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Em um enredo típico de filme de ação e suspense – com final imprevisível até o último
minuto – a rede varejista Magazine Luiza encerrou uma das mais acirradas disputas
empresariais no País nos últimos anos. Sob comando do presidente Frederico Trajano,,
a Magalu, como passou a ser chamada a partir de 2017, travou uma guerra com o
Grupo SBF, dono da rede mineira Centauro, pela compra da Netshoes, maior site de
artigos esportivos da América Latina. Entre idas e vindas e novas ofertas que cobriam
as anteriores, o Magazine Luiza levou a melhor.
A oferta de US$ 115 milhões foi, enfim, aprovada por 90,32% dos acionistas da
Netshoes – uma cifra 85% que a proposta inicial de US$ 62 milhões. O negócio foi
fechado com a venda de todas as ações de emissão da Netshoes pelo preço de US$
3,70. “A compra é muito importante porque endereça, nesse momento específico,
uma iniciativa estratégica essencial da companhia, com foco na diversificação de
categorias e o aumento da frequência de compra”, disse Trajano, em entrevista.
A batalha pela aquisição, no entanto, é página virada – e pode ter sido apenas o
prólogo do imenso desafio que a companhia tem pela frente. O Magazine Luiza, com
valor de mercado acima de R$ 40 bilhões, tem brilhado como uma das maiores estrelas
da bolsa. Por outro lado, a Netshoes, apesar de um faturamento anual bilionário e
vendas de R$ 2,5 bilhões em 2018, não dava lucro, pois, o modelo de negócio da
empresa, ancorado em uma estrutura 100% digital, tinha uma doença crônica.
Sob o guarda-chuva do Magazine Luiza, Frederico Trajano afirma que irá atacar
exatamente fatores que eram fragilidades da Netshoes. Toda a estrutura das suas
empresas serão integradas em 2020, tornando a operação mais robusta e com maior
ganho de escala. Além disso, haverá um mix das operações digitais da Netshoes com a
gigantesca estrutura física do Magazine Luiza, com duas mil transportadoras, doze
centros de distribuição e mais de mil lojas em todo o País.
A Netshoes, com suas marcas Zattini, Shoestock e Free Lace, opera de centros
logísticos em Extrema (MG), Jaboatão dos Guararapes (PE) e Barueri (na região
metropolitana de São Paulo). Diariamente, a empresa processa e despacha 35 mil
pedidos, em média. “O grande problema da Netshoes eram as despesas de vendas e
administrativas. Ao integrar toda a plataforma, o back office (departamentos de
retaguarda dos processos) e a logística da Netshoes ao Magalu, vamos reduzir
sensivelmente o custo operacional. Com isso, vamos fazer a virada para o lucro”,
garante Trajano.
A julgar pela reputação, de fato o Magazine Luiza está bem na foto. Com um salto de
273% em faturamento, engajamento de clientes e valor financeiro, a varejista aponta
como uma das dez marcas mais valiosas do Brasil, de acordo com o estudo. “Marcas
valiosas permanecem relevantes com ações inovadoras, com proposta de valor e
posicionamento da companhia”, definiu a diretora de marketing do Magazine Luiza,
Ilca Sierra. E, dentro desse posicionamento, a Netshoes surge como peça-chave para a
rede varejista.
Houve aquisição tão importante? No passado, tivemos a da Lojas Maia, que nos
ajudou a entrar com lojas físicas no Nordeste. Tivemos, em 2018, a Softbox, que é uma
empresa de tecnologia focada em digitalizar empresas analógicas. Então,
estrategicamente, tanto as menores, quanto as maiores aquisições cumprem sempre o
papel de nos ajudar a preencher alguma lacuna na operação. Fazer isso organicamente
nos segmentos de esporte e moda demoraria muito tempo. Por isso, a aquisição da
Netshoes foi um movimento estratégico.
O “rally” com a Centauro não tornou a Netshoes cara demais? A gente tinha a
vantagem de sempre dar a última palavra. Isso constava do nosso contrato inicial,
quando foi apresentada a primeira proposta. Então, se eu não achasse bom, com
certeza não teria feito. Somos uma empresa muito racional, sempre com avaliações do
fluxo de caixa. Concretizamos a oferta porque sabíamos que havia o fator racional
muito forte na proposta. Se a gente colocar a Netshoes em perspectiva, o valor do
negócio é pouco mais de 1% do valor do Magazine Luiza, que hoje está em R$ 40
bilhões na bolsa.
Você comprou uma empresa que nunca deu lucro. Uma operação não pode
contaminar a outra? Quando decidimos fazer a proposta, desenhamos um
planejamento para saber como poderíamos rentabilizar a operação da Netshoes.
Todas as empresas de e-commerce do País que compram, estocam e vendem
mercadorias, geralmente dão prejuízo. Não vou citar nomes, para não ser deselegante,
mas é só qualquer um analisar a operação dos e-commerces puros, não integrados
com lojas físicas, que é o nosso modelo omnichannel.