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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


R.P/ACÓRDÃO : MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND
LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
MARCELO TURBAY FREIRIA
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
ADVOGADA : LILIANE DE CARVALHO GABRIEL
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT
EMENTA

RECURSO ESPECIAL. SOCIETÁRIO. AÇÕES PREFERENCIAIS. /


DIREITO DE VOTO. POSSIBILIDADE DE SUPRESSÃO. / PREFERÊNCIAS
E VANTAGENS. ALTERAÇÃO. / ATRIBUIÇÃO DE DIREITO DE VOTO
PERMANENTE OU CONVERSÃO EM ORDINÁRIAS. IMPOSSIBILIDADE.
/ NULIDADE EM MATÉRIA SOCIETÁRIA. / SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. /
AUSÊNCIA DE DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS. AÇÕES SEM
DIVIDENDO FIXO OU MÍNIMO. AUSÊNCIA DE DIREITO DE VOTO
CONTINGENTE. / ACORDO DE ACIONISTAS. NÃO ATRIBUIÇÃO DE
DIREITO DE VOTO ÀS AÇÕES PREFERENCIAIS. VALIDADE.
1. Não é ilegal a supressão do direito de voto das ações preferenciais, desde que
se lhes atribua alguma das vantagens ou preferências previstas em lei.
2. Durante a vigência da redação original do art. 17 da LSA, as preferências ou
vantagens das ações preferenciais podiam se limitar àquelas arroladas nos incisos do
referido artigo, que não compreendiam direito à percepção de dividendos superiores aos
pagos às ações ordinárias (dividendo diferencial).
3. O direito à percepção de dividendo diferencial foi indistintamente atribuído, por
lei, a todas as ações preferenciais apenas durante a vigência da redação do art. 17 da
LSA dada pela Lei n. 9.457, de 1997.
4. Com a edição da Lei n. 10.303, de 2001, que alterou o referido artigo, não há
obrigação legal de atribuir dividendo diferencial às ações preferenciais não negociadas
no mercado de valores mobiliários, cujas vantagens e preferências podem se limitar
àquelas arroladas nos incisos do caput do art. 17, isolada ou cumulativamente.
5. A alteração das vantagens e preferências das ações preferenciais não lhes

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confere direito de voto definitivo, nem as converte em ações ordinárias, pois eventual
reforma estatutária que não atribuísse, no mínimo, as vantagens e preferências previstas
no art. 17 da LSA implicaria nulidade e o consequente retorno à redação anterior do
estatuto. Eventual nulidade, porém, somente poderia ser alegada nos prazos previstos na
LSA e não é dado ao juiz conhecê-la de ofício, pois, em matéria societária não se aplica,
de ordinário, a teoria das nulidades de Direito comum. Consequência, ademais,
incompatível com o pedido inicial.
6. Também não há atribuição de voto definitivo às ações preferenciais, nem sua
conversão em ordinárias se os acionistas preferencialistas não anuírem com as
alterações de suas vantagens ou preferências. Nesta hipótese, as alterações são apenas
ineficazes em relação às classes de ações preferenciais que não as aprovarem.
7. No caso concreto, é impossível, sem reexame de provas e interpretação do
estatuto da companhia, aferir se a alteração das preferências e vantagens das ações
preferenciais infringiu o disposto na lei societária vigente à época e atribuiu aos
preferencialistas não-vantagens ou não-preferências. Incidência das Súmulas n. 5 e 7
desta Corte a vedar o conhecimento de alegada ofensa aos arts. 15, 17, 18 e 19 da
LSA.
8. A aquisição temporária do direito de voto pelas ações preferenciais, nos
termos do § 1o do art. 111 da LSA (voto contingente), é restrita às ações preferenciais
que fazem jus a dividendos fixos ou mínimos. Ausência de violação ao referido
dispositivo legal.
9. Não é ilegal disposição de acordo de acionistas que prevê que as ações
preferenciais não gozarão de direito de voto, conforme admite o caput do art. 111 da
LSA. Ausência de violação dos arts. 82 e 145, II, do Código Civil de 1916.
10. Recurso conhecido em parte e, nessa parte, improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça. Após a renovação do
relatório e da ratificação dos votos proferidos, por maioria, conhecer em parte do recurso e
negar-lhe provimento nos termos do voto do Sr. Ministro João Otávio de Noronha (convocado para
compor quórum), que lavrará acórdão. Vencidos os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Paulo Furtado
(Desembargador convocado do TJ/BA).Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nancy
Andrighi, João Otávio de Noronha, Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA),
Humberto Gomes de Barros e Ari Pargendler.
Impedido o Sr. Ministro Sidnei Beneti.

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Dr(a). ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES, pela parte RECORRENTE:
FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
Dr(a). ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, pela parte RECORRIDA:
HORST JAKOB HAPPEL
Dr(a). MIGUEL PEREIRA NETO, pela parte INTERES.: BASCITRUS AGRO
INDÚSTRIA S/A

Brasília, 17 de dezembro de 2009(data de julgamento)

MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)

RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND


LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

Cuida-se de recurso especial interposto por Food & Beverage Trading Company
of Ireland Limited, com fundamento no art. 105, inciso III, alínea “a” da Constituição Federal,
contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Ação: Food & Beverage Trading Company of Ireland Limited ajuizou ação
ordinária contra Yolanda Chibily Bassitt e Outros (fls. 2/22), visando a obter sentença
declaratória e constitutiva do direito de votar em reuniões societárias. Alegou, em síntese, ser
sócia da companhia Bascitrus Agro Indústria S.A. cujo capital social está assim dividido: (i)
56,56% do capital social é representado por ações preferenciais de sua titularidade; (ii) 21,72% é
representado por ações ordinárias de titularidade de Yolanda Chibily Bassitt, Allim Bassitt Junior
e Ttissa Comércio e Participações Ltda. (o grupo “Bassitt”); e (iii) 21,72% também é
representado por ações ordinárias de titularidade de Horst Jakob Happel, Fábio Sabbag Happel,
Paul Martin Happel, Rodrigo Sabbag Happel, Pamiro Comércio e Participações Ltda. (o grupo
"Happel"). Embora o estatuto social da Companhia originalmente estabelecesse o benefício de
prioridade na distribuição de dividendos para as ações preferenciais, os grupos Bassitt e Happel,
titulares de totalidade do capital votante, em Assembléia Geral Extraordinária realizada em
19.09.1995, houveram por bem alterar os privilégios outorgados às ações preferenciais. Além da

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participação proporcional na distribuição de novas ações, foi concedida às preferenciais apenas a
“prioridade de reembolso do valor, no caso de liquidação, dissolução da sociedade e direito
de participação proporcional no patrimônio final, depois de reembolsadas as ações
ordinárias pelo seu valor nominal” (art. 6o , § 3o , “b”, Estatuto Social). A autora indica que não
há valor nominal para as ações ordinárias e que, de fato, não lhe foi assegurada qualquer
preferência. Como se não bastasse, afirma que há mais de três anos consecutivos não recebe
quaisquer dividendos. Assim, requereu que, por sentença, lhe seja assegurado: (i) direito
permanente de voto, (ii) direito temporário de voto enquanto não houver distribuição de
dividendos, nos termos do art. 111, § 1o , Lei 6.404/76 e (iii) que as rés sejam condenadas a
proceder às alterações estatutárias que reflitam o acolhimento de sua pretensão.
Sentença: O primeiro grau de jurisdição julgou improcedente os pedidos
formulados por considerar que a transmudação de ações preferenciais em ordinárias é contrária à
letra da lei e que “ao invés de buscar a anulação dos estatutos, a autora faz diferente. Anui
às alterações e firma acordo de acionistas convive com as alterações que datam de 1995;
não busca um retorno a situação anterior”. Considerou, ademais, que o art. 111, § 1o , Lei
6.404/76 “é aplicável apenas às ações que são contempladas no estatuto com direito a
dividendo fixo ou mínimo, o que não ocorre no caso da Bascitrus” (fls. 1384/1391).
Acórdão: Interpostas apelações por Horst Jakob Happel e Outros (fls.
1414/1422), por Bascitrus Agro Indústria S.A (fls. 1425/1433), por Food & Beverage Trading
Company of Ireland Limited (fls. 1436/1497) e apresentadas contra-razões (fls. 1501/1545), o
Tribunal de origem manteve a sentença, lavrando acórdão que trouxe a seguinte ementa (fls.
1703/1719):
“Sociedade Anônima. Transmudação de ação preferencial em
ordinária, incabível – Inadmissibilidade, outrossim, de concessão temporária
de direito de voto – Exegese do art. 111, parágrafo 3o da Lei nº. 6.404/76 c.c.
art. 118 da mesma lei e do art. 5º. da C.F. – Acordo de acionistas que
vigorava formalmente até como anterior de ajuizamento da ação –
Irretroatividade incabível – Inocorrência, ainda, de triênio decadencial –
Falta de previsão legal ou estatutária, para a pretensão da autora – Recursos
improvidos”.

Embargos de Declaração: Food & Beverage Trading Company of Ireland


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Limited opôs embargos de declaração (fls. 1727/1734) que foram parcialmente conhecidos pelo
Tribunal de origem, em acórdão que ostentou a seguinte ementa (fls. 1750/1752):

“Embargos de declaração – recebimento para suprir omissão


relativamente ao prequestionamento dos artigos 15, 17, 18, 19 e 111, § 1o da
Lei 6.404/76 e artigos 82 e 145, inciso I, do Código Civil, mantido, porém, o
improvimento – Infringencialidade quanto aos pontos atacados – Recurso
recebido em parte”.

Recurso Especial: Food & Beverage Trading Company of Ireland Limited.


interpôs Recurso Especial alegando suposta violação aos arts. 15, 17, 19 e 111, § 1º, Lei
6.404/76, bem como aos artigos 82 e 145, II, CC/1916.
Juízo de Admissibilidade: O Especial não foi admitido na origem (fls.
1979/1980). Dei, no entanto, provimento ao Agravo de Instrumento, para melhor análise da
questão, e determinei a subida dos autos ao STJ.
É o relatório do necessário.

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RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND
LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

Cinge-se a controvérsia a examinar: (i) se o Tribunal de origem violou os arts. 15,


17, 18 e 19 da Lei 6.404/76 ao não reconhecer o suposto direito definitivo de voto à recorrente;
(ii) se as instâncias ordinárias violaram o art. 111, § 1º, da Lei 6.404/76 ao não reconhecer o
direito temporário de voto do acionista detentor de ações preferenciais até que se restabeleça a
distribuição de dividendos; e (iii) se foram violados os arts. 82, 145, II, CC/1916 na aplicação de
acordo de acionistas celebrado entre as partes.

(i) Da Admissibilidade do Especial.

O Tribunal de origem, ao apreciar embargos de declaração opostos pela


recorrente, foi bastante claro no sentido de que os recebia “para suprir omissão relativamente ao
prequestionamento dos artigos 15, 17, 18, 19 e 111, § 1o da Lei 6.404/76 e artigos 82 e 145,
inciso I, do Código Civil”, mantendo, porém, o improvimento do recurso de apelação.
É evidente, desta forma, que foram ventiladas no acórdão recorrido questões de
direito cuja reanálise abre as vias do Recurso Especial. Isso é quanto basta, conforme a
inteligência da Súmula 282 do STF, para a admissibilidade do Recurso Especial.

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(ii) Do direito definitivo ao voto.

É fato incontroverso nos autos que, em Assembléia Geral Extraordinária realizada


em 19.09.1995, os acionistas de Bascitrus Agro Indústria S.A. (a “Companhia”) houveram por
bem alterar os privilégios outorgados às ações preferenciais. Se antes tais ações tinham
“prioridade na distribuição de dividendos de 12% ao ano, não cumulativo, calculado 'pro rata
tempore' sobre o seu valor nominal”, elas passaram a gozar apenas de privilégios quanto à
participação proporcional na distribuição de novas ações e prioridade no reembolso de seu valor,
no caso de liquidação, “depois de reembolsadas as ações ordinárias pelo seu valor nominal” (fls.
1923).
A recorrente procura revelar a injustiça de tal decisão, pois ela lhe teria subtraído o
privilégio quanto aos dividendos em troca de suposta primazia no reembolso do capital. Indo além
em sua argumentação, a recorrente ressalta, ainda, que o direito de precedência no reembolso foi
condicionado, no estatuto social, ao prévio reembolso das ações ordinárias.
Por tudo isso, no entender da recorrente, o estatuto social teria criado ações
preferenciais sem qualquer prioridade sobre as demais, em violação aos arts. 15, 17, 18 e 19 da
Lei 6.404/76. Porque nosso ordenamento jurídico não admite ações “preteridas”, suas ações
deveriam ser transmudadas em ordinárias, com direito definitivo ao voto.
É importante observar, no entanto, que a Lei de Sociedades Anônimas vedou que
os ordinaristas alterassem unilateralmente as vantagens patrimoniais concedidas aos
preferencialistas. Com efeito, o seu art. 136, mesmo antes da reforma introduzida pela Lei
9.457/97, já estabelecia que a eficácia da deliberação que implicasse na alteração de
preferências, vantagens e condições de resgate ou amortização de uma ou mais classes de ações
preferenciais dependia de prévia aprovação, ou da ratificação, por titulares de mais de metade da
classe de ações preferenciais interessados, reunidos em assembléia especial convocada e
instalada com as formalidades da lei.
Salta aos olhos, portanto, o fato de que a recorrente não atacou a AGE de
19.09.1995. Ao contrário, deixou transcorrer in albis mais de 5 anos, para, em 31.05.2001,
ajuizar a presente ação pleiteando, não a anulação ou nulidade do aludido ato societário, mas sim

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o reconhecimento de seus efeitos práticos, que considera injustos, para alcançar a transmudação
de ações preferenciais em ordinárias.
O caminho escolhido pela recorrente revela que, para ela, é muito mais importante
obter o direito de voto que simplesmente reaver as preferências quanto a dividendos, privilégio
esse que justificou um investimento equivalente a 56,56% do capital social (fls. 4).
Ora, obter direito de voto para ações que representam mais da metade do capital
social é, sem dúvidas, alcançar poder de controle sobre a Companhia ou, ao menos, ganhar
enorme influência sobre decisões que exijam quorum qualificado. Pretende-se, em poucas
palavras, que o Judiciário dê aval a uma tomada hostil de controle.
A pretensão da recorrente não é admissível inicialmente porque a lei veda o
enriquecimento sem causa. Controle, voto e preferências econômicas são coisas absolutamente
diversas do ponto de vista jurídico e econômico. O controle de companhias abertas, por
exemplo, é ordinariamente adquirido mediante o pagamento de um prêmio ao acionista
controlador e de fração deste prêmio aos detentores de ações com direito a voto (cf. art. 254-A,
Lei 6.404/76). Também é por isso que ações preferenciais e ordinárias são negociadas em bolsa
por valores diversos. É temerário, portanto, desconsiderar essas diferenças econômicas, cuja
dimensão só pode ser mensurada com complexas avaliações de patrimônio líquido, patrimônio
líquido a valor de mercado ou de fluxo de caixa descontado, para equiparar ações preferenciais e
ações ordinárias, sob pena de se enriquecer uma parte em detrimento de outra. Por isso, só a
vontade das partes pode conduzir à conversão de uma espécie de ação em outra.
Ademais, vale frisar que o direito só atribui duas alternativas à recorrente: ou
concorda integralmente com a decisão da AGE de 19.09.1995 e aceita o privilégio de reembolso
tal como ali estabelecido, ou não dá sua anuência a este ato e retorna ao status quo ante, para
deter preferência na distribuição de dividendos. Não há terceira via possível, pois não se pode
admitir que a recorrente aceite decisão que lhe é prejudicial para, a partir daí, obter proveito que
não teria se simplesmente manifestasse sua recusa à alteração estatutária. Por isso, conceder
direito definitivo de voto tal como pretendido na inicial é fato que contraria princípios gerais de
boa-fé e, em especial, a proibição do o venire contra factum proprium.
Assim, se na hipótese concreta há ação preferencial sem qualquer vantagem

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patrimonial, tal como afirma a recorrente, isto só ocorreu porque ela deu aprovação prévia ou
ratificou a AGE de 19.09.1995, nos termos do art. 136, Lei 6.404/76.
Só o preferencialista pode decidir se lhe convém aceitar a vantagem patrimonial
oferecida no estatuto e, uma vez que manifesta sua aceitação, não pode o Poder Judiciário
convalidar sua mudança de opinião, sob o argumento de que agora, esta ação preferencial,
outrora desejada, já não se enquadra no rol de preferências patrimoniais estabelecidas pela Lei
de Sociedades Anônimas. Não há, portanto, qualquer violação aos arts. 15, 17, 18 e 19 da Lei
6.404/76.

