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Maio 2020
ISSN: 1645-443X - Depósito Legal: 86929/95
P r a ç a1645-443X
ISSN: D. Afonso- V , n º 8 6 , Legal:
Depósito 4 1 5 0 - 086929/95
24 P o r t o - P O R TU G A L Ano LII- nº 401
Praça D. Afonso V, nº 86, 4150-024 Porto - PORTUGAL
NO SILÊNCIO DESTA NOITE UMA LUZ BRILHA PARA NÓS
perfeito dessa bondade.
O nosso orgulho, as nossas aspirações de
poder, o nosso desejo de autossuficiência,
conduziram-nos à terra da escravidão, simbo-
LAICADO DOMINICANO
lizada na escravidão do povo de Israel no
Egipto; contudo, essa escravidão não é do
agrado de Deus, não é manifestação da sua
glória, e por isso Deus liberta o povo, fá-lo
atravessar o Mar Vermelho e deixa-o ver des-
truídos os seus opressores. Hoje, ainda hoje,
Deus continua a não se satisfazer com as es-
cravidões em que nos envolvemos, com as
idolatrias que construímos.
E se ao povo de Israel Deus ofereceu uma
Após os quarenta dias da Quaresma, e este Lei no monte Sinai, um caminho de vida co-
ano de uma Quaresma diferente do que está- mo nos é dito, nas leituras dos diversos profe-
vamos habituados, devido à situação de pan- tas que escutámos esta noite, percebemos que
demia em que nos encontramos e ao isola- Deus continuou a oferecer caminhos de vida,
mento social a que todos nós fomos obriga- que de cada vez que o povo se desviava e era
dos, eis que nos encontramos a celebrar a infiel à aliança que tinha estabelecido com
Vigília Pascal, a viver e a celebrar esta noite Deus, que de cada vez que o homem se des-
santa, a maior de todas as noites, em que, via da sua plenitude divina, Deus continua a
como escutávamos no Precónio Pascal, se oferecer caminhos de vida.
afugentam os crimes, se lavam as culpas, se Podemos perguntar-nos se toda esta situa-
restitui a inocência aos pecadores, se dá a ale- ção que estamos a viver não é uma oportuni-
gria aos tristes, se estabelece a concórdia e a dade que Deus nos oferece para sairmos dos
paz. caminhos de perdição em que nos tínhamos
Se lá fora é uma noite igual a todas as noi- envolvido em situações de escravidão. Não é
tes, para nós é uma noite diferente, uma noi- que Deus queira o mal, o sofrimento ou a
te de luz, simbolizada no círio pascal e nas morte, mas a criação da qual fazemos parte,
velas que acendemos, é uma noite de água, que é boa e bela, tem princípios, tem regras,
dessa água que nos regenera no baptismo, é tem um mecanismo de funcionamento que
uma noite de festa, cantamos e louvamos o nos pode conduzir ao bem, mas quando não
Senhor, é também uma noite de esperança, respeitado nos conduz inevitavelmente à des-
pois a Palavra de Deus que escutámos revela- truição, ao mal.
nos a bondade de Deus, de um Deus que nos Hoje, e tal como nos dizia o profeta Ba-
ama, que se compadece de nós, que nos con- ruc, Deus quer que aprendamos a prudência,
cede novas oportunidades, que nos liberta do que sejamos prudentes, pois dessa forma en-
pecado e da morte pela Paixão e Ressurreição contramos a longevidade e a vida, encontra-
do seu Filho Jesus. mos a sabedoria que nos faz apreciar a bonda-
O relato da criação que escutámos na pri- de e a beleza de Deus na sua criação.
meira leitura mostra-nos a obra que Deus O nosso irmão Frei Xavier, de grata me-
realizou, mas sobretudo e de modo incisivo mória, dizia muitas vezes que o seguro mor-
mostra-nos a bondade e a beleza que Deus reu de velho, que o desconfiado ainda cá an-
encontrou nela. Feita com amor, a bondade da e que a dona prudência foi ao funeral dos
de Deus está ali presente, e o homem criado dois. Deus quer que aprendamos a prudên-
à sua imagem e semelhança é o espelho mais cia.
(continua na página seguinte)
Laicado Dominicano Maio 2020

