Você está na página 1de 17

91

DIRETRIZES PARA REVITALIZAÇÃO URBANA DE SEARA

Luiza Bedin1
Adriana Diniz Baldissera2
Nilson Berticelli3

RESUMO
Seara não teve projeto norteador de planejamento, ela cresceu e se desenvolveu de modo
espontâneo, modificada ao longo dos anos através de desmembramentos e loteamentos, muitas
vezes, isolados ou separados da malha já existente e sem objetivo voltado a cidade de modo
geral. Hoje existem problemas de natureza ambiental, de mobilidade e de vitalidade, reflexos
deste crescimento desordenado. A cidade possui Plano Diretor, porém os zoneamentos nele
evidenciados não geram perspectivas os projeções para o futuro. A elaboração de diretrizes de
revitalização propostas pelo projeto procuram amenizar os problemas, já citados, utilizando
conceitos ambientais, de mobilidade e baseados, principalmente, no conceito ‘cidade para
pessoas’. Para isso foram realizadas pesquisas e estudos que possibilitem a elaboração das
diretrizes da melhor maneira possível para elevar a qualidade de vida da população. São
elaborados também estudos das condicionantes físicas, históricas e culturais, para que o projeto
se aproxime ao máximo da realidade da cidade. Por fim são apresentadas as diretrizes de projeto
e as relações desejadas para o cotidiano da cidade, assim como as propostas no campo da
mobilidade urbana, meio ambiente e novas centralidades, além dos pontos de intervenção
utilizados e suas respectivas funções e relações.

Palavras chave: Revitalização. Cidade para pessoas. Seara.

1 INTRODUÇÃO

Quando a situação de qualquer cidade, indiferente de seu tamanho, apresenta


dificuldades para sua população, um projeto de revitalização do espaço urbano se torna
necessário. Seara (SC) se enquadra neste grupo, pois, mesmo possuindo cerca de 16.000
habitantes, seu crescimento ocorreu de tal forma que gerou uma série de problemas na interação
social e ambiental, e na mobilidade urbana.
Desta maneira, busca-se como objetivo geral o desenvolvimento de um projeto de
revitalização urbana para promover melhorias na qualidade de vida da população searaense
através de diretrizes urbanísticas com base em levantamento da situação atual da cidade e suas
fragilidades e potencialidades. Como objetivos específicos estão a realização de estudos de

1
Graduada do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UCEFF. E-mail: luiza.arq@outlook.com.
2
Docente da UCEFF, Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade – PGAU da Universidade Federal
de Santa Catarina, e-mail: adrianabaldissera@uceff.edu.br.
3
Docente da UCEFF, Mestre em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Sócio Ambiental- UDESC, e-mail:
nilsonberticelli@gmail.com.
92

caso, pesquisa sobre a história de Seara, o desenvolvimento de mapa síntese e a elaboração de


diretrizes urbanas de forma a tornar Seara uma cidade para pessoas.
A questão problema está centrada em como desenvolver e propor diretrizes de
revitalização para a cidade de Seara e dentro dela descobrir quais os estudos que devem ser
realizados, quais conceitos devem ser seguidos e de que forma devem ser implantados.
Para tornar o projeto palpável realizaram-se pesquisas bibliográficas que tratassem
principalmente da relação social da cidade, onde dentre elas se destacam as ideias de Jan Gehl
e Jane Jacobs. Também serão utilizados autores como Gorski e Spirn para trabalhar a questão
ambiental dentro das diretrizes e Del Rio para contextualizar a história do planejamento urbano.
O trabalho se divide em uma pesquisa bibliográfica que aborda os primórdios do
planejamento urbano, desde os anos 50, até o conceito de novas centralidades. Posteriormente
são realizados três estudos de caso com projetos baseados nos conceitos apresentados na
pesquisa bibliográfica, uma pesquisa sobre a história de Seara e levantamentos físicos e
culturais da cidade. Por último são mostradas as diretrizes gerais, onde propõem-se a criação
de mais áreas de lazer através de parques e espaços culturais, incentivos para vitalidade urbana,
alterações e ligações entre vias e determinação de pontos para novas centralidades.
Esta ideia de implementação de espaços de lazer e de melhoria na mobilidade urbana da
cidade é resultado da observação do próprio comportamento da população que transmite a
necessidade de mudanças e melhorias. A procura por maior cultura e lazer é uma constante na
cidade, pois já existem muitos programas promovidos tanto pelo setor público, como privado,
que promovem apresentações, cursos, feiras, reuniões, entre outros. Porém o que falta é espaço
próprio para estas atividades, já que atualmente os espaços utilizados para estes eventos são
cedidos ou alugados, normalmente pequenos ou, até mesmo impróprios.
Além disso, a partir do momento em que a cidade possua espaços e situações que
promovam a qualidade de vida, pode ser que se torne alvo de quem procura melhor conforto e
tranquilidade, contribuindo também assim para o desenvolvimento econômico da cidade e do
município.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para contextualizar todo o cenário relacionado ao planejamento urbano a pesquisa


bibliográfica tem início desde o começo do mesmo, que segundo Del Rio (1990) surgiu após a
Segunda Guerra Mundial, onde os países de primeiro mundo estavam começando a sair da forte
recessão e a necessidade de planejadores dentro do poder público aumentou de maneira
93

considerável. Isso ocorre porque os Estados se esforçavam na reconstrução e reestruturação


