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O distinguishing realizado pelo STF no

julgamento da ADIN 3.421-PR

André Luis Bitar de Lima Garcia


José Anijar Fragoso Rei

Sumário
1. Introdução. 2. As transformações ocor-
ridas no pensamento jurídico contemporâneo.
A aproximação das tradições de civil law e
common law. O papel do STF no atual contexto
de jurisdição constitucional. A necessidade de
respeito aos precedentes. 3. A concepção de
precedente como regra de Frederick Schauer.
4. A concepção de precedente como princípio
de Ronald Dworkin. 5. Breves considerações
acerca das limitações às concessões unilaterais
de incentivos fiscais de ICMS pelos Estados e os
precedentes do Supremo Tribunal Federal sobre
o assunto. 6. O caso paradigma: o julgamento da
ADIN 3.421-PR. 7. Conclusão.

1. Introdução
A partir de algumas premissas necessá-
rias (transformação da metodologia jurídica
contemporânea, convergência dos dois
grandes sistemas clássicos de civil law e
common law, compreensão do papel do STF
e necessidade de respeito aos precedentes),
apresentaremos as características principais
de duas teorias sobre precedentes, elabo-
André Luis Bitar de Lima Garcia é especialis- radas por Frederick Schauer (2004) (“pre-
ta em Direito Processual Civil (ESA/CESUPA). cedente como regra”) e Ronald Dworkin
Mestrando em Direito (UFPA). Advogado. (2007) (“precedente como princípio”).
José Anijar Fragoso Rei é especialista em
Depois, verificaremos que o STF no julga-
Direito Tributário (UNAMA/LFG/IOB Thomp-
son). Especialista em Direito Público (UNISUL/ mento da ADIN 3.421-PR se afastou de seus
LFG). Mestrando em Direito (UFPA). Defensor precedentes e realizou um distinguishing.
Público do Estado do Pará, titular da 12a Defen- Faremos a análise desse caso, procurando
soria Cível da Capital. demonstrar que nele a Corte Suprema se

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afastou da concepção de precedente como modelo de tipicidade estrita das formas
regra e aproximou-se da concepção de que vigorava à época do Estado liberal
precedente como princípio. Concluiremos clássico. Sua utilização decorre da ideia de
que a decisão foi acertada e utilizou bons que o legislador não pode antever todas as
argumentos, haja vista que destinou espaço reais e verdadeiras necessidades de direito
à proteção dos direitos fundamentais. material, pois elas constantemente se trans-
formam e assumem diferentes contornos
2. As transformações ocorridas no conforme os casos concretos (MARINONI,
pensamento jurídico contemporâneo. A 2010a, p. 86-87).
Assim também, outra característica
aproximação das tradições de civil law e
marcante dessa nova feição da atividade
common law. O papel do STF no atual judicial consiste no fato de o juiz brasileiro
contexto de jurisdição constitucional. A controlar a constitucionalidade da lei e ter
necessidade de respeito aos precedentes em suas mãos a possibilidade de utilizar
Principalmente a partir da segunda me- as técnicas da interpretação conforme e da
tade do século XX, a metodologia jurídica declaração parcial de nulidade sem redu-
sofreu significativas transformações, com ção de texto e, ainda, suprir a omissão do
implicações na concepção de Direito. legislador relativa aos direitos fundamen-
Algumas características do pensamento tais. Diferentemente do que acontece em
jurídico contemporâneo podem ser desta- grande parte da Europa, onde o controle
cadas, como, por exemplo, (i) o reconheci- de constitucionalidade não é deferido à
mento da força normativa da Constituição; (ii) “magistratura ordinária”, todo e qualquer
a importância da teoria dos princípios; (iii) a juiz nacional tem o poder-dever de exercer
inegável mutação da hermenêutica jurídica o controle de constitucionalidade nos casos
e o reconhecimento da função criativa e concretos (MARINONI , 2010a, p. 73-74).
normativa da atividade jurisdicional; e (iv) De fato, não há como dar força norma-
a valorização dos direitos fundamentais, os tiva à Constituição sem um controle de
quais devem ser interpretados de modo a constitucionalidade; ainda mais no caso
dar-lhes o máximo de eficácia (SARMEN- do Brasil, onde não existe o monopólio da
TO, 2009; BARROSO, 2005)1. declaração de inconstitucionalidade. Isso
Dentro desse contexto, antigos dogmas quer dizer que em nosso país há um sistema
precisam ser quebrados, sendo exemplo plural, cuja característica fundamental é a
disso a necessidade de compreensão de que concorrência no exercício do controle de
o juiz da atualidade não é mais servo do constitucionalidade, ou seja, vários órgãos
Legislativo; hoje, o seu papel é tão criativo judiciais podem apresentar argumentos a
quanto o do seu colega do common law. favor ou contra a constitucionalidade das
Várias são as formas de perceber essa re- leis (PEGORARO, 2004, p. 25-130, 145-168;
alidade. Poderíamos lembrar, por exemplo, MAUÉS, 2010, p. 356-384).2
que atualmente existe verdadeira expansão Sem dúvida, essa característica do direito
das chamadas cláusulas gerais, técnica de nacional acaba por aproximar bastante os
redação de enunciado normativo que atri- dois grandes sistemas de civil law e common
bui maior poder ao juiz para criar a justiça
do caso concreto e rompe com o tradicional
2
A noção de sistema plural é fruto dos estudos
A união dessas principais características marca
1
de Lucio Pegoraro (2004). Para uma análise das atuais
o que a doutrina chama de neoconstitucionalismo. Já características do controle de constitucionalidade no
podemos verificar considerável literatura no Brasil Brasil e a compreensão de que o sistema brasileiro se
a respeito dessa nova fase (também denominada por caracteriza como um sistema plural, consultem-se as
alguns como pós-positivismo, ou, ainda, neopositivismo). referidas obras.