(continuação da página 1) São Paulo nos recorda na Carta aos Romanos, é que
Também hoje, e como nos dizia também o profeta todos nós fomos baptizados em Cristo, fomos sepulta-
Ezequiel, Deus quer dar-nos um coração novo, um dos na sua morte e tal aconteceu para vivermos a sua
espírito novo, quer retirar-nos o coração de pedra que ressurreição, para vivermos uma vida nova cujas conse-
nos encerra no nosso egoísmo e orgulho, na nossa au- quências e efeitos não só se fazem sentir já no presen-
tossuficiência. Deus, como no primeiro momento da te, mas têm repercussão na eternidade.
criação, quer-nos humanos, mais humanos, mais aten- Celebrar a Páscoa da Ressurreição de Jesus é um
tos uns aos outros, pois em cada um de nós está não apelo, um convite a renovar o espírito de cada um de
só a sua imagem e semelhança, mas a sua verdadeira nós, a olhar o Deus que nos ama como Pai, que nos
presença, nós somos templos de Deus. convoca a colaborar na sua obra, que nos deseja em
Não estaríamos todos nós demasiados absorvidos cada Páscoa uma vida nova, mas também em cada dia
nas coisas do mundo? Não nos teríamos esquecido que sejamos renovados no corpo e no espírito, cuidan-
que somos habitantes de uma casa comum, que se cha- do uns dos outros, porque inevitavelmente no passa-
ma terra, e que como nos dizia o Papa Francisco, se a do, no presente e ainda mais no futuro estamos em
casa está doente, está a cair, nós estamos tão doentes rede, dependemos uns dos outros; e, ou construímos
como ela? um mundo como pessoas, cuidando uns dos outros,
Não nos teríamos esquecido que somos parceiros, ou desapareceremos na voragem do tempo.
sócios, companheiros na construção da felicidade e do Que o Senhor nos ilumine e fortaleça, para sermos
bem de todos? Que sozinhos podemos ir mais longe, capazes de estar aten-
mas que de mãos dadas, ainda que apenas cheguemos tos não só às solicitu-
mais perto, vamos mais fortes? des dos nossos ir-
Nós próprios, a nossa comunidade de Cristo Rei, mãos, mas também
não está mais enriquecida depois desta situação que aos pequenos sinais
estamos a viver? O facto de celebrarmos todos os dias que Deus vai colo-
a Eucaristia comunitária, de rezarmos as Laudes na cando na nossa vida
igreja, que irmãos nossos nos possam acompanhar ain- para nos renovarmos
da que de longe, não fez com que estejamos mais for- e construirmos o seu
tes, mais unidos? Não somos mais sinal de Deus? E Reino.
não estamos mais fiéis à missão a que o Senhor nos
chama? Frei José Carlos Lopes Almeida,O.P.
O grande mistério que celebramos esta noite e que Pároco de Cristo-Rei, Porto

MENSAGEM DE PÁSCOA DO MESTRE GERAL DA ORDEM


Ser dominicano é pertencer a uma família! E essa chadas, dá-nos a sua paz e diz-nos para não ter medo.
família está no mundo inteiro. Frei Timothy envia os Quando todos parecem desesperados e nós nos senti-
seus cumprimentos desde Oxford, Inglaterra, Frei Car- mos impotentes, nosso Senhor ressuscitado assegura-
los de Bahía Blanca, Argentina, Frei Bruno de Pruille, nos que ele nos verá na "Galileia". É o lugar onde os
França, e estou aqui no quarto de São Domingos, em apóstolos encontraram a sua vocação. A nossa
Santa Sabina. Nós estamos todos unidos nesta situa- “Galileia”é a história da nossa vocação. Foi lá que Je-
ção, a enfrentar a ameaça de doenças e morte, cuidan- sus perguntou a Pedro: "Tu amas-me?" Como pregado-
do de doentes, lamentando a morte de alguns irmãos e res, leigos ou ordenados, ativos ou contemplativos,
irmãs, encontrando novas maneiras de pregar e com- tornamo-nos dominicanos porque dissemos "sim"
partilhar reflexões, convidando as pessoas juntarem-se quando ouvimos a mesma pergunta no fundo dos nos-
a nós online, na nossa oração e liturgia, realizando sos corações. E Jesus diz-nos: "Alimenta as minhas ove-
obras de misericórdia como compartilhar comida e lhas".
equipamento de proteção com o qual cuidam os doen- Hoje há tanta fome: fome pelo Pão da Vida, fome pela
tes. Palavra de Deus, fome de comida, fome de compaixão
Muitos cristãos celebraram o tríduo pascal com as por- e solidariedade. Pelo amor de Jesus, continuemos a
tas fechadas (...). E o mais importante, devem as nossas alimentar o rebanho do Senhor ressuscitado.
vidas manter-se na mesma depois da Páscoa? Nosso Frei Gerard Timoner,O.P.
Senhor ressuscitado entra quando as portas estão fe- Santa Sabina, Páscoa 2020
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Laicado Dominicano Maio 2020