econômica, e para isso necessitavam de planos econômicos e de investimento. Nesse período,
as políticas públicas deste cunho buscavam a reposição completa de áreas do tecido urbano
consolidado, principalmente, as que haviam sido bombardeadas ou eram consideradas
deterioradas e de decadência, onde os novos planos deveriam ser desenvolvidos de modo a se
basear nos preceitos definidos nos Congressos de Arquitetura Moderna e da Carta de Atenas.
Este tipo de urbanismo ficou conhecido como moderno e, conforme Saboya (2010),
surgiu como uma consequência à cidade capitalista, resultado do processo de urbanização da
Revolução Industrial, e foi influenciado por ideias e conceitos de diversos autores, dentre os
quais se destaca Le Corbusier. Com uma análise de suas propostas e da Carta de Atenas é
possível elaborar uma síntese dos princípios do urbanismo moderno: universalidade e
racionalidade; altas densidades com aumento das áreas verdes; aversão a rua tradicional e
fluidez do trânsito de veículos; e separação e segregação de usos.
No Brasil, conforme Sabbag (2012), o planejamento urbano moderno encontrou terreno
fértil, chegando a seu auge com a construção da Capital Federal: Brasília. Nela é espelhada
visão do urbanismo moderno e trabalhado com as quatro funções urbanas da Carta de Atenas
(habitar, trabalhar, recrear-se e circular).
Outro fator importante do planejamento urbano no Brasil foi o Movimento Nacional
pela Reforma Urbana (MNRU) que elaborou a Emenda Popular da Reforma Urbana para ser
utilizada na nova Constituição (1964-1985), entretanto pouca coisa da emenda popular foi
utilizada. O Art. 182 da nova Carta Magna transferiu inteiramente para os municípios a
definição e aplicação de critérios balizadores de fórmulas vagas como “função social de
propriedade” e “funções sociais de cidade”, todavia, ao mesmo tempo, apontava-se para
necessidade de regulamentação dos elementos previstos neste artigo e no Art. 183, como: IPTU
progressivo no tempo, desapropriação e instrumentos de regularização fundiária, que só vieram
a ocorrer em 2001, com a aprovação de Estatuto da Cidade. (SOUZA, 2008)
Além da história do planejamento urbano também foram realizadas pesquisas sobre o
meio ambiente, já que, conforme Spirn (1995), os recursos e as dificuldades geradas pelo sítio
natural de cada cidade formam uma constante, a qual sucessivas gerações tiveram que tratar,
cada uma conforme seus próprios valores e tecnologia. Civilizações e governos se erguem e
caem, as tradições, valores e politicas mudam, porém o ambiente natural permanece, como uma
estrutura duradoura. O ambiente natural de cada cidade juntamente com sua forma urbana,
compreendem um registro da relação entre os processos naturais e os propósitos humanos ao
longo do tempo. Unidos, eles contribuem para formação de uma identidade única para cada
94

cidade. Os propósitos urbanos se apresentam em atividades que, normalmente, modificam o


ambiente natural, são elas: necessidade de prover segurança, abrigo, alimento, água e energia,
e necessidade de dispor os resíduos, de permitir a circulação e demanda de espaço. Sendo que
todas essas intervenções produzem um ecossistema muito diferente daquele existente
anteriormente à cidade.
Tanto Spirn (1995), como Gorski (2010) e Hough (1998) apresentam que o ambiente
natural das cidades tem sido negligenciado através de mudanças radicais em elementos como
topografia e cursos d’água, que foram determinantes na formação das cidades, mas passaram a
ter sua importância eclipsada ou mesmo anulada ao longo da evolução urbana. Para eles se faz
necessária uma recuperação da relação cidade ou meio ambiente, pois só assim serão resolvidos
problemas como enchentes e deslizamentos.
Para elaboração das diretrizes também se fez necessário estudo a respeito das
mobilidades urbanas disponíveis, já que, segundo Ministério das Cidades (2015b), a mobilidade
nas cidades é fator de suma importância na qualidade de vida dos cidadãos. O modelo de
circulação de pessoas e cargas dentro do território urbano interfere no desenvolvimento
econômico do País, pois dele dependem a logística de distribuição de produtos, a saúde e a
produtividade de sua população. A elaboração do Plano de Mobilidade Urbana supõe a análise
dos meios de deslocamentos que ocorrem dentro ou têm impactos na circulação de um
município assim como a necessidade de infraestrutura ligada aos diversos meios no intuito de
identificar e planejar a implementação de ações de melhoria do Sistema de Mobilidade Urbana
local. Para tal, é essencial que sejam consideradas as características dos modos de transporte e
a infraestrutura que permitem os deslocamentos de pessoas e cargas nos municípios, assim
como os meios de gestão destes deslocamentos.
Os modos de transporte são divididos em modos não motorizados e motorizados, cada
qual possui características próprias e induz necessidades de infraestruturas específicas. Os
modos não motorizados são os seguintes: pedestre, bicicleta e carroças. Já os modos
motorizados são divididos em dois grupos: os privados (automóvel e moto) e os público
(ônibus, metrô, monotrilho, sistemas estruturais com veículos leves sobre trilhos – VLT, trem,
sistemas hidroviários, teleférico, plano inclinado e aeromóvel).
A chave para entender e desenvolver uma mobilidade urbana de qualidade está em
combinar os sistemas de transporte existentes de maneira com que todos eles possuam uma
parcela igualitária de investimento e infraestrutura. Porém, incentivando-se os meios não
motorizados e os meios motorizados públicos, por demandarem de menor infraestrutura por
quantidade de pessoas que o utilizam.
95

Nossa ideia de mobilidade é tentar fazer a conexão entre todos os sistemas. [...] O que
quero dizer é, não estou tentando provar que sistema de transporte é melhor. Quero
dizer que temos de combiná-los. Combinar todos os sistemas, e com uma condição:
nunca, se você tem um metrô, se você tem sistemas de superfície, se você tem qualquer
tipo de sistema, nunca competir no mesmo espaço. (LERNER, 2007, p. 01)