(iii) O art. 111, § 1º, da Lei 6.404/76.

Questão completamente diversa diz respeito à aquisição de direito de voto pelas


ações preferenciais. O art. 111, § 1o , Lei 6.404/76, determina que “as ações preferenciais sem
direito de voto adquirirão o exercício desse direito se a companhia, pelo prazo previsto no
estatuto, não superior a três exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos
ou mínimos a que fizerem jus, direito que conservarão até o pagamento, se tais dividendos
não forem cumulativos, ou até que sejam pagos os cumulativos em atraso” (g.n).
A doutrina polariza-se no que diz respeito à interpretação do aludido artigo,
havendo quem sustente ser o artigo aplicável estritamente às ações com privilégio de dividendos
fixos ou mínimos e também quem defenda ser a regra extensível a todo e qualquer
preferencialista. Com base nesta última vertente doutrinária e diante da ausência de distribuição
de dividendos, a recorrente vem sustentando lhe assistir o direito temporário de voto, direito este
denominado “voto contingente”.
Para a correta interpretação do referido artigo, deve-se ter em mente a
organização empresarial como um feixe de contratos em que se equilibram os interesses de
empregados, fornecedores, sócios, credores e, em última instância, dos próprios clientes. A
organização empresarial não pode ser vista como mera criatura, feita à imagem e semelhança do
empresário. A função social da atividade empresarial não pode ser exercida pelo empresário em
seu exclusivo interesse. Pelo contrário, espera-se legitimamente que ela maximize os benefícios de
todos os interesses que nela se vêem congregados.
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Entre os diversos remédios que o ordenamento prevê para a correção de atos
lesivos aos interesses de acionistas, é particularmente relevante aquele disposto no art. 111, § 1o ,
Lei 6.404/76.
A lei reconhece como anormal a situação da organização empresarial que há mais
de três exercícios consecutivos não satisfaz o interesse dos acionistas detentores de ações
preferenciais e, como forma de corrigir os rumos da empresa, autoriza que estes passem a ter
direito pleno de voto. Interesses que até então eram externos ao centro decisório tornam-se
relevantes. Satisfazê-los, assim como a administração deve satisfazer credores, trabalhadores e
consumidores, passa a ser questão urgente, que não se pode ser relegada ao esquecimento.
É certo que o referido artigo só faz menção ao restabelecimento do direito de voto
a detentores de privilégios de dividendos mínimos ou fixos. O rol não é, entretanto, taxativo.
Todo e qualquer acionista participa de sociedade empresarial na expectativa de
auferir lucros. Não é razoável impor aos acionistas a ausência de benefícios econômicos por
prazo indefinido. Não se pode presumir que, em sociedade com prazo de duração indeterminado,
o detentor de ações preferenciais as tenha adquirido apenas como forma de receber reembolso
privilegiado no futuro. Este acionista, como qualquer outro, adquiriu tais ações na esperança
legítima de auferir lucros, ainda que na mesma proporção assegurada aos ordinaristas.
Assim, ainda que o acionista tenha inicialmente optado por adquirir ações sem
direito ao voto, a lei não tolera que ele, por prazo indeterminado, tenha seus interesses ignorados
e, por isso, lhe assegura a faculdade de intervir nos rumos empresariais como forma de proteger
sua contribuição ao capital social.
Ademais, a existência de um acionista titular de ações preferenciais emitidas por
companhia fechada, com prazo de duração indeterminado, sem direito a voto e cujo único
privilégio só pode ser experimentado com o reembolso após a liquidação, é fato tão peculiar que
seria mesmo espantoso que o legislador tivesse efetivamente tratado desta hipótese ao redigir o
art. 111, § 1o , Lei 6.404/76.
A interpretação do referido artigo deve ser, portanto, teleológica, e não
simplesmente literal, para conceder a acionistas que detenham mero privilégio de reembolso, em
sociedade por prazo indeterminado, direito de contribuir para a definição dos rumos sociais

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quando, no período de três exercícios, não haja distribuição de lucros.
Não se impõe, portanto, às sociedades empresariais o dever de distribuir
dividendos. Ao contrário, tais sociedades podem por prazo indeterminado não apresentar
resultados positivos, mas, após o decurso, em regra, de três exercícios, a ausência de lucro
haverá de ser fruto da desventura de todos os seus acionistas e não apenas daqueles que detém
direito ordinário de voto.
A solução privilegia, por outro lado, princípios de democracia societária ao
internalizar interesses daqueles agentes econômicos cuja contribuição foi relevante para a
formação da empresa e que, tanto como os ordinaristas, têm compromisso com seu crescimento
sustentável.
Desta feita, é absolutamente irrelevante para o deslinde da questão a análise das
modificações introduzidas na redação do art. 17 da Lei 6.404/76 pelas Leis 9.457/97 e
10.303/01. Com efeito, a imposição de 'dividendos diferenciais' a todas as ações privilegiadas e
posterior revogação deste direito são fatos que não interferem no direito assegurado aos
recorrentes. Com ou sem `dividendos diferenciais`, o fato é que, pela interpretação teleológica do
art. 111, §1o , Lei 6.404/76, acionistas preferenciais, em condições análogas à da recorrente,
fazem jus ao direito de intervir nos rumos sociais.
Ainda no que diz respeito à interpretação do art. 111, §1o , Lei 6.404/76, deve-se
questionar acerca das condições impostas por lei para que o titular de ações preferenciais possa
se valer da faculdade de voto contingente. Nesse ponto, é importante voltar a atenção ao teor do
voto condutor do acórdão recorrido, que assim se manifestou (fls. 1703/1707):

“Não havia previsão legal, nem estatutária, seja para a


transmudação de ações preferenciais em ordinárias, seja para a concessão
temporal de direito de voto aos acionistas com preferência, mesmo que ocorrente
a hipótese prevista no art. 111 e seus parágrafos da Lei nº 6.404/76.
(...)
Os parágrafos 2o e 3o do art. 6o do Estatuto Social da companhia,
não estabeleceu nenhuma hipótese, direito de Voto aos preferencialistas. Logo,
inexistia previsão estatutária.
(...)
Não há dúvida que a norma introduzida ao art. 111 pode ser
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moralizadora e de ordem pública. Sua incidência, contudo, deve observar os
limites da irretroatividade constitucional e da perfeição dos atos jurídicos, enquanto
não ocorrida, formalmente ruptura do trato societário, também subscrito pelas
apelantes. Não quadrava retroação de sua aplicação”.

Vê-se, portanto, que as partes celebraram acordo de acionistas em 25.08.1995 e


o acórdão guerreado condicionou o exercício da faculdade de voto contingente à prévia rescisão
deste negócio jurídico.
Tal interpretação não condiz, entretanto, com o disposto na lei federal. A
faculdade de voto contingente, dá-se por força de lei, e não por vontade das partes. Por mais que
as partes tenham ajustado entre si o não exercício do voto, é a Lei, em norma cogente, que
assegura aos preferencialistas o voto contingente e seu exercício é condicionado exclusivamente
ao decurso do período de três exercícios consecutivos sem distribuição de dividendos a acionistas
sem direito à voto.

A existência de ato jurídico perfeito e o princípio da irretroatividade são questões


absolutamente estranhas à lide. Em primeiro lugar porque a redação do art. 111, §1o , remonta à
promulgação da Lei 6.404/76 e desde então não foi alterada. Ademais, o reconhecimento do ato
jurídico perfeito não significa que ele possa validamente revogar, in concreto, lei federal cogente.
É aliás a própria ausência de voto que autoriza a aplicação do referido art. 111,
§1o , Lei 6.404/76. Se o acionista tivesse outro modo de exercer o voto, pela rescisão de acordo
de acionistas ou por qualquer outro meio, aí já não mais necessitaria do auxílio da norma sob
análise.

(iv) Os arts. 82, 145, II, CC/1916.

A recorrente afirmou, ainda, que o acordo de acionistas não pode ser tomado
como vedação absoluta e irrestrita ao direito de voto, pois, se assim o fosse, estar-se-ia
admitindo um negócio jurídico com objeto ilícito, em clara violação à lei. Ao admitir eficácia para
um acordo de acionistas com objeto ilícito, o Tribunal de origem teria violado os arts. 82 e 145,
II, CC/1916.
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Superior Tribunal de Justiça
Não se vislumbra, entretanto, qualquer violação aos arts. 82 e 145, II, CC/1916
simplesmente porque é perfeitamente lícita a convenção que veda o exercício do direito de voto a
ações preferenciais. Ações sem direito a voto podem até mesmo ser admitidas à negociação no
mercado de valores mobiliários nos termos do art. 17, § 1o , Lei 6.404/76. O que não se admite,
como visto, é o afastamento do voto contingente, como assegurado pelo art. 111, §1o , Lei
6.404/76.

Forte em tais razões, CONHEÇO PARCIALMENTE do Recurso Especial e,


nesta parte, lhe DOU PROVIMENTO para reconhecer o direito temporário de voto da
recorrente na qualidade de acionista de Bascitrus Agro Indústria S.A., direito esse que
conservará até o pagamento de lucros, tudo nos termos do art. 111, § 1o , Lei 6.404/76.
Considerando que o grupo Happel e a Companhia Bascitrus Agro Indústria S.A. não resistiram à
pretensão formulada pela recorrente e tendo em vista ainda a sucumbência parcial, fixo os
honorários advocatícios em 10% sobre o valor da causa, a serem distribuídos na proporção de
50% para a recorrente e 50% para o grupo Bassitt, valores estes compensáveis reciprocamente
nos termos da Súmula 306, STJ. Cada parte arcará com as custas que desembolsou.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2006/0020603-1 REsp 818506 / SP

Números Origem: 200501705480 2777604403 44001 4402001

PAUTA: 11/12/2007 JULGADO: 11/12/2007

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRA
Secretária
Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT

ASSUNTO: Comercial - Sociedade - Anônima - Ações - Preferenciais

SUSTENTAÇÃO ORAL
Pelo recorrente: Dr. Antônio de Oliveira Tavares Paes
Pelos 1º recorridos: Dr. Antônio Carlos de Almeida Castro
Pelos 2º recorridos: Dr. José Guilherme Villela
Pelo interessado: Dr. Rodrigo Benevides

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

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Superior Tribunal de Justiça
Após o voto da Sra. Ministra Relatora, conhecendo em parte do recurso especial e, nessa
parte, dando-lhe provimento, pediu vista o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros. Aguarda o Sr.
Ministro Ari Pargendler.
Brasília, 11 de dezembro de 2007

SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO


Secretária

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)

VOTO-VISTA

MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: O caso já está


bem retratado no relatório da e. Ministra Nancy Andrighi, que resumiu o objeto deste recurso
especial em três pontos:
1) violação aos Arts. 15, 17, 18 e 19, da Lei 6.404/76: possibilidade de
reconhecimento de direito definitivo de voto às ações preferenciais da ora recorrente;
2) violação ao Art. 111, § 1º, da Lei 6.404/76: direito ao "voto contingente"
até restabelecimento de distribuição de dividendos às ações preferenciais;
3) ofensa aos Arts. 82, 145, II, do Código Beviláqua: validade do acordo de
acionistas firmado entre as partes.
Inicio pelo último ponto, porque, ao contrário da e. Relatora, data vênia, os
Arts. 82 e 145, II, do Código Civil revogado, a meu ver, não estão prequestionados. O
Tribunal paulista apenas fez referência a tais dispositivos (que não foram objeto da ação nem
da apelação) sem debater efetivamente os respectivos conteúdos. Inclusive, ficou claro no
acórdão dos declaratórios que a questão referente à validade do acordo de acionistas deveria
ser objeto de ação própria, o que, data vênia, demonstra que a questão não foi examinada
pela Corte a quo. É preciso entender que a mera citação do dispositivo, sem debate sobre seu
conteúdo jurídico, não configura o prequestionamento (nesse sentido: REsp 729.053, de minha
relatoria). Incidem as Súmulas 282/STF e 211/STJ.
Quanto ao primeiro ponto, estou na mesma linha de entendimento da e.
Relatora, do Tribunal de Apelação e do Juiz da origem.
O Judiciário não pode transformar ações preferenciais em ações ordinárias,
sem que exista manisfestação de vontade societária válida nesse sentido. Seria, no mínimo,
inusitado que o Judiciário transformasse ações preferenciais em ordinárias, com base em
sentimento de injustiça que os preferencialistas nutrem por ato societário que concordaram e
sequer impugnam (AGE de 19/09/1995).
Conforme assinalou a e. Relatora, no caso, a boa-fé inibe a retração dos
efeitos da modificação estatutária que por mais de cinco anos foi aceita pela recorrente sem

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Superior Tribunal de Justiça
qualquer queixa, pois anuiu com a limitação das vantagens patrimoniais da ação preferencial.
Aqui, vale registro da sentença:
"Quer dizer: ao invés de buscar a anulação dos estatutos, a autora faz
diferente. Anui às alterações e firma acordo de acionistas; convive com as
alterações que datam de 1995; não busca um retorno à situação anterior.
Simplesmente pretende modificar a categoria de suas ações. Ou seja,
pretende ser acionista ordinária e votar.
Essa modificação não encontra nenhum respaldo nos estatutos da empresa.
Tanto nesse documento, como também no acordo de acionistas, ficou clara a
exclusão da autora do direito de voto, pelo que sua primeira pretensão fica
inteiramente rechaçada." (fl. 1.389, 7º vol.).

No que toca ao Art. 111, § 1º, da Lei das S/A's, a e. Relatora entende que
o dispositivo deve ser interpretado teleologicamente. Nesse rumo, concede à recorrente - que,
pelo estatuto, detém mero privilégio de reembolso - direito ao chamado "voto contingente",
pois, no período de três exercícios, não houve distribuição de lucros.
Eis a redação do dispositivo (Art. 111, § 1º, da Lei das S/A's):
"Art. 111. O estatuto poderá deixar de conferir às ações preferenciais
algum ou alguns dos direitos reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de
voto, ou conferi-lo com restrições, observado o disposto no artigo 109.

§ 1º As ações preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício


desse direito se a companhia, pelo prazo previsto no estatuto, não superior a 3
(três) exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos
a que fizerem jus, direito que conservarão até o pagamento, se tais dividendos
não forem cumulativos, ou até que sejam pagos os cumulativos em atraso."