NO TEU NOME E NA TUA PÁSCOA


caminho de Emaús (Lc 24,13-16), por exemplo, te-
rem dificuldade em o reconhecer. Para ver é preciso
habituar os olhos, deixar que o novo sopro transfor-
me a pedra em carne (Ez 36,26). Ontem como hoje,
somos desafiados a reconhecer Jesus no nosso quoti-
diano. Ou ainda, como se lê numa homilia de fr.
José Augusto Mourão: “Ver é estar de vigia ao que
deve surgir do fundo sem nome, do silêncio, sem
separarmos a linha da terra do céu. Ver é existir a
partir do nosso futuro.”2
A escolha crente dos baptizados é um sinal de que
Cristo vive. Deus “com Ele nos ressuscitou” (Ef 2,6).
A Igreja, de uma maneira muito concreta, é a comu-
nidade da Ressurreição que busca agir pelo e no
amor que herdou. Toda a humanidade tem lugar
O que é a ressurreição de Cristo? Talvez a melhor nela, porque não é um clube, mas uma irmandade
resposta seja esta: na verdade, não sabemos. É algo humana fundada num parentesco universal e no de-
que não compreendemos completamente. Isso não sejo de uma vida nova. Os evangelhos deixam claro
significa que não possamos pensar e conversar sobre que, como escreve fr. Herbert McCabe, “Cristo está
ela. Seja o que for, a ressurreição nada tem a ver com presente para nós na medida em que estivermos pre-
a restauração da vida ao cadáver de Jesus, entretanto sentes uns para os outros.”3
desaparecido. O Cristo ressuscitado não é um morto A nossa linguagem pode ser irremediavelmente
-vivo, vulgo “zombie”. Para o teólogo jesuíta Karl limitada, insuficiente, para traduzirmos o que tudo
Rahner, “no momento em que imaginamos um ho- isto significa, mas a fé e a razão exigem que continue-
mem morto a regressar mais uma vez à nossa dimen- mos a tentar. Fr. Mourão encontrou na poesia teoló-
são temporal, com as condições biológicas perten- gica (e também na litúrgica) uma forma de expressar
centes a ela, concebemos algo que nada tem a ver a dimensão real destes mistérios sem os desfazer,
com a ressurreição de Jesus e que não pode ter qual- aqui num excerto do poema “Jonas”:
quer significado para a nossa salvação também”.1
Mas como podemos conceber e falar sobre a reali- salva-nos, Deus, dos caminhos de fuga,
dade da ressurreição? Sem surpresa, os livros da Bí- do silêncio que leva à morte
blia dão uma ajuda preciosa. Após a morte de Jesus e orienta a nossa vida
a caminho do teu Nome e da tua Páscoa
na cruz, os evangelhos narram que só as mulheres
e da nossa ressurreição.4
permaneceram ao seu redor, unidas a ele. São elas
que anunciam o crucificado ressuscitado depois de o Sérgio Dias Branco, O.P:
verem (Mt 28,9-10). Mais tarde, os apóstolos reuni-
1
ram-se à porta fechada e “veio Jesus, pôs-se no meio Karl Rahner, SJ, The Content of Faith: The Best of Karl Rah-
ner’s Theological Writings, ed. Karl Lehmann, Albert Raffelt, e Har-
deles e disse-lhes: ‘A paz seja convosco.’” (Jo 20,19). vey D. Egan, SJ (Nova Iorque: Crossroad Publishing, 1993), 311-12
Noutro evangelho, lemos que se deu “a conhecer, ao (trad. minha).
2
José Augusto Mourão, OP, Quem Vigia o Vento Não Semeia
partir do pão” (Lc 24,35). Isto é, está entre nós, (Lisboa: Pedra Angular), 355.
quem o segue, especialmente quando celebramos a 3
Herbert McCabe, OP, The New Creation (Londres e Nova
Eucaristia, experiência de comunhão, última ceia Iorque: Continuum, 2010), xi (trad. minha).
4
José Augusto Mourão, OP, O Nome e a Forma: Poesia Reuni-
refeita. Jesus está presente, mas com outra aparência. da (Lisboa: Pedra Angular, 2009), 40.
Daí Maria Madalena (Jo 20,15) e os dois discípulos a
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Laicado Dominicano Maio 2020

