%. A perda de água da madeira até o ponto de saturação
das fibras se dá sem a ocorrência de problemas para a estrutura da madeira. A partir
desse ponto a perda de umidade é acompanhada pela retração (redução das
dimensões) e aumento da resistência, por isso a secagem deve ser executada com
cuidado para se evitarem problemas na madeira (CALIL JUNIOR; LAHR; DIAS,
2003).
Assim, de acordo com Calil Junior, Lahr e Dias (2003), para fins de aplicação
estrutural da madeira e para comparação entre espécies, a norma brasileira
especifica a umidade de 12% como de referência para a realização de ensaios e
valores de resistência nos cálculos.
A norma brasileira “NBR 7190/97 – Projeto de Estruturas de Madeira”, da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997), apresenta duas definições de
densidade a serem utilizadas em estruturas de madeira. A primeira delas é a
“Densidade Básica” da madeira, definida como a massa especifica convencional
obtida pelo quociente da massa seca pelo volume saturado. A segunda, definida
como “Densidade Aparente”, determinada para uma umidade padrão de referência
de 12%, essa é a densidade a ser utilizada para classificação da madeira e nos
cálculos de estruturas.
Na madeira, a variação dimensional é caracterizada pelas propriedades de
retração e inchamento. Em razão da ortotropia, esses fenômenos são referidos às
três direções principais: axial (ou longitudinal), radial e tangencial. A diminuição ou o
aumento da quantidade de água de impregnação provocam aproximação ou
afastamento das cadeias de celulose, ocasionando as correspondentes variações
dimensionais de retração ou inchamento (PFEIL; PFEIL 2003).
22

Considerando as direções principais, em ordem decrescente de valores,


encontra-se a retração tangencial com valores da ordem de 10%. Na sequência, a
retração radial com valores da ordem de 6% de variação dimensional, a variação
entre a retrações radiais e tangenciais podem causar problemas de torção,
encanoamento e rachaduras nas peças de madeira. Por último, encontra-se a
retração longitudinal com valores de 0,5% de variação dimensional (CALIL JUNIOR;
LAHR; DIAS, 2003).

4.1.2 Propriedades mecânicas da madeira

As propriedades físicas e mecânicas das espécies de madeiras são


determinadas por meio de ensaios padronizados em amostras sem defeitos. No
Brasil esses ensaios estão descritos no anexo B páginas 47-73 da Norma Brasileira
NBR 7190/1997, Projeto de Estruturas de Madeira.
As propriedades de resistência e elasticidade são influenciadas pela
disposição dos elementos anatômicos responsáveis pela resistência mecânica, que
são principalmente as fibras, no caso das dicotiledôneas, e os traqueídes, no caso
das coníferas. A direção longitudinal (ou axial) das peças é coincidente com a
orientação das fibras, e é denominada direção paralela às fibras. É a direção que
apresenta valores maiores de resistência e rigidez (PFEIL; PFEIL 2003).
Os aspectos qualitativos das propriedades mecânicas da madeira serão,
melhor explicitados, no decorrer dessa secção.
Para o caso de solicitação normal às fibras, a madeira apresenta valores de
resistência menores que o de compressão paralela, pois a força é aplicada na
direção normal ao comprimento das fibras (ou dos traqueídes), provocando um
esmagamento da madeira. Os valores de resistência à compressão normal às fibras
são da ordem de ¼ dos valores apresentados pela madeira na compressão paralela.
Na figura 2, é possível ver o modelo de comportamento da madeira quando
solicitada à compressão paralela (A) ou normal (B) às fibras (RITTER, 1990).
23

Figura 2 - Comportamento da madeira à compressão


Fonte: RITTER (1990)

Dois tipos diferentes de tração podem ocorrer em peças de madeira: tração


paralela ou tração perpendicular às fibras da madeira.
A ruptura por tração paralela às fibras pode ocorrer por deslizamento entre as
fibras (ou traqueídes) ou por ruptura de suas paredes. Em ambos os modos de
ruptura, a madeira apresenta baixos valores de deformação e elevados valores de
resistência.
Já na ruptura por tração normal às fibras, a madeira apresenta baixos valores
de resistência, considerando a baixa resistência da madeira nesta direção, devem
ser evitadas, em projeto, situações que conduzam a esta forma de solicitação
(RITTER, 1990).

Figura 3 - Tracionamento da madeira


Fonte: RITTER (1990)

Quando o plano de atuação das tensões de cisalhamento é paralelo às fibras


(ou traqueídes) duas situações distintas podem ocorrer. Se a direção das tensões é
na direção das fibras (ou traqueídes) ocorre o cisalhamento horizontal. Se a direção
das tensões é perpendicular à direção das fibras (ou traqueídes) existe a tendência
desses elementos rolarem uns sobre os outros (cisalhamento “rolling”). A situação
na qual a madeira apresenta menor resistência é a de cisalhamento horizontal. A
24

figura abaixo ilustra como ocorre o cisalhamento horizontal (CALIL JUNIOR, R.


LAHR e DIAS, 2003).

Figura 4 – Cisalhamento
Fonte: RITTER (1990)

Segundo Moreschi (2005), a resistência ao cisalhamento da madeira é


diretamente proporcional à sua densidade, mas depende principalmente do sentido
em que o esforço é aplicado em relação aos anéis de crescimento (usualmente a
ruptura se determina no plano tangencial ou radial).
Quando a madeira é solicitada à flexão simples ocorrem quatro tipos de
esforços: compressão paralela às fibras, cisalhamento horizontal e nas regiões dos
apoios, compressão normal às fibras (CALIL JUNIOR; LAHR; DIAS, 2003).
Segundo Ritter (1990), as propriedades da madeira solicitadas por torção são
muito pouco conhecidas. A NBR 7190/1997 recomenda evitar a torção de equilíbrio
em peças de madeira, em virtude do risco de ruptura por tração normal às fibras
decorrente do estado múltiplo de tensões atuante.
A resistência ao choque é a capacidade de o material absorver rapidamente
energia pela deformação. A madeira é considerada um material de ótima resistência
ao choque. Para quantificar a resistência da madeira ao choque, a norma brasileira
prevê o ensaio de flexão dinâmica, ensaio este de grande importância para testar
madeiras provenientes de diferentes espécies, pois, assim, consegue-se avaliar a
capacidade do material em resistir a impactos e, dessa forma, contribui para o
conhecimento da qualidade e utilização futura desse material (MORESCHI, 2005).

4.1.3 Fatores que influenciam nas propriedades da madeira

Pelo fato da madeira ser um material de origem biológica, está sujeita a


variações na sua estrutura que podem acarretar mudanças nas suas propriedades.
25

Os principais fatores que diminuem a resistência e rigidez da madeira são os nós,


inclinação das fibras e fissuras (PFEIL; PFEIL 2003).
Os nós são diferenciados pela posição no centro da face, no canto dela ou no
lado, e devem ser avaliados pela proporção da área que ocupam na seção
transversal da peça. Um conjunto de nós é medido como um nó individual. Nesse
caso, o diâmetro a ser considerado é a soma dos diâmetros de cada um. Se houver
dois ou mais nós próximos, mas com fibras em torno de cada um, eles não serão
considerados um conjunto de nós (CARREIRA, 2003).
Como os nós afetam a continuidade das fibras, são considerados defeitos que
comprometem a resistência e o aspecto visual. Por isso, é importante saber o
tamanho deles. Quanto menor, melhor a qualidade. A figura a seguir mostra a
presença de nós em diferentes partes da madeira:

Figura 5 - Presença de nós da madeira


Fonte: CARREIRA (2003)

A inclinação das fibras é medida em relação ao eixo longitudinal nas quatro


faces, por todo o comprimento, onde apresentar maior inclinação. Quanto menos
inclinadas, ou seja, quanto menor o ângulo de inclinação em relação ao eixo
longitudinal, melhor a resistência, como mostra a figura abaixo
26

Figura 6 - Inclinação das fibras de madeira


Fonte: CARREIRA (2003)

Segundo Calil Neto (2011), fissura é a separação da continuação das fibras


de madeira, uma consequência natural do processo de secagem da madeira. As
fibras exteriores perdem a umidade para a atmosfera e encolhem, mas no interior do
elemento a madeira perde umidade a uma velocidade muito mais lenta. As
diferentes taxas de perda de umidade podem causar a fissura.
Uma rápida secagem aumenta o diferencial de umidade entre o interior e
exterior das fibras e, portanto, aumenta a propensão para fissuras da madeira. O
processo de fissuração se estabiliza quando o teor de umidade do membro atinge o
equilíbrio com o meio ambiente (CALIL NETO, 2010).

