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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DE GOIÁS
CAMPUS GOIÂNIA

DEFORMAÇÕES DEVIDAS A CARREGAMENTOS


VERTICAIS

DISCIPLINA: MECÂNICA DOS SOLOS II

Profª. MSc. Marcela L. Domiciano


Curso: Engenharia Ambiental
MECÂNICA DOS SOLOS II

Conteúdos ✓ Deformações devidas a carregamentos verticais


abordados
✓ Ensaios devidos a carregamentos de superfície

✓ Cálculo dos recalques

SOUZA PINTO (2006)

01
MECÂNICA DOS SOLOS II

COMPACTAÇÃO X ADENSAMENTO

Diferença?
Compactação: redução de volume devido ao ar contido nos vazios do solo
Adensamento: redução do volume de água contido nos vazios do solo
DEFORMAÇÕES DEVIDAS A CARREGAMENTOS VERTICAIS

✓ Um dos aspectos de maior interesse para a engenharia geotécnica é a


determinação das deformações devidas a carregamentos verticais
na superfície do terreno ou em cotas próximas à superfície, ou seja, os
recalques das edificações com fundações superficiais (sapatas ou
radiers) ou de aterros construídos sobre os terrenos. Estas deformações
podem ser de dois tipos:

1) As que ocorrem rapidamente após a construção


2) As que se desenvolvem lentamente após a aplicação das cargas

✓ Deformações rápidas são observadas em solos arenosos ou solos


argilosos não saturados, enquanto que nos solos argilosos
saturados os recalques são muito lentos, pois é necessária a saída
da água dos vazios do solo.

02
ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO AXIAL

✓ O ensaio de compressão de um solo consiste na moldagem um corpo


de prova cilíndrico e no seu carregamento pela ação de uma carga
axial. Registrando-se as tensões no plano horizontal (a carga dividida
pela área da seção transversal) pela deformação axial (encurtamento do
corpo de prova dividido pela altura inicial do corpo de prova), e obtém-
se a curva mostrada na Figura.

03
ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO AXIAL

✓ Após atingido um certo nível de tensão, se for feito um


descarregamento, as deformações sofridas não se recuperarão. O solo
não é um material elástico. Por outro lado, observa-se que a relação
entre a tensão e a deformação não é constante. Ainda assim, por falta
de outra alternativa, admite-se frequentemente um comportamento
elástico-linear para o solo, definindo-se um módulo de elasticidade para
um certo valor da tensão (geralmente a metade da tensão que provoca
a ruptura) – E – e um coeficiente de Poisson, v (mede a deformação
transversal em relação à direção longitudinal de aplicação da carga).

04
ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO AXIAL

✓ Para o ensaio de compressão, o corpo de prova pode ser previamente


submetido a um confinamento, quando, então, é chamado de ensaio de
compressão triaxial, que será estudado com mais detalhe futuramente.

✓ Ocorre que o módulo de elasticidade do solo depende da pressão a


que o solo está confinado. Tal fato mostra como é difícil estabelecer
um módulo de elasticidade para um solo, pois ele se encontra, na
natureza, submetido a confinamentos crescentes com a
profundidade.

✓ Para problemas especiais, pode-se expressar o módulo de elasticidade


em função do nível de tensões axial e de confinamento. Para os casos
mais corriqueiros, admite-se um módulo constante como
representativo do comportamento do solo para a faixa de tensões
ocorrentes no caso em estudo.

05
ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO AXIAL

✓ Como ordem de grandeza, pode-se indicar os valores apresentados na


Tabela abaixo como módulos de elasticidade para argilas
sedimentares saturadas, em solicitações rápidas, que não dão margem
à drenagem.
CONSISTÊNCIA MÓDULO DE ELASTICIDADE (MPa)
Muito mole < 2,5
Mole 2,5 a 5
Consistência média 5 a 10
Rija 10 a 20
Muito rija 20 a 40
Dura > 40

06
ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO AXIAL

✓ Para as areias, os módulos que interessam correspondem à situação


drenada, pois a permeabilidade é alta em relação ao tempo de
aplicação das cargas. Os ensaios de compressão devem ser feitos com
confinamento dos corpos de prova. Os módulos são função da
composição granulométrica, do formato e da resistência dos grãos. Uma
ordem de grandeza de seus valores, para tensões de confinamento
de 100 kPa, pode ser vista na tabela.