Data vênia, a redação da Lei é clara: só tem direito ao "voto contingente" os


preferencialistas sem direito de voto, que fizerem jus a dividendos fixos ou mínimos - não
pagos por três exercícios consecutivos. Assim, o Art. 111, § 1º, atende somente os
preferencialistas com direito de dividendos mínimos ou fixos. Se, em determinada Companhia,
os preferencialistas não detêm entre os respectivos privilégios a distribuição de dividendos
mínimos ou fixos, o Art. 111, § 1º, da Lei 6.404/76 não lhes é aplicável.
Em suma, não cabe "voto contingente" ao preferencialista sem direito a
dividendo fixo ou mínimo.
No caso, os privilégios estão previstos no Art. 6º, § 3º, do estatuto
societário, que não assegura distribuição de dividendos - fixos ou mínimos. Ora, foi a própria

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recorrente que anuiu por privilégio fruível somente após eventual liquidação da sociedade.
Logo, ao menos nesse caso, penso que não cabe interpretação teleológica
do Art. 111, § 1º, da Lei das S/A's, pois a conveniência na ausência de fruição de dividendos
e de possibilidade de voto foram objeto de opção da recorrente, que não pode, simplesmente,
utilizar o Judiciário para mudar escolha feita ao próprio talante - venire contra factum
proprio (como observou a e. Relatora no ponto anterior).
Por fim, registro que a conclusão do voto da e. Relatora pode eternizar,
senão remeter às calendas gregas, lide objeto deste recurso. A il. Relatora dá provimento ao
recurso especial para reconhecer o direito temporário de voto da recorrente na qualidade de
acionista de Bascitrus Agro Industria S.A. até o pagamento de lucros nos termos do Art. 111,
§ 1º, da Lei 6.404/76. Ora, o Art. 111, § 1º, da Lei 6.404/76 condiciona o "voto contingente"
à ausência de pagamento de dividendos fixos ou mínimos por determinado período de
tempo. Acontece que o estatuto da Companhia não prevê distribuição de dividendos
fixos ou mínimos aos preferencialistas. Assim, como os recorridos poderão adimplir o
pagamento de tais dividendos e elidir o direito de voto temporário? Pagarão com base em qual
tipo de dividendo? Fixo ou mínimo? Se a recorrente refutar os valores, deverão consignar?
Data máxima vênia, a solução proposta é praticamente inexeqüível e cria mais problemas,
porque, praticamente, cria nova lide ao condicionar o direito a voto temporário a pagamento
de quantia totalmente ilíquida e sem qualquer critério de apuração do montante no
estatuto da Companhia.
Data vênia, a percepção dessa inexeqüibilidade leva à conclusão de que o
caminho buscado pela recorrente, no escopo de preservar a alteração estatutária e buscar o
direito de voto "temporário" não foi o adequado.
Se a vantagem na distribuição de dividendos é inerente às ações
preferenciais, a recorrente deveria buscar a anulação da alteração estatutária - que no seu
entender lhe esvaziou os privilégios - e retornar ao status quo ante. Não lhe é lícito querer
manter a alteração estatutária - que reputa abusiva - e buscar direito a voto que só lhe seria
lícito se fizesse jus a dividendos fixos - como ocorria antes da modificação estatutária.
Em arremate, vale dizer: se deliberação societária elimina vantagens de ação
preferencial sobre ordinária, o caminho adequado para eventual ajuste é a anulação da
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Superior Tribunal de Justiça
alteração estatutária e não a busca de equiparação aos direitos inerentes aos ordinaristas,
porque não é lícito ao Judiciário invadir o espaço societário e atuar positivamente em seara
reservada à vontade dos acionistas. Ao Judiciário só compete atuar negativamente, invalidando
eventual alteração estatutária ilícita.
Com vênia à e. Relatora, nego provimento ao recurso especial ou, na
terminologia da Turma, dele não conheço.

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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2006/0020603-1 REsp 818506 / SP

Números Origem: 200501705480 2777604403 44001 4402001

PAUTA: 11/12/2007 JULGADO: 07/02/2008

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A

ASSUNTO: Comercial - Sociedade - Anônima - Ações - Preferenciais

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Humberto Gomes de
Barros, não conhecendo do recurso especial, pediu vista dos autos o Sr. Ministro Ari Pargendler.
Não participou do julgamento o Sr. Ministro Sidnei Beneti.

Brasília, 07 de fevereiro de 2008

SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO


Secretária

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)

VOTO-VISTA

EXMO. SR. MINISTRO ARI PARGENDLER:

1. Nos autos de ação ordinária proposta por Food &


Beverage Trading Company of Ireland Limited contra Bascitrus
Agro Indústria S/A e outros (fl. 02/22, 1º vol.), o MM. Juiz de
Direito Ronaldo Guaranha Merighi julgou improcedente o pedido
(fl. 3.384/3.391, 7º vol.), o qual fora assim desdobrado:

"a) reconhecer e constituir, por sentença, a Suplicante no


direito permanente de voto perante a Bascitrus Agro Indústria
S/A, em igualdade de condições com os acionistas possuidores de
ações ordinárias com direito a voto em todos os atos
societários e de assembléias gerais, condenando os Suplicados a
aceitá-la na qualidade de acionista detentora de ações
ordinárias com direito a voto, votando na mesma proporção de
capital e de participação que possuía enquanto estava na
condição de detentora de ações preferenciais;

b) nos termos do artigo 111, § 1º da Lei 6.404/76 se e


enquanto não vier a receber dividendos, por sentença,
reconhecer e constituir a Suplicante no direito temporário de
voto perante a Bascitrus Agro Indústria S/A, em igualdade de
condições com os acionistas possuidores de ações ordinárias com
direito a voto em todos os atos societários e de assembléias
gerais, condenando os Suplicados a aceitá-la na qualidade de
acionista detentora de ações ordinárias com direito a voto,
votando na mesma proporção de capital e de participação que
possuía enquanto estava na condição de detentora de ações
preferenciais" (fl. 21, 1º vol.).

A sentença desenganou o primeiro pedido nestes termos:

"O art. 17 da Lei 6.404/76 é claro em sua redação ao


mencionar quais as preferências ou vantagens que podem
contemplar as ações preferenciais. Trata-se de (a) rol
exemplificativo; (b) rol que não condiciona ou vincula a
natureza da ação preferencial.

Com isso, tanto é possível que o portador de ações


preferenciais tenha outras vantagens, criadas naturalmente pelo
estatuto, que não aquelas previstas pelos incisos do art. 17,
como também que não tenha vantagens expressivas e/ou
pecuniárias, desde que aceite essa condição.

No caso dos autos, o art. 6º §§ 2º e 3º do Estatuto da


empresa traz a exclusão da portadora dos direitos preferenciais
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Superior Tribunal de Justiça
do direito de votar. Em contrapartida, estabelece os
privilégios. Quais sejam: a) participação proporcional na
distribuição de novas ações da mesma espécie emitidas em
decorrência de capitalização de reservas, lucros suspensos ou
resultados de correções monetárias; b) prioridade de reembolso
do seu valor, no caso de dissolução da sociedade, e direito de
participação proporcional no patrimônio final, depois de
reembolsadas as ações ordinárias pelo seu valor nominal.

Ora, se a empresa, por intermédio dos réus que têm o


direito de votar, no entender a autora, suprimindo o valor
nominal das ações preferenciais, ou por qualquer outro ato,
tornou as ações preferenciais sem preferência alguma, a
providência a ser tomada era outra.

Quer dizer: ao invés de buscar a anulação dos estatutos, a


autora fez diferente. Anui às alterações e firma acordo de
acionistas; convive com as alterações que datam de 1995; não
busca um retorno à situação anterior. Simplesmente pretende
modificar a categoria de suas ações. Ou seja, pretende ser
acionista e votar.

Essa modificação não encontra, entretanto, nenhum respaldo


nos estatutos da empresa. Tanto nesse documento, como também no
acordo de acionistas, ficou clara a exclusão da autora do
direito de voto, pelo que sua primeira pretensão fica
inteiramente rechaçada" (fl. 1.388/1.389, 7º vol.).

A motivação quanto à improcedência do segundo pedido foi


assim exposta:

"Invocou-se, então, o art. 111, § 1º, da Lei de S/A como


tese subsidiária: não se pretende mais a transmutação das
ações, mas a concessão temporária do direito de voto à autora,
por força da não distribuição de dividendos.

Acontece que a referida norma, não alterada


substancialmente pela Lei 10.303/01, é aplicável apenas às
ações que são contempladas no estatuto com direito a dividendo
fixo ou mínimo, o que não ocorre no caso da Bascitrus. A
interpretação decorre da simples leitura da norma, que na parte
final condiciona: '... se a companhia (...) deixar de pagar
total ou parcialmente, os dividendos fixos ou mínimos a que
fizeres jus ...'.

Por conseguinte, vê-se que o objetivo da norma é claro no


sentido de garantir o preferencialista, que tem direito a
dividendo fixo ou mínimo, e que por conta desta preferência
deixou de ter direito ao voto, readquirir aquela condição até
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Superior Tribunal de Justiça
se satisfazer do ponto de vista pecuniário.

Todavia, se inobstante a ausência do direito de votar, o


preferencialista já não fazia jus a tais vantagens pecuniárias,
qual a vantagem de invocação da lei ? Note-se bem que o
preferencialista, em regra, não tem interesse no aspecto
político da sociedade, tanto que é tido como acionista
poupador.

Essa, logicamente, não é a situação da autora. Tanto assim


que, na sua primeira tese, abre mão, de bom grado, da condição
de acionista preferencial em troca do poder do voto. Mas a lei
não pressupunha tal possibilidade e não passou a pressupor com
a recente alteração.

Conseqüentemente, invocando-se ainda como razão de


decidir, os pareceres de Fábio Ulhoa Coelho encartados aos
autos, que ficam fazendo parte integrante da presente, afasto
de forma expressa a pretensão inicial da autora, considerando
refutado qualquer argumento de fato ou de direito que colida
direta ou indiretamente com o teor dessa fundamentação" (fl.
1.390/1.391, 7º vol.).

2. O tribunal a quo, relator p/acórdão o Desembargador


Alfredo Migliore, deixou de reconhecer o direito a conversão
das ações ordinárias em ações preferenciais, por falta de
previsão estatutária (fl. 1.703, 9º vol.), e afastou o direito
temporário de voto às ações preferenciais, "mesmo que ocorrente
a hipótese prevista no art. 111 e seus parágrafos da Lei nº
6.404/76" (fl. 1.704, 9º vol.), motivando esta última conclusão
nestes termos:

"A 25.08.1995 foi firmado entre Yolanda Chibly Bassit,


Allim Basit Júnior, o Grupo Happel e a Food Beverage Trading
Company of Ireland Limited acordo de acionistas da Bascitrus
Agro Indústria S/A, acordo este com prazo indeterminado de
vigência e que nos termos do art. 118 da Lei nº 6.404/76,
devera (sic) ser observado pela companhia.

Assim, o item I da cláusula III do acordo foi explícito no


sentido de que as ações preferenciais não teriam direito a
voto.

Trata-se esta disposição do contrato entre acionistas de


ato jurídico perfeito.

Como a avenca de 25.08.1995 era por prazo indeterminado,


caberia sua ruptura por denúncia livre de qualquer dos três
grupos da mesma partícipe. Enquanto não houvesse essa denúncia,
ou cisão, através de fatos contrários a qualquer entendimento
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Superior Tribunal de Justiça
acionário, ele seria válido no mundo jurídico. Pelo menos até,
pelo que se presume dos vários litígios entre as pessoas
físicas e jurídicas envolvidas na busca, ou do controle
acionário da Bascitrus, ou em ganhos econômicos ou, até, na
transferência de ações, tem-se certeza que, até meados de 2000,
permanecia inflexível e observado o Acordo de Acionistas.

Se assim é, na melhor das hipóteses para as apelantes


(Grupo Happel e a Food Beverage Trading Company of Ireland
Limited), somente após a ruptura desse contrato, em meados de
2000, começaria a fluir para a apelante Food Beverage o prazo
de três anos previsto na Lei de Sociedades Anônimas (art. 111 e
parágrafos), para os fins pretendidos nesta lide.
Constitucionalmente, o direito da autora da lide só poderia ser
declarado após o triênio carencial, computados os períodos
estatutariamente previstos após junho de 2000, para a
distribuição de dividendos, se aceita essa data como ponto de
partida.

Eu entendo, porém, que somente após a Assembléia Geral


Extraordinária de 10.01.2001 é que se poderia definir o início
do biênio carencial a fim de que se pudesse reivindicar por
parte do Grupo Happel e da Food Beverage Trading Company of
Ireland Limited participação acionária, mesmo que parcial, com
direito a voto; o início desse prazo, nesta data, porque neste
houve a formalização da denúncia quanto ao imobilismo avençado
dos acionistas (ordinários e preferencialistas) além da
Bascitrus, portanto, ainda não decorrido.

No mínimo, por falta de cumprimento de condição mínima


legal, seria caso de carência de ação. Bem por isto, a
improcedência ora declarada.

Não há dúvida que a norma introduzida no art. 111 pode ser


moralizadora e de ordem pública. Sua incidência, contudo, deve
observar os limites da irretroatividade constitucional e da
perfeição dos atos jurídicos, enquanto não ocorrida,
formalmente, ruptura do trato societário, também subscrito
pelas apelantes. Não quadrava retroação de sua aplicação" (fl.
1.705/1.706, 9º vol.).

No âmbito dos embargos de declaração, o voto vencedor


assim resumiu o fundamento que o levou a julgar improcedente o
pedido de que fosse atribuído o direito temporário de voto às
ações preferenciais:

"... sem prévia denúncia formal do pacto de acionistas,


não começaria a fluir o prazo carencial (triênio) para o
exercício de direito de voto, seja em definitivo (o que entendo
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Superior Tribunal de Justiça
inadmissível), seja provisório, o que é possível juridicamente.
Por não haver decorrido ainda esse prazo, por óbvio, nenhum
direito da preferencialista" (fl. 1.750/1.751, 9º vol.).

3. Seguiu-se recurso especial interposto por Food &


Beverage Trading Company of Ireland Limited, com base no art.
105, inc. III, alínea "a", da Constituição Federal, por
violação dos arts. 15, 17, 19 e 111, § 1º, da Lei nº 6.404, de
1976, bem como dos arts. 82 e 145, II, do Código Civil (fl.
1.755/1.828, 10º vol.).

A relatora, Ministra Nancy Andrighi, conheceu do recurso


especial em parte e, nesta parte, deu-lhe provimento "para
reconhecer o direito temporário de voto da recorrente na
qualidade de Bascitrus Agro Indústria S/A, direito esse que
conservará até o pagamento de lucros, tudo nos termos do art.
111, § 1º da Lei 6.404/76".

Dela divergiu, em voto-vista, o Ministro Gomes de Barros,


que não conheceu do recurso especial.

4. Na instância ordinária, a lide se travou em torno de


duas questões, ativadas desde a petição inicial, a saber:

I. uma a propósito da conversão, em ações ordinárias, de


ações preferenciais (cujo pressuposto de fato seria a ausência,
nestas, de preferências); e

II. outra acerca do direito de voto do titular de ações


preferenciais, quando a sociedade anônima deixa de distribuir
dividendos em 3 (três) exercícios consecutivos.

