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Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 1 de 16
Superior Tribunal de Justiça
confere direito de voto definitivo, nem as converte em ações ordinárias, pois eventual
reforma estatutária que não atribuísse, no mínimo, as vantagens e preferências previstas
no art. 17 da LSA implicaria nulidade e o consequente retorno à redação anterior do
estatuto. Eventual nulidade, porém, somente poderia ser alegada nos prazos previstos na
LSA e não é dado ao juiz conhecê-la de ofício, pois, em matéria societária não se aplica,
de ordinário, a teoria das nulidades de Direito comum. Consequência, ademais,
incompatível com o pedido inicial.
6. Também não há atribuição de voto definitivo às ações preferenciais, nem sua
conversão em ordinárias se os acionistas preferencialistas não anuírem com as
alterações de suas vantagens ou preferências. Nesta hipótese, as alterações são apenas
ineficazes em relação às classes de ações preferenciais que não as aprovarem.
7. No caso concreto, é impossível, sem reexame de provas e interpretação do
estatuto da companhia, aferir se a alteração das preferências e vantagens das ações
preferenciais infringiu o disposto na lei societária vigente à época e atribuiu aos
preferencialistas não-vantagens ou não-preferências. Incidência das Súmulas n. 5 e 7
desta Corte a vedar o conhecimento de alegada ofensa aos arts. 15, 17, 18 e 19 da
LSA.
8. A aquisição temporária do direito de voto pelas ações preferenciais, nos
termos do § 1o do art. 111 da LSA (voto contingente), é restrita às ações preferenciais
que fazem jus a dividendos fixos ou mínimos. Ausência de violação ao referido
dispositivo legal.
9. Não é ilegal disposição de acordo de acionistas que prevê que as ações
preferenciais não gozarão de direito de voto, conforme admite o caput do art. 111 da
LSA. Ausência de violação dos arts. 82 e 145, II, do Código Civil de 1916.
10. Recurso conhecido em parte e, nessa parte, improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça. Após a renovação do
relatório e da ratificação dos votos proferidos, por maioria, conhecer em parte do recurso e
negar-lhe provimento nos termos do voto do Sr. Ministro João Otávio de Noronha (convocado para
compor quórum), que lavrará acórdão. Vencidos os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Paulo Furtado
(Desembargador convocado do TJ/BA).Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nancy
Andrighi, João Otávio de Noronha, Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA),
Humberto Gomes de Barros e Ari Pargendler.
Impedido o Sr. Ministro Sidnei Beneti.
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Superior Tribunal de Justiça
Dr(a). ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES, pela parte RECORRENTE:
FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
Dr(a). ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, pela parte RECORRIDA:
HORST JAKOB HAPPEL
Dr(a). MIGUEL PEREIRA NETO, pela parte INTERES.: BASCITRUS AGRO
INDÚSTRIA S/A
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RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)
RELATÓRIO
Cuida-se de recurso especial interposto por Food & Beverage Trading Company
of Ireland Limited, com fundamento no art. 105, inciso III, alínea “a” da Constituição Federal,
contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Ação: Food & Beverage Trading Company of Ireland Limited ajuizou ação
ordinária contra Yolanda Chibily Bassitt e Outros (fls. 2/22), visando a obter sentença
declaratória e constitutiva do direito de votar em reuniões societárias. Alegou, em síntese, ser
sócia da companhia Bascitrus Agro Indústria S.A. cujo capital social está assim dividido: (i)
56,56% do capital social é representado por ações preferenciais de sua titularidade; (ii) 21,72% é
representado por ações ordinárias de titularidade de Yolanda Chibily Bassitt, Allim Bassitt Junior
e Ttissa Comércio e Participações Ltda. (o grupo “Bassitt”); e (iii) 21,72% também é
representado por ações ordinárias de titularidade de Horst Jakob Happel, Fábio Sabbag Happel,
Paul Martin Happel, Rodrigo Sabbag Happel, Pamiro Comércio e Participações Ltda. (o grupo
"Happel"). Embora o estatuto social da Companhia originalmente estabelecesse o benefício de
prioridade na distribuição de dividendos para as ações preferenciais, os grupos Bassitt e Happel,
titulares de totalidade do capital votante, em Assembléia Geral Extraordinária realizada em
19.09.1995, houveram por bem alterar os privilégios outorgados às ações preferenciais. Além da
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participação proporcional na distribuição de novas ações, foi concedida às preferenciais apenas a
“prioridade de reembolso do valor, no caso de liquidação, dissolução da sociedade e direito
de participação proporcional no patrimônio final, depois de reembolsadas as ações
ordinárias pelo seu valor nominal” (art. 6o , § 3o , “b”, Estatuto Social). A autora indica que não
há valor nominal para as ações ordinárias e que, de fato, não lhe foi assegurada qualquer
preferência. Como se não bastasse, afirma que há mais de três anos consecutivos não recebe
quaisquer dividendos. Assim, requereu que, por sentença, lhe seja assegurado: (i) direito
permanente de voto, (ii) direito temporário de voto enquanto não houver distribuição de
dividendos, nos termos do art. 111, § 1o , Lei 6.404/76 e (iii) que as rés sejam condenadas a
proceder às alterações estatutárias que reflitam o acolhimento de sua pretensão.
Sentença: O primeiro grau de jurisdição julgou improcedente os pedidos
formulados por considerar que a transmudação de ações preferenciais em ordinárias é contrária à
letra da lei e que “ao invés de buscar a anulação dos estatutos, a autora faz diferente. Anui
às alterações e firma acordo de acionistas convive com as alterações que datam de 1995;
não busca um retorno a situação anterior”. Considerou, ademais, que o art. 111, § 1o , Lei
6.404/76 “é aplicável apenas às ações que são contempladas no estatuto com direito a
dividendo fixo ou mínimo, o que não ocorre no caso da Bascitrus” (fls. 1384/1391).
Acórdão: Interpostas apelações por Horst Jakob Happel e Outros (fls.
1414/1422), por Bascitrus Agro Indústria S.A (fls. 1425/1433), por Food & Beverage Trading
Company of Ireland Limited (fls. 1436/1497) e apresentadas contra-razões (fls. 1501/1545), o
Tribunal de origem manteve a sentença, lavrando acórdão que trouxe a seguinte ementa (fls.
1703/1719):
“Sociedade Anônima. Transmudação de ação preferencial em
ordinária, incabível – Inadmissibilidade, outrossim, de concessão temporária
de direito de voto – Exegese do art. 111, parágrafo 3o da Lei nº. 6.404/76 c.c.
art. 118 da mesma lei e do art. 5º. da C.F. – Acordo de acionistas que
vigorava formalmente até como anterior de ajuizamento da ação –
Irretroatividade incabível – Inocorrência, ainda, de triênio decadencial –
Falta de previsão legal ou estatutária, para a pretensão da autora – Recursos
improvidos”.
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RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)
VOTO
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(ii) Do direito definitivo ao voto.
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o reconhecimento de seus efeitos práticos, que considera injustos, para alcançar a transmudação
de ações preferenciais em ordinárias.
O caminho escolhido pela recorrente revela que, para ela, é muito mais importante
obter o direito de voto que simplesmente reaver as preferências quanto a dividendos, privilégio
esse que justificou um investimento equivalente a 56,56% do capital social (fls. 4).