MÓDULO DE ELASTICIDADE (MPa)


COMPACIDADE
FOFA COMPACTA
Areias de grãos frágeis, angulares 15 35
Areias de grãos duros, arredondados 55 100
Areia de São Paulo, bem graduada,
10 27
pouco argilosa

07
ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO AXIAL

✓ Para pressões confinantes diferentes de 100 kPa, os módulos podem


ser obtidos a partir da seguinte expressão empírica, conhecida como
equação de Janbu, pesquisador que a determinou empiricamente:
𝑛
𝜎
𝐸𝜎 = 𝐸𝑎 . 𝑃𝑎 .
𝑃𝑎

Onde:
𝐸𝑎 é o módulo correspondente à pressão atmosférica (𝑃𝑎 ), adotada como igual a
100 kPa
𝐸𝜎 é o módulo correspondente à tensão considerada (𝜎)
n é um expoente geralmente adotado como 0,5.

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ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO AXIAL

09
ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA

✓ O ensaio de compressão edométrica consiste na compressão do solo


contido dentro de um molde que impede qualquer deformação lateral.
Poderia ser chamado de ensaio de compressão confinada, mas
generalizou-se, na Mecânica dos Solos, a expressão compressão
edométrica. O ensaio simula o comportamento do solo quando ele é
comprimido pela ação do peso de novas camadas que sobre ele se
depositam, quando se constrói um aterro em grandes áreas.

✓ Pela facilidade de sua aplicação, esse ensaio é considerado


representativo das situações em que se pode admitir que o
carregamento feito na superfície, ainda que em área restrita (sapatas),
provoque no solo uma deformação só de compressão, sem haver
deformações laterais.

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ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA

✓ Para o ensaio, uma amostra é colocada num anel rígido ajustado


numa célula de compressão edométrica, conforme Figura abaixo.
Acima e abaixo da amostra, existem duas pedras porosas, que
permitem a saída da água.

✓ Os anéis que recebem o corpo de prova têm diâmetro cerca de três


vezes a altura, com o objetivo de reduzir o efeito do atrito lateral durante
os carregamentos.

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ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA

✓ Os diâmetros variam de 5 a 12 cm. Os maiores são melhores, porque


permitem um amolgamento menos acentuado do solo durante a
moldagem.

✓ A célula de compressão edométrica é colocada numa prensa, para a


aplicação das cargas axiais. O carregamento é feito por etapas.
Para cada carga aplicada, registra-se a deformação a diversos
intervalos de tempo, até que as deformações tenham praticamente
cessado, ou seguem-se critérios específicos para as argilas saturadas,
como será visto adiante. Pode ser um intervalo de minutos para areias,
dezenas de minutos para siltes, e dezenas de horas para argilas.

✓ Cessados os recalques, as cargas são elevadas, costumeiramente,


para o dobro do seu valor anterior, principalmente quando se ensaiam
argilas saturadas.

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ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA

✓ Em relação à altura inicial dos corpos de prova, pode-se representar a


variação de altura ou os recalques em função das tensões verticais
atuantes.

✓ Os índices de vazios finais de cada estágio de carregamento são


calculados a partir do índice de vazios inicial do corpo de prova e da
redução de altura.

✓ A maneira convencional de apresentar os resultados dos ensaios é a


representação do índice de vazios em função da tensão aplicada.
Nas Figuras a seguir, estão os resultados típicos de ensaios de
compressão edométrica de solos arenosos e de solos argilosos.

