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Unidade III

Unidade III
5 ANÁLISE DE CRÉDITO PESSOA JURÍDICA

Até o momento, fizemos uma análise dos conceitos de risco, capacidade de pagamento e um modelo
de análise de pessoa física. Agora, o foco é fazer análise de pessoa jurídica. Vimos que existem riscos para
concessão de crédito para pessoas físicas, mas eles existem em maior proporção para pessoa jurídica,
pois os valores assumidos são maiores e as necessidades de documentação também são diferentes.

Muitas das informações fornecidas exigem capacitação especial para interpretação, mesmo que
subjetiva.

5.1 Vamos relembrar algumas linhas de crédito para empresas

As linhas de crédito oferecidas para as empresas são direcionadas ao financiamento de capital de giro
e de investimentos. Elas precisam financiar suas operações, como produção, compra de matéria‑prima,
mão de obra etc.; isso justifica a necessidade de capital de giro. Para que ampliem a capacidade de
produção e estejam adequadas às necessidades competitivas, as empresas devem investir em instalações,
maquinários, equipamentos etc.; isso justifica a necessidade de investimentos.

Lembrete

Cada linha de crédito representa um risco e, por esse motivo, cada linha
resulta em um custo. E a escolha da linha adequada para as necessidades
empresariais é crucial para uma boa gestão financeira.

Vejamos, agora, as principais linhas.

5.1.1 Contratos de capital de giro

São linhas direcionadas ao financiamento das necessidades operacionais de curto prazo. Em outras
palavras, são linhas que objetivam fazer a empresa funcionar no dia a dia.

Observação

Essa é a principal linha de crédito negociada entre financeiras, bancos


e empresas, pois garante que as atividades operacionais sejam financiadas
e executadas.
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5.1.2 Descontos de recebíveis

É uma linha que busca antecipar recebíveis de vendas a prazo, normalmente antecipação de
duplicatas. Nesse modelo, a empresa transfere os direitos dos recebíveis a um terceiro.

Observação

Linha de crédito muito comum para financiar as vendas. É uma


modalidade que visa ampliar as vendas, mas coloca a empresa em risco, sem
considerar os custos envolvidos. Deve pensar no equilíbrio entre ampliar
vendas e riscos de não recebimento e os custos envolvidos, pois não pode
repassar todos os custos para o cliente. O fator preço é relevante mesmo
quando há financiamentos.

5.1.3 Cédula de crédito bancário

Trata‑se de linha de crédito rotativa, que é disponibilizada em conta corrente e a empresa utiliza
conforme sua necessidade. É cumulativo até o final do contrato.

5.1.4 Compror

É uma linha de crédito destinada a financiamento de compras, permite ao comprador o pagamento


a prazo e, ao fornecedor, recebimento à vista. Nessa modalidade, o comprador é financiado por meio de
crédito bancário e o banco credita o fornecedor à vista.

5.1.5 Vendor

Linha de crédito que permite vender a prazo e receber à vista de um banco o valor que seria pago no
futuro. As condições de financiamento são negociadas com o vendedor e um banco.

5.1.6 Adiantamento de contrato de câmbio – ACC

Utilizado para exportação e financiamento pré‑embarque.

5.1.7 Carta de crédito

Direcionada a garantir ao exportador estrangeiro o pagamento de compras realizadas por


importadores.

5.1.8 Financiamento à importação

Direcionado a facilitar os processos de importação. Paga o exportador à vista em moeda estrangeira,


no exterior.
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5.1.9 Assunção de dívidas em moeda estrangeira

É uma operação de hedge cambial. É uma situação em que uma empresa possuidora de dívida em
moeda estrangeira repassa esse débito a um terceiro.

5.1.10 Resolução 63

É um empréstimo de recursos captados no exterior por instituição financeira, sobretudo por meio de
emissão de títulos. O contrato é feito em moeda nacional, indexado à variação cambial.

5.1.11 Leasing

Trata‑se de uma operação de arrendamento ou aluguel.

5.1.12 Repasses do BNDES

São inúmeras modalidades de empréstimos com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento


Econômico e Social (BNDES) direcionados à expansão fabril e/ou comercial.

5.1.13 Fiança bancária

É uma espécie de aval, em que o banco assume e/ou se responsabiliza pelos pagamentos dos seus
clientes caso estes não possam cumprir com a dívida.

5.1.14 Linhas de crédito ao agronegócio

São títulos de crédito, com ou sem garantia, e podem ser:

• Cédula de produção rural (CPR) – o produtor recebe o valor de uma venda no ato da negociação
e se compromete a entregar conforme combinado na venda.

• Cédula de produção rural financeira (CPRF) – idem ao anterior; difere‑se pela forma de
pagamento. Enquanto no primeiro a entrega da venda finaliza o contrato, neste, o pagamento é
feito em dinheiro.

Existem outras linhas de crédito ligadas ao agronegócio, mas que não foram citadas aqui.

Para liberação de qualquer uma das linhas citadas, Santos (2012) aponta a seguinte sequência a ser
seguida:

• análise cadastral;

• análise de idoneidade;

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• análise financeira;

• análise de relacionamento;

• análise patrimonial;

• análise de sensibilidade;

• análise do negócio;

• análise dos ativos intangíveis;

• análise de grupos empresariais;

• análise de política de sustentabilidade;

• análise de política de agência;

• análise da concorrência;

• análise de desempenho bursátil.

5.2 Análise cadastral – PJ

Identifica os sócios e a empresa, solicita os seus RG e CPF, CNPJ, contrato social, estatutos e alvarás
de funcionamento.

