Você está na página 1de 32

Detecção e Orientação do Talento Esportivo

PROF DR JOSÉ FERNANDES FILHO


UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO – RJ
12.1 ASPECTO ATUAL DO PROBLEMA
A situação contemporânea no campo do conhecimento científico condiciona a necessidade
de estudo multiforme da pessoa – leis de sua formação e desenvolvimento, suas capacidades
e propriedades. A lei de colocação de novas tarefas surge da necessidade qualitativa de
novas exigências, que nascem no processo prático social, de diferentes esferas de produção,
saúde pública, cultura etc. A atualidade dos problemas que surgem é muito sensível no
esporte. A prática da cultura física e do esporte implica nas exigências elevadas das
capacidades, físicas, psicológicas, emocionais e de outras qualidades de uma pessoa. É no
esporte de alto nível que ocorre a revelação das capacidades de reserva, o que permite
conhecer as mudanças das propriedades biológicas do organismo.
Os êxitos da genética geral e médica, a bioquímica, a citologia, a antropologia, bem como
alguns dados obtidos através de pesquisas biológicas no esporte, exigem o desenvolvimento
das particularidades morfológicas, anátomo-funcionais, psíquicas e outras características do
organismo, determinadas geneticamente, em altos ou pequenos níveis de rendimento. A
formação e o funcionamento do subsistema do organismo são realizados e controlados pela
parte específica do genoma (poli ou olicogenes), onde se torna evidente que nem todo
indivíduo possui o conjunto único dos genes (ou seja, o potencial genético), que poderiam,
certamente, assegurar os altos resultados após o devido treinamento.
O resultado esportivo depende de muitos fatores: das particularidades psíquicas,
morfológicas, funcionais e anátomo-fisiológicas, geneticamente determinadas; do nível da
preparação física especial e tática, de capacidades volitivas morais; da qualificação do
treinador e de outras condições paratípicas, que dependem de uma forte interação destes
fatores para que se possa obter bons níveis de resultados. Independentemente do talento
esportivo de uma pessoa, fica muito difícil a obtenção de altos resultados sem que o processo
de treinamento esteja bem organizado. Além disso, a atividade motora geneticamente
condicionada e o estado adequado dos sistemas vegetativos, não será possível a obtenção de
altos resultados, na própria atividade esportiva ou no treino. Este ponto de vista sustenta a
necessidade da determinação de critérios e objetivos de avaliação das capacidades de cada
homem (saúde ou doença), juntamente com o estabelecimento de cargas físicas e a
perspectiva da prática de exercícios físicos ou de esportes. Esta posição pode ser levada em
conta, tanto para a orientação e seleção em escolas esportivas, como para alcançar altos
índices de resultados individuais.
Um outro problema de grande importância é o aspecto médico-biológico ligado ao esporte
de alta competitividade. Será que um esportista que apresenta um alto resultado é mais
resistente às doenças em comparação com o indivíduo destreinado, ou este alto resultado
caracteriza apenas a representação qualitativa e quantitativa das formas motora, física e
outras do talento esportivo? As respostas teriam importância teórica e prática, principalmente
para a seleção e a orientação esportiva.
As capacidades morfológicas, fisiológicas e psíquicas demonstram as alterações genéticas;
assim, a realização da atividade esportiva será limitada pela reação geneticamente
condicionada. O lugar das pesquisas genéticas na estrutura dos problemas médico -biológicos,
pode ser definido como:

• seleção dos indivíduos que possuírem as chamadas “capacidades esportivas”;


• orientação pelas modalidades esportivas;
• prognóstico dos êxitos desportivos e índices morfológicos-funcionais definitivos de
uma pessoa na ontogenia pós-natal;
• herança dos índices fisiológicos mais importantes para o esporte.
Embora a idéia de que “capacidade motora” coincide, de forma freqüente, com as
capacidades psicomotoras, o êxito das atividades está ligada a modalidades cuja base é a
dinâmica. Ao serem notados esses indícios, funções ou capacidades do organismo como
resultado final de interações genéticas complexas, ontogênicas e fatores ambientais, torna-se
necessário prestar muita atenção no papel da instabilidade da hereditariedade dos
interessados.
Situando a capacidade esportiva como uma das manifestações indicativas e
extraordinárias da genética, ela se tornam significativamente importante para dadas
modalidades esportivas e partes do organismo (particularidade funcional morfológica e
parâmetros da atividade motora, assim como carga física adequada e condição do sistema
vegetativo do organismo).

12.2 GENÉTICA NO ESPORTE


A prática comprova que em todas as modalidades esportivas realizam-se seleções
intensivas de indivíduos que possuem os índices específicos como os morfológicos-funcionais
e psico-fisiológicos, que poderiam assegurar um resultado em nível de recordes. Mas, na
infância e na juventude essa seleção tem um caráter espontâneo, tornando-se prerrogativa da
intuição do treinador. De acordo com as exigências contemporâneas (crescimento dos
recordes, aumento das rupturas dos resultados entre o desporto de massa e o desporto de
alta competitividade, “renovação e rejuvenescimento” das seleções nacionais, das equipes e
de outras) todas ocorridas com a idade mais avançada de seus atletas, torna-se necessário
um sistema de seleção cientificamente fundamentado; uma boa orientação e o prognóstico
dos êxitos esportivos. Apesar da efetividade das inúmeras atividades de investigação já
realizadas, estes parâmetros ainda não são suficientes. De acordo com Nikitiuk (1984), os
métodos modernos de seleção “por fenótipo” não são capazes de revelar a hereditariedade do
talento dos esportistas de alta qualidade, isto é, através do “fenótipo” torna-se difícil a
determinação das características genéticas dos indivíduos, já que ele trata da manifestação da
ação do “genótipo” e pode sofrer influências externas.
Segundo Fraser e Nora (1988), “genótipos” idênticos em meios diferentes podem ser
acompanhados de manifestações fenotípicas diferentes.

Fenótipo = Genótipo + Influências do Meio

Além disso, entre os índices das capacidades utilizadas, aplicam-se, com bastante
freqüência, outras características morfológicas, vários parâmetros da atividade motora e
alguns índices fisiológicos de resistência à sobrecargas. Entretanto esses indícios não
extinguem todas as propriedades hereditárias que condicionam as qualidades e propriedades
do organismo – que tem um papel importante na formação das qualidades – para alcançar
altos resultados. Apesar da grande variedade das publicações, as questões sobre a natureza
das manifestações morfológicas, químicas, psíquicas e outras do organismo, que finalmente
determinam os talentos esportivos ainda ficam em aberto, pois, com base nos dados
genealógicos, manifestam-se as superposições sobre o tipo dominante de talento esportivo.
Nesse caso, a função “extraordinariedade” deverá ser controlada só por um gene, que se
manifesta pelos indícios característicos de hereditariedade de Mendel, e desta maneira
apresenta propriedades qualitativas particulares, diferentes da maioria dos indivíduos da
população.
Após realizar diversos estudos e pesquisas, Mendel (1884), citado por Sores (1993, p. 270)
chama a atenção para alguns fatos como: “A existência dos fatores hereditários nas células,
os quais seriam transmissíveis de ascendentes a descendentes através dos gametas”.
Com base nas observações e conclusões dos estudos sobre a genética, cientistas e
estudiosos deste ramo puderam dar continuidade as pesquisas, permitindo assim, que se
tenha, atualmente, uma visão mais aprofundada e detalhada sobre a questão da
hereditariedade.

12.2.1 A Utilização do Parâmetro


Dermatoglífico
A Dermatoglifia – do latim, dermo (pele) e do grego, glypha, (gravar) – é um termo
proposto por Cummins e Midlo. Foi introduzido na 42ª Sessão Anual da Associação
Americana de Anátomos, realizada em abril de 1926. Recebeu a classificação de método, no
ramo da ciência médica, do estudo do relevo. Vucetich chamou-a “datiloscopia” –, do grego,
daktilos, (dedos), e skpoein, (examinar).
Desde a Antigüidade, o homem voltava a sua atenção para a identificação. Talvez aquela
curiosidade explique certas marcas nas paredes das cavernas e em alguns tipos de objetos
pré-históricos. Com o avançar da História, o processo de identificação foi evoluindo: surgiram
elementos especiais e signos próprios, não só para demarcar a posse de peças materiais,
mas, também, com o objetivo de separar pessoas, classes sociais, tipos de trabalho,
qualificações positivas ou negativas, em geral, deste ou daquele sujeito – o malfeitor, o
escravo, o poderoso.
No final do século passado, em busca de um processo ideal de identificação, cientistas
brilhantes, como Galton, Potticher, Feré, Bertillon e Vucetich, nas áreas sociais, na medicina
legal, na antropologia, e nas ciências afins, viram-se coroados de êxitos:

• Em 1891, foi descoberto um processo de identificação denominado “iconofalangometria”.


O termo se origina do grego, iknos (sinal), falangos, (falange), metria, (medir).
• Vucetich, três anos mais tarde, concordando com as considerações do Dr. Francisco
Latzina, também reconhecido estudioso no assunto, mudou o nome para “datiloscopia”,
atual denominação deste ramo da ciência médica.
• Vucetich, verificou, ainda que, os desenhos formados pelas digito-papilares na face
interna da falangeta dos dedos, de ambas as mãos, diferenciavam cada ser humano de
seu semelhante. Daí, deduz-se o pressuposto seguro para uma perfeita identificação dos
indivíduos, sem possibilidade de erros ou dúvidas: não existe um centímetro quadrado,
perfeitamente igual, entre as impressões digitais de duas pessoas. Tornaram-se estas
impressões, por conseqüência, uma marca incontestável ligada ao genótipo do indivíduo.

A datiloscopia, reconhecida como ramo da ciência, graças à sua segurança absoluta, é


aplicada a vários setores da atividade humana; obteve, pois, o status de prescrição, como o
de previsão comprovados por meio de sua eficiência, ao longo dos anos.
A datiloscopia se apóia na qualidade das figuras papilares; o seu valor de identificação é
fornecido pelos seguintes fatores:

• Variabilidade: infinita, se considerar o número inimaginável de combinações;


• Imutabilidade: garantida, no campo da dermapapiloscopia. Galton, Herschell e Wecker
notaram que as figuras papilares não se modificam nos mínimos detalhes, durante todo o
período da vida;
• Inalterabilidade: em princípio são mantidas as figuras papilares, embora investigações
admitam que as mesmas sofrem danos, mais ou menos extensos, de forma a alterar-lhes
a fisionomia, ou a destruí-las; por este motivo, deve-se observar, quando da identificação
de certos indivíduos, a integridade da pele, pequenas cicatrizes, cicatrizes deformadoras,
anomalias congênitas ou acidentais, ausência de cristas, e de falanges;
• Individualidade: todos os indivíduos possuem desenhos próprios e individuais;
• Imitabilidade: ao se supor a construção de moldes de impressões digitais, haveria sempre
a necessidade de dedos para tal façanha; conclusões de estudos demonstram que, em
caso de farsa, esta se revelaria perante uma simples perícia.

12.2.1.1 A aplicabilidade para o desporto


Nos eventos desportivos, a preocupação com os resultados parece ser tão importante
quanto a possibilidade deles. A tarefa da seleção e da orientação esportiva precoce de
crianças e adolescentes com base no crescimento impetuoso do nível de resultados e a
extraordinária agudeza da concorrência esportiva é uma das condições de otimização da
preparação esportiva.
A utilização do conhecimento prévio das capacidades e tendências genéticas, aliada, à
contribuição fenotípica, pode contribuir, não exclusivamente para a determinação do talento,
mas, também, com bastante probabilidade, para o seu desenvolvimento.
A observação e a determinação de parâmetros ideais, pretendendo esta ou aquela
modalidade, não são um estereótipo de exclusão por meio de um perfil de características
comuns; constitui, ao contrário, a premência em atender às exigências de cada esporte com
suas particularidades. Ser um atleta, segundo os autores citados, nesta revisão, não é ter uma
predisposição comum a todos os indivíduos, mas sim à minoria. Além disso, dentro desta
minoria, o fator oportunidade, desempenha um papel fundamental.
A utilização das marcas genéticas na seleção prognóstica esportiva permite, com um alto
grau de probabilidade na etapa precoce da orientação e da seleção esportiva inicial,
selecionar 2-3% de crianças da população dotadas de capacidade para o desenvolvimento
máximo, de tal ou qual, manifestação funcional.
O modelo de impressões digitais (ID) leva a se escolher, mais adequadamente, a
especialização no esporte, com a perspectiva de otimização quanto ao treinamento
individualizado e personalizado. Tal pressuposto é um excelente modo que as equipes
dispõem, a fim de se especificar a posição dos desportistas durante o jogo, conhecendo-se,
de antemão, a sua performance. Agindo desta maneira, será conquistado não só um efetivo
rendimento esportivo, mas, também, e com ênfase, a economia de esforços, de tempo e de
dinheiro.
Portanto, objetivando a previsão de seu desempenho bem qualificado em todos os níveis, o
primeiro passo vem conectado à datiloscopia, por meio da coleta das I. D.
Weineck (1999, p.116) verifica que a identificação e o incentivo ao talento são um
constructo de passos; citando, mais uma vez Joch (1992), observa que os estudos sinalizam
para o conceito de um processo dinâmico em que:

• haja uma relação entre o desempenho inicial e o final;