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ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA

Resultado de compressão Resultado de compressão


edométrica de areia da cidade edométrica de argila orgânica
de São Paulo mole da Baixada Santista 14
ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA

✓ Como se observa nos resultados apresentados, a variação da


deformação com as tensões não é linear. Ainda assim, para
determinados níveis de tensão, os seguintes parâmetros são
empregados:

COEFICIENTE DE COMPRESSIBILIDADE: 𝑎𝑣 = −𝑑𝑒/𝑑𝜎𝑣

COEFICIENTE DE VARIAÇÃO VOLUMÉTRICA: 𝑚𝑣 = 𝑑𝜀𝑣 /𝑑𝜎𝑣

MÓDULO DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA: 𝐷 = 𝑑𝜎𝑣 /𝑑𝜀𝑣

✓ A deformação volumétrica é d𝜀𝑣 , igual a – de / (1 + 𝑒0 ).

𝑎𝑣 = 1 + 𝑒0 . 𝑚𝑣
𝐷 = 1 / 𝑚𝑣
15
ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA DEFORMABILIDADE DOS SOLOS

ENSAIOS DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA

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CÁLCULO DOS RECALQUES

✓ Os recalques provenientes de um carregamento feito na superfície do


terreno podem ser estimados pela teoria da elasticidade ou pela
analogia edométrica.

CÁLCULO DE RECALQUES PELA TEORIA DA ELASTICIDADE:

✓ A Teoria da Elasticidade, empregada para o cálculo das tensões no


interior do solo devido a carregamentos na superfície, pode ser utilizada
para a determinação dos recalques. A Teoria da Elasticidade indica
que os recalques na superfície de uma área carregada podem ser
expressos pela equação:
Onde:
𝜎0 . 𝑏 𝜎0 é a pressão uniformemente distribuída na superfície
𝜌 = 𝐼. . (1 − 𝑣 2 ) E e v são os parâmetros do solo já definidos
𝐸 b é a largura (ou diâmetro) da área carregada
I é um coeficiente que leva em conta a forma da superfície carregada e do sistema de
aplicação das pressões, que podem ser aplicadas no terreno por meio de elementos
rígidos (sapatas de concreto), ou flexíveis (aterros)
17
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA TEORIA DA ELASTICIDADE:

Recalques de sapatas Recalques de carregamentos


flexíveis

18
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA TEORIA DA ELASTICIDADE:

✓ Em sapatas, o recalque é igual em toda a área carregada. Para


carregamentos flexíveis, os recalques no centro da área carregada
são maiores do que nas bordas.

Flexível
Tipo de placa Rígida
Centro Borda ou Canto
Circular 0,79 1,00 0,64
Quadrada 0,86 1,11 0,56
Retangular L/B = 2 1,17 1,52 0,75
L/B = 5 1,66 2,10 1,05
L/B = 10 2,00 2,54 1,27

19
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA TEORIA DA ELASTICIDADE:

✓ Há duas dificuldades para a aplicação da teoria da elasticidade.

1) Grande variação dos módulos de cada solo, em função do nível de


tensão aplicado (não linearidade da relação tensão-deformação), e do
nível de confinamento do solo. Mesmo em materiais homogêneos, o
módulo cresce com a profundidade, pois o confinamento cresce com
a profundidade.

2) Os solos são constituídos de camadas de diferentes


compressibilidades. A Figura a seguir mostra que o recalque devido
às deformações da camada mais fraca, o solo arenoso fino e fofo, não
saturado, é muito maior do que o das camadas situadas acima ou
abaixo dela.

20
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA TEORIA DA ELASTICIDADE:

✓ Há duas dificuldades para a aplicação da teoria da elasticidade.

A aplicação da equação de
recalque com um módulo de
elasticidade desse solo
indicaria o recalque
correspondente à deformação
do solo em todo o bulbo de
tensões indicado, o que não
corresponderia à realidade,
porque as camadas acima e
abaixo são muito menos
compressíveis.

21
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA COMPRESSIBILIDADE EDOMÉTRICA:

✓ Situações de terreno sugerem que os recalques da camada mais


compressível sejam considerados como equivalentes aos de corpos de
prova submetidos à compressão edométrica.