Um meio de transporte que vem se destacando nos últimos anos tem sido a bicicleta,
pois os ciclistas representam um tipo diferente e uma forma mais rápida de trafego a pé, mas
em termos de experiências sensoriais, vida e movimento, eles são parte do resto da vida urbana.
Ou seja, demandam uma infraestrutura menor do que os veículos, são mais rápidos do que se ir
a pé e ainda interagem com a cidade. (GEHL, 2015)
Tanto para Gehl (2015) como para Jacobs (2011) esta interação das pessoas com a
cidade é de extrema importância pois melhora a qualidade de vida da população. Através deste
conceito é que ambos são para este trabalho a base para as diretrizes de revitalização urbana de
Seara. Para os dois autores por décadas a dimensão humana tem sido um tópico do planejamento
urbano esquecido e tratado a esmo, enquanto várias outras questões ganham mais força, como
a acomodação do aumento do tráfego de automóveis. Além disso, para eles as ideologias
dominantes de planejamento, em especial o modernismo, deram baixa prioridade ao espaço
público, às áreas de pedestres e ao papel do espaço urbano como local de encontro dos
moradores da cidade.
Em contraponto a ideias e conceitos deste modo de planejar, Appleyard e Jacobs apud
Del Rio (1990), determinam que existem algumas metas, a nível geral de planejamento, para
uma vida urbana de boa qualidade, como: identidade e controle, acesso a lazer e oportunidades,
vida comunitária e pública, entre outros. Eles também definem cinco grandes características
para desenho urbano, que são: ruas e vizinhanças de convívio, densidades mínimas e
intensidades de uso para a vida urbana, integração de atividades, as edificações devem dispostas
como definidoras de espaços públicos, e, por fim, diversidade nas inter-relações e configurações
entre e de edificações e espaços.
Mais especificamente para Gehl (2015) este conceito ganha o título de “cidade para as
pessoas” e ele o divide em quatro categorias: a cidade viva, a cidade segura, a cidade sustentável
e a cidade saudável. A cidade viva significa buscar, dentro do planejamento das cidades, mais
do que simplesmente proporcionar espaço e circulação para que as pessoas caminhem e
pedalem, aceita-se um desafio, muito mais importante, de possibilitar que as pessoas tenham
contato direto com a sociedade ao seu redor. Ou seja, o espaço público deve ser vivo, através
de sua utilização por muitos e diferentes grupos de pessoas. (GEHL, 2015)
96

Quanto a cidade segura, Gehl (2015) acredita que se for reforçada a vida nas cidades de
maneira que mais pessoas caminhem e permaneçam mais tempo nos espaços comuns, é
provável que haja um aumento da segurança. Isso ocorre porque em cidades vivas, sempre há
“olhos nas ruas” e, frequentemente, “olhos sobre as ruas”, já que seguir e acompanhar o que
acontece nas ruas acabou se tornando algo atrativo e significante aos usuários dos edifícios do
entorno. A cidade sustentável esta aliada a mobilidade urbana, onde com um bom transporte
público as bicicletas e aos pedestres, obtêm-se a possibilidade de alcançar áreas distantes, sem
sobrecarregar as vias e diminuindo a poluição na cidade.
Por fim, a cidade saudável apresenta que a falta de atividade física na rotina diária pode
gerar problemas de obesidade, diminuição da qualidade de vida, aumento no custo de saúde e
menor expectativa de vida. A solução para este problema pode estar em estabelecer, dentro da
cidade, objetivos gerais que definam oportunidades e infraestruturas para que o trafego de
pedestres e bicicletas possam ocupar um local de destaque na vida cotidiana. (GEHL, 2015)
Outro conceito trabalhado dentro das diretrizes urbanas também está na questão de
novas centralidades. A descentralização das cidades pode ser compreendida através do método
de Christaller apud Bradford e Kent (1987) que trabalha com as áreas de abrangência de
mercados para formular a teoria dos lugares centrais. O autor baseou sua teoria em um conjunto
de pressupostos a fim de simplificar a realidade, onde concluiu que um único polo central de
bens e serviços se torna de difícil acesso as comunidades mais distante e que o ideal seriam
pequenos polos espalhados que não possuíam todos os serviços do polo central, mas que
atendiam as necessidades de primeiro grau, como mercados, das comunidades afastadas.
Este conceito aplica-se as cidades no que diz respeito a policentros, que suprem as
necessidades de primeiro grau das comunidades mais próximas para que não seja tão intenso
do tráfego com sentido ao centro.
Além das pesquisas bibliográficas, foram realizados três estudos de caso. O primeiro
sobre a cidade de Copenhague, capital da Dinamarca, por ser um exemplo atual e extremamente
difundido no mundo que trata o conceito “Cidade para as Pessoas” em toda a sua extensão. O
segundo é o Projeto Beira Rio, na cidade de Piracicaba SP, que foi trabalhado por ser o primeiro
projeto urbano brasileiro a tratar da retomada da relação da cidade com o meio ambiente, através
do rio que corta a malha urbana. Por fim, o terceiro estudo de caso é um trabalho acadêmico
sobre a Reabilitação Urbana da Cidade de Erechim que utiliza o conceito de “Cidade para as
Pessoas” e “Nova Centralidade” em um contexto mais próximo a realidade da cidade de Seara
SC.
97

