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Carta

do Ministro Geral
da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos

Carta à Ordem
no início do novo
sexênio

Agradeçamos
ao Senhor!
Roma, 14 de abril de 2019, Domingo de R amos

Prot. N. 00380/19

Introdução
1. Gostaria de começar esta carta com um convite irromper no louvor ao Altíssimo Senhor
bem simples: agradeçamos ao Senhor! Deus. Sempre mais consciente das grandes
 Trata-se de uma expressão usual, que um coisas que o Senhor quis realizar nele no
confrade nosso costumava repetir ao término decurso de sua vida, e já certo das promessas
de toda conversa, encontro ou troca de ainda maiores que lhe desvelava para o
opiniões. Fazia-o sempre, mesmo quando futuro, Francisco não podia senão concluir
acontecia uma discussão mais acalorada, confirmando que o Altíssimo, o Onipotente,
em razão da qual, pelo caráter dos traços é um Senhor bom: Ele é o bem, todo o bem, o
sanguíneos de que era dotado, seu rosto sumo bem, ao qual se dirige nosso completo
se acendia de inflamado rubor. Ou porque reconhecimento1!
se chegava a um acordo, ou mesmo que as 3. 
No mais, é a mesma Mãe do Redentor, a
opiniões permanecessem divergentes ou Virgem bendita, a nossa Mãe Maria, que nos
contrastantes, entoava sem falta a conclusão: educa diariamente à gratidão e ao louvor, que
bem, agradeçamos ao Senhor! nos convida a engrandecer ao Senhor pelas
2. 
Tenho a impressão de perceber, neste grandes coisas realizadas em nosso favor e dos
modo de ser e de se exprimir, um traço irmãos e do seu povo, que nos impulsiona a
bem característico da experiência de São agradecer do profundo do coração que exulta
Francisco e quase um eco do seu contínuo em Deus, nosso Salvador (cf. Lc 1,46-55).

1
Louvores a Deus Altíssimo 3.
Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

4. Volta repetidamente, no recente magistério tratados e as diversas sensibilidades


do Papa Francisco, o convite a fazer memória poderiam evidenciar alguma divisão dentro
agradecida do passado, para poder nos da nossa Ordem. A preocupação se revelou
abrir decididamente ao futuro e reencontrar infundada, pois, ao contrário, os trabalhos
a energia para sabermos nos dedicar com manifestaram um sentimento comum
paixão no presente do nosso caminho, da totalmente significativo.
nossa história, da história da Ordem e da
Igreja2. Assim, a vida se torna um Laudato Si’3,
que emana da alegria de reconhecer o quanto a) A comunhão sobre os valores expressos
é bom o Senhor com aqueles que o acolhem e pela Ratio
que acolhem o seu Evangelho4. 7. 
No decurso dos trabalhos, cada capitular
5. 
Entre os acontecimentos recentes, que teve ampla possibilidade de intervir –
recordamos com memória muito agradecida, sobre este e outros temas na agenda –, a
encontra-se sem dúvida a celebração do 85º ninguém jamais foi negada ou limitada a
Capítulo Geral (26 de agosto – 15 de setembro palavra, as intervenções foram apropriadas
de 2018), que se deteve sobre o caminho e construtivas, o diálogo se desenvolveu
percorrido pela nossa Ordem no último de maneira serena e no respeito simples e
sexênio e abriu estrada para caminhar com humilde em escutar todos. Estes aspectos
decisão pelos anos que estão diante de nós. É, já indicam o clima de comunhão que
portanto, o momento de começar a enfatizar experimentamos. Devemos reconhecer que
as indicações emergidas nos trabalhos isso também é um verdadeiro dom de Deus,
capitulares, sem esquecer as preciosas pois nem sempre acontece assim entre nós!
indicações que nos deu o Papa Francisco na 8. Mas a coisa mais importante, emergida com
ocasião da audiência que nos concedeu em toda clareza, é que a Ordem, de um extremo
14 de setembro de 20185. ao outro do mundo, concorda decididamente
com os valores que caracterizam a nossa
I. R atio Formationis identidade de frades capuchinhos e o
chamado a viver o Evangelho de nosso
6. Após o relatório do Ministro Geral Fr. Mauro Senhor Jesus Cristo segundo a forma da nossa
Jöhri e a eleição do novo governo, o tema vocação. E me pareceu entender, de maneira
principal previsto pela agenda capitular bem inequivocável, que esta comunhão não
se referia ao estudo e à aprovação da é fruto de um mero conhecimento intelectual
Ratio Formationis Ordinis. O tema tinha da nossa Regra ou das nossas Constituições,
sido amplamente aprofundado nos anos quanto mais de um “sentir” que se tornou
precedentes com a contribuição de toda a vida, que se tornou entranhas, que se tornou
Ordem, e as conclusões foram resumidas seguimento, que se tornou íntimo desejo/
no instrumentum laboris preparado pela empenho de corresponder com autenticidade
comissão competente. No início do Capítulo, ao chamado do Senhor. Considero que isso
percebeu-se no ar certa tensão, causada seja um grande ponto de força e motivo
pelo pensamento de que os assuntos de confiança segura para o caminho que o

2
Cf. Carta Apostólica do Papa Francisco às pessoas consagradas em ocasião do Ano da Vida Consagrada (21 de novembro
de 2014).
3
FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum (24 de maio de 2015).
4
Cf. FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual
(24 de novembro de 2013).
5
Cf. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2018/september/documents/papa-francesco_20180914_
capitologenerale-cappuccini.html#DISCURSO_ENTREGUE_

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Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