Verifica ainda a situação tributária, nas esferas municipal, estadual e federal, descreve as atividades
da empresa, a natureza dos imóveis utilizados, se são próprios ou não. Identifica também a carteira de
clientes, participação de mercado, relacionamento bancário e principais contatos.

5.3 Análise da idoneidade – PJ

Utiliza informações de relatórios gerenciais e informações de empresas especializadas em análise


de risco de crédito. Hoje, o cadastro positivo oferece maior segurança ao concentrar informações sobre
pontualidade de pagamento.

A análise de relatórios gerenciais será tratada mais adiante, ao falarmos sobre os índices de liquidez,
capacidade de pagamento etc.

5.4 Análise financeira

Um dos procedimentos básicos para a concessão de crédito é a análise dos demonstrativos financeiros.
Ela deverá revelar a situação de gestão patrimonial da organização.
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Dentre os demonstrativos financeiros, podemos destacar:

• Balanço Patrimonial;

• DRE;

• DOAR;

• DMPLA;

• DLPA – Demonstrativo de lucros e prejuízos acumulados.

Pelas alterações das regras contábeis, alguns desses demonstrativos não são mais exigidos, e outros
passam configurar como necessários, como o DFC – demonstrativo do fluxo de caixa.

Saiba mais

Para entender mais sobre essas mudanças, leia o artigo:

MOLIGA, M. A nova visão contábil após a Lei 11.638/2007.


2012. Disponível em: <http://www.contabeis.com.br/artigos/790/
a‑nova‑visao‑contabil‑apos‑a‑lei‑116382007/>. Acesso em: 3 fev. 2014.

A análise dos demonstrativos financeiros ou contábeis mostra a saúde organizacional, apontando se a


empresa terá condições de honrar seus compromissos ou não e se tem espaço para contrair mais dívidas.

Segundo Santos (2012), entre os principais itens a serem avaliados estão:

Quadro 5 – Principais itens de avaliação organizacional

Índices Conceito
Liquidez Capacidade de pagamento de dívidas com recursos financeiros disponíveis e contas a receber.
Endividamento Montante de dívidas ou passivos que financiam os investimentos.
Montante de recursos financeiros permanentes (de longo prazo) que estão sendo investidos em
Imobilização ativos produtivos (máquinas, equipamentos, veículos, instalações etc.).
Lucratividade Margens de lucratividade obtidas no gerenciamento da atividade operacional.
Cobertura Capacidade de pagamento de dívidas com a geração de lucro e fluxo de caixa operacional.
Período médio de conversão de estoques em vendas e duplicatas a receber em caixa. Além
Rotatividade disso, mostra o período médio de pagamento de dívidas com os fornecedores.
Rentabilidade Margens de retorno obtidas sobre o investimento total e capital dos proprietários.

Fonte: Santos (2012, p. 72).

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5.5 Análise de relacionamento

São informações retiradas do histórico de relacionamento do cliente com o mercado de crédito.


Busca informações como: limites concedidos, índices de utilização, frequência de utilização, taxas,
garantias vinculadas, pontualidade, entre outros.

5.6 Análise patrimonial

É uma avaliação ou busca de informações de bens em nome do cliente. O objetivo é levantar possíveis
garantias para a concessão ou não de crédito.

5.7 Análise de sensibilidade

É o monitoramento macroeconômico do cliente, seja pessoa física ou jurídica. Uma busca de cenários
econômicos, situações de setores específicos, de taxas de juros, câmbio etc. pode ser relevante para uma
política de crédito mais rígida ou não.

Como exemplo, podemos citar as últimas grandes crises financeiras, tanto nos EUA como na Europa.
Cada mercado, em cada país, foi afetado de maneiras específicas. Portanto, uma análise que decidisse
tornar o crédito mais rigoroso ou facilitador era crucial. O Brasil decidiu facilitar, ampliar e reduzir taxas,
acreditando na ampliação do mercado interno. Decisão esta que aparentemente foi acertada.

Saiba mais

Para saber mais sobre a crise financeira internacional, sugiro a leitura


do seguinte artigo:

BENTO, V.; MACHADO, J. F.; LEITE, A. N. A crise financeira e económica


internacional. Relações Internacionais, Lisboa, n. 21, mar. 2009. Disponível
em: <http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1645‑91992009000100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 3 fev. 2014.

5.8 Análise do negócio

Essa análise busca conhecer a empresa como negócio e a aderência dos proprietários a ele. Busca
ainda saber sobre a idoneidade no mercado de crédito, sua situação financeira, se domina as tecnologias,
se busca conhecer os processos de produção, o ciclo operacional e seus clientes e fornecedores, quais
são seus principais concorrentes etc.

Essa análise verifica a capacidade da empresa de gerar receita de forma competitiva e sustentável.
Avalia todos os índices operacionais, o que pode demonstrar a qualidade da gestão da empresa.

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5.9 Análise dos intangíveis

Muitas vezes, um bem não tangível traz muita segurança para a empresa por ter grande valor
atribuído, como é o caso das patentes, marcas valiosas, direitos autorais, domínio de tecnologia etc.
Como isso deve figurar no Balanço Patrimonial, é mais fácil a sua avaliação.

5.10 Análise de grupo empresarial

A formação de grandes grupos, constituídos por inúmeras empresas, torna o processo mais demorado
e mais complexo, pois é necessário avaliar todo o grupo, verificar o nível de dependência que as empresas
têm, assim como a gestão e as principais decisões.

5.11 Análise de políticas de sustentabilidade

Além das exigências normais e corriqueiras, algumas linhas de crédito têm vinculado à aprovação
ou não as políticas de sustentabilidade. Isso vem gerando preocupação, pois sustentabilidade está
relacionada à imagem e nenhuma empresa quer estar ligada a outra que não cumpra com suas
responsabilidades ambientais.