4.1.4 Classificação estrutural e durabilidade da madeira

A classificação estrutural é um processo de selecionar a madeira com base


na estimativa de suas propriedades estruturais. O processo de classificação
estrutural é realizado pela escolha de algumas características da madeira que
correlacionem adequadamente com todas as propriedades estruturais. Devido à
natural variabilidade das propriedades da madeira, há uma grande faixa de
resistência e rigidez em cada classe ou grupo (CARREIRA, 2010).
Os agrupamentos das propriedades estruturais são realizados com base em
dois parâmetros:

a) resistência: cujas propriedades são usadas para avaliar a capacidade última dos
elementos estruturais, e estão relacionadas com a probabilidade de ocorrência de
ruína da estrutura.
27

b) rigidez: é utilizada para a determinação da distribuição de forças entre sistemas


estruturais dispostos em paralelo, como no caso de pisos, pórticos, etc. É também
indicada para estimar os deslocamentos da estrutura (CARREIRA, 2010).

A classificação pode ser feita de vários métodos diferentes, sendo muito


comum a classificação visual, onde as peças são examinadas por um classificador
treinado no conhecimento de elementos que diminuem a resistência e rigidez da
madeira, como por exemplo, os nós, inclinação das fibras, fissuras e rachaduras
(GREEN; WINANDY; KRETSCHMANN, 1999)
De acordo com Green, Winandy e Kretchmann (1999), a classificação
mecânica é o processo pelo qual a madeira é avaliada por meio de um teste não-
destrutivo, seguido de uma inspeção visual para avaliar certas características que a
máquina não pode avaliar adequadamente. O teste não-destrutivo é altamente
automatizado, o processo requer pouco tempo e é estimada a partir de então a
resistência da madeira, etapa indispensável para uma melhor seleção do material
para aplicações específicas em estruturas.
Existem processos de classificação mecânica da madeira para fins
estruturais, que utilizam técnicas como ultrassom, ondas de choque, flexão
dinâmica, vibração transversal, dentre outros.
Segundo a ISO 13823 (2008), durabilidade é a capacidade da estrutura e de
seus componentes de manter suas perfeitas condições sob cuidados de
manutenção planejada, por um determinado período de tempo sofrendo com ações
ambientais e pelo seu envelhecimento natural.
Para a Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 15575-1/2013 –,
durabilidade é a “capacidade da edificação ou de seus sistemas de desempenhar
suas funções, ao longo do tempo e sob condições de uso e manutenção”.
Percebemos então, que a durabilidade está totalmente ligada ao desempenho do
sistema ou produto em uso, por um determinado tempo, o que está associado à vida
útil.
Mesmo que os conceitos durabilidade sejam descritos de diversas maneiras,
todas contextualizam que a durabilidade, associa-se a vida útil do material ou
sistema, submetidas as ações ambientais e de uso, auxiliadas pela manutenção
(POSSAN; DEMOLINER, 2013).
28

Segundo a NBR 15 575-1/2013 da ABNT, a vida útil é “uma medida temporal


da durabilidade de um edifício ou de suas partes, é o tempo previsto para a duração
de determinado produto”. Em suma, vida útil é o tempo em que o sistema consegue
exercer suas funções em bom estado, o período de tempo que o mesmo consegue
atender as exigências dos usuários, período este que é diretamente influenciado
pelas atividades de reparo e manutenção, comprovando a verdadeira necessidade
das manutenções para que o edifício e seus componentes consigam cumprir uma
vida útil.
Observa-se na tabela abaixo, que a NBR 15 575/2013 exige Vida Útil de
Projeto (VUP) para estruturas de no mínimo 50 anos. O período de tempo da
contagem da vida útil de projeto se inicia na data de conclusão da obra, sendo que
essa data deve ser comprovada pelo Auto de Conclusão de Edificação, que é um
documento legal que atesta a conclusão da obra. Quando decorrido 50% do valor de
vida útil do projeto conforme a Tabela 1, e não tenha sido necessário intervenções
de manutenção com custos, considera-se que o tempo de vida útil foi atingido
satisfatoriamente (ABNT NBR 15 575, 2013).

Tabela 1 - Vida últil de projeto


Fonte: ABNT NBR 12 575-1 (2013)

4.1.5 Tratamento da madeira

Em função da utilização e funcionalidade que esperamos obter dos produtos


em madeira, assim devemos escolher a proteção adequada, para evitar eventuais
danos e prejuízos. A preservação química da madeira pode ser feita pelos seguintes
métodos: pincelamento, aspersão, pulverização, imersão, banho quente-frio,
substituição de seiva e autoclave (pressão). O tratamento mais utilizado na madeira
empregada na fabricação do CLT é o tratamento em autoclave (CALIL JUNIOR;
LAHR; DIAS, 2003).
29

De acordo com a NBR 16 143/2013 deve-se considerar a busca de produtos


preservativos de menor impacto ao meio ambiente e a higiene e segurança dos
usuários e sua disponibilidade no mercado brasileiro. Estes produtos não devem
alterar as propriedades físicas e mecânicas da madeira, os aspectos estéticos (cor,
por exemplo) e nem ser corrosivo. Além disso, devem permitir aplicação de
acabamento e ter permanência na madeira.
Dependendo da categoria de uso à qual o componente de madeira estará
sujeito na edificação, a aplicação dos produtos preservativos poderá ser efetuada
com base nos seguintes processos: sem pressão ou superficial, sob pressão (célula
cheia ou célula vazia), duplo-vácuo, adição à cola (painéis) e por difusão. A escolha
do processo e do produto preservativo dependerá, principalmente, da espécie de
madeira e das condições de utilização das mesmas. A especificação de um
tratamento preservativo, baseado nas categorias de uso, deve requerer penetração
e retenção adequadas que dependem do processo escolhido (NBR 16 143, 2013).
As normas técnicas e a experiência do fabricante podem relacionar estes
parâmetros de qualidade do tratamento, considerando que quanto maior a
responsabilidade estrutural do componente de madeira, maior deverá ser a retenção
e penetração do produto preservativo e que uma maior vida útil está normalmente
associada a uma maior retenção e penetração do produto (NBR 16 143, 2013).
O tratamento da madeira em autoclave é um processo tecnológico que
incorpora mecânica e química, permitindo impregnar profundamente a madeira com
produtos inseticidas e fungicidas de ação comprovada. Desta forma, através do
tratamento da madeira em autoclave, a madeira fica protegida contra o
apodrecimento, e outros agentes biológicos de deterioração, como fungos e insetos
(MORESCHI, 2013).
Em uma usina de preservação da madeira (UPM), as toras são colocadas na
autoclave para tratamento vácuo-pressão, onde ocorre a retirada do ar dos capilares
da madeira por vácuo, como mostra a figura abaixo. Através de pressão, a madeira
recebe em suas camadas permeáveis a aplicação do preservativo. Para a remoção
do excesso do produto, as peças passam pelo processo de vácuo novamente
(CARPINTERIA, 2017).
30

Figura 7 - Tratamento da madeira em autoclave


Fonte: CARPINTERIA (2017)

O tratamento industrial pode ser realizado com CCA (sais de Cromo – Cobre
– Arsênio) e CCB (sais de Cromo – Cobre – Boro). Ambos preservativos são
hidrossolúveis e de longa duração, sendo o CCA, o mais utilizado e o CCB, o de
menor toxidade (CALIL JUNIOR; LAHR; DIAS, 2003).
Ao penetrar as camadas da madeira, o cromo tem a função de fixar o cobre,
que possui ação fungicida, e fixar o inseticida, arsênio ou boro. A madeira tratada
fica imune contra o ataque de fungos e insetos. Não possui odor e não emite
vapores. Os produtos não deixam resíduos na madeira, não alteram suas
características e não proporcionam corrosão dos metais, muitas vezes utilizados na
madeira. O tratamento torna sua cor esverdeada e as peças podem receber
acabamento e pinturas diversas.