FAMILIA DOMINICANA EM TEMPO DE PANDEMIA


TESTEMUNHOS

Este tempo de isola- monetárias e bens essenciais.


mento social, em que Maior confiança na certeza de que estamos nas
vivemos, apesar de tan- mãos de Deus e maior atenção umas às outras.
to sofrimento, a nível Impedidas de celebrar sacramentalmente a Eucaris-
mundial, por parte de tia e o sacramento da Penitencia, levou-nos a aprofun-
inúmeros seres huma- dar esta essência da vida cristã e religiosa, vivendo a
nos, afectados direta ou Eucaristia pelos meios de comunicação social em co-
indirectamente com munhão com a humanidade.
este Coronavírus – CO- Intensificámos o estudo e a reflexão pessoal e co-
VID-19, e da perda de munitária.
tantos seres humanos, Maior utilização das redes sociais para estarmos
considero tempo de mais próximas dos doentes, dos sós e dos grupos com
graça e de bênção para quem trabalhamos, ouvindo-os nas suas dificuldades e
a humanidade inteira e tristezas.
em especial para a nos- Vontade e compromisso em colaborar na edifica-
sa vida como Consagra- ção de um mundo melhor e mais ecológico.
das e como Dominicanas. Necessidade de conversão pessoal e comunitária,
A natureza, com este isolamento social, rejuvenes- acreditando que “estamos nas mãos de Deus e Ele
ceu e retomou “COR” a vida dos seres humanos, de vigiará sobre nós”, como dizia Teresa de Saldanha.
uma forma geral, voltou-se para o essencial, a família Este é um tempo de graça e de conversão interior,
nuclear e alargada. Começamos a valorizar mais o que pessoal e comunitariamente, enquanto Dominicanas
temos de mais importante, que são as relações pesso- de Santa Catarina de Sena.
ais e familiares e a comunidade como centro da nossa Que Maria Santíssima nos ensine a acolher Jesus e
vida Comunitária e Religiosa. a dá-Lo aos outros, com quem vivemos e com quem
Pessoalmente e em comunidade: cruzamos nas ruas da vida.
Vivência confiante em oração mais intensificada Santo dia cheio de muita paz e grande alegria pois
em todas as Comunidades com exposição do Santíssi- Deus é a nossa paz e essência.
mo, maior tempo de oração pessoal e comunitária. 03- 05-2020
Atenção aos mais necessitados, crianças, famílias, Ir Alzira Ferreira O.P.
Dominicana Santa Catarina de Sena
migrantes e sem abrigo, com telefonemos e ajudas
Portugal, oportunidade de parar, pensar e, claro está, de rezar
tal como (individualmente ou em família), para que neste tem-
o resto do po haja uma oportunidade para um encontro ainda
mundo, mais proveitoso com Deus, por via da contemplação.
está a pas- Esta atitude, necessariamente mais solitária, é também
sar por baseada no estudo da Palavra de Deus, pelo que pode-
um mo- rá permitir-nos cumprir o desígnio da pregação, como
m e nto bons dominicanos que desejamos ser. Isto é, partindo
difícil, do silêncio (pai dos pregadores) esta pregação, mais
motivado sincera, faz-se também com a própria vida; vida essa
pelo tão falado Coronavírus. Gostaria, desde já, de que se quer apoiar na coerência com o Evangelho e
dar uma palavra de gratidão a todos os profissionais em consonância com a vida nova que Cristo veio mos-
que, em virtude da sua missão, têm o dever de promo- trar ao Mundo. Com a consciência de que há dias e
ver a saúde e de zelar pela ordem e tranquilidade pú- horas difíceis, sabemos que não estamos sozinhos,
blicas. porque vivemos em comum união, com os outros e
Se, por um lado, vivemos algo agitados por causa com o nosso Salvador, em cuja providência nos pode-
de um fenómeno que para muitos é uma novidade, mos sempre apoiar.
por outro lado, podemos ver o lado bom, isto é, a (continua na página 5)

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Laicado Dominicano Maio 2020

(continuação da página 4) nais e telejornais, falando regularmente com a família.