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law (HOLANDA, 2010) 3, ajudando a que- com a concepção estrita de Tribunal ad hoc
brar outro dogma: a suposta incomunicabili- (característica principal do modelo de jus-
dade entre as tradições do civil law e common tiça constitucional concebido por Kelsen,
law (FERNÁNDEZ SEGADO, 2004).4 em que o controle de constitucionalidade
Particularmente no Brasil, a convergên- das leis e atos normativos é exercido por
cia das duas grandes tradições jurídicas um tribunal que não pertence ao Poder
ocidentais pode ser percebida na tendência Judiciário, excluindo dessa atribuição o
à uniformização da jurisprudência, à ver- juiz ordinário).
ticalização das decisões judiciais e à valo- O respeito e a credibilidade do Supremo
rização dos precedentes no ordenamento Tribunal Federal e, por consequência, do
jurídico brasileiro.5 Poder Judiciário, passam por um sistema
Partindo da premissa de que os Tribu- de precedentes obrigatórios, nos moldes
nais Constitucionais realmente criam direi- do stare decisis norte-americano. O sistema
to, diz Fernández Segado (2004. p. 87-88): plural de controle de constitucionalidade
“La gran novedad del último medio presente em nosso país exige que as deci-
siglo reside en la progresivamente sões do STF vinculem o próprio Tribunal
mayor asunción por los tribunales (dimensão horizontal) e os demais juízes
constitucionales de funciones que, (dimensão vertical). Aliás, basta ler a reda-
desbordando los estrictos limites del ção do art. 102 (missão do STF de guarda
‘legislador negativo’, caen de lleno en da Constituição) e do art. 102, I, alínea “l”
el ámbito de las funciones creadoras (previsão da reclamação constitucional)
de derecho proprias de un legislador para perceber que o constituinte ampara
positivo.” esta tese (sistema de precedentes).
Não há como pensar na sobrevivência Assim, considerando que é imprescin-
de um sistema plural de constituciona- dível e urgente a adoção de um sistema
lidade em que os Tribunais Regionais e de precedentes obrigatórios no Brasil,
os Tribunais de Justiça não respeitam os Marinoni sintetiza bem a preocupação de
precedentes do STF. Admitir o contrário sedimentar na cultura jurídica brasileira
é não compreender o verdadeiro papel a compreensão, o estudo e o respeito aos
do STF como Corte Constitucional (visão precedentes:
retrospectiva e prospectiva dos conflitos) “Embora deva ser no mínimo indese-
(GÓES, 2010, p. 305), que não se confunde jável, para um Estado Democrático,
dar decisões desiguais a casos iguais,
3
Aliás, como se sabe, não é apenas no direito
ainda não se vê reação concreta a esta
que existe essa tendência nacional para a mistura, situação da parte dos advogados bra-
mestiçagem e hibridismo. Sobre a origem histórica sileiros. A advertência de que a lei é
da formação da cultura brasileira, é indispensável a igual para todos, que sempre se viu
leitura de Sérgio Buarque de Holanda (2010).
4
Para um estudo da aproximação dos dois
escrita sobre a cabeça dos juízes nas
sistemas clássicos de civil law e common law e, mais salas do civil law, além de não mais
especificamente, aproximação do regime judicial bastar, constitui piada de mau gosto
review norte-americano ao modelo europeu, devido a àquele que, perante uma das Turmas
instituição da autoridade do precedente (stare decisis),
consulte-se a referida obra.
do Tribunal e sob tal inscrição, rece-
5
São exemplos disso: i. a chamada “objetivação” be decisão distinta a proferida ­– em
do recurso extraordinário; ii. criação da súmula caso idêntico – pela Turma cuja sala
vinculante – CF, art. 103-A; iii. repercussão geral do se localiza metros mais adiante, no
recurso extraordinário – CF, art. 102, § 3o; iv. julgamento
dos recursos especiais repetitivos – CPC, art. 543-C-;
mesmo longo e indiferente corredor
v. aumento do poder dos relatores – CPC, art. 557-; vi. do prédio que, antes de tudo, deveria
julgamento liminar de improcedência – CPC, art. 285-A. abrigar a igualdade de tratamento

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perante a lei” (MARINONI, 2010b, rante seria anti-higiênica. Enfim, existem
p. 588). várias circunstâncias que podem acontecer
As características de duas das principais com a entrada de cães em um restaurante,
teorias a respeito dos precedentes serão capazes de gerar incômodos aos clientes.
brevemente expostas a seguir, para após Estamos diante, nas palavras de Schauer,
verificar de qual delas o STF se aproximou de uma generalização provável, ou seja,
ou se afastou quando do julgamento da na maioria das vezes, é provável que o cão
ADIN 3.421-PR. traga incômodos aos clientes (SCHAUER ,
2004, p. 86-89).
3. A concepção de precedente como Portanto, a generalização probabilística
é o que dá a justificativa da regra. No exem-
regra de Frederick Schauer
plo, a justificativa da regra é não provocar
A noção de precedentes como regras foi incômodo aos clientes; e isso decorre de
formulada por Frederick Schauer em sua uma generalização provável.
obra “Las reglas en juego” (SCHAUER , Pensemos agora em outra hipótese:
2004). O autor é um defensor do positivis- Além de cães, outros animais podem pro-
mo e baseia sua teoria na separação entre vocar incômodos aos clientes em um res-
direito (normas jurídicas) e moral (normas taurante, como, por exemplo, um urso. Ora,
morais). assim como não é certo que nem todos os
Para entender a concepção de preceden- cães vão provocar incômodos aos clientes
tes como regras, é necessário inicialmente (ex.: cães-guia), outros animais podem pro-
ressaltar que o objeto de estudo de Schauer vocar incômodos aos clientes (ex.: ursos).
são as regras prescritivas, ou seja, aquelas Com efeito, temos uma dupla deficiência da
que nos obrigam ou proíbem a fazer algu- regra. A essas experiências que surgem da
ma coisa. Estas formam o conteúdo do di- aplicação das regras Schauer denomina de
reito e possuem uma estrutura binária, qual experiências recalcitrantes, isto é, situações
seja, um predicado factual (circunstâncias em que o resultado da aplicação da regra
de fato que levam a aplicação da regra) e não está de acordo com sua justificativa.
um consequente (resultado desta aplicação, As experiências recalcitrantes podem
sanção) (SCHAUER , 2004, p. 81-83). ser de dois tipos: a regra pode gerar um
Schauer traz-nos como exemplo a se- caso de sobreinclusão e um caso de su-
guinte regra: “É proibida a entrada de cães binclusão (SCHAUER, 2004, p. 89-92). A
no restaurante” (SCHAUER , 2004). Logo, primeira ocorre quando a regra inclui casos
teríamos como predicado factual a entrada que não estão de acordo com a sua justifi-
do cão no restaurante (fenômeno no mundo cativa. É o exemplo dos cães guia. Incluir
dos fatos) e como consequente a proibição os cães-guia dentro da regra de proibição é
desta conduta. indevido, afinal um cão-guia não provocará
Predicado factual é sempre uma gene- incômodo aos clientes. O segundo tipo de
ralização, isso quer dizer que, no exemplo experiências recalcitrantes denominado de
dado, todos os cães estariam proibidos subinclusão é o exemplo do urso de que
de entrar no restaurante. A regra jurídica fala Schauer (2004). Acontece quando a
abrange toda a espécie de cão (generalidade regra deixa de incorporar casos que estão
de casos). de acordo com a sua justificativa. Ou seja,
Continuando no exemplo, pergunta- um urso provoca incômodos aos clientes,
mos: Por que existe a regra que proíbe a mas a regra não o incluiu na proibição de
entrada de cães no restaurante? Ora, pois entrada no restaurante.
é perigoso, o cão pode morder as pessoas. Essa primeira parte da teoria de Schauer
Além disso, a entrada de cães no restau- (2004) é mais descritiva e mostra como as