4.2 Cross laminated timber (CLT)

Cross Laminated Timber (CLT) ou laminado de madeira cruzada consiste na


sobreposição de camadas de lâminas de madeira maciça coladas em sentidos
opostos e alternados, compostos por número ímpar de camadas (em geral, 3, 5, 7
ou mais camadas), entremeadas de adesivo para uso estrutural e submetidas a
grande pressão, conforme figura a seguir.
A produção das edificações em CLT inicia-se na fábrica, onde são usinados
painéis para vedações verticais, pisos e cobertura. Em seguida, os painéis são
transportados para o canteiro de obras, com vãos (janelas e portas) e espaço para
passagem de instalações previamente recortados em fábrica. Com o auxílio de
guindastes, os elementos são içados até sua posição definitiva na edificação. Em
31

seguida, carpinteiros utilizam conectores metálicos e parafusos para executar as


ligações (CRESPEL; GAGNON, 2010).

Figura 8 - Camadas de painéis de CLT


Fonte: STORA ENSO (2017)

Originalmente desenvolvido na Áustria no início dos anos 90, por


pesquisadores da Universidade de Graz, onde foi testado inicialmente para
residências, o CLT começou a ser difundido no mercado da construção desde então,
e de 1996 a 2008, sua produção cresceu 860% na Europa.
Na Europa Central a produção de CLT já é a segunda mais importante dentre
os produtos beneficiados de madeira. Os países que lideram o uso de CLT
atualmente são Áustria, Alemanha, Suíça, Suécia, Noruega e Reino Unido. Dentre
os principais fornecedores de CLT no mercado internacional, destacam-se: KLH,
Stora Enso, Binderholz, Martinsons e Moelven (CRESPEL; GAGNON, 2010).
É possível observar, na figura 9, o Edifício The Cube, construído em Londres
em 2015 e projetado pelo escritório Hawkins Brown, o edifício possui uma estrutura
mista de madeira e aço. Com seus 49 apartamentos, distribuídos em 10 pavimentos,
e 33 m de altura é o edifício mais volumoso da Europa construído em CLT.  O edifício
adquire importância no contexto mundial, ao demonstrar o grande potencial do CLT
como um material que possibilita uma construção rápida com impacto ambiental
reduzido.
32

Figura 9 - Edifício The Cube, Londres


Fonte: HOBHOUSE (2016)

A empresa Crosslam na cidade de Suzano, SP, que nos recebeu em visita


técnica, desenvolve e comercializa produtos de engenharia em madeira e sistemas
de construção fabricados por sua empresa de origem, a CG Sistemas Construtivos.
A Crosslam iniciou suas atividades com o CLT há pouco mais de cinco anos e até o
momento é a única empresa no Brasil que o produz.
Entretanto já existem iniciativas de empresas estrangeiras na implementação
do sistema construtivo com CLT no Brasil, como a Habitech, por exemplo, empresa
italiana que construiu seu primeiro protótipo nas Américas, mais precisamente na
cidade de Blumenau, no estado de Santa Catarina, onde foi construída a Casa
Habitech, conforme figura abaixo, ocupando uma área construída de 200 metros
quadrados, com montagem que durou cerca de 13 dias, sendo 3 para a montagem
da estrutura e 10 para os acabamentos, executada por 16 técnicos italianos. Todos
os painéis utilizados foram importados da Europa.

Figura 10 - Casa Habitech, construída em Blumenau, Santa Catarina


Fonte: SINDUSCON BLUMENAU (2017)
33

A matéria-prima utilizada para fabricar o CLT vem das florestas manejadas e


funciona sob o princípio da sustentabilidade, assim, não só o material bruto está
sempre disponível, como também cresce de forma constante.
O Brasil possui atualmente uma área reflorestada de mais de 6,29 milhões de
hectares, sendo 1,862 milhão plantados com pinus, 3,231 milhões plantados com
eucaliptos e 1,2 milhão de hectares com outras espécies. O Paraná é o Estado com
a maior área cultivada. Deve-se salientar a adaptação muito boa de várias espécies
de pinus às condições climáticas das regiões Sudeste e Sul do Brasil (IBÁ, 2010).
Por serem espécies de plantios florestais de rápido crescimento, se tornam as
mais viáveis para uso na indústria de produtos beneficiados de madeira, como o
Pinus taeda, sendo esta, a espécie mais utilizada como matéria prima na fabricação
do CLT (IBÁ, 2010).
De acordo com Alfonso, et all, 1988:

O pinus é uma conífera do gênero pinus, da família botânica das


Pináceae. São plantas lenhosas, em geral arbóreas, de altura
variando de 30 a 50 m, dependendo da espécie. Seu tronco é reto,
mais ou menos cilíndrico, e sua copa em forma de cone. Possuem
folhas caracteristicamente em forma de acículas, agrupadas em
fascículos. A determinação botânica das espécies, apesar de ser
difícil, pode ser feita através de caracteres tais como número,
disposição e coloração das sementes; tamanho e forma dos
estróbilos (pinha). A madeira possui massa específica a 15% de
umidade, que varia de 400 a 520 kg/m³ e a cor do cerne varia de
amarelo-claro ao alaranjado ou castanho-avermelhado (Alfonso, el al,
1988, p. 193).

Coníferas de reflorestamento, como o Pinus, visto na figura abaixo, são


madeiras mais suscetíveis ao ataque de fungos e insetos e por isso precisam de
tratamento para ampliar a sua capacidade de durabilidade. Por outro lado, a
permeabilidade dessas madeiras colabora para a penetração de preservantes e com
a efetividade do tratamento (NAHUZ, 2013).
34

Figura 11 - Reflorestamento de pinus


Fonte: AGROMAFRA (2017)

A madeira de Pinus taeda é fácil de ser trabalhada, fácil de desdobrar,


aplainar, desenrolar, lixar, tornear, furar, fixar, colar e permite bom acabamento,
além de ser de secagem rápida (NAHUZ, 2013).
O CLT é produzido com a madeira apresentando umidade de 12%, o que
corresponde a uma umidade de equilíbrio de 20ºC e 65% de umidade relativa, desta
forma o comportamento de inchamento e retração se reduz ao mínimo, garantindo
assim a estabilidade dimensional e aumentando consideravelmente a capacidade de
carga estática (KLH, 2017)

4.2.1 Propriedades estruturais do CLT

Um painel laminado de madeira trançada é composto por várias camadas de


lâminas de madeira seca em estufa, empilhadas em direções ortogonais alternadas,
coladas com adesivos estruturais, e prensadas para formar uma única placa de
lâminas de madeira trançada, como mostra a figura 12. A laminação cruzada diminui
os efeitos de ortotropia no plano do painel.
Os painéis CLT são normalmente constituídos por um número ímpar de
camadas (em geral, de três, cinco, sete ou mais). Essa laminação cruzada
proporciona estabilidade dimensional, resistência e rigidez, o que torna o CLT uma
alternativa prática, tecnicamente, economicamente viável para a substituição de
materiais convencionais como concreto, alvenaria e aço em muitas aplicações. Além
de melhorar as propriedades estruturais dos painéis através da distribuição de força
35

ao longo das fibras da madeira em ambos os sentidos, o que praticamente elimina


qualquer retração significativa ou deformação dos painéis (CRESPEL; GAGNON,
2010).
Ele pode ser utilizado para construir todo um edifício, dada sua característica
de resistência a cargas combinadas, ou para elementos específicos como lajes de
piso e teto, colunas, vigas ou paredes.
Os painéis estruturais de CLT são também utilizados na construção de
mezaninos residenciais ou industriais, tablados de pontes e torres eólicas,
substituindo materiais de maior peso e custo.

Figura 12 - Estrutura de um painel de CLT


Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)

O sistema construtivo com o uso do CLT depende de um projeto estrutural


que define as dimensões dos painéis, o posicionamento de cada um na obra e o
corte para encaixe das portas e janelas. Além das vantagens ambientais pelo uso da
madeira na estrutura, com a pré-fabricação na indústria, o tempo de montagem em
obra é extremamente reduzido quando comparado à construção em alvenaria, além
de gerar menores quantidades de resíduos e menor consumo de agua e energia
elétrica.
Na tabela a seguir, são apresentados os valores do consumo energético para
a produção dos principais materiais estruturais, em comparação com algumas
propriedades físicas.
36

Tabela 2 - Dados comparativos dos principais materiais estruturais


Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1997).