• o treinamento, em sua essência, necessita de diferenciação;
• o cuidado com a otimização das potencialidades deve remanescer;
• a canalização excessiva ou a especialização devem ser cuidadas;
• a precocidade, versus momento ideal, seja observada;
• o envolvimento da sociedade atue como interveniência;
• a determinação do perfil do talento atue entre outros requisitos.
Tais itens apontariam e sinalizariam a existência de variáveis que, em muito, viriam a
interferir no próprio processo.
Ao dispor de uma metodologia de marcas genéticas, se evidenciaria a ausência destas
variáveis intervenientes, mas a otimização de um processo, que aumentaria a certeza em se
manter sob mira indivíduos, já com uma prédisposição genética, para esta ou aquela
modalidade, ou para provas desportivas.
As ID são definidas entre o terceiro e o sexto mês de vida fetal, junto ao sistema nervoso
do estrato blastogênico do ectoderma. As ID não se alteram durante toda a vida e incluem o
tipo de desenho; a quantidade de linhas nos dedos das mãos (a quantidade de cristas dentro
do desenho); a complexidade sumária dos desenhos e a quantidade total de linhas.
Quanto às capacidades físicas, a seleção dos esportistas, para as diferentes modalidades
de jogos, apóia-se nas respectivas capacidades de resolver tarefas motoras, de caráter
técnico-tático, de maneira eficiente. Esta eficiência pode ligar-se a características de
resistência, de velocidade, de força e de agilidade, frente a fatores psíquicos estáveis e a
índices somatotípicos adequados.
A maioria dos autores distingue três grupos de desenhos: arco (A), presilha (L), e,
juntamente, verticilo e o S-desenho (W). A forma dos desenhos constitui em uma
característica qualitativa.
A quantidade de linhas (QL) é a somatória da quantidade total de linhas (SQTL).
A quantidade de cristas cutâneas, dentro do desenho, representa a característica
quantitativa.
A avaliação da intensidade dos desenhos efetua-se, inicialmente, na presença dos deltas,
calculando-se o índice de deltas (D10) que pode ser, no mínimo “0” e no máximo “20”; o valor
de “zero” aparece porque A representa o desenho, sem deltas; a L, o desenho de um delta; o
W, os desenhos de dois deltas. Para tabulação dos dados é de praxe usar a seguinte
classificação: o A é “0”, a L é “1”, e o W é “2”. Conclui-se que o desenho mais simples é o A,
e, o mais complexo, o W (Abramova e col., 1996).
O esquema melhor alicerçado, referente à filogênese dos desenhos digitais, pressupõe a
sua formação na seguinte seqüência: as cristas longitudinais, no campo livre, observando-se o
A; o W, ou, paralelamente, o A-W. Como resultado das mutações do A e do W, surge a L.
Entre os anos 1970 -1980, apareceram os trabalhos de Nikitiuk e de seus alunos, dedicados
aos problemas das I D, não só na teoria e na prática da seleção esportiva, mas também, na
individualização do preparo de atletas. Alguns itens destes estudos são:

• Guba e Tchernova, em 1995, expuseram que a complexidade dos desenhos indica


marcas de prognóstico de compleição definitiva, e o aumento da quantidade de linhas, ao
contrário, reporta o desenvolvimento das qualidades de velocidade e de força;
• Arutiohian (1988), comenta que a estabilidade estática se correlaciona com a pouca
quantidade de linhas e com a baixa intensidade de desenhos;

No Brasil trabalhos recentes, de Medina (2000), Dantas, Badine, Angelo Rodrigues e


Fernandes Filho (2000); Dantas, Badine e Fernandes Filho (2000), Dantas, Castanhede e
Fernandes Filho (2001), Dantas (2001) e Dantas e Fernandes Filho (2002), fazem alusão à
importância da identificação dos aspectos de dermatoglifia e qualidades físicas básicas em
corroboração aos protocolos de avaliação e metodologia de treinamento no desporto de alto
rendimento.

• Colobeba e Tcherkazov (sd.) notam a correlação de componentes da memória motora


com o tipo dos desenhos: componente visual - L; proprioceptivo motor - W;
• Chuartz e Alekceev (1988), comprovam a ligação da quantidade de linhas e o VO2
máximo, apenas nos grupos femininos, refletindo indiretamente a correlação da
complexidade de desenhos e da resistência.

Ao se analisarem as ID, entre os representantes, altamente qualificados, de diversos


grupos de modalidades esportivas e de diversas posições, revelaram-se certas tendências nas
correlações dos índices integrais das ID, específicas das diferentes modalidades esportivas
(Abramova e col., 1995).
O baixo nível de D10, o aumento da parcela de desenhos simples (A, L), e a diminuição da
parcela de desenhos complicados (W, S), o aumento SQTL, todos são próprios das
modalidades esportivas, com alta potência e tempo curto de realização. O alto nível de D10, a
falta de arco (A), o aumento da parcela de W, e o aumento da SQTL caracterizam
modalidades esportivas e as diferenças em grupos de resistência de velocidade. Nas
modalidades de jogos, ocorre a mesma tendência .
As modalidades de esporte, de velocidade e de força inserem-se no campo de valores
baixos de D10 e do SQTL; em modalidades, com a propriocepção complexa, no campo de
valores altos; grupos de esportes de resistência que ocupam a posição intermediária.
Os autores indicam, em todas as modalidades de jogos, a mesma tendência: as
dificuldades das funções no jogo. A ampliação do campo de atividades do jogo conjuga-se à
complexidade dos desenhos digitais com o aumento de D10.
A quantidade de linhas conjuga-se com o aumento da percentagem de incidência de
desenhos (W, S), com a redução da percentagem de incidência de L, e com o
desaparecimento do A.
Assim, pode-se dizer que as ID, como marcas genéticas, funcionam como indicadores das
qualidades físicas básicas; elas diferenciam, não só a dominante funcional e a modalidade
esportiva, mas também, a sua especialização, nesta modalidade, – as posições, por exemplo.
Esses dados foram obtidos a partir da inserção do material levantado sobre esportes na
Rússia, Ucraniana, Bielorrussia e Cuba e, em menor parte da população do Cáucaso. As
estimativas coletadas em nosso país constituíram valioso material sobre o tema, e teriam,
certamente, a imediata aplicação, adequando-se, este método, à propriedade do estudo,.
Reiterando-se o afirmado, as ID representam marcas genéticas universais; abrem amplas
possibilidades de diagnósticos, e constituiem, inclusive, em marcas informativas organização e
seleção esportiova. Ao mesmo tempo, elas revelam uma elevad a carga étnica e populacional.
Devido ao exposto, é necessário de salientar o quanto seria oportuno e conveniente
estudar, mais detidamente as particularidades das ID, de esportistas brasileiros, nas
modalidades de jogos e de lutas mais cultivados no Brasil.
Infere-se, pois, que a dermatoglifia, na área esportiva, sustenta-se por diversos autores que
em seus estudos demonstram que:

• os índices, quantitativos e qualitativos, dos desenhos das ID, com o respaldo dos autores
referidos, são marcas informativas e objetivas da orientação e da seleção esportiva
(FERNANDES FILHO, 1997);
• as ID sofrem alterações e mudanças nos índices dermatoglíficos, de acordo com
diferentes níveis de qualificação esportiva (Abramova e col., 1996);
• elas revelam-se em suas características;
• se permite formar um esquema de princípios da dermatoglifia, associando-a às
manifestações funcionais: resistência, velocidade, coordenação, força e atividades
cíclicas (Abramova e col., 1992).
12.3 POTENCIALIDADES DESPORTIVAS DE CRIANÇAS
O problema das potencialidades pode ser resolvido, por enquanto, no aspecto psicológico-
pedagógico. Os psicólogos Teplov (1961), Leontiv (1977), Platonov (1988) dedicaram suas
obras aos estudos teóricos desse tema: o estudo das potencialidades das propriedades psico-
fisiológicas individuais de uma pessoa que permite realizar qualquer tipo de atividade.
Segundo Teplov (1961), para a determinação de um potencial deve ser considerado que:

• as potencialidades incluem particularidades psicológicas, que diferem de uma pessoa


para outra;
• as particularidades individuais, em geral, não bastam, e sim aquelas que asseguram o
êxito de atividade específica;
• as particularidades psicológicas, sendo a base de uma potencialidade, não poderão ser
associadas aos conhecimentos;
• uma atividade bem sucedida não determinada por uma capacidade, mas sim, pelo
conjunto e pela combinação específica das capacidades.

O termo “talento” é entendido como uma combinação específica das capacidades.


Segundo Teplov (1961), o talento não predetermina o êxito mas, sim a condição de sua
realização. Na psicologia, o problema das potencialidades é estudado junto com o problema
do indivíduo. Isso é muito importante, pois o essencial das potencialidades poderá ser
entendido, no caso de serem analisadas, em relação ao indivíduo. As potencialidades de um
indivíduo são as capacidades de uma pessoa, socialmente determinada. Ao analisar as
potencialidades, é recomendado considerar as características pessoais, bem como as
propriedades emocionais e evolutivas. Para esta análise é muito importante definir sua
estrutura. Na psicologia, deverão ser determinados os seguintes componentes estruturais das
capacidades: o geral, a caracterizar as qualidades próprias para todas as pessoas; o especial,
a incluir a atividade específica; o individual, a ser caracterizado pelas capacidades especiais
próprias do indivíduo. Tal estrutura foi analisada, na psicologia, em algumas obras: Teplov
(1961) capacidades musicais; Platonov (1986) de vôo; Krutetski (1972) pedagógicas e
artísticas; Radionov (1973) técnicas esportivas.
A capacidade de organizar atividades pode ser caracterizada pelas seguintes qualidades e
características de personalidade:

• a capacidade de ativar outras pessoas;


• inteligência prática e psicologia, para assegurar o clima, no qual o homem utiliza suas
capacidades da melhor maneira;
• capacidade de entender a psicologia das pessoas;
• avaliação crítica das atividades de outras pessoas;
• capacidade de poder manter contato com outras pessoas, em conformidade com o fato
psicológico;
• nível geral de inteligência, que surge, em particular, na multiformidade e na perspicácia;
• iniciativa;
• nível de exigência com outras pessoas;
• tendências a atividades organizacionais;
• praticidade – capacidade de utilizar rapidamente suas experiências e conhecimentos para
realizar tarefas práticas;
• individualidade;
• espírito de observação;
• domínio de si, ou seja, auto-domínio;
• sociabilidade;
• estabilidade;
• atividade pessoal;
• capacidade de trabalho;
• organização.

Para a avaliação das capacidades desportivas é recomendável diferenciar três níveis de


desenvolvimento das capacidades: (1) as capacidades gerais (condições gerais): boa saúde,
desenvolvimento físico normal, laboriosidade, persistência, interesses; (2) elementos gerais
das capacidades desportivas: domínio rápido da técnica desportiva, boa adaptação aos
esforços, recuperação bem sucedida após a carga; (3) elementos especiais das capacidades
desportivas: alto nível de desenvolvimento das capacidades especiais, crescimento rápido dos
resultados desportivos etc.
Em cada modalidade desportiva, a estrutura psicológica das capacidades não é igual. Nas
cíclicas, é muito importante a estabilidade das diferenciações musculares, a sensação do
ritmo, a capacidade de avaliação correta do estado funcional. Nos jogos e lutas, as
capacidades psíquicas são primordiais (Radionov,1973). O principal defeito das estruturas de
capacidades mencionadas consiste em sua esquematização e um dos postulados principais
da psicologia de talentos é a afirmação que capacidades não são inatas e se desenvolvem no
processo de atividade (Teplov, 1973). As congênitas (inatas), são as capacidades anátomo-
fisiológicas, isto é, as tendências constituem o fundamento básico de desenvolvimento das
capacidades; as próprias capacidades são resultado do desenvolvimento. Sendo assim, as
capacidades não são invariáveis, elas se formam, e se manifestam na atividade. De um lado,
a atividade é a base de desenvolvimento das capacidades, de outro, as capacidades a
desenvolver enriquecerão a atividade.
Os pesquisadores interpretam o termo “inclinações inatas de desenvolvimento” de
maneiras diferentes Teplov (1961) considera as inclinações às propriedades anátomo-
fisiológicas como sendo a base de desenvolvimento das capacidades. Ao mesmo tempo, é
constatado que as “capacidades se formam, conforme as leis específicas, psicológicas, e não
dependem das propriedades do sistema nervoso”. Já Leontiev (1977) considera as inclinações
as particularidades anátomo-fisiológicas e afirma que o termo “inclinações” não é categoria
psicológica. Atualmente, é dominante a afirmação que as “inclinações” inatas não deverão ser
consideradas anátomo-fisiológicas mas, sim, as particularidades psíquicas nervosas.
Nas apresentações sobre as inclinações naturais, as alterações de terminologias
semelhantes não apresentam clareza. Primeiro, existem atividades (por exemplo, desportivas)
em que as particularidades anatômicas (morfológicas) têm um papel importante, segundo a
nova terminologia, e não nos permite chegar a um entendimento das capacidades naturais.
Desse modo, as inclinações inatas são questionadas, e necessitam de nova interpretação no
atual nível contemporâneo do conhecimento da genética.
O problema das capacidades é o problema das diferenças entre as pessoas. A base
fisiológica das diferenças individuais é o estudo de Pavlov (1961) sobre as propriedades dos
processos nervosos e de tipos da atividade nervosa superior. É muito importante citar as
propriedades dos processos nervosos: força de excitação e inibição, sem equilíbrio e
flexibilidade. Devido a isso, existem quatro tipos da atividade nervosa superior: (1) forte,
equilibrado, com mudança rápida dos processos nervosos, isto é, de sua flexibilidade alta; (2)
forte, mas não é equilibrado, com predominância dos processos de excitação; (3) forte,
equilibrado, mas de baixa flexibilidade dos processos nervosos – tipo “calmo”; (4) fraco, a ser
caracterizado pelo desenvolvimento fraco, tanto dos processos nervosos de excitação, como
de inibição. Ao mesmo tempo, propõem-se outras combinações do sistema nervoso e a
existência de atividades nervosas intermediárias.
Para entender a capacidade natural, é importante saber que as propriedades do sistema
nervoso, por si, não predeterminam o desenvolvimento das capacidades. Estas podem servir
somente como fundo e, em alguns casos, facilitam a formação das mesmas, e em outros,
constituem fatores de contenção.
Ao analisarmos as capacidades como reguladoras da atividade, é preciso determinar os
índices para regulação. Um dos índices básicos das capacidades é a facilidade de
aprendizado de uma nova atividade. No esporte, um dos traços do “talento motor” é a
capacidade de decorar, rapidamente, a técnica de execução de elementos complicados.
Se o esportista aprender um determinado tipo de exercício, rapidamente, e com perfeição,
certamente, terá condição de repeti-lo no futuro, como se fosse algo que tivera aprendido há
muito tempo. Nesta mesma linha de pensamento, esta idéia é, assim, desenvolvida: “treinar
não é obrigatório; o importante é realizar o exercício de imediato”.
A facilidade de aprendizado é determinada pela capacidade do indivíduo à totalização. Do
ponto de vista psicológico, de atividade mental, essa propriedade permite a aproximarção de
objetos concretos e de fenômenos, dando possibilidades de observá -los de vários ângulos. Ao
alcançar-se um nível de desenvolvimento satisfatório, é possível transportar essa propriedade
de uma atividade para outra: uma capacidade de totalização permitirá, também, explicar a
formação acelerada da habilidade motora. As aptidões dos esportistas estão caracterizadas,
mediante o alto desenvolvimento das capacidades de totalização que permite “reduzir” vários
elementos do movimento e assegura a totalização e o aprendizado rápido das habilidades
motoras, no geral. O problema de desenvolvimento das capacidades visa à consideração das
particularidades etárias: desenvolvimento físico, mudanças funcionais e psíquicas. Neste
caso, é importante considerar as correlações entre o nível de desenvolvimento das
capacidades e as capacidades funcionais do indivíduo. Em se tratando de crianças, a
passagem de uma faixa etária à seguinte significa uma nova etapa qualitativa, de formação do
organismo, pois trocam-se as premissas internas do desenvolvimento. Elas se alteram em
cada etapa, em particular no “clima psicológico de formação das capacidades”.
É constatado que, muitas vezes, a manifestação precoce das capacidades perturba o
desenvolvimento harmonioso do indivíduo. Por isso, junto ao desenvolvimento das
capacidades, a formação do indivíduo, tem uma importância especial, pois a capacidade é um
dos componentes de sua estrutura. As questões sobre as premissas naturais da capacidade
constituem o elo de fragilidade dos problemas de capacidades. Do ponto de vista da ciência
contemporânea, as inclinações inatas são o objeto de estudo da ciência sobre a
hereditariedade genética, que identifica códigos genéticos e de mutabilidade do ser humano.