5. Acerca da primeira questão, o tribunal a quo, no


julgamento da apelação, nem investigou se procedente a alegação
de que as indigitadas ações preferenciais são destituídas de
preferências; afastou a conversão das ações preferenciais em
ações ordinárias, reportando-se, não à lei das sociedades
anônimas ou ao estatuto da companhia, mas ao acordo de
acionistas, por ele qualificado de ato jurídico perfeito, cujo
"item I da cláusula III ... foi explícito no sentido de que as
ações preferenciais não teriam direito a voto" (fl. 1.705, 9º
vol.).

Por isso, as contra-razões (fl. 1.888/1.908, 10º vol.),


sustentam que, dele ausente qualquer menção a respeito, o
recurso especial não pode ser conhecido, seja por falta de
impugnação, seja por ter o tema feição constitucional.

Data venia, a noção de ato jurídico perfeito passa pelo


crivo da legislação infraconstitucional; só então, se estiver
de acordo com esta, terá a proteção constitucional prevista no
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art. 5º, inc. XXXVI, da Constituição Federal.

A aludida norma dispõe que a lei respeitará o ato jurídico


perfeito; explícito o ataque ao estatuto da companhia e,
consequentemente, ao acordo de acionistas, ipso facto, este
tema deve ser enfrentado à luz da legislação ordinária, e, por
esse primeiro fundamento, a ação não pode prosperar. Mínimas
que sejam, as vantagens que o acordo de acionistas e o estatuto
da companhia destinaram às ações preferenciais resultaram de
acordo que não pode ser rompido sem comprometer o poder de
controle de Bascitrus Agro Indústria S/A.

A tomada hostil desse poder de controle, sem qualquer


compensação financeira, importaria em enriquecimento sem causa
e em uma total falta de relação entre causa e efeito.

A causa, como seja, a nulidade da Assembléia Geral que não


estipulou vantagens ao titular das ações preferenciais, só
poderia ter como efeito a atribuição delas às ações
preferenciais - nunca a respectiva conversão em ações
ordinárias.

6. O voto do relator não refutou o argumento de que o


titular de ações preferenciais tem voto contingente quando a
sociedade anônima deixa de distribuir dividendos em 3 (três)
exercícios consecutivos; entendeu, no entanto, que esse direito
só poderia ser exercido após a denúncia do acordo de
acionistas, não antes de junho de 2000, e com segurança
"somente após a Assembléia Geral Extraordinária de 10.01.2001"
(fl. 1.706, 9º vol.).

Já o voto vencedor do Desembargador Waldemar Nogueira


Filho concluiu que "a autora não se encarta, utilmente, na
hipótese tipificada no artigo 111, § 1º, da Lei de Sociedades
Anônimas, que incide, como deu conta o Magistrado, a fl. 1.390:
'apenas às ações que são contempladas no estatuto com direito a
dividendo fixo ou mínimo, o que não ocorre no caso da
Bascitrus'" (fl. 1.709, 9º vol.).

Quer dizer, foram dois os fundamentos do tribunal a quo


para decidir que o art. 111, § 1º, da Lei nº 6.404, de 1976, é
inaplicável na espécie.

O primeiro, como seja, o de que a aludida norma só poderia


ser invocada após a denúncia do acordo de acionistas não foi
atacado pelo recurso especial, é suficiente para manter o
julgado, nos termos da Súmula nº 283 do Supremo Tribunal
Federal ("É inadmissível o recurso extraordinário quando a
decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e
o recurso não abrange todos eles").

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Obiter dictum, três circunstâncias induzem à conclusão de


que o art. 111, § 1º, da Lei nº 6.404, de 1976, é inaplicável à
espécie, a saber:

- a literalidade do texto, que se reporta a "dividendos


fixos ou mínimos";

- o histórico dos trabalhos parlamentares que resultaram


na Lei nº 10.301, de 2001, segundo o qual o Congresso Nacional
rejeitou a proposta de alteração do citado art. 111, § 1º
(1.278/1.281, 7º vol. - parecer do Professor Fábio Ulhoa
Coelho);

- outra interpretação exigiria glosa ao art. 111, § 1º, da


Lei nº 6.404, de 1976, conforme se depreende do parecer do
Professor Alfredo Lamy Filho, que a preconiza, in verbis:

"A leitura do § 1º do art. 111, acima transcrito, deve,


pois, ser feita em sistema com o § 1º do art. 17 – ou seja, com
o 'ainda que' desse texto que procura proteger o capital social
– ou seja,

'deixar de pagar dividendos AINDA QUE fixos ou mínimos a


que fizerem jus', etc" (fl. 1.066, 6º vol., as MAIÚSCULAS são
do texto original).

Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso


especial.

Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 28 de 16
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2006/0020603-1 REsp 818506 / SP

Números Origem: 200501705480 2777604403 44001 4402001

PAUTA: 17/03/2009 JULGADO: 17/03/2009

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT

ASSUNTO: Comercial - Sociedade - Anônima - Ações - Preferenciais

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler, não
conhecendo do recurso especial, verificou-se falta de quorum. O julgamento será renovado com
reinclusão em pauta.
Impedido o Sr. Ministro Sidnei Beneti.

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Brasília, 17 de março de 2009

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA


Secretária

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF
IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E
OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
MARCELO TURBAY FREIRIA
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E
OUTRO(S)
ADVOGADA : LILIANE DE CARVALHO GABRIEL
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT

VOTO-VOGAL

O EXMO. SR. MINISTRO PAULO FURTADO


(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/BA):

Acompanho integralmente o voto da eminente Ministra Nancy


Andrighi, Relatora, conhecendo parcialmente do recurso especial e, nessa
parte, dando-lhe provimento para reconhecer o direito temporário de voto da
recorrente na qualidade de acionista da Bascitrus Agro Indústria S/A, direito
este que conservará até o pagamento dos lucros, tudo nos termos do art. 111
da Lei das Sociedades Anônimas.

Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 31 de 16
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2006/0020603-1 REsp 818506 / SP

Números Origem: 200501705480 2777604403 44001 4402001

PAUTA: 16/04/2009 JULGADO: 16/04/2009

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI

Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : SIDNEI BENETI

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRA
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
MARCELO TURBAY FREIRIA
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
ADVOGADA : LILIANE DE CARVALHO GABRIEL
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Empresas - Espécies de Sociedades - Anônima - Subscrição de Ações

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES, pela parte RECORRENTE: FOOD AND
BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
Dr(a). ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, pela parte RECORRIDA: HORST JAKOB
HAPPEL
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 32 de 16
Superior Tribunal de Justiça
Dr(a). JOSÉ GUILHERME VILLELA, pela parte RECORRIDA: YOLANDA CHIBILY BASSITT
Dr(a). MIGUEL PEREIRA NETO, pela parte INTERES.: BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Renovando-se o julgamento, após a leitura do relatório, as sustentações orais e o voto da
Sra. Ministra Nancy Andrighi, conhecendo parcialmente do recurso especial e, nessa parte,
dando-lhe provimento, no que foi acompanhada pelo Sr. Ministro Paulo Furtado, verificou-se
empate no julgamento, que deverá ser renovado, com a inclusão em pauta.
Impedido o Sr. Ministro Sidnei Beneti.
Brasília, 16 de abril de 2009

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA


Secretária

Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 33 de 16
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2006/0020603-1 REsp 818506 / SP

Números Origem: 200501705480 2777604403 44001 4402001

PAUTA: 28/04/2009 JULGADO: 28/04/2009

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI

Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : SIDNEI BENETI

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT

ASSUNTO: Comercial - Sociedade - Anônima - Ações - Preferenciais

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 34 de 16
Superior Tribunal de Justiça
"Adiado por indicação da Sra. Ministra Relatora."
Brasília, 28 de abril de 2009

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA


Secretária

Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 35 de 16
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND
LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT

VOTO-DESEMPATE

O EXMO. SR. MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA:

Convocado para proferir voto-desempate no presente recurso especial, vejo que o


relatório produzido pela e. Ministra Nancy Andrighi bem retrata o caso, tendo recebido
complementos no voto-vista do i. Ministro Ari Pargendler, razão pela qual me permito passar
diretamente ao voto e verifico que três são os pontos em que se resume a controvérsia, nas palavras
da Relatora:
Cinge-se a controvérsia a examinar: (i) se o tribunal de origem violou os arts.
15, 17, 18 e 19 da Lei 6.404/76 ao não reconhecer o suposto direito definitivo de
voto à recorrente; (ii) se as instâncias ordinárias violaram o art. 111, § 1º, da Lei
6.404/76 ao não reconhecer o direito temporário de voto do acionista detentor de
ações preferenciais até que se restabeleça a distribuição de dividendos; e (iii) se
foram violados os arts. 82, 145, II, CC/1916 na aplicação de acordo de acionistas
celebrado entre as partes.

I - Ausência de violação dos arts. 15, 17, 18 e 19 DA LSA

No que tange ao primeiro dos pontos objeto de exame, adianto que comungo com o
entendimento manifestado nos votos até aqui proferidos, quanto a afastar a suposta violação dos
arts. 15, 17, 18 e 19 da Lei n. 6.404, de 15.12.1976 (LSA), mas aduzo outros fundamentos.

I.a) Incidência das Súmulas ns. 5 e 7 do STF

Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 36 de 16
Superior Tribunal de Justiça

Food & Beverage Trading Company of Ireland Limited (a "Recorrente"), acionista


preferencialista da empresa Bascitrus Agro Indústria S.A. (a "Companhia"), fez grande esforço para
tentar afastar a incidência das Súmulas ns. 5 e 7 deste Tribunal (fls. 1.772/1.778). Sem sucesso,
todavia.

Tudo se passa em relação à alteração das vantagens e preferências das ações de que é
titular a Recorrente, resultante de reforma estatutária promovida na assembleia geral extraordinária
(AGE) da Companhia realizada em 19.9.1995 (fl. 1.708 do 9º volume).

Diz a Recorrente que "os termos do Estatuto Social da BASCITRUS e do Acordo de


Acionistas firmado, que não contemplam o direito de voto à Recorrente (acionista titular de ações
preferenciais), não se coadunam com a Lei das S/A, seja em relação aos artigos 15, 17 e 19, seja
em relação ao art. 111, § 1º, da aludida lei" (fls. 1.772; grifos do original). Aduz que, "para
investigação dessa contrariedade da avença com a Lei das S/A, contudo, não se perfaz necessária a
interpretação de quaisquer cláusulas contratuais, visto que o teor de todos os instrumentos atacados
é de consenso e jamais restou objeto de debate entre as partes, mas sim discutiu-se a sua
consonância com a lei" (fl. 1.773) e, ainda, que "sempre foi incontroverso nos autos que os
referidos documentos societários previam a ausência do direito de voto em relação à Recorrente"
(fl. 1.773; grifo do original).

Não há dúvida de que as ações preferenciais da Companhia não conferem direito de


voto à sua titular; contudo, a discussão que a Recorrente põe ao exame desta Corte Especial vai
além e diz com a averiguação se, de fato, os dispositivos estatutários objeto da reforma de
1995 lhe outorgam vantagens e preferências efetivas, em substituição às que detinha.

Com a reforma estatutária, o dispositivo concernente às vantagens e preferências das


ações de titularidade da Recorrente ganhou a redação assim reproduzida no REsp:
Artigo 6: (...)
Parágrafo Terceiro: As ações preferenciais gozarão dos seguintes privilégios:
(a) participação proporcional na distribuição de novas ações, da mesma espécie,
emitidas em decorrência de capitalização de reservas, lucros suspensos ou resultados
de correções monetárias;
(b) prioridade de reembolso do seu valor, no caso de liquidação, dissolução da
sociedade e direito de participação proporcional no patrimônio final, depois de
reembolsadas as ações ordinárias pelo seu valor nominal.

Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 37 de 16
Superior Tribunal de Justiça

Compulsando, na lei das sociedades anônimas, os artigos cuja violação a Recorrente


alega ter ocorrido, verifica-se que o art. 15 estabelece as espécies de ações admitidas em uma
sociedade anônima e fixa a proporção máxima de ações sem direito a voto, ou com voto restrito, em
relação ao total de ações emitidas. As vantagens ou preferências das ações preferenciais são
abordadas nos arts. 17, 18 e 19, sendo que o primeiro trata das vantagens de índole econômica e
será abordado à frente, enquanto que o art. 18 dispõe sobre as vantagens políticas, que podem
consistir em eleição de membros de órgãos da companhia, ou deliberação sobre determinadas
alterações estatutárias. Já o art. 19, além de determinar que deverão constar do estatuto as
vantagens ou preferências atribuídas a cada classe de ações preferenciais, assim como as restrições
a que cada uma delas estiver sujeita, permite que o instrumento estatutário regule, também, o seu
resgate, amortização e conversão das preferenciais em ações ordinárias (ou a destas naquelas).

Convém reproduzir os dispositivos citados, com sua redação original, vigente à época da
reforma do estatuto, dado que houve algumas modificações posteriores, como se verá:
Espécies
Art. 15. As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que
confiram a seus titulares, são ordinárias, preferenciais, ou de fruição.
§ 1º As ações ordinárias da companhia fechada e as ações preferenciais da
companhia aberta e fechada poderão ser de uma ou mais classes.
§ 2º O número de ações preferenciais sem direito a voto ou sujeitas a
restrições no exercício desse direito, não pode ultrapassar 2/3 (dois terços) do total
das ações emitidas.
Ações Preferenciais
Art. 17. As preferências ou vantagens das ações preferenciais podem consistir:
I - em prioridade na distribuição de dividendos;
II - em prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele;
III - na acumulação das vantagens acima enumeradas.
Vantagens Políticas
Art. 18. O estatuto pode assegurar a uma ou mais classes de ações
preferenciais o direito de eleger, em votação em separado, um ou mais membros dos
órgãos de administração.
Parágrafo único. O estatuto pode subordinar as alterações estatutárias que
especificar à aprovação, em assembleia especial, dos titulares de uma ou mais
classes de ações preferenciais.
Regulação no Estatuto
Art. 19. O estatuto da companhia com ações preferenciais declarará as
vantagens ou preferências atribuídas a cada classe dessas ações e as restrições a que
ficarão sujeitas, e poderá prever o resgate ou a amortização, a conversão de ações de
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 38 de 16
Superior Tribunal de Justiça
uma classe em ações de outra e em ações ordinárias, e destas em preferenciais,
fixando as respectivas condições.

Destaco, já, que a prioridade no reembolso do capital era uma das vantagens
econômicas atribuíveis às ações preferenciais e, à época, podia ser conferida isoladamente, ou seja,
sem a agregação de qualquer outra vantagem ou preferência.

Com a superveniência da Lei nº 9.457, de 5.5.1997, que alterou a LSA, promoveu-se


profunda modificação em relação às vantagens econômicas conferidas às ações preferenciais — e
gerou, também, polêmica no meio jurídico, inclusive quanto à sua imediata aplicação às companhias
então existentes. Por essa lei, como é sabido, foi criado o chamado dividendo diferencial, pois, a
partir dela, a principal vantagem econômica, "salvo no caso de ações com direito a dividendos fixos
ou mínimos, cumulativos ou não", consistia "no direito a dividendos no mínimo dez por cento
maiores do que os atribuídos às ações ordinárias", sendo que a prioridade no reembolso do
capital passou a ser vantagem de caráter secundário (inciso I e alínea "b" do inciso II do art.
17).

Era essa a situação jurídica que vigia quando da propositura da ação, ocorrida em
31.5.2001, mas, apesar disso, (i) não há controvérsia quanto ao fato de que não foram introduzidas,
no estatuto social da Companhia, quaisquer modificações decorrentes da Lei nº 9.457, de 1997,
como se vê do voto vencido proferido na apelação (fls. 1.718 do 9º volume) e do próprio recurso
especial (fls. 1.760 do 10º volume), e (ii) não vieram a esta Corte questões relacionadas ao
pagamento do dividendo diferencial.