A resistência para o concreto se refere à resistência característica à


compressão, produto usinado; e para o aço se refere à tensão de escoamento do
tipo MR-250, de acordo com a NBR 7007 (ABNT, 1998); e para a madeira se refere
aos valores médios da resistência à compressão paralela às fibras, com referência à
umidade de 12%, conforme recomendação da NBR 7190 (ABNT, 1997).
Observa-se a partir da tabela 2 que a madeira, além de ser o único material
de construção de fonte renovável, apresenta baixo consumo energético na sua
produção e excelente desempenho de resistência e elasticidade. Sendo assim, os
painéis de CLT formam um sistema de construção robusto, estruturalmente forte e
que se equipara a qualquer outro material à base de concreto, aço ou alvenaria
tradicional. O CLT prevê estabilidade dimensional superior e oferece um
desempenho incrível, com resistência ao cisalhamento mais alta em comparação
com outros materiais estruturais comuns.
De acordo com Crespel e Gagnon (2010), do ponto de vista estrutural
identificam-se os seguintes aspetos relevantes para o entendimento do
funcionamento destes elementos:

I. A secção transversal deverá ser avaliada considerando a deformação por


esforço transverso que ocorre nas lamelas transversais ao plano de flexão
(figura 13;
II. Possibilidade de distribuição de cargas em duas direções ortogonais,
considerando a configuração dos estratos e as dimensões do painel;
37

III. Grande estabilidade dimensional, devido à restrição provocada pela


colagem e disposição ortogonal dos estratos;
IV. Utilização nas Classes de Serviço 1 e 2 e desaconselhamento na Classe
de Serviço 3.

A figura abaixo apresenta esquematicamente os diagramas de tensões


esperados na secção transversal de um painel CLT. Ao centro está representada a
evolução das tensões normais, sendo notória a ausência de rigidez de flexão nos
estratos transversais. À direita, na representação das tensões de corte, distingue-se
entre as tensões de corte somente com componentes perpendiculares ao fio (corte
rasante) e as tensões de corte ‘normais’ que possuem componentes perpendiculares
e paralelas ao fio da madeira.

Figura 13 - Diagrama de tensões normais e de corte na secção transversal


Fonte: CRESPEL; GAGNON (2010)

A deformação provocada pelo esforço transverso rasante nos estratos


ortogonais à direção principal de flexão (distorção das lamelas) corresponde a um
escorregamento relativo entre os estratos longitudinais, com a consequente perda
de rigidez de flexão. Embora com algumas limitações, designadamente, na
aplicação de cargas concentradas, a prática mostra que os erros daí decorrentes
são desprezáveis do ponto de vista prático de engenharia. A título de exemplo, um
painel com 5 estratos e 145 mm de espessura pode ter uma redução de 23% na
rigidez à flexão, para um vão de 4,0 m.
Em paredes, elementos solicitados tipicamente no seu plano, os esforços são
absorvidos pelos estratos verticais, transmitindo tensões paralelas ao fio da madeira.
Com esforços deste tipo, o dimensionamento é condicionado pela verificação à
instabilidade por encurvadura. Em painéis com aberturas de vãos o lintel formado é
38

analisado como uma viga (geralmente bi-engastada), desprezando-se agora as


lamelas verticais.

4.2.2 Especificações técnicas

As tabelas 3, 4 e 5, apresentam algumas especificações técnicas dos


painéis de CLT quanto ao seu desempenho estrutural referente às classes de
serviço, peso, taxa de deformação, capacidade térmica, pressão de colagem, dentre
outros.

NOME DO PRODUTO Madeira laminada cruzada ou Cross


Laminated Timber (CLT), X-Lam
DESCRIÇÃO DO PRODUTO Painel de madeira maciça de grande
porte com lamelas coladas
transversalmente
USOS Elementos estruturais para paredes,
tetos e telhados
DESEMPENHO Classes de serviços 1 e 2
MADEIRA UTILIZADA A espécie Pinus é a mais utilizada
ESTRUTURA DOS PAINEIS 3, 5, 7 ou mais camadas, dependendo
dos requisitos estáticos
LAMELAS Espessura de 10 a 40 mm,
tecnicamente seca, ordenada por
qualidade e articulada
RESISTÊNCIA CARACTERÍSTICA À  C24 ou 24 Mpa (>90%) e C16 ou 16
COMPRESSÃO Mpa (<10%)
ADESIVO Adesivo poliuretano, sem formaldeído,
aprovado para carga e componentes
não portadores de carga em
ambientes internos e externos
PRESSÃO DE COLAGEM Pelo menos 0,6 N/mm²
UMIDADE DA MADEIRA 12% (+/- 2%) na entrega
PESO 5,0 kN/m³ para análise estrutural e
471 kg/m³ para determinação do peso
do transporte
TAXA DE DEFORMAÇÃO No plano do painel ~ 0,01% de
39

mudança no teor de umidade da


madeira
Perpendicular ao plano do painel
(direção da espessura do painel)
~ 0,20% de mudança no teor de
umidade da madeira
CONDUTIVIDADE TÉRMICA λ = 0,13 W / (m * K)
CAPACIDADE TÉRMICA cp = 1600 J/(kg*K)
RESISTÊNCIA À DIFUSÃO μ = 25 a 50
TENSÃO DO AR Painéis com 3, 5 ou mais camadas
podem ser usados como camadas
herméticas. As conexões com outros
componentes devem ser seladas
adequadamente.
Tabela 3 – Especificações técnicas da CLT
Fonte: KLH (2017)

Tabela 4 - Especificações de painéis de laje


Fonte: CROSSLAM (2017)
40

Tabela 5 - Especificações painéis de parede


Fonte: CROSSLAM (2017)

Sendo as lamelas externas no sentido longitudinal para lajes e no sentido


transversal para paredes, ambas emendadas com finger-joint, pequenos dentes,
com encaixe macho-fêmea, que unem duas peças de madeira, como mostra a figura
14:

Figura 14 - Detalhe da emenda tipo finger-joint


Fonte: CARPINTERIA (2017)

 
4.2.3 Durabilidade

Com concepção e manutenção adequados, estruturas de madeira podem


possuir vida útil muito longa, equivalente a outros materiais de construção. A chave
é o planejamento cuidadoso e a compreensão dos impactos ambientais e outros
fatores externos que possam afetar um edifício durante a sua vida. 
41

4.2.4 Desempenho térmico e acústico

O desempenho térmico do CLT é determinado pelo seu valor de coeficiente


de condutividade térmica, que é função indireta da espessura do painel. São ótimos
isolantes. A alta precisão dos cortes traz o benefício de juntas encaixando-se com
perfeição, o que evita a criação de pontes térmicas na estrutura. Uma vez que os
painéis são sólidos, a infiltração de ar para dentro do edifício tende a zero. Como
resultado, a temperatura interior de uma estrutura de CLT pode ser mantida com
apenas um terço do gasto de energia necessária para o aquecimento ou
arrefecimento da edificação, em comparação com alvenaria tradicional.
Os resultados dos testes mostram que a massa da parede contribui para o
desempenho acústico, como observa-se na figura abaixo. Sistemas de construção
CLT proporcionam um desempenho superior, tanto para ruídos, quanto para
impactos. Também oferecem benefícios acústicos adicionais com a utilização de
vedantes e outros tipos de membranas para melhorar a tensão do ar e o isolamento
acústico nas interfaces entre as placas de piso e parede.