5.12 Análise de políticas de agência

É uma análise de como a empresa atua na política de crédito, pois, se não houver rigor, sofrerá
as consequências da inadimplência e não terá como honrar seus compromissos. A monitoração dos
resultados financeiros é uma segurança, pois mostra como a empresa gere seus recursos. E todo credor
quer ter certeza que essa operação é bem feira.

5.13 Análise da concorrência

Todos os dados dos relatórios gerenciais são comparados com o mercado, mais especificamente
com os principais concorrentes. Estar abaixo da média pode significar ineficiência competitiva, o que é
desabonador para concessão de crédito.

5.14 Análise de desempenho bursátil

Busca analisar o histórico do desempenho de preço comparado com os modelos de mercado;


esse modelo é visto como sendo o das empresas de melhores práticas. Compara, ainda, o volume de
negociação e o retorno gerado por essas negociações.

6. ANÁLISE DOS DEMONSTRATIVOS

6.1 Balanço Patrimonial

O mais importante demonstrativo utilizado é o BP – Balanço Patrimonial. Pode ser visto como uma foto da
empresa em determinado momento, associando bens, direitos e obrigações de forma estruturada e temporal.
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Vejamos um modelo:

Quadro 6 – Modelo de Balanço Patrimonial – conforme lei 11.638/07

Balanço Patrimonial
Ativo Passivo
Ativo circulante Passivo não circulante
Considera os bens e direitos de rápida renovação Considera as dívidas de curto prazo
Ativo não circulante Passivo não circulante
Realizável a LP Exigível a LP
Investimento Patrimônio líquido
Imobilizado Capital
Intangível Reserva de capital
Ajuste de avaliação patrimonial
Reservas de lucro
Ações em tesouraria

Para fazer a análise, é importante conhecer os componentes de cada uma das contas apontadas.
Vejamos as principais:

Ativo circulante

Disponibilidade

Investimento financeiro

Disponibilidade

Estoques

Contas a receber

Figura 5 – Ativo circulante

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Passivo circulante

Fornecedores

Empréstimo bancário

Impostos a pagar

Salários a pagar

Encargos sociais

Figura 6 – Passivo circulante

Os outros componentes patrimoniais, como ativo não circulante, passivo não circulante e patrimônio
líquido, já foram demonstrados no próprio instrumento sua composição.

Dessas contas, podemos obter uma série de dados que podem revelar muitas informações sobre
o passado e o futuro da organização. Esses itens que extraímos podem ser chamados de índices ou
indicadores econômicos; não vamos falar de todos, mas dos principais.

6.2 Indicadores econômico‑financeiros

6.2.1 Capital circulante líquido

CCL = AC – PC

Quanto maior, maior será também a liquidez da empresa ou a capacidade de honrar suas obrigações.

Observe que o AC (ativo circulante) contempla os recursos positivos, bens e direitos de curto prazo,
e o PC (passivo circulante) contempla as obrigações. Portanto, AC deve ser maior que PC para que a
situação seja boa.

Liquidez é a capacidade de pagamento da empresa e pode ser calculada de diferentes formas, como
veremos a seguir.

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6.2.2 Índice de liquidez corrente

Devem‑se dividir os valores do ativo circulante pelo passivo circulante. É representado pela fórmula:

AC
LC =
PC
Onde:

LC = Liquidez corrente

AC = Ativo circulante

PC = Passivo circulante

É a capacidade de pagamento de curto prazo da empresa, dentro do exercício fiscal vigente, ou seja,
menor que um ano ou 360 dias. Para interpretação, mesmo com algumas observações, considera‑se que
quanto maior o resultado dessa equação apresentada, melhor. O resultado deve ser, obrigatoriamente,
acima de um para significar boa capacidade de pagamento.

6.2.3 Índice de liquidez seca

É a capacidade de pagamento da mesma forma que a corrente, mas para dar outra leitura à
empresa os estoques são abatidos do AC. Os motivos para essa leitura são claros: tem grandes
impactos em empresas com estoques elevados. Considerando que o estoque leva certo tempo para se
transformar em dinheiro, essa análise é relevante para avaliar a capacidade de pagamento e, assim,
a liberação de crédito.

A fórmula utilizada é:

AC − E
LS =
PC
Onde:

LS = Liquidez seca

AC = Ativo circulante

E = Estoques

PC = Passivo circulante

Da mesma maneira que o índice anterior, ele deve ser acima de um para ser positivo, e, via de regra,
quanto maior, melhor.
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6.2.4 Índice de liquidez geral

Esse índice considera as operações de curto e longo prazo, tanto dos ativos, onde considera o AC
como RLP (realizável em longo prazo) e, no passivo, considera o PC e o ELP (exigível em longo prazo). O
objetivo desse índice é dar certa clareza com olhar mais amplo.

A fórmula considerada é:

AC + RLP
LG =
PC + ELP
Onde:

LG = liquidez geral

AC = ativo circulante

RLP = realizável em longo prazo ou direitos a receber em longo prazo

PC = passivo circulante

ELP = exigível em longo prazo ou obrigações de longo prazo

Da mesma maneira, quanto maior, melhor. Esse índice fornece uma leitura interessante no equilíbrio
das obrigações de curto e longo prazo.

Na análise de crédito, os índices de liquidez refletem a capacidade de pagamento. Por exemplo, um


ILC de 0,90 significa que para cada um real de dívida tem‑se somente 0,90 de recursos no ativo. Ou seja,
há grandes dificuldades de honrar o pagamento.