Nada obstante, poucos meses após o início da ação, foi promulgada a Lei nº 10.303, de
31.10.2001, que, além de reduzir a proporção prevista no § 2º do art. 15 da LSA (de 2/3 para 50%),
praticamente retomou a redação original do caput e incisos do art. 17 da LSA, admitindo as duas
vantagens econômicas previstas na redação original da lei, assim como a possibilidade de serem
atribuídas isolada ou cumulativamente às ações preferenciais.

A mesma lei também substituiu os §§ 1º a 6º do art. 17, que constavam da redação


original, pelos §§ 1º a 7º, sendo que o primeiro deles passou a exigir a atribuição de alguma das
preferências e vantagens que listava, como condição para que as ações preferenciais sem direito de
voto ou com restrição ao seu exercício sejam "admitidas à negociação no mercado de valores
mobiliários", porém, este não é o caso dos autos.
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 39 de 16
Superior Tribunal de Justiça

Antes de prosseguir neste subtópico da análise, devo, de plano, afastar a alegada


violação do art. 18, pois trata de vantagens políticas não referidas no curso da ação, não tendo sido
jamais apontadas como atribuídas às ações de titularidade da Recorrente. Em verdade, o art. 18 foi
mencionado apenas de passagem no corpo do REsp, salvo engano, uma única vez (fl. 1.778).

Dito isso, chamo a atenção para o fato de que, em termos de vantagens políticas, sem
contradita alguma, (i) o direito de voto não foi arrolado como um dos direitos essenciais do
acionista (art. 109 da LSA), mas (ii) é obrigatoriamente atribuído às ações ordinárias (art. 110 da
LSA: "A cada ação ordinária corresponde 1 (um) voto nas deliberações da assembleia-geral"); e, no
ponto que toca a este caso, (iii) quanto se trata de ações preferenciais, diz o caput do art. 111 da
LSA que o estatuto poderá deixar de conferir-lhes "algum ou alguns dos direitos
reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de voto, ou conferi-lo com restrições", sem
prejuízo, porém, dos seus direitos essenciais.

Isso, em verdade, não foi novidade da Lei nº 6.404, de 1976; já era assim sob a égide da
antiga lei das sociedades anônimas, o Decreto-lei nº 2.627, de 26.9.1940, a respeito do que disse,
sinteticamente, Pontes de MIRANDA: "No direito brasileiro, o voto somente pode ser negado a
ações preferenciais: alguma vantagem (preferência) se deu, o que justifica retirar-se o voto"; e, dois
parágrafos depois, repetiu: "Quanto às ações preferenciais, os estatutos podem negar-lhes o direito
de voto (Decreto-lei n. 2.627, art. 81)" (Tratado de Direito Privado. 3.ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1984. t.50, p. 242).

É cediço, portanto, que não é ilegal a supressão do direito de voto das ações
preferenciais, ainda que, como o próprio nome indica, lhe deva ser outorgada alguma preferência
ou vantagem.

Ocorre que a Recorrente alega — e tentou demonstrar — que o dispositivo estatutário


citado consiste em "verdadeiro engodo" (fl. 1.789; grifo do original), uma vez que, no seu
entender, não lhe outorga preferência alguma; os privilégios que teriam sido conferidos às suas
ações, quando da reforma estatutária de 1995, seriam, ao estilo de Pontes de Miranda,
não-preferências ou não-vantagens. Em função disso, alegou que o estatuto somente poderia
impor restrição ao direito de voto se concedesse privilégios efetivos, de modo que, tendo a regulação
estatutária restringido o direito de voto e lhe outorgado não-preferências ou não-vantagens, suas

Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 40 de 16
Superior Tribunal de Justiça
ações seriam ordinárias, e não preferenciais. Por isso, considera feridos os arts. 15, 17 e 19 da LSA
(fls. 1.778/1.780).

Impende, pois, verificar se, nesta instância especial, há possibilidade de levar a termo
exame que permita concluir que a modificação dos estatutos implicou não atribuição de vantagens
ou preferências às ações de que é titular a Recorrente.

Quanto à primeira parte do dispositivo — participação proporcional na distribuição de


ações emitidas em decorrência de capitalização de reservas, lucros suspensos ou resultados de
correção monetária —, a Recorrente diz que expressa "direito essencial que é inerente a qualquer
acionista" e que "não constitui vantagem de natureza patrimonial" (fls. 1.783/1.784; original grifado).
Parece não haver dissenso quanto a essa conclusão, pois a LSA, na redação original do § 4º do seu
art. 17, dispunha que "o estatuto não pode excluir ou restringir o direito das ações preferenciais de
participar dos aumentos de capital decorrentes de correção monetária (artigo 167) e de capitalização
de reservas e lucros (artigo 169)". Com a redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001, esse comando
está expresso, hoje, no § 5º do mesmo artigo e não faz mais remição ao art. 167.

Porém, não prescinde, quer de interpretação do próprio dispositivo estatutário, quer da


reanálise da prova acostada aos autos e, quiçá, produção de outras, a verificação do acerto ou erro
da construção que faz a Recorrente quanto à segunda parte do dispositivo (alínea "b").

Importa destacar que esse dispositivo aparentemente pode ser dividido em três partes
tratando de: 1ª - prioridade de reembolso do valor das ações; 2ª - direito de participação proporcional
no patrimônio final; e 3ª - condição prévia, consistente no reembolso das ações ordinárias pelo seu
valor nominal. A primeira parte, como se viu, falou em reembolso do "valor das ações", em vez de
reembolso do "capital", como consta da letra do inciso II do art. 17 da LSA, passada e atual; já a
segunda, parece traduzir uma outra vantagem, mas arrola direito comum aos acionistas e, em
verdade, não se encontra no rol do art. 17 da LSA, vigente à época da reforma estatutária, nem na
sua atual redação; por fim, a terceira parte invoca o valor nominal das ações, que, conforme consta
dos autos, foi abolido do estatuto.

Esse simples apanhado levanta inúmeras questões não apreciadas no acórdão recorrido
e também não articuladas nas razões ou contrarrazões de REsp, dentre as quais: (i) se o citado
dispositivo estatutário prevê duas vantagens ou preferências distintas, ou apenas uma, em que a sua

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segunda parte seria apenas uma explicação da primeira; (ii) se duas forem as preferências ou
vantagens, não se pode dizer que a terceira parte se refere à primeira ou à segunda; (iii) também
não se pode excluir de todo que a primeira parte não se refira à vantagem prevista no inciso II do
art. 17 da LSA; (iv) igualmente, não se pode ter como, de plano, válida e eficaz a terceira parte do
dispositivo, uma vez que a condição ali prevista pode ser tida por impossível. E, desde aqui, já se
mostra a imprescindibilidade de interpretação da cláusula estatutária para o deslinde do feito, sem
descurar que todas essas questões demandam dilação probatória.

Note-se que, à parte possível imperfeição redacional, o dispositivo estatutário trataria de


prioridade de reembolso do capital, vantagem essa que (i) integrava o rol de preferências e
vantagens atribuíveis às ações preferenciais, à época da reforma do estatuto, e era passível de ser
atribuída isoladamente, podendo ser cumulada com outra vantagem, (ii) continuou a integrar aquela
listagem, mas em caráter secundário, durante a vigência da Lei nº 9.457, de 1997, e (iii) tornou a ser
admitida como vantagem principal, inclusive, como única vantagem, nas ações preferenciais não
admitidas à negociação no mercado de valores mobiliários, a partir da vigência da Lei nº 10.303, de
2001. Se assim fosse, realmente, da confrontação do dispositivo estatutário indigitado com a lei, não
se verificaria fosse ele diretamente ofensivo a qualquer dos artigos da LSA tidos por violados.

Portanto, para chegar à conclusão de que, no caso, essa vantagem seria um engodo,
como quer fazer crer a Recorrente, seria necessário não só a confrontação do dispositivo estatutário
com a lei, mas um esforço hermenêutico que não dispensaria (i) a análise de cada uma das partes
em que seja possível dividi-lo, (ii) a análise do conjunto das demais disposições do estatuto e do
acordo de acionistas; (iii) o exame das demais provas que constam dos autos e, possivelmente, (iv) a
produção de outras que fossem aptas a permitir a dedução da real vontade das partes.

Saliento que foi exatamente por meio de pura interpretação da alínea "b" do dispositivo
estatutário, que a Recorrente concluiu que não seria outorgada vantagem alguma às suas ações
preferenciais (fls. 1.785/1.792). No seu labor interpretativo, a Recorrente (i) disse que a última
parte do dispositivo ("depois de reembolsadas as ações ordinárias pelo seu valor nominal") se
aplicaria à sua primeira parte ("prioridade de reembolso do seu valor, no caso de liquidação,
dissolução da sociedade"), sem, porém, enfocar a segunda parte ("e direito de participação
proporcional no patrimônio final") (fl. 1.785); (ii) elaborou exemplos "para facilitar o entendimento"
do seu raciocínio (fls. 1.787 e 1.788); e (iii) chegou a desafiar "qualquer um a demonstrar eventual

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preferência destinada às ações preferenciais, nos termos do estatuto social" da Companhia (fl.
1.789).

Patenteia-se, pois, a conclusão de que, contrariamente às alegações da Recorrente, não


basta "tão-somente exame da sua legalidade", mas é imprescindível o reexame de prova e a
interpretação contratual, para concluir que o dispositivo estatutário modificado na AGE de 19.9.1995
não lhe outorga vantagem ou preferência alguma, em razão do que incidem tanto a Súmula nº 5
quanto a Súmula nº 7 deste Tribunal, a impedir tal exame.

I. b) Nulidades em matéria societária

Ainda que fossem vencidos os óbices sumulares, estaríamos diante de nulidade ou de


anulabilidade do ato estatutário, cuja consequência é incompatível com o pedido inicial.

Como visto, a alteração das vantagens e preferências das ações em questão deu-se na
reforma estatutária de 1995, mas — e é importante frisar — a Recorrente não atacou a validade
dessa deliberação. A esse propósito, bem destacou a i. Ministra Relatora que a Recorrente
"deixou transcorrer in albis mais de 5 anos, para, em 31.05.2001, ajuizar a presente ação pleiteando,
não a anulação ou nulidade do aludido ato societário, mas sim o reconhecimento de seus efeitos
práticos, que considera injustos, para alcançar a transmudação de ações preferenciais em
ordinárias".

Para evitar dúvidas quanto ao que, no tocante à alteração das vantagens e preferências
das ações preferenciais, foi colocado em debate nesta Corte, trago à colação os "fundamentos
jurídicos" da tese principal desenvolvida pela Recorrente, constante do "Quadro Elucidativo dos
Argumentos Lançados pelas Partes", por ela elaborado:
TESE PRINCIPAL DA RECORRENTE
As ações de titularidade da Recorrente, não obstante designadas "preferenciais", na
realidade não conferem quaisquer preferências. Devem, portanto, ser
consideradas ações ordinárias, outorgando-se à Recorrente todos os direitos
inerentes às ordinárias, inclusive direito de voto.

Percebe-se que, como afirmado nos votos que precedem o presente, assim como no
acórdão recorrido, a Recorrente buscou, ao manejar sua tese principal, exclusivamente a mudança
da espécie de suas ações: de preferenciais a ordinárias.

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Essa transmudação, contudo, é logicamente incompatível com o reconhecimento da


nulidade, ou com a anulação, quer da deliberação assemblear, quer das disposições estatutárias que
ali foram alteradas. Isso porque a consequência da invalidação do ato deliberativo ou da norma
estatutária alterada seria, in abstracto, o restabelecimento da versão anterior das disposições então
modificadas, com a restauração das vantagens e preferências primitivas das ações detidas
pela Recorrente. Jamais, porém, haveria a conversão das ações preferenciais em ordinárias:
continuariam elas a ter a mesma qualificação jurídica — ações preferenciais — mas com as
vantagens e preferências que antes detinham.

Ou seja, embora a Recorrente alegue haver contrariedade à lei, não invoca sua
consequência lógica, que seria a nulificação do ato societário ou do dispositivo estatutário
contra legem, como, aliás, o faz quando aborda o acordo de acionistas, em relação ao qual diz haver
ilicitude e pede a incidência dos arts. 82 e 145 do Código Civil revogado.

Poderia alguém argumentar que o Código Civil de 1916 (CCiv1916) prescrevia que as
nulidades deviam "ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do ato ou dos seus efeitos e as
encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las ainda a requerimento das partes" (parágrafo
único do art. 146) e que esse comando foi mantido no Código Civil de 2002 (CCiv2002), com
redação bastante similar: "As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do
negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido
supri-las, ainda que a requerimento das partes" (parágrafo único do art. 168).

Dois, portanto, são os requisitos para que o juiz pronuncie, de ofício, a nulidade: (i) que
conheça do negócio (ou do ato) jurídico ou de seus efeitos; e (ii) que a nulidade esteja provada
nos autos. Entendo, contudo, que este último requisito não está presente, pois, como alinhavei
anteriormente, não é possível deduzir, diretamente do dispositivo cuja validade se discute, sua
contrariedade à lei, sendo inviável a reavaliação de provas, ou a interpretação de dispositivo
contratual nesta esfera.

Mas, mesmo que a nulidade fosse evidente, outro fator impediria sua pronúncia, neste
caso: é que a lei societária, notadamente a lei das sociedades anônimas, não empresta às
nulidades o mesmo tratamento que lhes é dado pela lei geral. Com efeito, diferentemente do
que dispõe a parte geral do Código Civil atual (que, nesse passo, não discrepa do revogado), em

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matéria de sociedades anônimas, ocorre, conforme o caso, a decadência ou a prescrição das
pretensões relativas à nulidade, gerando sua convalidação, sem descurar que é admitida a
sanatória das eventuais nulidades e o juiz não pode conhecê-las de ofício.

Com efeito, dispõem os arts. 285, 286 e 287 (deste basta-nos a alínea "g" do seu inciso
II), cujos prazos podem ser dilargados nos termos do art. 288, todos da LSA:

Art. 285. A ação para anular a constituição da companhia, por vício ou


defeito, prescreve em 1 (um) ano, contado da publicação dos atos constitutivos.
Parágrafo único. Ainda depois de proposta a ação, é lícito à companhia, por
deliberação da assembleia geral, providenciar para que seja sanado o vício ou
defeito.
Art. 286. A ação para anular as deliberações tomadas em
assembleia-geral ou especial, irregularmente convocada ou instalada, violadoras
da lei ou do estatuto, ou eivadas de erro, dolo, fraude ou simulação, prescreve em 2
(dois) anos, contados da deliberação.
Art. 287. Prescreve:
[...]
II - em 3 (três) anos:
[...]
g) a ação movida pelo acionista contra a companhia, qualquer que seja o seu
fundamento. [acrescentado pela Lei nº 10.303, de 2001]
Art. 288. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo
criminal, não ocorrerá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva, ou da
prescrição da ação penal.