✓ A previsão do recalque, neste caso, corresponde à aplicação de uma


simples proporcionalidade: se um certo carregamento Δ𝜎𝑣 provoca um
determinado recalque 𝜌 no corpo de prova, este carregamento provocará
na camada deformável do terreno um recalque tantas vezes maior
quanto maior a espessura da camada.

✓ O recalque específico ou deformação, relação entre recalque e


espessura da camada, é constante. Para um certo carregamento, se
um corpo de prova de 2 cm de altura apresentar um recalque de 0,1 cm,
a camada representada por essa amostra, se tiver 2 m de espessura,
sofrerá um recalque de 10 cm para o mesmo carregamento.

22
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA COMPRESSIBILIDADE EDOMÉTRICA:

✓ A Figura a seguir representa um perfil típico de um subsolo para o qual


se faria um ensaio de compressão edométrica: uma camada de argila
mole, bastante deformável, entre duas camadas de areia permeáveis,
Verifica-se os diagramas de tensões existentes antes do carregamento e
o diagrama dos acréscimos de tensões devidas ao carregamento feito na
superfície.

23
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA COMPRESSIBILIDADE EDOMÉTRICA:

✓ Considera-se um elemento no meio da camada deformável, onde atuava


a tensão efetiva BC e que sofreu um acréscimo de tensão igual a DE.
Para se estudar o efeito desse carregamento na diminuição do índice de
vazios do solo, poder-se-ia submeter uma amostra desse solo a
acréscimos de pressão de igual valor. É mais prático submeter a amostra
a sucessivos carregamentos, para se obter um conhecimento mais
completo do solo.

24
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA COMPRESSIBILIDADE EDOMÉTRICA:

✓ Na prática, o cálculo do recalque costuma ser expresso em função


da variação do índice de vazios. Considere-se, como representado na
Figura a seguir, o estado do solo antes e depois de um carregamento. A
altura se reduziu de H1 para H2, e o índice de vazios diminuiu de e1 para
e2, permanecendo constante a altura equivalente às partículas sólidas,
chamada altura reduzida H0.

✓ As alturas, antes e depois do carregamento, podem ser expressas da


seguinte maneira:

𝐻1 = 𝐻0 . (1 + 𝑒1 )
𝐻2 = 𝐻0 . (1 + 𝑒2 )

25
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA COMPRESSIBILIDADE EDOMÉTRICA:

✓ Expressando H0 em função de H1 e substituindo na expressão de H2,


tem-se:
(1 + 𝑒2 )
𝐻2 = 𝐻1 .
(1 + 𝑒1 )

✓ O recalque é a diferença entre H1 e H2, de onde se tem:

(1 + 𝑒1 − 1 − 𝑒2 )
𝜌 = 𝐻1 .
(1 + 𝑒1 )

✓ O recalque específico, ou deformação, fica expresso por::

𝜌 (𝑒1 − 𝑒2 )
𝜀= =
𝐻1 (1 + 𝑒1 )
26
CÁLCULO DOS RECALQUES

CÁLCULO DE RECALQUES PELA COMPRESSIBILIDADE EDOMÉTRICA:

✓ A fórmula resultante, empregada para o cálculo dos recalques, fica


sendo:
(𝑒1 − 𝑒2 ) 𝐻1
𝜌 = 𝐻1 . 𝜌= (𝑒 − 𝑒2 )
(1 + 𝑒1 ) (1 + 𝑒1 ) 1

✓ Nessa expressão, 𝐻1 e 𝑒1 são características iniciais do solo, e, portanto,


conhecidas. O recalque fica em função só do índice de vazios
correspondente à nova tensão aplicada ao solo e esta é fornecida pelo
ensaio de compressão edométrica.