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regras funcionam. A questão é que o autor Primeiramente, é preciso relacionar
defende que não nos devemos aprofundar princípios com a concepção de direito como
no estudo das justificativas das regras. Para integridade desenvolvida por Dworkin
ele, mesmo que a experiência recalcitrante (2007), a qual consiste, basicamente, em
nos indique que o resultado de aplicação da uma atividade de interpretação da prática
regra contraria a sua justificativa, devemos jurídica cotidiana, de modo a consolidar a
aplicar as regras. legitimidade da jurisdição constitucional e
Assim, a decisão baseada no modelo a unidade e coerência do sistema jurídico.
de regras é aquela em que prevalece o re- Especificamente no momento, interessa
sultado da regra contra a justificativa. Por destacar que falar em integridade é falar
outras palavras, o que importa é o resultado em coerência de princípios.
e a aplicação da regra, embora possa exis- A integridade é muito diferente do que
tir a convicção linguística da experiência Dworkin chama de consistência/coerência
recalcitrante. Tal é o modelo enraizado (el de estratégia, ou seja, simples manutenção
modelo atrincherado) defendido por Schauer das decisões passadas. Ao seguir apenas
(2004, p. 89-92). a consistência de estratégia, as decisões
Esse é o centro da proposta de Schauer. passadas teriam que ser respeitadas,
O autor não quer que aprofundemos o mesmo que não haja nenhuma razão que
exame da justificativa, até mesmo por- as justifique. A integridade, por sua vez,
que, se assim for, estaremos buscando e exige que as decisões passadas, a fim de se
trazendo para a discussão argumentos e tornarem precedentes, devem ser coerentes
princípios morais, o que não seria desejável com o conjunto de princípios existente em
(SCHAUER , 2004, p. 89-92). uma determinada comunidade jurídica.
Seguindo neste raciocínio, Schauer Isso significa que o intérprete busca o(s)
(2004) defende que a melhor concepção princípio(s) que fundamenta(m) o(s)
de precedentes é aquela baseada em um precedente(s) (DWORKIN , 2007).
modelo de regras. Isso significa que se o Dworkin busca descrever o significado
precedente é vinculante ele deve funcionar desta complexa coerência interpretativa da
como uma regra. integridade a partir da analogia do romance
Para justificar sua posição neste par- escrito em cadeia por diversos autores, em
ticular, Schauer (2004) também utiliza o uma sociedade pluralista e em evolução
argumento da aversão ao risco, o qual, constante. Percebemos a importância de se
pensado no sistema judicial, quer significar identificarem princípios que emergem das
a intenção de diminuir o risco de decisões entrelinhas do sistema de regras expressas
erradas tomadas pelas instâncias inferiores (do texto já escrito do romance) e que sus-
do Poder Judiciário. tentam e justificam a prática jurídica (ou
Com isso, é inegável que Schauer (2004) seja, o enredo principal da história). É o res-
acaba por limitar as distinções quando da peito a esses princípios que assegura a in-
utilização, interpretação e aplicação de tegridade do sistema jurídico (DWORKIN,
precedentes. 2007, p. 275-279).
O juiz, na técnica de vinculação dos pre-
cedentes, utilizando a metáfora do “roman-
4. A concepção de precedente como
ce em cadeia”, deve ser visto como mais
princípio de Ronald Dworkin um autor na construção da interpretação
Em sentido oposto à teoria de Frederick do direito, atento ao contexto da morali-
Schauer (2004), existe a noção de preceden- dade política vigente na comunidade e às
tes como princípios, cujo referencial teórico respectivas mudanças do corpo social que
é Ronald Dworkin (2007). influenciam na esfera jurídica, mas igual-