Ora, obter direito de voto para ações que representam mais da metade do capital
social é, sem dúvidas, alcançar poder de controle sobre a Companhia ou, ao menos, ganhar
enorme influência sobre decisões que exijam quorum qualificado. Pretende-se, em poucas
palavras, que o Judiciário dê aval a uma tomada hostil de controle.
A pretensão da recorrente não é admissível inicialmente porque a lei veda o
enriquecimento sem causa. Controle, voto e preferências econômicas são coisas absolutamente
diversas do ponto de vista jurídico e econômico. O controle de companhias abertas, por
exemplo, é ordinariamente adquirido mediante o pagamento de um prêmio ao acionista
controlador e de fração deste prêmio aos detentores de ações com direito a voto (cf. art. 254-A,
Lei 6.404/76). Também é por isso que ações preferenciais e ordinárias são negociadas em bolsa
por valores diversos. É temerário, portanto, desconsiderar essas diferenças econômicas, cuja
dimensão só pode ser mensurada com complexas avaliações de patrimônio líquido, patrimônio
líquido a valor de mercado ou de fluxo de caixa descontado, para equiparar ações preferenciais e
ações ordinárias, sob pena de se enriquecer uma parte em detrimento de outra. Por isso, só a
vontade das partes pode conduzir à conversão de uma espécie de ação em outra.
Ademais, vale frisar que o direito só atribui duas alternativas à recorrente: ou
concorda integralmente com a decisão da AGE de 19.09.1995 e aceita o privilégio de reembolso
tal como ali estabelecido, ou não dá sua anuência a este ato e retorna ao status quo ante, para
deter preferência na distribuição de dividendos. Não há terceira via possível, pois não se pode
admitir que a recorrente aceite decisão que lhe é prejudicial para, a partir daí, obter proveito que
não teria se simplesmente manifestasse sua recusa à alteração estatutária. Por isso, conceder
direito definitivo de voto tal como pretendido na inicial é fato que contraria princípios gerais de
boa-fé e, em especial, a proibição do o venire contra factum proprium.
Assim, se na hipótese concreta há ação preferencial sem qualquer vantagem
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patrimonial, tal como afirma a recorrente, isto só ocorreu porque ela deu aprovação prévia ou
ratificou a AGE de 19.09.1995, nos termos do art. 136, Lei 6.404/76.
Só o preferencialista pode decidir se lhe convém aceitar a vantagem patrimonial
oferecida no estatuto e, uma vez que manifesta sua aceitação, não pode o Poder Judiciário
convalidar sua mudança de opinião, sob o argumento de que agora, esta ação preferencial,
outrora desejada, já não se enquadra no rol de preferências patrimoniais estabelecidas pela Lei
de Sociedades Anônimas. Não há, portanto, qualquer violação aos arts. 15, 17, 18 e 19 da Lei
6.404/76.
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quando, no período de três exercícios, não haja distribuição de lucros.
Não se impõe, portanto, às sociedades empresariais o dever de distribuir
dividendos. Ao contrário, tais sociedades podem por prazo indeterminado não apresentar
resultados positivos, mas, após o decurso, em regra, de três exercícios, a ausência de lucro
haverá de ser fruto da desventura de todos os seus acionistas e não apenas daqueles que detém
direito ordinário de voto.
A solução privilegia, por outro lado, princípios de democracia societária ao
internalizar interesses daqueles agentes econômicos cuja contribuição foi relevante para a
formação da empresa e que, tanto como os ordinaristas, têm compromisso com seu crescimento
sustentável.
Desta feita, é absolutamente irrelevante para o deslinde da questão a análise das
modificações introduzidas na redação do art. 17 da Lei 6.404/76 pelas Leis 9.457/97 e
10.303/01. Com efeito, a imposição de 'dividendos diferenciais' a todas as ações privilegiadas e
posterior revogação deste direito são fatos que não interferem no direito assegurado aos
recorrentes. Com ou sem `dividendos diferenciais`, o fato é que, pela interpretação teleológica do
art. 111, §1o , Lei 6.404/76, acionistas preferenciais, em condições análogas à da recorrente,
fazem jus ao direito de intervir nos rumos sociais.
Ainda no que diz respeito à interpretação do art. 111, §1o , Lei 6.404/76, deve-se
questionar acerca das condições impostas por lei para que o titular de ações preferenciais possa
se valer da faculdade de voto contingente. Nesse ponto, é importante voltar a atenção ao teor do
voto condutor do acórdão recorrido, que assim se manifestou (fls. 1703/1707):
A recorrente afirmou, ainda, que o acordo de acionistas não pode ser tomado
como vedação absoluta e irrestrita ao direito de voto, pois, se assim o fosse, estar-se-ia
admitindo um negócio jurídico com objeto ilícito, em clara violação à lei. Ao admitir eficácia para
um acordo de acionistas com objeto ilícito, o Tribunal de origem teria violado os arts. 82 e 145,
II, CC/1916.
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Não se vislumbra, entretanto, qualquer violação aos arts. 82 e 145, II, CC/1916
simplesmente porque é perfeitamente lícita a convenção que veda o exercício do direito de voto a
ações preferenciais. Ações sem direito a voto podem até mesmo ser admitidas à negociação no
mercado de valores mobiliários nos termos do art. 17, § 1o , Lei 6.404/76. O que não se admite,
como visto, é o afastamento do voto contingente, como assegurado pelo art. 111, §1o , Lei
6.404/76.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRA
Secretária
Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT
SUSTENTAÇÃO ORAL
Pelo recorrente: Dr. Antônio de Oliveira Tavares Paes
Pelos 1º recorridos: Dr. Antônio Carlos de Almeida Castro
Pelos 2º recorridos: Dr. José Guilherme Villela
Pelo interessado: Dr. Rodrigo Benevides
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
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Superior Tribunal de Justiça
Após o voto da Sra. Ministra Relatora, conhecendo em parte do recurso especial e, nessa
parte, dando-lhe provimento, pediu vista o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros. Aguarda o Sr.
Ministro Ari Pargendler.
Brasília, 11 de dezembro de 2007
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RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)
VOTO-VISTA
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Superior Tribunal de Justiça
qualquer queixa, pois anuiu com a limitação das vantagens patrimoniais da ação preferencial.
Aqui, vale registro da sentença:
"Quer dizer: ao invés de buscar a anulação dos estatutos, a autora faz
diferente. Anui às alterações e firma acordo de acionistas; convive com as
alterações que datam de 1995; não busca um retorno à situação anterior.
Simplesmente pretende modificar a categoria de suas ações. Ou seja,
pretende ser acionista ordinária e votar.
Essa modificação não encontra nenhum respaldo nos estatutos da empresa.
Tanto nesse documento, como também no acordo de acionistas, ficou clara a
exclusão da autora do direito de voto, pelo que sua primeira pretensão fica
inteiramente rechaçada." (fl. 1.389, 7º vol.).
No que toca ao Art. 111, § 1º, da Lei das S/A's, a e. Relatora entende que
o dispositivo deve ser interpretado teleologicamente. Nesse rumo, concede à recorrente - que,
pelo estatuto, detém mero privilégio de reembolso - direito ao chamado "voto contingente",
pois, no período de três exercícios, não houve distribuição de lucros.
Eis a redação do dispositivo (Art. 111, § 1º, da Lei das S/A's):
"Art. 111. O estatuto poderá deixar de conferir às ações preferenciais
algum ou alguns dos direitos reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de
voto, ou conferi-lo com restrições, observado o disposto no artigo 109.