Partindo da minha perspectiva, exclusivamente Todavia consegui estar mais próximo deste pai, que
pessoal, fazendo eu parte de uma família grande, a acima mencionei – o silêncio -não deixando de acom-
qual não pôde comemorar a Páscoa, e, tendo-me sido panhar as celebrações litúrgicas principais, através das
feita a recomendação de confinamento no domicílio, redes sociais e outros meios de comunicação digital.
aproveitei os longos períodos de silêncio não só para Com o fim do estado de emergência e o retomar lento
as minhas leituras e para os meus estudos, mas tam- da actividade, tudo se vai fazendo e vivendo conforme
bém para ter mais oportunidades de encontro com é possível.
Deus. Ia acompanhando a actualidade através de jor- José Alberto Oliveira, O.P.

há muito andávamos a reclamar, mas um tempo sem


perspectiva e que, portanto, nos provocava uma inér-
cia tremenda.
Mas há um tempo para tudo debaixo do sol, um
tempo para andar e um tempo para parar, e em cada
tempo Deus tem a capacidade de retirar o bem do
mal que acontece. E foi o que aconteceu com a comu-
nidade de Cristo Rei.
Isolada, sem compromissos exteriores, a comunida-
de recentrou-se no Ofício Divino e na Vida Comuni-
tária. As refeições passaram a contar com a presença
de todos e a voz de todos, ainda que às vezes mais de
uns que de outros; a celebração da Liturgia das Horas
A epidemia do Covid-19 bateu-nos à porta pela regressou à igreja e com um pouco mais de cuidado; e
catequese da infância, quando alguns pais nos avisa- até a pregação, pelo facto de a celebração da Eucaris-
ram que não trariam os seus filhos à catequese devido tia Diária ser difundida pelas redes sociais, passou a
ao perigo que começavam a sentir. No espaço de uma ser mais exigente.
semana tivemos de suspender a catequese, eram já A epidemia e o isolamento social que vivemos
poucas as crianças que apareciam, tivemos de suspen- trouxe-nos assim algumas mudanças positivas, que
der as celebrações comunitárias por recomendação não podemos desperdiçar no futuro, pois de contrá-
dos Bispos, e isolar-nos no convento, fechar as portas rio este tempo de deserto que o Senhor nos concedeu
e permanecer num espaço e espírito de clausura, de de nada nos teria valido. Estamos certamente a viver
acordo com as instruções das autoridades de saúde. um momento de refundação, e necessitamos todos,
Numa semana as nossas agendas carregadas de com a luz do Espírito Santo, e seguindo o exemplo de
compromissos, reuniões, celebrações, das actividades São Domingos, de encontrar as respostas válidas na
mais diversas, ficaram vazias; ficámos como que sus- clareza, na coerência e na verdade, para os desafios
pensos num limbo, sem saber muito bem o que pen- que se seguem.
sar, o que fazer, porque tempo havia, um tempo que Frei José Carlos Almeida, O.P.

DEUS QUER AÇÕES RETAS, NÃO PALAVRAS


O que desejo do homem, como frutos da ação, é que prove suas virtudes na
hora oportuna. Talvez ainda te recordes! Quando, há muito tempo, desejavas
fazer grandes penitências por minha causa e perguntavas; “Que mortificação
eu poderia fazer por ti?”, eu te respondi no pensamento: “Sou aquele que gos-
ta de poucas palavras e de muitas ações”. Então era minha intenção mostrar-
te que não me comprazo no homem que apenas me chama por palavras:
“Senhor, Senhor, gostaria de fazer algo por ti”(…) Quando uma ação, que cha-
mei com o nome de “palavra”, está embebida de caridade, então me agrada; já não se apresenta sozinha, mas
acompanhada de discernimento verdadeiro, isto é, como ato que é meio para se atingir um objectivo superior.

in “Santa Catarina de Sena: o diálogo”, páginas 45 - 46


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Laicado Dominicano Maio 2020