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mente preocupado com a consolidação da fundamentais. Assim, podemos dizer que,
coerência e unidade do sistema jurídico. se não houver violação de direitos funda-
Seguindo nesse raciocínio, Dworkin mentais, o precedente deve ser aplicado;
(2007) afirma que o escritor (juiz) deve fazer e o inverso também é verdadeiro. Este,
dois testes para saber se está cumprindo então, seria o melhor critério, com amparo
bem a sua função, quais sejam: adequação na visão de Dworkin (2007), para avaliar a
e justificativa. viabilidade da técnica da distinção, que, em
A adequação significa procurar o ajuste curtas palavras, significa a possibilidade da
ao que foi escrito antes. É verificar se a não aplicação de um precedente ao argu-
decisão proposta pelo juiz é adequada aos mento, racional e convincente, que o novo
princípios que fundamentam as decisões caso a ser julgado apresenta características
passadas. Todavia, sabemos que esse teste especiais que exigem um tratamento dife-
oferecerá ao juiz diferentes alternativas, renciado.
pois este muito provavelmente encontrará
várias formas de continuar escrevendo 5. Breves considerações acerca das
aquele romance. Com efeito, surge a ne- limitações às concessões unilaterais
cessidade do segundo teste. de incentivos fiscais de ICMS pelos
O teste da justificativa, por sua vez, sig- Estados e os precedentes do Supremo
nifica que o juiz deve buscar a decisão pas-
Tribunal Federal sobre o assunto
sada que mais se ajusta ao conjunto coerente
de princípios. O juiz não tem discriciona- A Constituição Federal de 1988 delegou
riedade livre e desvinculada. Os princípios aos seus entes federados competências tri-
darão o limite necessário à decisão. butárias para instituir tributos, para que,
Tudo isso conduz à ideia de que, não com isso, esses entes exerçam as compe-
havendo violação de princípios, os prece- tências materiais que a própria Lei Maior
dentes devem ser aplicados. Por consequ- lhes outorga. Desse modo, aos Estados e ao
ência, a não aplicação do precedente estará Distrito Federal cabem instituir o ICMS –
justificada quando a distinção do caso é Imposto sobre Circulação de Mercadorias
baseada em princípios. e Serviços – que consiste em uma das maio-
Como vemos, estamos diante de um ce- res fontes de financiamento das políticas
nário oposto ao de Schauer (2004). Dworkin públicas e do funcionamento da máquina
(2007) é um crítico do positivismo e seus administrativa estadual.
estudos aproximam o direito da moral. O art. 155, § 2o, XII, “g”, da Constituição
Partindo da ideia de que nenhum caso Federal de 1988 preceitua que os benefícios
é rigorosamente igual ao outro, podemos e incentivos fiscais sobre o ICMS devem ser
aferir que o problema da distinção é iden- concedidos na forma que a lei complemen-
tificar que razões nos fazem privilegiar as tar federal dispuser. A lei em questão é a
diferenças ou semelhanças de um caso. Lei Complementar no 24/75, recepcionada
Para isso, é preciso que seja feito um juí- pelo Texto Maior vigente por conta do art.
zo de valor e o melhor fundamento para 34, § 8o, do ADCT. A LC no 24/75, em seus
a distinção passa a ser o argumento dos arts. 1o e 2o, reza que os benefícios fiscais
direitos fundamentais. Noutros termos, se serão concedidos na forma de convênios
quisermos trabalhar os precedentes de for- firmados por meio de deliberação unânime
ma menos abstrata, precisamos trabalhar os entre os Estados e os Municípios.
parâmetros de justiça e equidade no âmbito Há, portanto, uma proibição que recai
dos direitos fundamentais. sobre os Estados-membros, no sentido
A integridade exige coerência de princí- de que eles não podem, unilateralmente,
pios e, portanto, coerência com os direitos aplicar renúncias de receita de ICMS,

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devendo tais atos ser autorizados por vênios, deliberados de forma unânime por
todos os demais Estados e pelo Distrito todos os Estados, para que estes benefícios
Federal, mediante convênio celebrado no sejam válidos.
Conselho Fazendário (CONFAZ), no qual Devido à importância do ICMS e ao
todos os Secretários Estaduais de Fazenda, fato de este imposto importar em exação
juntamente com o Ministro da Fazenda, integral e nacional, revela-se também ne-
possuem assento. cessária a obrigatoriedade de convênios
A referida previsão constitucional, deliberados de forma unânime entre todos
combinada com a legislação complemen- os Estados-membros e o Distrito Federal.
tar em comento, vem juntar-se a outros Assim, a concessão de benefícios fiscais
dispositivos federais que regulamentam de ICMS pode provocar efeitos deletérios,
o ICMS. Desse modo, embora seja um pois os Estados buscariam atrair para seus
imposto estadual e distrital, o ICMS é for- territórios os empreendimentos até então
temente disciplinado por textos normativos instalados em outras unidades da Federa-
federais, como ocorre com as resoluções do ção e, assim, causar graves efeitos sociais.
Senado Federal que fixam alíquotas inte- Ou seja, a referida limitação visa a evitar a
restaduais e alíquotas mínimas e máximas, chamada guerra fiscal, sendo tal intento a
entre outros. razão de ser dos convênios autorizativos de
Os dispositivos da Lei Complementar incentivos fiscais do ICMS pelo CONFAZ
no 24/75 amoldam-se, no sistema tributário (PYRRHO, 2008, p. 32-33).
nacional, ao conceito de normas gerais de Vale ressaltar que o federalismo coope-
direito tributário, especialmente por re- rativo estabelece um paradigma no qual as
gular limitações constitucionais ao poder atribuições são exercidas de modo comum
de tributar. Nesse caso, a concessão de ou concorrente, de modo que os entes deve-
benefícios fiscais do ICMS é, como norma rão atuar em conjunto. Decorre tal modelo
geral, um canal de interferência da União também da necessidade de coordenação
nos interesses jurídico-tributários dos Esta- do exercício das competências, dirigidas
dos, do Distrito Federal e dos Municípios pelo Estado Federal, adotado no Brasil pela
(CARVALHO, 2004, p. 209-210), a priori em Constituição Federal de 1988.
nome do equilíbrio federativo. Assim, Gadelha infere que a tentativa
As normas gerais de direito tributário de aquecimento econômico como justi-
devem-se à necessidade de uniformidade ficativa para a guerra fiscal diverge dos
econômica dentro do Estado Federal, visan- valores e princípios do federalismo, bem
do a um tratamento igualitário aos entes como as isenções de ICMS acirram os âni-
federativos e às pessoas que neles habitam mos econômicos e implementa a disputa
ou que pretendam desenvolver suas ativi- por novos sujeitos não contribuintes. Tal
dades econômicas. Há, pois, a finalidade quadro acarreta um federalismo atípico,
de harmonizar o sistema tributário e evitar de natureza competitiva, pois privilegia
que se fira o princípio federativo. interesses locais, enquanto a razão de ser
Ou seja, em favor do equilíbrio fede- da Federação reside no bem-estar de toda
rativo, devem ser dirigidas aos Estados- a nação (GADELHA, 2010, p. 132).
-membros e ao Distrito Federal, como uni- O processo de alocação de investimen-
dades federadas e dotadas de competência tos em certas regiões do País motivado
tributária, normas gerais que limitem, de exclusivamente por atrativos fiscais acirra
forma isonômica, o poder de tributar e as a competitividade entre os entes e descarac-
concessões de benefícios fiscais de ICMS. teriza, portanto, o federalismo cooperativo.
Tal diretriz coaduna-se, em princípio, com Nesse sentido, mostra-se conveniente, para
a obrigatoriedade de observância de con- coibir essa prática e preservar o federalis-