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Superior Tribunal de Justiça
recorrente que anuiu por privilégio fruível somente após eventual liquidação da sociedade.
Logo, ao menos nesse caso, penso que não cabe interpretação teleológica
do Art. 111, § 1º, da Lei das S/A's, pois a conveniência na ausência de fruição de dividendos
e de possibilidade de voto foram objeto de opção da recorrente, que não pode, simplesmente,
utilizar o Judiciário para mudar escolha feita ao próprio talante - venire contra factum
proprio (como observou a e. Relatora no ponto anterior).
Por fim, registro que a conclusão do voto da e. Relatora pode eternizar,
senão remeter às calendas gregas, lide objeto deste recurso. A il. Relatora dá provimento ao
recurso especial para reconhecer o direito temporário de voto da recorrente na qualidade de
acionista de Bascitrus Agro Industria S.A. até o pagamento de lucros nos termos do Art. 111,
§ 1º, da Lei 6.404/76. Ora, o Art. 111, § 1º, da Lei 6.404/76 condiciona o "voto contingente"
à ausência de pagamento de dividendos fixos ou mínimos por determinado período de
tempo. Acontece que o estatuto da Companhia não prevê distribuição de dividendos
fixos ou mínimos aos preferencialistas. Assim, como os recorridos poderão adimplir o
pagamento de tais dividendos e elidir o direito de voto temporário? Pagarão com base em qual
tipo de dividendo? Fixo ou mínimo? Se a recorrente refutar os valores, deverão consignar?
Data máxima vênia, a solução proposta é praticamente inexeqüível e cria mais problemas,
porque, praticamente, cria nova lide ao condicionar o direito a voto temporário a pagamento
de quantia totalmente ilíquida e sem qualquer critério de apuração do montante no
estatuto da Companhia.
Data vênia, a percepção dessa inexeqüibilidade leva à conclusão de que o
caminho buscado pela recorrente, no escopo de preservar a alteração estatutária e buscar o
direito de voto "temporário" não foi o adequado.
Se a vantagem na distribuição de dividendos é inerente às ações
preferenciais, a recorrente deveria buscar a anulação da alteração estatutária - que no seu
entender lhe esvaziou os privilégios - e retornar ao status quo ante. Não lhe é lícito querer
manter a alteração estatutária - que reputa abusiva - e buscar direito a voto que só lhe seria
lícito se fizesse jus a dividendos fixos - como ocorria antes da modificação estatutária.
Em arremate, vale dizer: se deliberação societária elimina vantagens de ação
preferencial sobre ordinária, o caminho adequado para eventual ajuste é a anulação da
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alteração estatutária e não a busca de equiparação aos direitos inerentes aos ordinaristas,
porque não é lícito ao Judiciário invadir o espaço societário e atuar positivamente em seara
reservada à vontade dos acionistas. Ao Judiciário só compete atuar negativamente, invalidando
eventual alteração estatutária ilícita.
Com vênia à e. Relatora, nego provimento ao recurso especial ou, na
terminologia da Turma, dele não conheço.
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Humberto Gomes de
Barros, não conhecendo do recurso especial, pediu vista dos autos o Sr. Ministro Ari Pargendler.
Não participou do julgamento o Sr. Ministro Sidnei Beneti.
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 21 de 16
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)
VOTO-VISTA
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 27 de 16
Superior Tribunal de Justiça
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 28 de 16
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler, não
conhecendo do recurso especial, verificou-se falta de quorum. O julgamento será renovado com
reinclusão em pauta.
Impedido o Sr. Ministro Sidnei Beneti.
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 29 de 16
Superior Tribunal de Justiça
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 30 de 16
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)
VOTO-VOGAL
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 31 de 16
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : SIDNEI BENETI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRA
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
MARCELO TURBAY FREIRIA
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
ADVOGADA : LILIANE DE CARVALHO GABRIEL
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES, pela parte RECORRENTE: FOOD AND
BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
Dr(a). ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, pela parte RECORRIDA: HORST JAKOB
HAPPEL
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 32 de 16
Superior Tribunal de Justiça
Dr(a). JOSÉ GUILHERME VILLELA, pela parte RECORRIDA: YOLANDA CHIBILY BASSITT
Dr(a). MIGUEL PEREIRA NETO, pela parte INTERES.: BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Renovando-se o julgamento, após a leitura do relatório, as sustentações orais e o voto da
Sra. Ministra Nancy Andrighi, conhecendo parcialmente do recurso especial e, nessa parte,
dando-lhe provimento, no que foi acompanhada pelo Sr. Ministro Paulo Furtado, verificou-se
empate no julgamento, que deverá ser renovado, com a inclusão em pauta.
Impedido o Sr. Ministro Sidnei Beneti.
Brasília, 16 de abril de 2009
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : SIDNEI BENETI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
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"Adiado por indicação da Sra. Ministra Relatora."
Brasília, 28 de abril de 2009
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RECURSO ESPECIAL Nº 818.506 - SP (2006/0020603-1)
VOTO-DESEMPATE
No que tange ao primeiro dos pontos objeto de exame, adianto que comungo com o
entendimento manifestado nos votos até aqui proferidos, quanto a afastar a suposta violação dos
arts. 15, 17, 18 e 19 da Lei n. 6.404, de 15.12.1976 (LSA), mas aduzo outros fundamentos.
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Tudo se passa em relação à alteração das vantagens e preferências das ações de que é
titular a Recorrente, resultante de reforma estatutária promovida na assembleia geral extraordinária
(AGE) da Companhia realizada em 19.9.1995 (fl. 1.708 do 9º volume).
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Convém reproduzir os dispositivos citados, com sua redação original, vigente à época da
reforma do estatuto, dado que houve algumas modificações posteriores, como se verá:
Espécies
Art. 15. As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que
confiram a seus titulares, são ordinárias, preferenciais, ou de fruição.
§ 1º As ações ordinárias da companhia fechada e as ações preferenciais da
companhia aberta e fechada poderão ser de uma ou mais classes.
§ 2º O número de ações preferenciais sem direito a voto ou sujeitas a
restrições no exercício desse direito, não pode ultrapassar 2/3 (dois terços) do total
das ações emitidas.
Ações Preferenciais
Art. 17. As preferências ou vantagens das ações preferenciais podem consistir:
I - em prioridade na distribuição de dividendos;
II - em prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele;
III - na acumulação das vantagens acima enumeradas.
Vantagens Políticas
Art. 18. O estatuto pode assegurar a uma ou mais classes de ações
preferenciais o direito de eleger, em votação em separado, um ou mais membros dos
órgãos de administração.
Parágrafo único. O estatuto pode subordinar as alterações estatutárias que
especificar à aprovação, em assembleia especial, dos titulares de uma ou mais
classes de ações preferenciais.
Regulação no Estatuto
Art. 19. O estatuto da companhia com ações preferenciais declarará as
vantagens ou preferências atribuídas a cada classe dessas ações e as restrições a que
ficarão sujeitas, e poderá prever o resgate ou a amortização, a conversão de ações de
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uma classe em ações de outra e em ações ordinárias, e destas em preferenciais,
fixando as respectivas condições.
Destaco, já, que a prioridade no reembolso do capital era uma das vantagens
econômicas atribuíveis às ações preferenciais e, à época, podia ser conferida isoladamente, ou seja,
sem a agregação de qualquer outra vantagem ou preferência.