Após toda a pesquisa anteriormente apresentada, também buscou-se conhecer melhor a


cidade a ser trabalhada, Seara SC, e para isso buscou-se três autores: Gonçalves (2006), Paludo
(1985) e Fabrin (2013). Gonçalves (2006) apresenta a história da colonização na região, que
segundo ele teve início por volta de 1924 pela empresa Luce, Rosa e Cia e, principalmente, Rio
Branco Ltda, que dividiram e venderam as terras, para agricultores pobres, oriundos do Rio
Grande do Sul. Nos primeiros anos da colonização, o rio Uruguai era utilizado para o
escoamento da produção, principalmente da madeira que era retirada da região, sendo essa a
principal fonte de renda da população que ali vivia.
Quando ao contexto cultural, segundo Fabrin (FABRIN, 2013), a maioria da população
era oriunda de imigração italiana, e os costumes e dizeres da época continuam presentes nos
dias atuais.
Por fim Paludo (1985) conta a história propriamente dita do município. Segundo ele, foi
em 1944 que a vila Nova Milano, se tornara distrito da comarca de Concordia e passara a
receber o nome de Seara, pois Milano remetia a cidade italiana e o Brasil encontrava-se em
posição contraria a Itália na Segunda Guerra Mundial. O nome Seara veio em homenagem ao
Engenheiro Agrimensor Carlos Otaviano Seara, que veio de Florianópolis para fazer o
levantamento da estrada que ligava Nova Milano a Chapecó, e também ao fato de Seara
significar campo de cereais, já que na década de cinquenta, os cereais se tornaram a principal
fonte de renda, pela construção do moinho, que entrou em funcionamento no ano de 1951, com
moagem de trigo, milho, descascamento de arroz e depois fabricação de rações para suínos. Foi
o moinho que alavancou a economia do distrito ao ponto de torna-lo, em 1953, município.
Porém, com o passar do tempo, o moinho começou a perder sua força, e então, em 1957, teve-
se a ideia da construção de um frigorifico, a atual Seara Alimentos. Empresa está que
atualmente é a principal fonte de renda e emprego do município e se tornou fator determinante
no modo de crescimento da malha urbana. Atualmente o município de Seara possui 16.936
habitantes, espalhados ao longo de seus 313 km², em uma altitude média de 550 m.
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2016)

3 METODOLOGIA

O presente trabalho faz uso do método indutivo, através de pesquisa descritiva,


contemplando documentos, bibliografias e estudos de caso, com coleta de dados originários de
observação, documentos e imagens, tendo como público alvo a população searaense e com
interpretação de dados qualitativos. Sob o enfoque desta pesquisa que pode ser considerada
98

segundo (GIL, 2010) como exploratória, pois, tem como objetivo proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito, envolvendo levantamento
bibliográfico, entrevista com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema
pesquisado e estudos de casos.
Diante do exposto (GIL, 2010), caracteriza a pesquisa “baseada exclusivamente em
dados já publicados em livros, revistas, jornais e material eletrônico”, como bibliográfica. Além
disso, afirma que a pesquisa documental, utiliza a fonte de documentos conservados em
arquivos de instituições públicas ou privadas, sendo eles, mapas, manuais, fotos, atas, relatórios,
jurídicos, publicações, fontes estatísticas, entre outros.
Sendo que ele será trabalhado e apresentado na seguinte sequência: estudos de caso:
estudo sobre realidades semelhantes ao que será proposto em projeto; levantamento histórico:
pesquisa a respeito da história do município de Seara e elaboração de mapa, representando o
crescimento urbano da cidade; levantamentos físico-ambientais: elaboração e análise de mapas
do perímetro urbano, a partir de coleta de dados da população, da mobilidade urbana, do lazer
e de condicionantes físicas e climáticas para desenvolver um mapa síntese e então demarcar os
pontos chaves a serem trabalhados; e desenvolvimento de diretrizes: baseado nos levantamentos
anteriores, em estudos bibliográficos e de caso, elaboração de maneiras e ações a serem
aplicadas para melhoria da qualidade de vida em Seara.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Antes de serem elaboradas as diretrizes para revitalização, foi realizada uma série de
levantamentos, coleta de dados e análises da legislação para servir de base ao trabalho. O
primeiro deles foi o levantamento a respeito da legislação vigente no município, seu plano
diretor, lei de parcelamento de solo e código de obras. A partir dele foi realizada uma análise
onde observou-se que o município contava com dois planos diretores, um vigente desde 1986
e outro que encontrava-se em tramitação. Dentro de ambos foram vistos aspectos sobre o uso
do solo, o número de pavimentos, o afastamento, tanto de vias como das margens dos rios (área
de preservação permanente), e sistema viário.
Verificou-se que o plano diretor vigente determina distancias mínimas para os dois
principais rios da cidade, Rio Toldo e Rio Caçador, e para os demais rios, porém muito
defasadas em relação ao que prega a Seção I, Capítulo II, da Lei 12.651 de 25 de Maio de 2012,
e ainda, não estão determinadas as áreas de preservação permanente nos lagos, nascentes e em
inclinações superiores a 45%. Além disso, destaca-se a questão do sistema viário, onde as
99