12.3.1 Influências Genéticas e Ambientais Sobre o Desenvolvimento das


Capacidades Esportivas
Para entender a capacidade desportiva, é importante o papel da hereditariedade e do meio
ambiente. Existe a noção de que o homem, ao nascer, é “tabula rasa”, na qual a natureza, a
educação, o treinamento, podem “escrever” tudo quanto queiram; a assimilação do
conhecimento dependerá do método de ensinamento, da experiência do pedagogo ou do
treinador. Outras afirmações contrárias evidenciam que os fatores hereditários por si só
causam o desenvolvimento de todas as atividades do homem. Atualmente é reconhecido que
sem as características inatas é difícil conseguir os melhores resultados. As inclinações inatas
poderão ser desenvolvidas até o máximo nível, apenas no caso das condições se adequarem
ao meio ambiente. O próprio êxito não depende do ensino racional e do treinamento da
inclinação inata, é apenas uma das probabilidades.
O desenvolvimento de uma pessoa é o resultado da interação da hereditariedade com o
ambiente porque a influência dos fatores de hereditariedade e do ambiente sobre o
desenvolvimento de certos indícios não é igual. Uns indícios são sujeitos à ação do genótipo;
os outros, aos do meio ambiente. O estudo do grau de influência da hereditariedade e do
ambiente é o objetivo importante da característica genética de uma pessoa.
As leis gerais de hereditariedade, que são estabelecidas entre animais, vegetais e microor -
ganismos, estendem-se, também, ao homem. Isso mais uma vez testemunha a unidade
biológica do homem com todo o mundo orgânico. As moléculas do DNA, cujo núcleo das
células está composto pela concentração de cromossomos, servem de portadores efetivos de
hereditariedade, nos diferentes níveis de organização de vida. A unidade de hereditariedade é
o gene. No homem, 46 cromossomos (23 pares) abrigam genes onde se concentram todas as
informações sobre a hereditariedade. Graças à criação de uma linguagem bem articulada e de
qualidade, o homem diferencia-se de seus antepassados, apesar da comunidade e da união
com a natureza. O homem não só se identifica por suas particularidades biológicas, como
também, constitui um ser social, como membro de uma determinada sociedade.
Para o melhor entendimento da correlação do ambiente e da hereditariedade, é muito
importante levar em consideração que o progresso do ser humano, como a criatura social, não
é determinado, apenas pela hereditariedade. A hereditariedade biológica, relacionada com a
transmissão das estruturas genéticas, indica que o homem possui uma continuidade social a
ser transmitida por meio da educação.
As particularidades do homem, como ser social, excluem o uso de métodos de
investigação, usados de maneira satisfatória, no estudo da hereditariedade de uma planta e
dos animais. Ao mesmo tempo, foi criada uma ciência, falsa-eugênia, cuja tarefa era de
melhorar a hereditariedade na geração humana. Os eugênios basearam-se em métodos
utilizados da seleção de animais, que propõem trocar as bases genéticas da humanidade.
Essas experiências foram profundamente utilizadas pelos fascistas, como fundamento às suas
idéias loucas sobre a hegemonia de uma raça.
Atualmente, considerando-se as particularidades biológicas e sociais de uma pessoa, é
elaborada, e amplamente usada, uma série de métodos de estudo sobre a hereditariedade de
uma pessoa.

12.3.1.1 Método de Gêmeos


Os gêmeos são subdivididos em homozigóticos e heterozigóticos. O essencial do estudo
do grau de influência da hereditariedade e do ambiente, pelo método de gêmeos, consiste no
seguinte: se o indício do organismo a ser estudado depender da hereditariedade, os
homozigotos serão muito parecidos. Ao contrário, quanto mais os indícios dependem do meio
ambiente, maior será a diferença entre eles. Isso é explicado pelo fato dessa categoria de
gêmeos, os homozigotos, possuir o genótipo que é semelhante a qualquer mudança, e
quaisquer mudanças entre eles serão o resultado da influência do meio ambiente. As maiores
diferenças entre os gêmeos acontecem quando eles se educam em condições diferentes, ou
se forem sujeitos a fatores desiguais no treinamento. Por exemplo, um gêmeo é treinado mas
o outro, não. Sendo assim, a diferença entre homozigotos que crescerem juntos, e os
homozigotos que crescerem separados, em condições diferentes, é determinada pela
influência dos fatores exteriores. Na maioria dos casos, os homozigotos educam-se em
condições iguais; por isso, a semelhança entre eles poderá ser explicada pelas condições
idênticas exteriores. A diferença entre homozigotos e dizigotos, crescidos em condições
semelhantes, é determinada pela ação dos fatores genéticos. Quanto maiores forem as
diferenças, mais dependerá o dado que representa o indício da hereditariedade. A
comparação de três tipos de gêmeos (Quadro I) permitirá identificar o grau de influência da
hereditariedade e do ambiente no desenvolvimento de certos indícios do organismo. Para a
característica da parcela dos fatores genéticos deverá ser definido o chamado índice
Holtsinger (H):
H = Tos – Tps
1 – Tps ,
onde: H: – índice Holtsinger;
Tos: – coeficiente de correlação entre os homozigotos;
Tps: – coeficiente de correlação entre os dizigotos.

QUADRO I
INFLUÊNCIA DO GENÓTIPO E DO FENÓTIPO.

GÊMEOS HEREDITARIEDADE MEIO AMBIENTE

Dizigotos, crescidos juntos Diferente Igual

Homozigotos, crescidos juntos Igual Igual

Homozigotos,crescidos separado Igual Diferente

Fonte: Nikitchuk e Gladixeva (1989).

Graças ao método de gêmeos, são obtidos os dados segundo os quais certos índices de
desenvolvimento físico dependem, de maneira diferente, da hereditariedade e do meio
ambiente. É comprovado o nível da influência dos fatores hereditários sobre o comprimento do
corpo (altura). O meio ambiente (alimentação, condições de vida, exercícios físicos etc.) pouco
influenciam e a altura; o fator hereditário influencia a massa corporal (peso).
A parcela de influência da hereditariedade sobre o comprimento do corpo é de 98% e sobre
o peso corporal é de menos de 74%. O peso corporal é composto pelo peso do esqueleto, de
músculos, de órgãos internos (vísceras), da gordura e de outros tecidos macios. Esses
componentes caracterizam a constituição de uma pessoa. A hereditariedade tem 50% de
influências a determinarem o desenvolvimento dos tecidos macios dos membros superiores e
de 70-80% das influências na formação do esqueleto. Sendo assim, a correlação dos fatores
hereditários e dos ambientais não é igual em todo o indício da estrutura corporal. As
pesquisas de gêmeos permitiram identificar alguns indícios morfológicos e funcionais do
organismo. Segundo Nikitiuk (1989), a influência dos fatores hereditários e dos ambientais se
modifica com a idade. No período do crescimento mais intensivo (primeiros anos de vida,
período de puberdade), aumenta a sensibilidade do organismo à influência dos fatores
ambientais. A hereditariedade determina mais as dimensões finais do corpo que os ritmos das
mudanças de várias estruturas do organismo.
O desenvolvimento das capacidades motoras é o resultado de uma interação complicada
da hereditariedade e do ambiente. É comprovada a grande influência do genótipo sobre a
rapidez da reação motora ao alcance do alto tempo de corrida de 10 a 30m. O
desenvolvimento da flexibilidade articular depende dos fatores genéticos, e tal influência é
mais própria para o organismo feminino que do masculino. O desenvolvimento da força
absoluta muscular, que depende mais dos fatores ambientais, é a força relativa muscular,
indício mais conservador e que depende dos fatores hereditários (Serguienko, 1975).
Segundo as pesquisas de gêmeos (Volkov 1980), existe uma predisposição de certas
capacidades motoras, da produtividade aeróbica e de funções vegetativas. O consumo
máximo de oxigênio (VO2) de gêmeos tem a concordância quase igual (89,4%). A grande
predisposição hereditária é constatada durante as pesquisas da reação motora simples
(84,2%) e da complexa (80,7%). As pesquisas dos índices de velocidade e força (salto em
distância, em altura, corrida de 30 m) testemunham, também, a grande predisposição
hereditária (76,1%, 79,4% e 77,1%, relativamente). Os gêmeos são sujeitos aos fatores
genéticos e a índices como a duração da retenção da respiração (82,5%) e do grau de
diminuição da oxigenação do sangue arterial (76,9%).
O papel mais importante dos fatores ambientais e da diminuição dos fatores hereditários é
identificado no decorrer da definição da dinamometria de mão e corporal. A concordância da
dinamometria da mão direita e da esquerda foi de 61,4% e 59,2%, relativamente, e de 64,3%,
da força corporal (FC). É evidente a influência dos fatores ambientais sobre a freqüência
cardíaca. O grau de semelhança da FC, em repouso, foi de 62,7%; após a carga aplicada
(Step test), 58,8%; duração da recuperação da FC, 59,1%. O desenvolvimento da resistência
é bem relacionado à capacidade do organismo de consumir a quantidade máxima do oxigênio.
A comparação dos dados de homozigotos e dizigotos mostrou que o grau de hereditariedade,
da capacidade ao consumo máximo de oxigênio, era de 80% e dos fatores ambientais, 20%.
Esses dados atendem às pesquisas de outros autores (Serguienko, 1975). Não se pode
menosprezar a influência do meio ambiente sobre o desenvolvimento das capacidades
motoras, pois a importância do ambiente na formação de uma pessoa é muito grande, mas é
diferente em relação a outras capacidades físicas e mentais.
O significado do meio ambiente na formação da personalidade do homem é grande.
Entretanto, ela é diferente em relação a várias propriedades físicas e intelectuais. De um
modo geral, a questão pode ser colocada da seguinte forma: até que ponto, a diferença do
desenvolvimento individual, entre os homens, está condicionada pela genética e, até que
ponto apresentam-se diferentes pelo caráter do meio ambiente, no qual ocorreu o
desenvolvimento? As experiências realizadas com animais e com plantas permitem, em
muitos casos, responder a essas perguntas de maneira rápida e exata. Por exemplo, nós
podemos dividir um e outro vegetal em várias partes e cultivá-los em ambientes diferentes.
Para o homem, uma análise simples não é possível. Por sorte, já existem métodos notáveis
para estudar a relação entre a hereditariedade e o ambiente – o estudo dos gêmeos.
A informação hereditária poderá ser realizada nas condições adequadas do ambiente. É
considerado que o meio e os métodos de treino deverão contribuir e estimular as inclinações
inatas. Caso as interações sejam insuficientes, as potências ocultas podem, até certo ponto,
não surgir; caso sejam demasiado pesadas, podem ocorrer “esgotamentos”, de forma
antecipada, de talentos congênitos. As pesquisas de gêmeos comprovam que o fator
hereditário sofre influência sobre a chamada norma de reação do organismo. Todo o indício
transmitido por herança, modifica-se pela influência do meio ambiente, até o limite
geneticamente determinado. O limiar de mutabilidade do indício é considerado a norma,
hereditária da reação.
Nos processos de desenvolvimento, a norma de reação para as capacidades somáticas é
geneticamente determinada, mas o caráter e as particularidades do indivíduo são
determinadas pela influência do ambiente social. A norma de reação não é o valor constante.
Ela depende do genótipo, do sexo e da idade, do nível de treino. A norma de reação para todo
organismo, em geral, constitui-se de características especiais para diferentes lados do
organismo. Em relação ao desenvolvimento das capacidades motoras, a norma de reação e o
valor de crescimento da força muscular ou da resistência sob a influência do treinamento.
Investigou-se, durante vários anos, um par de gêmeos homozigóticos, que não obstante a
prática do esporte (dos 8 aos 15 anos), teve um baixo consumo de oxigênio. Nos últimos
anos, um dos jovens continuou a prática do esporte, o outro abandonou. As investigações, aos
21 anos, mostraram um aumento do consumo de oxigênio em um deles, em relação ao outro,
mas este aumento não foi tão significativo e não passou dos limites médios.
Resultados semelhantes foram alcançados por Serguienko (1975). Em seus experimentos
pedagógicos foi observado um par de gêmeos monozigóticos de meninas. Elas foram
investigadas, pela primeira vez, aos 16 anos. Antes destes período, elas dedicaram-se ao
remo, durante três anos. O modo de vida e o caráter da atividade motora foram praticamente
semelhantes. Posteriormente, uma delas continuou a praticar o remo e a outra abandonou o
esporte. Após um ano, a investigações naquela que tinha abandonado o esporte, mostraram
uma diminuição da resistência, enquanto que, na outra, houve um aumento do consumo de
oxigênio. Constatou-se, também, que o aumento não foi grande, e que não passou dos limites
médios. Concluindo, as jovens apresentaram uma pequena hereditariedade da norma de
reação, que determina pequenos resultados do treinamento.
Os exercícios sistemáticos, o treinamento, poderão exercer grande influência no sentido de
realização do potencial genético, mas isso poderá acontecer, apenas, entre os limites
determinados pelo genótipo. As capacidades de educação e de exercício não são ilimitadas;
seu limiar é determinado pelo genótipo do indivíduo global. Afinal, qualquer indício do
organismo depende tanto da hereditariedade como do ambiente. O meio ambiente não
favorável poderá revelar o aparecimento de uma pessoa atrasada, débil. O meio ambiente
favorável abrirá as capacidades da constituição hereditária, desenvolvendo-as até o limiar
máximo. Existem limiares superiores e inferiores das capacidades hereditárias do indivíduo.
Em conformidade com as leis da genética, as possibilidades de treino e de exercício não são
ilimitadas. Seu limiar, também, é programado pelo genótipo.