✓ Tem-se as seguintes equações para cálculos de recalques:

𝐻1 ∆𝜎
𝜌 = ∆𝜎. 𝑎𝑣 . 𝐻1 . 𝜌 = ∆𝜎. 𝑚𝑣 . 𝐻1 𝜌= . 𝐻1
(1 + 𝑒1 ) 𝐷

27
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

✓ Os ensaios de compressão edométrica são especialmente realizados


para o estudo dos recalques das argilas saturadas. O processo de
deformação pode se desenvolver lentamente, em virtude do tempo
necessário para que água saia dos vazios do solo, tempo esse que pode
ser elevado, devido à baixa permeabilidade das argilas. Esse processo
é denominado adensamento dos solos, e o ensaio de compressão
edométrica é chamado de ensaio de adensamento.

28
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

✓ A Figura a seguir mostra que a partir de uma determinada tensão 𝜎𝑎′ , o


índice de vazios varia linearmente com o logaritmo da pressão aplicada,
pelo menos num bom trecho após essa tensão. Esse trecho retilíneo da
curva é denominado reta virgem.

✓ Terzaghi introduziu o índice de compressão, para indicar a inclinação da


reta virgem, descrito pela expressão:

(𝑒2 − 𝑒1 )
𝐶𝑐 =
(𝑙𝑜𝑔𝜎ഥ2 − 𝑙𝑜𝑔𝜎ഥ1 )

29
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

✓ Da maneira como está definido, o índice de compressão é positivo,


embora haja uma redução de índice de vazios quando as pressões
aumentam.

✓ A expressão (𝑒1 − 𝑒2 ) nessa equação de recalques, e obtém-se:

𝐶𝑐 . 𝐻1 𝜎ത2
𝜌= . 𝑙𝑜𝑔
(1 + 𝑒1 ) 𝜎ത1

✓ Essa equação permite o cálculo do recalque, sem que se utilize


diretamente o resultado do ensaio de adensamento, expresso pela curva
do índice de vazios em função da pressão aplicada.

✓ O resultado do ensaio aparece indiretamente através do índice de


compressão. Entretanto, isto só pode ser feito quando o solo se encontra
numa situação correspondente à reta virgem.

30
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

A TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO

✓ No ensaio de adensamento, se a amostra for carregada até uma tensão


e apresentar o comportamento indicado pela curva ABC da Figura, e, a
seguir, tiver a tensão reduzida, seu comportamento será o indicado pela
curva CD. Se ela for carregada novamente, seu comportamento será o
indicado pela curva DE, até atingir uma posição próxima à reta virgem, e,
a seguir, continuará no trecho EF, ao longo da reta virgem.

31
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

A TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO

✓ A mudança acentuada no gradiente da curva atesta o anterior


carregamento feito até a tensão indicada pelo ponto C. Esse fato sugere
que essa amostra anteriormente tenha sido solicitada a uma tensão
correspondente ao ponto B. Tal tensão é definida como a tensão de pré-
adensamento.

32
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

A TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO

✓ Ao comparar-se as tensões efetivas atuantes sobre o solo no local de


onde foi retirada a amostra com a tensão de pré-adensamento da
amostra, pode-se conhecer um pouco a evolução desse solo.

✓ As vezes, a tensão de pré-adensamento é igual à tensão efetiva do


solo, por ocasião da amostragem. Isso indica que o solo nunca esteve
submetido anteriormente a maiores tensões, ou seja, ele é
normalmente adensado.

✓ Algumas vezes, a tensão de pré-adensamento é sensivelmente maior


do que a tensão efetiva do solo por ocasião da amostragem. Isso seria
uma indicação de que, no passado, o solo esteve sujeito a tensões
maiores do que as atuais. Eventualmente, teria havido uma camada de
solo sobreposta à atual que teria sido removida por erosão. Neste caso,
o solo é sobreadensado. À relação entre a tensão de pré-adensamento
e a tensão efetiva atual dá-se o nome de razão de sobreadensamento,
RSA. 33
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

A TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO

✓ Pode ocorrer, esporadicamente, que a tensão de pré-adensamento


determinada no ensaio seja inferior à tensão efetiva que se julgaria
existir sobre a amostra, com base nos dados do perfil do subsolo. Isso
ocorre quando o solo se encontra em processo de adensamento
devido a carregamentos recentes.