Senhor pede a nós e à Ordem de percorrer no enriquecimento e o melhoramento do texto


futuro próximo. da Ratio, como formulado nestes anos de
9. Todos, porém, temos que admitir que, entre o estudo. Por isso, juntamente com uma acolhida
ideal e o real, entre o desejo até mais autêntico positiva geral da Ratio, o Capítulo Geral
e a tradução nos passos concretos da vida, também pediu que uma comissão específica
há sempre uma lacuna bem acentuada. São a aperfeiçoe e a integre com as contribuições
Paulo oferece uma esplêndida descrição apresentadas. Em seguida, recomendou que
e motivação: “Estou ciente que (...) eu tenho o texto definitivo seja entregue ao Ministro
capacidade de querer o bem, mas não de Geral e seu Conselho em um ano, de maneira
realizá-lo. Com efeito, não faço o bem que que a Ratio possa finalmente ser aprovada
quero, mas faço o mal que não quero. Ora, se e se torne operante para todos os frades da
faço aquilo que não quero, então já não sou Ordem.
eu que estou agindo, mas o pecado que habita 13. Em resposta a estas indicações, o Conselho
em mim. Portanto, descubro em mim esta lei: Geral considerou confirmar a pequena
Quando quero fazer o bem, é o mal que se me comissão que tinha realizado a última redação
apresenta” (Rm 7, 18-21). do texto. Tal comissão já está trabalhando, e
10. 
Encontramo-nos frequentemente também prevê entregar o texto, atualizado segundo as
nós em semelhante contradição: certamente, indicações do Capítulo, nos próximos meses
somos sinceros quando cultivamos o desejo de de setembro/outubro. Assim, há esperança de
sermos coerentes até o fim em nossa resposta que, pelo fim deste ano, a Ratio Formationis
ao Senhor, e estamos nos esforçando para Generalis da Ordem possa ser entregue a
isso; mas depois descobrimos ser tão frágeis, todos (cf. Moção 1,1).
e de ter correspondido ainda pouco ou nada,
e de ter que recomeçar cada dia desde o
c) A aplicação da Ratio nas diversas áreas
princípio. Não faltam nem mesmo as ocasiões
da Ordem
nas quais podem ser visíveis a desilusão e o
desconforto. Qual a saída? É ainda São Paulo a 14. Os valores comuns da nossa vida e vocação,
indicá-la: “Graças sejam dadas a Deus por Jesus sobre os quais nos sentimos todos em
Cristo, nosso Senhor” (Rm 7, 25). harmonia, devem poder se aplicar aonde
formos chamados a viver e a dar o nosso
11. Justamente porque estamos certos de que o
testemunho. Como bem evidenciado por
Senhor não permanece inerte como simples
Fr. Mauro Jöhri em seu relatório, e como
espectador de nossos esforços e fracassos,
demonstram indubitavelmente os números
nem se coloca como simples modelo a ser
da estatística, o eixo da Igreja católica tende
imitado, mas está diariamente ao nosso lado
a não mais ter o seu ponto fixo no mundo
e é Ele quem faz de nós o que Ele deseja,
ocidental e, particularmente, europeu: no
podemos sempre assumir ou retomar com
mundo ocidental, as sociedades estão em boa
confiança o caminho: temos diante de nós
parte secularizadas e, poderíamos também
um bom e longo caminho a fazer, estamos
dizer, “descristianizadas”, com um declínio
todos conscientes e unidos nos valores que
numérico realmente acentuado de vocações
qualificam a nossa identidade carismática,
sacerdotais e religiosas. Não é assim nas áreas
queremos nos empenhar para encarná-los
asiáticas e africanas, nas quais também a nossa
com maior autenticidade, e o Senhor saberá
Ordem está significativamente crescendo
conduzir-nos com fidelidade e eficácia.
em número, quase que competindo com
o decréscimo das outras áreas. Aparece
b) A integração e a publicação da Ratio totalmente lógico e necessário, então, que os
valores compartilhados e aceitos por todos
12. 
Com suas contribuições, os capitulares encontrem traduções concretas diferentes,
ofereceram alguns pontos para o em razão das diversas situações e culturas nas

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Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

quais estamos inseridos e as quais respira a de resposta, fundada na certeza de que o


nossa vida e a vida do povo. carisma e o futuro dele estão bem alicerçados
15. 
Será, portanto, responsabilidade de cada no senhorio de Deus.
Conferência ou Circunscrição elaborar os 18. 
A Ordem já iniciou, nos anos passados,
próprios projetos, mas com esta atenção: algumas iniciativas, como tentativa de
não se trata de trocar a nossa identidade resposta às novas situações, e já há pequenos
carismática e os valores da nossa vocação sinais de retomada de autenticidade e de
específica deixando que entrem, sem vida. Eles requerem a nossa atenção e o nosso
discernimento suficiente, elementos acompanhamento, pois nos confirmam
próprios das diversas culturas; trata-se, ao que o Senhor ainda está operando, que o
contrário, de identificar as modalidades nosso carisma tem muitas possibilidades de
através das quais os valores evangélicos inserção felizes e de testemunho profícuo
da nossa Vida Religiosa possam ser do evangelho, também neste nosso mundo
vividos com autenticidade nas diversas secularizado. Mais, eu diria que justamente
culturas, valorizando seus conteúdos bons, este nosso mundo nos “aguarda”, se nós
desmascarando seus aspectos frágeis formos capazes de “pôr-nos à disposição”,
ou a serem corrigidos segundo Deus, vivendo com simplicidade e verdade a
apresentando com o testemunho da nossa nossa vocação de frades menores. Parece-
vida evangélica a boa nova do Reino. me bastante evidente: o Senhor está nos
16. 
Este é um empenho importante e estimulando de maneira muito forte e,
entusiasmante para toda a Ordem, porque por isso, devemos e podemos nos tornar
solicitado quase expressamente pelo disponíveis, pois ainda há muito o que fazer!
Senhor, com o atual desenvolvimento 19. 
O novo governo da Ordem pretende se
vocacional em áreas do mundo bem empenhar para dar prosseguimento,
diversas daquelas nas quais estávamos segundo as modalidades que saberemos
habituados em concentrar a nossa atenção. encontrar juntos, às solicitações reiteradas e
Será preciso pedir com força a ajuda do unânimes dos capitulares: isto é, proceder à
Espírito, para que nos sustente em nosso revisão das Conferências e das Circunscrições,
empenho e guie os nossos passos na juntamente com o desenvolvimento tanto
fidelidade à nossa vocação. Nos anos que das colaborações entre Circunscrições quanto
virão, buscaremos estudar, junto com os do assim chamado Projeto Fraternidades para
membros do Conselho Internacional da a Europa.
Formação, de que modo irá se acompanhar
e verificar eficazmente a promoção da
Ratio Formationis em cada Conferência a) Revisão das Conferências e das
(cf. Moção 1,2). Circunscrições
20. Após as rápidas mudanças em ato em toda
II. A Ordem na Europa a Europa, e a consequente e significativa
17. Creio que todos já estejamos conscientes da variação das nossas presenças, no Capítulo
situação que vive a Ordem hoje no contexto veio à tona a solicitação para que o novo
europeu: está em curso um rápido decréscimo governo da Ordem estude o modo de
numérico (do qual está parcialmente isenta atualizar as Conferências europeias dos
parte da Europa oriental), para o qual não se Superiores Maiores e as Circunscrições que
prevê ainda qualquer inversão de direção. estão às margens do Mediterrâneo e no Golfo
Humanamente, é um fato que desagrada, Pérsico. É uma necessidade que está aos
mas, em uma ótica de fé, é um fato que – olhos de todos e se faz sempre mais urgente:
ainda uma vez, mesmo se de um modo até pensemos na situação da Conferência Ibérica
insólito! – interpela a nossa responsabilidade (CIC), mas também nas fragilidades das