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mo cooperativo, o advento de um agente federal em se tratando de benefícios tributá-
intermediador que crie parâmetros a esses rios para evitar que um Estado prejudicasse
incentivos, o que se ajusta à sistemática outro sob o disfarce de sua antonomia. Tal
prevista no art. 155, § 2o, XII, “g”, da CF entendimento consta expressamente do
c/c LC no 24/75. voto condutor, e seguido unanimemente,
Ou seja, o federalismo fiscal brasileiro do Ministro Maurício Corrêa, relator da
deve guardar afinidade com o modelo de ADI 286, julgada em 22 de maio de 2002,
federalismo cooperativo, notadamente em que cita seu voto e acórdão da Medida
pela coordenação de atividades e poderes Cautelar da ADI 2376.
entre os entes da Federação. É no sentido A preocupação com o equilíbrio fis-
da preservação do equilíbrio federativo cal federativo, o repúdio à guerra fiscal
que, conforme ensina Elali: não obstante a entre os Estados e a supremacia do texto
competência tributária para instituição do constitucional do art. 155, § 2o, XII, “g”,
ICMS ser dos Estados e do Distrito Federal, complementado pelo art. 1o da LC no 24/75,
o texto constitucional regula em grau má- vem fazendo o STF julgar inconstitucionais
ximo seu âmbito de atuação, por se tratar várias leis e instrumentos normativos es-
de imposto que deve manter uma unidade taduais que concediam benefícios fiscais,
nacional (ELALI, 2005, p. 68). sobre as mais variadas denominações e
Desta maneira, os dispositivos do art. argumentos sem passar pela autorização
155, § 2o, XII, “g”, da CF/88 c/c o art. 1o da unânime no CONFAZ. Alguns exemplos
LC no 24/75, quando determinam a obri- dos precedentes do Pretório Excelso sobre o
gatoriedade de convênios unanimemente assunto são: a ADI 84, julgada em 5.2.1996,
deliberados pelos Estados-membros e pelo relatada pelo Min. Ilmar Galvão; ADI
Distrito Federal, como requisitos prévios MC 902, de 3.3.1994, Relator Min. Marco
para a concessão de benefícios fiscais de Aurélio; ADI 1179, julgada em 13.11.2002,
ICMS, revela-se como medida que visa a relatada pelo Min. Carlos Veloso; ADI MC
diminuir os ímpetos competitivos entre os 2.352, julgada em 19.12.2000, Relator: Min.
entes da Federação, de forma a reforçar o Sepúlveda Pertence.
caráter de cooperação entre os membros Nesse mesmo sentido, na sessão do
do Estado Federal, assim como o equilíbrio dia 1o de junho de 2011, foram julgadas
fiscal. procedentes doze ações diretas de incons-
O Supremo Tribunal Federal, por diver- titucionalidade, inclusive a no 1.247-PA, na
sas vezes, já decidiu no sentido de que são qual foi declarado inconstitucional o art. 12
inconstitucionais os incentivos fiscais de da Lei no 5.780/93 do Estado do Pará, que
ICMS que não sejam amparados por convê- permitia a concessão de benefícios fiscais
nios do CONFAZ, na forma que estabelece ou financeiros que resultassem exclusão
a LC no 24/75, com base no art. 155, § 2o, XII, ou redução de ICMS, independentemente
“g”, por entender que, em caso contrário, o de autorização do CONFAZ, nos casos de
equilíbrio na federação estaria prejudicado. notória necessidade de defender a Econo-
No mais, o Supremo Tribunal Federal mia do Estado e de capacidade competitiva
já apontou variadas vezes que as renúncias dos empreendimentos locais.
de receita em matéria de ICMS dependem O Supremo Tribunal Federal seguiu no-
de convênio deliberado de forma unânime vamente seus precedentes quando, em 19 de
pelos Estados e pelo Distrito Federal, apon- setembro de 2007 nos autos da ADI no 3.936,
tando que o ICMS é um tributo de carac- relatada pelo Ministro Gilmar Mendes, jul-
terística nacional, pelo que o constituinte gou inconstitucional a Lei no 10.689/93 do
determinou que fossem observadas as Estado do Paraná, pela qual, uma vez sendo
regras estabelecidas em lei complementar concedido benefício fiscal de ICMS por um