O CONVENTO DE S. DOMINGOS DE LISBOA EM TEMPOS DE COVID 19

dia da comunidade, nos hospitais, onde um dos fra-


des é capelão e nunca deixou de lá ir, na Paróquia de
S. Domingos de Benfica, nas várias capelanias que
assistimos, na igreja do Convento e na assistência às
pessoas sem-abrigo por via da Associação João13. To-
davia, reconhecemos que a Covid 19 não está nem
eliminada nem erradicada, pelo que é preciso conti-
nuarmos a vigiar. E como escreveu o fr. Bento Domin-
gues no Público do domingo, 3 de Maio: « Sem ética,
sem procurarmos, uns com os outros, estilos de boa
qualidade de vida, em instituições justas e amistosas,
podemos deitar a perder as maiores conquistas do gé-
nero humano…Sem a virtude da prudência pessoal e
social – virtude das decisões ponderadas – a governar
a nossa liberdade, cedemos facilmente aos caprichos
dos nossos apetites desorientados. Estragamos tudo: as
relações com a natureza e com os outros».
E para não estragarmos tudo o que foi adquirido até
Na sequência dos primeiros casos da Covid19 em aqui em termos de cuidados, e porque o desconfina-
Portugal, o governo anunciou o confinamento para mento, ainda que gradual, traz consigo muitos perigos
todo o país e as medidas de tal confinamento. A Igreja e um conjunto de incertezas, consideramos ser agora
Católica em Portugal acatou as medidas do governo e que as grandes medidas devem começar. Entendemos
até se antecipou ao mandar suspender as missas com por isso:
presença de fiéis para evitar possíveis contágios. As- • Continuar com a «divisão» da comunidade em dois
sim, as primeiras medidas do Convento foram: a divi- grupos, respeitar rigorosamente o distanciamento co-
são dos frades em dois grupos – o dos mais idosos e munitário em todos os lugares comuns;
com maior risco de contágio, e o do resto dos frades, • Lidar com o exterior, tendo sempre presente a cons-
teoricamente com menor risco de contágio -, a suspen- ciência de que as nossas relações repercutem-se nas da
são das missas abertas ao público na Igreja do Con- comunidade e com a comunidade;
vento e na Paróquia de S. Domingos de Benfica, a • Eucaristias com participação dos fiéis (quando as
colocação de desinfectante para as mãos em lugares missas voltarem a ser presenciais):
estratégicos do Convento e o devido distanciamento - No Convento, a Missa vespertina continuará a ser
entre frades em todos os lugares comuns. celebrada Sábado, às 18.30h e Domingo, às 12.00h e
às 18.00h. Se for necessário, criaremos a missa das
Reinventar-se…reinventar-se! Eis a expressão muito 10.00h para as pessoas mais idosas.
ouvida em tempo de pandemia provocada pela Covid - Na Paróquia de S. Domingos de Benfica, não se colo-
19. Nós, frades do Convento de S. Domingos de Lis- ca o problema de espaço para o devido distanciamen-
boa, tivemos também que reinventar-nos seja na dis- to entre as pessoas;
posição do refeitório, seja na Igreja para as nossas ora- - Quando retomarem as Missas presenciais nas nossas
ções e Missas, seja ainda na nossa maneira de, mesmo Igrejas, continuaremos com a experiência das celebra-
confinados, não deixar de pregar a Boa Nova de Jesus ções através das redes sociais, que são claramente ou-
para fora do Convento com a ajuda, obviamente, das tro meio de chegar às pessoas sobretudo àquelas cuja
redes sociais. Pois sabemos que a nossa missão de pre- vida é um permanente confinamento por razões de
gadores é, simultaneamente, “ad intra e ad extra”. idade, da doença ou outra circunstância da vida.
Hoje, quase dois meses volvidos, estamos todos bem.
Somos unânimes em afirmar que a nossa experiência Frei Junito Baptista, O.P.
tem sido boa, vivida entre medos e alegrias no dia-a- Prior do Convento de S.Domingos, Lisboa
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Laicado Dominicano Maio 2020