12.3.1.2 Método Genealógico


O essencial deste método é o estudo da genealogia de pessoas de muitas gerações. O
estudo dos parentes (irmãos, irmãs, pai, mãe, avó, avô etc.) permite identificar a herança de
muitos indícios da pessoa, determinando as particularidades próprias à geração. Através do
método genealógico são obtidos os dados sobre as doenças adquiridas por herança, tais
como: diabetes, surdez congênita, hemofilia etc. O estudo da genealogia de desportistas
comprova que os filhos dos famosos desportistas do passado demonstraram altos resultados.
São conhecidos os casos, quando irmãos e irmãs demonstraram altos resultados desportivos.
Evidentemente, essas investigações não são suficientes para provar a influência dos fatores
hereditários no desenvolvimento das capacidades motoras. Os êxitos esportivos das crianças,
irmãs, podem ser condicionados pelas particularidades de educação familiar ou de outros
fatores do meio ambiente.
Existem investigações inéditas que, até certo ponto, carregam clareza sobre a questão. Um
dos trabalhos mostrou que é possível esperar, em média, bons resultados em 50% dos filhos
de grandes atletas, embora os filhos não sejam obrigados a obter os mesmos resultados que
os pais. Supõe-se que se a herança das capacidades desportivas acontece tanto pela linha
paterna, como pela materna. Podemos esperar que ela seja real, em 70% dos casos (se os
dois pais foram destacados desportistas) e em 33%, caso um dos pais tenha sido desportista
de elite.
Outro exemplo, aproveitando os métodos matemáticos, foi o de determinar a interligação
dos êxitos desportivos dos filhos e dos pais. Na corrida veloz e saltos em distância, o nível
desta interligação era bastante alto. O alto grau de semelhança dos pais e dos filhos foi
revelado pelos índices antropométricos, dermatoglíficos e dos grupos sangüíneos. Existe uma
opinião que a herança das capacidades motoras, como os indícios qualitativos (comprimento,
massa corporal etc.) ocorrem graças à influência de muitos genes. Tal herança acontece tanto
pela linha materna como pela linha paterna. Neste caso, é preciso levar em consideração o
fato de a mãe transmitir, tanto para o filho como para a filha, o cromossomo x , e o pai
transmitir o cromossomo x para a filha e o cromossomo y ao filho. O cromossomo x, do pai, a
ser transmitido para a filha, é maior pelo valor e pela reserva da informação hereditária que o
cromossomo y, a ser transmitido para o filho. Por isso, existe a probabilidade de maior
semelhança do pai com a filha. A mãe transmite, para a filha e para o filho, o conjunto igual de
cromossomos, mas, neste caso é possível uma maior semelhança com o filho. O cromossomo
x, da mãe, transmitido para a filha, poderá resistir ao cromossomo x, do pai; graças à
existência do cromossomo y, do pai, no filho, tal resistência ao cromossomo x, da mãe, será
menor. É considerado que a herança das capacidades motoras ocorre pelo tipo dominante. É
constatado que no caso de existência do indício dominante, de um dos pais, este estará
presente nos descendentes. Isso facilitará a análise da genealogia e permitirá o estudo da
herança das capacidades dominantes de uma pessoa.

12.3.1.3 Método Ontogenático


Este método é baseado numa pesquisa dos cromossomos nas células corporais. Uma das
alternativas, relativamente fácil, deste método, é o estudo dos leucócitos no sangue. Para
isso, usam-se gotas de sangue, separam-se os leucócitos que misturados a um alimentador
nutritivo (meio de cultura, tipo caldo cultural), começam a se dividir. Ao dividirem-se, estas
células dos cromossomos tornaram-se visíveis. Pelo método citogenético foram identificadas
muitas doenças hereditárias; as aberrações são resultado das mudanças no sistema de
cromossomos. Por exemplo, no conjunto de cromossomos, sob a influência de certos fatores,
poderá aparecer o cromossomo complementar (47o). Em resumo: perturba-se o sistema
íntegro de informação genética, o que poderá levar ao aparecimento das perturbações
qualitativas e quantitativas de desenvolvimento. Às vezes, as perturbações são consideráveis
e o embrião morre antes do parto. Umas das causas de perturbações na divisão celular, e de
aparecimento dos defeitos hereditários, poderá ser o alcoolismo de um dos pais, ou o uso de
remédios pela mãe, durante a gravidez. Atualmente, são identificadas cerca de cem
perturbações, relacionadas à mudança do número ou de formas dos cromossomos. Tais
perturbações podem ser manifestadas pelo atraso do desenvolvimento mental, em defeitos do
ouvido e da visão; desenvolvimento fraco da musculatura do esqueleto; aparecimento de
doenças nervosas etc. O estudo das doenças hereditárias revelou que elas eram o resultado
dos relacionamentos consangüíneos, e que a probabilidade de nascimento das crianças com
doenças hereditárias, neste caso, é maior.

12.3.1.4 Método Bioquímico


As perturbações hereditárias (genéticas) dos cromossomos, muitas vezes, são
acompanhadas pela perturbação do metabolismo, porque os genes controlam a atividade das
diferentes enzimas que regulam o intercâmbio de proteína, de gordura, de água e de íons.
Cada tipo de metabolismo é caracterizado pelas perturbações específicas do organismo. Entre
elas, está a diabetes, que pode ser resultado de genética condicionada pela insuficiência de
um hormônio (insulina), levando à interrupção da troca do hidrato de carbono.
Os métodos bioquímicos são importantes para a identificação dos índices do organismo
relacionados com as particularidades do corpo, do funcionamento dos órgãos e de sistemas,
ou com o desenvolvimento de certas capacidades motoras. Em forma de tais “marcadores”,
são aproveitados os indícios a serem transmitidos por herança como por exemplo, os grupos
sangüíneos, ou alguns índices bioquímicos do sangue. A identificação dos marcadores
genéticos, ligados às particularidades anatômicas e fisiológicas, a determinarem o resultado
desportivo, permitirá prognosticar-se o desenvolvimento das capacidades motoras. Para a
avaliação da influência dos fatores genéticos e dos ambientais é importante uma pesquisa da
correlação nos músculos das fibras musculares lentas e das rápidas. É comprovado que os
velocistas (100 m – 9,9 seg.) possuem nos músculos dos membros inferiores 75% das fibras
musculares rápidas, e 25% das fibras musculares lentas, os meiofundistas (10 km – 28 min.)
24% das rápidas e 76% das lentas.
Em 1975, foi identificada a correlação das fibras musculares rápidas e lentas dos fundistas
e dos meiofundistas. Como regra, o número de fibras musculares lentas não ficou abaixou de
65%; o número maior foi de 79%. Durante cinco meses, foi estudada a correlação das fibras
lentas e rápidas. No treinamento, o consumo máximo de oxigênio aumentou de 3,5 l/min até
4,5 l/min, e a correlação das fibras lentas e rápidas atestou que a correlação dos tipos de
fibras, constituintes do músculo, são preferencialmente de origem genética, do que adquiridas
com o treinamento.
12.3.2 Seleção Desportiva
O nível contemporâneo dos êxitos desportivos visa às grandes exigências do organismo do
desportista. Por isso, o traço característico do período atual de desenvolvimento do esporte é
a identificação da juventude talentosa, a organização da seleção desportiva cientificamente
argumentada. Os seguintes exemplos mostram, com clareza, as dificuldades das tarefas a
serem aceitas no processo de seleção. Suponhamos que queremos relatar sobre um indivíduo
alto, que apresenta alto nível de crescimento na juventude. Alto é aquele que entra em 1% dos
dados estatísticos, dos mais altos da sua idade, e do gênero – em média em cada 100
investigados – ou pode-se dizer que este indivíduo é igual a 1/100. Essa mesma probabilidade
é extensiva a pessoas com grandes níveis de crescimento. Imaginemos que essas pessoas
possam ser encontradas, com freqüência, nas mesmas proporções, entre pessoas de
diferentes estaturas; a probabilidade de se encontrar um indivíduo alto será de 10-4 ou
1/10000. Se, deste mesmo indivíduo, forem exigidos certos dotes como boa habilidade e
resistência, a possibilidade de se selecionar um indivíduo, entre os semelhantes, será de um
em um milhão. A prática da seleção na natação, no mundo, comprova que de 5000-6000
crianças examinadas, são selecionadas de 8 a 10 crianças, para praticar a natação
especializada e, deste número, apenas, uma pessoa se torna o desportista de alto nível.
Existem algumas variedades da seleção desportiva.

• Orientação desportiva – definição da modalidade desportiva, em que seria mais racional


o treinamento.
• Seleção – escolha periódica dos melhores desportistas, em várias etapas do
aperfeiçoamento desportivo.
• Formação das equipes – organização do coletivo desportivo, equipe para a participação
nas competições.
Assim, a seleção desportiva não é o procedimento de um momento só, mas sim, o conjunto
dos procedimentos de organização metódicos, a incluírem os métodos pedagógicos,
psicológicos e médico-biológicos de pesquisa, com base no que poderão ser reveladas das
capacidades de jovens desportistas a praticarem a modalidade desportiva específica. A
seleção desportiva é baseada nas características que mais se destacam dos melhores
desportistas de uma modalidade desportiva determinada.
Atualmente, é elaborado um bloco-esquema, do modelo de desportista, e existem três
níveis de componentes do modelo dos melhores desportistas. O primeiro nível do bloco-
esquema determina as características-modelo dos desportistas nas competições. No segundo
nível, ficam as características da preparação física especial, técnica e tática. O terceiro nível
caracteriza as particularidades da compleição (a preparação funcional e psicológica), bem
como as etapas temporárias principais do caminho desportivo (idade de início das aulas de
treino, estágio desportivo, tempo dos êxitos etc.). Este bloco-esquema é convencional. Além
disso, todo o organismo se desenvolve, individualmente, de acordo com as leis genéticas e
sob a influência do meio ambiente. Por isso, a seleção desportiva é um procedimento muito
complicado. Na seleção das principais características deverão ser considerados os critérios:
inadmissibilidade, indesejabilidade, necessidade e suficiência. As inadmissíveis são as
características que permitem fazer certos exercícios físicos, mas que prejudicam sua
realização. As características desejáveis contribuem para a atividade desportiva especial. As
necessárias são aquelas sem as quais a atividade desportiva não poderá ser realizada, e as
suficientes são as que garantem a realização da atividade (Briankin e col., 1980).
O desenvolvimento de um desportista é o resultado da influência mútua da hereditariedade
e do ambiente. O treinamento é muito importante para a formação das capacidades motoras.
Além disso, as particularidades da compleição e o desenvolvimento das capacidades motoras
são determinados pelo genótipo, e o objetivo importante é identificar as capacidades motoras
e determinar o grau de influência dos fatores hereditários e ambientais. A influência dos
fatores genéticos e ambientais não é a mesma em períodos etários diferentes. Existem os
períodos especiais, sensitivos, para os quais é própria a sensibilidade a vários fatores
ambientais, de ensino e de treinamento. É considerado que, para estes períodos, há uma
diminuição do nível genético e uma dependência crescente dos fatores do meio ambiente. Os
períodos sensitivos (idade, duração) são próprios à idade biológica e não à cronológica. É
comprovado que o desenvolvimento das capacidades motoras, o caráter de adaptação do
organismo dos adolescentes de 12 a 16 anos de idade não depende, somente, da idade
cronológica, mas sim dos ritmos individuais de desenvolvimento (Volkov, 1971). Por isso,
deverá ser considerada a idade biológica de desportistas; para diagnosticá-la são
aproveitados índices como o desenvolvimento dos dentes, os prazos de ossificação, a
avaliação dos indícios primários e dos secundários, do período de puberdade, valor da
excreção 17 KC etc. A avaliação da maturação sexual deverá ser feita em conjunto, isto é,
considerando muitos indícios que caracterizam a idade de jovens desportistas.
Existem vários métodos de pesquisa da hereditariedade; um método relativamente simples,
é o das pesquisas seletivas e normativas que permitirão abranger grandes grupos dos
pesquisados, de certa idade e especialidade. Graças a essas pesquisas poderão ser obtidos
dados sobre crescimento absoluto, volume de crescimento, nível médio, limiares da norma
etc. Quando considerados tanto os valores médios, como os desvios individuais o material
sobre as capacidades motoras poderá ser obtido. Alguns exemplos: foi estudada a velocidade
da reação motora. Aos 8 anos de idade, ela era de 0,30 seg, em média; com a idade, a
velocidade de reação diminui, e aos 17 anos, ela será de 0,20 seg; em média, a velocidade de
algumas crianças de 8 e 9 anos era menor que dos garotos de 17 anos: 0,170 seg. Nas
idades entre 8 e 15 anos cresce, consideravelmente, a altura do salto vertical, em altura. Para
os meninos de 8 anos ela era de 28 cm, em média, e aos 15 anos: 48 cm. Mas alguns
meninos de 8 e 9 anos conseguiram o valor do salto dos meninos de 15 anos. O último caso é
explicado pelos fatores genéticos.

