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Escrito pela Dr. Sandra Escher, uma das fundadoras da INTERVOICE e também
especialista no tema “crianças que ouvem vozes”, este Ebook se destina para
todos aqueles que querem entender mais sobre essa experiência, em especial
quando vivida pelos mais jovens.
Sandra, ao longo dos anos, realizou a pesquisa mais detalhada e completa sobre
o fenômeno no mundo até hoje. Neste Ebook, ela oferece uma nova perspectiva
sobre o que as vozes podem representar e como você pode ajudar crianças que
vivenciam tal experiência.
Escrevemos este Ebook com o intuito de que este pudesse servir de porta para
o desenvolvimento de novas e enriquecedoras maneiras de se pensar e agir
sobre a experiência de crianças ouvidoras de vozes.
O primeiro e talvez mais importante dado coletado por meio da pesquisa que
realizamos sobre a experiência de adultos e crianças que ouvem vozes
demonstrou que: ouvir vozes em si é uma experiência normal.
Para a maioria das crianças (60%), as vozes vão desaparecer ao longo do tempo
conforme está se desenvolva e aprenda a lidar melhor com os problemas da
vida.
Algo que muitos não sabem, por exemplo, é que as emoções envolvidas nessas
problemáticas podem ser o fator chave para o início da experiência de se ouvir
vozes. Normalmente, emoções negativas ou muito intensas.
Descobrir que seu filho ouve vozes pode ser algo devastador. Alguns pais falam
sobre, por exemplo, a sensação de impotência e preocupação perante a
experiência do filho, ainda mais quando esta não exibe nenhum lado positivo.
No entanto, há uma questão crucial e que precisa ser analisada sobre tudo isso,
que seria o porque de ser tão natural reagir desta maneira quando se descobre
que uma criança está ouvindo vozes.
A boa notícia é que esta crença não é correta. Embora seja um dado, que tais
experiências resultem em cerca de 60% das pessoas que as vivem sendo
diagnosticadas como esquizofrênicas, uma criança que ouve vozes, por
exemplo, não necessariamente aponta para mais um caso do transtorno.
Ouvir vozes em si é uma experiência normal do ser humano, mas é possível que
a criança se torne mais uma paciente psiquiátrica caso a família, os profissionais
e ela própria não souberem lidar isso da maneira correta.
Bullying na escola;
Reprovações de todos os tipos;
Internações em hospitais em decorrência de doença física;
Abuso sexual e emocional.
“A voz de um garoto de 8 anos de idade teria dito para que ele ficasse cego. Isso
acabou assustando sua mãe. Mas quando discutimos nós três sobre se haveria
algo em sua vida que ele não estaria conseguindo enfrentar, sua mãe entendeu
a mensagem das vozes. O menino não conseguia lidar com o casamento
problemático de seus pais. Ele não queria vê-lo daquela forma.”
Como resultado, as crianças passavam a ter menos medo de suas vozes. Para
maioria das crianças as vozes desaparecem ao longo do tempo.
Quando uma criança é capaz de considerar seus problemas, aqueles que estão
na raiz do seu sofrimento, as vozes deixam de ser o único foco de atenção da
criança e sua situação muda para melhor.
As vozes podem continuar, mas as crianças podem lidar com elas:
Tem crianças que não querem perder o contato com suas vozes. Isso ocorre em
decorrência da melhora no relacionamento da criança para com elas que, aos
poucos, passam a auxilia-la espontaneamente.
Apoio as Crianças:
Constatamos também que "normalizar" a experiência pôde ajudar aos pais a lidar
melhor com as vivencias de seus filhos em relação as suas vozes.
Não pensar nelas como um desastre terrível, mas sim como um sinal de algo
que as está incomodando, algo que pode ser resolvido de várias maneiras, deu
abertura para isso.
Por outro lado, vimos que quando os pais não puderam aceitar que ouvir as
vozes em si poderia ser algo classificado como uma experiência normal igual a
qualquer outra, naturalmente seus sentimentos de medo e temor das vozes eram
transmitidos para as crianças.
Imagine por um momento, caso você fosse a criança com medo das vozes, ao
olhar para sua mãe e seu pai, seus protetores e referências de coragem nesse
caso, sentir e ver que ambos também sentem o mesmo temor e medo que você.
Um segundo problema dessa narrativa é que, caso você como referência adulta
também tenha medo das vozes, esse medo pode tomar o espaço que poderia
estar sendo utilizado para a compreensão fiel do que realmente significa a
experiência ouvindo vozes de uma criança.
Sob medo, estresse e/ou ansiedade, dificilmente qualquer um poderia ouvir bem
a história de um filho falando sobre esse tipo de experiência, algo que não
permitiria o entender dos problemas relacionados as emoções que as vozes
buscam representar.
Fechamento
Todo nosso trabalho pode ser utilizado como uma forma de entender o estresse
e o medo da criança que ouve vozes sem saber o porque.
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