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Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

nossas presenças nos países do Mediterrâneo, irrespirável, e sabemos nos abrir aos outros
particularmente na Grécia e na Turquia, mas com cordialidade, sejam eles de língua ou
não só (ASMEN), e em algumas questões que nação ou cultura ou formação diversas,
devem ser aprofundadas no que se refere à sempre trazemos vantagem à nossa vida
CECOC (países da Europa Oriental) e da CENOC pessoal e à vida da Ordem. E pode se tornar
(países da Europa do Norte), em particular, no um percurso de salutar crescimento e de
que se refere às casas de formação. enriquecimento recíproco, justamente no
21. 
As nossas Constituições confiam à contexto de uma forte diminuição numérica.
responsabilidade do Ministro Geral e do seu Pois nenhum de nós vive a própria vocação em
Conselho a tarefa de constituir as diversas razão dos números ou das estruturas: todos
Conferências (cf. Const. 144,2). Mas não somos chamados, usando das estruturas
há dúvida de que deverão ser envolvidos que devem ser sempre renovadas segundo
na reflexão ao menos todos os superiores a necessidade, a constituir fraternidades
maiores das áreas interessadas, pois as coisas evangélicas: em meio a elas passa a nossa
são melhor feitas se todos concorrerem com possibilidade de responder efetivamente ao
suas observações; numa lógica de fé e do Senhor que nos chama.
carisma próprio da nossa fraternidade, se
todos nos sentirmos envolvidos e dermos
a nossa contribuição, compreenderemos b) Colaborações em ato e colaborações a
melhor o que o Senhor nos pede e também serem desenvolvidas
trabalharemos de maneira mais conforme à 24. Para a Igreja europeia e ocidental, o século
sua vontade. XX foi, sem dúvida, um século caracterizado
22. A diminuição numérica em ato já impôs há por um imponente impulso missionário.
tempos a redução de diversas Circunscrições, Foram sobretudo os religiosos e as religiosas
quase sempre com a unificação de duas ou que se fizeram disponíveis para partir,
mais Províncias; outros passos deste tipo numerosíssimos, às terras da África, da Ásia e
estão sendo feitos e deverão ser previstos no das Américas, para levar o primeiro anúncio
futuro. Estas passagens comportam algumas do Evangelho aos lugares onde era pouco
fadigas, que são bem compreensíveis; ou nada conhecida a fé cristã, e a iniciar
fazem suscitar entre nós também algumas muitíssimas novas comunidades eclesiais,
resistências, às vezes acentuadas. A esse que hoje são igrejas vivas, florescentes e em
respeito, convém observar que, se por um crescimento.
lado, o apego à própria Província é indicador 25. 
Quantos de nossos frades capuchinhos
de um forte senso de pertença e de amor para deixaram a própria terra e a própria Província
com a instituição que nos permitiu sermos para partir entusiastas “às missões”, decididos
“gerados” à Ordem, por outro, não podemos em doar tudo de si para o crescimento do
contudo permitir que as Circunscrições, que Reino de Deus! E quanto as Províncias se
muito concorreram ao longo dos séculos empenharam em enviá-los e apoiá-los! Se
para um desenvolvimento ordenado da dos frutos se conhece a bondade da árvore,
Ordem na Itália e na Europa, tornem-se, devemos também reconhecer que, mesmo
nestas condições transformadas dos tempos considerando todos os limites devidos à nossa
que estamos vivendo, obstáculo para nos fraqueza comum, a obra dos missionários
reconhecermos irmãos, ou até mesmo motivo
foi realmente eficaz e, em muitos sentidos,
para nos recusarmos a nos reconhecermos
grandiosa: sem dúvida, é o Senhor que tem
irmãos. Seria um modo para mortificar bem
operado, mas servindo-se da disponibilidade
gravemente a nossa identidade carismática.
sincera dos irmãos que não tiveram medo
23. Quando, ao contrário, conseguimos não nos de partir, e da generosidade de quem lhes
deixar condicionar demais pelas estruturas, deixou partir. Ainda, no íntimo, somos
que agora ameaçam deixar-nos o ar tomados como que de um certo sentimento