12.3.3 Prognóstico dos Êxitos Desportivos


Um dos aspectos mais importantes do problema da seleção desportiva é o prognóstico das
capacidades desportivas. Um prognóstico seguro poderá garantir a conclusão adequada sobre
as mudanças futuras no organismo. A condição importante para o prognóstico é o estudo da
dinâmica de alteração dos índices da capacidade de trabalho. Uma boa pesquisa para
comprovar a estabilidade dos índices funcionais foi feita por Volkov (1971), que estudou a
reação dos sistemas cardiovascular e respiratório à carga normal muscular; o autor revelou
que durante 8 anos (de 11 a 18 anos) as mesmas crianças demonstravam os dados estáveis,
isto é, as crianças de 11 e 12 anos conservaram suas particularidades ao ficarem mais
“velhas”. Concluiu que os prognósticos satisfatórios só podem ser realizados aos 11 e 12
anos. É também verdade que aos 13 e 14 anos a segurança dos resultados dos prognósticos,
ligados ao amadurecimento sexual, diminuem. Através da representação gráfica, é possível
observar, com clareza, a estabilidade das características.
Existem os indícios invariáveis, com o treinamento, e propriedades do organismo a serem
facilmente alteradas no decorrer do aperfeiçoamento desportivo. Por exemplo, a altura
(comprimento corporal) é considerada indício conservador. Várias partes do corpo crescem
com velocidades diferentes; o comprimento do pé, em combinação com outros índices
antropométricos, poderá ser a base sólida para o prognóstico do crescimento. Durante o
prognóstico na seleção desportiva, será necessária orientação para os indícios
conservadores, pois eles limitarão o crescimento do nível desportivo, e os índices variáveis,
em grau menor, limitarão o aperfeiçoamento desportivo, pois o resultado do treinamento
racional poderá ser melhorado.
Para os prognósticos dos êxitos desportivos é necessário considerar que um esportista
talentoso é a pessoa que apresenta qualidades diferentes. Por isso, o prognóstico adequado
deverá prever, tanto o aperfeiçoamento físico, como o desenvolvimento das capacidades
psíquicas, e também as características individuais. É muito importante avaliar, corretamente a
interligação entre os índices iniciais e os êxitos. Muitas vezes, a prática esportiva, testemunha
o fato de jovens esportistas terem demonstrado bons resultados, segundo os exames iniciais,
e, posteriormente, não confirmaram estes resultados. A conclusão é que um dos problemas
mais importantes da seleção esportiva é o prognóstico do nível final de desenvolvimento de
certas capacidades físicas de jovens desportistas. Normalmente, tal prognóstico é feito
através seguintes meios: 1o) determinação da estabilidade dos índices de desenvolvimento
físico ® o critério principal, aqui, é o coeficiente de correlação entre os valores do início da
infância e a parte final do desenvolvimento. Os maiores valores do coeficiente de correlação
indicam a maior estabilidade do índice e a possibilidade de prognóstico do nível final de seu
desenvolvimento; 2o) determinação do grau genético dos índices de nosso interesse, para os
índices cujo desenvolvimento é condicionado geneticamente, quando será mais importante o
nível inicial de desenvolvimento. Os ritmos de crescimento destes índices não são essenciais
no prognóstico, pelo contrário, para índices cujo desenvolvimento é condicionado pelas
influências ambientais, no prognóstico, são mais importantes os ritmos de crescimento, em
que o nível inicial não poderá ser alto.
A interligação entre os resultados iniciais e os êxitos finais é notada no decorrer da
chamadas pesquisas longitudinais (duradouras, ou seja, durante muitos anos).

12.4 FUNDAMENTOS DO DESENVOLVIMENTO


FISIOLÓGICO NA INFÂNCIA E
ADOLESCÊNCIA (FILIN & VOLKOV)
O crescimento e o desenvolvimento humanos, de modo geral, são programados
geneticamente e variam de acordo com a idade, sofrendo a influência do meio externo. O
crescimento é a aquisição quantitativa de massa corporal, e o desenvolvimento é o processo
de transformações qualitativas, auxiliadas pelas transformações quantitativas.
As transformações caracterizam-se pela irregularidade, em decorrência das faixas etárias,
alternando-se períodos de desenvolvimento acelerado com os de desaceleração e de
estabilização relativa. Assim, diferentes órgãos e sistemas formam-se em prazos diferentes.
Na infância, no período de crescimento e de formação do organismo, há o predomínio dos
processos de assimilação, quando se realiza, mais intensamente, a reposição de substâncias
e de energia.
Nas etapas iniciais do desenvolvimento, as influências simpáticas prevalecem e se
manifestam com uma alta freqüência de batimentos cardíacos em crianças no estado de
repouso. Na medida em que o organismo se desenvolve, acentua-se a influência do sistema
vagal que diminui o ritmo das contrações cardíacas.
Quanto à idade cronológica, é importante considerar a idade biológica (fisiológica), que é
caracterizada pelo nível de desenvolvimento físico, uma vez que a idade cronológica nem
sempre coincide com a biológica.
A ossificação das diversas partes do esqueleto ocorre em períodos diferenciados,
culminando na clavícula e na escápula, entre 20 e 25 anos; nos ossos do carpo, entre 10 e 13
anos; nas falanges dos dedos e das mãos, entre 9 e 11 anos. No sexo feminino, a ossificação
ocorre de 1 a 2 anos antes que no masculino. A idade óssea é importante para determinar a
idade real ou biológica.
Com a idade, ocorre o crescimento dos ossos rápida ou lentamente, até 20 e 25 anos;
modifica-se a composição química dos ossos; aumenta a resistência dos ossos pelo aumento
da quantidade de sais de cálcio, de fósforo e magnésio. Disso resulta, também, o
desenvolvimento do tecido muscular.
Como conseqüência, modificam-se a excitabilidade e a mobilidade funcional. O sistema
sensório-motor é formado à medida que o desenvolvimento avança.
O desenvolvimento das qualidades motoras (força, velocidade, resistência, flexibilidade,
coordenação) ocorre com o aperfeiçoamento dos movimentos. Os rendimentos máximos de
força, velocidade e resistência são atingidos em idades diferenciadas, e a resistência é deter-
minada pela atividade dos sistemas cardiovascular e respiratório e pela economia no consumo
de energia.
Para se desenvolver a força, a partir dos 14 anos, é necessário a utilização de diversos
exercícios com peso (carga) e esforços estáticos moderados.
Para que o organismo possa crescer e se desenvolver, é necessário o uso de substâncias
nutritivas, que são as fontes energéticas para a reconstrução plástica dos tecidos, órgãos e
estruturas corpóreas. Uma alimentação correta é fundamental para o desenvolvimento físic o e
intelectual da criança, sendo as proteínas as substâncias vitais para as células. Os
carboidratos, como fonte energética, são importantes para os jovens atletas, assim como os
lipídeos, que constituem de 30 a 35% das calorias necessárias para as crianças.
A carga muscular intensa caracteriza-se pela brusca aceleração do processo coagulativo
do sangue. As dimensões absolutas do coração elevam-se à medida que o organismo se
desenvolve. O treinamento sistemático, nos exercícios de resistência, provoca o aumento da
massa do miocárdio (hipertrofia de trabalho), não atingindo o tamanho do miocárdio de um
atleta adulto. Assim, são criadas condições para um melhor fluxo sangüíneo nos tecidos e
órgãos. A atividade muscular assegura a formação de novos vasos sangüíneos, intensificando
a circulação periférica. Desta forma, com a idade, a duração do ciclo cardíaco se altera. Além
disso, o desenvolvimento do organismo traz o reforço da função respiratória, pelo aumento da
capacidade pulmonar vital.
Os jovens atletas demonstram maior capacidade de trabalho e resistência que os que não
praticam desportos. Entretanto, o aperfeiçoamento desportivo com êxito só é possível se
houver atenção para as particularidades relacionadas ao sexo das crianças.

12.4.1 Problemas na Pré-disposição


Esportiva e na Seleção de Talentos
Cada atleta tem sua “gama de componentes” para atingir o êxito, que se modifica durante
o aperfeiçoamento desportivo.
Inato e hereditário são conceitos diferenciados. As habilidades não são inatas, mas
aperfeiçoadas durante o processo de desenvolvimento. As particularidades anátomo-
fisiológicas é que são inatas.
As diferenças entre as pessoas baseiam a teoria de Pavlov, sobre as propriedades e tipos
de sistema nervoso, a influência dos processos de excitação e inibição, seu equilíbrio e sua
mobilidade. Essa influência caracteriza a capacidade das células nervosas resistirem a uma
forte excitação e inibição, determinando o nível da capacidade de trabalho das células do
córtex. Se o sistema nervoso estiver bem estruturado, ele reage adequadamente aos
estímulos.
Faz-se a estimativa das predisposições é feita uma correlação com o nível de
desenvolvimento físico alcançado na idade da verificação. Cada faixa etária tem suas
particularidades de desenvolvimento físico e intelectual.
Os jovens atletas em idade escolar têm disposição para a aprendizagem de novos
movimentos e exercícios físicos, além da aceitação das instruções e de tudo que lhes é
ensinado. Entretanto, as capacidades se formam de maneira irregular. Há períodos de
desenvolvimento acelerado e desacelerado das capacidades. Portanto, deve-se levar em
conta o nível de desenvolvimento das capacidades.
A estrutura das capacidades não é igual nos vários desportos. Alguns especialistas
consideram a capacidade de captar e memorizar rapidamente a técnica de execução dos
elementos complexos e sua consolidação como uma das manifestações de predisposição.
A herança genética é importante para as predisposições desportivas. Ela constitui a
informação genética transmitida dos pais para os filhos, determinando o crescimento e a
formação do organismo, suas principais reações adaptativas às influências exteriores, os
ritmos de desenvolvimento e as várias fases ontogênicas. As condições externas são
importantes para que o fator genético se manifeste na sua totalidade.
Ainda de acordo com Pavlov, o estudo da herança das propriedades do sistema nervoso
permite apontar o problema da correlação entre as propriedades inatas e adquiridas do
organismo.
Assim, o genótipo é a base hereditária do organismo, o conjunto de todos os genes que o
organismo recebe dos pais. E o fenótipo é a soma das propriedades do indivíduo em um
determinado estágio de seu desenvolvimento. Essas propriedades fenotípicos têm um
processo complexo, numa interação entre o genótipo e os fatores do meio ambiente.
Não se deve desprezar a influência do meio ambiente no fator genético. A informação
genética só se desenvolve se cada faixa etária se correlacionar com determinadas condições
do meio, para as particularidades morfológicas e funcionais do desenvolvimento do organismo
na correspondente idade.
Essa influência de determinados fatores do meio não é igual nas diferentes etapas do
desenvolvimento do organismo, levando-se em conta os conjuntos específicos dos fatores
mais eficientes do meio externo na interação com as informações genéticas e as relações nas
etapas anteriores de desenvolvimento. Os fatores externos inadequados não permitem utilizar
as reservas do organismo necessárias nas etapas do desenvolvimento.
As inter-relações dos fatores genéticos e ambientais dependem dos períodos de
desenvolvimentos críticos e sensíveis, períodos caracterizados pela maior susceptibilidade às
ações dos fatores, favoráveis ou não, do meio externo.
A análise da dinâmica do desenvolvimento da força muscular em função da idade também
passa por períodos sensíveis, que são importantes para o processo educativo para o
desenvolvimento desportivo. Com isso, determinam-se limites possíveis nos períodos
sensíveis em relação às várias qualidades motoras, influindo diretamente no programa
individual de desenvolvimento e aproveitando as possibilidades potenciais do organismo.
É importante observar que o período sensível evidencia-se em diferentes idades para
distintas crianças. Segundo pesquisas, as crianças com grande talento desportivo têm maior
influência do treinamento quando este é realizado prematuramente. Para as que não têm
predisposição hereditária, a maior influência do treinamento ocorre em períodos mais tardios.
Deve-se orientar tanto pela idade cronológica quanto pela biológica.