Exemplo de aplicação

Você, como analista de crédito, emprestaria dinheiro para o cliente citado anteriormente?

______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
A composição das dívidas também reflete maior ou menor segurança na concessão de crédito. Se a
maior parte das obrigações for de curto prazo, haverá grandes necessidades de fazer caixa para liquidar
as obrigações. Agora, se for de longo prazo, haverá maior tempo para cumprir com as obrigações. Vamos
conhecer melhor essa composição a seguir.

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6.2.5 Participação de capital de terceiros

Uma empresa é formada por capital próprio e capital de terceiros, o PL (patrimônio líquido) é
entendido como capital próprio e/ou uma obrigação especial para com os acionistas ou proprietários.
Esse é o motivo de ele estar no lado do passivo.

Observando o que se é relacionado no passivo, temos as obrigações com terceiros, que estão no
passivo circulante e no exigível em longo prazo. No PL temos as obrigações com os acionistas. Nesse
sentido, esse índice busca a relação da participação de capital de terceiros com as obrigações totais. É
representado pela fórmula:

PC + PELP
PCT =
PT
Onde:

PCT = participação de capital de terceiro

PC = passivo circulante

PELP = passivo exigível de longo prazo

PT = passivo total

Resumidamente, é a porcentagem de capital de terceiros em relação ao passivo total. Não há uma


especificação a respeito de ser maior ou menor, ficando a cargo dos objetivos da empresa. No entanto,
para a análise de crédito, maior endividamento em curto prazo é ruim, pois reduz a capacidade de
pagamento imediata da empresa.

6.2.6 Participação de capital próprio

É o mesmo conceito do anterior, só que invertido. Nesse caso, o objetivo é ver a porcentagem de
capital próprio.

CP = (PL) / PT

É a proporção de capital próprio (patrimônio líquido) em relação ao passivo total. Além dos índices
de liquidez e da composição do endividamento, é importante conhecer a rentabilidade das operações da
empresa, calculando, por exemplo, a proporção de lucro em relação ao total investido nos ativos.

Vamos ver alguns modelos.

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6.2.7 Margem bruta

Para essa análise, utilizam‑se dois demonstrativos contábeis: o DRE (demonstrativo do resultado do
exercício) e o Balanço Patrimonial. Demonstra a proporção de ganho para cada real aplicado na empresa.

Veja:

LB
MB =
AT
Onde:

MB = margem bruta

LB = lucro bruto

AT = ativo total

Em resumo, é o lucro bruto em relação aos ativos totais – quanto maior, melhor.

6.2.8 Margem operacional

A análise de ganho em relação às vendas é outro indicador importante. Ela aponta, por exemplo, se
a empresa terá problemas de rentabilidade no futuro, se o ganho em relação às vendas é suficiente para
sanar as obrigações.

Vejamos:

LO
MO =
VL
Onde:

MO = margem operacional

LO = lucro operacional

VL = vendas líquidas

É o quanto obteve de lucro operacional em relação às vendas líquidas. Quanto maior, melhor.

6.2.9 Margem líquida

Esse índice faz a mesma análise anterior, só que considerando o lucro líquido e vendas líquidas.
Pode‑se dizer que ele é um dos mais importantes. Uma empresa que tenha problemas com esse índice,
quanto mais vender, pior vai ficar.
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Veja como calcular:

LL
ML =
VL
Onde:

ML = margem líquida

LL = lucro líquido

VL = vendas líquidas

Resumindo, é o lucro líquido em relação às vendas líquidas – quanto maior, melhor.

Vamos agora relacionar esses índices de lucratividade à análise de crédito. Suponha que temos uma
empresa solicitando crédito para expansão dos negócios e os índices calculados foram:

Tabela 34 – Exemplo de análise de índices de lucratividade

Empresa cliente Média dos índices no mercado


MO 0,10 MO 0,20
MB 0,20 MB 0,45
ML 0,05 ML 0,10

O que poderíamos interpretar a partir dessas informações?

Veja que a empresa cliente está abaixo da média de mercado em todos os itens. Na margem líquida, a
empresa ganha somente R$ 0,05 para cada real vendido e o mercado ganha o dobro. Então, a capacidade
da empresa em gerar caixa será pior e a tendência para ter problemas de caixa no futuro é grande.

Nesses últimos índices fez‑se referência ao DRE. Vamos conhecer um pouco melhor sua estrutura.

6.3 DRE – Demonstração do Resultado do Exercício

Quadro 7 – DRE

Demonstração do resultado do exercício


1 Receita bruta de vendas
– Deduções de receita bruta (itens que podem ser deduzidos:
2 impostos sobre vendas, cancelamentos etc.)
3 Receita líquida de vendas (1 – 2)

4 – CMV ou CPV (Custo da mercadoria vendida e/ou custo do


produto vendido)

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5 Lucro bruto
– Despesas operacionais, que são:
• de vendas;
6 • administrativas;
• financeiras;
• gerais.
7 Lucro operacional (5 – 6)
8 + resultado não operacional
9 – Provisão para imposto de renda e contribuição social
10 – Participações e contribuições
11 Lucro líquido do exercício

O mesmo critério de credit score utilizado para pessoa física pode ser usado para análise de crédito de
uma empresa. Um sistema de análise de crédito possibilita essa análise e o software faz os cruzamentos,
o que minimiza a atuação do analista.

O exemplo a seguir é um modelo que pode ser adaptado de acordo com cada instituição.

6.4 Política de crédito para pessoa jurídica

Este modelo é proposto por Altman; Caouette; Narayanan (2000) e é importante dizer que,
pela ampla aceitação, ele foi o escolhido para abordagem. Da mesma forma que foi desenvolvido
na análise de pessoa física, pode ser realizado em empresas. Teremos pessoas para cada um dos
C’s do crédito.