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Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

de inveja, e ficamos admirados de como os que se refere à formação que um frade deverá
nossos missionários foram capazes de se ter recebido, antes de ser enviado em missão
doar, de trabalhar e de serem testemunhas ou em colaboração.
do Evangelho, literalmente sacrificando, em 29. 
Cultivemos a esperança de que o
numerosos casos, até a própria vida. acompanhamento atento deste novo
26. Mas por que não lembrar que aquela mesma dinamismo emergente, que volta a exprimir,
vocação, que os impulsionou a serem de maneiras atualizadas aos tempos que
realmente operários bem sucedidos do estamos vivendo, a nossa disponibilidade
Evangelho, é também a nossa mesma vocação? em ir sem reservas aonde as necessidades
Assim, se a abraçarmos completamente, do povo de Deus pedem a nossa resposta,
o Senhor permitirá também a nós, hoje, e contribua para renovar o entusiasmo da nossa
em todos os tempos, fazer como eles, fazer Ordem pelo Reino e a vivacidade que sempre
igualmente, e até melhor! nos tem marcado pelos séculos.
27. Uma forma que, nestes anos, está assumindo 30. Há também uma outra forma de colaboração
a irrenunciável dimensão missionária da nossa entre Circunscrições, iniciada já há tempos com
vocação (cf. Const. 175,5) é a da colaboração muitos efeitos benéficos, que acreditamos
entre Circunscrições diversas. É de se notar em ter que apoiar com o máximo empenho,
positivamente que há já um significativo pois pensamos que caracterizará fortemente
movimento de frades, em particular, das o futuro da Ordem: trata-se da abertura
Províncias da Índia, que são enviados em generosa, e qualificante da dimensão fraterna,
auxílio às “velhas” Circunscrições do mundo à colaboração entre Circunscrições vizinhas
ocidental. Sem tal ajuda, não só as nossas ou da mesma área. Quem já enveredou
presenças correm o risco de se reduzir demais com decisão por esta estrada, e encarou
realmente, mas sentiria também a vivacidade sem recuar as dificuldades que também
e a significação do nosso carisma, juntamente ela comporta, sabe quantos benefícios
com o esgotamento da nossa capacidade a colaboração traz, particularmente, em
efetiva de corresponder à urgência de uma vantagem das jovens gerações da Ordem, que
nova evangelização (em ambientes onde) a vida aprendem sem dificuldade a serem abertas
de inteiros grupos não é mais informada pelo à dimensão mundial da nossa fraternidade,
Evangelho e muitos batizados perderam, em parte sem se tornarem, por causa disso, limitadas
ou totalmente, o sentido da fé (Const. 176, 3). ou entristecidas pelas fragilidades locais, pois
28. 
Há muitos aspectos positivos nessas são confiantes na nossa maior e multiforme
colaborações, que devem sem dúvida grande riqueza.
ser apoiadas e, na medida do possível, 31. 
Neste âmbito, é fortemente interpelada a
reforçadas, segundo o mandato do Capítulo. responsabilidade dos superiores maiores de
Também vêm se evidenciando alguns todas as nossas circunscrições, sem exceção:
aspectos críticos, devidos, em alguns casos com suas escolhas, voltadas à busca real de
limitados, à inobservância das indicações das uma séria colaboração, podem favorecer
nossas Constituições, mas sobretudo a uma grandemente o crescimento de seus frades
certa desordem nas realizações concretas. e da Ordem; com escolhas contrárias, podem
Isso deverá nos levar a retomar em mãos muito mortificá-la.
as diretrizes específicas para a colaboração
de pessoal aprovadas ad experimentum no
c) Projeto Fraternidades para a Europa
Capítulo Geral de 20126. Para alguns âmbitos,
também a Ratio Formationis oferecerá 32. 
Já há vários anos que nos perguntamos
contribuições concretas, por exemplo, para o sobre como fazer para que, no Ocidente,

6
O
 rientamenti per la collaborazione fraterna fra circoscrizioni, Analecta OFMCap 128 (2012) nº 2 – segunda parte 725-729.

6
Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

a nossa presença para o futuro continue a lugares franciscanos por excelência, o qual
ser significativa. Era ainda o ano de 2014 acreditamos que possa responder realmente
quando se reuniram em Fátima todos os bem à exigência de muitos frades de
Ministros – Provinciais e Custódios – da saborear novamente a nossa espiritualidade
Europa justamente para discutir sobre às raízes, de retornar um pouco às fontes,
este assunto. Já anteriormente tinha se de transcorrer, por um tempo mais ou
iniciado alguma pequena experiência (p. menos prolongado, um período sereno em
ex. Clermont Ferrand), mas desde então um clima de simplicidade, de oração e de
a Ordem pôde promover mais decisão acolhida.
o Projeto Fraternidades para a Europa. Fr. 34. 
Naturalmente, para todas essas iniciativas,
Mauro Jöhri descrevia tal projeto nestes pedimos a disponibilidade e o entusiasmo
termos: “Queremos tentar um caminho novo, de irmãos que desejem lançar-se um pouco
constituindo fraternidades interculturais que, nessa bela aventura. Comuniquem a sua
à luz do Evangelho e das nossas Constituições disponibilidade aos próprios ministros
vivam a oração, a vida fraterna e a missão de provinciais e ao Conselheiro geral da área,
modo autêntico e coerente. A riqueza da os quais saberão como coordenar tudo e
interculturalidade será o testemunho de que, responder da melhor forma, segundo os
irmãos provenientes de diversas culturas, se desejos que cada um cultiva e as novas
olham para Cristo no meio deles, podem oportunidades de crescimento e de
viver, doar-se e trabalhar juntos. Sustém-nos testemunho que o Projeto oferece.
a consciência de que o carisma de Francisco
de Assis, vivido e testemunhado, tem ainda
muito a dizer e a comunicar aos homens e III. A Ordem na Ásia
mulheres do nosso tempo. Não sabemos e na África
ainda qual será o êxito deste caminho, mas
35. A mão de Deus não se retirou de sobre nós,
com a esperança no coração queremos
ao contrário: continua a sua obra fazendo
iniciar a dar os primeiros passos”7.
crescer significativamente os capuchinhos
33. 
O projeto se desenvolveu e, atualmente, nas áreas da Ásia e da África. É um ulterior
mesmo com modalidades diversas, foram grande sinal de predileção para com a
constituídas as fraternidades de Clermont nossa Ordem, e uma grande e reiterada
Ferrand e Lourdes na França, de Kilkenny bênção de Deus para nós. Como é bonito
na Irlanda, de Antuérpia na Bélgica, de León saber que, quase em todo o mundo,
na Espanha e de Spello na Itália. Dado que a podem-se encontrar irmãos alegremente
iniciativa parece já dar frutos bem positivos, empenhados em viver a nossa mesma
e fortalecidos também com o mandato do vocação abençoada! É preciso, então, que
Capítulo Geral, queremos nos empenhar em aproveitemos e busquemos todos nos
apoiá-la ainda mais. No momento, estamos ajudar, para que a árvore verdejante que
pensando e trabalhando para que se está crescendo nestas áreas, por inesgotável
constituam outras duas fraternidades com benevolência divina, encontre seiva sólida e
estas características, especificamente em abundante nos valores do nosso carisma.
Meersel-Dreef na Bélgica, na fronteira com As áreas de que falamos são vastíssimas e
a Holanda, e no Santuário de Máriabesnyő, compreendem muitas culturas, línguas e
nossa antiga presença na Hungria. Em tradições diversas, e ainda assim podemos,
seguida, gostaríamos também de valorizar igualmente, em razão do único carisma,
neste sentido Celas de Cortona: um de nossos refletir sobre algumas necessidades comuns.

