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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

Integrantes: Cainã Barbosa (N°USP), Larissa Cabelo (10371880) e Priscila Lopes


(10326833)

Apresentação da proposta: O trabalho pretende abordar o espaço de memória do antigo


Complexo Penitenciário do Carandiru, através de uma proposta de intervenção didática
destinada ao Ensino Médio, partindo de alguns eixos de discussão introdutória sobre o tema
que nos permitam criar sérias reflexões acerca das disputas de memória relativas ao presídio
citado. A iniciativa de tratar a memória do espaço parte da necessidade de se discutir esse
sistema - constantemente em expansão e que se faz presente na vida de uma grande parcela
da sociedade - pouco trabalhado pelo sistema de ensino, partindo da experiência traumática
do Carandiru. Além disso, a escolha pelo Carandiru se dá a partir de uma noção de “não-
construção” da memória em relação ao massacre realizado no complexo em 1992. A
fisicalidade do presídio deu lugar à um projeto arquitetônico com viés de lazer e ensino, o
Parque da Juventude juntamente com as ETECs de Artes e Parque da Juventude, com o
objetivo de substituir a memória associada ao local. Sendo assim, pouco se fala sobre essas
memórias silenciadas, com exceção da proposta do curso de museologia da ETEC Parque da
Juventude que criou um Espaço Memória para discutir o Carandiru. Neste sentido, o objetivo
deste trabalho está centrado na exposição de memórias mais humanizadas do complexo,
partindo de uma visão que extrapola o senso comum no que diz respeito ao sistema carcerário
no Brasil e aos indivíduos que o compõe, transpondo os estereótipos construídos ao reduzir
os detentos a números no sistema - ou, até mesmo, reduzindo pessoas aos seus crimes. Deste
modo, contando com uma sequência didática de 4 a 5 aulas, serão expostas as seguintes
questões:

1. Introdução ao tema
Para apresentar a temática a ser trabalhada, vamos propor a seguinte atividade:
levaremos fotos de objetos pertencentes aos detentos do complexo, tanto artigos
pessoais quanto produzidos por eles, que resgatam as memórias dos indivíduos que
integraram o presídio, a fim de permitir que os educandos reflitam sobre estes
materiais, a história por trás deles, seus locais de produção e quem os produziu. A
prática será desenvolvida sem que os estudantes saibam a origem dos objetos
previamente, com o objetivo de permitir que suas conclusões sejam dadas sem os
preconceitos e suposições acerca da temática. A ideia é propor um primeiro contato
“cego”, mas ao mesmo tempo centrado no olhar e não no imaginário. Depois das
primeiras discussões, serão apresentadas as informações sobre os objetos e o tema a
ser discutido nas próximas aulas. Posteriormente, os primeiros debates sobre a
questão serão encaminhados.

1.1 Breve histórico do sistema carcerário brasileiro e o punitivismo


Nesta primeira aula do ciclo de debates tentaremos expor uma breve história da
construção do sistema carcerário brasileiro, partindo do dado de que o Brasil possui a
terceira maior população carcerária do mundo - são mais de 700 mil indivíduos
privados de liberdade. Contando com uma dinâmica recreativa (ainda não definida),
temos como objetivo exemplificar as noções comuns que residem no imaginário
brasileiro acerca desta parcela da população, o pensamento punitivista enraizado e as
problemáticas que envolvem o sistema. A ideia desta primeira aula é apresentar a
temática a ser trabalhada nas aulas seguintes, situando os educandos sobre as
problemáticas do sistema carcerário, partindo de algumas provocações. Este primeiro
contato com o tema, assim como as demais aulas, é pensado a partir de uma dinâmica
de roda de conversa, de modo que os conhecimentos prévios dos educandos sejam
incorporados nas discussões.

2. O que foi o Complexo Penitenciário do Carandiru?


Na segunda aula do ciclo vamos apresentar o histórico do local a ser trabalhado, a
Casa de Detenção de São Paulo. Para isso, serão apontados os conceitos aprendidos
anteriormente, como o punitivismo. Neste tópico vamos nos aprofundar no assunto,
questionando o que os estudantes conhecem sobre a história do presídio e o que
sabem sobre as mudanças que tomaram o lugar do mesmo. Essa aula será fundamental
para entendermos, a nível escolar, como se dá a construção - ou “não-construção” - da
memória do Carandiru.

3. Memórias do Carandiru: além do Massacre


Após a exposição da história do complexo, pretendemos entrar na questão das
memórias propriamente, a parte fundamental do tema a ser trabalhada. Neste
momento vamos comentar as disputas de memórias que existem em torno da história
e da fisicalidade que o complexo teve e deixou. Pouco se fala sobre o Carandiru e,
quando este é lembrado, são consideradas as versões mais problemáticas de sua
história e memória. Nesse ponto, vamos retomar as imagens dos objetos apresentados
na introdução da temática, resgatando as primeiras impressões dos mesmos e
considerando os novos conhecimentos adquiridos acerca do presídio em questão.
Idealmente, essa aula serviria para contextualizar uma visita ao Espaço Memória
Carandiru, em uma aula subsequente, localizado no primeiro andar da ETEC Parque
da Juventude, que possui uma proposta semelhante à nossa ao tratar da temática.
Aqui, vamos levantar as questões da memória com viés mais humanizado, pensando o
cotidiano dos detentos e como seus objetos trazem uma outra proposta de memória,
para além das violências vividas no complexo, e remetendo às individualidades das
pessoas que lá viviam.

4. Fechamento do tema e proposta avaliativa: objetos e memória


Para finalizar o projeto proposto, vamos resgatar as questões trabalhadas em sala de
aula e propor uma reflexão acerca do que se conhecia sobre o tema e o conhecimento
adquirido sobre o mesmo. Com uma proposta de finalização aberta, buscamos
entender, pela parte dos educandos, como suas concepções prévias mudaram ou não
em relação ao tema. Além disso, vamos discutir as fisicalidades da memória e a
potência dos objetos em “guardar” a história, bem como entender como a escolha
destes objetos sugere certos tipos de memórias. A ideia é comentar, mais uma vez,
como a memória não é unilateral e absoluta, e pode ser apresentada a partir de
diversos grupos e olhares. Por fim, como proposta avaliativa, vamos sugerir a
produção de um objeto de memória, de forma individual ou em grupo, que fale sobre
a história da cidade ou da escola onde se encontram estes alunos, que deverão ser
apresentados na aula seguinte. A idéia é discutir as intencionalidades da memória que
reside nos objetos, que no caso serão concretizadas pelas escolhas representativas dos
alunos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GODOI, Rafael. Fluxos em cadeia: as prisões em São Paulo na vidada dos tempos. Tese
(Doutorado em Sociologia) - Departamento de Sociologia, FFLCH, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2015. https://doi.org/10.11606/t.8.2015.tde-05082015-161338
Koerner, A. Punição, disciplina e pensamento penal no Brasil do século XIX. Lua Nova
2006.
SALLA, Fernando; ALVAREZ, Marcos. A militarização do sistema penitenciário brasileiro.
Le monde Diplomatique, v. 7.
PRISIONEIROS da grade de ferro. Direção de Paulo Sacramento. São Paulo, 2003.

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