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Estado, sem observância dos procedimen- regra de Schauer, as normas concessivas
tos estabelecidos na Lei Complementar no desses incentivos deveriam ser julgadas
24/75, aquele Estado estaria autorizando a inconstitucionais.
assim também proceder. Foi afastada, pelo Ocorre que não foi isso que aconteceu
Pretório Excelso, um a possível “compensa- no julgamento da ADI 3421, julgada em
ção de inconstitucionalidades” ou “direito 05 de março de 2010, tendo como relator o
de vingança”, que só acirrariam os ânimos Ministro Marco Aurélio. Nesse julgamento,
da guerra fiscal e ressaltaria o caráter com- o STF não adotou a teoria dos precedentes
petitivo, em detrimento dos preceitos do como regra. Passamos a expor as razões
federalismo cooperativo, devendo perma- dessa nossa conclusão.
necer a inconstitucionalidade das normas Tal ação foi ajuizada pelo governador
concessivas de incentivos fiscais pelos Es- do Estado de São Paulo e pretendia ver
tados sem prévia aprovação do CONFAZ declarada inconstitucional a Lei no 14.586,
(ALEXANDRE, 2009, p. 158). de 22 de dezembro de 2004, do Estado do
Enfim, em quase todas as vezes em Paraná.6
que se viu diante de dispositivos legais e Essa lei, em seu art. 1o, confere isenção
infralegais editados por Estados-membros do ICMS nas contas de serviços públicos
ou pelo Distrito Federal que concediam estaduais próprios, delegados, privatiza-
benefícios fiscais de ICMS sem passar pela dos de água, luz, telefone e gás de igrejas
autorização unânime dos demais Estados e templos de qualquer culto, desde que
no CONFAZ, o STF declarou inconstitu- os imóveis estivessem na propriedade ou
cionais as respectivas normas imputando a posse dessas igrejas e que fossem, efetiva-
ofensa ao disposto no art. 155, § 2o, XII, “g”, mente, utilizados para práticas religiosas.
da Constituição Federal de 1988, comple- O autor dessa Ação Direta de Incons-
mentado pelo art. 1o da LC no 24/75. titucionalidade adotou como argumento
principal justamente a ofensa ao art. 155, §
2o, XII, “g”, da Constituição Federal de 1988,
6. O caso paradigma: o
combinado com a Lei complementar 24/75,
julgamento da ADI 3.421-PR pois não constava da referida lei a neces-
Dialogando com a teoria de Schauer sidade de prévio convênio firmado pelos
(2004), que adota os precedentes como
regra, os precedentes mencionados acima 6
Lei no 14.586, de 22 de dezembro de 2004, do
trariam, como predicado factual (genera- Estado do Paraná: Art. 1o Fica proibida a cobrança
de ICMS nas contas de serviços públicos estaduais
lização), a concessão de incentivos fiscais próprios, delegados, terceirizados ou privatizados de
de forma unilateral pelos Estados ou pelo água, luz telefone e gás, de igreja e templos de qualquer
Distrito Federal, sem que tivesse sido pre- crença, desde que o imóvel esteja comprovadamente
cedido pela anuência dos demais Estados na propriedade ou posse das igrejas ou templos
e sejam usados para a prática religiosa. Parágrafo
no CONFAZ. único. Nos casos em que o imóvel não for próprio, a
A consequência da aplicação dessa ge- comprovação do funcionamento deverá se dar através
neralização, de acordo com o conjunto de de contrato de locação ou comodato devidamente
julgados anteriores, é que todas as normas registrado, ou ainda, da justificativa de posse judicial.
Art. 2o São definidas, para efeito do artigo 1o, as
dessa natureza seriam inconstitucionais, contas relativas a imóveis ocupados por igreja ou
devendo prevalecer tal regra ainda que templos de qualquer culto, devidamente registrados
a justificativa não estivesse presente. Ou e reconhecidos pela autoridade competente através do
seja, mesmo não estando presente a “guer- alvará de funcionamento. Art. 3o Os templos e igrejas
deverão requerer, junto as empresas prestadoras
ra fiscal” entre os Estados em questões de serviços, a isenção a que tem direito, a partir da
envolvendo incentivos fiscais de ICMS, vigência desta lei. Art. 4o Esta lei entra em vigor na
seguindo-se a teoria de precedentes como data de sua publicação.

Brasília a. 49 n. 196 out./dez. 2012 319


Estados junto ao CONFAZ, uma vez que se Dada a relevância central do tema, vale
tratava de renúncia de receita no âmbito do transcrever parte do voto condutor do Mi-
ICMS. É sobre esse argumento que a análise nistro Marco Aurélio:
proposta neste artigo se concentrará. “A disciplina legal em exame apresenta
Se o Pretório Excelso tivesse seguido a peculiaridades a merecerem reflexão para
doutrina de “Precedentes como regra”, de concluir estar configurada, ou não, a
Schauer (2004), a referida lei paranaense denominada ‘guerra fiscal’. (...) Ao lado
teria sido julgada inconstitucional, uma da imunidade, há a isenção e, quanto
vez que o predicado factual firmado nos ao Imposto sobre Circulação de Mer-
demais precedentes, visto que a existência cadorias e Serviços – ICMS, visando a
de renúncia de receita de ICMS sem prévio editar verdadeira autofagia, a alínea
convênio interestadual estaria presente e a g do inciso XII do § 2o do art. 155 da
conclusão dos precedentes anteriores de- CF remete a lei complementar regular
veria impor-se. De nada importaria, para a forma como, mediante deliberação
a tomada da decisão pelo tribunal, que a dos estados e do Distrito Federal,
justificativa estivesse ou não presente, no isenções, incentivos e benefícios fis-
caso a necessidade de preservar o equilí- cais serão concedidos e revogados.
brio federativo entre os Estados e evitar a A lei complementar relativa à disci-
“guerra fiscal” por meio do ICMS. plina da matéria é a número 24/1975.
No entanto, o voto do relator, Ministro Nela está disposto que, ante as pecu-
Marco Aurélio, seguido de forma unânime liaridades do ICMS, benefícios fiscais
pelo Tribunal, foi justamente no sentido hão de estar previstos em instrumen-
de fazer preponderar a justificativa em to formalizado por todas as unidades
detrimento da regra criada nos precedentes. da Federação. Indago: o preceito alcança
Inicialmente, cabe ressaltar que o Minis- situação concreta que objetive beneficiar,
tro relator considerou as igrejas e templos sem que se possa apontar como alvo a
de qualquer culto como contribuintes de cooptação, não o contribuinte de direito,
fato do ICMS cobrado nas contas dos ser- mas o contribuinte de fato, presentes igre-
viços públicos estaduais, pois, embora as jas e templos de qualquer crença, quanto
contribuintes de direito sejam as empresas a serviços públicos estaduais próprios,
públicas ou concessionárias desses serviços, delegados, terceirizados ou privatizados
o valor do imposto recai no preço da fatura, de água, luz, telefone e gás? A resposta
sendo, portanto, suportado pelas entidades é negativa.
religiosas. A proibição de introduzir-se benefício
Principalmente, o STF entendeu que, no fiscal, sem o assentimento dos demais
caso em análise, não estava presente qual- estados, tem como móvel evitar competi-
quer tipo de competição entre os Estados ção entre as unidades da Federação e isso
utilizando renúncias de receitas de ICMS, o não acontece na espécie” (BRASIL, 2010,
que tanto os dispositivos constitucionais e grifo nosso).
legais, assim como os precedentes adotam Diante da leitura do trecho do voto do
como justificativa para declarar normas Ministro, podemos concluir que o caso em
desse tipo como inconstitucionais. Ou seja, análise não foi decidido em conformidade
as renúncias de receita em questão, por be- com a teoria dos precedentes como regra,
neficiar igrejas e templos de qualquer culto, pois, uma vez detectada a experiência re-
não trazem consigo qualquer acirramento calcitrante, pois, em face da inexistência da
concorrencial por empreendimentos econô- justificativa que motiva a regra, esta última
micos, como ocorria nos casos que serviram não foi aplicada, cedendo lugar em impor-
de base aos precedentes do Tribunal. tância para a justificativa. Dito de outra