12.4.2 Modelos de Atletas de Alto Nível na Seleção Esportiva


Um atleta de alto nível pode servir como padrão a ser seguido na mesma modalidade
desportiva. Isso requer uma lista de particularidades fundamentais inerentes a ele. Para isso,
deve-se determinar tanto as características-modelo como também os possíveis parâmetros de
desvios do ideal. Dentro dos desvios normais, estão aqueles que determinam apenas os
valores quantitativos.
Pela teoria do sistema, funcional, o organismo deve ser considerado como uma associação
funcional de estruturas e processos de vários pontos de origem para a obtenção do efeito
adaptativo final. O dinamismo do sistema funcional, durante a interação com o meio externo e
interno do organismo, determina a complexidade de seu funcionamento.
Há três tipos de características-modelo: (1) gerais para todos os atletas; (2) gerais para um
grupo de atletas; (3) específicas para uma modalidade desportiva concreta.
A especificidade de cada desporto e as exigências diferenciadas apresentadas aos atletas
determinam a grande diversidade das características-modelo dos atletas de alto nível. Ao se
examinar estas características, devem ser considerados os rendimentos nos desportos pela
interação das qualidades motoras.
A força muscular e a flexibilidade estão correlacionadas, à capacidade individual de realizar
movimentos com uma grande amplitude. Assim, determina-se o nível de flexibilidade pelos
ângulos obtidos nas articulações dos vários segmentos corporais.
Existem tabelas normativas sobre o nível de mobilidade nas articulações para os atletas de
alto nível. Por exemplo, na ginástica é importante o grau de mobilidade nas articulações para
os movimentos ginásticos complexos. Desta forma, ao se elevar a qualidade dos atletas, a
mobilidade aumenta nos movimentos.
Os índices de evolução técnica que avalia os movimentos e ações voltadas para a técnica,
constituem parte importante para o modelo do atleta de alto nível.
O nível desportivo pode ser representado pelas características espaço-temporais dos
movimentos e pode ser avaliado segundo influências de fatores adversos, como fadiga,
emotividade, adversário altamente competitivo, torcida, conseqüências pós-competitivas etc.,
além das ações técnico-táticas.
Deve-se ressaltar a preparação funcional do atleta no início da intensificação das cargas de
treinamento e de competição, destacando as questões bioenergéticas da preparação.
A execução de movimentos desportivos está relacionada à geração e ao consumo de
energia. E o principal “depósito” energético é conseguido pelos processos aeróbicos
(oxidativos), que asseguram a maior restituição da fonte fundamental de energia, a adenosina
trifosfato. Assim, o rendimento aeróbico é a capacidade de trabalhar através dos processos
aeróbicos.
O nível de VO2 máx. é um dos índices importantes no critério energético da capacidade de
trabalho dos atletas. O VO2 máx. é determinado durante uma atividade muscular intensiva e
prolongada, por exemplo, a corrida na esteira ou a atividade na bicicleta ergométrica. Este
índice reflete a eficiência dos principais meios de fornecimento energético e o
condicionamento dos sistemas respiratório e cardiovascular.
O VO2 máx. pode ser determinado pelo grau de ventilação pulmonar com ar atmosférico, pela
capacidade de oxigenação do sangue, pelo volume cardíaco por minuto, pela diferença
arterial-venosa do nível do oxigênio e outros.
Com o treinamento desportivo, um alto nível de consumo de oxigênio é atingido com 50-80
movimentos respiratórios por minuto, com a profundidade respiratória entre 2 e 3 litros. A
ventilação pulmonar atinge 180-200 litros por minuto, elevando a potência funcional do
aparelho respiratório.
O sistema sangüíneo determina o consumo de oxigênio. Nos atletas, para cada kg de peso
corporal correspondem 80 ml de sangue. Eles possuem a capacidade de fixar, durante o
esforço, uma grande quantidade de oxigênio (230 a 250 ml de oxigênio nos atletas, e 170 a
190 ml em uma pessoa normal). Esta quantidade de oxigênio propicia o aumento de
concentração de hemoglobina no sangue, o que eleva a capacidade de oxigenação do mesmo
contribuindo, para os atletas entre 20 a 25% do volume total.
O rendimento anaeróbico depende da reserva total de fontes anaeróbicas de energia nos
tecidos, da potência dos sistemas fermentativos anaeróbicos intracelulares, do grau de
desenvolvimento dos mecanismos compensatórios, que garantem a manutenção da
estabilidade do meio interno, e do nível de desenvolvimento das adaptações tissulares. O
mais importante índice de rendimento anaeróbico é o nível do débito máximo de oxigênio
(DMO).
O maior débito de DMO encontra-se, normalmente, em atletas de nível internacional: 22,8
litros, e em atletas das categorias A e B: 18,94 e 18,51 litros, respectivamente. Nas pessoas
comuns, o DMO não passa de 6 a 7 litros.
A preparação funcional dos atletas de altíssimo nível tem como característica a capacidade
de realizar movimentos de forma econômica.
Nos atletas em provas de resistência, há uma dependência entre o nível dos volumes
cardíacos absolutos e relativos com o nível do atleta, uma vez que o volume cardíaco é um
critério regulativo das reservas funcionais do sistema cardiovascular do atleta.
Quanto aos aspectos morfológicos, cada modalidade desportiva apresenta exigências
específicas da constituição física do atleta. Por exemplo, nos jogadores, em relação à sua
função (defensor, atacante), nos corredores, em relação à distância (provas rasas, de meio-
fundo, fundo), nos nadadores, em relação ao estilo (costas, livre, borboleta).
Finalmente, uma vez que o êxito nas competições e os recordes dependem, também, das
propriedades psicológicas do desportista, é necessário observar as particularidades do
indivíduo, o nível de seu preparo psicológico e os componentes psicológicos da personalidade
do atleta: o direcionamento da personalidade (interesse, desejo de se superar), as qualidades
volitivas (audácia, firmeza, resolução), a estabilidade emocional (segurança diante de
situações difíceis), as qualidades psíquicas (atenção, velocidade e precisão de reações
sensório-motoras, memória imediata).

12.4.2.1 Desenvolvimento das Habilidade Esportivas em Esportes


Específicos
O treinamento desportivo um requer planejamento racional num processo de muitos anos.
Cada nova etapa de melhora dos resultados deve observar os requisitos normativos vigentes,
modificar os critérios sobre os prazos da superação desportiva e das faixas etárias na
formação da habilidade desportiva.
A idade de início do treinamento prático tende a ser reduzida em muitos desportos como na
natação, na ginástica e na esgrima, enquanto no ciclismo, no remo, no halterofilismo, no boxe
e no basquete essa tendência não é observada.
A idade inicial também deve ser considerada tanto para o período de treinamento geral
como para o período de treinamento específico. Sobre uma sólida base construída, podem ser
iniciados os treinamentos específicos e sistemáticos. Assim os atletas que começam seus
treinamentos mais tarde, certamente praticaram anteriormente outros tipos de desportos,
possuindo, portanto, boas qualidades físicas. Nas etapas iniciais do desenvolvimento
desportivo, a melhora ocorre mais rapidamente e, nas finais mais lentamente.
O crescimento do rendimento desportivo depende não só dos “dados médios”, como
também das particularidades da idade e das variantes individuais de desenvolvimento.
Atualmente, procura-se obter os melhores resultados o mais rapidamente possível. Os
atletas mais talentosos apresentam ritmos velozes de melhora da capacidade de trabalho,
alcançando níveis superiores antes do período previsto.
Apesar do ritmo de treinamento dos atletas de alto nível, eles só alcançam os melhores
resultados entre 5 e 10 anos de treinamento. Portanto, para programar o treinamento
desportivo, deve-se conhecer as faixas etárias e as modalidades desportivas. A idade deve
ser o período de desenvolvimento máximo de todo o organismo. Desta forma, consegue-se a
longevidade no desporto e a estabilidade de resultados durante vários anos.
Todavia, a preparação “forçada” do atleta, quando jovem, e a ascensão prematura às
categorias superiores conduzem ao esgotamento físico e nervoso e ao abandono prematuro
do treinamento.
Observa-se, hoje, grande redução na idade em que se alcançam os rendimentos máximos
na etapa de desenvolvimento de alguns desportos, como na natação, ginástica olímpica,
ginástica rítmica desportiva, patinação artística etc.
As diferenças nas faixas etárias estão relacionadas com o desenvolvimento, nem sempre
simultâneo, do abastecimento energético aeróbico e anaeróbico da atividade muscular.
Atribui-se ao rejuvenescimento os êxitos alcançados por uma série de jovens talentosos de
diversas modalidades desportivas. Entretanto, a idade máxima dos rendimentos, semelhante
ao rejuvenescimento, não é característica para todos os desportos.
Nos desportos como natação, saltos ornamentais e tênis, o nível nacional está em torno
dos 15 e 18 anos, e o nível internacional de competitividade entre 18 e 24 anos.
Contudo, o que determina o valor de um atleta não deve ser a idade, mas sim o resultado
desportivo. Alguns atletas prolongam o período de seus triunfos, levando uma vida num
regime diário adequado, com racionalização de tempo, dieta alimentar, descanso etc. Só
assim ele aumenta o período de competitividade.
A especialização inadequada dificulta a seleção e a orientação desportiva, uma vez que
existem as zonas de idade psicológica e biológica para o início das práticas desportivas. Se
este início for prematuro, pode ocorrer um prolongamento nos prazos de formação da
performance. Assim, os términos dos treinamentos específicos não descartam práticas
prematuras nos grupos de preparação preliminar, pois o nível de rendimento desportivo e o
aumento do prazo de ascensão até os grandes êxitos requerem práticas do desporto.
A idade dos desportistas permite fundamentar os parâmetros de seleção, orientação e
especialização desportiva oportuna, com um planejamento eficaz do processo de performance
desportiva. Desta forma, evita-se o preparo “forçado” dos jovens atletas e a intensidade
excessiva das cargas de treinamento e de competição.

12.5 ORGANIZAÇÃO E METODOLOGIA DA SELEÇÃO ESPORTIVA


As bases metodológicas e organizacionais da seleção de crianças e adolescentes são
importantes.
Quanto à organização, o processo de seleção de jovens atletas abrange quatro etapas: (1)
seleção preliminar (primária) de crianças e adolescentes; (2) comprovação da
correspondência (secundária) com os requisitos necessários para a modalidade em questão;
(3) orientação desportiva; (4) integração dos clubes, seleções municipais, estaduais, regionais
ou nacionais (pode ser fora das escolas desportivas).
Nestas quatro etapas, o treinador, com base nos dados obtidos nas observações
pedagógicas, conversas, anotações e testes, indica as possibilidades potenciais dos
praticantes e determina os mais capazes do grupo e após longo período de observação das
práticas dos atletas, determina o grau de preparação desportiva dos praticantes e avalia o
grau de performance dos praticantes.
O treinador, com testes de controle para determinar o nível de desenvolvimento das
qualidades físicas e os possíveis ritmos de seu incremento, determina a capacidade dos
jovens atletas para superar as cargas de treinamento, a capacidade do organismo para uma
recuperação eficaz, indica os ritmos de formação dos hábitos motores e os ritmos das distintas
qualidades físicas.
Quanto aos testes, deve-se observar a validade e a correspondência do exercício de
controle, com a possibilidade de indicar o nível de desenvolvimento da qualidade física, a
confiabilidade (fidedignidade), uma alta estabilidade dos índices ou sua capacidade de
reprodução nas repetições dos testes, não podendo haver variabilidade no êxito do
treinamento durante um longo período de tempo.
Quanto à objetividade, o teste deve caracterizar imparcialmente o nível de desenvolvimento
de uma qualidade física, sem as noções subjetivas do examinador. Vale considerar que os
testes são importantes para as análises das aptidões dos jovens atletas, juntamente com as
informações médico-biológicas.
Quanto ao aspecto psicológico, deve-se observar se os jovens possuem qualidades como
tenacidade, independência, poder decisório, capacidade de orientação diante de situações
difíceis.
No processo de seleção, deve se feita a análise da personalidade do atleta no seu conjunto
e das suas capacidades desportivas sobre a base dos critérios pedagógicos, médico-
biológicos, psicológicos e sociológicos da seleção.
Há variações nas exigências de um desporto para outro. Assim, deve-se examinar os
vários critérios da seleção de acordo com a exigência de cada modalidade. Na seleção, a
orientação, que se baseia nos ritmos de crescimento dos índices desportivos, deve respeitar
as particularidades individuais da idade biológica das crianças/adolescentes.
Embora o nível inicial de desenvolvimento da resistência demonstre o grau de preparação
do jovem iniciante, só é possível prognosticar as possibilidades dos adolescentes para
corridas de resistência após um ano e meio de treinamentos.
O êxito futuro depende de um diagnóstico prematuro de qualidades como audácia, decisão,
perseverança, tenacidade, velocidade de raciocínio e capacidade de orientação em situações
complexas. Assim, determina-se a capacidade do atleta em controlar parâmetros espaço-
temporais e de força dos movimentos característicos para as modalidades concretas de
disputas desportivas.