Tabela 35 – Análise de crédito – caráter

Caráter Peso Pontuação


Multiplica‑se o peso
Restrições 3 do item pelo peso do
grupo
Ausência de restrições 10 30 (10 x 3)
Com restrições 0 0
Idoneidade 2
(fontes: empresas/bancos/pessoais)

Positiva em três ou mais fontes 5 10


Positiva em duas ou mais fontes 3 6
Positiva em uma fonte 2 4
Experiência com operações de crédito 2
Mais de uma experiência 1,5 3
Apenas uma experiência 1 2
Nenhuma experiência 0,5 1

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Tabela 36 – Análise de crédito – capacidade de pagamento

Capacidade de pagamento Peso Pontuação


Margem de endividamento 1,5
Acima de 70% da receita líquida 3 4,5
De 50% a 69% de receita líquida 2 3
De 30% a 49% da receita líquida 1 1,5
Abaixo de 30% de receita líquida 0,5 0,75
Liquidez corrente AC/PC 2
Acima de 4 2 4
De 3 a 4 1,5 3
De 1 a 2 1 2
Até 1 0,5 1
Liquidez geral AC + RLP/PC+PELP 2
Acima de 4 2 4
De 3 a 4 1,5 3
De 1 a 2 1 2
Até 1 0,5 1
Comprometimento financeiro existente
1,5
Dívida total/Lucro operacional (LO)
Até 5% do LO 5 7,5
Até 10% do LO 4 6
Até 15% do LO 3 4,5
Até 20% do LO 2 3
Acima de 20% do LO 0,5 0,75
Proposta de crédito 2
Até 2x o faturamento 4 8
De 2 a 5x o faturamento 3 6
De 6 a 10x o faturamento 2 4
Acima de 10x o faturamento 1 2
Acima de 10x o faturamento 1 2

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 156).

Tabela 37 – Análise de crédito – capital

Capital Peso Pontuação


Aumento de capital 2
Capital próprio 2 4
Capital de terceiros 1,5 3
Capital financeiro 1 2

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Experiência 1
Acima de cinco anos 3 3
De 2 a 5 anos 2 2
Até dois anos 1,5 1,5

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 156).

Tabela 38 – Análise de crédito – condições do negócio

Condições do negócio Peso Pontuação


Características do negócio 1
Fixo 1,5 1,5
Feirante 1 1
Serviços em domicílio 1 1
Ambulante 0,5 0,5

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 156).

Observação

Esse item é semelhante ao que foi desenvolvido anteriormente, que era


direcionado para pessoa física, mas podendo ser utilizado em empresas. O
modelo aqui apresentado contém itens específicos para empresas.

Tabela 39 – Análise de crédito – tipos de estruturação

Tipos de estruturação 1
Acumulação ampliada (custos + investimentos) 1,5 1,5
Acumulação simples (custos) 1 1
Sobrevivência 0,5 0,5

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 156).

Tabela 40 – Análise de crédito – capacidade instalada

Capacidade instalada 1
De 81% a 100% da capacidade 2 2
De 51% a 80% da capacidade 1,5 1,5
De 31% a 50% da capacidade 1 1
Abaixo de 30% da capacidade 0,5 0,5

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 156).

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Tabela 41 – Análise de crédito – histórico de vendas

Histórico de vendas 2
De 81% a 100% à vista 4 8
De 51% a 80% à vista 2 4
De 30% a 50% à vista 1 2
Abaixo de 30% à vista 0,5 1

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 156).

Da mesma forma que os cálculos foram realizados anteriormente, também são feitos nesse modelo.
A diferença está na documentação que gera os relatórios, para lembrar: são os demonstrativos contábeis,
tais como Balanço Patrimonial e DRE.

Após fazer essa pontuação de acordo com os pesos, podemos classificar a empresa de acordo com
o grau de risco:

Tabela 42 – Escala de pontuação de risco de crédito para pessoa jurídica

Escala de pontuação Classificação


129,95 a 142,72 AA
117,16 a 129,94 A
104,37 a 117,15 B
91,58 a 104,36 C
78,79 a 91,57 D
66,00 a 78,78 E
53,21 a 65,99 F
40,42 a 53,20 G
27,63 a 40,41 H

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 168).

A partir dessa classificação, podemos tomar as decisões adequadas aos objetivos da organização.

Quadro 8 – Classificação do risco de crédito para pessoa jurídica

Classificação Risco Pontuação Ação Características/avaliação


Risco de crédito baixíssimo.

129,95 a Solidez quanto aos aspectos analisados: situação


Baixíssimo Aprova econômico‑financeira, capacidade de pagamento,
AA 142,72 capacidade de geração de resultados. Ramo
risco automático de atividade em ascensão, valores e garantias
altamente compatíveis com a operação.

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Risco de crédito muito baixo quanto aos aspectos


analisados: situação econômico‑financeira,
capacidade de pagamento, capacidade de geração
117,16 a Aprova de resultados, valores e garantias compatíveis
A Mínimo com a operação. Alta capacidade para honrar
129,94 automático compromissos.
Risco de crédito baixo quanto aos aspectos
analisados: situação econômico‑financeira,
capacidade de pagamento, capacidade de geração
104,37 a Aprova de resultados, valores e garantias são suficientes.
B Baixo risco Mais sensíveis a mudanças no ambiente
117,15 automático econômico do que os das categorias superiores.