7
M. JÖHRI, Fraternidades para a Europa: Reflexões e indicações após o encontro de Fátima, Analecta OFMCap 131 (2015)
59-61.

7
Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

a) A encarnação do carisma fraternidade, nestes casos, torna-se apenas


teórica: falta a convivência diária, feita de
36. Não creio que haja qualquer dúvida de que,
oração juntos, de confrontação e partilha
se o Senhor permite que hoje a Ordem se
da nossa vida e da nossa fé, de serviços
desenvolva assim vigorosamente na Ásia
comuns realizados por todos a serviço uns
e na África, é porque sabe bem que aí o
dos outros; falta a dimensão própria nossa
carisma encontra terreno fértil e frades que
da fraternidade, “lugar” privilegiado no qual
podem encarná-lo hoje com autenticidade.
cada um pode encontrar Deus que lhe fala e
O empenho direto que o Senhor nos confia e
lhe oferece todos os elementos necessários
sobre o qual voltarmos todos a encarar com
para o seu verdadeiro crescimento humano
paixão é justamente o desafio de traduzir com
e espiritual segundo a nossa vocação; falta o
autenticidade os valores do nosso carisma em
“lugar” onde, além do sentir pessoal, sempre
culturas tão diversas, tão originais e tão ricas,
a ser compartilhado para o crescimento de
para que possamos ser nelas bom fermento
todos, juntos também possamos realmente
do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
discernir qual é a vontade de Deus para a
Esta é uma tarefa que chama em causa, in
mesma fraternidade local, provincial e da
primis, justamente os frades que provêm
Ordem inteira.
daquelas culturas: dificilmente um europeu
ou um americano poderão encarnar o carisma 38. Outrora, para constituir uma fraternidade, era
em culturas que não sejam as suas; poderão necessário que houvesse ao menos 12 frades.
ajudar a transmitir os valores próprios da Não poderá ser assim hoje. Mas não podemos
nossa vida franciscano-capuchinha, mas fazê- nem mesmo pensar que o nosso carisma
los reviver de maneira profunda e original em encontre as vias para se encarnar com eficácia
culturas diversas é justamente tarefa de quem divina nas diversas culturas, se não refletirmos
nasceu naquelas culturas, de quem respira o com decisão sobre a presença de fraternidades
seu ar, e, por isso, pode entender como nelas significativas, seja como número, seja como
é possível introduzir o fogo da espiritualidade vitalidade de relações fraternas. Será difícil
franciscana (cf. Moção 1,4). também um testemunho eficaz da nossa
 Há dois assuntos em particular sobre os vida se nos apresentarmos apenas como
quais vale a pena refletir sempre, pois são operadores pastorais, totalmente dedicados
centrais em nossa identidade, e podem ao ministério, e não expressão da vida fraterna.
ter consequências importantes sobre o 39. 
A escassez bastante evidente de irmãos
desenvolvimento da nossa Ordem: o tema da leigos nas novas áreas de desenvolvimento
fraternidade8 e o tema dos irmãos leigos. da Ordem põe um problema: é o Senhor
37. 
É compreensível que, em uma condição que quer apenas capuchinhos ordenados
de expansão, as nossas novas presenças se in sacris, ou então somos nós que nos
iniciem apenas com um ou outro frade. Mas pensamos e nos propomos apenas como
é compreensível só como momento inicial. frades sacerdotes? Não creio que seja uma
A coisa se torna problemática e discutível questão de números, mas de identidade
quando, em territórios onde já estamos carismática! A nossa vocação é para
abundantemente presentes, abrem-se sermos irmãos e menores: todas as outras
ulteriores lugares novos, geralmente para “qualificações” não acrescentam ou tiram
assumir a responsabilidade de paróquias, mas nada desta identidade; melhor, é a partir
não se garante a presença nem ao menos desta identidade que todo o resto recebe
do mínimo de três frades (cf. Const. 118,8). A a sua fisionomia própria. Não me qualifico,

8
 vida fraterna minorítica é o nosso modo específico de contribuir para o anúncio do Evangelho e a missão: A própria
A
vida fraterna, fermento de comunhão eclesial, é profecia da unidade definitiva do povo de Deus e constitui um testemunho
essencial para a missão apostólica da Igreja (Const. 88,4).