✓ A tensão de pré-adensamento não pode ser determinada com


precisão. Entretanto, existem vários métodos empíricos que permitem
estimar o valor mais provável ou a ordem de grandeza dessa
tensão. Os métodos mais empregados no Brasil são o do professor
Casagrande e o do engenheiro Pacheco Silva, antigo pesquisador do
IPT.

34
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

A TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO – MÉTODO PROFº CASAGRANDE

✓ Toma-se o ponto de maior curvatura da curva, e por ele se traçam uma


horizontal, uma tangente à curva e a bissetriz do ângulo formado pelas
duas. A intersecção da bissetriz com o prolongamento da reta virgem é
considerado o ponto de pré-adensamento, e suas coordenadas são a
tensão de pré-adensamento e o índice de vazios correspondente.

35
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

A TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO – MÉTODO PACHECO SILVA

✓ Prolonga-se a reta virgem até a horizontal correspondente ao índice de


vazios inicial da amostra. Do ponto de interseção, abaixa-se uma reta
vertical até a curva de adensamento e desse ponto traça-se uma
horizontal. A intersecção da horizontal com o prolongamento da reta
virgem é considerado o ponto de pré-adensamento.

36
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

CÁLCULO DO RECALQUE EM SOLOS ADENSADOS


✓ Quando o solo é sobreadensado (passado com tensões maiores que
as atuais), o recalque não pode ser calculado pela simples aplicação da
𝐶 .𝐻 ഥ
𝜎
equação 𝜌 = 𝑐 1 . 𝑙𝑜𝑔 ഥ2 , que pressupõe uma mudança de índice de
(1+𝑒1 ) 𝜎1
vazios segundo a reta virgem, o que não ocorre.
✓ De fato, como se verifica na Figura, sendo 𝜎𝑖 a tensão efetiva inicial no
solo, a trajetória desenvolvida em um carregamento se inicia sobre o
trecho anterior à tensão de pré-adensamento.

37
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

CÁLCULO DO RECALQUE EM SOLOS ADENSADOS

✓ Para trabalhar com esses casos, indica-se a inclinação da curva, nesse


trecho, pelo índice de descompressão (𝐶𝑑 ) ou pelo índice de
recompressão (𝐶𝑟 ), definidos por uma expressão semelhante à do índice
de compressão (𝐶𝑐 ), aplicada sobre uma reta média, representativa
desse trecho da curva. O valor do índice de recompressão, que
também é obtido do ensaio de adensamento, costuma ser da ordem de
10 a 20% do valor do índice de compressão, conforme o tipo de solo.

(𝑒2 − 𝑒3 )
𝐶𝑅 =
(𝑙𝑜𝑔𝜎ഥ2 − 𝑙𝑜𝑔𝜎ഥ3 )

38
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

CÁLCULO DO RECALQUE EM SOLOS ADENSADOS

✓ Quando um solo se encontra com tensão efetiva abaixo da pressão de


pré-adensamento (ponto A da Figura), um carregamento pode elevá-la
até um valor abaixo da tensão de pré-adensamento (ponto B), ou acima
dele (ponto C). No primeiro caso, o recalque pode ser calculado pela
𝐶 .𝐻 ഥ
𝜎
Equação 𝜌 = 𝑐 1 . 𝑙𝑜𝑔 ഥ2 , com a substituição do 𝐶𝑐 pelo 𝐶𝑟 .
(1+𝑒1 ) 𝜎1

39
O ADENSAMENTO DE ARGILAS SATURADAS

CÁLCULO DO RECALQUE EM SOLOS ADENSADOS

✓ Quando o carregamento ultrapassa a tensão de pré-adensamento, o


recalque é calculado em duas etapas: da tensão existente até a tensão
de pré-adensamento (do ponto A até o ponto P) e deste até a tensão
final resultante do carregamento (do ponto p até o ponto C).