Sem necessidade de adentrar na discussão sobre se esses prazos são prescricionais ou


decadenciais — distinção essa que não tem relevância neste caso —, importa trazer as lições de
José Edwaldo Tavares BORBA:
É relevante observar que os vícios ou defeitos na constituição da companhia,
assim como as deliberações violadoras da lei ou do estatuto ou tomadas em
assembleia irregularmente convocada ou instalada, encontram-se sujeitas a prazos de
decadência ou, se assim se preferir, de prescrição. Isto significa que os atos
societários (atos constitutivos e deliberações dos órgãos colegiados) não estão
subordinados à teoria das nulidades, tal como esta foi consagrada no Código
Civil. Os atos societários, uma vez arquivadas as atas correspondentes no registro
do comércio, desencadeiam uma série de efeitos junto a terceiros que se relacionam
com a sociedade. Sendo a companhia um organismo vivo, que atua no mundo
jurídico, a ela não se aplica a teoria das nulidades, a qual implicaria um retorno ao
status quo ante. Gudestou Pires, para ressaltar essa impossibilidade, chegou a
lembrar os "múltiplos interesses que transitam dentro da órbita da atividade social".
Os atos societários nunca são nulos, mas apenas anuláveis. Por isso, uma
vez esgotados os prazos prescricionais aplicáveis, ocorre a convalidação, não mais
sendo possível alegar a eventual irregularidade.
Trajano de Miranda Valverde, dentro dessa linha que é a da grande maioria dos
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autores nacionais, e em face do texto da lei anterior que é semelhante ao da atual,
sustentou que a lei (S.A.) "não admite a possibilidade de sociedades anônimas
nulas ou inexistentes. Repeliu, pois, o decreto-lei o regime comum das
nulidades, o qual, como iremos ver em seguida, seria, como é, de difícil senão
impossível aplicação".
Pontes de Miranda opôs-se a esse posicionamento, talvez preocupado em
preservar a inteireza da teoria geral das nulidades.
Ripert, no direito francês, já havia, entretanto, observado que a jurisprudência
fora obrigada a afastar, com relação às sociedades comerciais, o regime jurídico das
nulidades.
Dentro dessa mesma linha, afirmou Tullio Ascarelli que a "orientação hoje
dominante abandona a clássica distinção entre nulidade e anulabilidade".
Com efeito, os atos societários ilegítimos são apenas anuláveis, e se a
causa de anulabilidade atinge a sociedade ela própria, a consequência será a
liquidação, preservando-se ou equacionando-se, nesse processo, e nos termos da lei,
os vários interesses envolvidos. [Direito societário. 11.ed., Rio de Janeiro: Renovar,
2008. p.533/535; grifei]

Veja-se que a Lei nº 10.303, de 2001, inseriu a citada alínea "g" no inciso II do art. 287,
"de modo a afastar qualquer espécie de insegurança quanto ao estabelecimento do prazo de
prescrição para a propositura de ações por parte do acionista contra a companhia onde mantém
participação", conforme leciona Marcelo Fortes BARBOSA FILHO [Sociedade anônima atual:
comentários e anotações às inovações trazidas pela Lei nº 10.303/01 ao texto da Lei nº
6.404/76. São Paulo: Atlas, 2004. p.274].

Aponto, ainda, que o Código Civil de 2002 inovou em relação ao diploma revogado, ao
adotar disposição similar à da LSA, quanto à nulidade do ato constitutivo de sociedade: trata-se do
parágrafo único do art. 45, que é similar ao art. 285 da LSA. Ou seja, o legislador civil de 2002, na
mesma linha que adotou em relação ao capítulo Das Sociedades — cujos artigos reproduzem,
algumas vezes ipsis litteris, comandos e disposições da Lei nº 6.404, de 1976 — incorporou mais
essa norma da LSA no Código Civil vigente, além de, no art. 206 deste, introduzir outras normas
equivalentes a algumas das previstas no art. 287 daquela, que, porém, não interessam ao presente
caso.

Vale, pois, com maior razão, a afirmação de Arnaldo RIZZARDO, de que "não importa
que os vícios sejam os da lei civil", mantêm-se os prazos previstos na lei societária para pleitear a
anulação de atos societários [Direito de empresa: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro:
Forense, 2007. p.761].

Devo alertar, todavia, que essa conclusão não é uniformemente aceita na doutrina,
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quando se enfrenta algumas causas específicas de nulidade, como fez Erasmo Valladão A. e
N. FRANÇA, invocando, em parecer que tornou público, exemplos de Fábio Konder Comparato e
de Pontes de Miranda (Revista de Direito Mercantil, Industrial Econômico e Financeiro. São
Paulo: Malheiros, 2007. ano 46, n. 145, jan/mar-2007. p.261/263). Entretanto, mesmo não excluindo
"a possibilidade de ocorrerem deliberações absolutamente nulas", Erasmo Valladão conclui que "o
regime fundamental de invalidades adotado na Lei de S/A, portanto, é um regime de
anulabilidade das deliberações, expressamente previsto no art. 286" (Loc. cit.; grifei).

Outra questão diz respeito à situação dos "atos-regra" que se põem contra a lei. A
respeito, o próprio Tavares BORBA, na continuidade das lições que acima citei diz:
Anote-se, porém, que as normas estatutárias contra legem, ainda que
exauridos os prazos de prescrição ou decadência, continuarão impugnáveis, posto
que, como atos-regras que são, contêm uma irregularidade uma irregularidade que se
renova a cada dia, sendo assim insuscetíveis de prescrição. Sob esse aspecto, seriam
disposições nulas.
É bem verdade que os atos concretos praticados com base nos dispositivos
estatutários ilegais são passíveis de prescrição ou decadência. A prerrogativa de
argüir a ilegalidade da norma é que não prescreve ou decai, podendo assim ser
alegada indefinidamente, para o efeito de retirá-la dos estatutos. [Op. cit., p.535].

Adotado esse posicionamento, porém, a consequência seria, em primeiro plano, a


reintegração, ao estatuto, da ou das normas anteriores, de modo que não haveria mudança na classe
das ações, pois continuariam a ser preferenciais, mas com as vantagens e preferências vigentes
antes da reforma estatutária. E, como já pontuei acima, essa consequência é incompatível com o
pedido formulado pela Recorrente.

Não obstante a celeuma doutrinária, esta Turma já enfrentou a questão das nulidades
em matéria societária, em acórdão relatado pelo e. Ministro Sálvio de Figueiredo, cujas conclusões
bem se assentam ao presente caso e foi assim ementado:
DIREITO COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. EMPRESA DE
RADIODIFUSÃO E TELECOMUNICAÇÃO. EXIGÊNCIA DO ÓRGÃO PUBLICO
FISCALIZADOR. COMPROVAÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA DOS
ACIONISTAS. CONVOCAÇÃO EDITALÍCIA DOS SÓCIOS, MARCANDO
PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO DE NASCIMENTO OU
CASAMENTO. DELIBERAÇÃO ASSEMBLEAR DE VENDA DAS AÇÕES DOS
QUE NÃO ATENDERAM À CONVOCAÇÃO. ILEGALIDADE. LAPSO
PRESCRICIONAL ESPECIFICO (ARTS. 156 DO DL 2.627/40 E 286 DA LEI
6.404/76). AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO TEMPESTIVA. CONVALIDAÇÃO.
PRESCRIÇÃO TAMBÉM DO DIREITO A HAVER DIVIDENDOS DISTRIBUÍDOS
SOB A FORMA DE BONIFICAÇÃO (ART. 287, II, "A", DA LEI 6.404/76).
INAPLICABILIDADE DA TEORIA GERAL DAS NULIDADES. RECURSO
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PROVIDO.
I - Em face das peculiaridades de que se reveste a relação acionistas "versus"
sociedade anônima, não há que se cogitar da aplicação, em toda a sua extensão,
no âmbito do direito societário, da teoria geral das nulidades, tal como
concebida pelas doutrina e dogmática civilistas.
II - Em face disso, o direito de impugnar as deliberações tomadas em assembleia,
mesmo aquelas contrárias à ordem legal ou estatutária, sujeita-se à
prescrição, somente podendo ser exercido no exíguo prazo previsto na lei das
sociedades por ações (art. 156 do dl 2.627/40 art. 286 da lei 6.404/76).
III - Pela mesma razão não pode o juiz, de ofício, mesmo nos casos em que
ainda não atingido o termo"ad quem" do lapso prescricional, reconhecer a
ilegalidade da deliberação e declará-la nula.
IV - Também o exercício do direito de haver dividendos, colocados à disposição dos
acionistas sob a forma de bonificação, se submete a condição temporal (art. 287, ii,
'a', da lei 6.404/76). [REsp 35.230-SP, j. em 10.4.1995; DJ 20.11.1995; grifei; esse
acórdão é citado por Arnaldo RIZZARDO (Op. cit. p.761/2)].

Do voto condutor do acórdão, em que se discutia a exclusão de sócio de sociedade


anônima, posteriormente transformada em limitada, colho as seguintes lições:
[...]
Tomando por base a teoria das nulidades, da forma como arquitetada pela
doutrina e pela dogmática civilistas, o raciocínio não mereceria reparos.
Sucede, no entanto, que não se pode importar essa teoria para o âmbito do
direito societário.
Com efeito, a relação entre acionistas e sociedade, em razão das peculiaridades
de que se reveste, exige tratamento diferenciado.
A atividade empresarial, dada a dinâmica dos negócios que constituem a sua
essência, realizados diuturnamente, envolvendo inúmeros compromissos e
obrigações, requer, para que não reste ameaçada a sua viabilidade, uma certa
estabilidade, uma situação definida que possibilite um mínimo de segurança na
tomada de decisões.
Ciente dessa realidade, o legislador pátrio atribuiu aos sócios prazos exíguos
para impugnarem as deliberações assembleares, exatamente porque com esteio nelas
é que atuam os órgãos diretores da empresa, internamente e nas relações com
terceiros.
Mesmo as deliberações contrárias aos ditames legais ou estatutários
convalescem após o transcurso do lapso prescricional. E há uma razão para tanto. É
que a deliberação encerra a vontade da maioria, sendo de pressupor-se que, não
obstante infringente das disposições normativas, foi concebida por ser considerada
benéfica à sociedade e, de forma indireta e reflexa, também aos sócios.
[...]
O modo de exclusão escolhido pela unanimidade dos acionistas que
compareceram à assembleia é que foi sui generis, sem previsão legal ou estatutária.
Seja como for, repise-se, não tendo sido combatida em tempo, a deliberação,
do modo como estabelecida, convalidada restou.
Entendo, de outra parte, pelas mesmas razões a que venho de aludir, que não
pode o julgador, mesmo nas hipóteses em que ainda não transcorrido por inteiro o
lapso prescricional, pronunciar-se de ofício sobre nulidade de deliberação. Somente
pode fazê-lo mediante provocação expressa de acionista.
Assim, seja por não ter sido pleiteada na inicial a nulidade da deliberação que
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excluiu o autor dos quadros sociais, seja porque operada prescrição em relação à
possibilidade de impugná-la, não há como acolher-se o reclamado reconhecimento de
que, à época da transformação da sociedade em limitada (1982), ostentava ele a
condição de sócio.
[...]

No voto-vista proferido pelo i. Ministro Barros Monteiro e que acompanhou o Ministro


Relator, encontro, ainda, considerações sobre a atuação de ofício do juiz, admitida pelo Tribunal a
quo, naquele caso, por considerar ter havido venda a non domino e, portanto, ineficaz, mas
rechaçada, afinal, por esta Corte, com os seguintes argumentos:
[...]
A verdade é que o suplicante, na peça vestibular, não postulou, nem mesmo
implicitamente a declaração de nulidade da mencionada deliberação assemblear. Em
princípio, portanto, o autor, quando da transformação da empresa de sociedade
anônima para sociedade por cotas de responsabilidade limitada, já não mais ostentava
a qualidade de sócio da empresa.
Põe-se, então, a questão relativa a saber-se se ao Tribunal a quo era permitido
decretar ex officio a nulidade ou a ineficácia daquela deliberação, em consequência
da qual se viu o ora recorrido excluído do quadro social.
A resposta só pode ser negativa.
Na esfera do direito civil, rezam o art. 146 e o seu parágrafo único, do CC [de
1916], in verbis:
Art. 146. As nulidades do artigo antecedente podem ser alegadas por
qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. Devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer
do ato ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido
supri-las ainda a requerimento das partes.
Quer dizer, encontrando o Juiz provada a nulidade (quando conste do próprio
instrumento ou então de prova literal), incumbir-lhe-á reconhecê-la e decretá-la de
ofício. Todavia, havendo dúvida sobre a existência da própria nulidade,
imprescindível será a propositura de ação para o reconhecimento de sua ocorrência,
como leciona o Prof. Washington de Barros Monteiro, para quem "só exigirá ação
judicial no caso em que surja alguma controvérsia sobre os fatos constitutivos da
nulidade" (Curso de Direito Civil, Parte Geral, vol. 1, pág. 267, 32ª ed). Idêntico, por
sinal, o magistério de J.M. de Carvalho Santos, de conformidade com o qual
"entretanto, se uma contestação surge sobre a validade do ato, de modo a ficar
duvidosa a nulidade, é preciso mover a ação, por isso que ninguém pode fazer justiça
com suas próprias mãos" (Código Civil Brasileiro Interpretado, vol. III, pág. 254, 11ª
ed.).
Ora, no caso sub judice a nulidade não se visualiza de plano, sem necessidade
de maior aprofundamento da análise do ato jurídico questionado.
Era preciso, pois, que o acionista tido como lesionado ingressasse com a ação
própria para obter a declaração de nulidade da referida decisão assemblear. Ou, ao
menos, na espécie em exame, formular o pedido explícito na exordial que
apresentou.
Se isso se dá no âmbito do direito civil, maior ainda a exigência nos lindes do
direito societário. Wilson de Souza Campos Batalha considera que, mesmo na
hipótese de nulidade, é indispensável o seu reconhecimento por via judicial. São suas
palavras textuais: "As ações anulatórias são do tipo constitutivo-negativo, ou
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desconstitutivo. Provocam a modificação de um status jurídico através de
intervenção (necessária) do Poder Judiciário. Visam a desconstituir uma situação
jurídica irregularmente constituída" (Sociedades Anônimas e Mercado de Capitais",
II vol. pág. 795, ed. 1973).
[...]
A conclusão a que se chega é a mesma do MM. Juiz de Direito prolator da
decisão de 1ª instância: o autor, à época da transformação da empresa de sociedade
anônima para sociedade por cotas de responsabilidade limitada, já não detinha a
condição de sócio, uma vez que alienadas as suas ações por força de deliberação
tomada na Assembleia de 30.6.76. Não tendo aviado pedido de anulação de tal
resolução, o V. Acórdão recorrido não podia reconhecer a nulidade ex officio. E,
ainda como observou o Juiz singular, mesmo que se admitisse como implicitamente
manifestado o pedido de anulação, estaria a ação prescrita na forma do disposto no
art. 286 da Lei das Sociedades Anônimas.
[...]

Ao fim e ao cabo deste subtópico, fica claro que a eventual nulidade ou anulabilidade da
deliberação da AGE de 19.9.1995 jamais foi posta ao descortino deste Tribunal, sendo
incabível seu conhecimento ex officio. Além disso, já se encontram findos os exíguos prazos
da Lei das Sociedades Anônimas para promover a nulificação ou anulação, ao menos, da
deliberação assemblear e, como a sua própria validade jamais foi posta em xeque, também nunca se
discutiu, nesta ação, a ocorrência de suspensão ou interrupção desses prazos. De outro lado,
admitindo que fosse possível discutir a nulidade da ou das disposições estatutárias resultantes da
reforma de 1995 que, por acaso, fossem contrárias à lei, sua consequência é incompatível com o
pedido formulado pela Recorrente, não podendo, também, ser conhecida de ofício.