8
Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

isto é, como frade menor porque sou território. Tal disponibilidade é um sinal
sacerdote, ou porque tenho um título de importante do crescimento e da maturidade
estudo, ou porque posso assumir posições de cada Circunscrição, tanto dos superiores
que são consideradas de prestígio dentro da como dos frades.
minha cultura. Não me qualifico como frade
42. No Capítulo Geral vieram à tona, ainda uma
menor porque posso guiar uma paróquia,
vez, as dificuldades que se encontram quando
administrar os sacramentos, dirigir uma
uma Circunscrição depende diretamente
escola ou assumir cargos de poder dentro
do Ministro Geral e, por isso, o convite a
da Igreja e da Ordem. Eu me qualifico como
proceder a respeito de maneira prudente.
frade menor somente e na medida em que
Às vezes, não parece haver alternativas, e se
me empenho em viver o Evangelho de nosso
deverá continuar a utilizar esta possibilidade
Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência,
oferecida pelas nossas Constituições, mas não
sem nada de próprio e em castidade, com a
podemos nos limitar em apenas ver (cf. Const.
particular predileção ao serviço generoso,
136,1). Crescendo em consistência numérica
humilde e abnegado de si, e de proximidade
e em maturidade de fé, será preciso também
aos últimos, aos excluídos, aos pobres.
que cresça e se desenvolva a responsabilidade
40. 
Por isso, em nossa Ordem há realmente direta das Circunscrições mais fortes rumo
espaço para todos, não apenas para os àqueles territórios e àquelas presenças
chamados à sagrada ordem. E é por isso que sentem dificuldades no anúncio do
que tantos nossos irmãos leigos puderam Evangelho e na implantatio Ordinis. Este é um
alcançar a santidade sem ter sido sacerdotes, empenho que, desenvolvido naturalmente
porque o ser ordenado não é elemento em comunhão com a Ordem, deve ser
necessário para viver a nossa vocação. Que assumido, porém, o quanto possível, em nível
grande testemunho do evangelho daremos, de Províncias.
com o nosso modo de pensar e as escolhas
que fazemos, se conseguirmos enriquecer 43. Embora tenha crescido muito a sensibilidade
todas as culturas desta identidade específica de todos em relação ao valor das colaborações
da qual o Espírito nos doou para o bem entre Circunscrições de uma mesma área, e já
do povo de Deus! Será preciso encontrar estejam em ato muitas iniciativas totalmente
maneiras para fazer passos significativos positivas, seria um erro não avançar ainda
neste sentido. mais. Percebe-se forte a necessidade,
particularmente em âmbito formativo, de
pôr à disposição mais e melhores forças, para
b) Aberturas à missão e colaborações os centros de formação comuns. A Ordem
tem investido nestes anos muitas energias
41. Graças a Deus, já há um grande movimento em
para preparar adequadamente tantos
ato de irmãos da Ásia e da África que se fazem
frades, tanto para a formação como para
disponíveis para sair da sua Circunscrição, em
o serviço acadêmico: trata-se de centenas
ajuda às necessidades do mundo ocidental,
de confrades que puderam adquirir as
ou mesmo em verdadeiras e próprias missões,
necessárias competências. Agora, devemos
chamadas ad gentes. Há também exemplos
nos ajudar a fazer de modo que o bem
de pequeníssimas Circunscrições, com sérias
recebido se torne generosidade a ser posta
dificuldades de pessoal, que, apesar de tudo,
a serviço, primeiramente, dos nossos irmãos
não renunciam em pôr à disposição alguns
em formação.
de seus membros para as necessidades da
Ordem. Será preciso que cresça em todas 44. Em algumas áreas, há importantes centros
as Circunscrições o empenho para valorizar de formação interprovinciais, iniciados há
ainda mais a dimensão missionária, abrindo o anos. Acontece que, em alguns casos, quando
coração e pondo à disposição os irmãos, para surgem algumas dificuldades, os ministros
que vão anunciar o Evangelho fora do próprio decidem autonomamente, talvez com muita

9
Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

facilidade, retirar os próprios candidatos pois nos oferecem várias sugestões úteis
e os próprios professores da colaboração para encarar de maneira fecunda os desafios
comum. Assim, os centros interprovinciais se que estão diante de nós, o primeiro dos quais
enfraquecem e, às vezes, a situação pode se é que a nossa vocação é um chamado a sair
tornar insustentável. O caminho deverá ser, de si para pôr-se gratuitamente a serviço dos
ao contrário, o de se confrontar abertamente irmãos.12
nas Conferências, para encarar juntos os 47. Causou impressão a frase, referida no Capítulo
problemas e as legítimas aspirações, e Geral, de um irmão enviado em colaboração
para buscar, o quanto possível, de maneira a uma província da Europa. Tal irmão teria
concorde, as melhores soluções para o bem feito esta amarga constatação: fui vendido
dos candidatos, das Províncias e da Ordem. pela minha Província! Provavelmente era
Neste âmbito, pode ser de grande ajuda um sentimento pessoal em um momento
envolver no processo de decisão também de cansaço. Porém, ajuda-nos a entender
os responsáveis pelo Secretariado Geral da bem que a disponibilidade à missão e às
Formação (cf. Moção 1,3). colaborações jamais poderá ser verdadeira
se for voltada apenas a áreas do mundo que
ofereçam um alto padrão de vida ou um
c) Condições para a missão e a colaboração
retorno econômico para as Circunscrições
45. “O amor fraterno só pode ser gratuito, nunca que enviam, quando acabasse por faltar
pode ser uma paga a outrem pelo que a disponibilidade para as áreas em que se
realizou, nem um adiantamento pelo que podem sofrer pobreza e privações. Como
esperamos venha a fazer. Por isso, é possível não se pode aprovar que as circunscrições
amar os inimigos. Esta mesma gratuidade que precisam valham-se de seus recursos
leva-nos a amar e aceitar o vento, o sol ou econômicos para “adquirir” o serviço dos
as nuvens, embora não se submetam ao frades das Províncias que têm disponibilidade
nosso controle. Assim podemos falar duma de pessoal. Entre nós não deverá ser assim13.
‘fraternidade universal’”9. A Ordem e todas as Circunscrições e todos os
46. 
Eu quis retomar esta afirmação do Papa frades saberão sustentar de outro modo e de
Francisco, pois me parece indicar bem qual maneira apropriada quem se faz disponível
seja a condição de fundo necessária, que e chamado a ir generosamente “entre os
permite uma abertura fecunda à missão ou sarracenos” (cf. RB 12).
às colaborações: trata-se da gratuidade. Já Fr. 48. O amor fraterno, que nos impulsiona a ir e
Mauro Jöhri nos tinha fortemente estimulado, evangelizar segundo o mandato do Senhor –
indicando-nos a via para reacender a chama repetimo-lo com as palavras do Papa - só pode
do nosso carisma10, bem como nos tinha ser gratuito, nunca pode ser uma paga a outrem
oferecido diversas provocações a respeito da pelo que realizou, nem um adiantamento
missão11. A via de fundo indicada por Mauro pelo que esperamos venha a fazer. Confiemos
é a do dom de si. Talvez seja importante mais na providência divina, porque “Deus,
retomar em consideração as duas cartas, que nos chama a uma generosa entrega e a