Risco de crédito moderado. Não possui solidez


Em análise relativa aos aspectos analisados: situação
Médio / 91,58 a econômico‑financeira, capacidade de pagamento,
C Comitê capacidade de geração de resultados, valores e
moderado 104,36 garantias insuficientes.
Diretores
Risco de crédito abaixo da média.

Em análise Mais arriscado do que as categorias superiores,


Abaixo da 78,79 a referente aos aspectos analisados: situação
D Comitê econômico‑financeira, capacidade de pagamento,
média 91,57 capacidade de geração de resultados, valores e
Diretores garantias.
Risco de crédito alto com possibilidade de não ser
pago.
Em análise
66,00 a Arriscado devido aos aspectos analisados: situação
E Alto risco Comitê econômico‑financeira, capacidade de pagamento,
78,78 capacidade de geração de resultados, valores e
Cons. Adm. garantias.
Altíssimo 53,21 a Negar Risco de crédito altíssimo. Não oferece condições
F para cumprimento das obrigações referentes aos
risco 65,99 Automático aspectos analisados.
Risco de crédito indesejável.
40,42 a Negar
G Indesejável Risco elevadíssimo. Não possui condições mínimas
53,20 automático para o cumprimento das obrigações.

Perda 27,63 a Negar Risco de perda provável.


H Capacidade de pagamento fragilizada,
provável 40,41 automático
impossibilitando‑a de se habilitar ao crédito.

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 179).

Adotar um modelo de credit score não garante o sucesso da gestão de crédito, sendo necessário
avaliar a situação dos clientes em tempo integral.

Para Sandroni (2005, p. 37), as principais vantagens da adoção de um modelo de credit score advêm
do fato de ele ser:

• objetivo;

• consistente;
92
CRÉDITO E COBRANÇA

• de fácil aplicação e bem compreendido;

• se desenvolvido apropriadamente, pode eliminar práticas discriminatórias nos financiamentos.

O ato de conceder ou não crédito é feito com base em procedimentos impessoais e padronizados,
gerando um maior grau de confiabilidade. Essa ferramenta reduz o tempo de análise do cliente, apresenta
flexibilidade para adaptações e alterações a qualquer tempo e aumento da margem de segurança, pois
minimiza a ação humana.

Quanto às desvantagens, a principal delas consiste nas variáveis não satisfazerem as condições ou
as presunções subjacentes.

Depois de ter avaliado a capacidade de pagamento do cliente em potencial, é chegada a hora


de estabelecer os limites que lhe serão concedidos. Esses limites variam de acordo com o grau de
concentração que a instituição financeira possui em uma determinada área geográfica, segmento de
cliente ou tipo de produto.

Antes, no entanto, de o cliente fazer a sua solicitação de empréstimo, deve existir toda uma política
de crédito estabelecida na instituição. O objetivo da política é a orientação nas decisões de crédito,
tendo em mente os objetivos desejados e estabelecidos. Nas instituições financeiras, é comum encontrar
a figura de um ou mais comitês para responder pela política de crédito.

Esses comitês são grupos que estudam e decidem sobre os riscos operacionais de crédito e cujo objetivo
é analisar, dar parecer e manifestar seu acordo ou desacordo com as operações de crédito (SILVA, 2000).

Os analistas podem decidir até certo ponto, dentro da normalidade; o comitê analisa as exceções.

6.5 Processo de concessão de crédito com o uso de modelos credit score

Recusa

Sistema de
Solicitantedede Análise do
Solicitante
Solicitantes de classificação por
crédito benefício da
crédito
crédito score
recusa do crédito

Aceitar

Figura 7 – Processo de concessão de crédito

93
Unidade III

Os modelos de credit score têm como objetivo identificar certos fatores‑chave que influenciam na
adimplência ou inadimplência dos clientes, permitindo a sua classificação em grupos distintos e, como
consequência, toma‑se a decisão sobre a aceitação ou não do crédito em análise.

A diferenciação desses modelos em relação aos modelos subjetivos de análise de crédito se dá,
principalmente, pelo fato de a seleção dos fatores‑chave e de seus respectivos pesos ser feita por meio
de processos estatísticos, como vimos anteriormente.

Além disso, a pontuação gerada para cada cliente, a partir da equação dos modelos credit score,
fornece indicadores quantitativos das chances de inadimplência desse cliente.

Quando o mercado não tinha as dimensões de hoje e cada empresário praticamente conhecia
pessoalmente seus clientes, o sistema de caderneta funcionava bem. Sabia‑se quem era bom pagador
e quem não era, e decidia‑se se mantinha crédito ou não. Com o aumento do porte das organizações e
do número de clientes, isso não funciona mais, o que evidencia a necessidade de um sistema como esse.

6.6 Categorias de credit score

Os modelos de credit score são divididos em duas categorias, como veremos a seguir.

6.6.1 Modelos de aprovação de crédito

O principal objetivo dos modelos de aprovação de crédito é estimar a probabilidade de um novo


solicitante tornar‑se inadimplente com a instituição em determinado período.

6.6.2 Modelos de “escoragem” comportamental – behavioural score

Esse modelo busca informações sobre a probabilidade de inadimplência de um cliente que já possui
um produto ou crédito com a instituição.

A principal diferença entre as duas categorias de modelos, portanto, é o fato de, nos modelos
de escoragem comportamental, a instituição, por já conhecer o cliente, possuir condições de inserir
características que avaliem seu comportamento em operações anteriores. Isso não ocorre nos modelos
de aprovação de crédito, quando o solicitante ainda não possui um histórico com a instituição e esta
não o conhece.

Enquanto os modelos de aprovação de crédito se preocupam apenas com a concessão e o volume de


crédito, os modelos de escoragem comportamental podem ser utilizados para gerir os limites de crédito,
cobrança preventiva, entre outras estratégias.