I. c) Eficácia da alteração das preferências e vantagens das ações preferenciais

Frente às considerações do subtópico anterior, hei de ter por válidas, para efeito deste
julgamento, tanto a deliberação assemblear, quanto a redação por ela dada ao ou aos dispositivos do
estatuto que tratam das preferências e vantagens das ações de que a Recorrente é titular. Tendo
isso em mente, como dado abstrato de análise, há outro ponto, ainda, a examinar.

À época da deliberação assemblear, vigia a seguinte redação do caput, inciso II e § 1º,


do art. 136 da LSA:
Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade,
no mínimo, das ações com direito de voto, se maior quorum não for exigido pelo
estatuto da companhia fechada, para deliberação sobre:
[...]
II - alterações nas preferências, vantagens e condições de resgate ou
amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova
classe mais favorecida;
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[...]
§ 1º Nos casos dos números I e II, a eficácia da deliberação depende de
prévia aprovação, ou da ratificação, por titulares de mais de metade da classe de
ações preferenciais interessadas, reunidos em assembleia especial convocada e
instalada com as formalidades desta Lei.

Portanto, a alteração das ditas preferências poderia ser promovida por deliberação dos
acionistas ordinaristas (e, se fosse o caso, dos demais acionistas detentores de direito de voto) em
assembleia geral, mas sua eficácia ficava dependente da anuência dos acionistas
preferencialistas portadores de ações das classes afetadas, manifestada em assembleia especial.

A redação dada a esses dispositivos pela Lei nº 9.457, de 1997, até hoje vigente, em
nada lhes alterou a essência, pois continua a ser exigida a aprovação dos preferencialistas como
condição de eficácia da deliberação da assembleia geral. Mas essa lei — além de atribuir à
Comissão de Valores Mobiliário (CVM) o poder de reduzir o quorum de deliberação previsto no
caput do art. 136, inclusive para as assembleias especiais — fixou o "prazo improrrogável de um
ano" para que ocorra a aprovação (§ 1º) e determinou que, na ata da assembleia geral, conste aviso
sobre o sobrestamento da eficácia da deliberação (§ 4º). Confira-se:
Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade,
no mínimo, das ações com direito a voto, se maior quorum não for exigido pelo
estatuto da companhia cujas ações não estejam admitidas à negociação em bolsa ou
no mercado de balcão, para deliberação sobre:
[...]
II - alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou
amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova
classe mais favorecida;
[...]
§ 1º Nos casos dos incisos I e II, a eficácia da deliberação depende de
prévia aprovação ou da ratificação, em prazo improrrogável de um ano, por titulares
de mais da metade de cada classe de ações preferenciais prejudicadas, reunidos
em assembleia especial convocada pelos administradores e instalada com as
formalidades desta Lei.
[...]
§ 4º Deverá constar da ata da assembleia-geral que deliberar sobre as matérias
dos incisos I e II, se não houver prévia aprovação, que a deliberação só terá
eficácia após a sua ratificação pela assembleia especial prevista no § 1º.

Os autos não dão notícia de que a Recorrente tenha, de forma expressa, anuído previa
ou posteriormente com a deliberação, ou que tenha sido realizada a assembleia especial prevista no
§ 1º do art. 136 da LSA, mas informam que ela esteve representada na assembleia geral em que se
processou a alteração das preferências e vantagens de suas ações (fls. 1.709, do 9º volume, com

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referência às fls. 130 do volume 1, onde aparece que a Recorrente foi representada, naquela
oportunidade, por Décio Gaino Colombini).

Apartada a discussão sobre se a presença da acionista preferencialista (Recorrente)


naquela assembleia geral supriria a anuência requerida nos termos do § 1º do art. 136 da LSA —
que, aliás, não foi trazida aos autos —, a verdade é que a inexistência da anuência prévia e a
não ratificação da alteração em assembleia especial (ou, seja, a falta de aprovação dos
acionistas titulares das ações da classe afetada) seria causa de ineficácia da deliberação
assemblear.

As lições Alfredo de Assis GONÇALVES NETO apontam para as consequências da


falta da anuência exigida pela LSA:
Há algumas companhias que podem necessitar de assembleias especiais para a
eficácia das deliberações que tomar em suas assembleias gerais. As assembleias
especiais podem ser acionárias ou não acionárias; acionárias são as que reúnem
acionistas; não acionárias, as que reúnem possuidores de outros títulos de emissão
da companhia, mais precisamente, de partes beneficiárias e debêntures.
As assembleias especiais acionárias são as que se realizam por aqueles cujas
ações podem sofrer efeitos de deliberações tomadas pela Assembleia Geral.
Enquadram-se entre elas as assembleias especiais de acionistas preferenciais e de
acionistas titulares de ações pertencentes a uma classe que lhes assegura alguma
vantagem ou privilégio peculiar. Assim, quando, por deliberação de AGE, a
companhia decide criar, por exemplo, uma nova classe de ações preferenciais que
possam reduzir as vantagens da classe já existente, é preciso que os
preferencialistas, em assembleia da qual só eles participam, aprovem ou não a
decisão da AGE; se os titulares da maioria das ações preferenciais existentes
rejeitar a criação, a decisão da Assembleia Geral, que as criava, não produz
nenhum efeito e tudo se passa como se não tivesse havido tal deliberação.
[Lições de Direito Societário. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 2005. v.2,
p.159/160. Grifei; no original, as palavras em itálico estão grifadas].

Não se fala, aqui, de nulidade ou anulabilidade da deliberação assemblear que,


reformando o estatuto, alterou as vantagens ou preferências das ações preferenciais, sem contar
com a anuência prévia, ou com a ratificação posterior dos seus titulares, nem, tampouco, das
disposições estatutárias alteradas; fala-se em ineficácia. Buscando as lições de Pontes de
MIRANDA — apesar de não adotar as lições do Mestre que versam sobre nulidade em matéria
societária —, "a questão da eficácia e da ineficácia é estranha" à da validade ou invalidade do
negócio jurídico ou do ato jurídico stricto sensu, ou, ainda, ao plano da sua existência ou inexistência:
"a defeituosidade", que conduz à invalidade do negócio jurídico, "não se confunde com a falta de
requisitos para a irradiação de efeitos. Toda validade se liga ao momento em que se faz jurídico o

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suporte fático; toda eficácia será produção da juridicidade do fato jurídico" (Tratado de Direito
Privado. 4.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1983. t.4, p.3/4; 16).

A deliberação assemblear, portanto, existe e é válida — ao menos como dado abstrato


de análise —, mas seria ineficaz em relação aos titulares das ações preferenciais, se ausente o
elemento necessário para que irradie seus efeitos, qual seja, a anuência dos preferencialistas
às modificações introduzidas pelos ordinaristas.

É certo que, como visto, a Recorrente tentou demonstrar que as vantagens e


preferências que teriam sido conferidas às suas ações, quando da reforma estatutária de 19.9.1995,
não lhe outorgaram vantagem ou preferência alguma. Partindo desse raciocínio, construíram sua
tese principal, de que teria havido a transmudação das ações por eles detidas, de preferenciais para
ordinárias. Porém, além de não terem invocado a nulidade ou anulabilidade da deliberação
assemblear e dos dispositivos estatutários dela decorrentes, que teriam substituído as preferências e
vantagens de suas ações por não-preferências e não-vantagens, tampouco, arguiram sua
ineficácia.

Se ausente a aprovação dos preferencialistas, não há possibilidade jurídica de ofensa


aos arts. 15, 17, 18 e 19 da LSA, pois as modificações nos privilégios das ações preferenciais não
produziriam qualquer efeito no mundo jurídico. Se, por outro lado, anuência houve, presumir-se-ia
válida e eficaz a alteração estatutária, nada obstante a Recorrente tivesse podido buscar sua
nulificação ou anulação, nos prazos legais, como visto.

I. d) Conclusão do tópico

Assim, sem deslustro algum aos respeitáveis juristas que emitiram pareceres favoráveis
às teses defendidas pela Recorrente, há que ser afastada a suposta violação dos arts. 15, 17, 18 e 19
da LSA por todos os ângulos que se olhe: (i) incidência das Súmulas nº 5 e 7 deste Tribunal a
impedir o exame da alegada infração aos dispositivos legais; (ii) nulidade ou anulabilidade do ato
societário e das disposições estatutárias decorrentes; ou (iii) ineficácia da alteração das preferências
e vantagens das ações preferenciais.

II - Violação do art. 111, § 1º, DA LSA

A alegada violação do § 1º do art. 111 da LSA equivale à tese alternativa desenvolvida


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pela Recorrente, cujo resumo também pode ser encontrado no "quadro elucidativo dos argumentos
lançados pelas partes":
TESE ALTERNATIVA DA RECORRENTE
Ainda que efetivamente consideradas preferenciais, tais ações adquirem o direito de
voto caso a companhia não pague dividendos pelo período de três anos
consecutivos. [fls. 1.760 do 10º volume]

Não houve contradita, nem por parte dos Recorridos, nem da Companhia (Interessada),
quanto ao fato de que esta tivesse deixado de pagar dividendos aos seus acionistas pelo prazo de
três anos; trata-se de questão incontroversa. Os fundamentos do afastamento da incidência do
citado dispositivo legal, acolhidos no acórdão recorrido, foram outros: (i) o primeiro baseia-se no fato
de o acordo de acionista, firmado entre as partes em 25.8.1995 e vigente no momento em que a
Companhia deixara de pagar dividendos, previa que as ações preferenciais não teriam direito a voto;
(ii) o segundo tem esteio na circunstância de que as ações daquela espécie não faziam jus a
dividendos fixos ou mínimos e, portanto, não eram albergadas na prerrogativa inserida no § 1º do art.
111 da LSA.

Quanto ao primeiro fundamento, vale esclarecer que o voto proferido pelo Relator
Designado do acórdão que julgou a apelação baseia-se no fato de que o acordo de acionistas fora
firmado por tempo indeterminado e "foi explícito no sentido de que as ações preferenciais não teriam
direito a voto" (fls. 1.705 do 9º volume). Em vista disso e considerando que o acordo, "até meados de
2000, permanecia inflexível", pois não teria sido denunciado, o Relator Designado afastou a
aplicação do art. 111, § 1º, da LSA, por entender que não havia transcorrido o triênio legal sem
distribuição de dividendos, cuja contagem teria iniciado a partir de 10.1.2001, data em que fora
realizada uma outra AGE (fl. 1.706).

O segundo fundamento foi trazido na declaração de voto vencedor na apelação, que


também alude ao fato de que "foi negado, de modo expresso, no acordo de acionistas", o direito de
voto às ações da Recorrente, mas aduz que "a autora não se encarta, utilmente, na hipótese
tipificada no artigo 111, § 1º, da Lei das Sociedades Anônimas, que incide, como deu conta o
Magistrado, a fls. 1.390: 'apenas às ações que são contempladas no estatuto com direito a dividendo
fixo ou mínimo', o que não ocorre no caso da BASCITRUS" (fl. 1.709).

Quando do julgamento do REsp, patenteou-se a divergência entre, de um lado, a


Relatora, Ministra Nancy Andrighi, seguida pelo Ministro Paulo Furtado (Desembargador

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Convocado do TJ/BA), que, nesse ponto, admitiram o recurso "para reconhecer o direito temporário
de voto da recorrente na qualidade de acionista da Bascitrus Agro Indústria S/A", direito esse que
conservará até o pagamento dos lucros, tudo nos termos do art. 111". De outro lado, ficaram os
Ministros Ari Pargendler e Humberto Gomes de Barros, que negaram provimento ao REsp, também
por esse motivo, entendendo incabível a atribuição do chamado voto contingente à Recorrente.

Com o devido respeito à Ministra Nancy Andrighi e ao Ministro Paulo Furtado,


acompanho o entendimento manifestado pelos Ministros Ari Pargendler e Humberto Gomes Barros
e, igualmente, entendo que não pode ser conferido à Recorrente o direito de voto temporário, de que
trata o § 1º do art. 111 da LSA.

II.a) Vigência do acordo de acionistas

Quanto ao primeiro dos fundamentos com base nos quais o voto temporário foi negado
pelo Tribunal a quo, apesar de o e. Ministro Ari Pargendler ter entendido que "não foi atacado pelo
recurso especial", percebo que ataque houve (fls. 1.812/1.816), embora com reprise das teses
desenvolvidas pela Recorrente, inclusive quanto à suposta nulidade do acordo de acionistas, por
malferimento dos arts. 82 e 145 do CCiv1916, que abordarei à frente.

Entendo, porém, que esse fundamento não é suficiente, de per si, para afastar a norma
do § 1º do art. 111 da LSA.

Explico: como já alinhavei, o direito de voto não é direito essencial do acionista e pode
ser negado às ações preferenciais, conforme, respectivamente, arts. 109 e 111, caput, da LSA.
Portanto, na medida em que o acordo de acionistas haja tão-somente afirmado que as ações
preferenciais não têm direito a voto, nada mais fez do que prescrever a faculdade outorgada pelo
caput do art. 111 da LSA.

Isso, contudo, não afasta a incidência de outras normas da LSA (como os já citados art.
17 e 109), em tudo quanto não foi expressamente regulado no acordo de acionistas, dentro do
espaço reservado à livre expressão da vontade de seus signatários.

Dessa forma, para afastar a incidência do § 1º do art. 111 da LSA, o acordo de


acionistas firmado pela Recorrente haveria de conter disposição expressa nesse sentido, a qual,
contudo, poderia sofrer exame sob o prisma da legalidade. Não contendo previsão dessa espécie, a
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citada norma seria aplicável, mesmo durante a vigência do acordo de acionistas.

II.b) Ações preferenciais sem dividendo fixo ou mínimo

No que tange ao segundo fundamento do acórdão recorrido que afastou a incidência do


§ 1º do art. 111 da LSA, insta observar que a e. Relatora, no seu voto, não desconheceu que há
polarização da doutrina quanto à interpretação do citado dispositivo legal, havendo corrente que
defende sua extensão a todas as ações preferenciais, sem distinção quanto ao tipo de dividendos a
elas atribuído.

Esse posicionamento busca o favor do apelo à proteção dos acionistas minoritários,


assim entendidos os acionistas que não exercem nenhum controle na companhia, sejam eles (i) os
ordinaristas não controladores, (ii) os preferencialistas sem direito a voto, (iii) os preferencialistas
com direito a voto, mas que não integram o grupo de controle, ou, ainda, (iv) os portadores de ações
de fruição com restrição ao direito de voto que, igualmente, não fazem parte do grupo controlador.

Percebi, além disso, que aquela corrente teve acolhida substancial na doutrina durante a
vigência da Lei nº 9.457, de 1997, que estabeleceu o dividendo diferencial de 10% superior àquele
atribuído às ações ordinárias, devido, como visto acima, às ações preferenciais, salvo se a estas
fossem outorgados dividendos fixos ou mínimos (inciso I do art. 17 da LSA, então vigente).
Enquanto essa lei esteve em vigor, vicejou a ideia de que a percepção de dividendo diferente
daquele devido às ações ordinárias — fixo, mínimo, diferencial ou de qualquer sorte maior — era
vantagem econômica indissociável das ações preferenciais e foi de certa forma natural que,
nessa época, florescesse a tendência de estender a aplicação do § 1º do art. 111 da LSA a todos os
preferencialistas, independentemente do tipo de dividendo a que fizessem jus.