✓ A expressão geral para o cálculo dos recalques fica:

𝐻1 𝜎ത𝑎 𝜎ത𝑓
𝜌= . 𝐶𝑟 . 𝑙𝑜𝑔 + 𝐶𝑐 . 𝑙𝑜𝑔
(1 + 𝑒1 ) 𝜎ത𝑖 𝜎ത𝑎

40
MECÂNICA DOS SOLOS II

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO...
TEORIA DO ADENSAMENTO

1) Considere o terreno indicado na Figura, sobre o qual será construído um


aterro que transmitirá uma pressão uniforme de 40 kPa.

O terreno foi sobreadensado pelo efeito de uma camada de 1 m da areia


superficial, que foi erodida. Desta forma, sabe-se que a tensão de pré-
adensamento é 18 kPa superior à tensão efetiva existente em qualquer
ponto. Calcule o recalque por adensamento ocorre na argila mole, cujo
índice de compressão é 1,8 e cujo índice de recompressão é 0,3.

41
TEORIA DO ADENSAMENTO

SOLUÇÃO:

Considera-se que todo o solo apresenta uma deformação igual a do ponto


médio B (argila mole). Desta forma, utilizam-se os dados de tensões
correspondentes ao ponto médio e com espesura total da camada.

𝐻1 𝜎ത𝑎 𝜎ത𝑓
𝜌= . 𝐶𝑟 . 𝑙𝑜𝑔 + 𝐶𝑐 . 𝑙𝑜𝑔
(1 + 𝑒1 ) 𝜎ത𝑖 𝜎ത𝑎

42
TEORIA DO ADENSAMENTO

𝐻1 𝜎ത𝑎 𝜎ത𝑓
𝜌= . 𝐶𝑟 . 𝑙𝑜𝑔 + 𝐶𝑐 . 𝑙𝑜𝑔
(1 + 𝑒1 ) 𝜎ത𝑖 𝜎ത𝑎

9 𝜎ത𝑎 𝜎ത𝑓
𝜌= . 0,3. 𝑙𝑜𝑔 + 1,8. 𝑙𝑜𝑔
(1 + 2,4) 𝜎ത𝑖 𝜎ത𝑎

σ = 18 x 4 = 72 kPa σ’ = 72 - 25 = 47 kPa
u = 10 x 2,5 = 25 kPa

σ = 72 + 15 x 4,5 = 139,5 kPa σ’ = 118,5 - 70 = 69,5 kPa


u = 25 + 10 x 4,5 = 70 kPa
σ’ = 𝝈
ഥ 𝒊 = 𝟔𝟗, 𝟓 𝒌𝑷𝒂

𝜎ത𝑎 = 𝜎ത𝑖 + 18 𝑘𝑃𝑎 ഥ 𝒂 = 𝟖𝟕, 𝟓 𝒌𝑷𝒂


𝝈

𝜎ത𝑓 = 𝜎ത𝑖 + 40 𝑘𝑃𝑎 ഥ 𝒇 = 𝟏𝟎𝟗, 𝟓 𝒌𝑷𝒂


𝝈 43
TEORIA DO ADENSAMENTO

𝐻1 𝜎ത𝑎 𝜎ത𝑓
𝜌= . 𝐶𝑟 . 𝑙𝑜𝑔 + 𝐶𝑐 . 𝑙𝑜𝑔
(1 + 𝑒1 ) 𝜎ത𝑖 𝜎ത𝑎

9 𝜎ത𝑎 𝜎ത𝑓
𝜌= . 0,3. 𝑙𝑜𝑔 + 1,8. 𝑙𝑜𝑔
(1 + 2,4) 𝜎ത𝑖 𝜎ത𝑎

9 87,5 109,5
𝜌= . 0,3. 𝑙𝑜𝑔 + 1,8. 𝑙𝑜𝑔
(1 + 2,4) 69,5 87,5

𝜌 = 0,54 𝑚

𝝆 = 𝟓𝟒 𝒄𝒎

𝜎ത𝑖 = 69,5 𝑘𝑃𝑎

𝜎ത𝑎 = 87,5 𝑘𝑃𝑎

𝜎ത𝑓 = 109,5 𝑘𝑃𝑎


44

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