6.7 Vantagens dos modelos credit score

a) Consistência: são modelos bem elaborados, que utilizam a experiência da instituição e servem
para administrar objetivamente os créditos dos clientes já existentes e dos novos solicitantes.
94
CRÉDITO E COBRANÇA

b) Facilidade: tendem a ser simples e de fácil interpretação, com instalação relativamente fácil.

c) Melhor organização da informação de crédito: a sistematização e a organização das


informações contribuem para a melhoria do processo de concessão de crédito.

d) Redução de metodologia subjetiva: o uso de método quantitativo com regras claras e bem
definidas contribui para a diminuição do subjetivismo na avaliação do risco de crédito.

e) Maior eficiência do processo: o uso de modelos credit score na concessão de crédito direciona
os esforços dos analistas, trazendo redução de tempo e maior eficiência a esse processo.

6.8 Desvantagens dos modelos credit score

a) Custo de desenvolvimento: desenvolver um sistema credit score pode acarretar custos, não
somente com o sistema em si, mas também com o suporte necessário para sua construção, como
profissionais capacitados, equipamentos, coleta de informações necessárias ao desenvolvimento
do modelo, entre outros.

b) Excesso de confiança nos modelos: algumas estatísticas podem superestimar a eficácia dos
modelos, fazendo com que usuários, principalmente aqueles menos experientes, considerem tais
modelos perfeitos, não criticando seus resultados.

c) Falta de dados oportunos: se o modelo necessita de dados que não foram informados, pode
haver problemas na sua utilização na instituição, gerando resultados diferentes dos esperados.

d) Análise: necessidade de analisar também a qualidade e fidedignidade das informações disponíveis,


uma vez que elas representam o insumo principal dos modelos de credit score.

e) Interpretação equivocada dos scores: o uso inadequado do sistema devido à falta de treinamento
e aprendizagem de como utilizar suas informações pode ocasionar problemas sérios à instituição.

Para ampliar a segurança da análise, foram atribuídos pesos para cada categoria, que devem ser
multiplicados pela pontuação obtida na análise.

Tabela 43 – Pesos por categoria

Discriminação Peso
Caráter 2,33
Capacidade de pagamento 1,80
Capital 1,50
Condições do negócio 1,42
Colateral 1,33

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 180).

95
Unidade III

Assim, ao obter a pontuação, deve‑se multiplicar pelo peso aqui informado, mas, para facilitar,
vamos ver uma aplicação prática.

Exemplo de aplicação

Análise de crédito

A empresa XYZ é uma indústria que atua no ramo têxtil, no segmento de fiação de algodão, fraldas
de algodão e moda infantil.

Defina, para pessoa jurídica, a concessão de crédito ou não.

Os dados obtidos foram:

Caráter

Silva (2000, p. 75) refere‑se a:

• Pontualidade: dois dos três terceiros pesquisados informaram que a empresa atrasa em média 30 dias.

• Restrições: três inclusões no CCF recentes – porém, já regularizado.

• Experiência em créditos: sem registros desabonadores.

—― Tem crédito na praça com várias empresas.

Capacidade

a. A empresa possui R$ 10.000,00 de vendas líquidas e R$ 6.000,00 de obrigações no período.

b. Liquidez corrente igual a 0,86

c. Liquidez geral igual a 1,10.

d. O comprometimento financeiro da empresa representa 15% do lucro operacional.

e. A empresa tem um faturamento líquido de R$ 10.000,00 e busca empréstimo de 25.000,00.

Capital

a. Capital próprio (PL) de 60.000,00 e 28.000,00 de passivos.

b. É uma empresa tradicional no mercado.

96
CRÉDITO E COBRANÇA

Condições do negócio

a. É um negócio fixo, com sede própria.

b. 90% de capacidade instalada.

c. Vendas à vista em torno de 50%.

Vejamos como fica:

Tabela 44 – Análise de crédito – caráter

Caráter Peso Pontuação Pesos 2,33


Restrições 3
Três inclusões no CCF 0 0 0
Idoneidade 2
Positiva em uma fonte 2 4 9,32
Experiência com operação de crédito 2
Várias experiências 1,5 3 6,99

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 185).

Vamos abrir um espaço para explicar os cálculos dessa tabela. As demais seguirão a mesma métrica.

Caráter é o primeiro C a ser avaliado e o peso atribuído a ele é 2,33.

Restrição é um dos itens avaliados, e esse tem peso de grupo 3. Como possui restrição, a pontuação
dada foi 0, então 3 x 0 = 0 e, na sequência, 0 x 2,33 = 0.

O item idoneidade faz parte do caráter e possui peso 2. A empresa teve informação positiva em uma
fonte, isso dá uma nota 2. Portanto: 2 x o peso 2 = 4. E assim, 4 x 2,33 = 9,32.

O item experiência com operação de crédito tem peso 2. E, nesse quesito, a empresa analisada possui
várias experiências, com nota 1,5, então 1,5 x 2 = 3. E assim, 3 x 2,33 = 6,99.

Tabela 45 – Análise de crédito – capacidade de pagamento

Capacidade de pagamento Peso Pontuação Pesos 1,80


Margem de endividamento 1,5
60% da renda líquida 2 3 2,7
Liquidez corrente 2
0,86 de LC 0,5 1 1,8
Liquidez geral 2

97
Unidade III

1,10 de LG 1 2 3,6
Comprometimento financeiro 1,5
15% do lucro operacional 3 4,5 8,1
Proposta de crédito 2
25.000 tendo 10.000 de 3 6 10,8
faturamento

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 185).