Contudo, assim não era anteriormente e também não é hoje, pois, com a Lei nº
10.303, de 2001, o dividendo diferencial, ou outra das vantagens ou preferências econômicas listadas
no § 1º do art. 17 da LSA passaram a ser exigidas somente em relação às ações
preferenciais que forem "admitidas à negociação no mercado de valores mobiliários".
Convém transcrever referido § 1º, seus incisos e alíneas:
Art. 17. [...]
§ 1º Independentemente do direito de receber ou não o valor de reembolso do
capital com prêmio ou sem ele, as ações preferenciais sem direito de voto ou com
restrição ao exercício deste direito, somente serão admitidas à negociação no
mercado de valores mobiliários se a elas for atribuída pelo menos uma das seguintes
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preferências ou vantagens:
I - direito de participar do dividendo a ser distribuído, correspondente a, pelo
menos, 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido do exercício, calculado na
forma do art. 202, de acordo com o seguinte critério:
a) prioridade no recebimento dos dividendos mencionados neste inciso
correspondente a, no mínimo, 3% (três por cento) do valor do patrimônio líquido da
ação; e
b) direito de participar dos lucros distribuídos em igualdade de condições com
as ordinárias, depois de a estas assegurado dividendo igual ao mínimo prioritário
estabelecido em conformidade com a alínea a; ou
II - direito ao recebimento de dividendo, por ação preferencial, pelo menos
10% (dez por cento) maior do que o atribuído a cada ação ordinária; ou
III - direito de serem incluídas na oferta pública de alienação de controle, nas
condições previstas no art. 254-A, assegurado o dividendo pelo menos igual ao das
ações ordinárias.
[...].

Veja-se que o dividendo diferencial, tal qual previsto na Lei nº 9.457, de 1997, passou a
constar do inciso II do § 1º do art. 17 da LSA. Mas, mais significativo para o presente caso, é o fato
de que somente com a Lei nº 10.303, de 2001, a LSA passou a prever, de forma expressa, vantagem
vinculada ao dividendo obrigatório, consistente no recebimento de um dividendo mínimo prioritário,
calculado com base no valor do patrimônio líquido da ação e destacado do montante dos dividendos
obrigatórios, não inferior a 25% do lucro líquido, este calculado na forma do art. 202 da LSA,
conforme se vê do inciso I do mesmo parágrafo.

Friso, outrossim, que qualquer dessas opções constituem vantagens ou preferências


exigidas para que as ações preferenciais sejam admitidas à negociação no mercado e, mesmo nesse
caso, o dividendo diferencial e o dividendo mínimo prioritário podem ser substituídos pela vantagem
prevista no inciso III do § 1º do art. 17 da LSA, que, além de ser eventual e futura (direito de
inclusão em futura oferta pública de alienação de controle), somente prevê que os preferencialistas
recebam "dividendo pelo menos igual ao das ações ordinárias".

A lei das sociedades anônimas vigente estabelece, pois, nítida diferença entre as ações
preferenciais negociáveis no mercado acionário, que recebem maior proteção da lei, e aquelas ali
não negociáveis. Para estas, para estas — de ordinário, emitidas por companhias fechadas — pode
ser atribuída uma ou as duas vantagens e preferências listadas nos incisos do caput do art. 17, quais
sejam: (i) prioridade na distribuição de dividendos; ou (ii) prioridade no reembolso do capital, com
prêmio ou sem ele. No tocante à distribuição de dividendos, as ações preferenciais não negociadas
no mercado de capitais e que não gozem, por disposição estatutária, de outras vantagens nessa

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seara (dividendo mínimo ou fixo, dividendo diferencial, ou dividendo mínimo prioritário) se
assemelham, em tudo, às ações ordinárias, considerando que, nos termos do art. 109, I, da LSA, é
direito essencial dos acionistas "participar dos lucros sociais".

Disso resulta que o direito à percepção de dividendos maiores do que aqueles pagos
às ações ordinárias, ou em caráter prioritário, em relação às demais ações, não é direito
essencial das ações preferenciais não admitidas à negociação no mercado acionário,
bastando que se lhes outorgue apenas uma das duas prioridades previstas nos incisos do caput do
art. 17 para que sejam consideradas como tais.

A propósito, é interessante a seguinte abordagem histórica trazida por Alfredo Assis


GONÇALVES NETO:
Antes não havia na legislação nacional nenhuma obrigatoriedade de distribuição
dos lucros aos acionistas — o que, em tese, é correto. A companhia tem de realizar
seus fins mediatos e imediatos, com isso atendendo o objeto constante do estatuto e,
quanto possível, remunerando seus acionistas. Vale recordar a concepção daquele
armador grego que, indagado da razão de sua empresa não remunerar os sócios,
dizia que o objetivo da sociedade era cruzar o Reno com seus navios e não distribuir
dividendos aos acionistas. No entanto, os abusos dos majoritários sensibilizaram o
legislador nacional que, a partir da Lei n. 6.404, de 1976, criou o dividendo
obrigatório sobre parte do lucro.
Na busca do fortalecimento do mercado de capitais e de uma melhor proteção
aos acionistas minoritários, a atual lei tornou obrigatória a distribuição de parte do
lucro aos acionistas, com três variantes. [...]. [Op. cit., p. 241; grifo do original].

Nota-se, visivelmente, uma evolução na legislação das sociedades anônimas e os


mesmos objetivos de fortalecer o mercado de capitais e de proteger os acionistas minoritários foram
perseguidos tanto pela reforma da LSA de 1997 quanto pela de 2001. No entanto, mesmo o
dividendo obrigatório pode ser reduzido ou suprimido, nos termos dos §§ 3º e 4º do art. 202 da LSA.
Além disso, nem a Lei nº 9.457 — que, pela primeira vez, instituiu o dividendo diferencial — nem a
Lei nº 10.303 — que o previu como uma das modalidades de vantagens exigíveis para admitir as
ações preferenciais sem direito a voto à negociação no mercado — introduziu qualquer alteração na
redação do § 1º do art. 111, a qual permanece a mesma desde a promulgação da LSA, assim como
o caput e os demais parágrafos do artigo.

Vamos, pois, ao que diz o referido § 1º do art. 111, litteris:


§ 1º As ações preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício desse
direito se a companhia, pelo prazo previsto no estatuto, não superior a 3 (três)
exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos a que

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fizerem jus, direito que conservarão até o pagamento, se tais dividendos não forem
cumulativos, ou até que sejam pagos os cumulativos em atraso.

Esse dispositivo pode, à primeira leitura, gerar confusão, pois principia falando,
genericamente, de "ações preferenciais sem direito de voto", sem dizer, desde logo, a que ações
preferenciais sem direito de voto se refere. O caráter genérico, porém, desaparece logo em
seguida, quando a norma se reporta aos "dividendos fixos ou mínimos a que fizerem jus". A alocução
a que fizer jus demanda um sujeito, de modo que diante da pergunta Quem ou o quê fizer jus aos
dividendos fixos ou mínimos?, a resposta somente pode ser as ações preferenciais sem direito
de voto. Destarte, a confusão desaparece e a norma legal resta clara no sentido de que o direito de
voto temporário somente caberá às ações preferenciais que façam jus a dividendos fixos ou
mínimos.

Atente-se que essa interpretação coaduna-se com o disposto no caput do art. 17 da


LSA, cujo inciso I arrola a prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo, como uma
das vantagens ou preferências atribuíveis às ações preferenciais, ao lado daquela prevista no seu
inciso II, ou seja, a prioridade no reembolso do capital, privilégios esses que, como já foi visto,
podem ser conferidos isolada ou cumulativamente, nos termos do inciso III do mesmo artigo.

Assim, a LSA permite que haja ações preferenciais sem direito à prioridade na
distribuição de dividendo fixo ou mínimo, de forma que, no tocante à percepção de dividendos,
seguirão a mesma sorte das ordinárias. Ou seja, se a companhia produzir lucros, os acionistas
preferencialistas terão direito a dividendos em igualdade de condições com os ordinaristas, salvo se a
eles for atribuída alguma das vantagens arroladas nos incisos I e II do § 1º do art. 17, sem descurar,
ainda, que mesmo o dividendo obrigatório pode ser reduzido ou suprimido.

Importa ter presente, ainda, que a preferência ou vantagem de que trata o inciso I do
caput do art. 17 refere-se, propriamente, à prioridade na distribuição dos dividendos fixos ou
mínimos, cuja realização se perfaz nos termos do art. 203 da LSA:
Art. 203. O disposto nos artigos 194 a 197, e 202, não prejudicará o direito
dos acionistas preferenciais de receber os dividendos fixos ou mínimos a que
tenham prioridade, inclusive os atrasados, se cumulativos.

Ou seja, a prioridade na distribuição dos dividendos fixos ou mínimos que tenham sido
atribuídos às ações preferenciais suplanta a constituição de reservas estatutárias (art. 194), para
contingências (art. 195), de incentivos fiscais (art. 195-A) e de lucros a realizar (art. 197), a
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retenção de lucros (art. 196) e a própria distribuição do dividendo obrigatório (art. 202).

Veja-se que o art. 203 da LSA complementa e confirma a interpretação do § 1º do art.


111 da mesma lei, no sentido de que somente alcança os acionistas detentores de ações
preferenciais com dividendo fixo ou mínimo.

Neste passo, anoto que a proteção dos minoritários não pode ser vista como um
fim em si mesmo, ou seja: não basta ser acionista minoritário para que o julgador lhe reconheça tal
ou qual direito ou prerrogativa. Em qualquer caso, há que se examinar se (i) acham-se presentes os
elementos decorrentes da lei ou nela previstos que lhe assegurem a titularidade de determinado
direito (p.ex.: abuso de poder do controlador) e se (ii) estão ausentes elementos que possam afastar
o suposto direito (p.ex.: abuso do direito de voto da minoria). Ao lado disso, há que se considerar,
conforme o caso: (iii) a existência de outros interesses, que, eventualmente, ultrapassem os
interesses do minoritário (p.ex.: a continuidade da empresa) e (iv) o fato de se tratar de companhia
aberta ou fechada, ou de emissão pública ou privada de títulos e valores mobiliários. Não se pode
desprezar, ainda, (v) as condições pessoais do acionista minoritário, quanto ao conhecimento e
discernimento, quer a respeito do negócio jurídico que tenha entabulado e aos seus efeitos, quer
quanto à legislação societária e ao funcionamento das sociedades anônimas e do mercado de
capitais e valores mobiliários.

Entendo, pois, que as normas de proteção aos acionistas minoritários têm caráter
excepcional e, como tais, devem ser interpretadas restritivamente, não sendo possível ampliar seu
sentido para abarcar situações não previstas em lei, salvo em raríssimas situações que admito
apenas para fins de raciocínio abstrato.

Assim, não me parece possível a ampliação do sentido do § 1º do art. 111 da LSA para
abranger as ações preferenciais outras, além daquelas lá expressamente referidas.

Por essas razões, filio-me à corrente que restringe a atribuição do voto contingente
apenas às ações preferenciais às quais haja sido atribuído dividendo fixo ou mínimo, e, com as
considerações aqui traçadas, acompanho o voto dos e. Ministros Ari Pargendler e Humberto Gomes
de Barros.

III - Violação dos arts. 82 e 145, II, do CCiv1916

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Pedindo vênia ao e. Ministro Humberto Gomes de Barros, entendo que houve


prequestionamento da alegada violação dos arts. 82 e 145, II, do CCiv1916 e passo a apreciá-la
para, de plano, descartar o suposto malferimento aos referidos artigos, em consonância com os
demais Ministros dessa Terceira Turma.

Isso porque sustentou a Recorrente que a disposição do acordo de acionistas que exclui
o direito de voto das ações preferenciais seria contra legem, nos seguintes termos:
94. Como já salientado em todas as manifestações, a concessão do direito de
voto à Recorrente decorre da lei, pela absoluta ausência de vantagens conferidas
pelo estatuto às suas ações (tidas por preferenciais) — artigos 15,17 e 19 da Lei das
S/A — ou mesmo, como será verificado adiante, pela não distribuição de dividendos
no prazo de 03 (três) exercícios (artigo 111 da lei das S/A), o que impede a
supressão do direito de voto.
95. Ora, como cediço, o Estatuto Social e o Acordo de Acionistas podem
expressar a vontade das partes, porém jamais poderiam consistir infração à lei.
Trata-se do princípio da supremacia da lei sobre as avenças privadas.
96. De fato, qualquer interpretação em sentido contrário revelar-se-ia
inaceitável, realmente despropositada, uma vez que jamais poderia ser aceita e
privilegiada pelo direito a validade de atos jurídicos fundados em objeto ilícito.
Confira-se, a respeito, os artigos 82 e 145 do Código Civil [de 1916].
[...]
97. Assim, o Estatuto Social e o Acordo de Acionistas, por natural, não
poderiam ter por objeto obrigações que se encontram em contrariedade à lei. [fls.
1.799/1800 do 10º volume; grifos do original].

134.2 No caso dos autos, destaque-se mais uma vez, a lei proíbe a existência
de ações preferenciais que não outorguem concretos benefícios ou vantagens a seus
titulares.
134.3 Em virtude do exposto, não há que se falar in casu em "ato jurídico
perfeito", uma vez que o Acordo de Acionistas mencionado no aludido voto
privilegia objeto ilícito, perfazendo-se nulo. Impõe-se, pois, a partir da análise
dos benefícios que conferem a seus titulares, a qualificação das ações detidas pela
Recorrente como ações ordinárias, aplicando-se devidamente a lei. [fls. 1.814; grifos
do original].

Contrariamente a essas alegações, não há nenhuma ilegalidade em negar o direito


de voto às ações preferenciais, pois, como já visto, a LSA, no caput do art. 111, é expressa ao
admitir que o estatuto deixe de conferir às ações preferenciais "algum ou alguns dos direitos
reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de voto, ou conferi-lo com restrições".

Não há, igualmente, qualquer ilegalidade na exclusão do direito de voto das ações
preferenciais detidas pela Recorrente, diante do que expus no primeiro tópico deste voto.

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O acordo de acionistas pode, portanto, estabelecer que as ações preferenciais sejam


desprovidas do direito de voto, de modo a que esse comando se reflita no estatuto da companhia, e
não há ilegalidade, ou ilicitude a ensejar a nulidade do dispositivo consensual por esse motivo, sendo
de ser rejeitada a suposta violação dos arts. 82 e 145 da CCiv1916.

IV - Conclusões finais

Com o devido respeito aos e. Ministros Nancy Andrighi e Paulo Furtado, conheço em
parte do recurso especial para negar-lhe provimento.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2006/0020603-1 REsp 818506 / SP

Números Origem: 200501705480 2777604403 44001 4402001

PAUTA: 17/12/2009 JULGADO: 17/12/2009

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI

Relator para Acórdão


Exmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA

Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : SIDNEI BENETI

Presidenta da Sessão
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO DE PAULA CARDOSO
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
MARCELO TURBAY FREIRIA
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
ADVOGADA : LILIANE DE CARVALHO GABRIEL
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Empresas - Espécies de Sociedades - Anônima - Subscrição de Ações

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES, pela parte RECORRENTE: FOOD AND
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BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
Dr(a). ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, pela parte RECORRIDA: HORST JAKOB
HAPPEL
Dr(a). MIGUEL PEREIRA NETO, pela parte INTERES.: BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após a renovação do relatório e da ratificação dos votos proferidos, a Turma, por
maioria, conheceu em parte do recurso e negou-lhe provimento, nos termos do voto do Sr.
Ministro João Otávio de Noronha (convocado para compor quórum), que lavrará acórdão.
Vencidos os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Paulo Furtado (Desembargador convocado do
TJ/BA).
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nancy Andrighi, João Otávio de Noronha,
Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Humberto Gomes de Barros e Ari
Pargendler.
Impedido o Sr. Ministro Sidnei Beneti.

Brasília, 17 de dezembro de 2009

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA


Secretária

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