larguras mínimas de vias são muito inferiores ao trafego que suportam e prejudicam a
mobilidade urbana.
O plano diretor em tramitação apresenta algumas soluções para estes problemas, na
questão da área de preservação permanente o plano determina que em áreas consolidadas
afastamento mínimo de 15 metros para cada margem dos rios e 30 metros de raio de nascentes;
em áreas não consolidadas 30 metros para cada margem dos rios e 50 metros de raio de
nascentes; e em córregos canalizados uma faixa de 5 metros para cada lado, aproximando-se
mais do que o Código Florestal determina. Já no que diz respeito ao sistema viário foram
realizadas algumas alterações, porém as larguras podem continuar a serem consideradas
pequenas se pensadas para o futuro, já que não permitem: espaço para estacionamento, para
mais do que uma via em cada sentido, para abertura de ciclovias e para paradas de ônibus.
Em seguida foram realizados levantamentos da cidade que Seara que resultaram em 20
mapas, que abordam a distribuição dos bairros e pontos referenciais, uso do solo, número de
pavimentos, vazios urbanos, densidade, topografia, áreas verdes, sistema viário, transporte
coletivo, condicionantes climáticas, hidrografia urbana e municipal, eixos viários municipais,
levantamento fotográfico do Rio Caçador, levantamento das edificações nas áreas de APP e
identificação de carências e potencialidades.
A partir destes mapas constatou-se que devido a sua topografia bastante acidentada, a
malha urbana se desenvolveu muito dispersa, pouco densa e com vários vazios urbanos. A
maioria dos serviços e comércios encontram-se no centro, e nos bairros mais afastados a
predominância é de edificações residenciais. Desta forma existe uma falta de vitalidade urbana
no cenário geral, já que o centro é o único que possui atrativos a vida nas ruas. Além disso
existe um sério problema de mobilidade urbana, pois a população mais distante, por não possuir
o comércio e serviço necessário próximo, tem que se locomover longas distancias até o centro.
A situação da mobilidade também é agravada pela falta de organização e disponibilidade
do transporte coletivo, e pela disposição do sistema viário, que possui poucas vias arteriais e
tanto elas, como as vias coletoras, apresentam-se algumas vezes em condições desfavoráveis
ao fluxo que sustentam, já que são estreitas e de pavimentação degradada.
Outro problema e o fluxo de caminhões intenso devido ao frigorifico localizado em
meio a malha urbana. Foi aprovado um contorno viário para o município, a fim de solucionar
um grave problema que o acesso a Seara sentido Chapecó vinha causando, porém quanto a
aliviar o trafego de veículos pesados, ele não tem papel tão importante, pois mesmo auxiliando
neste sentido, o maior fluxo pesado com destino ao Frigorifico é proveniente de Concórdia e
não de Chapecó.
100

Quanto ao sistema hidrográfico, a cidade possui alguns córregos e rios permeando sua
malha urbana, entre eles destacam-se o Rio Toldo e o Rio Caçador. Na malha urbana existente
foi verificado que não existem nascentes, porém as mesmas estão localizadas em locais
considerados de futura expansão, deste modo, devem ser protegidas conforme prega o Código
Florestal. Devido ao Rio Caçador ter seu leito alterado e ter sido canalizado no trajeto que
percorre dentro do terreno do frigorifico, a cidade tem sofrido, em chuvas torrenciais atípicas,
com enchentes em alguns pontos, todos eles demarcados por este trabalho.
Outra condicionante relevante a questão das enchentes está no fato de muitas edificações
avançarem o recuo determinado no código florestal, por este motivo foi feito um levantamento
fotográfico de todo o trajeto em que o Rio Caçador atravessa a cidade, e verificou-se uma
situação gravíssima, onde existe mais de uma edificação com sua fundação exatamente as
margens do rio.
Por fim, foi elaborado o mapa síntese onde observou-se conflitos de mobilidade urbana,
conflitos gerais, espaços de lazer existentes e potencialidades. Os conflitos de mobilidade
apresentam problemas como: fluxo intenso de veículos, veículos pesados e pedestres em
determinados pontos chave, aos quais não se consegue desviar devido ao sistema viário
existente e que são mal sinalizados e organizados. Além de problemas na questão de
estacionamento, pois os principais serviços encontram-se todos no mesmo lugar, o centro da
cidade.
Os conflitos gerais se resumem ao conflito sonoro entre a igreja, o hospital e o centro
comunitário; a saída de funcionários nos horários de pico, que dificultam o trânsito e o
comercio, pois não existe local de descanso e espera próximo a empresa, então as fachadas das
lojas ficam barradas pelo grande fluxo de funcionários; e o impacto visual causado pelo muro
do frigorifico, que e pouco atrativo a vitalidade urbana.
As áreas de lazer existentes são poucas, com pouca utilidade e apenas uma é fortemente
frequentada. As potencialidades são: a praça do centro da cidade que possui boa infraestrutura,
porém pouco atrativos; espaço com situação mirante em local já frequentado para caminhadas
e que pode ser utilizado para implantação de uma praça; vazios urbanos em locais estratégicos
que podem ser utilizados para atividades culturais e de lazer; locais com perfil para se tornarem
policentros; e a área de preservação do Rio Caçador, onde pode ser implantado um parque linear
que liga a cidade através de pista de caminhada e ciclovia.
Posteriormente aos levantamentos citados também foram ouvidas, através de conversas
informais, pessoas de diferentes classes sociais e pertencentes ou representantes das diversas
entidades do município. Foram levantadas questões referentes as carências e conflitos que cada
101