320 Revista de Informação Legislativa


maneira, o STF, ao optar pela justificativa e demais imóveis necessários ao fortaleci-
da regra, realizou a distinção e não aceitou mento da religião, desde que vinculados
os custos da experiência recalcitrante (vio- às finalidades essenciais do templo. O
lação de um direito fundamental). fundamento dessa renúncia fiscal, para
No julgamento da ADI 3421, a decisão esse autor, é a liberdade religiosa, que,
do STF pode ser analisada com base na teria no estado-fiscal brasileiro, se estende a
dos “precedentes como princípio”, que, por todos os cultos, uma vez que a liberdade
sua vez, dialoga com a concepção do “Direi- de religião é considerada um dos pilares
to como integridade”, de Ronald Dworkin do liberalismo. Portanto, o termo “reli-
(2007). Isso porque, no caso, em vez de gião” deve ser interpretado da forma mais
seguir estritamente a regra dos precedentes ampla possível, para agasalhar também a
sobre o assunto, procurou uma decisão que religião da minorias. Nesse diapasão, vale
fosse coerente com os princípios do orde- ressaltar o entendimento de Costa (2006,
namento jurídico brasileiro, especialmente p. 79), segundo o qual está implícito na
o respeito à liberdade de crença e culto. Constituição Federal de 1988, cotejando os
Além disso, foi relevante a não observância direitos fundamentais expressos com os
da utilização de renúncia de receita como dispositivos que disciplinam a atividade
fomento à guerra fiscal entre os Estados. tributante, o princípio da não obstância
A analogia do “romance em cadeia” do exercício de direitos fundamentais por
pode ser observada no voto do Ministro via da tributação. Segundo este princípio,
Marco Aurélio, ainda que não tenha sido como o ordenamento constitucional am-
explicitada. Isso porque o Ministro, ao se para determinados direitos fundamentais
pronunciar pela constitucionalidade da não pode admitir que a tributação seja
citada lei paranaense, debruçou-se sobre desempenhada em desfavor da efetivação
as razões jurídicas e morais que levaram desses direitos. A tributação deve conviver
o Constituinte de 1988 a prever a exis- de forma harmônica com os direitos fun-
tência de convênios interestaduais como damentais, não podendo levar, ainda que
condição de validade constitucional das indiretamente, à inviabilização ou restrição
normas concessivas de incentivos fiscais indevida de um direito fundamental. 7
de ICMS, quais sejam a necessidade de Assim, os templos das religiões mais
preservar o equilíbrio federativo entre os diversas, tendo que arcar com o ICMS das
Estados-membros e evitar de renúncias de contas de serviços públicos essenciais, que
receita desse tributo ICMS como atração de lhes seriam repassadas nas respectivas
empreendimentos econômicos, a chamada faturas pelos contribuintes de direito,
“guerra fiscal”. Não os encontrando na teriam suas atividades mais dificultadas,
citada lei paranaense, o Ministro voltou-se pois tal exação tributária não está prevista
ainda à preservação de um direito fun- na imunidade conferida pelo art. 150, VI,
damental, no caso a liberdade de crença “b”, da CF/88.
e de culto, seguindo as manifestações da Assim, o Supremo Tribunal Federal,
Advocacia Geral da União e do Ministério apesar de não ter ignorado as razões que
Público Federal, constantes do relatório do motivaram os precedentes, acabou por
acórdão, as quais relacionam a imunidade afastar sua aplicação no caso.
tributária dos templos de qualquer culto
com a liberdade religiosa e de crença. 7
Embora conste sucintamente do voto condutor
Convém mencionar que Torres (2011, p. do Ministro Marco Aurélio no acórdão em questão,
a doutrina especializada relaciona diretamente
74) esclarece que a imunidade em questão a imunidade aos templos de qualquer culto à
se estende não apenas ao prédio onde se preservação do direito fundamental à liberdade
pratica o culto, mas também a seus anexos religiosa e de crença.