Era essa a situação jurídica que vigia quando da propositura da ação, ocorrida em
31.5.2001, mas, apesar disso, (i) não há controvérsia quanto ao fato de que não foram introduzidas,
no estatuto social da Companhia, quaisquer modificações decorrentes da Lei nº 9.457, de 1997,
como se vê do voto vencido proferido na apelação (fls. 1.718 do 9º volume) e do próprio recurso
especial (fls. 1.760 do 10º volume), e (ii) não vieram a esta Corte questões relacionadas ao
pagamento do dividendo diferencial.
Nada obstante, poucos meses após o início da ação, foi promulgada a Lei nº 10.303, de
31.10.2001, que, além de reduzir a proporção prevista no § 2º do art. 15 da LSA (de 2/3 para 50%),
praticamente retomou a redação original do caput e incisos do art. 17 da LSA, admitindo as duas
vantagens econômicas previstas na redação original da lei, assim como a possibilidade de serem
atribuídas isolada ou cumulativamente às ações preferenciais.
Dito isso, chamo a atenção para o fato de que, em termos de vantagens políticas, sem
contradita alguma, (i) o direito de voto não foi arrolado como um dos direitos essenciais do
acionista (art. 109 da LSA), mas (ii) é obrigatoriamente atribuído às ações ordinárias (art. 110 da
LSA: "A cada ação ordinária corresponde 1 (um) voto nas deliberações da assembleia-geral"); e, no
ponto que toca a este caso, (iii) quanto se trata de ações preferenciais, diz o caput do art. 111 da
LSA que o estatuto poderá deixar de conferir-lhes "algum ou alguns dos direitos
reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de voto, ou conferi-lo com restrições", sem
prejuízo, porém, dos seus direitos essenciais.
Isso, em verdade, não foi novidade da Lei nº 6.404, de 1976; já era assim sob a égide da
antiga lei das sociedades anônimas, o Decreto-lei nº 2.627, de 26.9.1940, a respeito do que disse,
sinteticamente, Pontes de MIRANDA: "No direito brasileiro, o voto somente pode ser negado a
ações preferenciais: alguma vantagem (preferência) se deu, o que justifica retirar-se o voto"; e, dois
parágrafos depois, repetiu: "Quanto às ações preferenciais, os estatutos podem negar-lhes o direito
de voto (Decreto-lei n. 2.627, art. 81)" (Tratado de Direito Privado. 3.ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1984. t.50, p. 242).
É cediço, portanto, que não é ilegal a supressão do direito de voto das ações
preferenciais, ainda que, como o próprio nome indica, lhe deva ser outorgada alguma preferência
ou vantagem.
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ações seriam ordinárias, e não preferenciais. Por isso, considera feridos os arts. 15, 17 e 19 da LSA
(fls. 1.778/1.780).
Impende, pois, verificar se, nesta instância especial, há possibilidade de levar a termo
exame que permita concluir que a modificação dos estatutos implicou não atribuição de vantagens
ou preferências às ações de que é titular a Recorrente.
Importa destacar que esse dispositivo aparentemente pode ser dividido em três partes
tratando de: 1ª - prioridade de reembolso do valor das ações; 2ª - direito de participação proporcional
no patrimônio final; e 3ª - condição prévia, consistente no reembolso das ações ordinárias pelo seu
valor nominal. A primeira parte, como se viu, falou em reembolso do "valor das ações", em vez de
reembolso do "capital", como consta da letra do inciso II do art. 17 da LSA, passada e atual; já a
segunda, parece traduzir uma outra vantagem, mas arrola direito comum aos acionistas e, em
verdade, não se encontra no rol do art. 17 da LSA, vigente à época da reforma estatutária, nem na
sua atual redação; por fim, a terceira parte invoca o valor nominal das ações, que, conforme consta
dos autos, foi abolido do estatuto.
Esse simples apanhado levanta inúmeras questões não apreciadas no acórdão recorrido
e também não articuladas nas razões ou contrarrazões de REsp, dentre as quais: (i) se o citado
dispositivo estatutário prevê duas vantagens ou preferências distintas, ou apenas uma, em que a sua
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segunda parte seria apenas uma explicação da primeira; (ii) se duas forem as preferências ou
vantagens, não se pode dizer que a terceira parte se refere à primeira ou à segunda; (iii) também
não se pode excluir de todo que a primeira parte não se refira à vantagem prevista no inciso II do
art. 17 da LSA; (iv) igualmente, não se pode ter como, de plano, válida e eficaz a terceira parte do
dispositivo, uma vez que a condição ali prevista pode ser tida por impossível. E, desde aqui, já se
mostra a imprescindibilidade de interpretação da cláusula estatutária para o deslinde do feito, sem
descurar que todas essas questões demandam dilação probatória.
Portanto, para chegar à conclusão de que, no caso, essa vantagem seria um engodo,
como quer fazer crer a Recorrente, seria necessário não só a confrontação do dispositivo estatutário
com a lei, mas um esforço hermenêutico que não dispensaria (i) a análise de cada uma das partes
em que seja possível dividi-lo, (ii) a análise do conjunto das demais disposições do estatuto e do
acordo de acionistas; (iii) o exame das demais provas que constam dos autos e, possivelmente, (iv) a
produção de outras que fossem aptas a permitir a dedução da real vontade das partes.
Saliento que foi exatamente por meio de pura interpretação da alínea "b" do dispositivo
estatutário, que a Recorrente concluiu que não seria outorgada vantagem alguma às suas ações
preferenciais (fls. 1.785/1.792). No seu labor interpretativo, a Recorrente (i) disse que a última
parte do dispositivo ("depois de reembolsadas as ações ordinárias pelo seu valor nominal") se
aplicaria à sua primeira parte ("prioridade de reembolso do seu valor, no caso de liquidação,
dissolução da sociedade"), sem, porém, enfocar a segunda parte ("e direito de participação
proporcional no patrimônio final") (fl. 1.785); (ii) elaborou exemplos "para facilitar o entendimento"
do seu raciocínio (fls. 1.787 e 1.788); e (iii) chegou a desafiar "qualquer um a demonstrar eventual
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preferência destinada às ações preferenciais, nos termos do estatuto social" da Companhia (fl.
1.789).
Como visto, a alteração das vantagens e preferências das ações em questão deu-se na
reforma estatutária de 1995, mas — e é importante frisar — a Recorrente não atacou a validade
dessa deliberação. A esse propósito, bem destacou a i. Ministra Relatora que a Recorrente
"deixou transcorrer in albis mais de 5 anos, para, em 31.05.2001, ajuizar a presente ação pleiteando,
não a anulação ou nulidade do aludido ato societário, mas sim o reconhecimento de seus efeitos
práticos, que considera injustos, para alcançar a transmudação de ações preferenciais em
ordinárias".
Para evitar dúvidas quanto ao que, no tocante à alteração das vantagens e preferências
das ações preferenciais, foi colocado em debate nesta Corte, trago à colação os "fundamentos
jurídicos" da tese principal desenvolvida pela Recorrente, constante do "Quadro Elucidativo dos
Argumentos Lançados pelas Partes", por ela elaborado:
TESE PRINCIPAL DA RECORRENTE
As ações de titularidade da Recorrente, não obstante designadas "preferenciais", na
realidade não conferem quaisquer preferências. Devem, portanto, ser
consideradas ações ordinárias, outorgando-se à Recorrente todos os direitos
inerentes às ordinárias, inclusive direito de voto.