Figura 15 - Corte transversal representativo de uma parede exterior em madeira


Fonte: KLH (2017)

4.2.5 Resistência sísmica e ao fogo

Os princípios orientadores que regem o bom comportamento sísmico deste


sistema construtivo assentam nos seguintes valores: simplicidade estrutural,
redundância estrutural, ação de diafragma ao nível dos pisos e das paredes, massa
reduzida (menor força de inércia), rigidez elevada e capacidade de dissipação de
energia nas ligações metálicas. As paredes de madeira constituem-se assim como
42

elementos sísmicos primários de contraventamento e resistência às forças laterais,


ligados por diafragmas rígidos ao nível dos pisos (JORGE, 2006).
A área da reabilitação sísmica de edifícios antevê-se como um espaço de
aplicabilidade muito interessante tirando partido da grande capacidade de
contraventamento conferido pelos painéis, em simultâneo com uma massa reduzida
e uma grande aptidão para a pré-fabricação. Ensaios sísmicos realizados em
edifícios à escala real comprovam o excecional desempenho deste sistema
construtivo sob uma ação sísmica intensa e repetida (JORGE, 2006).
Em função de sua estabilidade dimensional e rigidez, painéis CLT criam um
sistema de resistência a carga lateral eficaz. Os pesquisadores têm realizado testes
sísmicos extensivos em estruturas de CLT e os painéis têm se saído
excepcionalmente bem, sem deformação plástica, particularmente em aplicações de
vários andares. No Japão, por exemplo, um edifício de sete andares construído em
CLT foi testado em julho de 2006 no maior simulador de abalo sísmico do mundo.
Ele sobreviveu a 14 eventos sísmicos consecutivos, com quase nenhum dano.
CLT também oferece bom comportamento dúctil e dissipação de energia.
Com relação ao fogo, uma estrutura em CLT pode ser projetada para resistir a
chama intensa por 120 minutos sem o comprometimento estrutural do edifício. Uma
estrutura de CLT é mais resistente ao fogo do que o aço desprotegido em caso de
incêndio, pois, por se tratar de um elemento com muita massa, cria-se uma camada
de carbono que trabalha como uma barreira ao oxigênio, impedindo assim a
continuidade da combustão e atrasando o colapso.
A madeira, apesar de ser um material combustível, tem um processo de
queima conhecido e previsível. A uma velocidade de aproximadamente 0,7mm/min,
e com a porção não queimada mantendo as características de resistência da
madeira sã. Com isso, é possível dimensionar uma estrutura de CLT considerando o
tempo de fogo atuante e a seção resistente remanescente após esse tempo de
queima.

 
4.2.6 Vantagens e desvantagens do sistema construtivo com CLT
43

Começando por sua matéria prima, o CLT se apresenta como material de


construção ecologicamente sustentável. As madeiras de reflorestamento utilizadas
em sua fabricação, além serem matéria-prima renovável, por absorverem o CO2 da
atmosfera e devolverem oxigênio, contribuem para o sequestro de carbono durante
seu crescimento. De acordo com a fornecedora de painéis de CLT, Stora Enso, em
média, por cada tonelada de carbono sequestrada em produtos de madeira, usados
em substituição de outros produtos de construção, atinge-se uma redução dos gases
de efeito de estufa de 2 toneladas de carbono. A cada metro cúbico de madeira
ocorre o sequestro de 1 tonelada de CO2 da atmosfera, e para cada metro cúbico de
concreto produzido, é lançado na atmosfera 1 tonelada de CO2 (STORA ENSO,
2017).
A leveza aliada a uma boa capacidade resistente permite a aplicação do CLT
na construção em altura, com redução das cargas a transmitir às fundações,
reduzindo os custos com as próprias fundações, além de proporcionar economia em
equipamentos de içamento e transporte (KLH, 2017).
A pré-fabricação proporciona uma produção com rígido controle de qualidade
e alta precisão dimensional, evitando imprevistos durante a execução da obra e o
desperdício de materiais. Por ser um sistema de construção industrializado, há uma
redução significativa do tempo construtivo e os edifícios ficam prontos para a
ocupação em pouco tempo, devido aos painéis chegarem prontos na obra, onde
ocorre apenas o processo de montagem, reduzindo assim também, os custos com
mão-de-obra, sendo um sistema construtivo de fácil instalação e construção seca
(KLH, 2017).
Os painéis de CLT além de serem aplicados com função de estabilidade
permitem simultaneamente obter boas performances térmicas (reduzindo a
necessidade de isolamento adicional a aplicar e permitindo ainda reduzir
significativamente as pontes térmicas) e um acabamento interior sem necessidade
de aplicação de outra camada de revestimento. Além de possuir design flexível e
liberdade em implementação arquitetônica, o CLT é compatível com materiais como
o aço, vidro, dentre outros, podendo trabalhar em conjunto com diversos materiais
(KLH, 2017).
Um estudo recente apresentado pela Universidade do Minho revela que a
madeira laminada colada cruzada tem sido considerada um dos melhores materiais
à base de madeira para tornar realidade a ambição de construir em altura com
44

madeira, podendo o CLT ser empregado em qualquer tipo de estrutura (Adaptado de


KLH, 2017).
A desvantagem do CLT é o seu custo elevado, por se utilizar componentes
altamente eficazes e de alto custo em sua fabricação e montagem, como os
adesivos, conexões e equipamentos, o custo de uma obra em CLT é mais elevado
do que uma obra em concreto e alvenaria. Segundo o fornecedor de painéis KLH,
em geral, o edifício em CLT custa 30% a mais do que o de estrutura de concreto
armado. No entanto, a avaliação dos custos deve abranger outras questões, como
redução do prazo de obra, e a execução do projeto livre de “surpresas” e de custos
adicionais, com ganho financeiro significativo nesses aspectos (KLH, 2017).
45

5. ESTUDO PARCIAL DE CASO

A empresa Crosslam, localizada no município de Suzano - SP, foi visitada


para acompanhamento dos processos de fabricação dos painéis de CLT sob a
supervisão da administradora da empresa, Lucimara Araújo.
Essa sessão descreve através de fotos e informações coletadas na visita
técnica, as etapas de fabricação, bem como os materiais, conexões e equipamentos
utilizados nos processos de produção.

6.1. Etapas de fabricação do CLT

O processo de fabricação dos painéis inicia-se com a secagem e o tratamento


biológico da madeira, contra organismos xilófagos. Na empresa Crosslam, a madeira
já chega tratada em autoclave com CCB (sais de Cromo – Cobre – Boro) –
usualmente da espécie Pinus taeda, sendo a espécie Eucalyptus grandis, utilizada
em casos específicos – após o recebimento da madeira, dá-se início aos processos
de fabricação do CLT, onde são avaliados e corrigidos os defeitos da madeira,
seguindo pelos demais processos até a montagem dos painéis conforme projeto.
São descritos nos tópicos a seguir cada uma das etapas de produção em fábrica
(CROSSLAM, 2017).

6.1.1. Etapa 1: Correção dos defeitos da madeira

As madeiras são classificadas eletronicamente com relação à presença de


trincas e nós, garantindo assim, uma melhor qualidade das madeiras empregadas
na montagem dos painéis. Após uma minuciosa avaliação visual de qualidade,
defeitos, tais como sobras de resina, grandes nós, nós soltos ou pedaços de casca
são removidos, conforme a figura 16 (CROSSLAM, 2017).
46

Figura 16 - Correção dos defeitos da madeira


Fonte: CROSSLAM (2017)

6.1.2. Etapa 2: Emendas

Para que as pranchas atinjam as dimensões necessárias, são utilizados


encaixes macho-fêmea tipo finger-joint, para posterior montagem do painel com
utilização de adesivo à base de poliuretano, conforme mostra a figura 17
(CROSSLAM, 2017)

Figura 17 - Emendas do tipo finger-joint


Fonte: CROSSLAM (2017)

6.1.3. Etapa 3: Montagem dos painéis

Os painéis são montados colocando as lâminas lado-a-lado conforme a figura


abaixo, até atingir o comprimento e largura desejados para formar camadas de
47

madeira maciça. Cada camada sucessiva é colocada perpendicular à camada


precedente (CROSSLAM, 2017).