12.6 O DESENVOLVIMENTO DAS


QUALIDADES FÍSICAS NO PROCESSO DE CRESCIMENTO
Os processos de desenvolvimento das qualidades físicas estão imbricados a momentos
específicos do crescimento do indivíduo não podendo ser dissociados de uma linha temporal e
desenvolvimentista de aspectos da maturação morfo-psico-funcionais.
12.6.1 A aptidão Aeróbica na Criança e no Adolescente
A puberdade passa por modificações dimensionais e fisiológicas. Em conseqüência, a
dimensão de um órgão não é irrelevante para a sua capacidade funcional. Assim, a prática
regular do exercício resulta em ganhos adicionais das medidas cardíacas dos adolescentes,
principalmente nadadores de ambos os sexos e de nível superior de prestação. Vale citar que
jovens sem uma atividade física também têm elevação de sua capacidade de volume sistólico
pelo simples aumento das dimensões cardíacas. Com isso, a circulação fica
proporcionalmente limitada ao aumento da massa corporal.
Na puberdade, há o aumento do número de glóbulos vermelhos circulantes e, aos 16 anos,
é atingido o valor médio do adulto do sexo masculino (± 5,4 milhões) e, no sexo feminino, por
volta dos 14 anos. Essa diferenciação sexual constitui um fator limitativo primário da prestação
desportiva da mulher em relação ao homem nos esforços aeróbicos.
A pressão arterial constitui um outro fator fisiológico importante, principalmente no sexo
masculino, embora a pressão diastólica não apresente evolução significativa.
A função respiratória apresenta modificações nítidas, apesar de não se estabelecerem da
mesma forma no sexo masculino e no feminino. Entretanto, os aumentos volumétricos não
podem ser explicados pelo crescimento das dimensões corporais, por não estar provado se a
maior eficiência respiratória é conseqüência de um afinamento da regulação nervosa,
humoral, ou de ambas.
Na puberdade, a capacidade de trabalho, de um modo geral, e o esforço atlético, em
particular, dispõem dos pré-requisitos cárdio-respiratórios que permitem níveis superiores de
prestação.
A potência aeróbica máxima está relacionada com a massa magra. Uma diferenciação
sexual do crescimento ocorre aos 14 anos para as meninas e até os 18 anos para os meninos.
Na puberdade, a menina passa por um aumento acentuado da massa gorda; o menino
mantém entre os 14 e os 18 anos um percentual de gordura estabilizado em 16% em média.
A idade biológica influi sobre a potência aeróbica máxima, além de interferir na massa
magra. Entretanto, as variações de grau de cooperação nas situações de testagem podem
acentuar ou não as diferenças devidas às condições estruturais e fisiológicas, de acordo com
o sexo.
A potência aeróbica máxima relativa e a capacidade de trabalho sofrem influência das
condições sócio-econômicas. Nos adultos, em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, uma
maior expressão corporal e hábitos menos sedentários proporcionam valores mais elevados
de potência aeróbica. Isso não ocorre em populações mais primitivas, apesar do elevado
índice de atividade física diária, devido às condições desfavoráveis de nutrição e saúde, aos
quadros endêmicos e anemia, hipovitaminoses, malária etc.
Em situações de esforço, as respostas apresentam duas diferenças evidentes nos adultos
e nas crianças: na criança, a eficiência mecânica do trabalho é menor e ela tem um
ajustamento mais rápido à exigência fisiológica do exercício.
Segundo Eriksson (1972) e Macek e col. (1976), a criança possui uma distribuição
sangüínea mais eficiente que o adulto, o que ocasiona uma adaptação cardiovascular mais
rápida às condições do exercício.

12.6.2 O Rendimento Anaeróbico na


Criança e no Adolescente
O exercício anaeróbico apresenta dificuldades de medida por não ter, ainda, sem critérios
de padronização universalmente aceitos. As provas de avaliação das atividades anaeróbicas
da criança impõem situações de prestação máxima e requerem uma grande força de vontade.
As crianças apresentam uma capacidade inferior em relação aos adolescentes e dos
adultos para atividades do tipo anaeróbico, pois tanto a potência anaeróbica como a
capacidade anaeróbica estão diretamente ligadas à idade. Assim, a indicação do valor da
potência mecânica, sem qualquer referência ao tipo de esforço realizado constitui um dado
incompleto. Elas apresentam, também, uma prestação inferior em provas de potência
anaeróbica devido a estoques inferiores de fosfogênio e ao menor valor, absoluto ou relativo,
da massa muscular. Nas meninas pós-pubescentes, o incremento da potência anaeróbica,
tanto em termos absolutos quanto em termos relativos, é regular ao longo das idades, mesmo
com uma ligeira desaceleração aos14 anos.
É importante destacar a massa muscular e, de modo geral, a composição corporal na
interpretação dos dados na diferenciação sexual das curvas de crescimento da potência
anaeróbica.
A criança e o adolescente são mais deficitários em sua capacidade anaeróbica em relação
ao adulto, devido à concentração de lactato no músculo e no sangue ser mais baixa que no
adulto, assim como a taxa de glicose anaeróbica.
Os jovens desportistas apresentam elevações progressivas da lactatemia ente os 12 e 15
anos, sem diferenças significativas dos sexos, mas com valores inferiores aos dos adultos.
Esta deficiência da capacidade anaeróbica na criança e no jovem adolescente tem duas
explicações: uma é a concentração e a taxa de utilização mais baixa do glicogênio muscular
antes da puberdade, o que constitui uma desvantagem em situações de prestação máxima
com 10 a 60 seg de duração (Inbar & Bar-Or, 1986); a outra é a menor atividade de algumas
enzimas glicolíticas, como a fosforilase e a fosfofrutoquinase (esta apresenta concentração
muscular bem mais baixa nas idades pré-pubertárias).

12.6.3 Evolução da Força Muscular


Professores de educação física e treinadores dispõem de instrumentos e normas
metodológicas próprias ao desenvolvimento da força muscular em crianças e adolescentes,
embora o conhecimento da ontogênese da força muscular ainda seja impreciso em alguns
aspectos. Entretanto, o trabalho de força não é considerado um elemento singular da
preparação básica da modalidade, mas sim uma conseqüência direta do simples exercício das
suas estruturas gestuais.
O conceito de força acentua expressões como força explosiva, força absoluta, força
resistente, força estática, força dinâmica. Já a força muscular contém outras qualidades do
espectro do valor físico, i.e., velocidade e agilidade.
Quanto à relação entre o crescimento e o desenvolvimento da força muscular, Ellis e col.
expressaram um conjunto de medidas com testes de aptidão física e registros tensiométricos
da força estática em seis condições de prestação. Concluíram que o maior incremento
percentual para os resultados do salto em comprimento sem balanço ocorria entre os 14 e os
15 anos de idade cronológica, porém os “sit-up’s”, como o tempo de suspensão em flexão na
barra fixa, tinham esse incremento entre os 11 e os 12 anos. Com isso, a força explosiva tem
um desenvolvimento mais tardio que a força resistente, estática ou dinâmica, estando tal fato
associado ao desenvolvimento da potência e da capacidade anaeróbica. Com isso, situa-se a
evolução da força muscular em relação ao crescimento estatural.
Os rapazes apresentam a melhor performance em tempo de suspensão em flexão aos 11
anos de idade óssea (IO), assim como as moças, que aos 12 anos de IO ainda apresentam
valores superiores aos das idades ulteriores. Entretanto, a partir dos 13 anos de IO as
performances médias dos rapazes e das moças na mesma prova coincidem com os valores
médios para a mesma idade cronológica.
As características antropométricas devem ser consideradas em situações particulares de
prestação.
Na adolescência, há modificações na composição do corpo. No sexo masculino, a massa
muscular tem um aumento acentuado – em média 40% da massa total do corpo. No sexo
feminino, porém, é modesto, com aumento da massa gorda, o que pode limitar a performance.
O crescimento muscular contribui para uma elevação significativa da massa corporal total
e, também, para o pico da velocidade do crescimento ponderal como referência de
localização.
Portanto, o aumento da força não depende só do crescimento muscular, mas também de
outras modificações estruturais e bioquímicas que aumentam a performance como o
equipamento enzimático, o aumento do número de sarcômeros e da distância entre as bandas
Z. O afinamento da regulação dos nervos desempenha um papel importante na melhoria do
recrutamento, como também no plano de coordenação, contribuindo para uma maior eficiência
do trabalho muscular.
O rápido crescimento muscular e o dimorfismo sexual na puberdade ocorrem devido ao
sistema endócrino.
O treino de força em crianças e jovens encontra reservas opostas, necessitando uma
atenção sobre os problemas específicos da formação do adolescente.
A exclusão de exercícios gímnicos em educação física escolar demanda outros processos
de trabalho para efeitos localizados, promovendo o reforço muscular que assegura relações
segmentares equilibradas, em articulação com o espírito de preparação desportiva.

12.6.4 Flexibilidade, Velocidade e


Coordenação
Buxton (1957) e Kendall & Kendall (1948) constataram uma diminuição da mobilidade
articular entre os 6 e os 12 anos em rapazes, e entre os 6 e os 13 anos em moças, embora a
retomada dos aumentos positivos prosseguisse depois até aos 22 anos em ambos os sexos.
Greey, citado por Harris (1969), observou que indivíduos do sexo masculino, entre 18 e 71
anos de idade, apresentavam valores máximos de flexibilidade para um grande número de
articulações aos 23,5 anos.
A diminuição das atividades gímnicas de formação corporal nos programas de educação
física explica o número reduzido de investigações sobre esta qualidade física em comparação
com os dados relativos a outros fatores da performance.

12.6.5 A Velocidade na Idade Evolutiva


Entenda-se, aqui, velocidade como a capacidade que o indivíduo atinge deslocando-se o
mais rapidamente possível. É um dos fatores determinantes do desenvolvimento.
A velocidade é uma das qualidades nobres na metodologia do treino, juntamente com a
resistência e a força, mas não constitui um traço simples, compacto, do valor atlético.
As provas de velocidade exigem um empenho orgânico máximo em um tempo muito breve,
e velocidade e potências anaeróbicas só podem ser distingüidas por uma perspectiva externa,
física, ou por uma perspectiva interna, química e metabólica. A dimensão mais característica
da velocidade é a neuro-coordenativa, com a transmissão do estímulo nervoso, o
recrutamento das unidades motoras e o controle harmonioso das sinergias musculares.
Nos desportos, a velocidade de reação é um pré-requisito da performance. A velocidade
máxima, dependente da força dinâmica e do domínio técnico, com limiares de treinabilidade
mais amplos, tem sua dependência genética traduzida por estimativas de hereditariedade.

12.6.6 O Desenvolvimento da Coordenação


A habilidade do atleta é baseada em gestos coordenados e precisos, ajustados na sua
organização em relação a uma referência ou quadro de referências exteriores, associados a
uma capacidade de coordenação motora. Isto implica em uma elevada participação dos
fatores associados ao sistema nervoso central.
Segundo Espenschade & Eckert (1980), ambos os sexos apresentam prestações do
mesmo nível e evoluem as suas capacidades coordenativas até 11 anos; depois ocorre uma
diferenciação significativa: no sexo feminino, estabiliza o nível de prestações, e no masculino
mantém um ritmo de evolução constante até cerca dos 18 anos.

12.7 A MOTRICIDADE NO HOMEM


Muitos traços individuais da técnica desportiva dependem das particularidades da
constituição: (1) as dimensões totais do corpo. (altura, peso, dimensão do tórax, superfície
corporal); (2) as proporções do corpo que são a correlação entre as dimensões das diferentes
partes do corpo (membros, tronco etc.); (3) as particularidades constitucionais.
As dimensões totais do corpo diferem consideravelmente, nas pessoas. Quando há o
mesmo nível de treino, encontram-se esportista com mais peso e maior força de ação. Com
isso, os esportistas são divididos em diferentes categorias, segundo o peso corporal, no boxe,
nas lutas e no levantamento de peso.
Para comparar as possibilidades de força, utiliza-se o conceito de força relativa, pelo qual
se entende a magnitude da força de ação para cada quilograma. A força de ação que o
esportista manifesta em qualquer movimento, independentemente do seu próprio peso
corporal, é denominada força absoluta.
A magnitude do trabalho mecânico é proporcional à força (= corte fisiológico (h2) e ao
espaço de ação da força (h). Por isso é proporcional ao cubo das dimensões do corpo, (h3).
A ontogênese da motricidade é a variação dos movimentos e das possibilidades motoras
do homem. Dois fatores determinam o desenvolvimento da motricidade: a maturação e a
aprendizagem.
A maturação são as variações, condicionadas por hereditariedade da estrutura anatômica e
das funções fisiológicas do organismo – aumento das dimensões e variação da forma do
corpo da criança no processo de crescimento; variações relacionadas com a maturação
sexual, envelhecimento etc.
O aparelho motor da criança se forma até os 2-2,5 anos de idade. A aprendizagem
consiste no domínio de novos movimentos e seu aperfeiçoamento sob a influência da prática
especial, do ensino e do treinamento.
É difícil determinar as causas da variação dos indicadores na maturação. Para isso, basta
obsevar gêmeos idênticos: um se submete aprendizagem, á outro, não. O resultado é que há
posturas e movimentos (sentar, parar, andar, urinar) cujo ensino social praticamente não
acelera seu domínio na primeira infância. Em um determinado momento, os gêmeos sem
treinamento especial, alcançam seus irmãos ou irmãs.
A ontogênese da motricidade é determinada pela interação entre maturação e
aprendizagem. Às vezes, uma aprendizagem muito precoce bloqueia o domínio do
movimento. Por exemplo, crianças de um ano que aprenderam a andar de velocípede aos seis
meses; posteriormente elas, por terem adquirido hábitos incorretos e perdido o interesse, o
montam pior que as crianças que aprenderam em uma idade mais avançada.
O desenvolvimento dos movimentos se dá desde o período pré-natal, quando se verifica o
primeiro movimento do embrião na oitava semana de desenvolvimento. A partir do quinto mês
se formam os reflexos incondicionados fundamentais e o desenvolvimento do feto e do bebê
se produz desde a cabeça até os membros inferiores. Até um ano, os bebês têm movimentos
caóticos e desordenados, reflexos incondicionados, como a sucção, a preensão e a natação,
que depois cessam. O desenvolvimento dos movimentos neste período tem uma importância
excepcional para o desenvolvimento psíquico. Os fundamentos dos conhecimentos sobre o
espaço, o tempo, a causalidade, se formam precisamente nessa idade, graças à experiência
motora da criança.
O desenvolvimento da criança, até os 3 anos, se dá no movimento e na busca de uma
comunicação mais autônoma com o mundo externo. Dos 3 aos 7 anos, a motricidade passa
por uma grande torpeza, com diversos movimentos pouco ágeis e não coordenados (usam
tesouras, canetas, lápis etc.). Depois dos 4 anos saltam e utilizam partes do corpo (direito,
esquerdo, tronco e pernas.)
Entre 7 e 17 anos, principalmente até os 12 anos, culmina a maturação anátomo-fisiológica
e os adolescentes podem executar movimentos com a mesma agilidade de um adulto. As
qualidades motoras (força, velocidade, resistência) e os resultados em diferentes tarefas
motoras continuam a se desenvolver, mas, o adolescente tem a força relativa que lhe permite
a mais complexa técnica desportiva.
Dos 18 aos 30 anos ocorre o florescimento da motricidade do ser humano na maioria das
disciplinas esportivas, quando se alcançam os melhores resultados desportivos. O esporte
contemporâneo se caracteriza pelo rejuvenescimento dos desportistas mais destacados; como
média, os campeões são, atualmente, mais jovens que nos anos anteriores.
O treinamento depois do 30 anos é muito importante para conservar as possibilidades
motoras e a saúde, uma vez que há uma diminuição gradual das possibilidades funcionais do
organismo. A prática racional dos exercícios físicos pode freiar o processo de envelhecimento
em aproximadamente 10-15 anos.
As particularidades da motricidade nas mulheres apresentam diferenças devido a causas
biológicas e sócio-psicológicas. Quando crianças, os meninos de 3 anos superam as meninas
em tarefas que demandam força e velocidade. Estas diferenças são provadas por fatores
sócio-psicológicos e não biológicos.
No período da maturação sexual as meninas quase se igualam aos meninos nas
qualidades de velocidade-força e de resistência mas, depois as diferenças sexuais alcançam
sua magnitude. Os rapazes continuam se desenvolvendo por vários anos enquanto as
meninas necessitam de treinamento especial. Em geral, as moças executam melhor os
movimentos de caráter expressivo, por exemplo, a ginástica rítmica. Já o aumento dos
resultados em exercícios de força se produz mais lentamente nas mulheres que nos homens.
12.8 O TREINADOR
Os treinadores em busca de talentos esportivos precisam de meios de seleção cada vez
mais eficazes e completos. A seleção dos futuros candidatos da equipe pode ser feita empiri-
camente, e, várias vezes, se baseia no juízo pessoal de alguns treinadores, que dizem ter um
“olho clínico”.
O sistema de seleção científica de novos valores supõe, em primeiro lugar, um estudo
minucioso e profundo da atividade na qual se vai enquadrar o atleta e as características
físicas, psicológicas e mecânicas que a regem. Em seguida, virá o estudo das características
psíquicas, fisiológicas e somáticas do sujeito e, por último, um exame minucioso de sua
personalidade. O sistema deve ser simples, mas ter uma margem para a apreciação subjetiva.
Os requisitos que compreendem a aptidão física são:

• a formação anatômica: o sujeito deve reunir qualidades somáticas básicas, até a


somatotipologia;
• a capacidade fisiológica: o exercício exige esforço e para isso, o atleta, através de
treinamento tende a adaptar seu organismo a esforços, com os órgãos saudáveis;
• a capacidade de movimento efetivo- fatores secundários, mas que caminham unidos às
condições anatômicas e fisiológicas. A força, a resistência e a velocidade constituem
estes fatores ou qualidades básicas do indivíduo;
• a maturidade psicosensorial: indivíduos com boa velocidade, grande coordenação de
movimentos, psicologicamente maduros, estão em melhores condições de rendimento
em situações adversas. O domínio sensorial e espacial, das sensações proprioceptivas
avaliam, no plano desportivo, uma boa maturidade nervosa e psicosensorial;
• a boa destreza: significa ter o máximo rendimento com um mínimo de esforço. Para isso,
o atleta deve ter bom controle sobre sua musculatura e pontos de apoio em todo o seu
contorno.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVA T. F., Nikitina T., Ozolin N. Desenhos dos Dedos na Palmas das Mãos, Como
Sinais de Prognóstico Durante a Orientação Esportiva Inicial e Individualizada. Moscou:
Fisicultura e Esporte, 1986.
ABRAMOVA T. F. e col. Possibilidade de Utilização Das Impressões Digitais na Seleção
Esportiva. Teoria e Prática da Cultura Física. Moscou: Graf, 1995.
BERNSTEIN, N. Fisiologia dos Movimentos e da Atividade, Moscou, Editora Nauka, 1990.
BLOOMFIELD, -J; Ackland, -T.-R; Elliott,-B.-C, Applied Anatomy and Biomechanics in Sport.
Melbourne: Blackwell Scientific Publications, xvi, 374 p.,: ill c1994,
BOGUEN, M. O Ensino das Ações Motoras, Moscou, Editora Fisicultura e Sport, 1985.
BOIKO, V. O Desenvolvimento Orientado das Capacidades Motoras do Homem. Moscou:
Editora Fisicultura e Sport, 1987.
BORILKEVITCH, V. A Capacidade Física de Trabalho nas Condições Externas da Atividade
Muscular, Leningrado: Editora Universidade de Leningrado, 1982.
DANTAS, E. H. M. A Prática da Preparação Física, 2a ed., Sprint: Rio de Janeiro, 1986.
DANTAS, P. M. S. Identificação dos perfis, genético, de aptidão física e somatotípico que
caracterizam atletas masculinos, de alto rendimento, participantes do futsal adulto, no Brasil.
Dissertação de Mestrado em Ciência da Motricidade Humana: Rio de Janeiro; UCB, 2001,
p.198
DANTAS, P. M. S., BADINI, S. T., ANGELO, M. A. B. dos, RODRIGUES, R. E FERNANDES
FILHO, J. XXIII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte. Atividade Física, Fitness e
Esporte. São Paulo, 2000, vol.1, (11), p.75.
DANTAS, P. M. S., BADINI, S. T., FERNANDES FILHO, J. Consumo máximo de oxigênio em
jogadores adultos de futsal de alto rendimento. Congresso Sudamericano FIEP 2000.
Córdoba, Argentina, 2000, v.1, (7), p. 21.
DANTAS, P. M. S., FERNADES FILHO, J. Identificação dos perfis, genético, de aptidão física
e somatípico que caracterizam atletas masculinos, de alto rendimento, participantes do futsal
adulto, no Brasil. Fitness&Performance Jornal, Rio de Janeiro, v.1, n. 1, p. 28-36, jan/fev,
2002.
DANTAS, P. M. S.; FERNANDES FILHO, J.; CASTANHEDE, A. L. K. Correlação entre
dermatoglifia e aptidão física em atletas de futsal adulto masculino. Revista Brasileira de
Medicina do Esporte, São Paulo, v. 7, n. 3, p. 11-112, mai/jun, 2001.
DANTAS, P. M. S., FERNANDES FILHO, J. Correlação entre dermatoglifia, VO2 máximo,
impulsão vertical e %g em atletas adultos do Vasco da Gama, modalidade de futsal.
Caxambu/MG, v. 1, n. 1, p.197, outubro, 2001.
FERNANDES J. F., Abramova T. F. Impressões Dermatoglíficas - Marcas Genéticas para
Seleção dos Esportes e Lutas (por exemplo em atletas Brasileiros) do Instituto de Pesquisa
Científica de Educação Física da Rússia, Moscou: Fisicultura e Sport, 24, 1997.
FERNANDES J.F. Medidas e Avaliação. Vermelhinho, Ribeirão Preto: p.98-1997.
FERNANDES J.F. Utilização da Dermatoglifia como Qualidade de Marcas Genéticas para
Seleção de Atletas de Alto Nível do Brasil. Seleção de Trabalhos Científicos do Comitê Estatal
Russo de Educação Física e Turismo do Instituto de Pesquisa Científica de Educação Física
da Rússia, n. 63, p. 386-391, Moscou, 1996.
FERNANDES J. F., Abramova T. F. A utilização de índices dermatoglíficos na seleção de
talentos. Revista Treinamento Desportivo, FMU, n: 2, p. 41-46, 1997.
FILIN, V. P., Volkov, V. M. Seleção de Talentos nos Esportes. Miograf. Londrina, 1998, 196pp.
Filin V.P. Desporto Juvenil: teoria e metodologia. Londrina. Centro de informações
Desportivas, 1996, 160pp.
FRASER, C., F. NORA, J. J., Genética Humana, 2a ed., Rio de Janeiro: Guanabara,1988.
GHYTON, A. Tratado de Fisiologia Médica, 7a ed., Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
GODIK, M. A Metrologia Esportiva, Manual para os Institutos de Cultura Física. Moscou:
Fisicultura e Sport, 1988.
HOLLMANN, W., Hettinger T. H. Medicina de Esporte, São Paulo: Manole, 1989.
ILHIN E. Psicofisiologia da Educação Física. Moscou: Prosveschenie, 1983.
KELLER , V. A Preparação Tática. A Teoria de Esporte. Kiev: Editora Vischaia Chkola, 1987.
KHALE, W., LEONHARDT, H., PLATZER, W. Atlas de Anatomia Humana, Esplancnologia, 3a
ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1988.
KOTS, I. A., VINOGRADOVA, O. A Fisiologia do Aparelho Nervoso-Muscular. A Fisiologia da
Atividade Muscular; Manual para Institutos da Cultura Física, Moscou, 1982.
_______ A Fisiologia Esportiva. Moscou: Fisicultura e Sport, 1986
KOVALIK, A. As Bases Pedagógicas de Aperfeiçoamento da Atividade Motora do Homem com
o Método de Exercícios na Tensão Conjunta dos Músculos Antagonistas Tese, Moscou, 1990.
LEHMKUHL, L., SMITH, L. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom, 4a ed., são Paulo: Manole,
1989.
LEONTIEVA. Atividade, Consciência, Personalidade. Moscou, 1977.
LESKOSEK, B; Bohanec, M; Rajkovic, V; Sturm, J , Expert system for the assessment of
sports talent in children, In G. Tenenbaum, T. Raz-Liebermann, & Z. Artzi, (eds.), Proceedings
of the International Conference on Computer Applications in Sport and Physical Education,
Netanya, Wingate Institute, The Zinman College, 1992, p. 45-52, Refs: 5.
LI, X, Development of professional preparation in physical education in China Journal of the
Internationa Council for Health, Physical Education, Recreation, Sport, and Dance (Reston,
Va.); 33(3), Spring 1997, 14-17.
MALINA, R. M. Tracking of physical activity and physycal fitness across the liffespan.
Research Quartely for Exercise And Sport, v.67, Suppl. n.3, 48-57, 1996.
MARSHALL, S. J.; Sarkin, J. A.; Sallis, J. F. & Mckenzie, T. L. Tracking of health-related
fitness components among youth aged 9 through 12. Medicine and Science in Sports and
Exercise, v.29, Supple. n.5, 1997.
MASKATOVA A. K. Aspectos Genéticos e Fisiológicos no Esporte: Seleção de Talentos na
Infância. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1998, 104pp.
––––––––– Fisiologia: Seleção de Talentos e Prognóstico das Capacidades Motoras. Jundiaí:
Ápice,1997, 68pp.
MATTHIESEN, A., J., Atlas Moderno de Anatomia e Fisiologia Humanas, 3a ed., São Paulo:
Egéria, 1978.
MATVEIEV L. Introdução á Teoria de Cultura Física, Moscou: Fisicultura e Sport, 1983.
––––––––– A Teoria e a Metódica da Cultura Física, Manual para Institutos de Cultura Física.
Moscou: Fisicultura e Sport, 1991.
–––––––––Novamente da Forma Esportiva, A teoria e a Prática da Cultura Física, 1991.
–––––––––Fundamentos do Treino Desportivo. Lisboa: Livros Horizonte, 1986.
NIKITCHUK B. A., GLADIXEVA A. A., Anatomia e Morfologia Esportiva. Moscou: Fisicultura e
Sport, 1989.
PLATONOV, V., A Adaptação no Esporte. Kiev: Zdorovie, 1988.
–––––––––A Preparação dos Esportistas Qualificados. Moscou: Fisicultura e Sport, 1986.
RENGER, R. Developing a multivariate prototype for the prediction of sport talent: an
alternative to prototype development using the trait approach
SCHELLENBERGER, H; KLAVORA, P; LEITH, L. Psychology of Team Sports, Sport Books
Publisher, Toronto, c1990, 191 pp.
TANNER, J. M. et alii The adolescent growth spurt of boys and girls of the Harpenden. Growth
Study Annals of Human Biology, v.3, n.2, p.109-126, 1976.
TER-OVANESSIAN A., TER-OVANESSIAN I., A Pedagogia do Esporte. Kiev: Zdorovie, 1986.
TUBINO, M. J. G. As Qualidades Físicas na Educação Física e Desportos, 4a ed. São Paulo:
Ibrasa, 1979.
WEINECK, J. H. Treinamento Ideal. São Paulo: Manole, 1999.
VERJOSHANSK, I., V., Entreianamiento Desportivo, Planification y Programación. Madrid:
Martinez Roca, 1990.
VERKOCHASKI, I. V. A Programação e Organização do Processo de Treinos, Moscou:
Fisicultura e Sport, 1985.
VOILOV, A., TCHUKSIN, I., SCHUBIN I. A Preparação Policompetitiva dos Esportistas, A
Teoria e a Prática da Cultura Física. Moscou: 1986.
–––––––––A Seleção Desportiva. Moscou: Fisicultura e Sport , 1983.
VOROBIEV A. Mais uma Vez da Teoria e da Prática. Moscou: Coletânea Científica, 1987.
WANG, W, Neurotypes and identification of sport talent. Sports-science-(Beijing); 9(3), 71-75,
1989.
ZAKHAROV, A., Ciência de Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport,
1992.
ZATSIORSKI, V., ARUIN, A., SELUIANOV, V. A Biomecânica do Aparelho Motor do Homem.
Moscou: Fisicultura e Sport , 1981.

Você também pode gostar