uma julgava relevante dentro da cidade, além de ideias para melhorias. Com isso notou-se que
a população solicita melhorias como: criação de praças e espaços de lazer, um local para cursos
e eventos culturais, locais para a pratica de esporte, pavimentação de qualidade nas calçadas,
melhor organização do transito, criação de novas vias, mais locais para estacionamento,
transporte público de qualidade, edifícios institucionais, como creches, mais próximos e de
acesso fácil, limpeza dos rios, melhor aproveitamento e preservação dos recursos naturais, entre
outros.
Por fim, como último dos levantamentos também foi realizado um estudo a respeito de
uma tipologia arquitetônica predominante, para que pudesse ser utilizado nos edifícios
propostos pelas diretrizes, onde concluiu-se que boa parte das edificações, principalmente as
mais antigas, ainda do início da formação da cidade, tinham em comum uma mesma
característica de possuir de 1 a 2 pavimentos, com telhado aparente de duas águas, planta
geométrica quadrada ou retangular e serem feitas de madeira e alvenaria.
Entrando nas diretrizes e projeto propostos, o público alvo utilizado engloba toda a
população searaense, pois o projeto foi pensado para o bem estar e a qualidade de vida destas
pessoas.
O conceito baseiam-se principalmente em “cidades para pessoas”, onde são indicadas
situações e preceitos que evidenciam a relação da cidade com sua população e maneiras de
tornar o meio urbano mais humano e social. Este conceito trabalha com ideias de uma boa
densidade, ou seja, o adensamento de áreas desde que possuam relação dos pavimentos com a
rua e uma diversidade de usos, unindo comércio, serviço e residência para que assim as pessoas
possam trabalhar, estudar e morar em um mesmo local. Tais ações fazem com que a cidade se
torne mais viva, pois os espaços ganham flexibilidade de usos, tornando os locais mais seguros,
já que existem pessoas circulando durante todo o dia e cria-se um senso de comunidade onde
sempre existem olhos nas ruas para qualquer eventualidade que aconteça, já que existe mais
contato e conhecimento a respeito das pessoas que vivem ao redor.
Além do conceito “cidade para pessoas” também utiliza-se de: questões ambientais,
sempre promovendo a preservação dos recursos naturais dentro da cidade, de modo a introduzir
a comunidade nas áreas verdes através de espaços lazer; equilíbrio de infraestrutura destinada
a cada modal, retirando o automóvel de situação privilegiada e buscando novas formas de se
locomover pela cidade, seja através do uso da bicicleta, da caminhada, do transporte público
e/ou uma relação entre todos; e da ideia de “novas centralidades” que seriam novos centros
mais afastados e com alguns serviços que o centro principal oferece, mas que possuíssem
serviços básicos para que os moradores mais distantes não precisassem se locomover longas
102

distancias para, por exemplo, comprar alimentos e pagar contas, o que ajuda muito a questão
de mobilidade.
Para nortearem o Projeto de Revitalização Urbana para Seara foram elaboradas as
seguintes diretrizes:
 Integração do território municipal visando minimizar as disparidades internas
norteando novas centralidades, através das seguintes ações: elaborar roteiros observado as
condicionantes ambientais, como cursos d’água, topografia e clima; criar projetos interligados
a partir de potencialidades naturais existentes; Determinar novos pontos ou adequar pontos
existentes para que se desenvolva uma atividade mista com comércio e serviço vicinais afim de
atender as regiões mais distantes do centro.
 Valorização da atividade cultural no âmbito local por meio da integração das
dinâmicas culturais e espaciais, a partir das ações a seguir: desenvolver roteiro cultural;
valorização de temas regionais; criar projetos integrados em escalas variadas.
 Melhoria na mobilidade urbana e utilização da mesma como uma forma de
integração entre os policentros, da seguinte forma: criar novas rotas e vias de ligação; modificar
sentido e organização das vias; incentivar o uso de meios de locomoção, como a bicicleta e o
transporte coletivo, de maneira integrada.
No partido, como ponto chave para aplicação do conceito e do programa de
necessidades, está o parque linear, sendo utilizado como a linha de conexão entre as áreas de
intervenção, servindo de forma efetiva, já que a mobilidade urbana estaria diretamente ligada a
ele, através da ciclovia e pistas de caminhada, e desta forma direciona o usuário ao longo dos
pontos pensados para melhorias urbanas, agindo como espaço comum de ligação entre todo o
projeto.
O programa de necessidades, encontra-se dividido em quatro categorias, cada qual com
suas necessidades e descritos a seguir:
 Parque Linear: proposta de uma parque linear ao longo das margens do Rio
Caçador como forma de interligar pontos de atividades culturais, as novas centralidades e o
centro da cidade, contemplando os seguintes itens: pista de caminhada; ciclovia; espaços
institucionais voltado ao parque; equipamentos de lazer e contemplação; estravasores para as
cheias; conexões entre pontos importantes da cidade.
 Descentralização através de Policentros de diferentes escalas: localizar locais
que necessitam de uma nova centralidade para atender seu entorno e desafogar o centro de
seara, através dos seguintes itens: comércio de primeira necessidade; serviço de primeira
103

necessidades; dependendo da escala proposta, comércio e serviços de menor necessidade, mas


que deixariam o centro menos sobrecarregado.
 Espaço culturais, sociais e de serviço: são vazios urbanos ou áreas abertas que
poderiam ser trabalhados e conectados ao parque linear, que possuiriam os itens a seguir: local
para feiras; local para eventos; auditório fechado; local para atividades esportivas; local para
descanso; terminal rodoviário urbano.
 Novas conexões do sistema viário: ligações que poderiam, juntamente com os
três itens anteriores, melhorar a questão da mobilidade urbana através de: novas conexões;
melhorias nas vias de maior fluxo; alteração no fluxo de algumas vias; incentivo ao uso da
bicicleta e do transporte público ao invés do automóvel para locomoção.
Para encerrar são apresentadas as propostas do projeto que seguiram por quatro
vertentes: proposta de mobilidade urbana, proposta de novas centralidade, proposta para o meio
ambiente e diretrizes para o plano diretor e proposta de seções. A proposta de mobilidade
urbana, teve seu foco na abertura de vias em locais estratégicos, incentivo do uso da bicicleta
como locomoção criando uma ligação direta entre os pontos mais afastados, como o centro da
cidade, e a colocação de semáforos em pontos chave de fluxo intenso.
A proposta de novas centralidades, tem como objetivo prever zonas onde seria
interessante térreos ativos de maneira a tornar a rua um espaço público agradável e áreas onde
poderiam ser colocadas novas centralidades para que a população mais distante do centro
tivesse acesso aos serviços públicos de maneira facilitada. As propostas para o meio ambiente
são divididas em áreas de preservação determinadas pelo Plano Diretor em Tramitação,
proposta de parque linear, proposta de pontos extravasores e proposta de áreas para instalação
de valas de infiltração.
A proposta de seções consiste nas áreas de intervenção propostas. Para melhor dividi-
las, assim como o trajeto da ciclovia, a área a ser trabalhada foi dividida em nove seções ao
longo do percurso feito pelo Rio Caçador dentro da cidade. Cada uma destas seções foi pensada
para promover a qualidade de vida da população através da vitalidade urbana destacada pelo
conceito “Cidade para as Pessoas”, de forma a se interagir com a preservação ambiental e de
maneira a melhorar a mobilidade urbana.
A Seção 01 engloba pista de caminhada, ciclovia e uma praça. Este três elementos
encontram-se dispostos de maneira integrada, com destaque para a praça que encontra-se em
situação mirante, com vegetação e mobiliário dispostos de forma a possibilitar um espaço para
caminhada, pedalada, passeios familiares, pequenos eventos, apresentações, encontros e
descansos.
104