Figura 18 - Montagem dos painéis


Fonte: CROSSLAM (2017)

6.1.4. Etapa 4: Colagem e prensa

Cada camada é pulverizada com adesivo e todo o "sanduíche" de camadas é


então prensado verticalmente e horizontalmente em uma grande prensa à vácuo,
como mostra a figura 19. Os adesivos utilizados são à base de poliuretano,
monocomponente, livre de formaldeídos, com teor de sólidos de 100%, certificado
para uso estrutural e à prova d’água. A cola é aplicada em toda a superfície com
uma quantidade ideal de adesivo. Um nível de alta qualidade de adesão é
conseguido como resultado da alta pressão de 6 N / mm² para formar grandes
dimensões de elementos de madeira maciça (KLH, 2017).
O tempo máximo para a disposição das camadas não pode exceder 25
minutos, pois esse é o tempo para que o poliuretano inicie seu período de cura.
Além de colagem, também podem ser utilizados pregos ou cavilhas de madeira
(CROSSLAM, 2017).
O fator crítico do processo de fabricação é a correta prensagem, que
necessita ser homogênea. Existem prensas a quente que visam a acelerar o
processo de secagem do adesivo e diminuir o tempo de produção. Na Crosslam o
tempo de prensagem é de cerca de duas horas. Após esse tempo, o painel já está
pronto para corte (CROSSLAM, 2017).
48

Figura 19 - Prensa à vácuo


Fonte: CROSSLAM (2017)

6.1.5. Etapa 5: corte e fresamento

Os painéis prensados são cortados na medida de acordo com as


especificações iniciais. Após a prensagem, são realizados acabamentos com plainas
e lixas, para posterior usinagem, quando são realizados cortes nos tamanhos
exatos, feitos por serra controlada numericamente por computador (CNC),
garantindo qualidade e precisão do produto final (CROSSLAM, 2017)
Na empresa Crosslam, o trabalho é finalizado pelo Pórtico CNC, equipamento
que é utilizado nessa fase de modelagem, conforme observado na figura a seguir.
Essa máquina, com 03 cabeçotes e 05 eixos, é capaz de moer e recortar
praticamente qualquer especificação ou solicitação de um designer (CROSSLAM,
2017).

Figura 20 - Pórtico CNC


Fonte: CROSSLAM (2017)
49

Após a usinagem é realizado o controle de qualidade, testando-se a


resistência à flexão e ao cisalhamento e delaminação dos painéis. Não há
padronização no tamanho dos painéis, que variam de acordo com o tamanho das
prensas utilizadas pelos fabricantes. Porém, os painéis mais frequentemente
encontrados possuem larguras de 0,60 m, 1,20 m, 2,40 m e 3,00 m. A espessura
dos painéis pode chegar a 50 centímetros (CROSSLAM, 2017)

 
6.1.6. Etapa 6: Acabamento

Pode ser do tipo industrial para usos onde não se requer o painel como
acabamento final ou será revestido posteriormente, ou acabamento fino onde se
deseja utilizar o material como acabamento final, sem revestimento. As etapas de
fabricação do CLT podem ser resumidas conforme a figura abaixo (CROSSLAM,
2017)

Figura 21 - Etapas da fabricação do CLT


Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)
50

6.2. Sistema construtivo com CLT: Montagem na obra

O processo construtivo utilizando painéis em CLT é caracterizado por maior


precisão, maior velocidade de execução, maior segurança, equipe técnica enxuta,
menor incômodo à vizinhança e menor desperdício. Nas construções com painéis
pré-fabricados de CLT, todos os componentes, dispostos na horizontal (lajes) ou na
vertical (vedações), são portantes e responsáveis pela distribuição uniforme das
cargas (SILVA; CHIRINÉA; BARROS; 2016).
Aponta-se como vantagem desse tipo de construção a distribuição econômica
das cargas. Como limitação, é apontada a grande compartimentação necessária,
porém, essa é apropriada para alguns tipos de edifício, como habitacional ou hotel.
Nesses casos, são adotadas barreiras acústicas entre apartamentos (SILVA;
CHIRINÉA; BARROS; 2016).
É possível executar estruturas independentes do edifício para escadas,
circulações horizontais e varandas, que podem ser em concreto armado ou estrutura
metálica, por exemplo; ou mesmo com o próprio sistema CLT (SILVA; CHIRINÉA;
BARROS; 2016).
Nas construções com módulos tridimensionais formados por painéis de CLT,
estes também são portantes e ocorre a distribuição linear das cargas. Como
vantagem desse sistema construtivo, toda a montagem dos painéis, inclusive seu
acabamento, é realizada no ambiente controlado de fábrica, restando para fase de
execução no canteiro o posicionamento dos módulos, as ligações com a fundação e
redes principais de instalações prediais. Deixa-se uma câmara de ar entre células, o
que contribui para o isolamento acústico entre ambientes (SILVA; CHIRINÉA;
BARROS; 2016).
Como desvantagem, têm-se: elevado investimento para implantação de uma
fábrica de módulos tridimensionais e dificuldade de otimização dos custos com
transporte, pois necessariamente haverá transporte de "ar" dentro dos módulos,
sendo o transporte calculado em volume. Nos tópicos que se seguem, veremos de
forma sucinta o processo de montagem dos painéis de CLT em obra (SILVA;
CHIRINÉA; BARROS; 2016).
51

6.2.1. Fundações

De acordo com Velloso e Lopes (2017), a fundação pode ser formada por
uma combinação de elementos como madeira, aço e concreto, tendo como por
exemplo o uso de vigas de aço “H” sustentadas por estacas e espaçadas numa
distância máxima recomendada de 3 metros uma da outra, formando uma espécie
de treliça plana para receber as pranchas de CLT que serão montadas em sentido
transversal ao das vigas de aço. Na maioria dos casos, a fundação é feita em radier,
por se tratar de uma construção de baixo peso próprio.
O radier é um tipo de alicerce raso que funciona como uma laje em contato
direto com a superfície do terreno. Usualmente, são feitos com concreto armado
simples, mas também podem ser de concreto protendido, quando a obra exigir
reforços. É um tipo de fundação de execução muito rápida, pois em geral não exige
grandes escavações ou a montagem de fôrmas muito complexas. Geralmente, é
empregado em construções mais leves, como casas térreas, sobrados ou prédios
com poucos andares, construídos em terrenos de solo firme, mais compactado
(VELLOSO; LOPES, 2017),

6.2.2. Piso

O piso formado por painel em CLT deve ser protegido do contato com o solo,
a fim de isolar a edificação da umidade ascendente, também pode servir como um
shaft horizontal (KLH, 2017).
Apesar de admitir diversos revestimentos para piso, recomenda-se o uso de
“piso-box” nas áreas molhadas, devido à adequada estanqueidade proporcionada
pelo produto. A figura abaixo mostra as principais ligações e vedações nos painéis
(KLH, 2017).
52

Figura 22 - Ligações e vedações nos painéis


Fonte: KLH (2017)

6.2.3. Cobertura

É possível aplicar material impermeabilizante diretamente sobre o painel em


CLT, para construção de telhados com pequena inclinação (membranas tipo TPO,
EPDM ou PVC).
Entre o painel em CLT e a camada de isolamento termoacústico, recomenda-
se o uso de membrana impermeável à água, que permita a passagem do ar e da
umidade na forma de vapor (KLH, 2017).

6.2.4. Vedações externas e internas

Os painéis em CLT admitem diversos tipos de revestimento e podem,


inclusive, vir pintados de fábrica. O corte das aberturas dos vãos de portas e janelas
é realizado em fábrica utilizando máquinas CNC, a partir do painel acabado.
Recomenda-se a padronização em projeto dos tamanhos de painel de vedação
externa e interna, bem como dos painéis utilizados como laje (KLH, 2017).
Geralmente, os painéis são unidos com fixação mecânica em intervalos
regulares para evitar cargas concentradas. Um projeto em CLT deve ter suas
ligações completamente detalhadas, a figura 23 ilustra alguns exemplos de ligações
53

nos painéis e a disposição da fita betuminosa para selagem de estanqueidade da


união entre os painéis (KLH, 2017).

Figura 23 - Fita betuminosa utilizada na vedação dos painéis


Fonte: KLH (2017)

6.2.5. Fachada

Por trás dos revestimentos de fachada pré-fabricados, recomenda-se o uso


de membrana impermeável à água, que permita a passagem do ar e da umidade na
forma de vapor (KLH, 2017).
Podem ser adicionadas camadas de isolamento termoacústico entre o painel
em CLT e o revestimento de fachada. Devem ser empregadas fitas especiais nos
encontros entre painéis para garantir a estanqueidade. A figura abaixo ilustra os
pontos de infiltração onde devem ser aplicadas as fitas betuminosas (KLH, 2017).
54

Figura 24 - Estanqueidade do ar, pontos de infiltração


Fonte: KLH (2017)

A camada de cola exterior dos elementos é responsável pela sua


estanqueidade. Esta camada de estanque ao ar até aos limites exteriores dos
painéis, evita a indesejada circulação de ar através das frestas da construção. A
colocação das fitas betuminosas nas juntas entre painéis visa garantir um melhor
comportamento térmico, o corte acústico e a estanquidade ao ar. A figura a seguir a
ilustra a forma correta de aplicação da fita betuminosa de forma a se obter uma
melhor estanqueidade e a figura 26 mostra a pormenorização da aplicação
(Adaptado de KLH, 2017).