QUATRO CONSELHOS DE FÉ

1 – Ordem actuais, há o medo de quanto tempo isto vai durar ou


Existe uma de quem será o próximo a ser afectado. Se vivo sozi-
estrutura e nho, quem cuidará de mim se eu ficar doente? Como
ordem na posso sustentar minha família sem trabalho? Todos
nossa vida esses medos são normais e, ao mesmo tempo, relacio-
de clausura nados ao desconhecido.
monástica Na vossa oração, nomeiem os medos e depois en-
que em- treguem-nos a Nossa Senhora, pedindo-lhe que os
presta um coloque directamente no coração de Jesus, através do
ritmo tran- seu lado aberto. Peçam a Jesus que troque todos os
quilo a ca- vossos medos pelo seu amor. Quando alguém pergun-
da dia. Sem ta: "O que podemos fazer para ajudar?", a minha res-
isso, a paz, posta simples é: "Orem e amem-se uns aos outros".
o silêncio e Este é um momento de grande sofrimento, comparti-
a alegria lhado por toda a família humana. Torna-se, portanto,
estariam um tempo de amor, para permitir que o amor de
em perigo. Cristo dirija as nossas vidas e vivamos este Calvário,
Para aque- que, à Sua mercê, Ele nos pede para compartilhar.
les que ago- Desta forma, com a ajuda de Nossa Senhora, cada dia
ra estão obrigados a viver "fechados" nas suas casas, se tornará como um dia de Páscoa!
com a família ou individualmente, tentem estabelecer 4 – Oração
alguma estrutura e ordem nos vossos dias, e cumpri- Somos chamados a louvar a Deus e a interceder
la. pelas necessidades da Igreja e do mundo inteiro. O
Tempos de oração, especialmente o Rosário e até coração de nosso fundador, São Domingos, abraçou
um breve período de silêncio, podem fazer parte do os pobres e os necessitados, especialmente aqueles
dia. Uma vez por semana, em família, reúnam-se para que ainda não conheciam a Cristo e os que se afasta-
ler o Evangelho e compartilhar suas reflexões sobre a ram da Verdade. Uma herança especial da Ordem
Palavra de Deus. Isso é muito enriquecedor para as Dominicana é o Santo Rosário. Nestes tempos de
famílias e é um meio de conhecer e entender melhor pandemia, o Rosário sustentar-nos-á, como aconteceu
o outro. Para quem está sozinho, isso pode ser feito com tantos católicos em tempos de perseguição e au-
virtualmente com os membros da família à distância. sência dos Sacramentos. Nossa Senhora do Rosário
2 – Oferta de Fátima, rogai por nós!
Aqui, em Fátima, vivemos este momento de sofri-
mento e sacrifício em solo sagrado. Com esse privilé-
gio, há também uma obrigação. Portanto, ofereçam
tudo no espírito de Fátima: “Ó Jesus, é por amor a
Ti, pela conversão dos pecadores e em reparação pe-
los pecados cometidos contra o Imaculado Coração
de Maria”.
O que Deus quer é a conversão dos corações. Nes-
tes tempos, a vida é rica em oportunidades de sacrifí-
cio. Entreguem tudo, entreguem tudo a Deus para
que os mais necessitados possam encontrá-lo novamen-
te.
3 – Confiança
“Não tenham medo!" – O amor em vez do medo.
Naturalmente, muitas pessoas sentem medo. O medo Irmã Maria Lúcia,O.P.
geralmente surge do desconhecido. Com esta pande- Prioresa do Mosteiro Pio XII, Fátima
mia, existem muitas incógnitas. Nas circunstâncias Fonte: notíciasdefatima.pt
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Laicado Dominicano Maio 2020

ORAÇÃO

A Ti te entrego todos
Todos os povos e nações
Todas as crenças e religiões
Na Tua cruz coloco os silêncios, os vazios,
as expectativas
Para que nos transformes
Nos ilumines
Nos aqueças no íntimo do nosso ser
Cala o silêncio, Senhor,
Com a tua brisa
Com o Teu olhar misericordioso
Com a Tua carne padecente nos corpos
dos que sofrem
Com a Tua presença naqueles que cuidam
e salvam
Com a Tua Palavra que se refresca de tan-
tos testemunhos de bondade e de ternura
Fala-nos, mesmo sem Te falarmos,
Abençoa-nos, mesmo que não te rezemos,
Acredita em nós, Senhor, mesmo que não
acreditemos em Ti
Porque o Amor pode tudo

Mário Rocha

F i c h a T é c n i c a
Jornal bimensal Administração: Maria do Céu Silva (919506161)
Publicação Periódica nº 119112 / ISSN: 1645-443X Rua Comendador Oliveira e Carmo, 26 2º Dtº
ISSN: 1645-443X 2800– 476 Cova da Piedade
Propriedade: Fraternidades Leigas de São Domingos
Contribuinte: 502 294 833 Endereço: Praça D. Afonso V, nº 86,
Depósito legal: 86929/95 4150-024 PORTO
Direcção e Redacção E-mail: laicado@gmail.com
Cristina Busto Edição online
José Alberto Oliveira
Mário Rocha Os artigos publicados expressam apenas
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