Percebe-se que, como afirmado nos votos que precedem o presente, assim como no
acórdão recorrido, a Recorrente buscou, ao manejar sua tese principal, exclusivamente a mudança
da espécie de suas ações: de preferenciais a ordinárias.
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Ou seja, embora a Recorrente alegue haver contrariedade à lei, não invoca sua
consequência lógica, que seria a nulificação do ato societário ou do dispositivo estatutário
contra legem, como, aliás, o faz quando aborda o acordo de acionistas, em relação ao qual diz haver
ilicitude e pede a incidência dos arts. 82 e 145 do Código Civil revogado.
Poderia alguém argumentar que o Código Civil de 1916 (CCiv1916) prescrevia que as
nulidades deviam "ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do ato ou dos seus efeitos e as
encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las ainda a requerimento das partes" (parágrafo
único do art. 146) e que esse comando foi mantido no Código Civil de 2002 (CCiv2002), com
redação bastante similar: "As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do
negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido
supri-las, ainda que a requerimento das partes" (parágrafo único do art. 168).
Dois, portanto, são os requisitos para que o juiz pronuncie, de ofício, a nulidade: (i) que
conheça do negócio (ou do ato) jurídico ou de seus efeitos; e (ii) que a nulidade esteja provada
nos autos. Entendo, contudo, que este último requisito não está presente, pois, como alinhavei
anteriormente, não é possível deduzir, diretamente do dispositivo cuja validade se discute, sua
contrariedade à lei, sendo inviável a reavaliação de provas, ou a interpretação de dispositivo
contratual nesta esfera.
Mas, mesmo que a nulidade fosse evidente, outro fator impediria sua pronúncia, neste
caso: é que a lei societária, notadamente a lei das sociedades anônimas, não empresta às
nulidades o mesmo tratamento que lhes é dado pela lei geral. Com efeito, diferentemente do
que dispõe a parte geral do Código Civil atual (que, nesse passo, não discrepa do revogado), em
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matéria de sociedades anônimas, ocorre, conforme o caso, a decadência ou a prescrição das
pretensões relativas à nulidade, gerando sua convalidação, sem descurar que é admitida a
sanatória das eventuais nulidades e o juiz não pode conhecê-las de ofício.
Com efeito, dispõem os arts. 285, 286 e 287 (deste basta-nos a alínea "g" do seu inciso
II), cujos prazos podem ser dilargados nos termos do art. 288, todos da LSA:
Veja-se que a Lei nº 10.303, de 2001, inseriu a citada alínea "g" no inciso II do art. 287,
"de modo a afastar qualquer espécie de insegurança quanto ao estabelecimento do prazo de
prescrição para a propositura de ações por parte do acionista contra a companhia onde mantém
participação", conforme leciona Marcelo Fortes BARBOSA FILHO [Sociedade anônima atual:
comentários e anotações às inovações trazidas pela Lei nº 10.303/01 ao texto da Lei nº
6.404/76. São Paulo: Atlas, 2004. p.274].
Aponto, ainda, que o Código Civil de 2002 inovou em relação ao diploma revogado, ao
adotar disposição similar à da LSA, quanto à nulidade do ato constitutivo de sociedade: trata-se do
parágrafo único do art. 45, que é similar ao art. 285 da LSA. Ou seja, o legislador civil de 2002, na
mesma linha que adotou em relação ao capítulo Das Sociedades — cujos artigos reproduzem,
algumas vezes ipsis litteris, comandos e disposições da Lei nº 6.404, de 1976 — incorporou mais
essa norma da LSA no Código Civil vigente, além de, no art. 206 deste, introduzir outras normas
equivalentes a algumas das previstas no art. 287 daquela, que, porém, não interessam ao presente
caso.
Vale, pois, com maior razão, a afirmação de Arnaldo RIZZARDO, de que "não importa
que os vícios sejam os da lei civil", mantêm-se os prazos previstos na lei societária para pleitear a
anulação de atos societários [Direito de empresa: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro:
Forense, 2007. p.761].
Devo alertar, todavia, que essa conclusão não é uniformemente aceita na doutrina,
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quando se enfrenta algumas causas específicas de nulidade, como fez Erasmo Valladão A. e
N. FRANÇA, invocando, em parecer que tornou público, exemplos de Fábio Konder Comparato e
de Pontes de Miranda (Revista de Direito Mercantil, Industrial Econômico e Financeiro. São
Paulo: Malheiros, 2007. ano 46, n. 145, jan/mar-2007. p.261/263). Entretanto, mesmo não excluindo
"a possibilidade de ocorrerem deliberações absolutamente nulas", Erasmo Valladão conclui que "o
regime fundamental de invalidades adotado na Lei de S/A, portanto, é um regime de
anulabilidade das deliberações, expressamente previsto no art. 286" (Loc. cit.; grifei).
Outra questão diz respeito à situação dos "atos-regra" que se põem contra a lei. A
respeito, o próprio Tavares BORBA, na continuidade das lições que acima citei diz:
Anote-se, porém, que as normas estatutárias contra legem, ainda que
exauridos os prazos de prescrição ou decadência, continuarão impugnáveis, posto
que, como atos-regras que são, contêm uma irregularidade uma irregularidade que se
renova a cada dia, sendo assim insuscetíveis de prescrição. Sob esse aspecto, seriam
disposições nulas.
É bem verdade que os atos concretos praticados com base nos dispositivos
estatutários ilegais são passíveis de prescrição ou decadência. A prerrogativa de
argüir a ilegalidade da norma é que não prescreve ou decai, podendo assim ser
alegada indefinidamente, para o efeito de retirá-la dos estatutos. [Op. cit., p.535].
Não obstante a celeuma doutrinária, esta Turma já enfrentou a questão das nulidades
em matéria societária, em acórdão relatado pelo e. Ministro Sálvio de Figueiredo, cujas conclusões
bem se assentam ao presente caso e foi assim ementado:
DIREITO COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. EMPRESA DE
RADIODIFUSÃO E TELECOMUNICAÇÃO. EXIGÊNCIA DO ÓRGÃO PUBLICO
FISCALIZADOR. COMPROVAÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA DOS
ACIONISTAS. CONVOCAÇÃO EDITALÍCIA DOS SÓCIOS, MARCANDO
PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO DE NASCIMENTO OU
CASAMENTO. DELIBERAÇÃO ASSEMBLEAR DE VENDA DAS AÇÕES DOS
QUE NÃO ATENDERAM À CONVOCAÇÃO. ILEGALIDADE. LAPSO
PRESCRICIONAL ESPECIFICO (ARTS. 156 DO DL 2.627/40 E 286 DA LEI
6.404/76). AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO TEMPESTIVA. CONVALIDAÇÃO.
PRESCRIÇÃO TAMBÉM DO DIREITO A HAVER DIVIDENDOS DISTRIBUÍDOS
SOB A FORMA DE BONIFICAÇÃO (ART. 287, II, "A", DA LEI 6.404/76).
INAPLICABILIDADE DA TEORIA GERAL DAS NULIDADES. RECURSO
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PROVIDO.
I - Em face das peculiaridades de que se reveste a relação acionistas "versus"
sociedade anônima, não há que se cogitar da aplicação, em toda a sua extensão,
no âmbito do direito societário, da teoria geral das nulidades, tal como
concebida pelas doutrina e dogmática civilistas.