Brasília a. 49 n. 196 out./dez. 2012 321


Com o entendimento de que não estaria sob a forma de overruling (superação dos
presente a “guerra fiscal” e com a necessi- precedentes) ou do distinguishing, que
dade de se preservar o direito fundamental limitam seu alcance. Os afastamentos dos
à liberdade de crença e culto, o Supremo precedentes acima citados, no entendimen-
Tribunal Federal não aplicou os preceden- to de Hershovitz, são, na realidade, parte
tes e realizou uma distinção (distinguishing). essencial do stare decisis, pois o julgador
Conforme ensinam MacCormick & deve decidir tendo em vista a integridade
Summers, um precedente, em geral, é uni- do direito, contemplando os valores mais
versal, por trazer uma opinião fundamenta- fundamentais da ordem jurídica (HER-
da de um juiz sobre um determinado assun- SHOVITZ, 2006, p. 113-114).
to, não sendo um ato de escolha voluntária O afastamento dos precedentes também
ou decisão arbitrária, mas sim uma decisão é admitido no direito brasileiro, até mesmo
que ganha força, como o resultado de uma diante de decisões com efeitos vinculantes
diversidade de escolhas articuladas por do Supremo Tribunal Federal. Nesse sen-
meio de deliberações e discursos racionais tido, Mendes, Coelho & Branco doutrinam
(MACCORMINICK; SUMMERS, 1997, p. que não deve haver autovinculação estrita
543-544). Embora os precedentes sejam, em do STF a seus próprios precedentes, pois
geral, universais, sua validade não se dá na isso significaria uma renúncia ao próprio
base do “tudo ou nada”, como acontecem desenvolvimento da Constituição, tarefa
geralmente com os atos decorrentes de que cabe aos órgãos de jurisdição consti-
procedimentos formais. Sua validade dá-se tucional. No entanto, no caso de mudança
por meio de forças ou pesos, o que o faz ser de posicionamento, este deve ser feito com
ou deixar de ser aplicado em determinados base em uma crítica fundada à decisão
casos, sob a influência de determinadas anterior, acompanhada da exposição das
circunstâncias. razões que justificam a mudança, em um
Nesse sentido, ocorrem as distinções, duplo dever de justificar-se (MENDES;
que são, na realidade, afastamentos dos COELHO; BRANCO, 2008, p. 1286).
precedentes em determinadas circuns- Ainda segundo Hershovitz, agir com
tâncias, sem importar que sua aplicação integridade significa reconhecer que o
tenha sido superada para os casos que se que foi feito no passado é importante,
amoldem àqueles de sua concepção inicial. ao mesmo tempo que exige um compro-
Os precedentes gerais, em que pese sua metimento com uma visão moral e esse
força, até mesmo vinculante, permitem comprometimento é aferido por meio de
afastamentos, como as distinções. Tais modelos de comportamento ao longo do
afastamentos, para estarem em conso- tempo (HERSHOVITZ, 2006, p. 114-116).
nância com a ordem jurídica, devem ser No entanto, uma recusa rígida a mudar
fundamentados de forma adequada pelo conceitos morais ao longo do tempo, quan-
juiz ou Corte que o realiza, sendo preferível do se está diante de novas informações, não
que sejam excepcionais. Tais afastamentos representa um sinal de integridade, mas
podem ser declarados ou não, conforme sim de estupidez. Ou seja, a integridade
explicitem ou não o precedente geral do exige agir de acordo com novas convicções
qual se afastam (SUMMERS; ENG, 1997, morais, assim como que não se repitam
520-523). erros passados.
Em que pese o sistema do stare decisis, Portanto, o respeito à integridade fará o
não deve haver aderência aos precedentes julgador seguir um precedente, mas poderá
de forma irrestrita, em todos os casos. também, quando necessário, superá-lo ou
Assim, em muitas ocasiões, os tribunais deixar de aplicá-lo quando houver uma
afastam-se dos precedentes, especialmente distinção.

322 Revista de Informação Legislativa


No caso da ADI 3421, o Supremo Tri- O acórdão da ADI 3421, na forma do
bunal Federal afastou-se dos precedentes, voto do Ministro Marco Aurélio, realizou,
pois sua aplicação naquele caso não seria a nosso ver, a distinção de maneira ade-
compatível com o direito como integridade. quada, uma vez que fundamentou suas
Inicialmente porque, nesse caso, não estaria razões na inexistência de guerra fiscal no
presente a “guerra fiscal” entre Estados, a caso em questão, além da proteção a um
fim de atrair investimentos econômicos. direito fundamental, qual seja a liberdade
Além disso, a lei paranaense ora analisada de crença e de culto. Embora, na funda-
buscou proteger direitos fundamentais e mentação, o Ministro não tenha explicitado
tidos como relevantes para a concepção os precedentes do STF sobre o assunto, no
atual de direito, como é a liberdade de relatório ele cita os acórdãos mencionados
crença e culto. pelo autor da ação, cujos resultados, se
A decisão judicial da Corte maior atende seguidos, levariam à procedência da ADI,
aos anseios da integridade e coerência com com a consequente declaração de inconsti-
os princípios da comunidade jurídica. Ao tucionalidade da lei paranaense. No mais,
primar pela proteção de um direito funda- o relator, no voto, deixa clara a justificativa
mental, o referido acórdão atende ao teste que motivou os precedentes do STF sobre
da adequação às escolhas passadas feitas renúncias de receitas de ICMS unilaterais,
pelo Constituinte, especialmente a consa- qual seja o repúdio à guerra fiscal entre os
gração da liberdade de crença e culto e a Estados.
proteção aos locais em que as manifestações Por fim, o acórdão da ADI 3421, ao
são realizadas no texto do art. 5o, VI e VIII. afastar a aplicação dos precedentes do
No mais, essa decisão atende ao teste da STF sobre incentivos fiscais unilaterais de
justificativa. Utilizando a metáfora do ro- ICMS, atende aos anseios do direito como
mance em cadeia de Dworkin (2007), avalia- integridade, pois mostra-se coerente com
mos que a decisão em questão corresponde os princípios da comunidade jurídica bra-
a um capítulo bem escrito do romance. Ou sileira, especialmente a proteção de direitos
seja, quando prima pela proteção de direitos fundamentais relacionados à liberdade de
fundamentais, esse julgado atende, em uma crença e de culto.
mirada prospectiva, para o futuro, os anseios
que entendemos serem almejados e fortale-
7. Conclusão
cidos pela comunidade jurídica brasileira.
Ganha destaque aqui a facilitação das mais Como visto, o direito brasileiro tem
diversas e plurais atividades religiosas e de recebido, ao longo dos últimos anos,
culto, como prevê a Constituição Federal. influência cada vez mais acentuada do
Nesse caso, tanto o teste da justificativa sistema jurídico do common law, no qual
quanto o adequação se voltam à proteção a força dos precedentes se revela como
dos direitos fundamentais, especialmente um das principais características. Foram
aqueles relacionados à liberdade de crença abordadas duas das principais teorias so-
e de culto. Tal confusão entre adequação e bre precedentes: a dos precedentes como
justificativa lhes é peculiar, pois, confor- regra, de F. Schauer (2004), pela qual os
me afirma Dworkin (2007, p. 279), “não precedentes devem ser obedecidos ainda
podemos estabelecer uma distinção muito que o resultado de sua aplicação venha a
nítida entre a etapa em que o romancista contrariar a justificativa e a dos precedentes
em cadeia interpreta o texto em que lhe foi como princípio, de Ronald Dworkin (2007),
entregue e a etapa em que ele acrescenta seu que entende que os precedentes devem ser
próprio capítulo, guiado pela interpretação seguidos ou afastados no caso concreto em
pela qual optou”. respeito aos princípios e valores relevantes

Brasília a. 49 n. 196 out./dez. 2012 323


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Seção Resenha Legislativa da
Consultoria Legislativa do Senado Federal

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