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Orquestra Clássica do Politécnico do Porto - Concerto em 28 e 29 de Fevereiro de 2020

Concerto da Orquestra Clássica do Politécnico do Porto


28 e 29 de Fevereiro de 2020
Abertura de L ́Hôtellerie Portugaise (1798), Luigi Cherubini (1760-1842)
Concerto para Orquestra de Cordas em Ré, Op. 17 (1951), Joly Braga Santos (1924-1988)
Sinfonia 104, Londres, em Ré maior, Hob. I-104 (1795) - Joseph Haydn (1732-1809)

Notas ao Programa Francisco Soares de Melo

SINFONIA/ ΣΥΜΦΩΝIΑ

Porquê este título para as notas de programa sobre três peças, duas do classicismo e uma do modernismo,
que abrangem um intervalo de 150 anos (entre 1795 e 1951), embora os três autores distem quase 200
anos (nascidos entre 1732 a 1924)?
O que as une, em primeiro lugar, é serem obras que soam bem e são realizadas por um conjunto alargado
de instrumentos!
Isso conduz-nos à génese grega da palavra Sinfonia: συμφωνία/ ΣΥΜΦΩΝIΑ, que significa “sons juntos”,
[συμ = Syn] e [φωνία = Phonia],
O termo passa para o latim Symphonia – syn, "juntos" e phonia, "som, soar" -, utilizado na Idade Média e
Renascimento. Em peças musicais, a palavra surge na transição para o Barroco: Giovanni Gabrieli (Sacrae
symphoniae, 1597) ou Heinrich Schütz (Symphoniae sacrae, 1629), sendo esta obra para vozes e
instrumentos.
No século XVII, o termo Sinfonia é aplicada a movimentos introdutórios de óperas (Sinfonia avanti l'opera),
oratórios, cantatas (também com o nome Abertura) e aos primeiros andamentos de peças instrumentais.
Temos assim o fio condutor deste concerto, se nos permitirmos imaginar outros títulos para as três obras a
ouvir: assim, começamos com uma Sinfonia avanti l'opera de Cherubini, prosseguimos com uma Sinfonia
para Cordas de Joly Braga Santos e terminamos com a última Sinfonia de Haydn.

Abertura de L ́Hôtellerie Portugaise (1798) - Luigi Cherubini (Florença, 1760 - Paris, 1842)

Cherubini tem um percurso de vida semelhante a Lully (1632-1687). Separados por mais de cem anos, um
barroco e outro clássico, em contrapartida ambos nascem em Florença e vão para o estrangeiro, ambos
fazem a sua carreira musical em França e morrem em Paris, ambos têm imensa influência na música
francesa, em particular na ópera.
Cherubini viveu os anos agitados do fim da monarquia absoluta e da revolução, da ascensão e queda de
Napoleão, da restauração da monarquia constitucional em 1815.
Foi o 3º diretor (1822-42) do Conservatório de Música de Paris, com uma notável ação pedagógica: a
obrigação de abrir vagas para dois alunos estrangeiros em cada instrumento; e a fundação da Société de
Concerts du Conservatoire.
As suas óperas têm influência da reforma de Gluck e revelam-se imaginativas na instrumentação,
expressivas na harmonia e criativas na estrutura dramática, de que são exemplos La finta Principessa
(Londres, 1785), Médée (Paris, 1797) ou Les deux Journées (1800). Mais do que a suas óperas, Cherubini
tem influência significativa no romantismo através das suas aberturas de ópera.

L’Hôtellerie Portugaise (A Pousada Portuguesa), com libreto em francês de Étienne Aignan, foi composta
e estreada em 1798 no Théâtre Feydeau de Paris, antecessor da Opéra Comique, onde trabalhou muitas
vezes. Tem apenas um ato e foi abandonada após poucas apresentações sem sucesso, embora recebesse
alguns elogios à abertura, referida como tendo “caráter espanhol”. Mais tarde a ópera teve sucesso na
Alemanha, e já no séc. XX na Itália, entre 1941 e 1953, com libreto italiano.
A história ocorre numa povoação portuguesa em 1640. Gabriella, com a ajuda da criada Inês, quer alcançar
o seu amado Don Carlos em Lisboa. Perseguidas pelo tutor de Gabriella, Don Roselbo, que também a ama,
param numa pousada, onde Don Roselbo e Don Carlos também se hospedam, acompanhados pelo
escudeiro Pedrillo. O proprietário da pousada, Rodrigo, convence-se que Gabriella é a esposa do vigário
espanhol expulso de Lisboa após um motim, e decide protegê-la. Depois de muitas peripécias, os dois
jovens podem reunir-se, e tudo termina em bem.
A abertura, a mais longa das que Cherubini escreveu, ilustra bem a sua capacidade inventiva. Dividida em
duas partes, inicia-se com um Larghetto muito dramático e expressivo, com grande relevo para as cordas
numa elaborada fuga a 5 partes.
Num segundo momento, irrompe um extenso Allegro Spiritoso, vivo, pleno de contrastes instrumentais.
Na sua parte final, há um verdadeiro “crescendo rossiniano”, o processo musical de repetir sucessivamente
uma pequena frase musical, de acentuado caráter rítmico, acompanhado de um aumento de intensidade e
de instrumentação, que culmina num grande clímax. Rossini (1792-1868) ainda era criança, mas este
expressivo processo musical que ficará conhecido com o seu nome termina efusivamente esta abertura.

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