II - Em face disso, o direito de impugnar as deliberações tomadas em assembleia,
mesmo aquelas contrárias à ordem legal ou estatutária, sujeita-se à
prescrição, somente podendo ser exercido no exíguo prazo previsto na lei das
sociedades por ações (art. 156 do dl 2.627/40 art. 286 da lei 6.404/76).
III - Pela mesma razão não pode o juiz, de ofício, mesmo nos casos em que
ainda não atingido o termo"ad quem" do lapso prescricional, reconhecer a
ilegalidade da deliberação e declará-la nula.
IV - Também o exercício do direito de haver dividendos, colocados à disposição dos
acionistas sob a forma de bonificação, se submete a condição temporal (art. 287, ii,
'a', da lei 6.404/76). [REsp 35.230-SP, j. em 10.4.1995; DJ 20.11.1995; grifei; esse
acórdão é citado por Arnaldo RIZZARDO (Op. cit. p.761/2)].
Ao fim e ao cabo deste subtópico, fica claro que a eventual nulidade ou anulabilidade da
deliberação da AGE de 19.9.1995 jamais foi posta ao descortino deste Tribunal, sendo
incabível seu conhecimento ex officio. Além disso, já se encontram findos os exíguos prazos
da Lei das Sociedades Anônimas para promover a nulificação ou anulação, ao menos, da
deliberação assemblear e, como a sua própria validade jamais foi posta em xeque, também nunca se
discutiu, nesta ação, a ocorrência de suspensão ou interrupção desses prazos. De outro lado,
admitindo que fosse possível discutir a nulidade da ou das disposições estatutárias resultantes da
reforma de 1995 que, por acaso, fossem contrárias à lei, sua consequência é incompatível com o
pedido formulado pela Recorrente, não podendo, também, ser conhecida de ofício.
Frente às considerações do subtópico anterior, hei de ter por válidas, para efeito deste
julgamento, tanto a deliberação assemblear, quanto a redação por ela dada ao ou aos dispositivos do
estatuto que tratam das preferências e vantagens das ações de que a Recorrente é titular. Tendo
isso em mente, como dado abstrato de análise, há outro ponto, ainda, a examinar.
Portanto, a alteração das ditas preferências poderia ser promovida por deliberação dos
acionistas ordinaristas (e, se fosse o caso, dos demais acionistas detentores de direito de voto) em
assembleia geral, mas sua eficácia ficava dependente da anuência dos acionistas
preferencialistas portadores de ações das classes afetadas, manifestada em assembleia especial.
A redação dada a esses dispositivos pela Lei nº 9.457, de 1997, até hoje vigente, em
nada lhes alterou a essência, pois continua a ser exigida a aprovação dos preferencialistas como
condição de eficácia da deliberação da assembleia geral. Mas essa lei — além de atribuir à
Comissão de Valores Mobiliário (CVM) o poder de reduzir o quorum de deliberação previsto no
caput do art. 136, inclusive para as assembleias especiais — fixou o "prazo improrrogável de um
ano" para que ocorra a aprovação (§ 1º) e determinou que, na ata da assembleia geral, conste aviso
sobre o sobrestamento da eficácia da deliberação (§ 4º). Confira-se:
Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade,
no mínimo, das ações com direito a voto, se maior quorum não for exigido pelo
estatuto da companhia cujas ações não estejam admitidas à negociação em bolsa ou
no mercado de balcão, para deliberação sobre:
[...]
II - alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou
amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova
classe mais favorecida;
[...]
§ 1º Nos casos dos incisos I e II, a eficácia da deliberação depende de
prévia aprovação ou da ratificação, em prazo improrrogável de um ano, por titulares
de mais da metade de cada classe de ações preferenciais prejudicadas, reunidos
em assembleia especial convocada pelos administradores e instalada com as
formalidades desta Lei.
[...]
§ 4º Deverá constar da ata da assembleia-geral que deliberar sobre as matérias
dos incisos I e II, se não houver prévia aprovação, que a deliberação só terá
eficácia após a sua ratificação pela assembleia especial prevista no § 1º.
Os autos não dão notícia de que a Recorrente tenha, de forma expressa, anuído previa
ou posteriormente com a deliberação, ou que tenha sido realizada a assembleia especial prevista no
§ 1º do art. 136 da LSA, mas informam que ela esteve representada na assembleia geral em que se
processou a alteração das preferências e vantagens de suas ações (fls. 1.709, do 9º volume, com
Documento: 746165 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 17/03/2010 Página 51 de 16
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referência às fls. 130 do volume 1, onde aparece que a Recorrente foi representada, naquela
oportunidade, por Décio Gaino Colombini).
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suporte fático; toda eficácia será produção da juridicidade do fato jurídico" (Tratado de Direito
Privado. 4.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1983. t.4, p.3/4; 16).
I. d) Conclusão do tópico
Assim, sem deslustro algum aos respeitáveis juristas que emitiram pareceres favoráveis
às teses defendidas pela Recorrente, há que ser afastada a suposta violação dos arts. 15, 17, 18 e 19
da LSA por todos os ângulos que se olhe: (i) incidência das Súmulas nº 5 e 7 deste Tribunal a
impedir o exame da alegada infração aos dispositivos legais; (ii) nulidade ou anulabilidade do ato
societário e das disposições estatutárias decorrentes; ou (iii) ineficácia da alteração das preferências
e vantagens das ações preferenciais.
Não houve contradita, nem por parte dos Recorridos, nem da Companhia (Interessada),
quanto ao fato de que esta tivesse deixado de pagar dividendos aos seus acionistas pelo prazo de
três anos; trata-se de questão incontroversa. Os fundamentos do afastamento da incidência do
citado dispositivo legal, acolhidos no acórdão recorrido, foram outros: (i) o primeiro baseia-se no fato
de o acordo de acionista, firmado entre as partes em 25.8.1995 e vigente no momento em que a
Companhia deixara de pagar dividendos, previa que as ações preferenciais não teriam direito a voto;
(ii) o segundo tem esteio na circunstância de que as ações daquela espécie não faziam jus a
dividendos fixos ou mínimos e, portanto, não eram albergadas na prerrogativa inserida no § 1º do art.
111 da LSA.
Quanto ao primeiro fundamento, vale esclarecer que o voto proferido pelo Relator
Designado do acórdão que julgou a apelação baseia-se no fato de que o acordo de acionistas fora
firmado por tempo indeterminado e "foi explícito no sentido de que as ações preferenciais não teriam
direito a voto" (fls. 1.705 do 9º volume). Em vista disso e considerando que o acordo, "até meados de
2000, permanecia inflexível", pois não teria sido denunciado, o Relator Designado afastou a
aplicação do art. 111, § 1º, da LSA, por entender que não havia transcorrido o triênio legal sem
distribuição de dividendos, cuja contagem teria iniciado a partir de 10.1.2001, data em que fora
realizada uma outra AGE (fl. 1.706).
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Convocado do TJ/BA), que, nesse ponto, admitiram o recurso "para reconhecer o direito temporário
de voto da recorrente na qualidade de acionista da Bascitrus Agro Indústria S/A", direito esse que
conservará até o pagamento dos lucros, tudo nos termos do art. 111". De outro lado, ficaram os
Ministros Ari Pargendler e Humberto Gomes de Barros, que negaram provimento ao REsp, também
por esse motivo, entendendo incabível a atribuição do chamado voto contingente à Recorrente.