Figura 25 - Estanqueidade ao ar
Fonte: KLH (2017)
55

Figura 26 - Pormenorização da aplicação da fita para selagem


Fonte: KLH (2017)

6.2.6. Instalações elétricas e hidráulicas

As instalações prediais podem ser embutidas em canaletas no painel em CLT


cortadas em fábrica, conforme a figura 27. Porém, a resistência da parede pode ser
significativamente reduzida (até 30%) devido à grande quantidade de canaletas.
Portanto, as canaletas devem ser consideradas no cálculo estrutural. Deve-se evitar
a passagem de instalações nos painéis que dividem apartamentos, devido à redução
do isolamento acústico (KLH, 2017).
As canaletas podem ser substituídas por paredes hidráulicas em drywall
(sobrepostas ao painel), ou pelo uso de eletrodutos aparentes para distribuição das
instalações elétricas (KLH, 2017).
Na generalidade dos casos, sempre que as paredes ou pisos são revestidos,
as instalações técnicas são realizadas de forma usual sem necessidade de
especiais requisitos técnicos. Sempre que haja necessidade de abertura de rasgos,
o seu traçado deverá ser cuidado e analisado considerando questões de natureza
estrutural e acondicionamento acústico. Nas paredes estruturais, os rasgos devem
56

ser abertos na direção vertical (direção estrutural principal), deixando uma distância
mínima de segurança de 10 cm ao topo lateral (JORGE, 2013).
Sempre que possível, estes rasgos não deverão ser abertos em faces
opostas da mesma secção transversal da parede, recomendando-se aqui uma
distância mínima de 1 metro também por razões de conformidade do isolamento
acústico. Sempre que seja necessário um acesso na direção perpendicular aos
estratos principais, dever-se-á procurar perfurar salvaguardando os estratos
principais. Nos rasgos em pisos, aplicam-se conceitualmente os mesmos cuidados
que nas paredes (JORGE, 2013).
A rede hidráulica pode ser externa ou embutida na estrutura de CLT da
edificação. Algumas técnicas possíveis são:

a) Embutir tubulações nos próprios móveis da edificação, como balcões de cozinha


e banheiro;
b) Geração de shafts verticais e/ou horizontais de passagem das tubulações com a
utilização de sistemas de paredes ocas como woodframe ou drywall;
c) Criação de canaletas para receber as tubulações de forma embutida nas paredes
de CLT.

Tais canaletas podem ser solicitadas e executadas na fabricação do produto


ou executadas em obra com o uso de router. Para acabamento final, deve-se utilizar
revestimentos como porcelanatos e outros revestimentos que possam esconder as
instalações hidráulicas (JORGE, 2013).
57

Figura 27 - Cortes nos painéis para instalações elétricas e hidráulicas


Fonte: KLH (2017)

6.3. Transporte dos painéis de CLT

No transporte até o canteiro e durante a construção, os painéis em CLT


devem ser protegidos contra a umidade. Na Europa, chega-se a construir tendas
temporárias, que sobem com o avanço da execução dos pavimentos. O cuidado na
proteção contra a umidade evitará problemas relacionados à variação dimensional
do painel e em suas juntas, bem como descoloração e sujidades nos mesmos
(SILVA; CHIRINÉA; BARROS; 2016).
A fase de montagem em canteiro segue um plano com a numeração dos
componentes e sua sequência de montagem. Nessa fase, os painéis ou módulos
são ligados por meio de sistemas de fixação mecânica, tais como conectores
metálicos e parafusos. Na fase de estudo de viabilidade do projeto devem ser
planejados o transporte dos painéis pré-fabricados em CLT, como serão
58

armazenados no canteiro e como ocorrerá seu manuseio e movimentação (SILVA;


CHIRINÉA; BARROS; 2016).
A depender das dimensões dos painéis, o transporte pode apresentar custo
elevado e necessidade de serviços especializados. Limitações de área em canteiro
ou regulamentações locais também podem restringir a adoção da tecnologia
construtiva do CLT em um empreendimento (SILVA; CHIRINÉA; BARROS; 2016).
As dimensões dos painéis são limitadas pelo transporte, usualmente as
dimensões máximas são de 16,5m de comprimento e 2,95m de largura. As figuras
abaixo ilustram os painéis dispostos no caminhão nas posições horizontal e vertical
respectivamente (KLH, 2014).
Os painéis são numerados e dispostos no caminhão de forma a facilitar o
descarregamento, sendo colocados por cima os painéis que serão utilizados
primeiro na obra (CROSSLAM, 2017).

Figura 28 - Painéis dispostos na horizontal


Fonte: STORA ENSO (2017)
59

Figura 29 - Painéis dispostos na vertical


Fonte: STORA ENSO (2017)

6.4. Içamento e manipulação dos elementos de CLT

A indústria de construção CLT emergente oferece várias técnicas para


levantar e manusear painéis CLT para que possam ser usados na construção de
edifícios e outras estruturas. A complexidade do edifício ou a sua localização
geralmente dita as técnicas e os sistemas a serem utilizados. Claro, construir um
edifício de 5 andares em uma área do centro normalmente requer mais preparação e
precaução do que uma residência unifamiliar construída nos subúrbios ou área rural
circundante. Mas se essa casa de campo estiver localizada em uma área
montanhosa, as técnicas muitas das vezes podem ser surpreender (KARACABEYLI,
E.; DOUGLAS, B., 2013).
Existem vários tipos de equipamentos de elevação que podem ser usados
em canteiros de obras, a figura 30 mostra um dos tipos de máquinas utilizadas no
processo. Cada um tem suas próprias características para levantar e manusear
cargas pesadas, como painéis CLT. Portanto, é essencial escolher o sistema de
levantamento e manuseio adequado para cada tipo de componente
(KARACABEYLI, E.; DOUGLAS, B., 2013).
60

Figura 30 - Içamento de um painel de CLT


Fonte: CROSSLAM (2017)

6.5. Conexões

Esta seção está focada em fornecer informações e esquemas detalhados


sobre tipos tradicionais e inovadores de sistemas de conexão tipicamente usados no
estabelecimento de conexões entre painéis CLT e entre paredes e fundações e
paredes e pisos. A figura 31 mostra os vários locais de conexões em um edifício
CLT de dois andares. Embora a maioria dos tipos comumente usados de fixação e
aqueles com algum potencial de uso em montagens CLT sejam descritos a seguir, a
lista não é abrangente. Outros tipos de elementos de fixação, não mencionados
nesta seção, também podem ser usados, se achados adequados (KARACABEYLI,
E.; DOUGLAS, B., 2013).
No Brasil, devido ao sistema construtivo com CLT ser pouco utilizado, a maior
parte dos fornecedores e fabricantes de produtos específicos como as conexões,
colas e adesivos vêm de empresas estrangeiras, elevando o custo do produto final.
61

Figura 31 - Típico edifício CLT de dois andares que mostra várias conexões entre os painéis do chão e da
parede
Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)

6.5.1. Conexões painel-painel

Esta é a forma fundamental de conexão que normalmente é usada para


formar montagens de parede e piso. É usado para conectar painéis ao longo de
suas arestas longitudinais. Devido às limitações de produção e transporte
relacionadas ao tamanho do painel que podem ser entregues aos locais de
construção, as conexões de painel para painel são estabelecidas principalmente no
local. Os detalhes da conexão devem ser fáceis de montar e devem facilitar a
fabricação rápida (KARACABEYLI, E.; DOUGLAS, B., 2013).
A conexão de painel para painel facilita a transferência de forças dentro e fora
do plano através da montagem de parede ou piso. Por exemplo, quando as
conexões de painel para painel são usadas na montagem da parede, a conexão
deve ser projetada para resistir a curvatura no plano e flexão fora do plano. Quando
a conexão é usada em conjuntos de piso que atuam como diafragmas, no entanto, a
conexão deve ser capaz de transferir as forças do diafragma no plano, em princípio,
e manter a integridade dos diafragmas e do sistema de resistência à carga lateral
geral. A figura 32 mostra um dos tipos de conexões painel-painel, o spline interno
(KARACABEYLI, E.; DOUGLAS, B., 2013).
62