A Seção 02 possui, além da ciclovia e pista de caminhada que estão presentes em todas
a seções, uma praça com quadra de tênis, que também tem função multiuso, para criar um
atrativo a fim de que se percorra a ciclovia e para incentivar a pratica de esporte.
Na Seção 03, além de praças também se começa a propor edificações. A primeira delas,
Espaço APAE e AMAIS, foi pensada para ser sede de ambas as associações, a Associação de
Pais e Amigos Excepcionais e a Associação Amigos dos Animais, porém com seus fluxos
devidamente separados. A segunda das edificações propostas foi a Creche Infantil, prevista para
ocupar local estratégico em um ponto mais afastado da cidade, de modo a atender a demanda
das zonas residenciais ao seu redor, e ser de fácil acesso já que encontra-se perto de uma via
arterial. A terceira das edificações é uma edificação proposta para atender como uma filial da
prefeitura e prestar alguns serviços de cartório e afins. Além disso, também foi pensada uma
praça, que visa atender as crianças de modo geral, mas com espaços com quiosques para que
seja utilizada tanto pela Creche Infantil, como pelas outras creches do município.
Na Seção 04 é proposto um horto florestal e uma praça. O Horto Florestal foi pensado
para manutenção das áreas verdes e de preservação, algumas delas já presentes em seu entorno.
A ideia e que sejam feitas parcerias com as escolas locais, para que projetos voltadas ao meio
ambiente e educação ambiental possam ocorrer neste espaço.
A Seção 05 enquadra-se mais como uma seção de ligação, contudo, além de dar
continuidade a pista de caminhada e a ciclovia, possui duas funções muito importantes: que
futuramente seja um ponto extravasor podendo ser ocupado por um jardim de chuva, e nele é
proposto um emolduramento da ciclovia e da calçada com o intuito de proteger o pedestre e o
ciclistas do sol, mais principalmente, amenizar o impacto visual negativo que a grande extensão
do muro da Seara Alimentos S. A. proporciona.
A Seção 06 são propostas duas praças, um centro de eventos e um espaço de esporte e
eventos. A Praça dos Funcionários foi pensada para servir de local de descanso aos funcionários
da Seara Alimentos, que desta forma desocupariam as fachadas das lojas próximas. O Espaço
Esporte e Eventos ocuparia o atual espaço da sede da Associação Desportiva Cultural Seara
para que abrigue, além dos serviços da sede, também feiras, eventos e competições esportivas.
O Centro de Eventos, foi projetado para abrigar cursos como dança, violão, teatro e a banda
municipal, e um auditório com capacidade por volta de 500 pessoas, já que no município não
existe um local deste porte para eventos. Para ligar o Espaço Esporte e Eventos e o Centro de
Eventos, foi proposta uma praça, para que servisse como ponte de conexão entre as edificações
fazendo com que eventos possam ser conectados.
105

Na Seção 07 a ciclovia continua seu percurso, permeando, em alguns trechos as praças


e espaços propostos. O primeiro destes espaços é a Praça da Juventude, em local já bastante
frequentado pelos jovens aos finais de semana. Na frente desta praça foi prevista a edificação
Assistência Social e Educação, pensada para servir de sede dos cursos oferecidos pela
assistência social, que hoje utilizam espaços cedidos dentro do terminal rodoviário. Próximo ao
Rio Caçador, também são propostos jardins de chuva sobre local onde atualmente encontram-
se edificações dentro da zona de alagamento. Além disso é proposta a Praça da Cachoeira,
espaço de lazer que também serve como local para infiltração de água, em caso de chuvas
torrenciais. A Seção 08 tem apenas uma função principal, a de ligação tanto da ciclovia como
das seções vizinhas, para que haja continuidade na proposta.
A última das seções propostas, Seção 09, abrange o centro da cidade, nela a ciclovia
passa junto com a avenida principal para no fim ser ligada a uma ciclovia de lazer já proposta
pela prefeitura da cidade em direção a Linha Água Bonita. Neste caminho ela passa por duas
praças, a Praça de Skate e a Pracinha, locais de encontro, descanso e lazer. Além disso, é
proposta a última edificação das seções, o Restaurante Público, que foi projetado para ser um
atrativo a principal e mais antiga praça da cidade, que já possui boa infraestrutura, porém é
pouco frequentada. Este restaurante está previsto para atender as pessoas que trabalham no
centro, porém moram em bairros afastados, desta forma podem aproveitar melhor seu intervalo
de serviço e conseguir uma alimentação a preço mais acessível.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração do presente trabalho possibilitou a análise acerca da situação da cidade de