Quanto ao primeiro dos fundamentos com base nos quais o voto temporário foi negado
pelo Tribunal a quo, apesar de o e. Ministro Ari Pargendler ter entendido que "não foi atacado pelo
recurso especial", percebo que ataque houve (fls. 1.812/1.816), embora com reprise das teses
desenvolvidas pela Recorrente, inclusive quanto à suposta nulidade do acordo de acionistas, por
malferimento dos arts. 82 e 145 do CCiv1916, que abordarei à frente.
Entendo, porém, que esse fundamento não é suficiente, de per si, para afastar a norma
do § 1º do art. 111 da LSA.
Explico: como já alinhavei, o direito de voto não é direito essencial do acionista e pode
ser negado às ações preferenciais, conforme, respectivamente, arts. 109 e 111, caput, da LSA.
Portanto, na medida em que o acordo de acionistas haja tão-somente afirmado que as ações
preferenciais não têm direito a voto, nada mais fez do que prescrever a faculdade outorgada pelo
caput do art. 111 da LSA.
Isso, contudo, não afasta a incidência de outras normas da LSA (como os já citados art.
17 e 109), em tudo quanto não foi expressamente regulado no acordo de acionistas, dentro do
espaço reservado à livre expressão da vontade de seus signatários.
Percebi, além disso, que aquela corrente teve acolhida substancial na doutrina durante a
vigência da Lei nº 9.457, de 1997, que estabeleceu o dividendo diferencial de 10% superior àquele
atribuído às ações ordinárias, devido, como visto acima, às ações preferenciais, salvo se a estas
fossem outorgados dividendos fixos ou mínimos (inciso I do art. 17 da LSA, então vigente).
Enquanto essa lei esteve em vigor, vicejou a ideia de que a percepção de dividendo diferente
daquele devido às ações ordinárias — fixo, mínimo, diferencial ou de qualquer sorte maior — era
vantagem econômica indissociável das ações preferenciais e foi de certa forma natural que,
nessa época, florescesse a tendência de estender a aplicação do § 1º do art. 111 da LSA a todos os
preferencialistas, independentemente do tipo de dividendo a que fizessem jus.
Contudo, assim não era anteriormente e também não é hoje, pois, com a Lei nº
10.303, de 2001, o dividendo diferencial, ou outra das vantagens ou preferências econômicas listadas
no § 1º do art. 17 da LSA passaram a ser exigidas somente em relação às ações
preferenciais que forem "admitidas à negociação no mercado de valores mobiliários".
Convém transcrever referido § 1º, seus incisos e alíneas:
Art. 17. [...]
§ 1º Independentemente do direito de receber ou não o valor de reembolso do
capital com prêmio ou sem ele, as ações preferenciais sem direito de voto ou com
restrição ao exercício deste direito, somente serão admitidas à negociação no
mercado de valores mobiliários se a elas for atribuída pelo menos uma das seguintes
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preferências ou vantagens:
I - direito de participar do dividendo a ser distribuído, correspondente a, pelo
menos, 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido do exercício, calculado na
forma do art. 202, de acordo com o seguinte critério:
a) prioridade no recebimento dos dividendos mencionados neste inciso
correspondente a, no mínimo, 3% (três por cento) do valor do patrimônio líquido da
ação; e
b) direito de participar dos lucros distribuídos em igualdade de condições com
as ordinárias, depois de a estas assegurado dividendo igual ao mínimo prioritário
estabelecido em conformidade com a alínea a; ou
II - direito ao recebimento de dividendo, por ação preferencial, pelo menos
10% (dez por cento) maior do que o atribuído a cada ação ordinária; ou
III - direito de serem incluídas na oferta pública de alienação de controle, nas
condições previstas no art. 254-A, assegurado o dividendo pelo menos igual ao das
ações ordinárias.
[...].
Veja-se que o dividendo diferencial, tal qual previsto na Lei nº 9.457, de 1997, passou a
constar do inciso II do § 1º do art. 17 da LSA. Mas, mais significativo para o presente caso, é o fato
de que somente com a Lei nº 10.303, de 2001, a LSA passou a prever, de forma expressa, vantagem
vinculada ao dividendo obrigatório, consistente no recebimento de um dividendo mínimo prioritário,
calculado com base no valor do patrimônio líquido da ação e destacado do montante dos dividendos
obrigatórios, não inferior a 25% do lucro líquido, este calculado na forma do art. 202 da LSA,
conforme se vê do inciso I do mesmo parágrafo.
A lei das sociedades anônimas vigente estabelece, pois, nítida diferença entre as ações
preferenciais negociáveis no mercado acionário, que recebem maior proteção da lei, e aquelas ali
não negociáveis. Para estas, para estas — de ordinário, emitidas por companhias fechadas — pode
ser atribuída uma ou as duas vantagens e preferências listadas nos incisos do caput do art. 17, quais
sejam: (i) prioridade na distribuição de dividendos; ou (ii) prioridade no reembolso do capital, com
prêmio ou sem ele. No tocante à distribuição de dividendos, as ações preferenciais não negociadas
no mercado de capitais e que não gozem, por disposição estatutária, de outras vantagens nessa
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seara (dividendo mínimo ou fixo, dividendo diferencial, ou dividendo mínimo prioritário) se
assemelham, em tudo, às ações ordinárias, considerando que, nos termos do art. 109, I, da LSA, é
direito essencial dos acionistas "participar dos lucros sociais".
Disso resulta que o direito à percepção de dividendos maiores do que aqueles pagos
às ações ordinárias, ou em caráter prioritário, em relação às demais ações, não é direito
essencial das ações preferenciais não admitidas à negociação no mercado acionário,
bastando que se lhes outorgue apenas uma das duas prioridades previstas nos incisos do caput do
art. 17 para que sejam consideradas como tais.
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fizerem jus, direito que conservarão até o pagamento, se tais dividendos não forem
cumulativos, ou até que sejam pagos os cumulativos em atraso.
Esse dispositivo pode, à primeira leitura, gerar confusão, pois principia falando,
genericamente, de "ações preferenciais sem direito de voto", sem dizer, desde logo, a que ações
preferenciais sem direito de voto se refere. O caráter genérico, porém, desaparece logo em
seguida, quando a norma se reporta aos "dividendos fixos ou mínimos a que fizerem jus". A alocução
a que fizer jus demanda um sujeito, de modo que diante da pergunta Quem ou o quê fizer jus aos
dividendos fixos ou mínimos?, a resposta somente pode ser as ações preferenciais sem direito
de voto. Destarte, a confusão desaparece e a norma legal resta clara no sentido de que o direito de
voto temporário somente caberá às ações preferenciais que façam jus a dividendos fixos ou
mínimos.
Assim, a LSA permite que haja ações preferenciais sem direito à prioridade na
distribuição de dividendo fixo ou mínimo, de forma que, no tocante à percepção de dividendos,
seguirão a mesma sorte das ordinárias. Ou seja, se a companhia produzir lucros, os acionistas
preferencialistas terão direito a dividendos em igualdade de condições com os ordinaristas, salvo se a
eles for atribuída alguma das vantagens arroladas nos incisos I e II do § 1º do art. 17, sem descurar,
ainda, que mesmo o dividendo obrigatório pode ser reduzido ou suprimido.