9
FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum (24 de maio de 2015), n. 228.
10
Cf. M. JÖHRI, Reacendamos a chama do nosso carisma!, Analecta Francescana 124 (2008) 533-548.
11
Cf. M. JÖHRI, A missão no coração da Ordem, Analecta OFMCap 125 (2009) 296-303.
12
Cf. A. SPADARO - M. BARTOLI - N. KUSTER, Sei ciò che dai. Conversazioni con Fra Mauro Jöhri. Ministro generale dei Frati
Minori Cappuccini, Edizioni Padre Pio da Pietrelcina, Foggia 2018.
13
S egundo a tradição capuchinha, (os frades) insiram-se cordialmente no meio do povo de qualquer condição, não
condicionem a própria ação evangelizadora à segurança econômica ou ao prestígio social, mas coloquem sua confiança
em Deus e na eficácia da vida evangélica (Const. n. 177,5).

10
Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

oferecer-Lhe tudo, também nos dá as forças e 51. 


Vistos os resultados positivos e o impulso
a luz de que necessitamos para prosseguir. No do Capítulo, o Conselho Geral pretende
coração deste mundo, permanece presente o verificar a possibilidade de iniciar também na
Senhor da vida que tanto nos ama. Não nos América alguma fraternidade intercultural,
abandona, não nos deixa sozinhos, porque como o “Projeto Fraternidades para a
Se uniu definitivamente à nossa terra e o Europa”; consideramos, de fato, que possa
seu amor sempre nos leva a encontrar novos ser um instrumento válido para dar nova
caminhos”14. seiva também a outras circunscrições fora
dos limites territoriais do velho continente.
Assim, para superar a designação geográfica
IV. A Ordem nas Américas e levando em consideração este ano jubilar
49. 
Também para as Américas, valem muitas dedicado a São Lourenço de Bríndisi –
das considerações feitas até aqui. Se até homem que sabia conjugar admiravelmente
há algumas décadas, poderia se pensar oração prolongada, preparação cultural e
que esta seria a área em que a Ordem teria empenho incansável para implantar com
se desenvolvido mais, com sua própria eficácia e fazer progredir vigorosamente a
fisionomia e com alguns acentos que Ordem – pensou-se em nomear o Projeto
pareciam expressar melhor nosso carisma não mais “Fraternidades para a Europa”, mas
nas culturas ali presentes, hoje constatamos “Fraternidades São Lourenço de Bríndisi”.
que a dinâmica de crescimento estagnou. 52. 
Dado que os nossos irmãos da América
De fato, já existem várias circunscrições, em são os mais diretamente implicados em
particular na área de língua espanhola e em todo esse caminho, e têm mais respaldo
algumas províncias da América do Norte, que para refletir e identificar as vias idôneas
sofrem muito com a diminuição acentuada para realizá-lo, o Conselho Geral pensa em
dos frades. Penso que seja o momento justo encaminhar a iniciativa de um Encontro
no qual nos reunirmos para refletir sobre o Pan-americano de todos os Superiores
que está acontecendo. Maiores do continente, a ser celebrado em
50. Considerando a grande força que a Ordem outubro de 2020. Daí, esperamos poder
indiscutivelmente ainda possui nas Américas, amadurecer os critérios para uma maior
não é justamente o caso de deixar espaço ajuda recíproca e, eventualmente, também
a qualquer desânimo, ainda que algumas as sugestões para eventuais mudanças das
áreas estejam em dificuldade. Ao contrário, estruturas das Circunscrições (Províncias
vale a pena unir as forças, para identificar em Custódias, uniões de Províncias, novas
juntos as vias que nos permitam que nos Custódias, nova definição dos territórios
ajudemos reciprocamente e revitalizar, no das Circunscrições, etc.).
melhor de nossas capacidades, a chama
do nosso carisma no grande continente.
Primeiramente, será preciso percorrer com V. Outr as propostas
decisão também aí a via da colaboração entre de animação
Circunscrições, já muito bem encaminhada 53. O quanto nos propomos em realizar com o
em algumas áreas, e com bons frutos. Cremos encontro em outubro do próximo ano para
que será uma resposta eficaz, realmente a Ordem na América, pensamos que seja
qualificante de maneira concreta, a nossa igualmente útil e necessário repropô-lo para
fraternidade, também para aquelas áreas que toda a Europa em 2021. Temos tempo para
sofrem neste momento. prepará-lo bem, mas confio que, no meio-