Figura 32 - Conexão painel-painel tipo spline interno


Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)

6.5.2. Conexões parede-parede

Esta seção cobre detalhes de conexão para conectar paredes a paredes


posicionadas em ângulos retos (junção de parede na direção transversal). Tais
detalhes de conexão incluem partições interiores para paredes exteriores ou
paredes de canto exteriores simples. Paredes conectadas no mesmo plano dos
painéis foram cobertas anteriormente em conexões de painel para painel, conforme
a figura abaixo (KARACABEYLI, E.; DOUGLAS, B., 2013).
A maioria dos detalhes de conexão descritos a seguir são comumente usados
na montagem de paredes CLT. No entanto, algumas delas envolvem o uso de tipos
inovadores de sistemas de conexão ou detalhes com algum potencial para uso em
tais aplicações. Os mesmos sistemas de conexão adotados para conectar paredes
exteriores na direção transversal podem ser usados para estabelecer conexão entre
paredes internas (KARACABEYLI, E.; DOUGLAS, B., 2013).

Figura 33 - Conexão parede-parede


Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)
63

6.5.3. Conexões parede-pavimento

Várias possibilidades existem quando se trata de conectar paredes aos pisos


acima ou conectar paredes nas histórias superiores aos pisos, dependendo da forma
de sistemas estruturais, disponibilidade de fixadores e o grau de pré-fabricação.
Quando a construção da plataforma é usada, os efeitos cumulativos das
deformações dos rolamentos devem ser abordados no projeto de conexão. A figura
34 mostra um exemplo de conexão parede-pavimento (KARACABEYLI, E.;
DOUGLAS, B., 2013).

Figura 34 - Conexão parede-pavimento


Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)

6.5.4. Conexões telhado-parede

Para conexões inclinadas ou planas de telhado a parede, é utilizada uma


conexão semelhante à usada para anexar pisos às paredes. Parafusos e suportes
metálicos são os sistemas de fixação mais usados nesta aplicação, conforme a
figura abaixo
64

Figura 35 - Suportes metálicos de fixações telhado-parede


Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)

6.5.5. Conexões parede-fundação

Ao conectar painéis de parede CLT a fundações de concreto ou para vigas de


aço, vários sistemas de fixação estão disponíveis para estabelecer essa conexão.
Placas de metal exteriores e suportes são comumente usados em tais aplicações,
pois há uma variedade de hardware metálico disponível no mercado
(KARACABEYLI, E.; DOUGLAS, B., 2013).
As placas de aço expostas semelhantes às mostradas na figura 36 são
provavelmente as mais utilizadas na Europa devido à sua simplicidade em termos de
instalação. Quando as conexões são estabelecidas a partir do exterior, é utilizada
uma placa metálica típica (KARACABEYLI, E.; DOUGLAS, B., 2013).
No entanto, quando o acesso é fornecido a partir do interior do edifício e onde
existe uma laje de concreto, devem ser usados suportes metálicos, como os
mostrados na figura 37. Parafusos de retardamento podem ser usados para
conectar a placa de metal à base de concreto / laje, enquanto os parafusos de
parafusos ou os parafusos auto-perfurantes são usados para conectar a placa ao
painel CLT. No entanto, deve-se notar que as placas metálicas expostas e os
elementos de fixação precisam ser protegidos contra ambientes exteriores
corrosivos. Galvanizado ou aço inoxidável deve ser usado em tais casos
(KARACABEYLI, E.; DOUGLAS, B., 2013).
O contato direto entre a base de concreto e o painel CLT deve ser evitado em
todos os casos. Para proteger a madeira e melhorar a durabilidade dos painéis CLT,
instala-se uma placa tratada com conservante ou uma placa SCL (ou placa inferior),
65

entre a base de concreto e os painéis CLT. Isso também simplifica a montagem. O


contato também pode ser estabelecido através do uso de suportes de aço perfilados
especiais instalados na interface entre o painel CLT e o concreto. Além disso, os
detalhes da conexão devem ser projetados para evitar a potencial penetração de
umidade entre as placas de metal e a parede CLT à medida que a água pode ficar
presa e causar potencial decadência da madeira (KARACABEYLI, E.; DOUGLAS,
B., 2013).

Figura 36 - Placas de metal exterior


Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)

Figura 37 - Detalhes de conexão com um espaço entre a parede CLT e a base de concreto
Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)
66

Figura 38 - Suportes metálicos instalados no local


Fonte: KARACABEYLI; DOUGLAS (2013)
67

7. RESULTADOS E CONCLUSÕES

Os sistemas construtivos em madeira engenheirada predominam nas


construções em inúmeros países desenvolvidos ao redor do mundo, em especial na
Europa e América do Norte. Visto ser uma tecnologia recém-chegada ao Brasil e
também devido à fatores culturais, o CLT ainda é bastante desconhecido no meio da
construção civil brasileira, que se caracteriza por modelos construtivos de prazos e
qualidade incertos, além de grande geração de resíduos.
O sistema apresenta inúmeras vantagens em relação a outros sistemas
convencionais e mesmo a sistemas recentemente implantados, como os pré-
fabricados em concreto por exemplo. A construção leve em madeira tem a
capacidade de aliar facilidade construtiva, alta produtividade, racionalização dos
recursos, princípios de sustentabilidade e qualidade do produto final. Dessa forma,
sua aplicação na construção representa uma alternativa para solucionar problemas
como o não cumprimento de prazos de entrega e a qualidade deficitária notada em
muitas edificações.
A metodologia construtiva com execução parcialmente industrializada,
apresentada neste trabalho, torna as construções em CLT muito mais rápidas e
eficientes do que os sistemas construtivos convencionais, devido aos rígidos
padrões de qualidade de fábrica a que são submetidos os painéis de madeira
laminada cruzada, proporcionando assim a padronização e qualidade da construção,
além de uma produção seriada e em escala, otimizando os processos, reduzindo o
tempo de execução, e, visto que os componentes chegam do tamanho exato na
obra, diminui-se também a produção de resíduos.
Além disso, o CLT é resistente e leve ao mesmo tempo, transmitindo às
fundações cargas menores, sendo possível utilizar o material para construir em
altura com segurança, além de diminuir o custo das fundações.
Do ponto de vista ambiental, o CLT também é extremamente eficiente, pois,
por serem utilizadas madeiras reflorestadas em sua fabricação, sua matéria prima é
renovável e contribui para o sequestro de carbono, enquanto as construções em
concreto lançam grande quantidade de CO2 na atmosfera durante sua produção.
A implantação do CLT no Brasil está necessariamente atrelada à sua
diferenciação em relação aos sistemas tradicionais adotados para construção de
casas de madeira. Além disso, o fato do método ser pouco utilizado no Brasil em
68

relação a outros países do mundo faz com que maior parte dos fornecedores e
fabricantes de produtos específicos sejam empresas estrangeiras, o que agrega
custo à edificação, elevando o custo do produto final.
Porém, apesar de ser uma tecnologia construtiva mais cara devido à
utilização de componentes específicos ainda importados, o sistema construtivo em
CLT apresenta ótimo desempenho com o passar do tempo, gerando economia
proporcionada pelo seu ótimo isolamento térmico e acústico, o que reduz os custos
com energia elétrica – fator de grande valia no Brasil, que apresenta altas
temperaturas na maior parte do ano.
Portanto, embora os primeiros passos já tenham sido dados, é necessário
que mais pesquisas sejam realizadas, que maior quantidade de material teórico-
prático nacional seja produzido de modo a servir como embasamento para uma
mudança de cultura na construção, tanto no meio técnico como no meio leigo, e
como incentivo para a aplicação de métodos de construção mais eficientes,
sustentáveis e produtivos, como é o caso do CLT.
69

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