Importa ter presente, ainda, que a preferência ou vantagem de que trata o inciso I do
caput do art. 17 refere-se, propriamente, à prioridade na distribuição dos dividendos fixos ou
mínimos, cuja realização se perfaz nos termos do art. 203 da LSA:
Art. 203. O disposto nos artigos 194 a 197, e 202, não prejudicará o direito
dos acionistas preferenciais de receber os dividendos fixos ou mínimos a que
tenham prioridade, inclusive os atrasados, se cumulativos.
Ou seja, a prioridade na distribuição dos dividendos fixos ou mínimos que tenham sido
atribuídos às ações preferenciais suplanta a constituição de reservas estatutárias (art. 194), para
contingências (art. 195), de incentivos fiscais (art. 195-A) e de lucros a realizar (art. 197), a
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retenção de lucros (art. 196) e a própria distribuição do dividendo obrigatório (art. 202).
Neste passo, anoto que a proteção dos minoritários não pode ser vista como um
fim em si mesmo, ou seja: não basta ser acionista minoritário para que o julgador lhe reconheça tal
ou qual direito ou prerrogativa. Em qualquer caso, há que se examinar se (i) acham-se presentes os
elementos decorrentes da lei ou nela previstos que lhe assegurem a titularidade de determinado
direito (p.ex.: abuso de poder do controlador) e se (ii) estão ausentes elementos que possam afastar
o suposto direito (p.ex.: abuso do direito de voto da minoria). Ao lado disso, há que se considerar,
conforme o caso: (iii) a existência de outros interesses, que, eventualmente, ultrapassem os
interesses do minoritário (p.ex.: a continuidade da empresa) e (iv) o fato de se tratar de companhia
aberta ou fechada, ou de emissão pública ou privada de títulos e valores mobiliários. Não se pode
desprezar, ainda, (v) as condições pessoais do acionista minoritário, quanto ao conhecimento e
discernimento, quer a respeito do negócio jurídico que tenha entabulado e aos seus efeitos, quer
quanto à legislação societária e ao funcionamento das sociedades anônimas e do mercado de
capitais e valores mobiliários.
Entendo, pois, que as normas de proteção aos acionistas minoritários têm caráter
excepcional e, como tais, devem ser interpretadas restritivamente, não sendo possível ampliar seu
sentido para abarcar situações não previstas em lei, salvo em raríssimas situações que admito
apenas para fins de raciocínio abstrato.
Assim, não me parece possível a ampliação do sentido do § 1º do art. 111 da LSA para
abranger as ações preferenciais outras, além daquelas lá expressamente referidas.
Por essas razões, filio-me à corrente que restringe a atribuição do voto contingente
apenas às ações preferenciais às quais haja sido atribuído dividendo fixo ou mínimo, e, com as
considerações aqui traçadas, acompanho o voto dos e. Ministros Ari Pargendler e Humberto Gomes
de Barros.
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Isso porque sustentou a Recorrente que a disposição do acordo de acionistas que exclui
o direito de voto das ações preferenciais seria contra legem, nos seguintes termos:
94. Como já salientado em todas as manifestações, a concessão do direito de
voto à Recorrente decorre da lei, pela absoluta ausência de vantagens conferidas
pelo estatuto às suas ações (tidas por preferenciais) — artigos 15,17 e 19 da Lei das
S/A — ou mesmo, como será verificado adiante, pela não distribuição de dividendos
no prazo de 03 (três) exercícios (artigo 111 da lei das S/A), o que impede a
supressão do direito de voto.
95. Ora, como cediço, o Estatuto Social e o Acordo de Acionistas podem
expressar a vontade das partes, porém jamais poderiam consistir infração à lei.
Trata-se do princípio da supremacia da lei sobre as avenças privadas.
96. De fato, qualquer interpretação em sentido contrário revelar-se-ia
inaceitável, realmente despropositada, uma vez que jamais poderia ser aceita e
privilegiada pelo direito a validade de atos jurídicos fundados em objeto ilícito.
Confira-se, a respeito, os artigos 82 e 145 do Código Civil [de 1916].
[...]
97. Assim, o Estatuto Social e o Acordo de Acionistas, por natural, não
poderiam ter por objeto obrigações que se encontram em contrariedade à lei. [fls.
1.799/1800 do 10º volume; grifos do original].
134.2 No caso dos autos, destaque-se mais uma vez, a lei proíbe a existência
de ações preferenciais que não outorguem concretos benefícios ou vantagens a seus
titulares.
134.3 Em virtude do exposto, não há que se falar in casu em "ato jurídico
perfeito", uma vez que o Acordo de Acionistas mencionado no aludido voto
privilegia objeto ilícito, perfazendo-se nulo. Impõe-se, pois, a partir da análise
dos benefícios que conferem a seus titulares, a qualificação das ações detidas pela
Recorrente como ações ordinárias, aplicando-se devidamente a lei. [fls. 1.814; grifos
do original].
Não há, igualmente, qualquer ilegalidade na exclusão do direito de voto das ações
preferenciais detidas pela Recorrente, diante do que expus no primeiro tópico deste voto.
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IV - Conclusões finais
Com o devido respeito aos e. Ministros Nancy Andrighi e Paulo Furtado, conheço em
parte do recurso especial para negar-lhe provimento.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : SIDNEI BENETI
Presidenta da Sessão
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO DE PAULA CARDOSO
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FOOD AND BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES
PAULO GUILHERME BARBEIRO CRUZ E OUTRO(S)
CLÁUDIO LACOMBE E OUTRO
ADVOGADA : JANINE MALTA MASSUDA
RECORRIDO : HORST JAKOB HAPPEL E OUTROS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO AMARAL HALEMBECK E OUTRO(S)
HELOISA HELENA PIRES MEYER E OUTRO(S)
MARCELO TURBAY FREIRIA
PEDRO IVO RODRIGUES VELLOSO CORDEIRO E OUTRO(S)
ADVOGADA : LILIANE DE CARVALHO GABRIEL
RECORRIDO : YOLANDA CHIBILY BASSITT E OUTROS
ADVOGADOS : JOSÉ GUILHERME VILLELA E OUTRO
JOSÉ THEOPHILO FLEURY NETTO E OUTRO(S)
INTERES. : BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
ADVOGADO : RODRIGO BENEVIDES DE CARVALHO
ADVOGADA : KEILA BARBOSA DE FREITAS BITTENCOURT
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). ANTÔNIO DE OLIVEIRA TAVARES PAES, pela parte RECORRENTE: FOOD AND
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Superior Tribunal de Justiça
BEVERAGE TRADING COMPANHY OF IRELAND LIMITED
Dr(a). ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, pela parte RECORRIDA: HORST JAKOB
HAPPEL
Dr(a). MIGUEL PEREIRA NETO, pela parte INTERES.: BASCITRUS AGRO INDÚSTRIA S/A
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após a renovação do relatório e da ratificação dos votos proferidos, a Turma, por
maioria, conheceu em parte do recurso e negou-lhe provimento, nos termos do voto do Sr.
Ministro João Otávio de Noronha (convocado para compor quórum), que lavrará acórdão.
Vencidos os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Paulo Furtado (Desembargador convocado do
TJ/BA).
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nancy Andrighi, João Otávio de Noronha,
Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Humberto Gomes de Barros e Ari
Pargendler.
Impedido o Sr. Ministro Sidnei Beneti.
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