Seara (SC) em questões físicas ambientais e de planejamento urbano, relacionando situações
encontradas com conceitos difundidos mundialmente sobre assuntos como mobilidade urbana,
preservação de recursos naturais, vitalidade urbana e novas centralidades.
De modo geral, a população da cidade busca meios de realizar atividades de lazer e bem
estar, porém depara-se com infraestrutura insuficiente para tal. Foram observadas e demarcadas
áreas onde encontram-se os maiores problemas, ou a maior quantidade deles, e locais que já
vem sendo utilizados ou que fazem parte da rotina e que poderiam ser trabalhados dentro das
diretrizes.
Na fundamentação teórica foram buscados autores que tratassem de assuntos e conceitos
que pudessem ser unidos e adaptados à realidade da cidade, de maneira a contribuir com as
diretrizes para amenizar problemas e promover melhorias urbanas. Nesta etapa se destacou
106

principalmente as ideias de Jan Gehl sob o tema cidade para as pessoas, que já relaciona dentro
de si a vitalidade urbana com as outras questões a serem abordadas, mobilidade, meio ambiente
e novas centralidades.
Para o estudo foram elaborados quatro objetivos, todos alcançados ao longo do trabalho.
O primeiro deles foram três estudos de caso trazendo informações de projetos implementados
ou não, que contribuíram para ligar os conceitos presentes na fundamentação teórica com
projetos e ações efetivas, de maneira a nortear as diretrizes de projeto. O segundo foi a pesquisa
bibliográfica a respeito da história da cidade de Seara para que ficasse claro o contexto o qual
está inserida. O terceiro foi o levantamento físico ambiental da área onde foram apresentados
mapas que abordam a distribuição dos bairros e pontos referenciais, uso do solo, número de
pavimentos, vazios urbanos, densidade, topografia, áreas verdes, sistema viário, transporte
coletivo, condicionantes climáticas, hidrografia urbana e municipal, eixos viários municipais,
levantamento fotográfico do Rio Caçador, levantamento das edificações nas áreas de APP e
identificação de carências e potencialidades, além de um breve estudo de tipologias
arquitetônicas presentes na cidade. O quarto e último objetivo foi a determinação de diretrizes
que utilizaram as informações conseguidas a partir dos três objetivos anteriores.
Estas diretrizes elaboradas serviram para orientar as propostas de revitalização urbana
que foram divididas conforme o campo que contemplam, seja mobilidade urbana, novas
centralidades ou meio ambiente. Além disso, a área de abrangência, determinada pelo eixo do
Rio Caçador que atravessa a cidade, é dividida em seções que se relacionam entre si, mas que
possuem suas particularidades e funções especificas, para que juntas possam melhorar a
qualidade de vida e bem estar da população e tornar Seara um pouco mais voltada para as
pessoas.

REFERÊNCIAS

BRADFORD, M. G.; KENT, W. A. Geografia Humana: Teorias e suas Aplicações. Lisboa:


Gradiva, 1987.

DEL RIO, V. Introdução ao Desenho Urbano no Processo de Planejamento. São Paulo:


Pini, 1990.

FABRIN, J. B. G. Seara: Dei Nostri Ricordi: Sincretismo Cultural em Nova Milano (Seara)
Visto a Partir das Culturas Ítalo-Brasileiras 1920-1960. Xanxerê: News Print, 2013.

GEHL, J. Cidade Para Pessoas. Tradução de Anita Di Marco. 3ª. ed. São Paulo: Perspectiva,
2015.
107

GIL, C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5ª. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GONÇALVES, E. L. História de Seara: Processo de Colonização. In: ZOTTI, S. A. História


Faz História: Contribuições do Estudo da História Regional. Concórdia: Universidade do
Contestado, 2006. p. 291-310.

GORSKI, M. C. B. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo: Senac São Paulo,
2010.

HOUGH, M. Naturaleza y Ciudad: Planificación Urbana y Processos Ecológicos.


Barcelona: Gustavo Gili S.A., 1998.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Seara, 2016. Disponivel


em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=
421750&search=santa -catarina|seara|infograficos:-informacoes-completas>. Acesso em:
2016 Fevereiro 2016.

JACOBS, J. Morte e Vida de Grandes Cidades. Tradução de Carlos S. Mendes Rosa. 3ª. ed.
São Paulo: WMF Martin Fontes, 2011.

LERNER, J. A Song Of The City, Março 2007. Disponivel em:


<https://www.ted.com/talks/jaime_lerner_sings_of_the_city>. Acesso em: 16 Maio 2016.

MINISTÉRIO DAS CIDADES. PlanMob: Caderno de Referência para Elaboração de Plano


de Mobilidade Urbana. [S.l.]: [s.n.], 2015b. Disponivel em:
<http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSE/planmob.pdf>. Acesso em: 14 Maio
2016.

PALUDO, B. A. Álbum de Família. Chapecó: Grafisel, 1985.

SABBAG, J. A. A. Brasilia, 50 anos: do Urbanismo Moderno ao Planejamento Estratégico,


2012. Disponivel em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/10730
/1/2012_JulianeAlbuquerqueAbeSabbag.pdf>. Acesso em: 10 Maio 2016.

SABOYA, R. T. D. Permanência e Renovação da Morfologia Urbana Modernista: Um Estudo


de Caso sobre Angélica – MS. Arquitextos, São Paulo, Junho 2010. ISSN 121.05. Disponivel
em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/ 11.121/3448>. Acesso em: 09
Maio 2016. ano 11.

SOUZA, M. L. D. Participação Popular no Planejamento e na Gestão Urbano no Brasil: Vinte


Anos de Esforços, Conquistas e Tropeços (1986-2005). In: PEREIRA, E. M. Planejamento
Urbano no Brasil: Conceitos, Diálogos e Práticas. Chapecó: Argos, 2008. p. 111-126.

SPIRN, A. W. O Jardim de Granito: A Natureza no Desenho da Cidade. São Paulo:


Universidade de São Paulo, 1995.

Você também pode gostar