14
FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum (24 de maio de 2015), n. 245.

11
Carta à Ordem no início do novo sexênio: Agr adeçamos ao Senhor!

tempo, desenvolva-se um são e sincero basta estar dotados de um protocolo: é


debate entre todos, à luz dos sinais dos tempos necessário se empenhar na formação de
com os quais o Senhor deseja indicar-nos o todos os frades e de todos os colaboradores,
caminho, e que juntos sejamos chamados a particularmente daqueles que têm contato
ler e interpretar. com menores, para que os protocolos de
54. 
Visto o percurso de amadurecimento que que estamos dotados sejam efetivamente
somos chamados a realizar nos próximos anos, postos em prática. Sobretudo, é necessária
e considerando que pode ser uma resposta uma verificação constante de que as ações
justamente alinhada com os fervorosos apelos empreendidas e praticadas para proteger
do Santo Padre, voltados a fazer com que a com todos os meios os menores, e evitar
Igreja se disponha a uma dimensão de “saída” que aconteçam no futuro outras condutas
a serviço do Povo de Deus15, consideramos destrutivas para eles, sejam realmente
que possa realmente ajudar toda a Ordem idôneas e continuamente atualizadas. Não
voltar a refletir sobre a dimensão missionária podemos esperar que aconteça o mal
da nossa vida. Por isso, contamos poder que não queremos, empenhemo-nos em
celebrar, por volta da metade do sexênio, um preveni-lo! (cf. Moção 3,1).
novo CPO voltado ao tema da missão. Através 57. 
Por isso, os Conselheiros Gerais buscarão
do aprofundamento deste assunto, que ser particularmente solícitos em apoiar este
confiamos que nos ajudará a orientar com empenho, que é de todos e de cada um de
maior segurança os passos que a Ordem está nós, e, por ocasião das diversas visitas às
fazendo, seremos certamente estimulados Circunscrições, para verificar o que realmente
fortemente a retomar em consideração a esteja sendo posto em prática a respeito.
nossa vida de fé e de oração, a nossa vocação Busquemos trabalhar com convicção e
ao dom de si e o carisma da fraternidade. energia, e será motivo de ulterior bênção da
55. Convencidos de que através das indicações parte de Deus.
do Capítulo Geral se expressa também o
que o Senhor quer de nós, sustentados pela Conclusão
consciência alcançada por toda a Igreja,
58. 
Nestes primeiros meses no serviço que o
e pelos ensinamentos que têm servido
Capítulo Geral me confiou, pude ter maior
a todos os cristãos, queremos insistir no
consciência de ao menos um fato: a nossa
empenho decidido em pôr em prática todos
Ordem é grande, é realmente grande! É grande
os esforços de que somos capazes, para que
não só porque o número dos frades é muito
não aconteça mais de que alguns de nós,
elevado, dentre os mais elevados das Ordens
ou quantos trabalham e vivem em nossos
religiosas masculinas, e é operante em quase
ambientes, cometam abusos de menores16.
todas as partes do mundo, mas porque nela
É evidente que toda a Ordem tem feito um
descubro uma energia e uma originalidade
grande esforço para se dotar, nestes anos,
na resposta ao Senhor realmente singular!
de diretrizes ou protocolos adequados.
A Ordem é grande não só pela sua história
Quem porventura ainda não o fez, deverá
gloriosa do passado, mas também porque
providenciá-lo prontamente.
é chamada e tem todas as capacidades para
56. 
Mas também deve ser de consciência construir uma grande história no presente e
e responsabilidade de todos que não no futuro! Agradeçamos ao Senhor com todo

15
Cf. FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (24
de novembro de 2013) nn. 20-24.
16
Cf. Carta Apostólica em forma de motu proprio do Sumo Pontífice Francisco Como uma mãe amorosa, de 4 de junho
de 2016; Carta Apostólica em forma de motu proprio do Sumo Pontífice Francisco Sobre a proteção dos menores e das
pessoas vulneráveis, de 26 de março de 2019.

12
Letter a all’Ordine all’inizio del nuovo sessennio: Ringraziamo il Signore!

o coração e coloquemos nele toda confiança nossos santos. O empenho sincero reanime
renovada e segura. e alegre o coração de todos e, dos lábios de
59. 
Justamente, recordamos este ano o nosso cada um de nós, seja proclamada a mesma
ilustre santo Lourenço de Bríndisi, que soube necessidade consoladora de agradecer ao
conduzir a Ordem com grande eficácia e Senhor.
promover o seu crescimento na santidade.
Roma, 14 de abril de 2019.
Lendo os diversos informativos enviados pelas Domingo de R amos.
Circunscrições, causa satisfação constatar que
há muitas pequenas e grandes iniciativas
para celebrar adequadamente a ocorrência.
Mas não nos limitemos em recordá-lo: a sua
incessante obra e atividade a serviço da Ordem
e da Igreja, o seu percorrer repetidamente Fr. Roberto Genuin
todas as estradas da Europa, despreocupado Ministro Ger al OFMCap.
com as fadigas e inconvenientes, para estar
presente onde as necessidades o exigissem
e para desempenhar com generosidade as
missões que lhe eram confiadas pelo Papa,
sejam-nos de estímulo a percorrer, com
Vigário Ger al
renovado zelo, as estradas que hoje o Senhor
Fr. J osé Ángel
nos abre. Torres River a
60. 
Encontrando-nos, ao término do Capítulo
Geral, o Santo Padre nos indicou três Conselheiros Ger ais
características/modalidades que devem Fr. N
 orbert Auberlin
marcar cada passo nosso, que quero resumir Solondr azana
assim: que continuem a ser frades do povo,
cordialmente próximos de todas as pessoas, Fr. Fr ancesco Neri
também as mais humildes; que sejam frades
de grande coração para com todos, capazes
Fr. Carlos Silva
de acolher com misericórdia e de administrar
com generosidade a misericórdia de Deus;
que sejam frades que rezam, que rezam Fr. Kilian Ngitir
tanto, mas de maneira simples, que possa ser
de sustento à maneira simples de rezar do Fr. Piotr Stasiński
povo. São coisas nas quais nos reconhecemos
e que podemos todos fazer, em toda parte
do mundo e em todo tempo, quaisquer que Fr. Pio Mur at
sejam a nossa condição e os empenhos que
nos aguardam17. Fr. J ohn Baptist
Pallipar ambil
61. O Senhor tem confiança em nós. A Igreja
tem confiança em nós. Caminhemos sem
medo, confiando na proteção materna Fr. Victorius Dwiardy
da Virgem Maria, Padroeira da Ordem, e
na intercessão de São Francisco, de Santa Fr. Celestino Arias
Clara, de São Lourenço e de todos os

17
Cf. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2018/september/documents/papa-francesco_20180914_
capitologenerale-cappuccini.html#DISCURSO_IMPROVISADO

13 © Ufficio Comunicazioni OFMCap Roma MMXIX

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