Veja que as regras foram as mesmas; os pesos são dados na linha azul e os valores são apurados a
partir das informações de cada empresa.

Tabela 46 – Análise de crédito – capital

Capital Peso Pontuação Pesos 1,50


Capital próprio 2
60.000 / 28.000 = 2,14 2 4 6
Experiência 1
Acima de 5 anos 3 3 4,5

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 185).

Tabela 47 – Análise de crédito – condição

Condição Peso Pontuação Pesos 1,42


Característica do negócio 1
Fixo 1,5 1,5 2,13
Capacidade instalada 1
90% da capacidade 2 2 2,48
Histórico de vendas 2
50% à vista 1 2 2,48
Total 60,9

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 185).

Tabela 48 – Detalhes da soma

Itens Soma
Caráter 9,32
  6,99
Capacidade 2,7
  1,8
  3,6
  8,1

98
CRÉDITO E COBRANÇA

  10,8
Capital 6
  4,5
Condição 2,13
  2,48
  2,48
Total 60,9

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 185).

Olhando para a escala de classificação, percebemos que:

Tabela 49 – Escala de pontuação

Escala de pontuação Classificação


129,95 a
AA
142,72
117,16 a
A
129,94
104,37 a
B
117,15
91,58 a
C
104,36
78,79 a
D
91,57
66,00 a
E
78,78
53,21 a
F
65,99
40,42 a
G
53,20
27,63 a
H
40,41

Fonte: Altman; Caouette; Narayanan (2000, p. 185).

Veja que, na classificação, a empresa ficou na posição F.

Qual decisão tomar:

99
Unidade III

Classe F

Risco: altíssimo.

Decisão: negar automaticamente.

A inserção de mais dados poderia colocar a empresa em outra classificação.

Lembrete

Essa análise tem grande margem de segurança, mas deve passar pelo
crivo humano; é a análise da experiência. Vale ressaltar que as análises
objetiva e subjetiva andam juntas.

Resumo

Essa unidade trouxe para o aluno um modelo de avaliação de risco


de crédito para empresas, apresentando as etapas e os procedimentos
adotados para uma análise segura. Para um exame jurídico, a
principal análise é a do negócio, na qual vão ser utilizadas técnicas
de extração de informações de demonstrativos contábeis, tais como
Balanço Patrimonial e demonstrativo do resultado do exercício,
e construir, a partir desses dados, outra informação, o que trará
percepção da capacidade de pagamento da empresa e a capacidade
de endividamento.

Os dados se resumem em índices de liquidez, que podem ser secos,


correntes e gerais. Todos são índices que cruzam as informações do AC –
ativo circulante – com as informações do PC – passivo circulante. Outros
índices relevantes na análise de pessoa jurídica são os de rentabilidade,
que tratam das margens de ganhos em relação aos investimentos feitos
e ao volume de receita de vendas, importantíssimos para verificar a
qualidade da gestão dos negócios ou o momento de mercado.

Essa análise cruza informações do Balanço Patrimonial com o DRE e, a


partir de critérios previamente determinados, definem‑se as concessões de
crédito. É relevante lembrar que a política de crédito deve ser respeitada
para que os resultados sejam alinhados com o planejamento estratégico da
organização.

100
CRÉDITO E COBRANÇA

Exercícios

Questão 1. (Enade 2006) A Estelar Aérea S.A., uma das mais importantes empresas na vida empresarial
recente do Brasil, viveu, durante o ano de 2006, um processo de insolvência, como se pode observar
pelos seguintes grupos de contas em seu balanço de 31 de dezembro de 2005:

Em R$ milhões:

Ativo Circulante 1.310


Realizável a Longo Prazo 788
Ativo Permanente 238
Passivo Circulante 2.111
Exigível a Longo Prazo 8.146

O patrimônio líquido da Estelar Aérea S.A, em 31 de dezembro de 2005, em R$ milhões era de:

A) 12.593

B) 7.921

C) 2.336

D) -2.336

E) -7.921

Resposta correta: alternativa E.

Análise das alternativas

Justificativa geral: o quadro a seguir mostra o balanço patrimonial da Estelar Aérea S.A., elaborado
a partir dos valores informados na questão.

Balanço patrimonial padronizado, em 31 de dezembro de 2005


Empresa Estelar Aérea S.A.
Ativo circulante R$ 1.310,00 Passivo circulante R$ 2.111,00

Realizável a longo prazo R$ 788,00 Exigível a longo prazo R$ 8.146,00

Permanente R$ 238,00 Patrimônio líquido R$ X,XX


Total do ativo R$ 2.336,00 Total do passivo R$ 2.336,00

A partir desses dados, é possível calcular o valor do patrimônio líquido:

101
Unidade III

Ativo = Passivo = R$ 2.336,00


Passivo = Circulante + Exigível a longo prazo + Patrimônio líquido
2.336 = 2.111 + 8.146 + Patrimônio Líquido 
 Patrimônio Líquido = 2.336 - 2.111 - 8.146 
 Patrimônio Líquido = 7.921

Questão 2. (Enade 2009) Num projeto para a construção de um parque temático, serão financiados
30% com recursos do BNDES, 20% com debêntures e 50% com capital dos sócios. O custo do
financiamento junto ao BNDES é 10% a.a., a debênture tem um custo de 15% a.a., e o custo de capital
dos acionistas é 20% a.a. Desprezando-se o efeito de imposto de renda, o retorno mínimo que o parque
temático deverá ter para ser interessante aos investidores, é de:

A) 20%.

B) 16%

C) 15%.

D) 13%

E) 10%

Resolução desta questão na plataforma.

102

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